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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 1
2. CLASSIFICAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS 3
3. ASPECTOS BÁSICOS DE CONCEPÇÃO 4
3.1 Introdução 4
3.2 Geometria em planta 6
3.3 Laje de fundo 7
3.4 Paredes exteriores 9
3.5 Cobertura 12
3.6 Reservatórios elevados 13
4. ANÁLISE ESTRUTURAL E DIMENSIONAMENTO 15
4.1 Laje de fundo 15
4.2 Paredes 23
4.2.1 Reservatórios de base rectangular. 23
Exemplo de aplicação 26
4.2.2 Reservatórios cilíndricos 28
Exemplo de aplicação 34
4.3 Cobertura 37
4.3.1 Lajes circulares e anelares 38
4.3.2 Cúpulas 40
Introdução 40
Cálculo dos esforços 43
Exemplo de aplicação 46
5. ACÇÕES 47
5.1 Impulso estático 47
5.2 Retracção 48
5.3 Acção térmica diferencial. 49
5.4 Acção sísmica 50
Exemplos de aplicação 62
6. ASPECTOS CONSTRUTIVOS 65
7. EXEMPLOS DIVERSOS 69
REFERÊNCIAS 73

ANEXO I - Ábacos de Hangan-Soare


1. INTRODUÇÃO

Os reservatórios têm por finalidade o armazenamento de fluidos - água, leite,


combustíveis líquidos ou gasosos, ar comprimido, etc. Os objectivos deste
armazenamento são de natureza diversa, referindo-se, como exemplo, os casos de
depósitos de água potável, as piscinas, os tanques em estações de tratamento, as cubas
de vinho ou os depósitos de hidrocarbonetos (gasolina, por exemplo).

Em Portugal, as estruturas de reservatórios são geralmente realizadas em betão armado


ou em betão armado pré-esforçado, devido ao menor custo destas soluções
relativamente a estruturas em aço e ao bom comportamento que geralmente apresentam
ao longo do tempo, o que se reflecte em encargos de manutenção reduzidos. No entanto,
por razões diversas e de que se destacam os casos em que é exigida uma estanqueidade
"total", existem também exemplos de depósitos em aço. Nos casos extremos de
armazenamento de fluidos cujo derrame, caso ocorra, tenha impactos catastróficos, é
possível conceber depósitos em aço envolvidos num tanque de segurança em betão [7].

À semelhança da generalidade das estruturas, os reservatórios devem satisfazer


exigências a dois níveis distintos, nomeadamente exigências em termos de segurança
estrutural e em termos de funcionalidade. As primeiras envolvem a resistência dos
elementos estruturais, a estabilidade global da estrutura (derrubamento e deslizamento)
e o controle de assentamentos do terreno de fundação. De entre as segundas, destacam-
se as exigências de durabilidade e de estanqueidade.

O presente texto tem por objectivo referir aspectos importantes no domínio da


concepção e da análise estrutural de reservatórios. O desenvolvimento recente dos
meios de cálculo automático permite hoje em dia analisar com "rigor" o comportamento
de estruturas muito complexas. No entanto, o reverso da medalha também existe - é
possível (muito fácil, até) cometer erros graves na definição dos modelos numéricos e
ainda assim obter resultados (deslocamentos, esforços, reacções de apoio, etc). Desta
forma, será sempre importante possuir conhecimentos consistentes no domínio do
comportamento estrutural, não só para conceber correctamente as estruturas como
também para definir modelos numéricos convenientes e posteriormente analisar os
resultados com sentido crítico.

Os casos referidos no presente texto são geralmente básicos e, como tal, seria trivial
resolvê-los numericamente com base, por exemplo, em malhas de elementos finitos. No
entanto, e pelos motivos atrás referidos, a perspectiva seguida no texto é justamente a
oposta à perspectiva do "operador de informática", apontando no sentido da descrição
qualitativa e analítica do comportamento de estruturas de reservatórios.

Embora os aspectos focados sejam essencialmente de índole geral, será dado um ênfase
maior ao caso de reservatórios de água em betão armado e com uma secção de base do
tipo circular ou rectangular.

o carácter "estruturalista" do texto deve-se ao seu enquadramento no apoio à disciplina


"Estruturas Especiais e Fundações". No entanto, constituiria uma omissão não referir a
extrema importância que o projecto dos elementos não-estruturais assume neste tipo de
estruturas, nomeadamente os orgãos hidráulicos necessários à sua exploração - bombas,
válvulas, condutas, etc.

2
• Geometria da cuba - com base circular ou poligonal (quadrada, por exemplo).

• Cobertura - depósitos abertos (tanques) ou fechados.

• Compartimentação - constituídos por uma única célula (depósitos simples) ou por


várias células (depósitos múltiplos), as quais podem estar dispostas ao mesmo nível
ou em níveis sobrepostos.

• Nível de exigência de estanqueidade. De acordo com o Eurocódigo 2 [8], por


exemplo, os reservatórios podem ser classificados em três níveis distintos:
• Classe O-é aceitável alguma permeabilidade do betão;
• Classe 1 - a estanqueidade é exigida em termos globais. A ocorrência de fendas
é permitida desde que a sua largura seja limitada « 0, I a 0,2mm);
• Classe 2 - a estanqueidade é exigida em termos absolutos. Não se deve registar
a abertura de fendas que atravessem toda a espessura das paredes.

3. ASPECTOS BÁSICOS DE CONCEPÇÃO

3.1) Introdução

Os depósitos de água integrados em redes gerais de distribuição constituem o exemplo


mais comum de reservatórios. Estas estruturas podem ser concebidas para cumprir
finalidades diversas, nomeadamente:

- Armazenamento de reservas de água para situações de emergência (casos de incêndio


ou de interrupção no fornecimento regular que é prestado pelo sistema de adução);

- Função regularizadora, garantindo em situações de ponta o aumento de caudal na


rede e armazenando os caudais em excesso nas "horas mortas". Desta forma, é
possível manter constante o caudal de adução, o que é particularmente importante no
caso de caudais de adução bombados;

- Função de equilíbrio da carga piezométrica, elevando a água a cotas convenientes


por forma a assegurar os níveis de pressão necessários na rede de distribuição.

Os depósitos térreos apresentam algumas vantagens em relação aos depósitos elevados,


nomeadamente [1]:
- menor custo de construção, para uma mesma capacidade;
- maior facilidade de inspecção, de exploração e de ampliação a longo prazo;
- menor impacto paisagístico.

4
Uma situação comum que conduz a optar por um depósito elevado é a que ocorre
quando as condições topográficas forem adversas e não permitirem o fornecimento de
carga à rede distribuidora através dum depósito térreo.

A definição da capacidade dum reservatório (C) constitui um passo básico do seu


projecto. Como ordem de grandeza, um reservatório pode ser considerado "pequeno" se
C<SOOm3, "grande" se C>SOOOm3e "médio" na gama entre SOOe SOOOm3[20].

No caso de reservatórios para abastecimento de água potável a uma população, por


exemplo, é fundamental definir a chamada "capitação", ou seja, o consumo diário médio
por habitante. De acordo com o "Regulamento Geral de Águas e Esgotos" [20], os
valores mínimos a considerar em sistemas de distribuição exclusivamente domiciliária
variam entre 80 litros/habitante/dia (para aglomerados com menos de 1000 habitantes) e
17S litros/habitante/dia (para aglomerados com mais de SOOOOhabitantes).

Com base numa capitação de 200 litros/habitante/dia, por exemplo, o consumo médio
diário de uma população igual a 30000 habitantes é estimado em 6xlü6 litros. Se o
critério de dimensionamento consistir em garantir que o abastecimento não é afectado
por uma interrupção do caudal de adução durante um período igual a 1 dia, por
exemplo, conclui-se que o reservatório deverá ter uma capacidade de pelo menos
6000m3. Refira-se que este exemplo é apenas ilustrativo, pois a definição "correcta" da
capacidade dum reservatório envolve naturalmente maior complexidade [1, 20].

Os reservatórios de água potável devem ser cobertos para evitar a contaminação da água
e a criação de algas e devem estar dotados dum sistema de ventilação apropriado. Em
depósitos enterrados ou ao nível do solo, é possível colocar uma camada de terra sobre a
estrutura de cobertura com o objectivo de proteger esta última dos gradientes térmicos
(embora à custa duma sobrecarga vertical não desprezável).

Os reservatórios apresentam por vezes várias células, em especial os depósitos


destinados a abastecimento público de água. Desta forma, garante-se a ininterrupção do
abastecimento enquanto se procede a operações de limpeza e manutenção numa célula.

Em termos estruturais, os reservatórios são basicamente constituídos pela laje de fundo,


pelas paredes e, eventualmente, por uma cobertura. No caso de reservatórios elevados
existe também uma torre de suporte, a qual pode ser uma estrutura porticada ou um
fuste único. Referem-se em seguida alguns aspectos básicos relativos à geometria da
cuba e aos diversos elementos estruturais.

5
3.2) Geometria em planta

Considere-se um reservatório com secção constante em altura. Para um dado volume de


armazenamento e altura de cuba (ou seja, para uma dada área S da base), quanto menor
fôr o perímetro (P) menores serão as quantidades necessárias de cofragem, de área a
impermeabilizar e, em princípio, do volume de betão. Para secções circulares e
rectangulares tem-se que:

• secção circular (com raio R)

(4B)2
• secção quadrada (de lado B) S = B2 = 16 => P = 4B = 4,0 -{S

• secção rectangular (AxB) com B/A=2 S = 2A2 => P = 2A+2B = 6A ""4,24.JS

Assim, sob este ponto de vista a secção circular é preferível a secções rectangulares,
pois envolve um menor perímetro para uma mesma área da base.

Outro aspecto a considerar diz respeito às tensões horizontais de tracção induzi das pelo
impulso hidroestático. Numa cuba com secção circular, a pressão hidroestática
(p(z)=y.z, em que y é o peso volúmico da água e z é a cota medida a partir da superfície
Iivre) origina tensões circunferenciais de tracção na parede - por meras considerações de
equilíbrio, a resultante destas tensões por unidade de comprimento da parede (N<p)
relaciona-se com a pressão através de N<p=pR. Este efeito de tracção também se
desenvolve numa cuba com secção quadrada, tendo-se então N=pB/2 (Figura 2).

1f

L "'~=J r >t", e ede : 2 p j( =>


o

Figura 2 - Comportamento de anéis e de quadros rectangulares sob pressão uniforme.

6
Desta forma, é possível obter as seguintes relações:

• secção circular N<p = PR=P~ zO,56p-{S

• secção quadrada N<p pBI2 = 0,50 p ~

Observa-se que para uma mesma área da base e sob uma mesma pressão hidroestática,
as tracções numa cuba com secção circular são cerca de 10% superiores às registadas
numa cuba com secção quadrada; no entanto, em contrapartida, há que referir que na
secção quadrada o impulso hidroestático também induz na parede momentos flectores
"horizontais" com valor significativo, o que constitui uma desvantagem importante pela
maior quantidade de armadura necessária (e, eventualmente pela necessidade de
aumentar a espessura da parede relativamente a uma secção circular).

Com base nestas considerações, os reservatórios cilíndricos afiguram-se geralmente


como a solução preferível. No entanto, a escolha da geometria dum reservatório não se
esgota na consideração destes aspectos - para além de condicionantes ditados pelo local
de implantação (que podem inviabilizar a opção por uma solução cilíndrica), existem
factores que jogam em desfavor da secção circular, como por exemplo o custo mais
elevado da cofragem e a menor simplicidade na colocação das armaduras horizontais,
em especial na laje de fundo.

III

A máxima dimensão em planta dum reservatório pode ser condicionada por limites de
deformação. Com efeito, as deformações das paredes devem ser reduzidas para não
comprometer a integridade estrutural e também a qualidade da impermeabilização, o
que, aliás, é um aspecto praticamente tão fundamental quanto o primeiro, no presente
contexto. Sob este ponto de vista, o risco de fissuração devido a uma execução
deficiente da impermeabilização cresce, na prática, em reservatórios com grandes
dimensões [13].

3.3) Laje de fundo

Em reservatórios enterrados ou ao nível do solo, a laje de fundação é geralmente uma


laje maciça assente sobre uma camada de regularização em betão pobre, com cerca de
10cm de espessura.

7
Em reservatórios com grandes dimensões em planta, e com o objectivo de reduzir o
volume total de betão, é possível optar por uma laje de fundo vigada, com nervuras
assentes directamente sobre o terreno (Figura 3); no entanto, é mais usual adoptar uma
solução em laje maciça em virtude da maior simplicidade de execução e, caso o volume
de betão seja considerável, diminuir a espessura da laje na sua zona central, onde
basicamente se limita a transmitir ao solo o peso da água sobrejacente.

Figura 3 - Fundo em laje maciça e em laje vigada [13].

A ligação da zona central à zona mais próxima da parede pode ser monolítica ou ser
realizada através duma junta (Figura 4). Neste último caso, a zona da laje sob a parede
corresponde a uma sapata de fundação e, em reservatórios rectangulares, a parede
funciona então como um muro de suporte, apoiada no topo ou em consola consoante
exista ou não um elemento estrutural de cobertura solidário com a parede.

A localização desta junta deve ser tal que não comprometa as verificações de
estabilidade (derrubamento e deslizamento) e do nível máximo de tensões no terreno.
As acções intervenientes nestas verificações de segurança são o impulso da água na
parede e os pesos dos diversos elementos, nomeadamente da parede, da fundação, do
volume de água sobre a laje de fundo e, eventualmente, o peso da cobertura.

Junta
estanque

Figura 4 - Laje de fundo com junta próxima da parede [13].

8
Por outro lado, as fundações de pilares interiores para suporte da laje de cobertura
podem ser incorporadas na laje de fundo, constituindo zonas de maior espessura; no
caso de terrenos susceptíveis de apresentar assentamentos significativos, é recomendável
que as fundações dos pilares sejam independentes da laje de fundo (Figura 5).

I
Figura 5 - Fundação de pilares interiores independente da laje de fundo [13].

A susceptibilidade do terreno de fundação apresentar assentamentos diferenciais


significativos aumenta em reservatórios com grandes dimensões em planta. Nestes
casos, é também possível dividir a laje de fundo em vários painéis ligados entre si por
juntas flexíveis. Como é evidente, todas estas juntas devem ser estanques.

Em reservatórios térreos é aconselhável assegurar a drenagem do terreno sob a laje de


fundo através dum sistema adequado (por exemplo, uma camada de brita com manilhas
perfuradas). Com efeito, a compactação das camadas laterais de terreno não é em geral
suficiente para a evitar a acumulação de água (de origem pluvial, por exemplo) sob a
laje de fundo. Assim, a laje de fundo numa situação de depósito vazio pode ficar sujeita
a uma pressão hidroestática "de baixo para cima", pelo que, independentemente do
sistema de drenagem, deve verificar-se que o peso da estrutura é superior ao efeito de
ímpulsão da água, para evitar um fenómeno geralmente designado por "flutuação". Esta
verificação pode conduzir à necessidade de aumentar a espessura da laje de fundo ou de
aumentar a sua área para o exterior das paredes, por forma a tirar proveito do peso de
terreno sobrejacente [12].

3.4) Paredes exteriores

As principais acções a que as paredes estão sujeitas são o impulso da água (não só em
condições estáticas mas também dinâmicas, sob o efeito da acção sísmica) e o impulso
do terreno lateral no caso de reservatórios enterrados. Estruturalmente, as paredes
podem ser de dois tipos distintos:
• paredes simples, com espessura constante ou variável em altura;
• paredes apoiadas em contrafortes, exteriores ou interiores.

9
Os valores de espessura das paredes devem ter em conta o grau de estanqueidade
desejado. De acordo com o EC2, por exemplo, a espessura mínima em reservatórios da
classe O é igual a O,12m, enquanto que para as classes 1 e 2 o valor indicado é de O,15m.

A ligação parede-laje de fundo pode ser rígida ou articulada. Em ambos os casos, é


aconselhável dispôr de esquadros na ligação com o objectivo de dificultar a deposição
de resíduos e favorecer as operações de limpeza (note-se que os esquadros têm um
segundo efeito que se pode revelar importante em termos de cálculo - a zona de ligação
apresenta maior resistência e melhor comportamento em termos de fendilhação). Os
esquadros têm dimensões em geral superiores a 15cm e, no caso de ligações
monolíticas, é aconselhável que sejam betonados conjuntamente com a laje de fundo e a
base das paredes.

Em depósitos de água a altura raramente ultrapassa os 6 a 7m, não só por razões


estruturais mas também para evitar a necessidade de dimensionar as condutas para
variações de pressão muito elevadas [13].

No caso de reservatórios com base poligonal e com altura de água significativa


(superior a 4-5m, por exemplo) é usual recorrer a contrafortes para apoio das paredes e
assim aligeirar a espessura destas. No caso de lajes de fundo nervuradas, os
alinhamentos dos contrafortes podem coincidir com os das nervuras, as quais funcionam
assim como encastramento directo dos contrafortes (Figura 6).

c::tl-------'-

Figura 6 - Paredes apoiadas em contrafortes [13].

Os valores-limite de altura atrás indicados (4 a 5m) podem ser justificados com um


exemplo simples. Com efeito, se o comportamento em flexão vertical duma parede fôr
assimilado ao duma consola, o momento na base devido ao impulso hidroestático em
Sm de altura, por exemplo, vale Mo=yH3/6=208kN.mJm. Admitindo para a resistência
do betão à tracção um valor fct=2,OMPa, a ordem de grandeza da espessura de parede
necessária para que o momento de fendilhação (Mcr) seja superior ao momento actuante
vale Mcr=t2/6fct>Mo => t>(6Mo/fct)ü,5=O,79m!!

10
Embora este exemplo deva ser encarado com reservas, pois o comportamento duma
parede não corresponde ao duma consola vertical com a mesma altura, a ordem de
grandeza do valor obtido ilustra como é possível que uma solução em parede simples se
revele pouco económica em casos de reservatórios rectangulares com altura
significativa de água.

III

No caso de paredes sujeitas a esforços particularmente significativos, nomeadamente


para a verificação das condições de não-fendilhação, é possível recorrer a soluções pré-
esforçadas. De entre as variantes possíveis, destaca-se o recurso a cabos horizontais
elou verticais colocados no interior da parede e a cabos helicoidais contínuos, dispostos
exteriormente à parede e ao longo de toda a sua altura.

Em reservatórios cilíndricos com bainhas no interior da parede, o comprimento dos


cabos horizontais corresponde geralmente a um ângulo ao centro de 180°, realizando-se
o esticamento duma forma alternada, de cada lado do reservatório, por forma a
assegurar um efeito tão uniforme quanto possível na parede. Em reservatórios com
grandes diâmetros, é também possível definir cabos com ângulos ao centro de 90° ou
120°. As ancoragens destes cabos são geralmente posicionadas em saliências exteriores
da parede (com espessuras na ordem dos 0,25m). Em relação aos cabos helicoidais,
colocados no exterior da parede, são geralmente protegidos com uma camada de betão
projectado no final da aplicação do pré-esforço,

Os cabos horizontais ou helicoidais são basicamente dimensionados por forma a


contrariar os esforços circunferenciais de tracção provocados pelo impulso da água,
"garantindo" às paredes um estado de compressão.

Para evitar as restrições impostas pela laje de fundo aos movimentos radiais da parede,
é possível aplicar o pré-esforço com a parede apoiada verticalmente na laje de fundo
através duma ligação contínua em neoprene e desligada em termos de deslocamento
radial. Da mesma forma, é possível definir uma junta na laje de fundo próxima da
parede (Figura 7). Como é evidente, em ambos os casos é necessário proceder a uma
betonagem posterior.

11
Strip ccncreted after stressing

-----------------
Figura 7 - Junta na laje de fundo [7].

No caso de reservatórios enterrados, devem ser considerados os efeitos dos impulsos de


terras quando o reservatório está vazio; por outro lado, o impulso exercido pela água
com o reservatório cheio pode eventualmente actuar sem mobilização de impulso no
terreno lateral. Perante este cenário de alternância de cargas, o recurso a pré-esforço não
é tão eficiente neste tipo de reservatórios.

3.5) Cobertura

A cobertura dos reservatórios é geralmente materializada por uma cúpula ou por urna
laje, maciça ou nervurada. A solução em cúpula é particularmente utilizada no caso de
reservatórios com grandes dimensões em planta, nos quais uma cobertura em laje
implicaria a definição de pilares interiores no reservatório para o seu suporte - pelo
contrário, urna solução em cúpula é auto-portante e, corno tal, permite dispensar estes
pilares. A figura 1 ilustra um reservatório de água cilíndrico com a cobertura em cúpula.

Em pequenos reservatórios é frequente conceber urna ligação rígida entre as paredes e o


elemento de cobertura, funcionando então o conjunto "laje de fundo-parede-cobertura"
como um quadro fechado.

Em reservatórios com grandes dimensões, é mais frequente adoptar sistemas de ligação


articulada, ou seja, sem transmissão de momento flector. Neste caso, é ainda possível
prover a ligação com uma junta deslizante que permita movimentos horizontais
relativos, por forma a evitar que a acção sísmica, a retracção do betão e a acção térmica
uniforme induzam esforços transversos na ligação às paredes. Em relação a este
aspecto, refira-se que mesmo em juntas deslizantes o esforço transverso transmitido às
paredes não é exactamente nulo, devido ao atrito que sempre se desenvolve na ligação.
Na Figura 8 ilustra-se o exemplo duma junta entre a laje de cobertura e a viga de
coroamento da parede.

12
Figura 8 - Exemplo duma junta entre a cobertura e a viga de coroamento da parede [16].

Em reservatórios enterrados com ligação de continuidade entre a cobertura e a parede


deve ser analisada a eventualidade de os deslocamentos horizontais associados a uma
dilatação da cobertura mobilizarem impulso passivo no terreno lateral, os quais podem
induzir esforços significativos na parede (em especial se o depósito estiver vazio). Esta
questão não se coloca no caso de ligações com junta deslizante, o que, sob este ponto de
vista, constitui uma vantagem destas últimas.

3.6) Reservatórios elevados

A torre dum reservatório elevado pode ser constituída por uma estrutura porticada -
geralmente um conjunto de pilares travados horizontalmente a diversos níveis - ou por
um fuste único (Figura 9). Neste último caso, podem referir-se as seguintes variantes:
- Fuste liso, com espessura constante ou variável (em betão, tmin=O,12m);

- Fuste com nervuras verticais. Estas nervuras aumentam o momento de inércia das
secções transversais para a flexão global do fuste devida a acções horizontais. Por
razões estéticas, é usual colocar estas nervuras do lado exterior;
- Fuste com nervuras horizontais. Esta solução é particularmente utilizada em fustes
metálicos altos, onde o fenómeno de ovalização das secções transversais devido à
acção do vento pode ser importante. As nervuras são geralmente interiores.

o
I.
/

Figura 9 - Reservatório elevado sobre pilares ou sobre um fuste [13].

13
Um tipo de reservatórios elevados que foi muito comum, e de que existem no País
diversos exemplos, são os chamados "reservatórios fungiformes" (Figura 10). Estes
reservatórios, também conhecidos por "tipo Intze" [18], apresentam cubas compostas
pelos seguintes elementos:

• Estrutura de fundo com uma cúpula esférica e uma superfície tronco-cónica, ambas
ligadas a uma cinta anelar (indicada por F na Figura 10);

• Parede cilíndrica ligada à superfície tronco-cónica (numa cinta P);

• Cobertura em forma de cúpula esférica (ligada à parede numa terceira cinta, C);

• Chaminé interior para acesso à cuba;

Figura 10 - Depósito elevado do tipo fungiforme.

A maior parte destes reservatórios foi calculada assimilando os elementos estruturais -


cúpulas, superfície tronco-cónica, parede cilíndrica e chaminé - a membranas, ou seja,
considerando apenas distribuições de esforços normais em equilíbrio com as cargas
aplicadas. A justificação para este procedimento será dada posteriormente (§4.3.2).

14
Em termos de concepção, é conveniente que a cinta F seja localizada de tal forma que o
impulso horizontal transmitido à cinta pela superfície tronco-cónica (o qual é dirigido
para dentro) seja igualou superior ao impulso horizontal dirigido para fora que é
exercido pela cúpula de fundo - desta forma, o impulso resultante não induz esforço de
tracção na cinta F. Como é evidente, uma situação básica de equilíbrio consiste num
impulso horizontal resultante com valor nulo, a que corresponde uma situação de
funcionamento da cinta F apenas sob o efeito de cargas verticais aplicadas.

No caso da estrutura da torre ser constituída por um conjunto de pilares (geralmente em


número de 6), a cinta F funciona como uma viga circular assente em apoios discretos -
os pilares - pelo que, mesmo na situação atrás referida de balanceamento entre os dois
impulsos, a cinta fica sujeita não só a flexão mas também a torção.

A análise estrutural com base no comportamento de membrana é satisfatória no caso de


reservatórios fungiformes "pequenos" (como ordem de grandeza, com capacidade
inferior a 650m3 [18]), mas em reservatórios com dimensões elevadas é aconselhável
também ter em conta o comportamento em flexão.

o projecto de reservatórios deste tipo está actualmente em desuso, para o que também
contribuem algumas considerações negativas de ordem estética (contudo, e sem
desprimor, deve ser realçado o carácter 'de "moda" que caracteriza as razões estéticas).
De facto, é frequente conceber reservatórios elevados "pequenos" com formato
paralelipipédico, cuja execução é mais simples; em reservatórios de maiores dimensões,
as soluções tronco-cónicas são actualmente comuns (Figura 1, por exemplo).

4. ANÁLISE ESTRUTURAL E DIMENSIONAMENTO

4.1) Laje de fundo

Considere-se a laje de fundo dum reservatório térreo com base rectangular alongada
(Figura 11). As tensões exerci das pelo terreno de fundação sobre a laje de fundo,
considerando apenas a actuação de acções verticais e do impulso hidroestático,
reflectem os seguintes efeitos distintos:
- peso próprio da cobertura (qc), das paredes (qp), da laje de fundo e da correspondente
camada de betão de regularização (qj);
- peso próprio da água depositada (qw=')'H) e, no caso das paredes serem "encastradas"
na laje de fundo, o momento flector devido ao impulso hidroestático (Mo);
- sobrecarga vertical na laje de cobertura (sc).

15
Q L/2 '-/2 Q

Figura 11 - Deslocamentos verticais da laje de fundo num reservatório térreo com base
rectangular alongada (L - menor dimensão da base; Q - carga vertical nas paredes).

Considere-se o caso dum reservatório com ligação articulada entre a parede e a laje de
fundo. Designando por Q o esforço normal instalado na base da parede por metro de
desenvolvimento (correspondente aos efeitos de qc, Se e qp) e ignorando uma eventual
área da laje de fundo exterior ao contorno das paredes, o valor médio da pressão no
terreno é dado por:

(1)

No caso da laje de fundo ser horizontal e ter espessura constante, é geralmente razoável
admitir que a tensão no solo induzida pelo peso da água e pela soleira é também
uniforme (parcela de tensões r=qf+qw). Assim, esta parcela das tensões exerci da pelo
solo sobre a laje de fundo é directamente "anulada" pela pressão vertical de sentido
contrário (ou seja, "de cima para baixo") devida aos pesos da água e da soleira. Desta
forma, pode admitir-se que as tensões no terreno responsáveis pela introdução de
esforços na laje de fundo são apenas as correspondentes a Q (e também ao momento
Mo, no caso de ligação monolítica na base da parede).

Admita-se que as tensões no terreno r(x,y), ao nível do contacto com a soleira, variam
linearmente com os deslocamentos verticais da laje w(x,y). Esta hipótese de linearidade
do comportamento do solo - "hipótese de Winkler" - traduz-se pela relação:

I r(x,y) = Kw w(x,y) I (2)

designando-se a constante de rigidez Kw (expressa em N/m3, no sistema SI) por


"módulo de Winkler". A laje de fundo comporta-se então como uma laje sobre fundação
elástica, sendo aplicáveis resultados "clássicos" desenvolvidos para estes elementos.

16
No Quadro 1 apresentam-se valores usuais do módulo de Winkler (bem como do
número de pancadas em ensaios SPT e do módulo de deformabilidade) correspondentes
a diversos tipos de solos e sob condições de carregamento estático. Todos os valores
indicados devem ser entendidos como ordens de grandeza e não como valores
"exactos".

Tipo de terreno NSPT n, (MPa) Kw (106 N/m3)


Areiaspouco compactas(soltas) 5 - 10 10- 24 5 - 16
Areiasde compacidademédia 10- 30 10- 80
Areiascompactas(densas) 30 -70 48 - 80 65 - 128
Areiasiltosa(média) 7 - 21 24 - 48
Areiaargilosa(média) 32 - 80
Argilasmoles(qu<0,2MPa) <4 5 - 25 12- 24
Argilasde consistênciamédia 4 - 15 15- 50 24 - 48
Argilasduras(qu>0,8MPa) 15- 60 50 - 100 > 48
Quadro 1 - Ordem de grandeza do número de pancadas em ensaios SPT, do módulo de
deformabilidade (Es) e do módulo de Winkler (Kw) para diversos tipos de terreno [4].

A equação diferencial que rege o comportamento duma laje foi já apresentada em


disciplinas anteriores (nomeadamente em "Análise de Estruturas") e tem a forma:

d4W(X,y) 2d4w(X,y) d4W(X,y) ~


V4w(x,y) = dX4 + dx2dy2 + dy4 = D (3)

em que q(x,y) é a pressão actuante e D=Et3/(12(1-v2)) é a rigidez de flexão da laje (E e


v - módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson do material; t - espessura da laje).
N o caso presente, tem-se que:

q(x,y) = p(x,y) - r(x,y) (4)

sendo p(x,y) a pressão "de cima para baixo" actuante ao nível do fundo ( = qf + qw ).

No caso dum reservatório térreo com laje de fundo contínua e de forma rectangular
alongada, a laje apresenta uma flexão aproximadamente cilíndrica. Desta forma, o seu
comportamento pode ser analisado considerando apenas a menor dimensão (L). A
conjugação das expressões anteriores conduz a:

17
d4w(x)
= q(x) => D dx+ + Kw w(x) = p(x) (5)

Refira-se que esta equação diferencial é igual à que rege o comportamento de "vigas
sobre fundação elástica" e foi já referida em disciplinas anteriores, nomeadamente em
"Dimensionamento de Estruturas" no contexto da análise de estacas [22].

_4 s;
Definindo o parâmetro ~ = -\jiii5 (nr+), tem-se que:

d4w(x) .~
dx4 + 4~4w(x~ (6)

A solução desta equação diferencial é da forma:

w(x) = Wh(X) + wp(x) (7)

em que Wh(X) é a solução da correspondente equação homogénea (ou seja, a Equação 6


considerando p(x) = O) e wp(x) é uma solução particular da equação completa. A
solução homogénea da Equação 6 é dada por:

Wh(X) = e-I3x(A.cos(~x)+B.sen(~x)) + el3x(C.cos(~x)+D.sen(~x)) (8)

sendo A, B, C e D coeficientes que dependem das condições de fronteira. No caso de


ligação articulada entre a parede e a laje de fundo, com transmissão duma força vertical
Q por unidade de comprimento da parede, as condições de fronteira são as seguintes:
2
- momento flector M(x=Ll2) = - D- d WI
2 = O (9a)
d x x=Ll2

- esforço transverso d
V(x=Ll2) = - D -d
3
3
wI = Q (9b)
x x=Ll2

Na Figura 12 apresentam-se as distribuições de tensões no terreno obtidas desta forma


para diversos valores do parâmetro ~L. Note-se que as tensões assim calculadas podem
ser de tracção (conforme a figura ilustra no centro da laje para ~L=5, por exemplo) mas
que as tensões totais correspondem à soma destas com as devidas ao peso da água e da
soleira, pelo que, globalmente, não é suposto verificarem-se tracções. Contudo, esta
eventual ocorrência de tracções no centro da laje deve ser controlada para o caso do
depósito vazio, pois o peso da soleira pode de facto ser insuficiente para evitar o
"levantamento" da zona central da laje de fundo sob o efeito das cargas Q.

]8
Q Q

1 1 1 1
"4 T "4 T

O A

I 1
:t I
~ 2
5 3
J
6 I
7 I
I
4
8 I
9

10 5

Figura 12 - Distribuição das tensões no solo sob cargas concentradas nas paredes [13].

A Figura 12 permite extrair algumas conclusões importantes, nomeadamente:

- Em situações caracterizadas por valores reduzidos do parârnetro ~L (como ordem de


grandeza, para ~L<1tl4) pode admitir-se que as tensões no solo devidas às cargas
verticais na parede são uniformemente distribuídas, ou seja, r(x)z2QIL=cte. Em
termos qualitativos, esta condição corresponde a lajes de fundo muito rígidas
assentes sobre terrenos muito deformáveis.

Note-se também que no contexto das "vigas sobre fundação elástica" (em particular,
no caso de estacas), e designando por L o seu comprimento, a condição j3L<1tl4
corresponde ao caso de "vigas curtas", as quais se podem considerar como rígidas
uma vez que as deformações do terreno de fundação predominam largamente sobre
as deformações por flexão da estaca [22].

- À medida que aumenta a qualidade do terreno ou diminui a rigidez da laje de fundo,


mais acentuada se torna a concentração de tensões no terreno junto à parede do
reservatório. Com efeito, em situações caracterizadas por valores elevados do
parâmetro ~L (como ordem de grandeza, para ~L>5), a distribuição de tensões é
praticamente linear e com forte concentração na zona de ligação às paredes, sendo
nulas as tensões no ponto central e a quartos da largura (pontos O e B na Figura 12).

As situações de "vigas sobre fundação elástica" com valores elevados de j3L


correspondem a "vigas longas", as quais se comportam praticamente como vigas de
comprimento infinito. Este facto traduz-se numa simplificação de cálculo pois,
devido à condição de fronteira Wh(X=oo)=ü,tem-se que C=D=ü (Equação 8).

19
No seguimento das características ilustradas na Figura 12, é possível considerar o
seguinte modelo simplificado para a distribuição das tensões que são exerci das pelo
solo em lajes de fundo com valores de ~L elevados:

p p

Figura 13 - Distribuição simplificada de tensões (lajes de fundo com ~L elevado) [13].

Conforme se referiu, o primeiro caso atrás considerado (~L reduzido -> distribuição
praticamente uniforme de tensões) corresponde a lajes muito rígidas (ou seja, muito
espessas face à sua largura) assentes em terreno muito deformável. Considere-se, por
exemplo, uma laje em betão armado (E=30GPa, v=0,2) com 0,50m de espessura e 3,Om
de largura (!!) assente num solo com Kw=5x103kN/m3 (solo muito deformável - vd.
Quadro 1). Obtem-se:

3 12x( 1-0,22)
5xlO x 4x30x106xO,503 0,25m-1 => ~L = O,25x3,0 = 0,75

Os dados deste exemplo conduzem de facto a ~L<rc/4; no entanto, também ilustram que
esta situação tem uma contrapartida prática muito limitada, no que diz respeito à análise
das lajes de fundo de reservatórios.

Pelo contrário, o segundo caso referido (~L elevado -> concentração de tensões junto à
ligação às paredes) corresponde a lajes muito flexíveis sobre terrenos "duros" (pouco
deformáveis). Considere-se, por exemplo, uma situação mais "realista" que a anterior -
uma laje em betão armado com 0,20m de espessura e 10,Om de largura assente num
solo com Kw=50x 103kN/m3. Obtem-se:

3 12x(1-0,22)
~= 50xlO x 4x30x106xO,203 0,88m-1 => ~L 0,88xlO,0 = 8,8

III

Em face do exposto, e para efeitos de pré-dimensionarnento, é possível considerar as


distribuições de tensões indicadas na Figura 14.

20
~a
~a

.1 1. ..L
.. 3 3

LAJE FLEXÍVEL LAJE RÍGIDA

CONDIÇÕES MÉDIAS DE FUNDAÇÃO

01 ,

,.. ,..1
I .
T
I
40
TI

LAJE FLEXíVEL LAJE RÍGIDA

MÁS CONDIÇÕES DE FUNDAÇÃO

,la 01
t

LAJE FLEXÍVEL LAJE RÍGIDA

Figura 14 - Formas simplificadas da distribuição de tensões no terreno [13].

No caso da ligação entre as paredes e a laje de fundo ser rígida, as tensões no terreno
que são provocadas pelos momentos transmitidos pela parede (Mo) podem geralmente
ser ignoradas numa fase inicial de projecto. Assim, para efeitos de pré-
dimensionamento das armaduras, os esforços de cálculo na laje de fundo podem em
geral ser obtidos encarando-a como uma viga simplesmente apoiada sujeita a urna
distribuição simplificada de tensões (por exemplo, a distribuição que se considere mais
apropriada para o caso particular em causa dentre as ilustradas na Figura 14).

21
Este modelo de cálculo evidencia que toda a laje de fundo fica sujeita a momentos
flectores "negativos", ou seja, a momentos responsáveis por tensões de tracção na face
superior, pelo que será este o lado de colocação das armaduras principais. No entanto, é
conveniente dispôr sempre de 2 camadas de armadura para ter em conta, por exemplo, a
ocorrência de assentamentos diferenciais e/ou de heterogeneidades no terreno de
fundação, as quais, sendo mais prováveis em reservatórios com grandes dimensões em
planta, podem conduzir a que o peso da água armazenada, por exemplo, provoque
momentos "positivos".

Com os modelos simplificados atrás indicados (os quais, recorde-se, pressupõem um


fundo com forma rectangular alongada, sendo L a menor dimensão), o máximo
momento flector na laje de fundo varia entre Mmax = QL/4 (distribuição uniforme) e
Mmáx = QL/12 (distribuição linear até 1/4 de vão). Para efeitos de comparação, refira-se
que no caso duma distribuição uniforme de tensões sob uma laje de fundo circular
simplesmente apoiada (situação esta que pode interessar na análise dum reservatório
cilíndrico), a tensão no terreno vale r=Q.21tRJ(1tR2)=2Q/R e os momentos radiais na laje
variam parabolicamente entre Mr.max = O,200rR2 = Q(2R)/5 no centro e Mr=O no bordo.

No caso da laje de fundo ser rectangular mas com dimensões da mesma ordem de
grandeza (como seja, no limite, o caso dum reservatório de base quadrada), é possível
generalizar os princípios atrás expostos a ambas as direcções [13]. No entanto, recorde-
se que estas indicações são válidas para efeitos de pré-dimensionamento, sendo
geralmente conveniente elaborar um cálculo mais preciso em fase de Projecto.

Para um cálculo mais preciso da distribuição das tensões na fundação e dos esforços na
laje de fundo, esta pode ser analisada através dum conjunto de elementos de barras,
constituindo uma grelha, e apoiadas duma forma discreta em apoios elásticos - molas
verticais - cujas características devem corresponder às do terreno de fundação.
Admitindo que a resistência do terreno à tracção é nula, a resistência destes apoios para
forças de levantamento também deve ser considerada como nula (ou seja, deve-se
verificar que todas as reacções obtidas correspondem a forças aplicadas "de baixo para
cima"); por outro lado, a rigidez das molas (Km) pode estimar-se através de Km=Kw.A,
sendo Kw o módulo de Winkler do terreno de fundação e A a área de influência
correspondente a cada mola.

No caso dum reservatório cilíndrico sujeito ao impulso hidroestático, por exemplo, o


carregamento a considerar na grelha de simulação da laje de fundo deve corresponder
aos efeitos da pressão vertical uniforme (r=qf+qw) e aos efeitos, também uniformes, do
momento radial (Mo) e da força vertical (Q), os quais são aplicados em todo o contorno.

22
4.2) Paredes

As características do comportamento estrutural das paredes dependem da esbelteza dos


reservatórios. Um parâmetro básico para avaliação desta esbelteza é o quociente H/R,
sendo R uma dimensão característica em planta (o raio em depósitos cilíndricos, por
exemplo) e H a altura máxima de água.

Tal como para a laje de fundo, o dimensionamento das paredes deve ter em conta não só
as verificações de resistência mas também o controle da fendilhação. Em relação a este
aspecto, é possível adoptar o critério de dimensionamento que é referido no EC2 [8]:

• em reservatórios da classe 1, a máxima tensão de tracção no betão deve ser inferior


ao valor característico inferior da sua resistência à tracção (fctk);

• em reservatórios da classe 2, não se devem registar tensões de tracção no betão (o


que naturalmente conduz a soluções pré-esforçadas).

Em seguida, referem-se alguns aspectos básicos relativos à análise estrutural de paredes


em depósitos com base rectangular e circular.

4.2.1) Reservatórios de base rectangular

No caso de reservatórios de base rectangular com grande área em planta e pequena


altura (ou seja, com uma esbelteza reduzida), o comportamento estrutural das paredes
sob o efeito do impulso hidroestático manifesta-se essencialmente em flexão segundo a
direcção vertical. Assim, as paredes em reservatórios abertos deste tipo funcionam
praticamente como consolas verticais. Na Figura 15 é ilustrado o diagrama de
momentos no conjunto "paredes-laje de fundo" e a disposição das armaduras resistentes
(Nota: como é evidente, as espessuras estão representadas sem preocupação de escala).

f.
I -Y.- - --

b
H
JI
I
I 1o~1L';8
! I
~
I

..- V
'" /'

Figura 15 - Reservatórios abertos de base rectangular com esbelteza reduzida.

23
No caso de reservatórios fechados, com ligação de continuidade entre as paredes e a laje
de cobertura, o funcionamento como quadro fechado corresponde, para o impulso
hidroestático, ao funcionamento das paredes como elementos "encastrados'' no fundo e
apoiados (com ou sem transmissão de momento flector) ao nível da cobertura.

Junto aos cantos, ao longo das arestas de junção entre paredes, também se desenvolvem
momentos flectores em plano horizontal responsáveis por tracções do lado interior. Este
efeito deve ser tido em conta na pormenorização das armaduras horizontais.

III

N as paredes de reservatórios de base rectangular com pequena área em planta e grande


altura (ou seja, com esbelteza elevada), o efeito de encastramento na laje de fundo
apenas se faz sentir na base das paredes, sendo preponderante o funcionamento em
plano horizontal. Assim, o cálculo dos esforços de dimensionamento nas paredes pode
ser efectuado dividindo-as em faixas horizontais, as quais são então analisadas como
quadros fechados sujeitos ao impulso hidroestático correspondente (Figura 16).

~I

J'
A
Figura 16 - Comportamento em plano horizontal de reservatórios rectangulares
(Nota: O diagrama de momentos está desenhado no lado das fibras comprimidas).

Aplicando, por exemplo, o Método dos Deslocamentos, já conhecido das disciplinas de


"Análise Estática de Estruturas", obtem-se o seguinte resultado para o momento flector
nos vértices duma secção rectangular com lados AxB (Figura 16):

(la)

Registe-se que para BIA> 1,31 deixa de se registar a inversão de sinal nos momentos
flectores ao longo dos lados menores (A), ficando a face interna destas paredes
totalmente sujeita a tracções devido ao impulso hidroestático.

24
III

Duma forma geral, a zona superior das paredes funciona essencialmente como um
quadro horizontal; por outro lado, a zona inferior funciona principalmente em flexão
vertical. Assim, é possível idealizar o esquema de carregamento ilustrado na Figura 17 -
em termos de flexão vertical, considera-se uma consola com altura H*<H sujeita a um
impulso variando linearmente entre ° à cota H* e ')'H na base (o momento na base vale
Mo=')'H(H*)2/6); a restante parcela do impulso hidroestático mobiliza o funcionamento
da parede em plano horizontal [13].

Figura 17 - Modelo simplificado de repartição do impulso hidroestático.

Se cada painel de parede fôr analisado separadamente dos restantes, é simples calcular
os esforços devidos ao impulso hidroestático através de expressões analíticas ou de
tabelas (como as da referência [2], por exemplo).

Para painéis de laje rectangulares com bordo livre no topo e encastramento perfeito nos
restantes bordos, apresentam-se no Quadro 2 os valores retirados da referência [2] -
tabela 1.96 (v=O,20) - para os coeficientes multiplicativos do momento vertical na base
(B e H representam a largura e a altura dos painéis, respectivamente). Estes valores são
tais que Mo=(coef)x(')'H3), pelo que H*IH~6 x (coef). Os valores apresentados
ilustram os aspectos qualitativos atrás referidos - o comportamento das paredes é tanto
mais próximo do comportamento duma consola quanto menos esbelto fôr o reservatório
(ou seja, H*/H tende para 1 com valores crescentes de BIH).

B/H 0,25 0,5 0,75 1,00 1,50 2 3


"coef." 0,0030 0,0107 0,0200 0,0325 0,0586 0,0845 0,1262
H* IH 0,13 0,25 0,35 0,44 0,59 0,71 0,87
Quadro 2 - Relação H*/H em painéis rectangulares com bordo livre no topo e restantes
bordos encastrados (Mo="coef"x(')'H3); valores de "coef." retirados de [2] - tabela 1.96).

25
Exemplo de aplicação

Considere-se um reservatório rectangular com 4,Om de altura de água e com base


8,Ox4,Om2. Os modelos básicos de cálculo da parede são ilustrados na Figura 18. No
Quadro 3 resumem-se os valores calculados para os momentos flectores em diversos
pontos dos painéis de parede ((2] - tabela 1.96, v=O,20).

Mo N'(, Mxi

J..{J{8 -0---..---1'
e.so
I-lxl

-
l-A.i2.

I-i,,~ KJ{j

4.0 J..l.t4
I-\-s
HJ{{, HiG
J.l V~ 0.80 M VI>
I I / / / /

;tI" 40j(1'vV1 2
-f' V
71
),/
I
8,0 4.0
Figura 18 - Modelos de cálculo dos painéis da parede.

Painéis mais largos (8,Ox4,0) Painéis mais estreitos (4,Ox4,0)

Efeito z (m) coef. M (kN.m/m) coef. M (kN.m/m)

Mxl 4,0 0,01610 41,2 0,0151 9,7

Mx2 3,2 0,01502 38,5 0,0216 13,8

Mx3 2,4 0,01288 33,0 0,0396 25,3

Mx4 1,6 0,00930 23,8 0,0277 17,7

Mx7 4,0 -0,00690 -17,7 -0,0097 -6,2

Mx8 3,2 -0,00612 -15,7 -0,0112 -7,2

Mx9 2,4 -0,00502 -12,9 -0,0132 -8,4

Myys 0,0 0,0845 54,1 0,0325 20,8

(H*=2,37m) (H*=I,77m)

Quadro 3 - Momentos flectores nos painéis da parede (valores "coef." retirados de [2]).

Constata-se que os painéis mais estreitos têm menor altura H* e, consequentemente, um


comportamento em flexão horizontal mais pronunciado - note-se que os momentos
horizontais máximos ocorrem a maior distância do topo que nos painéis mais largos.

Uma vez calculados os esforços em cada painel, considerando-os isoladamente, é


conveniente compatibilizar os diversos painéis (com efeito, a condição de
encastramento perfeito ao longo dos bordos laterais só é estritamente válida no caso
dum reservatório de base quadrada). Na Figura 19 apresentam-se os diversos passos
para a obtenção dos esforços no quadro fechado à cota z=3,2m.

26
24.1-
~It- -.....;;....0,,/5. ------ll~
v 4.0/2 ;f 8.0/2

1--'\.1(/3:' -15. 7-
~-----~-;)

14c:-------:?")
-----

Figura 19 - Funcionamento em plano horizontal (esforços no quadro fechado


a O,80m da superfície livre).

A aplicação no quadro fechado do momento desequilibrado em cada nó pode ser


resolvida pelo modelo de cálculo (tipo "viga contínua") que é ilustrado na Figura 19.
Note-se que este procedimento não é exacto, pois a compatibilização não se processa
apenas em plano horizontal.

A distribuição "final" de momentos flectores ilustra que os lados menores ficam sujeitos
a momentos "negativos" em todo o seu comprimento. Este facto era previsível, pois a
relação entre as dimensões dos painéis (B/A=8,O/4,O=2) é superior a 1,31.

A partir do diagrama "final" de momentos é possível definir uma carga uniforme


equivalente aplicada em cada lado - Peq=6,8kN/m2 nos lados maiores (Figura 19) e
Peq= 10,5kN/m2 nos lados menores. A pressão hidroestática no nível em causa vale
p(z=O,80m)=lOxO,80=8,OkN/m2, registando-se assim que tem um valor intermédio
entre as "pressões equivalentes" obtidas em cada um dos lados.

27
Para além dos momentos flectores e correspondentes esforços transversos, o impulso
hidroestático também induz esforços de tracção nas paredes. Estes esforços podem ser
estimados com base nas cargas equivalentes atrás referidas - nos lados menores do
quadro ilustrado na Figura 19, por exemplo, obtem-se N = 27,1 kN/m. Contudo, deve
referir-se que o nível associado de tensões de tracção é de facto pouco significativo -
considerando uma espessura de parede igual a 0,40m, por exemplo, a tensão de tracção
correspondente vale apenas a=27, 1/0,40=68kN/m2.

4.2.2) Reservatórios cilíndricos

Considere-se um reservatório cilíndrico aberto, com altura máxima de água H, raio R


(definido em relação à linha média da parede) e espessura t (Figura 20).

t--- r< ---+-


i
=~-Cc,,:~_-~~-----=~~

r
li
- -- -== -i==--==---
----.-
_

--
---
__
-
--4--

-! -- -
--1
--
-
-

- _.p

1
Figura 20 - Reservatório cilíndrico.

Sob o efeito da pressão hidroestática, o funcionamento da parede pode ser assimilado ao


duma grelha de vigas verticais e anéis circulares horizontais - as vigas verticais
funcionam essencialmente por flexão (momento "vertical" M, e esforço transverso V x)
enquanto que os anéis horizontais reagem por "expansão", desenvolvendo esforços
circunferenciais de tracção importantes (N<p).

Com este modelo de funcionamento, a pressão total actuante em cada nível, p(z), pode
ser decomposta numa parcela suportada pelas vigas verticais (Pv) e noutra parcela
associada aos anéis horizontais (Ph), ou seja:

I p(z) = y.z = Pv(z) + Ph(Z) I (11 )

Considere-se a linha média duma secção transversal genérica, à distância z da superfície


livre do fluido. O perímetro desta circunferência (bem como em qualquer outra secção,
sendo o raio constante) é obviamente P(z)=2nR. Aos deslocamentos horizontais do

28
reservatório provocados pela pressão hidroestática, indicados por w(z), está associado
um aumento do perímetro, óP(z)=2n.ôR(z)=2n.w(z), ao qual corresponde uma extensão
axial (Eh) dada por Eh(Z)=ÔP(z)lP=w(z)/R.

Por outro lado, as tensões circunferenciais de tracção induzidas pelo impulso


hidroestáticosão dadas por <Jh(Z)= N<p(z)/t = Ph(Z)Rlt. Assim, sendo E o módulo de
elasticidade do material e admitindo um comportamento elástico linear, tem-se que:

<Jh(Z) w(z) Ph(Z).R E.t


Eh(Z) = E <=> R = E.t <=> Ph(Z) = R2 w(z) (12)

Relativamente às vigas verticais, o seu comportamento em flexão é regido pela seguinte


equação, já conhecida das disciplinas de "Resistência de Materiais":

d2 d2w(z»)
Pv(z) = dz? (D dz2 (13)

sendo D=Et3/(12(1-v2») a "constante de flexão" (recorde-se que D=EI na flexão de


elementos lineares, sendo I o momento de inércia da secção transversal).

Desta forma, admitindo que D tem um valor constante ao longo da altura do


reservatório (ou seja, em termos práticos, t=cte) e definindo um parâmetro auxiliar K
através de:

K=E.t/R2 (14)

obtem-se a seguinte expressão:

d4w(z)
p(z) = Pv(Z)+Ph(Z) = D dz4 + K w(z) (15)

Refira-se que esta equação é análoga à das "vigas sobre fundação elástica" (vd. Equação
5), assumindo aqui o parâmetro K um papel idêntico ao ali desempenhado pelo módulo
de Winkler (Kw). Da mesma forma que nas vigas sobre fundação elástica, também aqui
é possível definir o seguinte parâmetro:

R 1,30
( Nota: Para v=ü,2 obtem-se tJ = --JR.t ) (16)

29
Neste contexto, o parâmetro P designa-se por "constante de casca". Assim, é possível
rescrevera Equação 15 no formato:

d4w(z)
dz4 + 4P4w(z) = p(z)/D (17)

A solução homogénea desta equação diferencial é dada pela Equação 8, e, tal como para
as "vigas longas", a valores elevados do parâmetro pH (como ordem de grandeza, para
PH>5) correspondem agora "reservatórios de grande altura", aos quais são aplicáveis as
soluções analíticas - relativamente simples - correspondentes ao caso dum reservatório
com altura infinita (C=D=O na solução homogénea - Equação 8).

A título de exemplo, num reservatório cilíndrico em betão armado com 7m de raio, 4m


de altura e uma parede com 0,15m de espessura, obtem-se PH=5,1 (tomando v=O,2).
Na prática, é usual verificar-se esta condição de "reservatório alto" em depósitos térreos
de água para abastecimento público - já as piscinas, pelo contrário, são um exemplo
corrente de reservatórios "baixos".

Relativamente à solução particular da equação diferencial 15, é simples constatar que:

(18)

Com efeito, uma vez que a pressão hidroestática varia linearmente em altura tem-se que
d4wp(z)/dz4=O; assim, é evidente que esta solução wp(z) satisfaz de facto a Equação 15.
Note-se que esta solução particular é válida para qualquer reservatório cilíndrico,
independentemente da sua esbelteza.

Assim, caso se possa desprezar a influência do bordo superior, obtem-se a seguinte


distribuição de deslocamentos laterais em "reservatórios altos" devidos ao impulso
hidroestático [18]:

p(z) R2
w(z) = e-13z(A.cosepz)+B.sen(pz») + E.t (19)

Este resultado revela que os deslocamentos laterais ao nível do topo são praticamente
nulos - por um lado, a pressão p(z) tende para zero, e por outro lado a solução
homogénea corresponde a uma função sinusoidal (ao longo da altura) amortecida pelo
termo e-13z(note-se que para pz=6, por exemplo, obtem-se e-13z=2x10-3).

30
Deste modo, pode concluir-se que em reservatórios cilíndricos a influência da ligação
da parede a uma eventual laje de cobertura é pouco significativa, no que diz respeito aos
efeitos do impulso hidroestático na parede. É conveniente referir que esta observação
não é directamente extrapolável para cúpulas, as quais tendem a "abrir" na base e, como
tal, induzem deslocamentos horizontais ao nível da ligação ao topo da parede.

As constantes A e B da Equação 8 obtêm-se com base nas condições de fonteira (a


condição w(O)=O, por exemplo, fornece A = -'YH R21 (Etj). Uma vez obtidos os
deslocamentos laterais, w(z), é possível obter:

dw(z)
- as rotações do folheto médio 8(z) = dz
d2w(z)
- os momentos flectores "verticais" Mz(z) =- D dz2
dMz(z) d3w(z)
- os esforços transversos associados a Mz Vx(z) = dz = - D dz3
E.t
- os esforços normais circunferenciais Nq>(z)= ph(Z).R = R w(z)
- os momentos flectores "horizontais" Mq>(z)= v Mz(z)

111

No modelo analítico atrás descrito não é considerada a influência da deformabilidade da


laje de fundo, o que constitui uma limitação do método - de facto, a condição de
encastramento perfeito na ligação da parede à laje de fundo, com as rotações totalmente
impedidas, corresponde a uma situação teórica limite.

No caso de reservatórios cilíndricos, existe solução analítica para os esforços na parede


devidos ao impulso hidroestático tendo em conta este carácter de "encastramento
elástico" na ligação, admitindo um comportamento elástico linear e que a laje de fundo
se apoia numa fundação rígida (ou seja, ignorando a deformabilidade do terreno). Esta
solução traduz-se num conjunto de ábacos que se reproduzem no Anexo I [13].

Este procedimento de cálculo é conhecido como "método de Hangan-Soare" e,


conforme foi atrás referido, ignora os efeitos da deformabilidade do terreno. A
propósito, pode referir-se que os efeitos desta deformabilidade podem ser minorados
prolongando um pouco a laje de fundo para o exterior das paredes, o que aumenta o
grau de restrição à rotação da zona de ligação.

31
Na Figura 21 apresentam-se os ábacos de Hangan-Soare para o cálculo do momento
flector na ligação parede-laje de fundo (Mo) e da máxima tracção circunferencial na
parede (N<p.max)·Os parâmetros intervenientes são o produto ~H e a razão "espessura da
parede / espessura da laje de fundo" (indicada por e/e' nos ábacos, em conjunto com
<p=tan-1(e/e'); refira-se também que o peso volúmico do líquido, indicado no presente
texto por "(,é referenciado nos ábacos por 8).

K"
K

0,98 ~ --~--- ~ -1-'1 r" -T - , . r=t: - , . 0.98


0,96 - ---r' i
I
:~! : -,.
I I I
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0,94 _ "T' -i _. --~ A-=- I i0,94
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o Ql Q2 q3 0,4 0,5 Q6 Q8 I 1) 1,4 1,75 2,SJ 4 5 lO ~
q7 Q9 \1 \3\5 2

Figura 21 - Ábacos para o cálculo de Mo e de N<p,max(método de Hangan-Soare) [13].

O ábaco ilustrado na Figura 21 para o momento Mo fornece um coeficiente k tal que


Mo = k"{H3,Registe-se que o valor máximo deste coeficiente é k=0,016 para a gama de
valores ~H considerados (~H>5),

É importante referir que o cálculo da parede como uma consola sujeita ao impulso
hidroestático forneceria Mo = "{H3/6= 0,166 "{H3,A comparação entre este momento e o
máximo atrás referido (ou seja, um coeficiente de 0,016 face a 0,166) ilustra bem as
diferenças entre o comportamento duma parede plana em consola e o comportamento
duma parede cilíndrica sob o efeito do impulso hidroestático (para além dos momentos
flectores, refiram-se ainda as diferenças relevantes em termos de deslocamentos laterais
- significativos no topo da consola e praticamente nulos no topo da parede cilíndrica - e
em relação ao esforço circunferencial de tracção que se desenvolve na parede cilíndrica,
o qual constitui uma característica essencial do seu comportamento),

32
N a situação limite duma parede perfeitamente encastrada na laje de fundo (o que, nos
ábacos, corresponde a e'=oo, ou seja, e/e'=O), o método de Hangan-Soare conduz a [13]:

=> (20)

Tendo em conta que ~ = 1,30/~, em reservatórios "muito altos" (ou seja, quando
1/(~H» = O) obtem-se a relação aproximada Mo = 0,30 yHRt.

A cota do ponto inferior da parede com momento "vertical" nulo (vd. Figura 21, na qual
são patentes duas inversões no sinal do momento ao longo da altura) obtem-se por [13]:

tan-l (2k(~H)2)
Zo = k., H, ko =
~H
(21)

A segunda inversão do sinal dos momentos "verticais" ocorre à cota (zo+1t/~). Em


relação ao máximo momento "negativo" (de acordo com a convenção de sinal utilizada
no ábaco), este ocorre à cota:

(22)

e o seu valor é obtido pela seguinte expressão:

(23)

Na situação-limite duma ligação articulada entre a parede e a laje de fundo (o que, nos
ábacos, corresponde a e/e'=oo), obtem-se Mj = 0,1 yHRt.

Note-se que para uma mesma altura H e espessura t, o aumento do parâmetro ~H


corresponde a uma diminuição do raio R, ou seja, corresponde a reservatórios com
maiores esbeltezas (H/R crescente). A Figura 21 ilustra que, nestas condições, diminui o
momento Mo e aumenta o esforço normal N<p.max'ou seja, à medida que aumenta a
esbelteza dum reservatório cilíndrico mais significativo se torna o "efeito de anel", com
predomínio do comportamento de tracção circunferencial (o dos anéis horizontais no
modelo de grelha) sobre o comportamento de flexão na direcção vertical. A este
aumento de esbelteza corresponde também uma diminuição do momento MI e a
ocorrência de Nep.maxa cotas inferiores às da situação de partida.

33
Na zona superior dos reservatórios verifica-se que a variação em altura da tracção
circunferencial é praticamente linear (vd. Anexo I). No modelo de grelha descrito no
início deste parágrafo, esta característica corresponde ao facto de, na zona superior dos
reservatórios, a pressão hidroestática se transmitir praticamente na totalidade aos "anéis
horizontais " (ou seja, nesta zona tem-se que Ph""Pe, consequentemente, Pv""O).Assim,
da mesma forma que Ph varia linearmente em altura, também a tracção circunferencial a
cada nível, N<p(z)=Ph(Z).R,varia linearmente.

o valor máximo da tracção circunferencial na parede ocorre a um nível intermédio,


abaixo do qual decai rapidamente para zero. Para a situação-limite da parede encastrada
na base, este valor máximo ocorre a uma distância da laje de fundo (Z2) compreendida
entre 2, 1/~ (para ~H=5) e 2,6/~ (para ~H=20).

III

o predomínio do funcionamento em plano horizontal na zona superior e a maior


importância do comportamento em flexão na zona inferior são características comuns
aos reservatórios cilíndricos e rectangulares.

Por razões de ordem estética, é comum encontrar na bibliografia referências a RlH==2


para reservatórios cilíndricos (o ilustrado na Figura 1, por exemplo, ilustra uma relação
RlH com esta ordem de grandeza). Relativamente à espessura da parede, para efeitos de
pré-dimensionamento em reservatórios de capacidade moderada é possível considerar a
seguinte expressão [13]:

(H e R em metros; t em em) (24)

• Exemplo de aplicação

Considere-se um reservatório de água cilíndrico, com H=4,Om, R=7,Om, e'=0,20m


(espessura da laje de fundo) e t=e=O, 15m (espessura da parede). Por aplicação do
método de Hangan-Soare, obtêm-se os seguintes resultados:

- parâmetros em causa ~ "" 1,30/~R.t = 1,30/~7,OxO,15 = 1,27m-1


~H = 1,27 x 4,0 = 5,09
ele' = 0,15 I 0,20 = 0,75
- máximo momento "positivo" Mo = kyH3:::::0,0132 x 10 x 4,03 = 8,4 kN.m1m
- máxima tracção circunferencial Nc.p.max= k"yRH = 0,58x 1Ox7x4 = 162 kN/m

34
Note-se que se o encastramento na ligação parede-laje de fundo fosse perfeito, a
expressão 20 conduziria a Mo=9,9 kN.mJm (face ao valor de 8,4 kN.mJm atrás obtido) e
poder-se-ia estimar que a máxima tracção circunferencial ocorre a uma distância da base
Z2"" 2, 1I~ = 1,65m. A aproximação Mo ",,0,30')',HRt, correspondente a uma situação de
encastramento perfeito num reservatório muito esbelto, fornece Mo=12,6 kN.mJm.

Em relação à localização de Nq>.max(cota Z2) pode referir-se que para ~H=5,09 e para
e/e'=0,75 o ábaco correspondente à cota Z2 (vd. Anexo I) conduz a Z2 =0,39H = ] ,56m -
constata-se assim que a estimativa de Z2 com base numa hipótese de encastramento
perfeito é muito próxima do valor efectivo (1,65m face a 1,56m).

Por outro lado, é interessante confrontar o valor de Nq>.maxcom o valor que se obtem
considerando directamente o efeito da pressão da água no nível em causa, ou seja
p=lOx(4,00-1,65)=23,5kN/m2. Com esta pressão obtem-se Nq>=pR=23,5x7,0=165kN/m,
sendo este valor muito próximo do "exacto" (Nq>.max= 162 kN/m).

Uma vez calculados os principais esforços na parede, é possível proceder à verificação


da segurança em relação aos Estados Limites de Resistência e de Fendilhação. Em
relação a este último, considere-se que o critério de verificação consiste na satisfação
das condições (Nq>::;;Ncr = t.fctk) e (M ::;;Mcr = Wel.fctk)' em que Ncr e Mcr representam
o esforço normal e o momento flector de fendilhação, respectivamente, fctk corresponde
ao valor característico inferior da tensão de rotura à tracção do betão e Wel traduz o
módulo elástico de flexão (We1=t2/6, caso se despreze a contribuição das armaduras).

Considerando que o betão é da classe B30 (fcd=16,7MPa e fctk=1,8MPa, de acordo com


o REBAP) e que as armaduras são da classe A400 (fsyd=348MPa), obtêm-se os
seguintes resultados relativamente às tracções circunferenciais na parede (a que
obviamente correspondem armaduras horizontais, dispostas em duas camadas junto a
cada face):

1,5x162
EL de Resistência Ais 2 34,8 = 6.98 cm2/m -7010/0,20 (em cada face), p.ex.

EL de Abertura de Pendas Ncr = 0,15x1800 270 kN/m > Nq>.max(162 kN/m)

Em relação às armaduras verticais, a zona de maiores momentos flectores corresponde à


de ligação da parede à laje de fundo. Considerando uma altura útil de 0,1 Om (associada
a um recobrimento de 0.04m), e tirando partido apenas da secção de betão para o
cálculo do módulo elástico de flexão, obtem-se:

3S
EL de Resistência
_
j.1- ° 1,5x8,4 _ _ 2
,102x16700 - 0,075 -> As ~ 3,87 em /m --t 010/0,20, p.ex.

0,152
EL de Abertura de Fendas Mer = -6- x 1800 = 6,8 kN.m1m < Mo (= 8,4 kN.m/m)

Verifica-se que o momento de fendilhação assim calculado é inferior ao momento


f1ector devido ao impulso hidroestático. No entanto, existem diversos factores a
considerar e que permitirão considerar o valor de 15cm na generalidade da parede como
sendo de facto uma espessura suficiente, no que diz respeito aos efeitos do impulso
hidroestático.

Em primeiro lugar, é possível tirar partido da contribuição das armaduras verticais para
o módulo de flexão. Considerando uma camada 010/0,20 em cada face (2x3,93
cm2/m), afastadas entre si de (t-2rec-0)=(l5-2x4-1)=6cm, e admitindo um coeficiente
de homogeneização igual a 18 (REBAP [19], Art° 69), obtem-se o seguinte valor para o
módulo de flexão da secção homogeneizada:

lei 0,153/12 + 18x2x3,93xlO-4x(0,06/2)2


Wel = t/2 = 0,15/2 3,92xlO-3 m3/m

o momento de fendilhação correspondente vale Mer = 3,92x10-3 x 1800 = 7,1 kN.m/m.


Note-se que este valor corresponde a um aumento de apenas 4,5% relativamente ao
momento de fendilhação calculado exclusivamente com a secção de betão, o que ilustra
a pouca relevância desta contribuição em casos com espessura reduzida.

Em segundo lugar, o valor considerado para fetk corresponde ao do comportamento em


tracção simples, enquanto que a verificação em causa diz respeito a uma situação de
flexão. Nestas condições, é possível tirar partido do gradiente de tensões ao longo da
espessura e majorar a resistência do betão - considerando, por exemplo, o coeficiente de
amplificação indicado no REBAP (Art" 16), obtem-se ~tk = 1,24x 1800 = 2237 kNm2.
O correspondente momento de fendilhação vale Mer = 3,92xl0-3 x 2237 = 8,8 kN.mJm.

Embora este valor já seja superior ao do momento actuante (Mo =8,4kN.mJm), deve
ainda ser referido o contributo importante devido aos esquadros na zona de ligação.
Admitindo que os esquadros têm 15cm de dimensão, e avaliando Mer da forma básica
(=t2/6fetk), obtem-se na base da parede Mer=(0,15+0,IS)2/6 x 1800 = 27kN.m1m. Este
valor é já por si superior ao do momento actuante, pelo que a verificação das tensões de
tracção na ligação parede-soleira poderia desde logo ter sido considerada como satisfeita.

36
Para completar esta análise, há que verificar se Mcr é superior ao momento actuante no
topo do esquadro (ou seja, 15cm acima da laje de fundo, o que corresponde a uma altura
na parede de 15+20/2=25cm considerando que o momento Mo está definido ao nível da
meia espessura da laje de fundo). Esta verificação pode ser efectuada através da forma
simplificada a seguir descrita.

Através da Equação 21, é possível avaliar a altura do ponto de momento nulo na parede
- neste caso, obter-se-ia zo=0,118xH=0,47m. Se o momento actuante no topo do
esquadro (cota zt=O,25m) fôr avaliado por interpolação linear, obtem-se M(zt) "'"8,4 x
(47-25)/47 = 3,9kN.m1m « MCf" Embora este cálculo não seja rigoroso, a diferença
significativa de valores entre o momento actuante e o de fendilhação permite admitir
que também no topo de esquadro é satisfeita a verificação da segurança em relação ao
EL de Abertura de Fendas.

4.3) Cobertura

o cálculo de lajes de cobertura rectangulares, apoiadas ou não em pilares interiores, não


envolve novidades em relação aos conhecimentos adquiridos nas disciplinas de "Betão
Armado e Pré-Esforçado", pelo que este caso não será aqui abordado.

No presente parágrafo são referidos dois casos básicos mais específicos que o de painéis
rectangulares mas comuns no domínio das estruturas de reservatórios, nomeadamente o
caso de coberturas planas em laje circular assentes apenas no contorno (ou seja, sem
apoio em pilares interiores) e o caso de coberturas em cúpula. Para permitir o acesso ao
interior dos reservatórios, é usual dotar a cobertura com uma abertura no topo - pelo que
também se referem os casos de lajes anelares e os casos de cúpulas com lanternim.

o comportamento estrutural destes elementos é referido considerando apenas a actuação


de pressões verticais uniformes (tais como as devidas ao peso próprio ou a uma
sobrecarga uniformemente distribuída).

37
4.3.1) Lajes circulares e anelares

o cálculo dos esforços de dimensionamento numa laje circular ou anelar, simplesmente


apoiada ou encastrada no contorno, pode ser efectuado com recurso a expressões
analíticas ou a tabelas disponíveis na bibliografia especializada ([2], por exemplo).

Numa laje circular sujeita a uma pressão uniforme, os momentos principais


correspondem, em todos os pontos, às direcções radial e circunferencial (aliás, o mesmo
sucede sob qualquer outro carregamento com simetria axial); por outro lado, a
distribuição dos momentos flectores ao longo duma linha de diâmetro varia
parabolicamente entre os valores-limite correspondentes ao ponto central e ao contorno.

No Quadro 4 indicam-se as expressões para o cálculo dos momentos radial (Mr) e


circunferencial(M<p) no ponto central e no contorno de painéis circulares simplesmente
apoiados e encastrados, sob a acção duma carga uniforme q. Refira-se que os momentos
M, são os que induzem tensões normais segundo a direcção radial (e correspondentes
armaduras, caso se adopte para estas uma disposição do tipo "radial + circunferencial").

Para efeitos de comparação, também se apresentam no Quadro 4 as expressões


correspondentes aos momentos principais num painel de laje quadrado (com lado 2L).
Verifica-se que para painéis encastrados no bordo e com idênticos valores de R e de L,
o painel circular apresenta menores momentos que o painel quadrado.

Laje simplesmente apoiada Laje encastrada


circular (R) quadrado (2L) circular (R) quadrado (2L)
centro Mr = + 0,200 qR2 M, = + 0,176 qL2 M, = + 0,075 qR2 Ms = + 0,084 qL2

M(f)=Mr M(f)=Mr

bordo Mr=O ----- M, = - 0,125 qR 2 Mvs = - 0,208qL2


Mq>= + 0,lOOqR2 M(f)= - 0,025 qR2

Quadro 4 - Momentos principais em lajes circulares e quadradas (carga q, v=ü,2) [2].

A disposição da armadura inferior segundo as direcções radial e circunferencial conduz


a um excessivo cruzamento de varões na zona central. Uma alternativa possível consiste
em colocar 3 grupos de varões paralelos, que se cruzam no centro, e dispôr de varões
radiais na zona mais periférica (Figura 22).

38
o

Figura 22 - Disposição de armaduras: camadas inferiores num painel circular


simplesmente apoiado e caso dum painel anelar encastrado no bordo [15].

Considere-se a distribuição radial de armaduras ilustrada na Figura 23, a qual é definida


pelo valor da área de aço por unidade de perímetro no bordo (As/a). Admita-se que o
braço do binário interno de flexão é constante (b) e que as armaduras também estão
sujeitas a uma tensão constante (fsy). Nestas condições, tendo em conta que o
afastamento entre varões num ponto genérico da laje, à distância x do centro, é dado por
a(x)=a.x/R, os momentos radiais resistentes são dados por:

(25)

Assim, a distribuição dos momentos radiais resistentes varia segundo uma hipérbole,
com um valor infinito no centro (x=o). Desta forma, verifica-se que com uma
distribuição radial de armaduras o ponto de máximo momento radial numa laje circular
simplesmente apoiada (ou seja, o ponto central) não é o ponto condicionante para
efeitos de verificação da segurança, pois, devido ao cruzamento das armaduras, a
resistência em flexão é "infinita" no centro da laje [15].

23.6

R
Figura 23 - Comparação entre momentos radiais actuantes e resistentes
(R=3,Om, t=O,20m, qsd=18kN/m2, 012/a=O,25m; Momentos em N.rnIm).

39
Considere-se, por exemplo, uma laje circular simplesmente apoiada com t=0,20m
(altura útil d=O,17m) e R=3,Om sujeita a qsd=18kN/m2. No centro, tem-se
Mr.Sd=0,200x18x3,02=32,4kN.m/m. Com uma distribuição radial de armaduras
definida por varões 012 afastados no bordo a=0,25m (As/a=4,52cm2/m), e admitindo
b=0,15m (zO,9d) e fsyd=348MPa, obtem-se Mr.Rd(X=R) = 4,52 x 34,8 x 0,15 = 23,6
kN.mJm. Conforme é ilustrado na Figura 23, constata-se que esta distribuição de
armaduras radiais é suficiente, em termos de resistência à flexão, e que a zona com
menor "folga" é uma zona intermédia da laje (ponto A na Figura 23) e não a zona
central.

A disposição de armadura em malha ortogonal é menos económica que a "radial +


circunferencial", sob o ponto de vista de quantidade de aço, mas tem vantagens em
termos de rapidez e de simplicidade de execução. Como é evidente, o cálculo desta
armadura deve ter em conta o desvio angular (no máximo, igual a 45°) entre as
direcções principais de flexão da laje e as direcções das armaduras.

Ao contrário das lajes circulares, em lajes anelares é geralmente mais simples colocar
armadura segundo as direcções radial e circunferencial, pois o problema do cruzamento
dos varões já não se coloca. Conforme se ilustra na Figura 22, no caso dum painel
encastrado no bordo exterior a armadura predominante é radial e na face superior; em
relação ao bordo interior (que se admite como não apoiado), verificam-se momentos
circunferenciais positivos - a correspondente armadura circunferencial exerce sobre o
betão um impulso radial dirigido para o interior, o qual deve ser "contrariado" através
duma armadura radial de ancoragem [15].

4.3.2) Cúpulas

• Introdução

As cúpulas de cobertura são estruturas tridimensionais curvas com espessuras


geralmente muito inferiores às dimensões em planta. Desta forma, sob o efeito de
pressões verticais aplicadas (e em especial no caso duma pressão uniforme ou pouco
variável), o comportamento estrutural duma cúpula manifesta-se essencialmente pelo
desenvolvimento de esforços contidos na superfície do folheto médio - os "esforços de
membrana".

40
As estruturas com este tipo de comportamento designam-se genericamente por
"membranas" e correspondem ao caso particular de estruturas laminares curvas
(geralmente designadas por "cascas") em que os esforços de flexão e de torção sejam
desprezáveis [21]. Em muitas situações - como é o caso das cúpulas sujeitas a uma
pressão vertical uniforme - os esforços tangenciais são nulos, ou seja, apenas se
desenvolvem esforços axiais.

Para validar a hipótese do comportamento de membrana, é necessário que se verifiquem


certas condições (algumas das quais já referidas), nomeadamente: 1) a espessura não
deve apresentar variações bruscas e deve ser muito inferior aos raios de curvatura da
superfície (Rlt>30, como ordem de grandeza); 2) o folheto médio não deve ter variações
bruscas de curvatura; 3) não devem existir cargas concentradas significativas e a carga
distribuída deve ser praticamente uniforme; 4) a intensidade da carga deve ser tal que os
deslocamentos sofridos pelo folheto médio são reduzidos (para este efeito, o quociente
entre os deslocamentos radiais e a espessura constitui um parâmetro de controle usual);
5) as condições de apoio devem ser compatíveis com o comportamento de membrana,
ou seja, as reacções devem ser tangentes ao folheto médio [3].

Esta última condição merece uma referência especial. Considere-se, por exemplo, uma
cúpula hemisférica sob a acção do seu peso próprio (Figura 24-a). O funcionamento por
"efeito de arco" manifesta-se em tensões meridionais de compressão (NI>, as quais se
transmitem directamente à superfície de apoio; por outro lado, em correspondência com
a tendência da cúpula para "abrir" na base (a qual se traduz num aumento do perímetro
de apoio se tal não fôr restringido), desenvolvem-se na base tensões de tracção (Nu)
perpendiculares às meridionais.

~
~- (el (d)
(o) (b)

Figura 24 - Comportamento de cúpulas sob cargas verticais uniformes [3].

As Figuras 24-b, c e d traduzem casos de cúpulas esféricas parciais. No primeiro caso, a


reacção de apoio é tangente ao folheto médio, pelo que não é violado o comportamento
de membrana. Uma diferença importante a registar, relativamente ao caso da cúpula
hemisférica, consiste no facto das tensões Nu poderem ser de compressão, o que se
verifica em casos com ângulo de abertura reduzido.

4l
A Figura 24-c ilustra uma situação em que a reacção de apoio apenas pode ser vertical -
neste caso, com base em simples considerações de equilíbrio, conclui-se que não é
possível gerarem-se apenas esforços de membrana na cúpula - também se desenvolvem
esforços de flexão (nomeadamente esforços transversos e correspondentes momentos
meridionais) associados à componente "fora do plano" da reacção de apoio.

Para além da situação ilustrada na Figura 24-b, a qual é de difícil implementação


prática, uma forma de possibilitar que uma cúpula parcial, em funcionamento de
membrana, possa transmitir ao sistema de apoio a componente horizontal da sua
compressão meridional, consiste em definir uma cinta anelar no apoio (Figura 24-d).

Nestas condições, o impulso horizontal da cúpula funciona sobre a cinta como uma
pressão radial dirigida para o exterior, desenvolvendo-se nesta um esforço axial de
tracção. Note-se, a propósito, que a ligação monolítica duma cúpula a uma parede
cilíndrica funciona de certa forma como um apoio com cinta anelar.

No entanto, para além do equilíbrio entre os esforços de membrana e as reacções de


apoio, as deformações cn=Nn/t no bordo da cúpula devem ser iguais à extensão
circunferencial na cinta anelar. Em consequência desta condição de compatibilidade, é
praticamente inevitável que surjam alguns efeitos de flexão na base das cúpulas [25].

Estes efeitos de flexão são pouco significativos no caso de cúpulas pequenas mas
podem ter algum significado em cúpulas grandes. Nesse caso, uma solução simples
consiste em aumentar a espessura da cúpula junto à base; outras soluções possíveis
consistem em definir a cúpula com meridianos em forma de arcos de elipse ou de
ciclóide, o que permite ter cúpulas abatidas com tangente meridiana vertical (ou pelo
menos pouco inclinada) no contorno. No entanto, as soluções deste tipo são menos
usuais devido a dificuldades de execução (por exemplo, a colocação correcta da
cofragem, no caso de cúpulas em betão armado) [3].

Existem inúmeros tipos de membranas para além das cúpulas esféricas, as quais são
apenas um caso particular de membranas de revolução. Com efeito, existem membranas
de curvatura simples - cilíndricas e cónicas, por exemplo - e outros tipos de membranas
de curvatura dupla para além das esféricas, tais como os hiperbolóides hiperbólicos e,
no domínio das membranas de revolução, as cúpulas parabólicas, elípticas ou em
ciclóide.

42
• Cálculo dos esforços

Uma superfície gerada pela rotação duma curva plana em torno dum eixo contido no
plano da curva designa-se por "superfície de revolução". A curva geratriz corresponde a
um "meridiano" e pode ter uma geometria arbitrária, desde que esteja contida num
plano. As calotes esféricas são superfícies de revolução geradas por um meridiano com
forma de arco de círculo e têm um particular interesse no domínio dos reservatórios.

Considere-se uma cúpula esférica (raio R) com espessura constante t e sujeita em toda a
sua superfície a uma pressão vertical uniforme. Devido às características de simetria da
cúpula e do carregamento, num elemento genérico de superfície delimitado por dois
arcos de meridiano e por dois arcos de paralelo (elemento MNPQ na Figura 25) não
existem esforços de membrana tangenciais; por outro lado, os esforços normais
(meridionais - NI e segundo os paralelos - NU) são constantes ao longo dum mesmo
paralelo, ou seja, apenas dependem da cota z:

Figura 25 - Cúpula esférica (retirado de [18]).

Indique-se por qn a componente da pressão exterior segundo a normal ao elemento


(considera-se como sentido positivo o que aponta para o centro de curvatura) e
designem-se por ds<p e por dse respectivamente os comprimentos dos arcos centrais de
meridiano e de paralelo. Note-se que dSqFRdcp e dse=Rsen(<p)d8, em que cp e 8
correspondem a ângulos ao centro do tipo "latitude" e "longitude", respectivamente.

Conforme se ilustra na Figura 25, tanto NI como Nu contribuem para equilibrar a força
resultante da pressão qn (Zn = qn ds<pdse). Projectando todas as forças que actuam no
elemento MNPQ sobre a direcção normal à superfície, e desprezando termos de ordem
superior, obtem-se a seguinte equação de equilíbrio:

43
o valor de NI pode ser determinado a cada nível considerando simplesmente o
diagrama de corpo livre da calote acima do paralelo em causa. Sendo Z a resultante das
pressões que actuam nesta calote, e tendo em conta que o perímetro do paralelo de base
é dado por (2nR senrp), tem-se que:

I
NI (2nR sen2<p) + Z = O => . NI = - 2nR Zsen2<p I (27)

Estas duas equações permitem por si só calcular a distribuição dos esforços NI e Nu. Na
Figura 26 ilustra-se a distribuição destes esforços numa cúpula esférica de espessura
constante devidos ao efeito do peso próprio da cúpula (q=')'t - peso por unidade de
superfície) e ao efeito duma carga uniforme em projecção horizontal (como sejam, por
exemplo, a sobrecarga de cobertura ou a correspondente à acção da neve, tal como são
definidas no RSA). As expressões para cálculo dos esforços são indicadas no Quadro 5.

V\.)
v

r.g r.g
2

Figura 26 - Esforços numa cúpula esférica devidos a cargas uniformes em superfície (a)
e uniformes em projecção horizontal (b) [18].

Carga uniforme em superfície (pp) Carga uniforme em nroi. horiz. (neve)


qn q cosúp) q cos2<f,l
Z q 2nR 2 (l-cosrp) q nR2 sen2Q)
NI g.R g1S.
- -
(1 +coso) 2
g:R
Nu - q R (cos<p - I I ;) - q .Rcos-o + qiR = - 2 cos(2<p)
+cos<p
Quadro 5 - Expressões para o cálculo dos esforços NI e Nu em cúpulas esféricas [25].

Em ambos os casos ilustrados, o esforço meridional na cúpula (Nr) é sempre de


compressão, o que aliás corresponde ao "efeito de arco". Por outro lado, regista-se uma
inversão de sinal no esforço Nu - devido ao efeito do peso próprio, por exemplo, a base
duma cúpula apresentará tracções caso o ângulo de abertura seja superior a cerca de 52°;
para uma carga como a da neve, este ângulo de transição é igual a 45°.

44
As cúpulas de cobertura em reservatórios apresentam por vezes um lanternim no topo, o
qual, para além de poder apresentar algumas aberturas destinadas a ventilação, permite
também o acesso ao interior do reservatório. O cálculo de cúpulas esféricas com
lanternim é relativamente simples, existindo também expressões analíticas para os
esforços desenvolvidos [18,25].

As equações de equilíbrio 26 e 27 correspondem ao comportamento dum caso particular


de membranas de revolução - as cúpulas. Em geral, as equações de equilíbrio numa
membrana de revolução têm a seguinte forma [25]:

NI Nu
R I + -RII + qn =0
(28a)

(28b)

sendo RI o raio de curvatura do meridiano no ponto em causa e Rn o comprimento do


segmento da normal à superfície que está contido entre o eixo de revolução e a
superfície (note-se que RI e Rn são os raios de curvatura associados às direcções
principais de curvatura da superfície no ponto em causa).

Estas equações gerais de equilíbrio podem ser aplicadas, em particular, a membranas


cónicas e cilíndricas, nas quais se verifica a condição RFO (=> Nu = - qnRn).

É importante salientar que, nas condições atrás referidas, os esforços de membrana são
obtidos com base apenas nas equações de equilíbrio. Assim, é possível estabelecer uma
analogia entre analisar uma estrutura do tipo casca como uma membrana, ignorando os
efeitos de flexão e de torção, e analisar uma estrutura reticulada hiperestática com base
num sub-sistema estrutural isoestático (um "sistema-base") - por exemplo, analisar uma
treliça como um conjunto de barras bi-articuladas,

De facto, em ambos os casos é adoptada uma atitude semelhante - obter uma


distribuição dos esforços "principais" que equilibre as cargas aplicadas e desprezar os
esforços "secundários" (no caso da treliça, os esforços "principais" são os esforços
normais nas barras e ignoram-se os momentos transmitidos pelos nós de ligação, os
quais não são exactamente nulos mas podem geralmente ser desprezados no cálculo
global da estrutura).

45
• Exemplo de aplicação

Considere-se o reservatório elevado do tipo fungiforme, em betão armado, ilustrado na


Figura 27. A cúpula esférica do topo tem uma flecha f= 1,30m e apoia-se na parede
cilíndrica através duma cinta anelar com diâmetro 0=1O,Om (refira-se que em
reservatórios deste tipo era usual adoptar cúpulas com um abatimento f/0::=:1I8 [6]).

5.00 5.00
o
o
<ri

0.08 0.08

Figura 27 - Reservatório elevado do tipo fungiforme (retirado de [6]).

o raio e o ângulo de abertura da cúpula (R e <p,respectivamente) podem ser calculados


com base em simples considerações trigonométricas, obtendo-se:

Raio da superfície de apoio Ro = 0 / 2 = 5,00m

R~+f2 5002 + 1 302


Raio da cúpula R = 2f = , 2x130
, = 10,27m

Ângulo de abertura da cúpula <p=2tg


-1( f
Ro)=2tg
1 -1(1,30\
5,00)=29,1°

46
Para as acções correspondentes ao peso próprio da cúpula, aum revestimento da
superfície com valor q=0,5kN/m2 e a uma sobrecarga s=1,OkN/m2 (em projecção
horizontal), as expressões apresentadas no Quadro 5 conduzem aos seguintes esforços
na base da cúpula:

2,5xl0,27 1,Oxl0,27
= - 1+cos(29, 1O) 2 = -13,7 - 5,1 -18,8 kN/m

o 1 ) 1,OxlO,27 o
NII.b = - 2,5xlO,27 ( cos(29,1) - 1+cos(29,lO) - 2 cos(2x29,1 ) = -11,4 kN/m

Assim, o impulso exercido pela cúpula sobre o anel de apoio é definido por:

- Componente vertical Qv = NI.b sen(<p) = 9,1 kN/m (dirigido "para baixo")


- Componente horizontal Qh = NI.b cos(<p) = 16,5 kN/m (dirigido "para fora")

Relativamente ao esforço axial de tracção que se desenvolve no anel de apoio da cúpula,


devido ao impulso horizontal desta, obtém-se:

N<p = Qh Ro = 16,5 x 5,00 = 82,5 kN

5. ACÇÕES

Duma forma geral, as acções a considerar no dimensionamento de reservatórios são as


indicadas no RSA, pelo que, no presente texto, apenas serão referidos alguns aspectos
particulares relativos a acções neste tipo de estruturas.

5.1) Impulso estático

o impulso estático que é exercido sobre as paredes e a laje de fundo pelo fluido
armazenado num reservatório depende do peso volúmico do próprio fluido (y). No
Quadro 6 apresentam-se valores usuais da massa volúmica de diversos fluidos (p=y/g).

No caso de reservatórios múltiplos não é forçoso, à partida, considerar em simultâneo


todos os compartimentos como cheios. Na verdade, para cada elemento estrutural em
particular (uma determinada parede, por exemplo), deve ser analisada a distribuição
mais desfavorável de fluido pelos diversos compartimentos.

47
Fluido p (ton/mô)
Agua potável 1000
Aguas residuais 1050 a 1100
Alcool 780 a 820
Azeite 920 a 970
Cerveja 1020 a 1040
Gasolina 750 a 810
Leite 1030
Petróleo 780 a 950
Vinho 950 a 1000
Quadro 6 - Massa volúmica de alguns fluidos [13, 18].

Refira-se ainda que num reservatório enterrado deve ser contemplada a actuação do
impulso lateral do terreno na situação de o reservatório se encontrar vazio - esta
situação é relevante para o dimensionamento das armaduras verticais no lado exterior da
parede, por exemplo.

5.2) Retracção

De acordo com o REBAP, os efeitos da retracção do betão podem geralmente ser


assimilados aos dum abaixamento lento e uniforme de temperatura média. Se este
procedimento fosse aplicado a reservatórios abertos ou com cobertura ligada às paredes
por uma junta deslizante, os esforços provocados na estrutura seriam em geral pouco
significativos, pois a contracção térmica ocorreria praticamente sem restrições em toda
a estrutura (em reservatórios cilíndricos, por exemplo, a zona de excepção relativamente
a este comportamento seria a de ligação da parede à laje de fundo).

De facto, esta simplificação em relação ao cálculo dos efeitos da retracção é demasiado


grosseira no caso de reservatórios, pois as condições de exposição da parede e do fundo
são substancialmente diferentes.

No entanto, a quantificação "exacta" dos esforços internos provocados pela retracção


diferencial ultrapassa claramente o âmbito do presente texto. Refira-se apenas q\le uma
forma importante de controlar os efeitos da retracção (e que aliás é aplicável a todas as
deformações impostas) consiste na definição de afastamentos reduzidos entre os varões
e de quantidades mínimas de armadura. No caso de reservatórios com grandes
dimensões em planta, uma localização criteriosa das juntas contribui igualmente para
limitar estes efeitos.

48
5.3) Acção térmica diferencial

As diferenças de temperatura entre as faces exterior e interior dos elementos, devidas


por exemplo à acção solar ou ao armazenamento de fluidos a altas temperaturas, podem
conduzir a tensões significativas e eventualmente provocar fendilhação, facto este que
em reservatórios obviamente convém controlar.

Conforme já foi transmitidos na disciplina Dimensionamento de Estruturas, a


distribuição de temperaturas T(x) ao longo da espessura dum elemento pode ser
decomposta na soma de 3 parcelas: uma componente média - com a mesma "área" que a
do diagrama T(x), uma componente linear com o mesmo "momento de inércia" que o
diagrama original e definida por um diferencial ~T, e uma terceira componente, igual à
diferença entre o diagrama T(x) e a soma das componentes média e linear. Esta terceira
componente é geralmente não linear e designa-se por "auto-equilibrada", justamente por
a sua "área" e o seu "momento de inércia" serem nulos.

As tensões associadas ao diferencial térmico devem ser avaliadas no projecto de


reservatórios em betão armado, em particular para o controle da fendilhação. No caso
duma parede cilíndrica, por exemplo, os momentos circunferenciais (Mcp) provocados
por um diferencial térmico na espessura (~T) podem ser avaliados através de:

(29)

Nesta expressão, a é o coeficiente de dilatação térmica linear e D é um coeficiente de


rigidez de flexão, o qual depende do estado de tensão que está instalado na parede e ao
qual o diferencial térmico é sobreposto (em termos de combinação de acções). Caso a
parede não esteja fendilhada e tenha duas camadas iguais de armadura circunferencial,
com um recobrimento indicado por c, pode considerar-se:

t3 n, Ct-2c )2]
D = n, [12 + Ec Ph t 2 (30)

em que Ec e E, representam os módulos de elasticidade do betão e do aço,


respectivamente, e Ph é a percentagem total de armadura circunferencial. O termo entre
parentesis corresponde ao momento de inércia da secção homogeneizada em estado não
fendilhado (Ir); nestas condições, o correspondente módulo elástico de flexão obtem-se
através de:

49
11
= t/2 (31)

Para uma dada combinação de acções, a que correspondem um momento


circunferencial total M<p.Sd e um esforço normal N<p.Sd (considerado posítivo caso seja
de tracção), pode admitir-se que a secção se comporta como em estado não-fendilhado
caso se verifique a relação:

(32)

sendo fet um valor previamente fixado para a resistência à tracção do betão. É


importante salientar que as tensões de origem térmica não são em geral desprezáveis - a
título de exemplo, considerando Ee=30GPa e u= 1O-SOC-],as tensões nas faces duma
parede cilíndrica associadas a um diferencial L.\T=lO°C assumem valores na ordem de
I ()max = EcCU.Ll T)/21 = 1,5MPa. Como é evidente, um valor com esta ordem de grandeza

não é irrelevante face aos valores da tensão resistente à tracção dos betões usuais.

5.4) Acção sísmica

Os efeitos da acção sísmica em reservatórios podem ser agrupados em três níveis


distintos:
- efeitos associados à massa estrutural;
- efeitos associados à massa líquida;
- efeitos associados ao terreno envolvente.

Os efeitos associados à massa estrutural são analisados da mesma forma que noutros
tipos de estruturas, não havendo especificidades significativas que justifiquem uma
atenção especial neste texto para além duma breve referência ao coeficiente de
comportamento. Por outro lado, os efeitos associados ao terreno envolvente são
particularmente importantes no caso de reservatórios enterrados e devem ser referidos;
no entanto, a sua análise cai fora do âmbito do presente texto. Assim, apenas serão
abordados os aspectos associados ao comportamento dinâmico da massa líquida, os
quais são específicos da análise de reservatórios.

Na avaliação dos efeitos da acção sísmica em reservatórios não deve ser ignorado, à
partida, o comportamento oscilatório próprio do líquido. Por outro lado, é geralmente

50
conservativo admitir que a totalidade da massa de água armazenada se comporta como
um corpo rígido, oscilando solidariamente com a cuba - com efeito, este tipo de
comportamento pode ser admitido mas apenas para uma parcela da massa líquida.

Uma solicitação sísmica provoca vibrações não só da estrutura mas também do líquido
armazenado (sloshing, na nomenclatura anglo-saxónica), de que o efeito mais visível é a
geração de ondas à superfície do líquido. Estas ondas são responsáveis por
sobrepressões hidrodinâmicas nas paredes e, no caso da água, correspondem a modos
anti-simétricos de vibração do líquido excitados pelas componentes de baixa frequência
da solicitação sísmica.

Com efeito, da mesma forma que as estruturas em geral, também a massa líquida num
reservatório apresenta modos próprios de vibração, verificando-se que os modos mais
"simples" (em termos de configuração) são geralmente caracterizados por frequências
com valores reduzidos. Esta característica é ilustrada na Figura 28, na qual se
apresentam as frequências próprias (resultados experimentais) e as configurações dos
modos de vibração da água num reservatório cilíndrico com R=H=9,14m - constata-se
que a frequência fundamental de vibração vale apenas f=0,135Hz.

Prototype Dimensions :
Ro • 60 ft I 18.29 m )
H • 30 ft I 9.14 m )

Prototype 1130 Medel


n Mede Shape
Freg. , Hz Freq. ,Hz

4
0.135

0.268

0.339

0.397
0.738

1.467

1.856

2.174
==
!&"~"".&tL
I
l{~~~$.~-%~~~
J

Figura 28 - Frequências próprias e modos de vibração da água num reservatório


cilíndrico com R=H=9,14m (retirado de [10]).

III

o método que se descreve em seguida foi originalmente desenvolvido por Housner [11]
para reservatórios ao nível do solo (ou enterrados) e pode ser aplicado a reservatórios
elevados, embora com algumas adaptações que posteriormente serão referidas. Embora
seja bastante elaborado em termos de formulação teórica, este método conduz a
expressões com aplicação relativamente simples.

51
Com base num conjunto extenso de hipóteses, das quais se referem - 1) o líquido é
incompressível e invíscido, 2) o movimento associado às vibrações do líquido
processa-se em regime laminar, 3) as deformações das paredes do reservatório devidas
aos impulsos exercidos pelo líquido são desprezáveis, 4) a excitação sísmica e as
correspondentes pressões hidrodinâmicas exerci das sobre as paredes são apenas
segundo a direcção horizontal, 5) apenas é considerado o primeiro modo de vibração do
líquido e admite-se que a sua frequência tem um valor bem separado da frequência
fundamental de vibração da estrutura, 6) não se consideram os efeitos associados a
modos de vibração vertical - é possível analisar o fenómeno decompondo as
sobrepressões hidrodinâmicas nas duas parcelas seguintes:

• Urna parcela associável a urna porção "inerte" de líquido, solidária com as oscilações
da cuba. Esta parcela designa-se por "parcela de impulsão" (Pj);

• Uma parcela associável às vibrações próprias do líquido (ou seja, vibrações distintas
das da cuba). Esta parcela designa-se por "parcela de oscilação" (Po).

Os esforços na estrutura devidos à acção sísmica resultam da vibração da própria


estrutura e destas sobrepressões hidrodinâmicas (de impulsão e de oscilação). Refira-se,
a propósito, que os mecanismos de dissipação de energia de natureza não-elástica são
limitados no caso das estruturas usuais de reservatórios enterrados ou ao nível do solo,
pelo que o coeficiente de comportamento a adoptar na análise sísmica deste tipo de
estruturas ('11, na simbologia do RSA) deve ter um valor próximo da unidade (como
ordem de grandeza, 1l:::;;1 ,5).

As resultantes das pressões hidrodinâmicas são forças horizontais, indicadas por Fi e


por Fo, e têm um carácter de forças de inércia, pelo que podem ser entendidas como o
produto duma massa por uma aceleração. Esta aceleração, por seu turno, pode ser
identificada com o valor do espectro de resposta da acção sísmica (Sa), definido em
termos de acelerações horizontais relativas, correspondente ao tipo do terreno de
fundação e a valores apropriados de frequência própria (ro) e de coeficiente de
amortecimento (Ç).

Assim, para a "parcela de impulsão", a frequência própria a considerar indica-se por COe

e corresponde à do conjunto "cuba + massa inerte de líquido"; para o coeficiente de


amortecimento podem admitir-se os valores usuais para análise sísmica de estruturas
(na ordem de Ç=5% para estruturas em betão armado, por exemplo).

52
Relativamente à "parcela oscilante", deve ser considerada a frequência fundamental de
vibração da massa de líquido armazenado (ffio); o coeficiente de amortecimento
correspondente a estas vibrações (So) é substancialmente inferior aos valores
usualmente adaptados em estruturas - como ordem de grandeza, refere-se o valor
So=0,5% indicado na referência [10] para reservatórios de água.

Esta metodologia de avaliação das "forças horizontais equivalentes" resulta nas


seguintes expressões:

(33)

Note-se que as massas M; e Mo devem ser entendidas como massas equivalentes, pois
são definidas apenas com o objectivo de, quando multiplicadas pelas acelerações
espectrais, conduzirem directamente às resultantes Fi e Fo. Assim, M; e Mo são massas
fictícias e a sua soma não é necessariamente igual à massa total M do líquido
armazenado (isto é, em geral M; + Mo * M).
As "pressões de impulsão" são particularmente importantes em reservatórios pouco
esbeltos. Num reservatório de base rectangular sujeito a acelerações sísmicas paralelas a
dois dos lados da base, cujo comprimento total é indicado por 2L (Figura 29), a
distribuição em altura das pressões de impulsão que são exercidas sobre cada uma das
duas paredes é expressa por [10]:

(34)

sendo p a massa volúmica do líquido (:::::1000kg/m3, no caso da água), H a altura total do


líquido e th(x) = (eX-e-X)/(ex+e-X)a função "tangente-hiperbólica".

~ ..
ti....,
~ c ---1"--/ ----AL
L L
Figura 29 - Distribuição das pressões de impulsão num reservatório de base rectangular.

53
Com base nesta distribuição de pressões (a qual, em rigor, foi estabelecida para
reservatórios pouco esbeltos, tais que H<1,5L), obtem-se o seguinte resultado para a
força total resultante (por unidade de largura de parede):

H
th(-{3 LIH)
Fi = 2 J Pj(z)dz = SaCroc) (p2LH) -{3 LIH (35)
O

Tendo em conta que o termo (p2LH) corresponde à massa total de líquido por unidade
de largura do depósito (M), é possível calcular a massa de impulsão num reservatório de
base rectangular através de:

th(-{3 LlH)
(36)
0L1H M

Num reservatório cilíndrico, as pressões hidrodinâmicas exercem-se em todo o contorno


e perpendicularmente às paredes (Figura 30), pelo que, para além da variação em altura,
também há que considerar a distribuição em planta.

v
Ij
R

Figura 30 - Distribuição das pressões de impulsão num reservatório cilíndrico.

Designando por 8 o ângulo ao centro relativamente à direcção da solicitação sísmica, a


distribuição espacial das pressões de impulsão é dada por (Nota: admite-se que H<1,5R):

(37)

ou seja, a distribuição de pressões em cada nível z é igual ao produto do termo cos(8)


pela pressão correspondente a um reservatório de base rectangular com L=R. A força
resultante destas pressões tem a direcção da solicitação sísmica e obtem-se por:

S4
21t H

Fj = J J Pj(z,8)cos(8)dz.Rd8 (38)
O O

Assim, tendo em conta que o termo (pn:R2R) corresponde à massa total de líquido
armazenado (M), a massa de impulsão num reservatório cilíndrico relaciona-se com M
através da mesma expressão que nos reservatórios de base rectangular, ou seja:

th(~ RIR)
(39)
-fi RIR M

Para além da sua intensidade, é conveniente definir a linha de acção da força resultante.
Em ambos os casos, a distribuição das pressões de impulsão conduz a Hj=3/8H, sendo
H, medido a partir do fundo.

Para a análise das condições de estabilidade global do reservatório em relação ao


derrubamento, devem também ser contempladas as pressões hidrodinâmicas exercidas
sobre a laje de fundo. Em termos numéricos, este efeito pode ser simulado à custa das
mesmas forças horizontais resultantes (Fi e Fo) aplicadas a níveis com alturas
*
equivalentes (Ri* e Ro)'

Relativamente às "parcelas oscilantes", obtêm-se os seguintes resultados [10]:

Reserv. rectangular (lado 2L) Reserv. cilíndrico (raio R)


massa th( -{5i2 RIL) th(~ RIR)
oscilante
Mo = 0,833 --J512 HIL M Mo = 0,586 --J27/8 HlR M

freq. fundam.
de oscilação do Cü~ = g/L --J512 th("512 HIL) Cü~ = g/R "27/8 th( "27/8 RIR)
líquido (rad/s)
inclinação
máxima das
8max =
ondas (rad.)

0,408 R
aItura máxima dmax = (" a 0,52)7 L dmax
2 b - 1 th(~HIL)
atingida pelas woGmaxL
ondas (m)

ss
Os Quadros 7 e 8 apresentam os valores assim obtidos para diversos parâmetros em
reservatórios de base circular e rectangular, em função da esbelteza. Os quocientes
M/M e Mo/M ilustram-se na Figura 31 para ambos os tipos de estruturas, sendo
evidente a relação entre estes coeficientes e a esbelteza do reservatório.

H/R Mj/M Hi/H H:1 /H Mo/M Ho/H H* /H co~Rlg


o
0.1 0.058 0.375 8.535 0.579 0.501 30.260 0.334
0.2 0.115 " " 4.205 0.561 0.506 7.821 0.646
0.3 0.173 " " 2.762 0.533 0.512 3.675 0.921
0.4 0.231 " " 2.041 0.499 0.521 2.233 1.150
0.5 0.288 " " 1.610 0.463 0.532 1.576 1.332
0.6 0.344 " " 1.327 0.426 0.545 1.229 1.472
0.8 0.450 " " 0.986 0.359 0.574 0.908 1.653
1 0.542 " " 0.797 0.303 0.605 0.785 1.746
1.25 0.637 " " 0.660 0.250 0.644 0.734 1.800
1.5 0.710 " " 0.580 0.211 0.680 0.727 1.822
2 0.808 " " 0.494 0.159 0.741 0.755 1.835
3 0.902 " " 0.429 0.106 0.820 0.821 1.837
4 0.942 " " 0.406 0.080 0.864 0.864 1.837
5 0.962 " " 0.395 0.064 0.891 0.891 1.837

Quadro 7 - Coeficientes para reservatórios cilíndricos (H - altura de líquido; R - raio).

H/L Mj/M Hj/H H:I /H Mo/M Ho/H H*o /H co~Llg


0.1 0.058 0.375 8.535 0.826 0.501 40.393 0.248
0.2 0.115 " " 4.205 0.806 0.504 10.354 0.484
0.3 0.173 " " 2.762 0.776 0.509 4.798 0.698
0.4 0.231 " " 2.041 0.737 0.516 2.860 0.885
0.5 0.288 " " 1.610 0.694 0.524 1.972 1.042
0.6 0.344 " " 1.327 0.649 0.534 1.496 1.169
0.8 0.450 " " 0.986 0.561 0.557 1.043 1.348
1 0.542 " " 0.797 0.484 0.583 0.856 1.453
1.25 0.637 " " 0.660 0.406 0.617 0.761 1.522
1.5 0.710 " " 0.580 0.345 0.650 0.730 1.554
2 0.808 " " 0.494 0.262 0.709 0.736 1.575
3 0.902 " " 0.429 0.176 0.793 0.796 1.581
4 0.942 " " 0.406 0.132 0.842 0.843 1.581
5 0.962 " " 0.395 0.105 0.874 0.874 1.581

Quadro 8 - Coeficientes para reservatórios de base rectangular (H - altura de líquido; 2L


- comprimento dos lados paralelos à direcção da acção sísmica).

56
1.000

->: --
\ -:
<,
0.800

0.600 --Mi/M
/

0.400 ' ' '\.> .~-, ••.••


--
Mo/M (circ.)
Mo/M (rect.)

0.200
I" " '.
-,
<..,
--- r-----------
...... - - .•....
0.000
/ • a _ •• _ •••••

.• - - . - ..
O 2 3 4 5 H/R ou H/L

Figura 31 - Coeficientes Mj/M e MolM em reservatórios de base circular ou rectangular.

Note-se que as colunas dos termos correspondentes à parcela de impulsão


(nomeadamente Mj, H, e H;) são idênticas nos dois quadros, ou seja, os efeitos de
impulsão num reservatório cilíndrico com raio R e altura Hc têm valores relativos iguais
aos registados num reservatório de base rectangular com semi-dimensão L e altura H,
caso se verifique que HclR=HrlL.

o controle da altura máxima atingida pelas ondas é importante para a definição da


altura de parede acima do nível máximo da água em condições de repouso. No caso de
reservatórios cobertos, esta altura corresponde obviamente a uma folga entre a
superfície livre da água e a laje (ou eventualmente vigas) de cobertura.

o cálculo da altura máxima das ondas e da força de oscilação (Fo) envolve o


conhecimento do espectro de resposta da acção sísmica para níveis de amortecimento
reduzidos. A título ilustrativo, na Figura 32 apresentam-se os espectros de resposta
correspondentes à zona sísmica A, ao terreno do tipo II e à acção sísmica do tipo 2
(conforme é indicado no RSA) e para dois níveis de amortecimento - S=O,5% e S=5%.

A frequência do modo de vibração fundamental da água em reservatórios enterrados ou


ao nível do solo tem geralmente valores muito reduzidos. Desta forma, a correspondente
aceleração espectral - Sa(Ulo) - e as sobrepressões de oscilação assumem valores
moderados. Esta característica de "baixa frequência" da água oscilante (que já atrás foi
referida e ilustrada na Figura 28) é também ilustrada no Quadro 9, no qual se indicam
os valores da frequência (fo=ffio/(2n:» correspondentes a reservatórios de água com
altura H=5,Om e para diversas esbeltezas.

57
10

-- - -
Iç = 0,5% L---
I-"'"
---
- ------ l--"""
~

- --
Ç=5%j

0.1
0.1 Frequência f (Hz)

Figura 32 - Espectros de resposta para S=ü,5% e S=5% (zona sísmica A


e acção sísmica do tipo 2).

Reserv. cilíndricos Reserv. de base rectangular


H/R C (m-') (O~ Rlg r, (Hz) H/L O)~ Llg fo (Hz)
0.2 '" 10000 0.646 0.08 0.2 0.484 0.07
0.5 ""1600 1.332 0.18 0.5 1.042 0.16
1 '" 400 1.746 0.29 1 1.453 0.27
1.5 ""175 1.822 0.37 1.5 1.554 0.34
2 '" 100 1.835 0.43 2 1.575 0.49
Quadro 9 - Frequência do modo fundamental de vibração da água em reservatórios
cilíndricos (C - capacidade, H = 5,am).

Por outro lado, a rigidez da cuba para movimentos horizontais é geralmente muito
elevada, de que resultam valores igualmente elevados para a frequência CUc. Desta
forma, a aceleração espectral Sa(ffic,Sc), interveniente na parcela de impulsão e na
parcela da "força sísmica" asssociada à massa estrutural, assume valores praticamente
iguais aos extremos da aceleração horizontal do terreno ao nível da superfície (am). No
Quadro 1Ü apresentam-se os valores de am correspondentes à zona sísmica A, aos
diversos tipos de terreno (I, TI e Ill) e às acções sísmicas do tipo 1 e 2, conforme a
nomenclatura utilizada no RSA.

Terreno do tipo I Terreno do tipo II Terreno do tipo III

Acção sísmica do tipo 1 1,78 1,52 1,27

Acção sísmica do tipo 2 1,07 1,07 1,08


Quadro 10 - Aceleração de pico do solo (m/s2) correspondente à zona sísmica A.

58
III

Em face do exposto, para analisar o efeito hidrodinâmico num reservatório sujeito à


acção sísmica é possível idealizar um modelo constituído pela estrutura da cuba e por
duas massas fictícias, M; e Mo, ligadas à cuba ao nível das linhas de acção das
resultantes devidas às sobrepressões de impulsão e de oscilação (alturas H; e Ho,
respectivamente). A ligação à cuba da massa M, é infinitamente rígida, enquanto que a
Iigação da massa Mo é flexível. Estas características são ilustradas esquematicamente na
Figura 33, na qual a massa Mi é ligada à cuba por uma barra rígida e a massa Mo é
ligada por molas lineares. A rigidez total destas molas para deslocamentos segundo a
direcção da solicitação sísmica (Ko) deve ser tal que KaIMo = ü.)~.

-i-,

I~:~~~~=
, dmox

~_~~~
i, T

Figura 33 - Representação esquemática do comportamento hidrodinâmico.

Note-se que este modelo simplificado não deve ser encarado como um modelo de
cálculo para os esforços na cuba mas antes como uma ilustração do método de análise
em causa. Com efeito, se este modelo fosse considerado para o cálculo dos esforços,
obter-se-iam efeitos localizados na parede muito elevados ao nível da ligação das
massas M; e Mo, em resultado das forças de inércia serem transmitidas à cuba como
forças concentradas; no entanto, estes esforços localizados não têm contrapartida real,
pois as sobrepressões dinâmicas na parede actuam efectivamente em toda a sua altura -
as forças concentradas atrás referidas correspondem apenas às resultantes de impulsão e
de oscilação das sobrepressões dinâmicas.

59
Um modelo de cálculo que é consistente com o que foi exposto relativamente aos
efeitos hidrodinâmicos consiste em simular a parede através duma malha de elementos
finitos (do tipo "casca" ou simplesmente por "barras", constituindo uma grelha) e
considerar um carregamento estático definido pelas sobrepressões hidrodinâmicas com
a distribuição espacial atrás indicada.

III

No caso de reservatórios esbeltos, definidos no presente contexto por H/R (ou H/L) >
1,5, os resultados obtidos pelo método de Housner são menos precisos. Em geral, a
parcela de oscilação pode ser calculada da mesma forma que em reservatórios com
H/R<I,5; no entanto, em relação à parcela de impulsão, verifica-se que abaixo duma
determinada cota no reservatório toda a massa líquida se comporta duma forma "inerte",
ou seja, como se estivesse rigidamente ligada à cuba.

Para efeitos de cálculo, pode admitir-se que esta porção inferior de líquido rigidamente
ligado à cuba é delimitada pelo nível que está a uma distância da superfície livre igual a
1,5R (ou 1,5L); a massa correspondente, indicada por M~, adiciona-se directamente á
massa da cuba, e a força de inércia que lhe está associada pode aplicar-se ao nível do
seu centro de gravidade, à cota H~ = (H-l ,5R)/2 medida a partir do fundo (Figura 34).

\.5 R H~ 1
d.

H
H·I

~H;~

J' ..r ..,v


Q rz
Figura 34 - Parcela de impulsão num reservatório esbelto (H/R> 1,5).

Em relação à restante massa líquida, pode aplicar-se o método atrás descrito para
calcular a correspondente massa de impulsão (Mi) e o seu posicionamento (altura Hi)
considerando um reservatório fictício com uma altura igual a 1,5R. A massa total de
impulsão, e respectivo posicionamento, obtêm-se finalmente através de:

60
M·I = M<:X
I
+ M~I (40)

RI (41 )

As situações com HIR (ou HIL) > 1,5 não são correntes em reservatórios de água
destinados a abastecimento público. No entanto, deve referir-se que em tais casos o
método de Housner pode conduzir a sobredimensionamentos exagerados; uma
alternativa possível consiste em recorrer a métodos mais precisos (embora de aplicação
menos simples), como por exemplo o método de Hunt-Priestley [17].

III

Em reservatórios elevados deve ser considerado o efeito de "filtragem" provocado pela


estrutura de suporte, o qual altera as características das acelerações que são impostas à
base do depósito. Embora o método de Housner tenha sido desenvolvido para
reservatórios enterrados ou ao nível do solo, considera-se geralmente razoável aplicar
um procedimento semelhante a reservatórios elevados.

Uma diferença importante que deve ser tida em conta diz respeito à frequência ffic. Com
efeito, esta frequência deve agora traduzir a rigidez para deslocamentos horizontais da
estrutura de suporte, pelo que a aceleração espectral Sa(c.oç)não pode ser directamente
identificada com a aceleração de pico do terreno.

Num formato muito simples, mas ilustrativo das diferenças em jogo, as frequências
fundamentais do conjunto "estrutura+massa líquida" podem obter-se com o modelo de 2
graus de liberdade ilustrado na Figura 35, na qual se indica por Kp a rigidez da estrutura
de suporte de cuba (quer seja um conjunto de pilares ou um único fuste) e por
Ko = c.o;Moa rigidez duma mola fictícia que liga a massa de oscilação do líquido (Mo) à
massa M; (igual à soma da massa da cuba com a massa de impulsão do líquido).

Figura 35 - Modelo simplificado dum reservatório elevado.

61
As matrizes de rigidez e de massa correspondentes a este modelo simplificado são as
seguintes:

M~
1
M= (42)

Com este modelo é possível obter duas frequências propnas de vibração, 001 e 0:>.2.
Considerando 001 <on, a frequência correspondente ao modo próprio de oscilação da
água é geralmente a frequência inferior (001) e o seu valor reflecte obviamente o facto da
cuba não estar directamente assente no solo mas sim sobre uma estrutura de suporte
(devido a esta flexibilidade adicional, verifica-se que ooI <COo).

A segunda frequência corresponde à do modo de vibração que é caracterizado por uma


participação significativa da estrutura, registando-se geralmente que 0:>.2 ::: ~KpfM~ .
Em relação à máxima altura das oscilações da água dentro da cuba, é conveniente
considerar dmax=8maxR (ou dmax=8maxL) em vez das expressões atrás forneci das [10].

• Exemplos de aplicação

Exemplo 1) Considere-se um reservatório de água, de base rectangular, com L= 1O,Om


e H=5,Om (ou seja, HIL=O,5).

~---------------f
2L ::; 2 o, O "'"

Figura 36 - Reservatório de água com base rectangular.

Admita-se que o reservatório está localizado na zona sísmica A e sobre um terreno do


tipo lI, conforme a classificação indicada no RSA. Considerando a "acção sísmica do
tipo 2", a que correspondem am=1,07mJs2 (Quadro 10) e o espectro de resposta
ilustrado na Figura 32, obtêm-se os seguintes resultados (pe l.Oton/m"):

62
M = 1,0 x (2 x 10,0 x 5,0) = 100 ton/m
M, = 0,288 x 100 = 28,8 ton/m H; = 0,375 x 5,0 = 1,88 m
Fi = (M/2) am = 28,8/2 x 1,07 = 15,4 kN/m (em cada parede)

Mo = 0,694 x 100 = 69,4 ton/m Ho = 0,524 x 5,0 = 2,62 m


ú)~ = 9,8110,0 x 1,042 = 1,021 rad-/s? => fo = 0,16Hz => Sa(fo,So=0,5%):::: 0,85m1s2
Fo = (Mo/2) Sa(Ú)o,So) = 69,4/2 x 0,85 = 29,5 kN/m (em cada parede)

A distribuição em altura da pressão hidroestática e da pressão de impulsão associada à


acção sísmica é ilustrada no Quadro 11:

z (m) v.z (kN/m2) Pj (kN/m2)


0,0 --- 0.00
1,0 10 1.66
2,0 20 2.96
3,0 30 3.88
4,0 40 4.44
5,0 50 4.62
Quadro 11 - Distribuição em altura da pressão hidroestática e da pressão de impulsão
devida à acção sísmica (reserv. rectangular com L=lO,Om e H=5,Om, am=1 ,07m1s2).

A título de confirmação, registe-se que a aplicação do método dos trapézios ao cálculo


da resultante de impulsão fornece F; = (1,66 + 2,96 + 3,88 + 4,44 + 4,62/2) x 1,0 =
15,3kN/m (o que, obviamente, é concordante com o valor atrás indicado, Fi=15,4kN/m).

Designando por Me O valor total da massa estrutural oscilante em cada parede, e


admitindo que Me= 1Oton/m, obtem-se o seguinte valor para o corte basal na parede
devido à acção sísmica:

Fb.E = Me am + Fj + r, = lOxl,07 + 15,4 + 29,5 = 55,6 kN/m

Por outro lado, o impulso hidroestático em cada parede (Fb.A) tem por resultante:

Fb.A = 1/2 x 10,0 x 5,02 = 125 kN/m

Assim, admitindo que não existe terreno lateral ao reservatório e ignorando a acção do
vento, obtêm-se os seguintes valores de cálculo do esforço transverso e do momento na
base da parede (calculado com base num modelo "de consola" a aplicando a força de
inércia correspondente à massa estrutural a meia altura da cuba):

63
- combinação de acções 1 Fb.sd = 1,5 x Fb.A = 1,5 x 125 = ]88 kN/m
Mb.sd = 1,5 x (125 x 5,0/3) = 313 kN.m/m

- combinação de acções 2 Fb.sd = 1,OxFb.A+ 1,5xFb.E = 125 + 1,5x55,6 = 208 kN/m


Mb.sd = 1,Ox(125x5/3) + 1,5x(lOx1,07x2,5 + 15,4xI ,88 +
+ 29,5x2,62) = 408 kN.m1m

Verifica-se que a combinação "sísmica" (n° 2) é condicionante neste exemplo, tanto


para o esforço transverso como para o momento ao nível da base. Por último, note-se
que um cálculo simplificado da "força sísmica equivalente" baseado directamente na
totalidade da massa oscilante e expresso por Fb.E=amM, conduziria a
Fb.E=(1 0+ 100/2)x 1,07 = 64,2kN/m, o que constitui uma estimativa por excesso (64,2
face a 55,6kN/m).

Exemplo 2) Considere-se um reservatório cilíndrico com R=10,Om e H=5,Om,


localizado na zona sísmica A e sobre um terreno do tipo II (ou seja, trata-se duma
situação caracterizada por parâmetros idênticos aos do exemplo anterior mas agora
aplicada a um reservatório cilíndrico). Considerando a "acção sísmica do tipo 2",
obtêm-se os seguintes resultados:

M = 1,0 X (rt x 10,02 x 5,0) = 1571 ton


M] = 0,288 x 1571 = 452 ton H; = 0,375 x 5,0 = 1,88 m
Fi = M; am = 452 x 1,07 = 484 kN

Mo = 0,463 x 1571 = 727 ton Ho = 0,532 x 5,0 = 2,66 m


ú)~= 9,8/1 0,0 x 1,332 = 1,305 rad-/s? => fo = O,18Hz => Sa(fo,Ço=0,5%) "" 1,00m/s2
Fo = Mo SaCú)o, Ço) = 727 x 1,00 = 727 kN

Tal como no primeiro exemplo, o cálculo simplificado da "força sísmica equivalente"


FE com base na totalidade da massa de água conduziria a uma estimativa conservativa -
obter-se-ia FE= 1571 x 1,07= 1681, enquanto que a soma das parcelas de impulsão e de
oscil ação conduz" apenas" a FE=484+ 727 = 1211kN.

64
6. ASPECTOS CONSTRUTIVOS

Os reservatórios de água em betão armado são estruturas sensíveis relativamente à


fendilhação do betão e à corrosão das armaduras, Com efeito, a face interior das paredes
e da laje de fundo está geralmente em contacto quase permanente com a água; da
mesma forma, a face interior da cobertura está sujeita à ocorrência de condensações, em
resultado da evaporação.

Desta forma, a porosidade do betão deve ser reduzida e o recobrimento das armaduras
deve obviamente ser de molde a impedir, na medida do possível, a sua corrosão, em
particular nas faces em contacto com a água - por este motivo, recomenda-se que o
recobrimento seja pelo menos igual a 4cm. Relativamente à baixa porosidade do betão,
a relação "massa de água / massa de cimento" (por m3 de betão) deve ter valores
reduzidos (como ordem de grandeza, aconselha-se um valor inferior a 0,5).

Por outro lado, para efeitos de controle de fendilhação é também recomendável dispôr
os varões com afastamentos reduzidos (~ 0,20m, como ordem de grandeza) e definir
armaduras de distribuição com uma área não inferior a 25% da área da armadura
principal. De acordo com o EC2 [8], no caso de reservatórios pré-esforçados
horizontalmente mas sem pré-esforço vertical, as armaduras ordinárias verticais devem
também ser colocadas com espaçamentos não superiores a O,20m e a sua área não deve
ser inferior a 25% da área de armadura horizontal ordinária que seria necessário colocar
na ausência do pré-esforço.

Refira-se também que o "ataque" da água não é a única causa de possível fendilhação -
os efeitos dos impulsos de terras, da retracção do betão ao longo do tempo e dos efeitos
de natureza térmica (tais como o calor de hidratação libertado pelo betão jovem ou os
efeitos provocados pela acção térmica diferencial, associados à exposição solar ou a
fluidos armazenados a altas temperaturas) também devem ser considerados.

Em reservatórios de água potável não devem ser utilizados produtos asfálticos como
meio de impermeabilização, devido à sua toxicidade. Neste caso, o betão deve ser
impermeabilizado por uma argamassa rica em cimento e um aditivo hidrófugo não
tóxico [1].

As faces exteriores também devem ser protegidas, em especial as que estão em contacto
com terra (paredes no caso de reservatórios enterrados e por vezes a própria cobertura,
quando é coberta com uma camada de terra).

65
Para a protecção das faces exteriores pode recorrer-se a pintura com tinta à base de
alcatrão, à colocação de telas asfálticas (feltros constituídos por betume asfáltico com
suportes que podem ser de natureza orgânica - como o cartão ou a lã - ou inorgânica -
como fibras de vidro e de amianto ou folhas de alumínio), etc. A propósito, o peso das
telas asfálticas deve ser considerado no cálculo da estrutura de cobertura - como ordem
de grandeza, refira-se que a colocação de 3 telas, conforme é usual, corresponde a um
peso adicional de :::::100N/m2 [5].

III

As juntas constituem também um elemento importante na concepção e construção de


reservatóri os.

Em primeiro lugar, há que referir que as juntas podem ser de dois tipos distintos: juntas
de construção e juntas permanentes. As juntas deste segundo tipo destinam-se a permitir
o movimento relativo entre os elementos ligados (devido, por exemplo, à acção térmica
uniforme), pelo que as armaduras são interrompidas. Pelo contrário, nas juntas de
construção as armaduras não são interrompidas, pois é objectivo garantir a continuidade
entre os elementos estruturais.

As juntas de construção estão geralmente associadas à betonagem de grandes volumes


de betão e destinam-se a minorar os efeitos da retracção do betão, do calor de hidratação
libertado pelo betão jovem e de eventuais assentamentos do terreno. Em lajes de fundo
extensas, por exemplo, é possível definir bandas independentes (paralelas ao lado
menor e com larguras na ordem dos 5-10m), separadas por faixas que só são betonadas
alguns dias após a betonagem das primeiras. Como ordem de grandeza, na referência
[12] são indicados valores de 7,5m para os comprimentos de parede entre juntas e de
6,5m para a largura dos painéis nas betonagens da laje do fundo em faixas contínuas.

A estanqueidade das juntas deve obviamente ser assegurada na medida do possível,


sendo usual a utilização de vedantes em borracha - juntas tipo water-stop.

III

As paredes dos reservatórios térreos podem ser construídas com recurso a cofragem
tradicional ou com moldes deslizantes. Neste último caso, a espessura das paredes não
deve ser inferior a 0,15m e as aberturas para apoio dos moldes devem ser
convenientemente preenchidas (com grout, por exemplo), por forma a garantir a
estanqueidade [8].

66
No caso de reservatórios elevados são possíveis diversas variantes construtivas, de que
se destacam (Figura 37):

• Andaime apoiado no terreno e envolvendo a torre. Este sistema só é possível para


alturas moderadas e quando não existem restrições de espaço ao nível da base. Por
outro lado, pode conduzir a deformações significativas na cuba, devido à
flexibilidade do andaime;

• Andaime suspenso do torre. Esta solução não apresenta as limitações de altura da


torre e de espaço na base inerentes à do andaime apoiado no terreno; no entanto,
também pode conduzir a deformações significativas na cuba.

• Construção do reservatório junto ao solo e posterior içamento com cabos suspensos


da torre (a qual é previamente construída).

---7
/'
",,/"
/"

Figura 37 - Métodos de construção de depósitos elevados [7].

Esta última solução apresenta uma vantagem importante - a construção do depósito


realiza-se junto ao solo, o que favorece toda a construção (e fiscalização). Por outro
lado, os cabos de içamento podem também funcionar, na situação final, como cabos de
suspensão do depósito na torre.

III

67
A questão do isolamento térmico é geralmente pouco premente em reservatórios de
água com grandes dimensões (devido à grande inércia térmica da massa de água, que
assim não apresenta variações significativas de temperatura) mas revela-se fundamental
nalguns casos específicos, tal como em reservatórios de gases liquefeitos. Em
reservatórios pequenos de água pode também revelar-se conveniente ter em
consideração as condições de isolamento térmico - nas paredes, através dum pano
exterior de tijolos com camada de ar isolante (ou também de poliestireno), por exemplo;
uma solução comum nas lajes de cobertura consiste na deposição duma camada de terra
(com espessura entre 30 a 60cm, como ordem de grandeza).

As lajes de cobertura devem apresentar algum declive (2%, por exemplo) para
escoamento de águas pluviais. Em reservatórios de água, a face superior das lajes de
fundo deve também apresentar uma certa inclinação para o local da descarga de fundo,
permitindo assim a escorrência das águas de lavagem. Esta inclinação deve ser igual a
I %, pelo menos [20].

Em reservatórios de água, a saída desta para a rede de distribuição deve ocorrer num
lado oposto ao da entrada (para evitar zonas com escassa circulação de água) e no
mínimo a cerca de 0,15-0,20m acima da descarga de fundo, para evitar que partículas
decantadas sejam lançadas no sistema de distribuição [1].

Sob a laje de fundo convém definir um sistema de drenagem para escoar águas
provenientes do solo ou de fugas do reservatório. Este sistema pode ser constituído por
manilhas perfuradas envolvidas em brita.

Para o acesso ao interior de reservatórios de água potável não devem ser utilizados
degraus em ferro, devido à sua susceptibilidade de corrosão. As aberturas de ventilação
devem estar protegidas com uma rede que impeça a entrada de insectos ou poeiras e que
também protega da luz solar, para evitar o desenvolvimento de algas.

Pela sua importância, os dispositivos hidráulicos em reservatórios merecem também


urna referência. Estes dispositivos podem são de inúmeros tipos - a título de exemplo,
podem indicar-se as válvulas na conduta adutora (destinadas a efectuar a obturação
quando a água atinge o nível máximo, definido pelo descarregador de superfície), as
válvulas na conduta de distribuição, as bombas eventualmente necessárias para elevar a
água, e, no caso de reservatórios não compartimentados, um sistema "by-pass" entre a
adução e a distribuição, por forma a que o abastecimento de água não seja interrompido
durante operações de limpeza ou manutenção do reservatório [20].

68
7. EXEMPLOS DIVERSOS

o presente texto foi até aqui dedicado a formas simples de reservatórios, com as quais
foram ilustrados alguns aspectos básicos da concepção e do dimensionamento estrutural
deste tipo de estruturas. Como é natural, as aplicações práticas não se limitam a estas
formas simples, quer seja por motivos arquitectónicos - neste domínio, os reservatórios
elevados constituem um campo de aplicação excelente para o apuro estético - ou por
exigências funcionais, de que os reservatórios oviformes para digestão em estações de
tratamento constituem um exemplo.

Como exemplo duma estrutura mais complexa no domínio dos reservatórios de água ao
nível do solo, podem referir-se os depósitos em betão armado do Vale Escuro (no Alto
de S. João, em Lisboa), os quais, em planta, têm uma forma poligonal regular com 24
lados, inscrita numa circunferência com 46m de diâmetro (Figura 38). A parede é
constituída por 24 painéis rectangulares em laje maciça (t=O,25m). Nos vértices da
poligonal existem contrafortes verticais encimados por uma viga periférica. A cobertura
é constituída por uma laje maciça (t=O,13m) apoiada em vigas radiais e circunferenciais,
as quais apoiam nos contrafortes e em pilares interiores. A estrutura da laje de fundo é
semelhante à da cobertura [16].

A
..,--- ~ A

..,!..tS •

~ NC JIIr

i-L-------tl--_i.' .•.
~-;. ij

Figura 38 - Reservatório de água (Vale Escuro, Lisboa) [16].

69
No domínio dos reservatórios elevados é possível encontrar inúmeros exemplos com
geometria esteticamente apurada (Figura 1, por exemplo). Relativamente aos métodos
construtivos, as figuras seguintes ilustram os casos dum reservatório construido com
cofragern suspensa da torre e doutro betonado junto ao solo e posteriormente içado.
042.45 m

Figura 39 - Reservatório de água (Leverkusen, Alemanha) [7].

. :1
",_


...

1;!1 \
M

Figura 40 - Reservatório de água e torre de telecomunicações (Mechelen, Bélgica) [7].

70
Os tanques de arejamento e os digestores anaeróbios em estações de tratamento de
esgotos constituem também exemplos de reservatórios. As figuras seguintes ilustram
dois tipos de digestores, o primeiro em forma clássica (cilíndrico com cúpula) e o
segundo em formato oviforme, o qual tem algumas vantagens de natureza funcional.

CORTE DlAt.lErRAL.

Figura 41 - Digestor anaeróbio (Estação de Tratamento de Esgotos de Palmela) [9].

Figura 42 - Digestores oviformes (Bottrop, Alemanha).

71
Por último, referem-se os depósitos destinados a gases liquefeitos, os quais assumem
um papel fundamental na Indústria. Estes fluidos são armazenados a temperaturas
baixas (com valores na gama entre -soe e -16Soe, aplicando-se os primeiros a LNG -
Liquefied Natural Gas - e os mais reduzidos a LPG - Liquefied Petroleum Gas, gases à
base de propano e/ou butano). Por este motivo, os depósitos em betão contêm uma
manga metálica interior e um sistema de isolamento térmico conveniente (com painéis
de pve, por exemplo). Na Figura 43 ilustra-se um reservatório de LPG constituído por
um depósito interior em aço e outro exterior em betão. Refira-se que a laje de fundo,
apoiada em estacas, está acima do nível do terreno por motivos de ventilação.

Figura 43 - Reservatório para propano e butano em Antuérpia, Bélgica [7].

Por último, podem também referir-se os reservatórios metálicos para armazenamento de


etileno e de propileno no terminal portuário em Sines. Estes reservatórios são
cilíndricos, com diâmetros superiores a 30m, e apoiam numa laje de fundo em betão
armado, a qual transmite as cargas a uma laje de fundação através de pilares dispostos
radialmente. A distância livre entre as 2 lajes é igual a 3,Om. A estrutura destes
depósitos e o método de cálculo das suas fundações são descritos na referência [24].

72
REFERÊNCIAS

[1] AMARO, J. - "Reservatórios", in Manual de Saneamento Básico - Parte 11/4.


Direcção-Geral dos Recursos Naturais, 1991.

[2] BARES, R. - Tablas para el cálculo de placas yvigas pared. Editorial Gustavo
Gili, S.A., Barcelona, 1970.

[3] BILLINGTON, D. - "Thin shell concrete structures", in Structural Engineering


Handbook. Edited by Gaylord, E. and Gaylord, C.; McGraw-Hill, 2nd edition, 1979.

[4] BOWLES, J. - FoundationAnalysisand Design. McGraw-Hill, 3rd edition, 1982.

[5] Catálogo Geral da Indústria da Construção - Volume Ali, 1985.

[6] CHARON,P. - Le Calcul et la Vérification des Ouvrages en Béton Armé.

[7] Concrete Storage Structures - Use ofthe VSL Special Construction Methods. VSL
lnternational, Berna, 1983.

[8] EC2 - Eurocode 2: Design of Concrete Structures. Part 4:. Liquid Retaining and
Containment Structures. European Prestandard ENV 1992-4, 1998.

[9] Estruturas Pré-Esforçadas em Portugal. Grupo Português de Pré-Esforçado,


1994.

[] O] Fluid/Structure Interaction during Seismic Excitation. Report by the Committee


on Seismic Analysis of the American Society of Civil Engineers, ASCE.

[11] HOUSNER, G. - "Dynamic pressures on accelerated fluid containers". Bulletin of


lhe Seismological Society of America, Vo1.47, No.l, 1957.

[12] HUGHES,B. - "Water-retaining structures", in Handbook ofConcrete Structures.

[J 3] GUERRIN, A. - Traité de Béton Armé. Réservoirs - Voz. V: Châteaux d'eau et


Piscines. Dunod, Paris, 1972 (edição Brasileira - Hemus Editora, São Paulo).

[14] International Post-Tensioning . STRONGHOLD, Publication No.59, 1990.

[15] LEONHARDT, F.; MONNIG, E. - Construções de concreto - Volume 3. Editora


lnterciência (edição Brasileira), Rio de Janeiro, 1978.

[16] MATOS E SILVA, 1. - "Depósitos de água de betão armado. I - Depósitos


cilíndricos assentes no terreno". Revista Portuguesa de Eng" de Estruturas, n03,
pg. 147-154, 1979.

[17] MATOS E SILVA, 1. - "Análise sísmica de reservatórios de água assentes no


terreno". Revista Portuguesa de Eng" de Estruturas, n029, pg. 17-27, 1989.

73
[18] MONTOYA,P.; MESSEGUER,A.; MORAN,F. -Hormigon Armado, Madrid, 1981.

[19] REBAP - Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado. Decreto-


Lei 349-C/83, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1984.

[20] Regulamento Geral de Águas e Esgotos. Decreto Regulamentar n° 23/95,


Imprensa Nacional- Casa da Moeda, Lisboa, 1995.

[21] REIS, A.J. - "Comportamento das estruturas e dos materiais estruturais". Textos de
apoio da disciplina Dimensionamento de Estruturas, Parte I - Fundamentos, 1ST.

[22] REIS, AJ. - "Efeitos da deformabilidade das fundações: Interacção estrutura -


fundação". Textos de apoio da disciplina Dimensionamento de Estruturas, Parte
Ill -Concepção e Comportamento Estrutural, 1ST.

[23] RSA - Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e


Pontes. Decreto-Lei 235/83, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1984.

[24] TAVARES, S. - "Fundações de reservatórios em Sines''. Revista Portuguesa de


Engenharia de Estruturas, N°4, pg. 42-46, 1979.

[25] TIMOSHENKO, S.; WOINOWSKY-KRIEGER,S. - Theory of plates and shells.


McGraw-Hill, 2nd edition, 1959.

74
ANEXO I - ÁBACOS DE HANGAN-SOARE

0,0091-- 7

0,008

o~ -0-,1~Q2~Q3-0~"-Q.S~q6~0-,8~1 ~\2~I~,~-\7:i~~2,S~3~~~5~1O-CO~-' ~,
Q7 0.9\1\3\5 2

Figura AI - Momento na ligação parede-laje de fundo [13],

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0,15

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0.14

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Figura A2 - Ponto de anulamento do momento flector vertical [13].

AI - I
K'

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0,0065 0,0 065

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V-

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V
V
V
V
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0,00 15

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9

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10

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I-
0,00 10

I- I-- f-
0,0005 I--- IS
1-1-
0,00 os
Ph=I7.5
.

Figura A3 - Máximo momento vertical "negativo" [13].


K ,
0.29
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0.28 p r-... ·1·- t-

U
0,27 ~ 1'-1- t-
0.26
0.25
I\.
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r-, \ •., M
0.23

0.22
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0.21
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0.20
I r--- I\.
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r-,
0,19
0,18
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I'\.
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0.17 '-9
0,16
0.15
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r- <, r-, I\. 0,15
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t-
<, :'- \. 0,1'

I r-,
0.13
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f- - 0,13
0,12 0.1 2
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0,11 f- 1--'-
IS
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0,09 Il5 i'... __ 0.09

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0,08
0,07 I
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t-
-- ..•....
"r-,
<, r-,
..•....
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r-, :--r--!006
0,08

0,06
0.05
r---. i"- -+-1 0'05
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. 50 60 70" 80 . 90"

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17:'.1
-:\7:'3""\.5:---:2-
~~~3~~ -5~IO-oo-- ~
.q 7 0,9 1.2 I,. \75

Figura A4 - Localização do máximo momento vertical "negativo" [13].

AI - 2
K"

0,99
0,96
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0,92
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D,M~~~=+=+=Fq=~+-~~~~~~~
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O,a.I+-+- _+- J

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O,80I -l-+--I.-+--+-+++++::::f-'::::'-""'7+t-!""-:-+-i
o,~~~=F~+=ri-T
o.~t;~~~*=~~~1:~~~~~~t=r:~
O,7 At:
O,72i=~Ft=F-t-t-=~
D,70~~~+-+-+-+-4-,~~q-~~~T-7
0,68 7
0.66 +-+-~+--r--t
0,6041 6
0,62. I
0,60. I

o,saL,
0,56 {-.j.l!!';';':+-+-+=''=F::J
O,SA

o.52~L=tj=1=t=t=tj---lJ.-L-Ll..:.~=::;:;"+-
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O" lO' 20' 30' 60'
.
O 0,\ 0;2 0.3 O,. 0,s0~ ----~--~--~--~~----~-------~
0.8
070,9
\ 1.1 \31,s
t;?I,. tzs
2 ~3 • 5 10

Figura AS - Máxima tracção circunferencial [13].

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__ I I t-. r-. 0,25
i--I--I--
........

I I; __ ~ 0,15
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010'
I-l-r -4-'-+++++-+---H-+-+-+=+=:t-==I==l
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x,: K
2
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'--L-l--1--L--I.--I--l---\.-_
AO' SO' 60' 70' SO' 90'
'9

----~----~--~--~--~~~------~~_.
o O,, 0.20.3 ~ O,A0,50.6
0.7
0.8
0,9
11.' \3 \S 2 ~3
\2 \A \7S
.5 10 cc e'

Figura A6 - Localização da máxima tracção circunferencial [13].

AI - 3

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