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SOCIOLINGUISTICA 1
RESUMO: Este artigo tem como objetivo estudar os fenômenos linguísticos que ocorrem no
falar mato-grossense, tendo como perspectiva a fonética e a sociolinguística. Contribuindo
para os estudos dialetais do país, pretende-se fazer uma comparação com falares característicos
da região e falares de outros estados do Brasil.
1. INTRODUÇÃO
Sabemos que o falar do Mato Grosso se difere de região para região. Tanto pela
dimensão territorial do estado, o terceiro maior do país; sua localização geográfica, sendo
limítrofe de vários outros e estados e principalmente pela colonização típica de cada região.
Paulistas, paranaenses e gaúchos estão entre os maiores grupos de migrantes para o Mato
Grosso. Haja vista a diversidade advinda dessas migrações, foram então se formando falares já
um pouco diferenciados.
Mas, sobretudo, o falar da Baixada Cuiabana é peculiar e diferencia no que diz respeito
ao falar Mato-grossense. Os mais antigos moradores ainda preservam o cuiabanês, sobretudo
no que diz respeito às manifestações fonéticas e lexicais, com palavras tipicamente encontradas
na região:
1
Artigo produzido como requisito parcial de avaliação na disciplina de Fonética e Fonologia do Português sob a
orientação da Prof.ª Dr. ª Lilian Elisa Minikel Brod no curso de Letras da Universidade do Estado de Mato
Grosso.
2
Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
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Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
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Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
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Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
Malemá Popular de ‘mal e mal’ “– E aí cumpadre como vai?
– Vou indo malemá...”
Moage Frescura. Enrolação. “Pare de moage e vamos
logo.”
Vôte! “Deus me livre”. Expressão “Vôte! Nunca mais eu volto
de medo e espanto. lá!”
O rotacismo é um dos fenômenos desse falar e este consiste na troca da consoante “L”
por “R”. De acordo com JOSÉ “Cuiabá é uma cidade que apresenta também um falar
característico. E uma das marcas muito presentes na comunidade cuiabana [..] é a variação entre
as consoantes africadas e as fricativas [ʧ] [ʤ] e [] []” (LIMA, p. 664)
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Monotongação
“Mudança fonética que consiste na passagem de um ditongo a uma vogal simples.
Para pôr em relevo o Fenômeno da Monotongação chama-se, muitas vezes,
monotongo, à vogal simples resultante, principalmente quando a grafia continua
a indicar o ditongo e ele ainda se realiza numa linguagem mais cuidadosa. Entre
nós há, nesse sentido o monotongo ou /ô/, ai /a/, ei /ê/ diante de uma consoante
chiante [...]. ” (CÂMARA JR.,1977, p.170)
Exemplos: Manteiga → [man’tega]
Olhar → [‘ɔja]
2.2. Ditongação
Ditongação é um fenômeno linguístico que consiste em transformar um som monotongo
(uma única silaba ou um único som) em um duplo som. É o desdobramento de um segmento
em dois.
Exemplos: Após → [a’pɔjs]
Arroz → [a´roIs]
2.3. Rotacismo
Rotacismo é a troca do R pelo L ou vice-versa. O fonema que é alvéolo-dental passa a
ser palatal. Também pode ocorrer pelo fato da língua estar mais acomodada. Ao se falar pobreza
ao invés de problema, o falante terá que levantar menos a ponta da língua, ocorrendo uma
acomodação linguística, ou seja, é mais fácil pronunciar a primeira que a segunda palavra.
Exemplos: Voltar → [vor’tar]
Placa → [‘pak]
2.5. Desnasalização
Caracteriza-se por eliminar o som nasal das vogais que estão depois da sílaba tônica, o
que é uma tendência natural da língua. O fonema nasal torna-se oral.
Exemplos: Homem → [hõmi]
2.6. Palatização
2.6.1. Palatização da fricativa
A fricativa se torna africada.
Exemplo: Vocês → [vo’sei]
2.8. Apócope
É o apagamento de segmento final, produzindo formas apocopadas.
Exemplos: muito → [‘muj]
Freire → [‘frei]
2.9. Aférese
Caracteriza o apagamento de segmento inicial de palavra, produzindo formas aferéticas.
Exemplos: namorar → [enamo’rar]
José → [‘zE]
2.10. Síncope
Apagamento de segmento medial, produzindo formas sincopadas.
Exemplo: Maior → [m]
2.11. Yeísmo
Quando o falante troca um fonema por [i]~, chamamos este fenômeno de Yeísmo.
Exemplo: Lote → [lóti]
2.12. Retroflexão
A Retroflexão, basicamente, seria quando um tepe é substituído por um retroflexo.
Exemplo: [pͻt] → [pͻt]
[cͻt] → [cͻt].
3. METODOLOGIA
Para este artigo, foram entrevistadas duas pessoas. Ambos vieram de Porto Estrela, que
está localizado na região sudoeste do estado de Mato Grosso, porém estão localizados em
regiões distintas da cidade.
Analisando os dados e transcritos foneticamente pode-se montar um perfil individual,
com suas particularidades notados com fenômenos linguísticos e fonéticos. Foi usado um
gravador do tipo de bolso para as entrevistas. Estas ocorreram naturalmente, com temas
diversos acerca da vida de cada um, sem conhecimento prévio dos entrevistados sobre o tema
real a analisar: o falar regionalizado com suas especificidades.
4.4. Gênero
Talvez de forma mais inibida as diferenças entre gêneros nos falares também existem.
Expressões como “chiquérrimas” ou “carésimo” são tipicamente associadas ao falar feminino
ao passo que “afinzaço” ou “cansadaço” associa-se mais ao gênero masculino.
A mudança linguística é bem perceptível no vocabulário, e este é absolutamente
dinâmico e adaptável a novas realidades. Por isso palavras novas surgem a todo momento como
“deletar”, e outras. Falares do tipo “pranta” não são menos comunicativas do que “plantas”,
nem tampouco “deletar” deixa de ser compreendido por ser uma palavra nova. Os fatores
acima relacionados compreendem diferenças entre os falares, porém esse artigo não
desconsiderará tais fatores, mas complementará com linguajares próprios do mato-grossense,
em vocabulário e em pronuncia.
5. FENÔMENOS LINGUÍSTICOS OBSERVADOS NO FALAR PORTO-
ESTRELENSE:
Entrevistado 1:
PALAVRAS TRANSCRIÇÃO FENÔMENOS
Entrevistado 2:
PALAVRAS TRANSCRIÇÃO FENÔMENOS
Este fenômeno chega a ser tão comum que não é alvo de preconceito linguístico.
Rotacismo:
“[...]é comum haver pressa em dizer que o rotacismo, processo fonológico ou metaplasmo
bastante produtivo no dialeto caipira, resulta da herança linguístico-cultural alicerçada nas culturas
e línguas indígenas e africanas. ” (SANTIAGO, p.26)
Monotongação:
Em sua pesquisa sobre monotongação em porto Alegre, TOLEDO nos mostra que, a
monotongação não está presente somente no dialeto mato-grossense:
Ditongo decrescente Forma com manutenção do Forma com apagamento do
ditongo ditongo
[ow] l[ow]co l[o]co
[ej] f[ej]ra f[e]ra
[aj] c[aj]xa c[a]xa
(TOLEDO, p.96)
Ele ainda afirma que “Dentre esses ditongos, alguns podem sofrer uma regra variável
de apagamento do glide. Há um consenso entre os estudos sobre variação de ditongos de que a
aplicação dessa regra de redução ocorre somente nos ditongos [ow], [ej] e [aj] [...]” (p.96)
O Entrevistado 1 possui muitos fenômenos de monotongação: “Minha dutrina
[du’tina] é cunformi diz a parte do mandamento né”. Observamos também que há uma
Ditongação
ARAGÃO afirma que “A ditongação, ao que tudo indica, é um fenômeno
essencialmente fonético causado por necessidades eufônicas, não tendo, assim, existência no
sistema da língua, mas em sua realização na fala. ” (p.173)
ARAGÃO, citando outro autor, explica que a “transformação de uma vogal em ditongo:
um segmento vocálico desdobra-se em dois segmentos, isto é, produz-se um processo de
diferenciação tímbrica (ou ditongação) no interior de uma semivogal em posição pré ou pós-
vocálica. ” (ARAGÃO apud XAVIER E MATEUS, p.173). Ela ainda aprofunda dizendo que
é um fenômeno comum da língua portuguesa e a ditongação pode ocorrer em vários casos.
Este fenômeno é encontrado na fala do Entrevistado 1, quando diz: “então eles saia,
corria logo né, e eu ficava pra trais [‘tajs]”. A Entrevistada 2 apresenta este fenômeno quando
estava contando sobre seus amigos do grupo de dança de siriri, uma dança típica da região
centro-oeste: “Nois [‘nɔjs] éramos em quase vinte amigos”.
Retroflexão
Em ambas as entrevistas observa-se um uso muito frequente de [] no lugar []. Isto
não significa que a realização desta troca seja errada, mas, quando isto ocorre, na fonética e
fonologia, chamamos de Retroflexão. Este é um fenômeno Linguístico muito comum, mas que
as pessoas não têm conhecimento, tendendo a agir com preconceito, que aqui chamamos de
preconceito linguístico, em relação aos falantes que fazem tal uso.
De acordo com Brandão “O –R retroflexo foi, durante certo tempo, apenas mencionado
como característica do chamado dialeto caipira [..]”
A indícios de que o r retroflexo tenha vindo do contato do português de Portugal com o
indígena. Os portugueses traziam palavras como: [animaɫ], [faɫta] e [caɫma].
No Tupi não existe r nem l, eles tinham dificuldade para produzir estes sons, por isto,
produziam [fata], [cama] e entre outros.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse estudo foram comentados alguns tipos de processos fonológicos que ocorrem no
falar mato-grossense e apresentada uma comparação entre falantes desta região, tendo como
base a perspectiva fonética e sociolinguística. O objetivo desta pesquisa é aprofundar e
contribuir para os estudos linguísticos do estado de Mato Grosso, levando em conta os falares
de Porto Estrela (ribeirinho).
Concluímos que diversos fatores podem influenciar o falar de um sujeito. Esses fatores
irão traçar um perfil linguístico do falante ao longo de sua vida, mostrando a origem de sua
variação linguística. Através das entrevistas, foram observamos que alguns fenômenos são
comuns, não só no falar mato-grossense, mas também em outros falares de outros estados que
produzem os mesmos fenômenos.
REFERÊNCIAS
PAES, Daniele Cristine Antunes; SOUZA, Gildeth Costa de. O ASPECTO SOCIOLÓGICO
E LINGUÍSTICO DO “CUIABANÊS”. Revista Educação e Linguagem - Artigos - ISSN
1984-3437, vol. 8, nº 1. 2014.