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homem juiz em causa própria, e não sendo por isso viável o estado de
natureza, desejo saber que espécie de governo será este.
Quão melhor será do que o estado de natureza, governo este que um homem, à
frente de muitos, tem a liberdade de ser juiz em seu próprio caso, impondo aos
súditos tudo que lhe aprouver, sem que ninguém tenha a liberdade de indagar
aos executores de suas vontades ou de controlá-los, devendo todos a eles
submeter-se, faça ele o que fizer, movido pela razão, pelo erro ou pela paixão.
Opino que muito melhor será o estado de natureza, onde os homens não estão
obrigados a submeter-se à vontade caprichosa de um rei.
Quem se submete a estas regras está na sociedade civil e quem não se submete
está no estado de natureza; a monarquia absoluta é incompatível com a
sociedade civil, pois inevitável os problemas decorrentes da concentração de
poderes na mão de uma única pessoa.
O único modo legítimo pelo qual alguém abre mão de sua liberdade natural e
assume os laços da sociedade civil consiste no acordo com outras pessoas para
se juntar e unir-se em comunidade, para viverem em segurança, conforto e
paz umas com as outras.
O começo das sociedades sempre se deu pelo consenso, instalando a forma mais
conveniente de governo, conforme livre vontade de todos os membros do
conjunto.
Ora, sendo o povo quem cede sua liberdade ao Estado, é evidente que a fonte de
poder não pode ser outra senão o próprio povo, devendo o governo político ser
instaurado conforme a sua vontade.
A forma de governo será aquela estabelecida pelo poder legislativo, que poderá
ser uma democracia, oligarquia, monarquia, monarquia hereditária e “seja qual
for a forma de governo que rege a comunidade, o poder deve ser exercido
mediante leis expressas e promulgadas”.
O autor indica as limitações do poder legislativo: (a) governar por meio de leis
estabelecidas; (b) a finalidade destas leis deve ser o bem do povo; (c) não
poderá lançar impostos sobre a propriedade sem o consentimento do povo e (d)
não pode transferir o poder de legislar a quem não foi indicado pelo povo.
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Apesar destes limites, impostos em nome da soberania popular, entre os poderes
instituídos, a primazia é conferida ao legislativo que, fora às pequenas restrições
impostas, é o poder “ao qual tudo o mais deve ser subordinado”. Tais limites são
inerentes à razão de ser do Estado civil:
Este governo será responsável pela garantia dos direitos individuais de cada
membro da sociedade, garantindo a segurança que levou o grupo a firmar o
contrato social. Quando os poderes constituídos com a finalidade de cumprir tal
promessa perdem a confiança, o povo passa a ter o direito de “reassumir a
liberdade primitiva e escolher um novo legislativo”.