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A DIFICULDADE DO BRASILEIRO EM ENTRAR NOS ESTADOS

UNIDOS: A ISENÇÃO DE VISTO QUE AINDA NÃO VEIO

Celso Assis*

Neste trabalho, busco esclarecer o motivo de ainda não haver isenção de


visto não-permanente para a entrada de brasileiros nos Estados Unidos da América.
A relação entre Brasil-EUA vem desde a época do Barão do Rio Branco aos tempos
da Nova República, como bem delineia Henrique Altemani de Oliveira em Política
Externa Brasileira. Os EUA é o país onde há mais brasileiros no exterior. O Itamaraty
fala de quase 1,5 milhão. Os visitantes temporários do Brasil viajando para lá
crescem cada vez mais, gastando bilhões de dólares por ano.

VISTO

Deve-se entender, antes de tudo, o que é um visto. Segundo a Missão


Diplomática dos Estados Unidos no Brasil, o visto “permite que um cidadão
estrangeiro viaje para um porto de entrada dos EUA e solicite permissão do inspetor
de imigração dos EUA para entrar no país”. Quem deseja entrar no território
estrangeiro – seja americano ou de qualquer outro país que seja necessário um
visto -, precisa solicitar o visto em uma embaixada ou consulado deste país na
nação onde essa pessoa reside. O brasileiro pode solicitar o visto na embaixada
americana em Brasília ou nos consulados gerais americanos em São Paulo, no Rio
de Janeiro ou no Recife. Em breve, serão abertos consulados em Belo Horizonte e
em Porto Alegre.

A questão que abordo leva-nos a outras perguntas: quais países que não
exigem visto do brasileiro e de quais países os EUA também não requerem tal
permissão para adentrar em seus territórios. Apesar de tratar de um pequeno

*Aluno do Curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, da matéria


de Introdução às Relações Internacionais
parêntese no debate, podemos nos perguntar o motivo de não haver tal
relacionamento entre Brasil e EUA.

O Itamaraty, em um documento de 2008, listou os países que não exigem


vistos de brasileiros, alguns por um período de 30 dias, outros chegam a um ano;
países do Mercosul, como a Argentina, a outros que aparentemente tem pouca
relação com o Brasil, como o Vietnã.

A Missão Diplomática americana listou os países cujos cidadãos são isentos


de visto: Portugal, Andorra, Austrália, Áustria, Bélgica, Brunei, Dinamarca, Estónia,
Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão,
Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Mónaco, Holanda, Nova Zelândia,
Noruega, San Marino, Singapura, Eslováquia, Eslovênia, Coreia do Sul, Espanha,
Suécia, Suíça, Formosa ou Reino Unido.

Chile foi o primeiro país sul-americano a entrar na lista, a partir de março


deste ano. Vale lembrar que a isenção dura 90 dias, em outras palavras, serve
apenas para viagem temporárias de negócio, de turismo ou tratamento médico.

BRASILEIRO NOS EUA

Para evitar os grandes custos dos produtos no Brasil além de poder fazer
(em muitos casos) a primeira viagem internacional, o brasileiro embarca para os
Estados Unidos disposto a gastar. A diferença dos preços aqui e lá é um grande
incentivo para o brasileiro que melhorou seu poder aquisitivo e deseja exibir sua
nova condição social viajar e viver “o sonho americano” que tanto assistiu em filmes,
mesmo que seja por algumas semanas. Um exemplo recente que demonstrou o
cúmulo dos altos preços no Brasil foi o lançamento do novo console de vídeo game
da Sony, o Play Station 4, em novembro passado. Os quatro mil reais que seriam
gastos aqui, um brasileiro poderia viajar para Miami, hospedar-se em um hotel,
comprar o aparelho pelo equivalente a R$ 900 e voltar ao Brasil tranquilamente.

O Departamento de Comércio americano divulgou que os brasileiros


gastaram US$ 10,5 bilhões nos EUA em 2013. Estão em quinto lugar num ranking
que tem somente canadenses, mexicanos, britânicos e japoneses na frente. Nós
gastamos mais que chineses, alemães e franceses. Miami e Nova Iorque são os
destinos mais requisitados pelos brasileiros. Não é raro encontrar imobiliárias e lojas
atrás de funcionários que sabem falar português.

No ranking dos visitantes assíduos nos Estados Unidos, o Brasil se encontra


também em quinto lugar. Mais de dois milhões de brasileiros encararam longas
horas de espera para conseguir um visto para entrar no país. Das dez
nacionalidades que mais visitam os EUA, somente os brasileiros e os chineses
(outro país que se queixa da burocracia) não são isentos de vistos.

Depois dos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos reforçaram o


rigor ao conceder a permissão de entrar em suas terras. Com medo de possíveis
ataques terroristas, eles dificultaram a entrada da segunda maior leva de turistas do
mundo – somente a França recebe mais visitantes. Isso traria sérias consequências
quando a economia esfriasse e a “bolha” no mercado de ações estourasse em 2008.

O Presidente Barack Obama sentiu a falta do dinheiro dos turistas


estrangeiros na economia americana. A partir de 2012, houve reformas e expansões
na embaixada americana em Brasília, nos consulados em São Paulo, no Rio de
Janeiro e em Recife, além dos investimentos nos novos consulados em Belo
Horizonte e em Porto Alegre. Tudo para que o brasileiro receba seu visto com mais
agilidade. Apesar da espera que os dois milhões de viajantes brasileiros
aguentaram, eles receberam seus vistos mais rapidamente (em média vinte dias)
do teria acontecido há alguns anos.
O portal na Internet da revista Veja publicou:

Segundo afirmou o presidente Barack Obama, esta é uma de injetar mais recursos
na economia do país, que ainda se recupera da recessão. "A cada ano, dezenas de
milhões de turistas de todo o mundo vêm visitar os Estados Unidos. E quanto mais
visitantes vierem, mais americanos voltarão a trabalhar", afirmou. "Queremos mais
gente vindo facilmente aos Estados Unidos".

Então, como anda o processo de isenção de vistos para os brasileiros?

A LONGA NEGOCIAÇÃO PARA A ISENÇÃO DE VISTOS

Dado a todos estes fatos, a isenção de vistos para brasileiros pode demorar.
Quando visitou o Brasil em agosto de 2013, o secretário de Estado americano John
Kerry afirmou “que os EUA têm interesse em facilitar a entrada de brasileiros em
território americano, mas indicou que a isenção do visto ainda levará mais tempo,
afirmando esperar que ‘vamos chegar um dia’ a esse estágio”, publicou o portal de
notícias Último Segundo.

A Presidente Dilma Rousseff visitaria os EUA em outubro do ano passado,


mas devido a revelação do programa de espionagem americana no Brasil, ela
boicotou a visita até que recebesse explicações satisfatórias sobre o caso. A falta
de confiança dos Estados Unidos não ajuda em nada as relações entre os dois
países. Seria nessa visita que o Presidente Obama e a Presidente Dilma
conversariam mais seriamente a respeito da isenção de vistos entre os dois países.

É preciso que haja uma sincronia de informações para que seja feito com
que o Brasil entre no programa de isenção de visto. Steven Bipes, um dos diretores
da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio), comentou a
respeito. Há uma necessidade de haver uma igualdade na eficiência em recuperar
passaportes perdidos ou roubados, tanto da parte da americana quanto da brasileira.
A troca de informações sobre criminosos ainda empaca pois o sistema jurídico é
diferente em cada país. Informações sobre terroristas é quase nula no Brasil e é
com isso que os EUA se preocupa. “Ambos os governos criaram um grupo de
trabalho para tratar desses assuntos, porém ele está parado”, ele disse.

Uma das metas do Brasil é ter menos de 3% dos vistos negados, o que não
é difícil já que a nossa taxa não ultrapassa os 4%. Existe até um projeto de lei a ser
votado no Senado americano que aumentaria a taxa para 10%, o que permitiria a
entrada do Brasil, da Polônia, de Israel e da Croácia no Programa de Isenção de
Vistos.

Mesmo que o acordo para que o Brasil entrasse no programa, havia o


projeto que o país entrasse ao menos em um projeto piloto, o Global Entry. A
diferença é que no Global Entry ainda é necessário um visto, mas não era preciso
mais que o viajante enfrentasse a burocracia toda vez para entrar nos Estados
Unidos, já que ele vale por cinco anos. Os alemães, os holandeses, os sul-coreanos,
os mexicanos e os canadenses que fazem parte do Global Entry apenas passam
seu passaporte com um código de barras cadastrado em um quiosque do programa
em certos aeroportos e entram nos EUA. A adesão do Brasil ao Global Entry
facilitaria a entrada de executivos, turistas e quem quer que queira visitar os EUA
dentro de um período de 90 dias.

A conversa que Obama e Dilma teriam possivelmente seria para tratar do


Global Entry. Caso aprovado, cerca de 1,5 mil executivos seriam beneficiados a
princípio. Os negócios que tratariam nos EUA aumentariam consideravelmente a
relação econômica entre os dois países.

CONCLUSÃO

Ainda em tempo, vale ressaltar que não seria apenas a economia


americana beneficiada, mas a brasileira também, já que haveria mais americanos
vindo ao Brasil para tratar de negócios e para passear. O Portal Terra publicou a
indignação do presidente da Embratur quanto a dificuldade dos americanos em
entrar no Brasil. Flávio Dino considera “desastrosa” a burocracia que os 600 mil
americanos têm que passar para vir ao nosso país. Os negócios são prejudicados
e o destino turístico acaba sendo desviado para o Caribe, pela facilidade de entrar
nos países da região.

Evidentemente, não é recíproco o interesse na isenção de vistos,


considerando o contraste dos vistos solicitados. A imprensa internacional por vezes
desestimula a vinda dos americanos para cá – ver as manifestações violentas que
rondam o Brasil nos últimos meses. Entretanto, eventos de grande porte como a
Copa do Mundo e as Olimpíadas, além da maior presença do Brasil na agenda
mundial ajudarão a igualar o fluxo de visitantes estrangeiros. Espera-se que haja
um acordo entre os governos americano e brasileiro para que pelo menos o Global
Entry seja aprovado.

Uma relação tão longa quanto a que temos com os norte-americanos não
deve ser paralisada por causa de entraves políticos e burocracia desnecessária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LACERDA, Antônio Corrêa de. Depois do 11 de setembro: o que mudou para a globalização
e o Brasil? In: ANTAS, Ricardo Mendes Jr.; DOWBOR, Ladislau; IANNI, Octavio (orgs.).
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29-50

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DECLARAÇÃO DO PRESIDENTE DA EMBRATUR SOBRE AMERICANOS NO BRASIL.
Disponível em: http://noticias.terra.com.br/brasil/embratur-exigencia-de-visto-para-
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Acesso em 3 junho 2014

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Acesso em 3 junho 2014

ENTREVISTA DE JOHN KERRY SOBRE ISENÇÃO DE VISTO NO “ÚLTIMO SEGUNDO.


Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-08-13/kerry-indica-que-
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2014

ENTREVISTA DE STEVEN BIPES A AMCHAM RIO. Disponível em:


http://www.amchamrio.com.br/site-noticia?noticiaSite.id=411 Acesso em 3 junho 2014

ESPECIAL SOBRE VISTOS PARA OS EUA DA REVISTA VEJA. Disponível em:


http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/vistos-eua/. Acesso em 2
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LISTA DE PAÍSES QUE EXIGEM OU NÃO VISTO DO BRASIL. Disponível em:


http://www.itamaraty.gov.br/o-ministerio/conheca-o-ministerio/comunidades-
brasileiras/divisao-de-documentos-de-viagem-ddv/nota-verbal/regime-de-vistos Acesso em
3 junho 2014

MOTIVO DA DIFERENÇA DE PREÇOS ENTRE O BRASIL E OS EUA PELO JORNAL O


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PROGRAMA DE ISENÇÃO DE VISTOS. Disponível em:


<http://portuguese.brazil.usembassy.gov/pt/waiver2.html>. Acesso em 3 junho 2014

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