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MILTON SANTOS UST en Economia Espacial itr Adolph Jose Melt icerior Helin Negucta da Cre Criticas ¢ Alternativas ez Diet psidente Mini Manis Filho IDE 28006 st Tradugio Guth Leite da Siva Dias Maria IRENE DE Q. F. SZMRECSANYE [Laura de Mello e Sou Nuria Mars Plo Martins iho Dinewna Edna Siva Bia Dietve Camera Elis Ura Maria Coneeigho Tones Edioracavttete Marlena Viertin ext {Copyigh © 2003 by Fania Sorts 1 eligi Hite 1979 @s7304 2 edo ny 2003 22. p-33435- 200 a 0633 40 oie Bar tah 315726 FAPY pe .ovol3> Dials lemonade Cato na Publicgso (CIP Cimara Beasilea do ito, Bes Sonos, Mion, 1926-2001 Tecoma Focal: Criteas © Akesatias Milky Santos teadugie Mara lene de Q.FSanucsny.-2 S30 Palo Eora da Universidade de So Palo, 200, ~ (Clee Milton Seon 3) bloga ISONBS1407737 1. Espago-em emma 2 Geegrafa humana ~ Areas sb desenvelnlas he Paaes em detenvelvimenta = Condi es ‘cendmicas 4 Planeamentourkane = Arearubleeneledat Eade. Série as.2si4 eopsioosi7 Frcs pars catlogn steric: 1. Ateas subdeseavolvids : Geogtafta humana 910.091724 Dizitos em lags portugues cesevados 3 Bday Era da Unwensidade de io Paulo ‘yok. Lacan Gallet raven | 374 (yada ida Aries Rekora~ Cie Univesiria (05508-900~S3o Pale SP—Brasl Fax (Oxx11) 3091-4151 Tel (Owe) 3081-40067 3091-4150 edusp~e mal edurpedusspbe Impesso no Brasil 2003 Foifetoo depo egal SUMARIO. Uma Nota Explicativa ° L_PLANHANDO 0 SuBDEsENVOLUIMENTO E A PoweEZA, B Dirusko De INovagOes ov EStRATEGIA DE VENDAS? wn a yA PeRirenia EstA No Povo: O Caso DE Lanta, PERU wn 75 4 Una Revisho Da Tronia Dos LuGARES CENTAAI 125 5. Bsnaco & Dowachor UMA Anonpacest MARXIST. 137 & POLos ve Crescanenro EcoNowco & Justica SOCIAL. 165 >A TorALipane po Diaso: Como AS Formas GeooaAnicas Dirunerat 0 (Carina e Muar as Esrururas Sociass 187 Uma Nota Exeiicativa leitor tem o diteito de saber por que um autor deeidiu reunir ‘em volume ensaios escritos em datas diferentes ¢ sem a in- tense de produzir um livro, A solugio mais freqiiente, as vezes beirando 0 utilitarismo, é dizer que os estudos em questio guar- dam entre si um elo tinico. Essa ligaga autorizaria aceité-los como sendo um conjunto, onde se veri que a idéia de um homem sobre al- gumas questdes evolui € produz resultados que podem denanciar um Progresso ou uma regressio, embora para 0 autor constituam o desen- volvimento de uma tese coerente. Tudo isso é correto. Mas, para a compreensio dos caninhos do autor, as vezes & bom que este mesmo dé uma interpretagio auténtica, que explique 0 sew apego a um tema geral ¢, também, o que na sua propria trajet6ria representam tomadas de posigio separadas no tem. po. Estas, as vezes se distinguem pelas concepgdes de um conjunto ou dleralhe, as vezes se separam frontalmente de outros esforgos dz interpre- tagdo tentados pelo mesmo estudiaso em um periodo bem anterior. No caso presente, reunimos estudos que datam entre 1970 e 1977, ‘eseritos em citcunstincias e paises diferentes e relatando exserieneias diversas. Todos, porém, sao voltados a problemtica do espago consi: derado como objeto de tworiz do ow de planejamento, Escritos anteriores de nossa responsabilidade, cuidando explicita ou implicitamente dos mesmos problemas, todavia se incluiam na corren- te maior da obe: como as dos polos de desenvolvimento, dos lugares centrais, do pélo periferia, da dif atacado ¢ no varejo, nas universidades dos paises industrializados e nas revistas especializadas, que acabaram passando por verdades intocaves, © bombardeio propagandistico sistematico em torno dessas idéias tio necessarias 3 expansio de uma certa nogao de crescimento encontrava ‘ncia ao pensamento oficial sobre a matéria. Teorias sio de inovagées foram de tal forma vendidas, no tum terreno fértil a sua reprodugio: quando se estruturavam, sobretu- do nos paises subdesenvolvidos, as nogdes basicas subjacentes ao tra- balho do planejamento, nao havia praticamente nada a que referir. 0 terreno estava praticamente vazio. Como as primeiras experitncias le yaram tempo a amadurecer ou nao permi a ramos levados, inclusive por falta de argumentagao empirica em con- trério, a admitir que tais teorias eram validas. Por outro lado a experitneia malograda ou discutivel de outros paises de um veiculo improprio: revistas especializadas 3, 40 costumam abrir-se a outro ponto de vista que nio seja a verdade ofi- ca de aper m uma eritiea imedi nos vinha atravé Estas, tantas vezes orientadas segundo principios pragma cial. Os leitores fiéis dessas revistas, os que as Iéem em bu feigoamento, encontram, a cada nova leitura, uma intoxicagao ainda aio. As preocupagées uriticas af contidas so muito mais do género diversionista, arranhando detalhes insignificantes, enquanto contei- do permanece intocado. Nessas condigdes, 0 trabalho de critica € érduo e corre o risco de se 0. Ele € possivel somente em duas circunstancias: a pr6: pria pratica, do autor ou de outros, examinada criticamente; a andlise da logica interna as proposi go onde a renovagio teérica se funda no reexame dos dados empiricos, Em nosso proprio caso, esses dois exercicios combinados foram possiveis porque, exclusivamente consagrados ao trabalho universit tornar solita es de que se duvida, com base num esfor rio puro desde 1964, ausente da agio cidada porque vivendo em paises estrangeiros, podendo igualmente guardar uma posigio de indepen encia total nas misses de consultoria realizadas em diferentes paises, fomos pouco a pouco amadurecendo a critica 4s teorias cuja aplica- 0, sob o selo do prestigio internacional, cram, as vezes sem contesta- 0, aplicadas aqui e ali, Isto, sem diivida, nos custou dissabores. Como todo mundo sabe, posigdes desse tipo no facilitam a vida do pesquisa- dor, pois levantam contra ele as iras conjugadas ¢ muito bem orques- tradas dos que detém os instrumentos de producio ¢ difusio do saber € tratam, por todos os meios, de barrar 0 caminho do irsolente. A verdade é que as preocupagdes teGricas do ensino foram também uma alavanca eficaz na critica de teorias que, em um primeiro tempo, julgi- vamos hostis aos interesses dos paises subdesenvolvidos e mais recen: femente nos apareceram como 0 instrumento privilegiado da difusio do capital, tanto para agravar o subdesenvolvimento como para man. tera estrutura de classes e assegurar a expansio da pobreza ‘Tais posigGes intelectuais correspondem, paralelamente, a uma evo- lugio te6rica ¢ ideol6gica. Esta nao foi o resultado de leituras, mas de uma praxis individual que se exerceu em diferentes paises. O fato de haver presenciado como diversas formas de agdo social ¢ 2olitica le- ‘yam a resultados e perspectivas diferentes convenceu-nos da improprie dade de teorias como as que eriticamos neste volume. Tis teorias, postas sem recato maior ao servigo exclusivo do capital e sobretudo do capital internacional, mostraram-se indiferentes & sorte da. grande maioria das coletividades nacionais do Terceiro Mundo. 2or iss0, ¢ Uurgentemente, esto a reclamar que se imaginem alternativas validas, fundadas na especificidade dos nossos paises € preocupadas em atri buira maioria das populagdes interessadas aqueles bens, servigos ¢ valo- res que restituam a cada homem a possiilidade de viver dignamente. Este liveo deseja ser uma contribuig&o nesse sentido. Muro Saxros ‘Sao Paulo, arco 1978 PLANEJANDO © SUBDESENVOLVIMENTO E A Popreza* lista das causas do subdesenvolvimento ¢ da pobreza no Ter ceiro Mundo no pode estar completa antes que se dé a devida énfase a importincia do papel desempenhado pelo planeja- mento, Nem sequer se torna necessario qualificar de capitalista o pla nejamento, pois os paises subdesenvolvides no conhecem outro! Sem o planejamento teria sido impossivel atingir-se uma intromis- so to répida e brutal do grande capital nessas nagées. Nio cremos ‘que seja exagero afirmar que o planejamento tem sido un indispensavel & manutengao ¢ a0 agravamento do atrasey dos paises pobres, assim como ao agravamento ou a exacerbacio de disparidades trumento * Do origina em ings Planning Underdevelopment and Poverty versie moificads de “Planning versus History", conferzneia publica pronunciada na Universidade e Columbia, Nova York, em 1 de marco de 1977, Publicado em Antipode, A Radical Jouanal of Geography, vol. X, 1978 1. Sem davida paises, como Cubs, Albinia, Coréia do Nome, Vietn’ ¢ Cambodia estio experimentando o planismento socialista enguanto outros como Guin, Tanzinia, Somitia, Mogambique, Congo, Angola ¢ Madagascar teneam um plane famento no eapitalits me [Nosso objetivo neste trabalho € analisar as condigdes que levaram 2 implantagao e ao desenvolvimento desta idéia, e 0 mecanismo através do qual ela tem sido levada a efeito em diferentes perfodos da historia, © Puantsamentor IystauneNro Do CaPrra Até-a década de 1930, a teoria econémica postulava que, numa situacio competitiva de mercado, a alocago de recursos seria espon taneamente otima, isto é, seria equilibrada. Portanto, a intervengio na ‘economia era considerada prejudicial. Quando, com a crise mundial, 105 fatos contradisseram esta suposigao, a intervengio do Estado pas- sou a ser accita € a nogio de planejamento comesou a se afirmar, A politica do laissez-faire fora condenada por Keynes desde 1928: pereebera-se que, para garantir a0 mesmo tempo o bem-estar € 0 cresci- ‘mento rapido, era necessirio envolver 0 governo no processo econdmi- co € encarar os gastos governamentais como um nove fator dinamico (Aguilar, 1970, p. 230) ‘Tal como é descrita por J. Tinbergen (1959, p.15-18), a fungio do planejamento é garantic, dentro da lei e da ordem, um minim de segu- ranca e de estabilidade, é proteger a seguranga fisica das pessoas e da propriedade, é promover e estimular o investimento privado. Para W.A. Lewis (1968, p.15), ele constitui uma providéncia macroccondmica st postamente capaz de criar um clima de confianga entre os investidores. [A seguranga ¢ a confianga, assim como o estimulo ao investimento privado, deveriam ser criados com 0 auxilio do lesouro Publica, ou seia, dos pagadores de impostos. Tornow-se, portanto, necessitio justi- ficar com argumentos de peso a transferéneia da poupanga dos mais pobres para o bolso dos mais ricos?. E 0 que existe de mais apropriado para isto do que a linguagem cientifica? 2. Precise da coragem de B, Berry (1973, p.79) para afemar que, como conse agiéncia da Ideranga governamental no processo de desenvolvimento, os objetivos Sosiaistém proridade sobre privados 8 categorias da ciéncia econdmica, tal qual as da politica econé- ‘mica, 840 as da economia politica. A economia politica deseteve a rea- lidade; a politica econémica parte desta base concreta para definit as mudangas desejadas. O planejamento transtornou este sistema l6gico de raciocinio ¢ imps um sistema formal, dito pragmatico. Uma politica econdmica determinada a priori é, assim, imposta & economia politica A servigo do planejamento a economia perdeu seu status ciemtifico € se tornou simples ideologia, cujo fito é persuadir Es tados € povos das vantagens daquilo que passou a ser chamado desenvolvimento: a venda da ideologia do crescimento aos Estados, a imposigio de uma ideologia de sociedade de consumo as populagoes. Ambas combinadas induzem ao capital estrangeiro ¢ a aceitago de um s6 parametro apli- civel& economia, & sociedade, a cultura, & ética; em suma, a depend cia € 4 dominagao; a dominagzo através da dependéncia Este tipo de planejamento nao é ciéncia. “A cigncia se perde quan- do a ideologia comega” (Godelier, 1960). Além do mais, esta assim chamada teoria do planejamento toma por premissa uma definigao de necessidades estranha a sociedade em questiio, tornando impossivel, por este proprio fato, qualquer modelo de desenvolvimento racional. A fim de realizar com sucesso a aventura da domin: Jo econdmica que de fato o planejamento representa, tinha-se, antes de tudo, que inventar 0 Terceiro Mundo. Tarefa facil, uma vez que pessoas aparen- temente bem intencionadas haviam langado esse termo. © subdesen. volvimento foi, entio, discutido, condenado, definido em um milhar de modos diferentes, tudo em tempo recorde... eos homens do mundo ais pobre esqueceram por algum tempo que pertenciama um mundo explorado, convencidos de que estavam realmente ni senvolvido. n mundo subde- A pobreza, um fendmeno qualitativo, foi transformada num pro- blema quantitativo ¢ reduzida a dados numéricos. Fornecersm-se nti- rmeros indices para provar a distincia entre paises ricos e pobres e para inferir que estes tltimos deveriam imitar os primeiros se cuisessem supers-la. Isso foi o mesmo que criar a necessidade de se obter tudo do Exterion desde o capital até os alimentos’ e conduzie a uma doutrina sobre a ajuda promovida como uma atitude generosa dos paises ricos quando, de fato, constitui uma questo de interesses ocultos, de con quista e de dominagio econémica. B. Higgins (1956) percebe que os paises subdesenvolvidos ajustam-se aos modelos dos paises desenvol- vidos. J. Friedmann (1973, p. 22) afirma que existe uma “crescente renga de que os destinos individu: gem para a mesma diregio” ¢ que “os dois tipos de sociedade estio se desenvolvendo mas, have de sociedades nacionais conver- Jo partido atrasados, os paises subdesen volvidos sio compelidos a seguir os desenvolvidos”, Assaz encorajador! Foi somente aps a Segunda Guerra Mundial que este tipo de ideo: Jogia, produzida no centro do sistema, encontrou condigdes favordveis que the permitiram atingir praticamente toda a humanidade, Para este fim, era necessario que a difusao de idéias Fosse generalizada e instan- tanea e que, conseqiientemente, um modelo de consumo se estabele- ‘cesse por toda parte, mesmo que com diversas variagdes. Nao tem sido suficentemente meneionada esta genuina revolugio cultural em estilo americano; talvez seja por isto que o subdesenvolvimento, ainda se agra- 0, 140 tena sido suficientemente interpretadot. De 1945-1950 em diante, o aprofundamento do capital ja nao mais se bascia unicamente na dependéncia de modelos de producio. Mode- vando no sew atual est los de consumo, muito mais tapidamente difundiveis, também contri ‘buem efetivamente para a penetragio do capital e trazem os mesmos resultados, porque carregam em seu bojo os novos modelos de prod ¢40. O planejamento tem tido um papel a desempenhar neste proces: so, Ele & uim desses conceitos-ehave eriados pelo sistema capitalista como meio de impor por toda parte o capital internacionalizado*. Vejase o atigo de MeGee pubicado em Antipode, 1977. 4. Acerca da importincia da idcologia na dstorgio da compreensio do subdesenvol wimento, vejam-se na Revue Tiers Monde, n° $2, 1974, especialmente OF artigos dde Guy Caite, “Idgologies du développement e développement de Thdcologie™, P.5:30, G. Labica “Pour une approche eitque du concept 'idéologie", pp. 31-46; CC Furtado “Le mythe du développement le futur du tiers monde”, pp. 57-68; eG. Deanne de eens “Le sous développement: aslysesou represetations”, pp. 103-134 5. “Into, por sua ve2, foi ayravado pela populaeidade da ida de planejamento do desenvolvimento baseado na teara do take off ¢ pela tendéncia a tratar 0 assunto A fécega em taxas de erescimento (Lassudrue-Duchéne, 1966), uma “ostentagio estatistica” como a descreve Polanyi, “tornow-se a pri pal preocupagio das modernas elites de voracio politica, quaisquet que fossem os valores que proclamassem como seus [...] 0 ctitério por exceléncia ea medida maxima do progresso” (Kende, 1971, pp. 16, 23). Ja nao dizia Pandit Nehru (Oka, 1958) que as grandes represas eram “os templos da nova fe [As nogies de eficiéncia e de racionalidade também tinham que ser cestabelecidas a fim de justficar o uso de mais e maiores capitais. Foi Epoca dos grandes projetos com ampla exibigio de capital, Mas era preciso demonstrar que os paises subdesenvolvidos cram incapazes de acumular internamente o capital para seus investimentos modzenizantes e, portanto, provar a necessidade de Ihes fornecer “ajuda” ou de thes emprestar dinheiro ou, ainda, de encorajar a entrada de capital priva- do. Os objetivos da assisténcia técnica foram claramente defiaidos pelo presidente Harry Truman, em sua mensagem de 24 de junh> de 1949 ‘a0 Congresso americano: “... a criagio de condigdes pelas quais inves- ‘imentos de capital se tornem fcutiferos; investimentos de capital pri- vado paralelamente aos de organismos internacionais ais como o Banco ‘Mundial a inteodugdo de novas garantias para o capital americano no Exterior”. Recomendada, quer direta quer indiretamente, pelos planejadores, apresentada como um gesto generoso, a ajuda de fato nada mais é do que uma forma, insuficientemente disfargaca, de con- quista dos paises pobres pelo capital, ¢ um veiculo de dominagao. Foi assim que se aplainou 0 caminho para o endividamenta perma. nente ¢ cumulativo, e para a distorgao de toda a economia, uma vez que, para pagar as importagbes ou o servigo da divida, riquezas mine- rais tiveram de ser alienadas ea agricultura teve de ser canalizada para a produgiio de exportagio. ‘no como uma diciplina acadmica, mas como um apéndlice& formalasio de wm ‘Cao geral persuasive, para aumentar a ajuda internacional aos paises subdesen volvidos” (Myint, 1965, p. 91) Oconceito de mercado limitado e, também, o de capacidade ociosa pertencem & mesma familia ideologica ¢ consticuem ambos um convite aberto ao capital estrangeiro, Fles ganharam maior credibilidade etém ajudado a aprofundar a dependéncia dos paises subdesenvolvidos. A capacidade ociosa representa uma salvaguarda por parte do monopé- Tio contra a entrada de outras firmas no mercado, Sempre que as in- diistrias so monopolistas, elas fixam seus préprios pregos. Nio hi re- lago mecanica entre o produto e a capacidade produtiva. Neste caso, © balango de poder € muito mais de natureza politica. Por outro lado, se 0 mercado é limitado, se as indtistrias ndo trabalham a plena capa- cidade, a solugao é criar aliangas regionais ¢ mercados comuns, a fim de aumentar a eficiéncia e a produtividade das firmas. Esta teoria esta- beleceu-se sem dificuldade. Bartciras alfandegatias tém sido abolidas ou afrouxadas, ¢ 0 assim chamado livre comércio tem sido promovido entre os paises. Na verdade, o que foi realmente promovido foi o esta belecimento de empresas transnacionais. Quando as estatisticas mos- {rama expansio do comércio inter-regional elas de fato dizem respeito a0 comércio entre firmas transnacionais para as quais vio os lucros dessas transagiest Eilusério pensar que as grandes indkstrias que dependem de insumos. € produtos esteangeitos possam integear-se em beneficio de um conti- nente, No entanto, Raul Prebish (1969), com todo o seu prestigio inte- lectual ¢ politico, nao escreveu que “a fim de se atingir integracio interna ¢ de se incluit as massas de populagao excedente e marginal na vida econdmica de nossos paises é indispensivel dar vertos passos para a imtegragio latino-americana”? Ele esqueceu que o fator essencial numa situagio de integracio ou de desintegragao de economias nacionais “se origina de seus elos periféricos a drbita do capitalismo neocolo- 6. Lembremos, por exempl, que a atividade das subsidiriay norte-ameticanas na Amica Latina em 1966 represeatou 35% de total das exportagdes © 41% dan exportagdes de manufaruras da stea (0. Sunkel, 1970, p. 36). Entre as quarens firmas que, no Brasil, exportaram bens manufsturados em 1970, tinta © das ram estrangeiras e uma era de capital mista (0, lanni 1971, p. 274). nialista[..] porque egonomias internamente desintegradas nio podem integear-se internamente” (Maza Zavala, 1969, p. 83’. Outro dos refrdes basicos dos planejadores € sua insisténcia em s e dos inovadores considerar essencial o papel dos empress (Friedmann, 1966; Resources for the Future, 1966, p. 39), 6 que pro- se recorrer ao capital ¢ aos porciona uma justificativa a priori par cespecialistas estrangeiros. A Ciéxcta 0 Espago a Stavico 90 Caria [As novas necessidades do capitalismo deveriam implicarno desen: volvimento de uma teoria do espaco posta a servigo do capital. Desde 4 Segunda Guerra Mundial, um nimero crescente de economistas co- ‘megou a se interessar por problemas do espago, enquanto os ge6grafos preocuparamse mais com problemas econdmicos. Mas que espécie de economia foi esta? Quando a economia comecou a servir os interesses do capital, teve ‘que se liberar do homem, isto &, da historia. Lucien Febvre, ra mudan: «ado século, reclamava que os economistas “haviam banidao homem de suas especulagdes” (1966, p. 147) substituindo-o pela abstragio “homo oeconomicus”, uma média estatistica, Alexis Cartel (1950, p. 13) em vio expressou sua indignagio acerca desta despersonalizagio do ‘homo sapiens, um capricho de nossa mente jé que o homo oeconomicus nao tem existéncia no mundo concreto. A economia também teve que por de lado 0 espago ~ 0 espago social encarado como a natureza transformada pelo homem. E. -onsiderai as leis da economia poli- Durkheim afirmaya, ja em 190¢ tica ou, para ser mais especifico, as proposigdes que os economistas 7. fluo pensar que as wands indy, dependent moa Seago eo ee: Cm Fl di ran ss go de se ver um mercado integrado set reduzido a um conjunto de arcas Se Tenn crcl meu ene ces 8 Oh Bet, p21; aes tab C- Free, 1968. ‘elevam a este nivel! Desligadas do tempo e do espago elas no parecem depender de qualquer forma de organizagao social” (1953, p. 213). Eé através do proceso de producio que o homem transforma a natureza a fim de garantie s tanto, a economia se realiza no espago e no pode ser entendida fora desse quadro de referéncia. Sempre que a economia divorcia o homem do capital, tipiticado pelos meios de produgio, e disassocia o capital do Proprio espago que cle modifica, suas formulagdes estio destitiidas do espaco e do homem’ Anova cigncia econdmica a-espacial”, Foi ass sobrevivéncia ou de aumentar sua riqueza. Por cia espacial deveria, portanto, basear suas reflexes numa que se chegou a0 paradoxo de uma cineia regional desprovida da natureza e do homem. Seja ela chamada de analise regional, de ciéncia regional, de economia espa cial, de geografia ou de urba verdade nao se trata de uma ciéncia enguanto tal mas de uma verda deira ideologia espacial, que muda de acordo com as necessidades do sistenia. “Se na visio ideol6gica os homens e suas circunstincias apa- recem de cabega para baixo, como numa camara obscura, isto se dé porque tal fendmeno emerge de ser processo histérico de vida tanto ‘quanto a inversio de objetos na retina emerge de seu processo fisico de vida” (Marx c Engel, 1967, p. 14) corre, entio, uma divisio de trabalho entre as duas disciplinas: & economia é confiada a apologia do capitalismo; e a tarefa de dissemi- har o capital em varios espagos nacionais é confiada i smo, 0 capitalismo dela se beneficia, Na cia regional, Segundo um dos argumentos de J. Friedmann (1966, p. 61) 0 desen- volvimento regional é 0 resultado de um processo de investimentoj por 8. Sevoltarmos aos séculos XVI XVIII, a passagem de uma economia espacial para ‘uma economia pumtforme nfo havia ainda s¢ realizado, A maioria das analises scoabmicas permanecia “dimensional”... exeiocinio pernanecia indutivo, en ‘quanto, no séclo XIX, les deduzidas cram vidas apenas quaro eran hipdteses implictas ou explicit. A principio teorias absteata, ae andes deduzidas podem fazer supor que os fendmenos econdmicosexstem fora da espace [P Dockis, 1965, P10), 9. G.Gapperte H. Rose (1975, p. 11} escrevem quese tem tentado construiraandlise regional dentro do mesmo ponto de patida de um equilibrio getal que caracteriaa 2 teoria econdmica neosissica, outro lado, “o carter aberto da economia regional sugere que by parte de seu crescimento é moldada por forgas externas”, Esta tam- bem & a opiniao de Berry ¢ Prakasa (1968, p. 21), para os quais “os impulsos de crescimento em economias regionais abertas geralmente pro vam de fora, sob a forma de demandas por especialidades regionais Euma ver, que, de acordo comesta abordagem, os paises subdesen- volvidos carecem de capital nacional, eles so compelidos a cbrir suas portas ao capital estrangeiro, A cigncia regional ¢ 0 planejamento eventualmente se fandiram, Hojeép ‘umn artigo tedrico ou mesmo uma anslise sobre o espago como um todo. Qualquer consideragio de natureza social 6 rejetada em nome do’pragmatismoje s6 se tem tolerancia para com o proprio processo de planejamento. Mas, quantos economistas ¢ planejadores tém a forga de carter de admitir, como o fez J. Hillhorst (1970, p. 4), que a teoria regional do desenvolvimento nio existe? Uma das fungdes atribufdas ao planejamento regional éa de racio- nalizar a estrutura interna de dominacio e dependéncia, a fim de ajusté-la aos interesses do sistema e no exclusivamente aos interesses da regido dominante (Boisier, 1972, p. 119). Quando J. Friedmann etalii(1970) sugerem inter alia a modernizagdo do setor tradicional, a :melhoria das infra-estruturas locais ¢ os novos padres de organizagio de atividades econémicas, assim como toda uma série de medidas des- tinadas a promover a entrada de capital e sua difusio no espago, como se pode evitar a tentagio de medir aquilo que G. Desmond (1971, p. 57) inocentemente chamou de “nivel de nao intencionalidade”? Existem muitos exemplos da contribuigao da ciéncia reg onal, da geografia € do planejamento regional para a difusio do capital; € 0 ‘caso da popularizagio de teorias tais como a dos lugares eentea dos pélos de crescimento, a da descentralizagao e desconee dustrial das grandes cidades, a da industrializagao deliberada ¢ descentralizagao concentrada. Nao é de se admirar que o tema da ur raticamente impossivel encontrar em periddicos especializados I visto banizagio se tenha tornado muito controverso durante o periodo em quea idéia da “matriz locacional”, de Schultz (1953), ganhava terreno sragas a categorias econdmico-espaciais tais como as de economias 5, econtomias e deseconomias de escala, cujo papel ¢ justficar cienficamente arranjos espaciais que promovem a expansio capitalista"™ exten Quem nio conhece este debate entediante, patrocinado por certos periddicos, acerca de se as cidades nos paises subdesenvolvidos so parasitérias ou geratrizes (Hoselitz, 1953, 1960), ortogenicas ow heterogénicas (Davis e Golden, 1954}, imaturas (Bose, 1965) ou maturas (Sovani, 1966)? Ele nem sequer chega a ser um debate genuino, uma vez que no envolve problemas substantivos, Apreciando essas digres- ses, parece apropriado citar uma sentenga do Pequeno Tratado de Spinoza: “nio mostram nada de substaneial, mas so como adjetivos Aurbanizagio como {que requerem substantivos para sua explicagao fendmeno social ¢ espacial ainda permanece insuficientemente explicada, Os aspectos essenciais do problema sio sempre ignorados. Com o desenvolvimento das forgas produtivas, a desigualdade re- gional cessa de ser 0 resultado das aptiddes naturais ¢ esté se tornando ‘a0 mesmo tempo mais profunda e mais especulativa: existe uma maior inecessidade de capitais crescentemente volumososs 08 recursos sociais também tendem a se concentrar em certos locais onde a produtividade docapital écada vez mais alta. Tudo esta ligado. A atragio da forca de trabalho é um orolérid, dos investimentas e os salarios mais baixos sio um fator adicional para aumentar os lucrose inflar a mais-valia do grande capital. £ por isto que se depara com uma concentragio cumti- lativa de investimentos ¢ de populagao nas mesmas cidades. A tendén- cia A especializagao agricola se acompanha da expansio do nvimero de salariados, da extrema divisio social do trabalho ¢ da concentragao ccondmica c espacial, A urbanizagio ea primazia se apresentam como necessidades do sistema. 10. Temos una boa descrigin do papel do gc6erafo por F. Soja (1968): "o geégrato, apotando:se em perspestivasexpaciis [x] oferece novas percepsbes da difsio da ‘modemizasio ao andicar os padraes rene de ordem e organizagio subjaceates 30 processo © ao indicar as similardades © interagdes espaciais de seus vatios subprovessos". A urbanizacio é simultaneamente um resultado ¢ uma condigio do processo de difusio do eapital. Este destr6i autarquias regionais a0 ‘operagdes monetirias, as quais crescem em conseqiiéneia das necessi- dades do capital. A desintegragio de economias regionais, assim como sua extroversio, gera a concentragio urbana, com efeitos cumulativos que as mais das veres resultam no fenémeno da macrocefalia, A pri mazia urbana ajuda a garantir estabelecimento de capitais ediciona ainda mais volumosos. A populagao que lota estas cidades em ripido crescimento constitui mio-de-obra barata ¢, por stia mera presenca, sgarante o estabelecimento de um estoque de capital fixo® que éindispe sivel a uma maior lucratividade de empreendimentos industria © capitalismo esta conduzindo uma guerra elausewitziana: “A lei suprema e a estratégia mais simples consistem em concentrazmos nos- as forgas” (Clausewitz, 1955, p. 291), Nao basta recomendar a urba. a0, Esta também tem que ser macrocefélica e cumulativa. Nao é faro que B. Berry (1961) deixou de considerar as distribuigdes log-normais como a methor solugo para os centros urbanos dos paf- ses subdesenvolvidos? Anteriormente consideradas parasitirias, as ci- dades primazes ndo mais devem ser encaradas como tal (Browning, 1968, p. 116; Hirschman, 1958, p. 185), uma vez.que sao necessarias, difusio mais répida de inovagoes. E preciso ser to inocente quanto J-Harris (1971, p. 140) para afiemar que os “investidores est:angeiros localizam suas empresas nas cidades capitais por causa de suas melho~ res condigdes de vida ¢ de suas amenidades, mesmo que outeas locali- ~zagdes possam ser mais Iucrativas”, A teoria dos lugares centrais\foi uma justificativa teGrica dtl da existéncia de grandes concentragdes. Baseada num tipo de geometria que a vida € incapaz de reproduzir, seu prestigio dura até hoje, mesmo que nao tenha avangado além do estagio que atingira em 1939 (Carter, 1972). A maior inovagao veio do fato de que os novos tedricas esque- Overhead capital vo original (N. da T) ceram completamente a preocupagio de Christaller (1966, pp. 72-98) acerca das estruturas sociais, A teoria dos polos de crescimento serviu a difusio do capital no espago. Mais tarde ela foi acoplada a teoria dos lugares centrais sob 0 pretexto de dinamizar tanto esta diltima como a teoria da difusio de inovagdes e dar crédito a idéia de uma “filtragem descendente hierit= quica” de Brian Berry (1969, 1972). A experiéncia mostrou que nao ‘ocorre tal filtragem descendente mas, pelo contratio, os investimentos ‘centro princi- pal (Nichols, 1969). Mas de forma alguma tratou-se de abandonar a teoria. Os fatos so supremos mas o sio ainda mais quando a servigo do capitalism. A idéia de ctiat centros satélites préximos as grandes concentra ses, tal como Friedmann (1966) recomendou para o Chile, reflete 0 mesmo desejo de promover a entrada ea permanéncia do grande capi ‘em centros secunditios voltam em volume maior pa tal!!|O mesmo é vilido para-ateoria da descentralizagio coiteentrada (Rodwin, 1960) eda urbanizagao deliberada (Friedmann, 1968). Sob © disfarce de promotoras do crescimento, elas ndo tém outra fungao além de coletar o excedente e envis-lo para cidades maiores e para 0 estrangeiro (Doherty, 1974)" Pelo mero fato de que toda teoria do comeércio internacional estd integrada a teoria da localizagio, o planejamento espacial ga portancia ainda maior com a internacionalizagao do capital. Nao se deve, portanto, ficar surpreso quando gedgrafos ¢ planejadores reivin- dicam marcos comuns. B. Berry (1969, pp. 274, 288) mostrouse, cm tha im- 11, Para Friedmann © Mann (1966, p, 45) seri proprio usar os dstritos industiis como um mecanisme de dexenwolvimente industrial em relagi 2 investimentos pritados srangios pra iensonar aula conic pais aber 12, Eem nome de tas tess que Redwin¢ Friedmans, untamente com outros esto sos do MIT Joine Contes, tomaram-se responsivets por este verdadeiro decaio 4 razio que & planejamento de Ciudad Guyana, na Veneauel Eclesinsistem est apreseati-o como um modelo de planejamento regional (Rodivin, 1960) Tras, na verdade, de um pedago de planejamento da economia norte-americana que incidenalmente ests localizad na Venceuela mas sem benefviar a sociedade © 4 cconomia desse pais (Travieso, 1975; Banos, 1974). todos os niveis, um advogado dessa solugao. No caso latino-«mericano, Pedersen e Stobr (1969) elogiaram as vanragens prospectivas a médio prazo dos mercados comuns para a estrutura regional. Segundo cles, a ‘melhoria dos transportes ¢ das redes de comunicagao e forga, resultado da criagio de mercados integrados, levaria, através de um duplo pro: cesso tanto econdmico como politico, 3 redistribuigao das atividades e da rigueza dentro de eada pais Aintegracio do espaco através do transporte é um elemento essen- cial do planejamento capitalista, Na sua fase anterior, o sistema estava primordialmente interessado nas rotas que ligavam os principais cen- tros de producio e de consumo. Agora também ha preocupagio com lard 2 especiali redes de ramais. A minimizagao das distincias ¢ zagio agricola e a difusio ao consumo. A troca inter-regional experi ‘mentaci um desenvolvimento importante, trazendo, como conseqién: cia, a expansio do nexo monetério e uma tendéncia geral para a concentragio capitalista. Quanto ais obras de grande porte, elas sio de fato um cavalo de Tréia, tum presente envenenado, Estes investimentos envolvem outros de por igual ov ainda maior, e gradualmente conduzem o pais para uma posi- ‘io de dependéncia, cuja constante € 0 aprofundamento do capital. Sabendo-se que a estrutura dos investimentos tem um controle de- item ess ecémocalizado 20 fim de um inervalo de rempo (ns de destin]; (6)trajetos de movimentos, ifludncia ou relacionamento ene lugares de origem e lugares de destino (margens) 11. Em sua definigio de 1962 (p. 13), Everott Rogers vi a inovagio como wma iia pereebida como nova pelo individu, Bs weenie a ropa Ocidental ena América do Norte do século XVII ao século XIX depois se disseminaram” AA definigao de Celso Furtado (1974, p. 81) é, aparentemente, mais restritiva, uma vez.que ele propde chamar a modernizagao de “aquele proceso de adogio de modelos sofisticados de consumo (privado piiblico) sem a existéncia de uma correspondente acumulagao de capi- tal ou de progresso nos métodos de produga0”. Isto de novo liga a modernizagio ao subdesenvolvimento, isto &, ao desenvolvimento de- pendente. Entretanto, a modernizagio “forgada” de paises subdese volvidos representa apenas um aspecto particular do fendmeno da di- fusio e no pode ser tomada como seu sindnimo. Pedersen (1970, p. 205) propds que fossem distinguidos dois niveis de inovagies: inovagio doméstica vs. empresarial. O primeito tipo lida com economias domésticas ou individuos representativos de toda uma populacio ou pertencentes a apenas certas categorias (exemplo: gel deiras, televisores, automéveis, igua corrente), As inovagoes empresa- riais, por outro lado, tém repercussdes sobre pessoas acima ¢ abaixo do individuo adotante e sua familia. O empresario pode ser 0 governo local, um grupo de cidadios, um homem de negécios. Assim, muitas inovagdes domésticas sao acompanhadas por uma inovagio empresatial correspondente. Além disto, certas inovagdes domésticas somente po- dem ser adotadas quando as inovagGes empresariais ja existeme vice-versa Outras classificagdes foram propostas por Barnett (1951), Friedmann (1968), ¢ Hillhorst (1972). Barnett distingue entre inova- des materiais e no materiais, enquanto Friedmann percebe inova- es domeésticas, teenolégicas ¢ institucionais. Hillhorst prefere consi- derar quatro tipos de inovagoes: na tecnologia de produgao, nos principios de organizacio, nos bens de consumo ¢ nos valores sdcio-econdmicos. Como observou M.K. McCall (1973, p. 22), cada classifi sujeita-se a um objetivo especifico. Assim, enquanto Pedersen parece mais preocupado com os problemas de produtores, Friedmann toma © papel do Estado ¢ Hillhorst esta interessado no comportamento social e na possibilidade de mudanga em fungio do impacto de uma inovagio. Whebell (1969) prope uma classificagdo menos pragmitica e mais substantiva, com tr8s niveis: filos6fieo, organizacional ¢ material. As inovagics filoséficas sio idéias e constituiriam um componente essen- cial dos dois outros tipos. As inovagdes organizacionais sio formas yoluntétias ou involuntarias de equilibrio funcional mantido entre as inovagdes. As inovagées materiais constituem principalmente téenicas ligadas a produgio, a0 transporte etc ( valor de uma classificagio repousa em sua capacidade de forne- cer um quadto de referéncias analitico, mantendo um minimo necessi- rio de consisténcia. Cada classificagao leva a uma selegao espeeifica de termos carregados de valor; ela torna possivel uma determinada hie- rarquia por causa do peso atribuido a cada fator na anilise. O proble- ima da classificagio é, portanto, fundamental, uma ver que ele implica ‘uma escolha de valores ¢ governa a elaboragao de conceitos, a formu ago teérica ¢ a construgio de modelos. ComunrcacAo, INOVAGOES F REDES DE Dirusio A difusio de informagoes € uma forma particular de comunicagao, \¢Jo & 0 processo pelo qual mensagens sio transnitidas de ‘uma fontea um receptor. A difusdo ocorre somente em conexio com a transmissio de novas idéias (E. Rogers ¢ FE, Shoemaker, 1971, p. 39). Assim, a rede de comunicagdes freqiientemente se disfarga numa rede . devido 4 resisténcia esporadica oferecids por siste- ‘mas sociais as varias formas de “modernizagao”. Entre os critérios usados para distinguir entre a comunieayiv em geral € a inovagao como um proceso peculiar, esté a qualidade de “heterofilia” possuida pela iltima (E. Rogers € RE. Shoemaker, 1971, pp. 14-39) = isto é, a interagio deve se dar entre individuos com dife- rentes atributos, Dai porque o problema da informagao ser zonsidera- do crucial”. Acomuni mais especializa: gundo Mabogane (1970, p. 12) simplesmente ‘on 12, A informagio pode ser defini ‘Gomo “pedagor de mensagens ovganizadas em um sistema que leva & um Segundo Meyer (1965, p, 8), para que a comunicagio ocorra, de vem ser preenchidos ito requisitos. Deve haver (1) um emissor, (2) tuma mensagem, (3) um canal, (4) um receptor, (5) atencio por parte do ceceptor, (6) uma linguagem comum, (7) tempo para que o proceso ‘ocorra e (8) uma ou mais finalidades a serem cumpridas, Mas 0 emis Sor 56 conseguira seu objetivo de atingir o receptor se stia mensagem = ou seja, a informagio selecionada — for expressa em termos com- preensiveis, isto & numa linguagem comum. E preciso que se faga uma selecio cuidadosa dos estimulos necessarios, uma vez que o ambito da tengo dos individuos que so alvo da mensagem nem sempre é 0 mesmo (R, Meyer, 1965, pp. 8-9) e é necessirio manter o interesse de tum receptor em potencial Existem emissores-teceptores que, juntos, constituem uma verda- deira rede. Meyer (1965, pp. 8-9) nos informa que as comunicagses epresentam uma tentativa cooperativa, por parte de um emissor e de um receptor, de expandir o campo de idéias, impresses e experiéncias {que mantém em comum, Segundo Rogers ¢ Schoemaker (1971, p. 18), 6s elementos cruciais na difusio de novas idéias si: (1) a inovagao, (2) que € comunicada através de certos canais, (3) através do tempo, (4) entte os membros de um sistema social. Cada individuo participa de uma ou de vatias redes, ¢ sua capaci- dade de receber uma inovagio e, conseqiientemente, tornar-se um emis sor, depende do miimero de redes « que pertence. E a superposigio de redes adequadas de comunicagio que determina a velocidade com a qual uma inovagao se dissemina através de todo 0 corpo social ou dentro de umn espago geogratico. Nao obstante, uma inovagio pode ser difundida apenas dentro de um circulo fechado, resultando na emer= géncia do fen6meno da “panelinha”. A “panelinha” constitui um obstaculo a circulagio de informagio, que se torna propriedade exclusiva deste circulo fechado. O fendmeno dos monopélios gigantes, com direitos exclusivos sobre parentes de invengdes ou comercializagio, cairia nesta categoria. Com a excegio do fendm assim, 10 da “panelinha”, asstume-se que todas asinova s podem disseminar-selivremente atra- vés de toda a sociedade e de toda o espago. As Forwas pr Dirtsko. © debate sobre as formas mais efetivas de difusio ainéa nio se encertou. Esta questio tem algum valor pratico uma vez questa reso- lugio é crucial para a consteugio de modelos operacionais que possam ser utilizados para diversos fins (culturais, econdmicos ou politicos, F exemplo}. - ™ “Hagerstrand atvibui mais influéncia efetiva as relagées interpessoais do que aos meios de comunicagio de massa, © controle sobre 0 pro cesso de difusio de inovagdes requer uma volta a redes doors a io parece mais uma ver inspirada pelas de comunicagao. Esta posigio parece 1 i descobertas de socidlogos, como as de Katz (1961). R. Murphey (1972, p. 261) cita o exemplo do padrao indiano voluntirio de intesagio pes- soal continua entre a cidade ea aldeia, © qual, no longo prazo, tende também a enfraquecer a nao apreciagao ou o ressentimento miituos e, 20 mesino Fempo, serve como um importante canal para a éifusio de inovages das dreas urbanas para as ruais. Mas outros, igualmente numerosos, entce 05 quatis R. Meyer (1965, o poder de persuasio aos meios 1p. 9), esto mais inclinados a atribi de comunicagdo de massa, ao impor quer uma nova idéia, quer um novo produto, quer um novo valor social”. A posigao de Everert Rogers (1962) éintermediria. Para ele “as fontes de informagao impessoais ccosmopolitas desempenham um papel mais importante nas primeiras fases de difusio, enquanto que Fontes pessoais ¢ locais de informacio lesempenham um papel mais importante nas fases seguinces”. punund do coneno de ede irs pose led a Gio de uma inovagio como um processo no qual o individuo desempe nnha um papel principal, uma vez que ele € capaz tanto de facilitar a introdugio de uma inovagio como, igualmente, de resist, num grau maior ou menos, a aceité-la De acordo com Kariel e Kariel (1972, p. 344), a decisio de adotar ‘uma inovasio muitas vezes se baseia na avaliagao feita pelo individuo daquilo que seu grupo de referéncia pensa acerea dela. Esta situagio ‘ocorre freqtientemente em estabelecimentos de tipo favela*, onde os menos empobrecidos — aqueles que tm & disposigio uma rede de relagdes mais amplas na cidade” e fora da favela = sio objeto de imitagio ¢, assim, transmitem uma cultura mais voltada para fora Nio obstante, individuos do mesmo ambiente nio sio igualmente afetados por uma dada mensagem. Como éindicado por Brown e Moore (1969, p. 136), deve-se notar que Hagerstrand, a0 especificar que os individuos oferecem resisténcia & adogio, efetua uma divisio da popu- Iagdo em trés grupos: ndo conhecedores, conhecedores que ainda nao adotaram ¢ adotantes. Além disto, Hagerstrand (1953, 1957) e socié- logos como Coleman (1964) encontraram semelhangas entre o proces- 80 de difusio de inovagdes e a disseminagao de epidemias, acerca das uais foram amplamente desenvolvicios modelos probabilisticos (Bailey, 1957), Com esta analogia em mente, L. Brown propas que a popula- so fosse dividida em “contaminaveis”, “contaminados” ¢ “imuniza~ dos”. Os contaminaveis sio individuos abertos & inovagio; os conta: minados sio antigos contaminaveis que receberam 0 ftus” € 0s transmitem aos contaminaveis; os imunizados sao aqueles anterior- mente contaminados que se toraram incapazes de transmitir 0 virus. Brown (19680, p. 14) fala de um grau de imunizagio, ou seja, o grau ‘no qual 0 contaminado se torna imunizados pode-se igualmente falar fem um grau de contaminacdo, ou seia, o arau no qual o contaminavel se rorna contaminado, © mecanismo de adogio obedece a um certo niimero de regras. Hagerstrand (1965, pp. 261-262) pade, por exemplo, referie-se a um «efeito-proximidade: sua principal conotagio espacial é em poucas pa lavras, o fato de a probabilidade de uma nova adogio se tornar maior na vizinhanga de outra mais antiga e menor com 0 aumento da distan- squatter settlements no original (N. da) ++ shantytoun n0 orignal (Neda T), cia. O efeito-proximidade permitiria uma propagagao mais eipida da inovagio, eas barreiras que dificultam a intercomunicagio sesiam algo dependentes dos individuos, uma vez que o nivel de resisténcia muda de um individuo paca outro, Contudo, estudos empiricos ~ como 0 de Torngvist sobre a difu- sao de aparelhos de televisio ~ contrariam a tese da proxinidade e até mesmo Hagerstrand, revendo alguns de seus préprios trabalhos, mostra como o efeito proximidade pode ser atenuaclo pelo impacto de varidiveis outras que nao a distancia e€ como € mais provivel que a difusio ocorra entre pessoas da mesma classe social enquento que, entre classes diferentes, isto se torna bastante infreqiiemt. A idéia da difusio por contatos “face-a-face” tem sido objeto de outras criticas. Kariel e Kariel consideram este modelo como nao fun- cional para uma populagdo de tamanho limitado. J. Friedmann (1968), relerindo-se 3 difusio de inovagdes no espaco, diz que as Sreas afera- das pelo fendmeno podem ow nao ser contiguas ao centro original de inovagio', J.M. Broek (1967, p. 97) assegura que as inovegdes si0 mais provaveis na periferia do que no centro, uma vez que o iltimo esta tipicamente sobrecarregado demais, de tradigbes e de interesses scultos". RisisttNCIA A INOVAGAO E EstAGios DE Dirusto De fato, a inovacio defronta-se com restrigdes e obsticulos & sua difusdo; ais obsticulos tém sido chamados de barreitas e sio objeto de classificagbes, feitas por Yuill (1965) e Moreill (1965)! 14, Esta astertva, que parece contradize outeas posigdes mantias por J eedmann, sortesponde j sist defesa de possbilidades de difusio da modernizagic através de lacaldades que sio blade ou distantes de centrascracionais de seneenteagi0 de recursos, Veia-se especialmente sua jostifatica para a construgio de Ciudad Guyana canto um pélo de desenvolvimento, Segundo os comentstis de }J. Goblot (agosto de 1967, pp. 23-25), hi uma certa snalogia entre a afirmativa de JM. Brock (1967, p. 97) eas ebservagiss de Marx Engels cm A Ideologia Alem, assins como as de Lénin em O Deservoleimento ‘do Capitalism na Ruse 16, Tomando-se a0 pé da lera 2 palavra de Yuil (1965, ctado por Hagsert, 1971, 59), exisem quate tipos de barciras (1). barra superabsorvente, gue absor 6 Em seus primeitos estudos Hagerstrand (1952, p. 31) focalizava apenas barreias teritoriais. Neste respeito ele estava influenciado pe- las condigdes especificas de seu campo de estudos, a Suécia, onde as condigoes de vida da populagao sao relativamente homogéneas. Isto responde por stia desconsideragao inicial das barreiras de tipo social que ele realmente reconheceu mais tarde. Admitiu, entio, seu erro € observou que o uso de materiais recolhidos em uma dea limitada deve ser considerado mais como uma necessidade lamentavel do que como um problema metodoligico (1976, p. 1), Para a geografia sueca seria neeessirio dai por diante levar em consideragio as resisténcias social e ccondmica inovagio. A primeira seria representada pelos valores ligada as proprios a cada sociedade, enquanto que a segunda esta possibilidades econdmicas priticas de se introduzir uma inovacio. Mas Hagerstrand nao foi além na elaboragao destas nogdes (veja-se Brown © Moore, 1969, p. 124). Barreiras sociais ja tinham sido notadas por Karlsson (1958, pp. 357-371) e Duncan (1957), que as consideraram funcionalmente equivalentes a barreiras terrestres — uma razio a mais para inclui-las num modelo conceitual. Sera vilido supor, da mesma forma que Brown e Moore (1969, p. vel de resisténcia pode ser resolvido com mais informagies acerca do adotante porencial? A difusdo de ino- vagdes cairia, entdo, na mesma categoria que a comunicagio; os meios de comunicagio de massa ¢ outras modalidades de sedugio deteri deste modo, a chave do processo. A difus segundo Hagerstrand: centros de adogio; um segundo estigio, de difusio, durante o qual a adogio aumenta rapidamente no centro primatio (urbano) e se difun- 124), queo problema de um alto de inovages passa através de estigios sucessivos — trés, um primeiro estiigio no qual sio estabelecidos de pelas zonas adjacentes (rurais); e, finalmente, um estigio de 4 difusio mas dst os ransmissores; 2) a absorvent, que absorve a difusio mas pio feta os tonsmissors; (3) tefletora, que no absorve a diusio max permite {0 transnisor eansmitie uma nova difusio na mesma geragio, (4) diretamente refleora, que no absorve a difusio mas a desvia para a clula mats préxima sisponivel a0 transmissor “condensagio”, durante o qual a difusio amortece ou mesmo cessa, depois de ter atingido um ponto de saturagao tanto na centra primrio. como no hinterland, Com base em seu trabalho, particularmente naquele sobre estabe- lecimentos agricolas, J.C. Hudson foi capaz de sugerit a existéncia de irs fases de difusao de inovagdes. Haveria uma primeira fas: de colo- izago, onde uma espécie vegetal invade uma nova area; uma segunda fase de dispersio a curta distancia, com o ereseimento da posulagao e a redugio ou o preenchimento do espago desocupado; ¢, finalmente, uma terceira fase, de competi¢fo, na qual as limitagdes fisicas do am biente se tornam aparentes ~ as espécies mais fortes expubando as mais fracas, decrescendo a densidade e se estabilizando, mu tas vezes ‘em um padro regular, os modelos de distribuigio. Z. Griliches (1957, pp. 501-522) adota uma posigio semelhante, percebendo ts fases no processo: origem, dfusio e saturacao.L. Brown fala de quatro estagios: origem, difusio passada, difusdo recente eauge. A distinsio que faz entre dois est4gios da fase propriamente de difusio esti relacionada a uma proposigio mais detalhada de Hagerstrand (1952) acerca de um estégio primario, 0 inicio do processo, no qual existe um contraste marcado entre o centro inovador e a dre remota; um estagio de difusdo, que assinala o processo real de difusio e que exibe um forte efeito centrifugo com a criagdo de novos ceatros em ‘eas remotas e uma expansio principal, paralela a redugio dos con- teastes regionaiss um terceito estigio, a condensagao, no qual a ex- Pansio ¢ idéntica em todas as trés localizagSes; ¢ um quarto estagio de saturagio, caracterizado por um nivelamento geral, mas de vagarosa Progresso, até o maximo possivel sob as condigdes existentes Em todos estes easos existem limiares de adogao seguidos de imia- res de saturagiio, A saturagio a respeito de um objeto difundido deixa margem para a possivel adogiv de outros objetos. E facil perceber aqui uma convergéncia com os limiares de demanda nos es:udos de lasticidade. F. Lynn (1966, p. 102)" superou a separagao entre a difusio * A obra referida nZo se enconten na biblingeaia da edo original eno oi possvel recuperar seus dados nas fichas bibhogritias da acervo do autor (N. dt de inovagies e a comunicagao orientada comercialmente, a0 consi- derar as trés fases que se seguem: (1) fase de incubagio, que comeca quando a viabilidade de uma inovagao é estabelecida e que termina quando suas potencialidades comerciais se tornam evidentes; (2) fase de desenvolvimento comercial, que se estende desde 0 reconhecimento do porencial comercial de uma inovagio teenoldgica até a implemen: tagio de medidas destinadas a superar todos os obsticulos técnicos econdmicos remanescentes; (3) fase de crescimento comercial, ou de difusio, que envolue a mensuragio dos efeitos econémicos da adogio de inovagées pela indiistria on por consumidores. ‘Tearo E Esraco: Da Dirusko pr INovagoes 4 “Surnsricies Comenciauzaveis”™ Um dos problemas fundamentais inerentes a qualquer estudo siste- iaitico da organizagao do espago € determinar: (1) por que cada coisa esti situada num determinado local em vez deem outro qualquer"; (2) tem que medida os diferentes elementos de uma dada organizagio es- pacial podem vir a variar em sua distribuigio; (3) por que uma inova~ io aparece em um dado local ¢ nao em outro. Todas estas questdes sio colocadas em diferentes niveis e com diferentes finalidades por planejadores urbanos, geografos, cientistas regionais, planejadores em xgeral ¢ especialistas em localizagao. Existe, indubitavelmente, consenso acerca da afirmativa de que os homens e sts atividades nio se acham em sua presente localizagaio exclusivamente por eausa da interagao de fatores atuais. Uma localiza- so presente muitas vezes resulta, direta ou indiretamente, de fendme- nos que deitaram raizes previamente. E por isto que estudo de loca- lizagées individuais, assim como 0 estudo da ory nndo pode passar por cima da dimensio temporal". nizagio do espago, 17. “Por que as coisas estio como esto, justamente aqui?” (Enequis, 1949, citado pot Hagerstand, 1953) 18," € hasico pase os goografos estular como estio inerelacionadas as coisas que os interessant acerca de periodos elugates™ (CT Smith, 1965, p. 113). — ‘Como, porém, as inovagées sio difundidas no espago? Quais sio 10s modelos que lidam com, para usar uma frase consagrada, “ondas de difusio"? Como estas ondas abrem brechas através do espago? ‘Teoricamente assume-se a existéncia de dois tipos gereis de difu- so: a relocalizagio ¢ a expansio, Por relocalizagio se enrende a mi- wn £, 08 objetos esto em uma localizagao, que abandonam em t,, conti- rnuando, entretanto, a ser os mesmos objetos. Por outro lado, no fen: meno da expansio, existe uma localizagio inicial seguida pela difusso para outros pontos do espago de objetos do mesmo tipo. Retornando & terminologia de Boudeville (1972, p. 177), “pode haver cifusio por simples modificagio de localizacao e difusio por aumento da freqiién- cia espacial do fendmeno [...] Esta segunda modalidade [..] explicada pela transferéncia de informagi0, quer nova, quer tornada aceitavel por uma modificagio no receptor médio”. Levando em conta a origem dos bjetos, podemos falar de expansio interna ¢ de expansio internacional Os warios objeros nio sio igualmente suscettveis aos deis tipos ge- rais de difusio acima mencionados. No caso do género humano, por de objetos de um ponto para outro no espace; isto é no tempo exemplo, tem-se apenas a relocalizagao, exatamente como no caso de uma cultura agricola que desloca outra e, por sua vez, € deslocada; as jaticas culturais, entretanto, s6 podem estar sujeitas 3 expan sfo, enguanto que uma tecnologia sio como de relocalizagio. A difusio de tipo expansio se caracteriza uperada € objeto tanto de expan- por transferéncias “associativas”, isto &, por agregados ou grupos de objetos funcionalmente relacionados. Os exemplos de estudos empiricos sito abundantes, a cemegar pelo de Hagerstrand (1952) sobre a difusio de radios ede automiveis numa regio da Suécia meridional. Ele utilizou uma rede hexagonal de uni dades territoriais para descrever o fendmeno”, Para Hagerstrand, 0 fato de os elementos de uma cultura tinica regio constitui um pressuposto fundamental para explicar sua fio mais serem peculiares a uma 19. Este métdo foi ermpregad subsequentement, especialmente por P. ould (1970), tem seu esto sobre a Tanzania, Ente estades pionitos sobre dress delimitadss, pode ser itado a de 8. Godond (1951), cambémm da Fseola de Lund distribuigio. Segundo ele, todas as formas de transigao sio descober- tas a partir do centro, onde o elemento em questio exibe alta densida- de, para a periferia, onde cle é bastante raro, Nao obstante, a0 se estu- dar um proceso é impossivel tragar suas fronteiras, assim como nao é possivel, a ndo ser de um modo muito grossciro, observar desloca tos, Em vez disto, podemos verificar a distribuigao de proporgoes. As mudangas de distribuigo devem ser tratadas como mudangas de pro- orgies © de graduagées. Isto, todavia, representa um resultado, en- Quanto estamos mais interessados no processo. As relagées entre a difusdo de inovagies ¢ a organizagao do espago cevidenciam-se em toda parte. Nao obstante, é preciso mais do que isto para que se compreenda o processo de difusio espacial de homens, de cobras e de idéias humanas sobre a superficie do Globo e em cada pais ‘ou regiao em particular. Necessitamos, desde o inicio, responder a ques- to colocada por Svenson em 1942 (p. 5): “De que modo uma inova- ‘gio j adotada alhures faz seu aparecimento em uma determinada localidade' ” Esta questo é completada por outra, de Hagerstrand (1967, p. 5): “Como se difunde a adogio de uma inovagio, uma vez chegada a um estabelecimento humano?” Mais recentemente, Kariel ¢ Kariel (1972, p. 359) indagam acerea do “modo como estas distribu ‘ses mudam através do tempo; isto é, sua difusio espacial”. Finalmente, devemos perscrutar a tendéneia provavel de alteragio nia distribuigio presente de um fendmeno x, indagando “qual sera a mudanga provavel na distribuigio do fendmenoy se houver uma mu- danga no fator a ou a introducao de um novo fator 62” (Hagerstrand, 1972, p.2}, Estas questées ido so mutuamente exclusivas nem exaurem as relages que podem ser encontradas entre a difusio de inovagées, a organizagio do espago € os fundamentos de uma possivel teoria do «espago", Mas, estar elas em posigae de supriras condigdes requeridas 20 embarque no indispensivel trabalho de construe tedrica? Em todo © caso, deve ser reconhecido que eles ainda nio foram elucidados. 20, Sobe este assunto, vejam-se A. Kuklinki ¢ T; Hagerstand, 1 1969, pp. 45-585 P. Claval, 1973, pp. 5-15, JC. Hudson, Uma abordagem como a de A.P. Usher (1955), acerca das conse aiiéncias da revolugao nos transportes para a produgao de certas mer cadorias e da possibilidade de competigio criada para var‘os paises, _ndo tem sido acompanhada, Asidéias de W. Parker (1966), que relacio- nou novamente a inovacao tecnolégica com mudangas nas les de loca: Hizagio {no nivel macroscépico}, também ficaram praticamente sem seguidores entre os gedgrafos. O estudo de A. Pred (1966) sobre a difusdo da industrializagao € da urbanizagio na América do Norte continua uma das raras aplicagdes de um método que envolvea incluso a evolugio do espago nacional. Os gedgrafos parecem cada ver menos interessados nestestipos de quest6es propriamente geogritficas ¢ cada ver mais interessados na aplicagio, de seu conhecimento adquirido, em objetivos utilitsrios, isto & a servigo dos negécios. “A geografia do comércio de servigos a vare~ jo exibe regularidades através do espago e do tempo |...] ea convergén- cia de postulados tedricos & de regularidades empiricas proporciona substincia & geografia mercadoldgica ¢ a certos aspectos do plane- jamento urbano ¢ regional”, nos diz B. Berry, no prefacio de seu liveo Geography of Market Centers and Retail Distribution (1967, VII). E ele acrescenta: “a geografia mercadolégica conduz o interesse varejista do gedgeafo para a pritica dentro das reas metropolitanas, em bene- ficio de empresas comerciais privadas” (p. 125). Com 0 encorajamento de um apoio cientifico, nao ha falta de se- guidores, Restringiremos nossos comentarios a0 trabalho cue parece ter ido mais longe neste dominio, especificamente, 0 artigo de L., Brown eK, Cox “Empirical Regularities in the Diffusion of Innovations” (1971, pp. 551-559), que merecidamente busca scu titulo nos estudos pioneiras de Hagerstrand, Ai, entretanto, trata-se acima de tudo de uma questio de fornecer uma “abordagem alternativa ao problema da consisténcia i i0 utilizados aspectos da inte- tessante difusio da mereadologia que até agora passaram desapercebi: dos a outros pesquisadores ‘Tal qual Torngyist (1967), Brown (1968, 1971) pressupoe que fa: tores de mercado relatives & aquisigio de uma inovacao pelo adorante laridades empiricas”s & fo: dlevem ser considerados simultaneamente com fatores de informagao, isto 6, com aqueles que tem um peso na aquisio de informagées acerca da inovagao. A nogio de “superficie mercadologica” é ai desenvolvi- da. Trata-se de uma questo de encontrar area de vendas que tenha maior possibilidade de oferecer maiores lucros para os investidores potenciais, Com isto em mira, esses autores propositadamente desen- volvem a idéia (introduzida por Hagerstrand) de resisténcia social ida” cindida em dois econdmica, com a “superficie de resistncia per componentes: um econdmico ¢ outro social. O primeiro se refere, por tum lado, a0 empresirio que desea introduzir © nove empreendimento atendo-se a céleulos de custo-beneficio; e, de outro lado, os possi usurios, cuja importincia deriva do fato que os individuos tém dife- rentes oportunidades econdmicas. O componente social resulta ago entre os custos ¢ vantagens nao monetirias pertinentes 4 adogio da inovagao e referente, acima de tudo, a0s clientes provaveis. Mas, na pritica, dizem os autores, é possivel distinguir entre os aspectos econo micos e sociais da resisténcia a adogao (p. 556). E para quebrar essas resisténcias que Brown (1968), depois de clas- so rapida € completa requer 0 suporte de uma entidade referida como um e sifiear 0s varios objetos da inovagio, isola aqueles cuja dit igador auto-intecessado da inovagio, Na teoria classica, a preo: prop. cupa processo interessa da mesma forma ao adotante e ao onganismo de difusio (Brown, 1971, p. 3). Daio conselho “cientificamente” forneci- do por Brown ¢ Cox (1971, pp. 555-556) de que sob estas condigdes se eis por investidores interes- (0 € apenas com o adotante, enquanto, na nova perspectiva, 0 ccriem organismos especializados util sados, sob condigao de que sua localizagao seja a mais adequada pos- fl. Em termos do sucesso de uma determinada iniciativa, onde Friedmann (1973) vé 0 empresirio come uma figura mitica schum- peteriana ~ mitica em razio do triunfo das multinacionais ¢ di métodos ~, L. Brown ¢ K. Cox, mais realisti smente, véem um meree- nirio armado com jargao universitério pontificando sobre como uma superficie de res mais se trata de uma questio de contigio ou de difusio hierdrquica de fncia pode ser convertida numa drea paci ondas de inovagao guiadas através de uma rede de localizagdes cen- trais, como colocaria G. Olsson (1966). Agora se trata de uma questo de estudar a superticie comercial — isto €, 0 espago geogritico ~ para revelar 0s pontos onde os indices de compra tendem a declinar ai instalar centros de apoio que se tornam verdadeiras estagdes de bom- beamento das ondas de difusao de Hagerstrand, Esta €a nova perspec tiva de L. Brown (1971, p. 2), para quem a “teoria da difusie lida com bens de consumo, enquanto a teoria dos pélos de crescimento diz res: peito a sctores econdmicas caracterizados por efeitos altamente multiplicativos”. Na verdade, estamos lidando aqui com a pur Soniza- e simple «io, pelos interesses mercantis, da teoria da difustio de inovecbes Atese é: “A lucratividade esperada ligada a diferentes localizages parece ser a consideragdo mais importante na definigio da superficie mercadoligica para organismos de inovagio tanto pablicos como pri- vados” (p. 557). Ea aplicacio: primeiro © as menos lucrativas depois, se € que chegario a sé-lo. Isto “As localizages mais lucrativas serio exploradas deve ser esperado tanto em face dos fundos de investimento limitados € da incerteza mercantil usualmente associada a introdugio de uma ” (p. $57). D, Schon (1973, p. 103) tem, assim, uma boa ra- 240 para afirmar que a mercadologia é “a difusio chamada por outro nome" Uma Avatincio Crinea pa Teoria na Disusko E lamentivel que estudos sobre regularidades empiricas cue deve- iam servir de base para a teoria da difusio de inovagées tenham freqiientemente tio pouca substincia. Os fatores selecionades, tocan- da sociedade edo espa- 60, sio nao representativos, sendo irrelevantes, e, © mais das vezes, do apenas numa parte limitada da organi » desligados de qualquer contexto geral. O que fazer da compara ‘fo tragada por P.O. Pedersen (1970) da América Latina entre o apa- Fecimento inicial ea difusdo dos Rotary Clubs, Lions Clubs, aparelhos de TY, selos postais, comissdes de energia atOmica, estradas de ferro, bancos de desenvolvimento, bancos hipotecarios ow universidades ~ sem sequer mencionar a data de sua liberago dos espanlisis? (ele aré chega a esquecer que o Brasil oj uma col6nia portuguesa)". A interpre- tagao dessa confusio de dados € completamente destituida de impor cia, Mas isto nao evita que 0 autor atinja conclusdes ¢ construa wm modelo. ; ‘Alem disto, a teoria geral da difusao coloca excessiva énfase em Isto se torna claro nas naturai analogias com leis proprias as ciéncia similaridades investigadas, na construgao de hipérese e, Finalmente, no enunciado de leis, tudo sem o amparo de qualquer teste inicial da rea- lidade. A realidade é ineroduzida apenas quando o eélculo de indices de variagao em formulas matematicas pede verificacio para aplicagio, Segue-se 20 pé da letra o conselho de A.G. Wilson (1969, p. 229) “estamos mais interessados no uso de analogias pelo construtor de teorias do que em argumentos filossticos”. , (© proprio Hagerstrand (19765) observa que * a ordem espacial na adogao de inovagées é muitas vezes tio evidente que se torna atraente tentar eriar modelos tedricos que estimmulem o processo e que eventual- ‘mente tornem possiveis certas previsbes. ‘A nogao de heterofilia € utilizada apenas de modo incompleto, nifica assimettia, isto é, as posigdes dos indivi- F © 0 receptor ~ So posigdes hierirquicas oe Heterofilia também si duos envolvidos ~ 0 emis €, assim, pressupdem polarizagio, uma relagio de poder: Mat posto inteiramente de lado, redussindo, pois, a possibilidade de se cons- truirem modelos de interagio dignos de fé. Mais comumente o modelo Hagerstrand-Brown de difusio epidémica consiste mais ou menos numa fungao do receptor. Onde, todavia, isto corresponde a realidade? De = ¢ isto em fato é 0 emissor quem seleciona os pontos de impacto fungo de scus proprios interesses. Em todos os niveis, as inth 249 tomadas étricas em uso que 0 interes 21, En outro techo (ig. 16, p. 249} 0 ipo de toma so intre savembora a aplicagio ds prosente distibsigho eseja mut distante dos histéricos, externas nao sio nem acidentais, nem arbitsérias, Ao contratio, elas pressupdem uma ordem particular ou mesmo leis baseadas no interesse do emissor em obter os resultados n uma fungio da escotha da localiza aximos que so em grande parte ‘o-impacto. Assim, a nogio de pro babilidade nao pode ser aceita como uma regra geral e os modclos estocisticos s6 podem pulagoes envolvidas, + aplicados a uma frago minoritétia das po- Sem diivida todas as inovagdes pressupdem a mudanga € os inova dores ireqitentemente sio encarados como desviantes das ri sistema que usam fontes mais cosmopolitas de idéias novas (2. Rogers, 1962, p. 304). O problema é a mudanga dirigida ou planejada, segun: doa definisao de E. Rogers ¢ F. Shoemaker (1971, p. 38), uma vez que «la € instigada por agentes externos ou por scus representantes através da introdugio de novas idéias ou da obtensao de objetivos definidos pelos proprios inovadores. A imitagao, por parte dos paises do Tercei- ro Mundo, do modelo fornecido pelos paises desenvolvides, por exem- plo, é, assim, uma questio de necessidade mais do que de escolha. A mesma situagao é valida para 0 consumidor que deve lidar com um fluxo incessante de mensagens publicitarias. mas do Para um bom niimero de pesquisacares o desenvolvimento & um processo de difusio, mas 0 processo envolvido é, na verdade, seletivo (J. Doherty, 1974, p. 8), governado pelo interesse dos paises desenvol- Vidos,¢ esté suijeito ao potencial dos paises subdesenvolvidos. £ impor tante ter aqui em mente que, provindo dos pélos do sistema, a difusio de inovagdes nunca se generaliza em todo o espaco periférico. Dever-se-ia norat também que, nas suas diferentes formelagdes, a teoria da difusio de informagSes nega-se a levar em consideracio as estruturas sociais. E certo que, relativamente ao ritmo de difusio, Hagerstrand (1953, pp. 112-120) chama a atengio para a importinc das caracteristicas sociais da populagio. Da mesma forma E. Katz afic- ma que “€ inconcebivel estudar a difusio sem algum conhecimento das estruturas sociais em que estdo localizados os adotantes em poten. Cial, tal qual o seria estudar a circulagao do sangue sem conhecimento adequado da estrutura das veias ¢ artérias”. f+ Para E, Rogers E. Shoemaker (1971, p. 30}, “a fim de impedix ov de facilitar o indice de difusio e de adogio de novas idéias, a estratura social age através daquilo que designamos por efeitos do sistema”, também chamado de “feito composicional”, “efeito contextual”, “efei- to estrutural” {p. 29). Mas ndo € suficiente discursar acerca da intro dugio desta categoria através da criagio de modelos de difusio; eles devem ainda ser definidos®, De toda a forma, nunea se trara de uma questo de classes sociais ou de estratas de renda, mas apenas de ou- tros elementos distintivos entre os individuos. E sobremodo lamenti vel que um dos raros esforgos de incorporar 0 pressuposto sécio-econdmico a modelos de difusio tenha sido enceta- dio a fim de viabilizar o maior lucro possivel de empresas, € nao para investigar as condigdes de bem-estar de populagées como um todo (L A. Brown eK, Cox, 1971). Por que estes gedgrafos ¢ outros que segui- ram as mesmas linhas esto to pouco preocupados com o outro Indo do problema, isto & com 0 consumidor? Este diltimo tipo de escudo Teva & busca de informages imparciais, enquanto o publicitério no pode estar interessado em toda a verdade (E. Mishan, 1971, p. 117)- ‘Atéo dado essencial da teoria, o tempo, também ésimulado”. Brown ¢ Moore (1969, pp. 148-149) destacam que requentemente[..] eonsidera-se cada intervalo de tempo come representante de ‘uma grande quantidade de tempo do mundo rea, umn ano por exemplo, Esta abor dlagem nio s6 consiste numa aproximacio grosseira das condigdes do mundo real ‘coma tambéen tin eonsegincias para a tarefa de avaliagio do modelo: a estrita omparagio entre os padrdes de difusio simuladlos © 08 do mundo real 22, “Um sistema sovalédefinidla como uma. coletvidade de nicades que so fuscio halmente diferencias ese empenbam no solucionamento conjunto de problemas ‘Mhnuvos aus mets comm: pode consistit de camponeses de uma aldeiay est “lantes de vita universidade, estudantes secundicios da Talindia, médicos de wma ‘Rogers e Shoemaker, 1971, frands cidade ou membeos de uma tnibo arbori p28), sepa 2.3, Bin um astigo mais recente Hagerstrand, (1973) muda parcialmente suas concep {Ges crginas, as ainda insite que a caacteristica do tempo ser considerada em primeica instncia €a ordem « mio a pettodisidade porsivel porque 0 peaquisador no pode estar seguro acerca de que segmento do tempo do modelo deve comparar com um dado segmento de tempo do mundo real, Assim, o problema de se introduzir 0 conceito de tempo concreto no estudo da difusio de inovagdes esté ainda por ser analisado™, Estudos empiricos da maior reputacio, que poderiam ajudar a cor -omo os de P, Gould (1970), B. Ridell (1976) e E. Soja (1966) ~, nao vio além do nivel descritivo, Estes autores, e Gould em particulas, parecem as vezes mais preocupados com métodos do {que com os problemas concretos aos quais os métados foram aplica~ dos (H. Brookfield, 1975, pp. 113-116). Para Brookfield (1975, pp. 111 eseguintes), o trabalho de P. Gould na Tanzinia (1970) tem dois aspec tos essenciais: a adogio de novos métodos “usados para traiar dados intrataveis” e o estudo de problemas conceituais ¢ técnicos colocados pela criagao de “superficies de modernizagio”. A conclusio de Gould, segundo um comentador, est muito mais proxima da de Hermansen (1972): “aquela que precisamos para compreender a modernizagao, ‘ou qualquer outro process0 a ela relacionado, é uma teoria d tmais profunda, acerca dos sistemas de lugares centrais”. Segundo Brookfield (p. 112), B. Ridell nos oferece ~ ainda em termos de geogtafia da modernizagio — “um estudo da migragao para Freetown, descobrindo que os niveis de urbanizagio ¢ a distancia da cidade so elementos chaves para a compreensio. A hierarquia e a rede estrutturam todo o sistema, tanto quanto ao processo como quanto 4 resposta”. Além disto, deve-se lamentar que, mesmo com os instru- rigir esses defeita mica, rmentos excepcionais de pesquisa de que dispunham, esscs autores mio tenham lidado de modo mais cientifico com o problema do tempo ~ que, no fim, acabou sendo seu problema fundamental. Que subdivisio do tempo esta envolvida, se o estabelecimento de periocizagies € deixado a critério do individuo ou, se, por conveniéncia, elas sio estabelecidas de modo a corresponder aos dados do censo (como fa- 24, Tentamos tratar deste problema em wna dimensio macrosedpica (Suntos, 1972) ras a iniiatva permainecey inacabsds porgue as outras dimensdes re puderam ser considersdas zem Gould ¢ Ridell)? Alguns, como E. Soja, nem mesmo esto preocu- pados com este detalhe (periodizagio), Os resultados que aleangam refletem, sem divida, a difusio de um certo niimero de vés do espago nacional estudado mas, por nao levarem em considera- io a histéria, permanecem muito aquém ce uma explicagio que ligue 4 condigdes nacionais ¢ locais ao fluxo de inovagdes ou a moderniz 20, como eles preferem designar 0 processo. £ possivel que sua repug- nincia de fazer uso de dados histéricos provenha do fato, ilaminado pelo proprio Hagerstrand (1962, p. 3), de que os fatos historicos apenas excepcionalmente admitem um tratamento estatistico. E assim que um fendmeno essencialmente dinamico se reduz a um conjunto morfolégico de dados. O processo é reduzido a uma forma. A realidade € deformada em modelos matemiticos bastardos ajusta- dos a um leito procustiano. Deacordo com Hagerstrand, o importante € utilizar os objetos como indicadores do modo como as pessoas se comportam, em termos da situagao relativa de seu lugar de residéncia. A esse respeito, 0 estudo Tem menos a ver coma geografia de clementos culturais especificos do ‘que com uma *geogratia do comportamento cultural”; ou, ainda, com tuma geografia preocupada com a distribuigdo do comportamento hu- ‘mano em relagio a uma dada cultura, Isto consiste numa dupla violén- cia, Primeiramente, voltam-se as costas para o método escolhido (0 estudo de processos) e, depois, nega-se 0 mérito de toda a idéia, No mais se trata de uma questio de conhecer por que certos abjetos cettos individuos encontram-se, combinados em diferentes proporcdes, em um dado lugar, mas sim de mensurar preferéncias culturais onde intervém fatores outros que os ceondmicos, Em seguida, é estranho que os dados objetivos sejam desprezados precisamente quando de set construido um modelo operacional. O préprio fundador do méco- do (Hagerstrand, 1962, p. 4) nos da suas razbes: “o primeiro requisito de um indicador no é que ele tenha ‘importincia geografiea” mas sim que 08 dados sejam completos e pa ¢ quantitative” Indubitavelmente a teoria da difusio de inovagdes ~ como tantas outras nas ciéncias humanas ~ é oficialmente apresentada como um exetcicio de simulagio, feito apés a atualizagao da pesquisa, para que leve em conta o jargio de programacio e computagio. Desta forma, defrontamo-nos com um jogo para ser usado na construgao de mode- los dedutivos, mas que operam na base de inferéncias e nao de prépr pritica humana — um jogo que tenta imitar a realidade, a fimde que se aprenda a modificara pratica humana, a qual deve, por sua vez, imitar modelo. Hoje€ lugar comum considerar quea teoria dos lugares centrais ea dos polos de crescimento completam-se mutuamente através da medi fo da teoria da difusto de inovagoes; ou que esta tltima pode ajudar a explicar o erescimento urbano e regional e mesmo circunscrever 0 f nomeno da migcagio ou reduzir disparidades territoriais, Esta associa G40, seja expl que acabou sendo tomada como uma verdade adquirida. E, todavia, ela € tao inconsistente quanto a propria teoria da difusio. Nao obstante, a teoria da difusio de inovagbes poderia tornar-se ‘um instrumento itil se pudesse trabalhar-se sistematicamente em dife- ta ou implicita, tem sido tao freqiientemente repetida, rentes niveis espaciais € com sistemas temporais nos quais © tempo estudado fosse o tempo concreto, objetivo. Este é,na verdade, o tempo a hisrdria:real cal qual € vivida pelos homens, B através'da pedcica humana que se pode retornar & teorias e as regularidades rio serio encontradas @ priori, mas emergirdo de um processo progressive de redugio, no qual as qualidades individuais darao lugar as qualidades tidas em comum, assim que os conceitos sero encontradose a teoria construida, O retorno a realidade ~ isto, as realidades particulares a cada pais, regido ou lugar ~ ocorrera, entao, através da aplicagao de modelos para os quais a pritica humana de novo se tornard o guia essencial. Nilo se trata de uma questao de deixar de lado 0 método dedutivo, a fim de exaltar 0 método indutivo, mas de combinar os dois num processo dialético, onde as formulagdes te6ricas, sempre provisérias, servirdo de ponto de partida para o trabalho empirico e onde realida- des em mudanga imporio reajustes aos principios tedricos ou ch Ho mesmo a substitui-los, BIBLIOGRAFIA Baney, NT: Mathematical Theory of Epidemics, New York, 1957. Banner, H.G, Innovation. New York, MeGraw Fill, 1951 Berny, Brian J. Geograpby of Market Centers and Retail Distribution, Englewood Cliffs, N'., Prentice-Hall, 1967, pp. 1-25. ‘Bouvet, Jacques R, Aménagement ci teritoiree polarisation. Paris,Ed. M.Th, Genin Libraries Techniques, 1972. Bowuns, Isaiah. The Pioneer Fringe. New York, 1931 Baork, |-M. Geografia, su Ambito y Transcendencia, México, Manuales Uteha, 1967. BrooKisLp, Harold, Interdependent Development. Londres, Methuer, 1975, Brows, L.A. The Diffusion of Innovations: A Markov Chain Approach. 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De simples constante estatistico-demogestica, a nogio foi amphada quer para ser erigida em cegra~como no easo de rank-size?-, quer para se tomar a base de raciocinios muito mais ambiciosos que favoreceram a claboragio de teorias espaciais respeitadas ¢ utilizadas até hoje. Do original em cts, La périphéric dans le ple: le cas de Lima, Pérsu, Publica Ao, em versio diferent, no veo The Soci Economy of Cites editaca por Gary Gappest ¢ Harold Rose, Beverly Hills, Sage, 1975, 1. Bote agules que se debruatam, pantie d dices abordages, bre o mo blema da *primazia urbana”, podem-se citar: Linsky (1965), Browsing (1958), Davis (1962); Shaks (1965); Meta (1968) Wingo (1969); Hosclity (1957); Clarke (1972), © conceta de “rank-size re” foi desenvolvido par G.K. Zip (Hannon Bebavior sind the Principles of Least Effort, Cambridge, Mass Addison-Wesley, 1949), 4s, segundo J., Clarke (1972}, ele foi proposto por F Auerbach ("Das Gesets dee Bevolkerungskonzentation”, Petermann's Misteihorgen, 9, pp. 74-76. Se Mas, por mais importante que seja, um indice de variagao nada significa por si mesmo, © que importa €a relagio global, aquela que exprime a evolugio geral do sistema urbano e do espago geogrifico no qual este sistema se insere. Nao se poderia reprovar tais exercicios didaticos numa fase em que se iniciava a pesquisa ~ ainda hoje inacabada ~ de uma teoria geral da urbanizagio e do espago. Mas pode-se, sim, lamentar que a falta de ss mio tenha impedido que elas fos: sem apresentadas como teorias. Isto bloqucou durante muito tempo o forga explicativa dessas formulae conhecimento dos processos espaciais, distorceu seu estudo e evitou o encontzo de solugdes adequadas. E possivel pensar que, quando a nogio de primazia foi relativizada, passou-se da simples descrigio a explicagao, Gunder Frank trouxe-the ‘uma dimensio hist6rica, mostrando como a dominago eriou ¢ favore ‘eeu certos exutérios da produgio exportivel das nagdes subdesenvol- Vidas, os quais se tornaram, assim, centros de crescimento. Mas Frank nao péde, ou nao quis, dotar sew raciocinio de uma andlise mais aprofundada da historia, nem dos mecanismos especi iais que ele implica, Seu objetivo era sobretudo politico: atraira ater do para a importancia historien da dependéncia, Raul Prebisch (1949) havia-Ihe proporcionado um fundamento de ordem internacional. Ins- pirado talver por Adam Smith, que se preocupara com as causas das dlesigualdadesentteas nagdes, ele procurou explicar como, otadamente ha América Latina, a deteriorizagio dos termos de troca est na ori- gem da Ligio relativa de recursos dos paises subdesenvolvidos da pobreza, enquanto os paises industrializados continuam sua acu :ulagao. Pode-se lamentar que as relagdes financeiras devidas aos in- vestimentos ¢ aos créditos financeiros estrangeitos s6 recentemente te rnham sido ineluidas na nogao de centro-periferia (A. Pinto J. Knaka, 1973, pp. 27-28). De todo 0 modo esta abordagem negligenciou 0 dado espacial, ‘A nogio de core-periphery (Friedmann, 1963), ou de heartland e de hinterland (I. Perloff e L. Wingo, 1961}, considerada por Slater (1968, 1p. 27) como a expressio espacial do modelo de centro e periferia de Shil, também é herdeira da idéia de primazia, Ela tem sido nuitas ve- zes apresentada como uma modalidade das disparidades regionais ou como uma forma de dualismo geografico, na qual a grande cidade se poe ais demais, Outros autores haviam anteriormente abordado a questio ¢ assentado as bases desta teoria, quer em nivel Iccal (LW, Schultz, 1953, p. 147), quer em nivel internacional (G.M. Meyer R.E. Baldwin, 1957, parte Il), Porém, foi sobretudo J. Friedmann quem, a partir de 1955, desenvolveu a nogio de polo-periferia, Elenio ace tow todos os pressupostos de seus inspiradores mas trouxe uma consi- deravel contribuigio pessoal a idéia; dai sua originalidade. Para Friedmann (1963, p. 43), na escala nacional a estrutura centro-periferia aparece, desde as primeiras etapas do processo de in dustri 1530, como uma verdadeica relagio “colonial”: a periferia contribui mais para o crescimento do plo do que dele recebe de volta. A tendéncia secular dos termos de trocas inter-regionais sempre Ihe & desfavoravel, ¢ ela permanece como produtora de bens primirios, so- brretudo agricolas. Esta periferia 56 é capaz. de acolher indéstrias de transiormago de matérias-primas, ¢ sua importaneia relativa na ativi dade industrial do pais tende a baixar A medida que este se desenvolve (1963, p. 50). © aparecimento de uma esteutura polarizada se faz acempanhar por uma série de deslizamentos da perifer 98 fatores principais da produgao: mao-de-obra, capital, cepacidade ‘empresarial, divisas e matérias-primas. A producio marginal no cen: tro € maior do que na periferia (1963, p. 45). A explicagio da situagao de primazia e de suas conseqiiéncias com- porta, todavia, uma ambigitidade, Com efeito, se na parte descritiva 0 dado internacional € freqiientemente considerado, 0 mesmo nao ocor- re quando se trata de tcorizar sobre 0 fendmeno ou de propor um ‘modelo operacional. Este nao é um easo tinico na histéria de elabora- para 0 centro, o qual rerém 3. 0 caw do Peru & todavia, um exemplo de uma relagio “colonial” interna que precede a nlustrilizagio, Pade-se dizer 9 mesmo de numerosas cdads-portos 08 de cidades capitan na América Latina, assim cowo na Aftica e ma Asn. sao cientifica; entre a descrigio e a teoria muitas veres se estabelece tum “vazio” e, quando se apresenta © momento de explicar, um dos clementos descritivos niio aparece como conceito. Por exemplo, quando Friedmann descreve a oposigio entre 0 cen- tro e a periferia (1963), leva em conta um conjunto bastante aberto de relagdes, incluindo o sistema internacional, Algo muda quando trata de explicar 0 fendmeno. Os dados que participam de sua explic a comandam transformam-na numa “caixa-preta”, porque entio 0 pais passa a ser considerado como um sistema fechado. E verdade que, como nos relembra Dobb (1965, p. $5), “ha nao muito tempo, 0s eco- nomistas estavam absolutamente seguros acerca do carter nacional do sistema capitalista de desenvolvimento econdmico”. Em nivel de pais, a associago muitas vezes feita entre o que se deci- di chamar de “colonialismo interno” (P. Gonzales Casanova, 1965)* a “troca desigual” (A. Emmanuel, 1969) 96 serve para embaralhar as cartas. Se existe a troca desigual entre paises, tal conceito nao € trans- ferivel as relagdes internas, entre subespagos de uma mesma nagio (P. Jalée, 1969, p. 161). As relagdes assimétricas entre regides fazem-se principalmente em favor de um ponto qualquer fora do pais, para 0 qual se encaminha a mais-valia. A dependéncia externa, agravada pelo ‘crescimento, nao aparece como um fator locacional, ¢ pretende-se ver na cidade primaz um subsistema espacial “aurénomo” em relagio aos subsistemas periféricos, os quais seriam “dependentes” (Friedmann e¢ alii, 1970, p. 8). Chega-se também a afirmar que as transferéncias de recursos sio impedidas pelas fronteiras internacionais (Friedmann et alii, 1970, p. 9) ainda que 0 contrario seja evidente. Na realidade, a criacio, 0 progresso ow a decadéncia das regides dos paises subdesenvolvidos se explica antes de tudo pelo fato de que soe 4. A questio do colonialisme interno deu lngar a uma literatura extensiva. ‘Coneuten>se, por exemplP, Gonzales Cassava (1965); Coleman (1960); Hoselit, (1962); W. Lean (1968); F Fanon (1961), C. Wright Mills (1965); J. Cotler (1967), A. Quijano (1965) 5. Por oposigio & congo de dependéncia, a autonomia signifies essencialmente a capacidade de se dig por si mesmo, sto é a eanacklade de mobilza ede uieae (ecursos a servigo de objtvun hem defi Friedmann e ali 1970, CLDU, p. 9) ha muitos séculos elas tém respondido a demandas especiticas dos p6- Jos do sistema, Trata-se de um fendmeno cumulative e seletivo. Como 1 modelo de crescimento adotado na quase totalidade de Terceiro Mando ¢ uma reprodugio daquele dos paises desenvolvidos, as modi- ficagdes das estruturas locacionais, ao mesmo tempo que sio fungio do centro nacional, sio também induzidas pelas condigées da econo- mia mundial e por suas repercussGes especificas em cada pais AAs teses fundamentais relativas a esta acumulagio sio as de G. ‘Myrdal (1971), paca quem a tendéncia é a de acumulago cumulativa ‘mum ponto privilegiado, com 0 agravamento da pobreza no resto do pais, ¢@ de Hirschman (1964, p, 213), para quem o efeito de “polariza- 30” € seguido de um efeito de douro, a macrocefalia nfo passaria de uma etapa para a descentra lizasao. Percebe-se ai sem duivida, uma evolucio em relacio 8s propo- sigGes feitas em diferentes ocasides por F. Perroux. Segundo Norro (1972), “o movimento espontaneo eautocumulativo ‘ontigio”: se 0 crescimento € dura. dle concentragio espacial das empresas nas grandes aglomerages ur- a despeito esforgos de desconcentracio 3s vezes consentidos pelos pode-es pribi: cos”. De fato, uma difusa banas nao foi posto em xeque em nenhum p: mo dos esponianea, como a concedida por Hirschman, ndo parece possivel. Mesmo o crescimento sustentado nao modifica a rendéncia (J.C. Funes, 1972, p. 29). proprio Friedmann, reconhece que as possiveis deseconomias de escaln nio impeden o pros- seguimento do erescimento nas zonas metropolitanas (1963) Pelo fato de a estrutura industrial das nagdes subdesenvelvidas se caracterizar por um cle\ cdo grau de concentragao econémiea ¢ espa- cial, “o fendmeno nao € transitério, mas constante e estrutural, ¢ en contra suas raizes nas restrigGes técnicas com as quais o desenvolvi- mento se instala nesses paises” (Merhav, 1969, pp. 48-49). Do lado oposto encontramse os dfusionistas (Gauthier, 1971). Com 4 ajuda de uma comparagio internacional, Williamson (1965, 1968) 6. Alisa de autores que tim essa mesma posigio é longa MeKee e Leahy (1970p. 82); Robieosa ef alr (1971, p. 57}, W. Baer (1969, p. 269), Linsky (1965I; D Rivkin (1964|; Fscudero Gomes et ai (1972, p. 13) admite que, nos paises que atingiram um elevado grau de desenvolvi- mento, as disparidades regionais tendem a se atenuar. Para tanto cle toma seus exemplos nos paises atualmente desenvolvidos. O racioci- nio foi ampliado para a escala mundial (Pedersen ¢ Stohr, 1969, p. 31) « considerado vilido para os paises do ‘Terceiro Mundo, mesmo por especialistas destas nagdes (C. A. DeMattos, 1973, p. 31). Sepundo Stohr (1971, p- 10), ha um tipo de dualismo do comportamento €co- némico no espago até que 0 centro, 0 core, por suas proprias necess dades estruturais, transmita seu crescimento a outras zonas. Existe ‘mesmo quem admita que o processo jé se realizou em pai Brasil, onde, segundo cles, se considerar-se 0 conjunto da nagio, “ha muito pouca desigualdade no crescimento das receitas estaduais e pa- rece haver uma tendéncia para que a pequena desigualdade, que real- mente ocorre, desapareca” (Gauthier, 1971, pp. 9 ¢ 10). [A posicao de B. Berry (1971, p. 139), para quem “o erescimento no pode descentralizar-se espontaneamente”, no € apenas uma posi re a daqueles que véem a cao intermedidria ou simbidtica e macrocefalia como uma tendéncia irreversivel ea daqueles que a con- sideram como uma fase no processo de crescimento. Para Berry, a re- versio da tendéncia deve ser desejada ¢ planeiada, Assim, ele nao poderia ser colocado ao lado de J. R. Lasuen ¢ de Friedmann na corrente taxada por Gauthier (1971) de difusionista, Este iltimo ponto de vista combina as idéias te6ricas de Hagerstrand (1967) sobre a difusio geografica das inovagdes com a preocupasio pragmatica de F. Perroux quando concebeu a teoria dos pélos de desenvolvimento. 0 polo de desenvalvimento é constituido por um “conjunto de uni dades motrizes que exercem efeitos geradores com relagao a um outro conjunto econdmico € territorialmente definido” (Perroux, 1961, p. 115). O papel de crescimento é, portanto, definide “como um ponto de crescimento |... ele] ni que participa do cespago econdmico formal” (Beguin, 1963, p. 581) {A posigio de Friedmann (1963, 1966, 1970) se inspira fortemente aquilo que ha de tedrico e de operacional na teoria da difusio de se identifica a um hugar, inovagies ena dos polos de desenvolvimento. Ele a chegar passa pelo processo de investimento (1966, p, 61), posigio na qual foi amplamente seguido na América Latina’ Friedmann admite que as vias para se obter o crescimento econ mico de uma regio sio limitadas (Friedmann et alii, 1970, p. 14), Ele presenta uma lista de nove pontos compreendendo: (1) a introducio dita que a via prética para de métodos novos na produgao de produtos tradicionais que devem ‘encontrar novos mercados; (2) a busca de uma producto de servicos € de bens novos ou melhorados; (3} 0 estabelecimento de novos tipos de organizagio da produgao ea melhoria das infra-estruturas lo=ais; (4) a eriagao de instituigdes locais de poupanga e de crédito; (5) 0 desenvol- vimento dos recursos humanos ¢ dos recursos naturais com o melhora- mento das vantagens locacionais destes ilkimos; ¢ (6) a melhoria das informages e conhecimentos titeis para o planejamento ea produgio, através, por exemplo, das universidades, das empresas de corsultoria ¢ das telecomunicacdes. ‘Mas, por fim, nenhuma das teorias espaciais leva em conta a exis- téncia de um outro subsistema econmico, coexistente com a econo- mia moderna, e que designei de “circuito inferior”, em comparagio ‘como “circuito superior” ou “moderno” da economia urbana, do qual depende (McGee, 1974; Santos, 1971, 1972, 1975, 1978). Os econo- imistas ortodoxos 86 se interessam pelos mecanismos da economia moderna, Ora, isto impede a compreensio da economia global e de sua projesio no espago. ‘A modificagio das relagdes rurais-urbanas pela introdugio da tecnologia moderna no campo provoca uum “proceso progressivo de marginalizagao” (E. Steauss, 1973, pp. 4-5) que pressiona os agricul- tores a abandonar 0s campos. 7. Quando estudacam os efeitos esperados da criagao de wim mererdo comum laaino-americano sob a estruara roponal, Pedersen e Stohr (196) defenderam a Inpérese de que a expansio da rede de rodayem interna & América Latina deveria cmentar a eapacidade de atragio das periferias em detrimento das regives polarizadoras. Hles incliram eambém, como farores de descentralrago, a8 ter Ancas de urbanieagso do campo, as deseconomias yeradas pelo erscimento ‘bano com migrasio dss atwvidades pats a peiferiae2 consigncia pelt perifria de vim erescimento discriminatério, Da mesma forma, a modernizagio desintegra a economia e a socie- dade em todos os niveis. As vantagens locacionais para as atividades, ‘© emprego, as elites © a populagio mudam em beneficio do centro motor ¢ desencadeiam poderosos movimentos migeatérios. As ativida- des modernas que criam esse desequilibrio sao incapazes de fornecer empregos suficientes. Aqueles que nao encontram trabalho no setor moderno refugiam-se, entio, no circuito inferior da economia urbana © empobrecimento da periferia provoca a formagio de uma ver: dadeica periferia dentro do polo A nogio de periferia estava até agui carregada da nogio de distan. ia, que constitui, de longe, 0 fundamento da maior parte das teorias espaciais e locacionais. A essa nogio de periferia, dita “geograica”, ¢ preciso opor uma outra, a de periferia socioecondmica, se levarmos simultaneamente em consideraydo os lugares tornados marginais a0 proceso de desenvolvimento e, sobretudo, os homens rejcitados pelo

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