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I CHRISTIAN NORBERG-SCHULZ .

O F E N Ó M E N O DO LUGAR
O nome do teórico n o r u e g u ê s Christian Morberg-Schulz está intimamente ligado à
a d o ç ã o de uma fenomenologia da arquitetura. Desde os primeiros estudos realiza-
o dos na d é c a d a de 1960 até seu livro, Architecture: Meaningand Place (1988), Nor-
la
o- berg-Schulz vem desenvolvendo uma i n t e r p r e t a ç ã o textual e pictórica das ideias
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e de Martin Heidegger (1889-1976), baseando-se sobretudo no ensaio do filósofo
a
a l e m ã o "Construir, habitar, pensar". Em Intentions in Architecture iíS&ã), Norberg-
I Scfiulz usou a linguística, a psicologia da p e r c e p ç ã o (Gestalt) e a fenomenologia
para construir uma teoria abrangente da arquitetura. .A obra foi publicada pouco antes do
livro de Robert Venturi Con^olexiclsde e co'itra<i'rãc> na aroiiitetura. outro i m p o r t a n t í s s i m o
texto p ó s - m o d e r n o . Os ú l t i m o s livros de Norberg-Sctiulz evidenciam seu interesse cres-
cente pela fenomenologia.
A fenomenologia, definida inicialmente por Edmund Husserl (1859-1938) como
uma i n v e s t i g a ç ã o s i s t e m á t i c a da c o n s c i ê n c i a e seus objetos,' é entendida por Norberg-
Schulz como um " m é t o d o " que exige um '"retorno à s coisas', em o p o s i ç ã o á s abs-
t r a ç õ e s e c o n s t r u ç õ e s mentais". Na é p o c a em que este ensaio foi publicado, poucos
e s f o r ç o s haviam sido empreendidos para estudar o ambiente do ponto de vista feno-
m e n o l ó g i c o . Norberg-Schulz identifica o potencial f e n o m e n o l ó g i c o na arquitetura como
a capacidade de dar significado ao ambiente mediante a criação de lugares e s p e c í f i c o s .
O t e ó r i c o introduz a antiga n o ç ã o romana do genius hci. isto é , a ideia do e s p í r i t o de
um determinado lugar (que estabelece um elo com o sagrado), que cria um "outro" ou
um oposto com o qual a humanidade deve defrontar a fim de habitar. Ele interpreta
o conceito de habitar como estar em paz num lugar protegido. Assim, o cercamento,
o ato de demarcar ou diferenciar um lugar no e s o a ç o se converte no ato a r q u e t í p i c o
da c o n s t r u ç ã o e a verdadeira origem da arquitetura. O autbr sublinha a i m p o r t â n c i a
de certos elementos a r q u i t e t ò n i c o s b á s i c o s , como parede, c h ã o ou teto, percebidos
como horizontes, fronteiras e enquadrame.itos da natureza, A arquitetura torna clara a
localização da e x i s t ê n c i a dos homens, que. na d e f i n i ç ã o de Heidegger, e s t á entre o c é u
e a terra, em face dos seres divinos. Fenomenologos como Vittorio Gregotti i a m t > é m
aludem à necessidade de que o local da c o n s t r u ç ã o intensifique, condense e indique
com e x a t i d ã o a estrutura da natureza e como o homem a percebe (cap. 7). A celebra-
ç ã o de determinados atributos do lugar t a m b é m é fundamental no regionalismo crítico
de Kenneth Frampton (cap. 11).

A l é m do foco no sítio, a fenomenologia abrange a t e c t ó n i c a , porque, no dizer de Nor-


berg-Schulz, "o detalhe explica o ambiente e manifesta sua qualidade peculiar" (caps. 10 e
12). Por causa dessa invocação do local e da t e c t ó n i c a , a fenomenologia se a'firmou como
influente escola de pensamento entre alguns arquitetos c o n t e m p o r â n e o s , como Tadao
Ando, Steven Holl, Clark e Menefee. e Peter Waldman. Ela despertou um novo interesse
nas qualidades sensoriais dos materiais, da luz, da cor, bem como na importância sirnbó-

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lica e tátil das j u n ç õ e s . Esses aspectos contribuem para realçar a qualidade poética que na possuem substância material, forma, textura e cor. Juntas, essas coisas determinam
opinião de Heidegger é essencial para o habitar. uma "qualidade ambiental" que é a essência do lugar. Em geral, um lugar é dado como
Norberg-Schulz, levado por sua grande a d m i r a ç ã o por Robert Venturi, identifica-o esse caráter peculiar ou "atmosfera". Portanto, um lugar é um fenómeno qualitativo
equivocadamente com a fenomenologia, por causa do interesse recente do arquijeto na "total", que não se pode reduzir a nenhuma de suas propriedades, como as relações
"parede entre o interior e o exterior". Depois de Aprendendo com Las Vegas, restam pou- espaciais, sem que se perca de vista sua natureza concreta.
cas dúvidas de que Venturi e seus colaboradores e s t ã o mais interessados na superfície (o A experiência diária nos diz, ademais, que ações diferentes exigem ambientes dife-
"galpão decorado") do que em q u e s t õ e s espaciais, como lugares delimitados. rentes para que transcorram de modo satisfatório. Em consequência disso, as cidades
e as casas consistem em uma multiplicidade <ie lugar<:s. É claro que as teorias corren-
tes da arquitetura e do planejamento levam em consideração esse fato, mas até aqui o
1 ir.thonv Pi«'.v D rTc>níirv of Ph'lo^oo^^\ ed revsada Nova York: St M5rtn's Press. problema tem sido tratado de modo excessivamente abstraio. Geralmente se entende
1984. p 157. o "ter lugar" num sentido quantitativo e "funcional", com implicações que remetem
ao dimensionamento e à distribuição espacial. Mas as "funções" não são inter-hu-
manas e similares cm toda parte? É evidente que n ã o . Funções "similares", mesmo as
CflBISTIAN NORBERG-SCHULZ mais básicas como dormir e comer, se dão de diferentes maneiras e requerem lugares
que possuem propriedades diversas, de acordo com as diferentes tradições culturais

O fenómeno do lugar e as diferentes condições ambientais. Dessa forma,-a abordagem funcional deixou de
fora o lugar como um "aqui" concreto com sua identidade particular.
Sendo totalidades qualitativas de natureza comple.Ka, os lugares não podem ser
definidos por meio de conceitos analíticos, "científicos". Por uma questão de prin-
Nosso mundo-da-vida cotidiana consiste em "fenómenos" concretos. Compõe-se de cípio, a ciência "abstrai" o que é dado para chegar a um conhecimento neutro e "ob-
pessoas, animais, flores, árvores e florestas, pedra, terra, madeira e água, cidades, ruas e jetivo". N o entanto, isso perde de vista o mundo-da-vida cotidiana, que deveria ser
casas, portas, janelas e mobílias. E consiste no sol, na lua e nas estrelas, na passagem das a verdadeira preocupação do homem em geral e dos planejadores e arquitetos em
nuvens, na noite e no dia, e na mudança das estações. Mas também compreende fenó- particular.- Felizmente, há uma saída para o impasse, o método chamado de fenome-
menos menos tangíveis, como os sentimentos. Isto é, o que nos é "dado" é o "conteúdo" nologia. A fenomenologia foi concebida como um "retorno às coisas" em oposição a
de nossa existência. Rilke escreveu que: "Quem sabe não estamos aqui para dizer: casa, abstrações e construções mentais. Por enquanto, os fenonienólogos têm se ocupado
ponte, fonte, portão, jarra, árvore frutífera, janela, - no máximo, pilar, torre".' Tudo o principalmente da ontologia, psicologia, ética e, em certa medida, da estética, e deram
mais, seiam átomos e moléculas, números e todos os tipos de "dados", são abstrações pouca atenção à fenomenologia do ambiente cotidiano. Existem algumas obras pio-
ou ferramentas construídas para atender a outros propósitos que não a vida cotidiana. neiras que, no entanto, fazem escas.sas referencias diretas à arquitetura.' Uma tcnome-
Atualmente, é muito comum confundir as ferramentas com a realidade. : > nologia da arquitetura é, portanto, urgentementó necessária.
As coisas concretas que constituem nosso mundo dado se inter-relacionanide Alguns filósofos que abordaram o problema do mundo-da-vida usaram a lingua-
modo complexo e talvez contraditório. Alguns fenómenos, por exemplo, podem gem e a literatura como fontes de "informações". N a realidade, a poesia c capaz de
compreender outros. A floresta compõe-se dc árvores e a cidade é feita de casas. A concretizar as totalidades que escapam à ciência e.jjor isso, é capaz de sugerir como
"çiaisagem" é um fenómeno muito abrangente. De maneira geral, pode-se dizer que se deveria proceder para obter a necessária compreensão. U m dos poemas usados
alguns fenómenos formam um "ambiente" para outros. U m termo concreto para fa- por Heidegger para explicar a natureza da linguagem é o magnífico " U m a noite de
lar em ambiente é lugar. Na linguagem comum diz-se que atos e acontecimentos têm inverno", de Georg Trakl.'
lugar. N a verdade, não faz o menor sentido imaginar um acontecimento sem referên- As palavras de Trakl também servem aos nossos propósitos por apresentarem
cia a uma localização. É evidente que o lugar faz parte da existência. Então, o que se uma situação de vida total em que o aspecto do lugar é fortemente sentido:
quer dizer com a palavra "lugar"? É claro que nos referimos a algo mais do que uma
localização abstrata. Pensamos numa totalidade constituída de coisas concretas que

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Uma noite de inverno uma abertura que nos faz sentir o interior como complemento do exterior. Dentro
Quando a neve cai na janela da casa há um último ponto focal, a mesa que está "posta para muitos". Em torno da
E os sinos noturnos repicam longamente, mesa, as pessoas se reúnem; ela é o centro, e mais que qualquer outra coisa constitui
A, mesa, posta para muitos, o "de dentro". Não se diz muito sobre o caráter desse interior, mas de todo modo ele
E a casa está bem preparada. está presente. Sabemos que é iluminado e cálido, e contrasta com o frio e o escuro do
H i quem, na peregrii\ação, lado de fora, e seu silêncio é prenhe de sons latentes. Dc modo geral, o interior é um
Chegue ao portal da senda misteriosa. mundo de coisas compreensíveis, onde a vida de "muitos" tem lugar.
Florescência dourada da ár\'orc da misericórdia. As duas estrofes seguintes aprofundam a perspectiva. A q u i sobressai o significado
Da força fria que emana da terra. dos lugares e das coisas, e o homem é apresentado como um peregrino que chega pela
O peregrino entra, silenciosamente, "senda mi.sterio.sa". Em vez de ficar na segurança da ca.sa que fez para si mesmo, ele
Na soleira, a dor petrihca-se, vem de fora, do "caminho da vida", que também representa a tentativa do homem de
Então, resplandecem, na luz iiicondicional, "orientar-se" num ambiente desconhecido dado. Mas a natureza tem um outro lado:
Pão e vinho sobre a mesa.' ela oferece a graça do crescimento e da florescência. Na imagem da árvore "dourada",
terra e céu se unem formando um mundo. Pelo labor do homem o mundo é trazido
Não pretendo reproduzir a penetrante análise de Heidegger sobre o poema, mas apenas para o interior como pão e vinho, por meio dos quais o interior se "ilumina", isto
chamar a atenção para umas tantas propriedades que iluminam o tema deste ensaio. é, adquire significado. Não fossem os frutos "sagrados" do céu e da terra, o interior
Em geral, Trakl emprega imagens concretas que todos conhecemos a partir da vida co- estaria "vazio". A casa e a mesa recebem e reúnem, e trazem o mundo para "perto".
tidiana. Ele fala de "neve", "janela", "casa", "mesa", "porta", "án'ore", "soleira", "pão Habitar uma casa significa habitar o mundo. Mas esse habitar não é fácil, tem de ser al-
e vinho", "escuridão" c "luz" e define o homem como um "peregrino". Mas essas ima- cançado por caminhos escuros e uma soleira separa o dentro do fora. Representando
gens trazem implícitas estruturas mais gerais. Em primeiro lugar, o poema distingue a "brecha" entre a "alteridade" e o sentido manifesto, a soleira concretiza a dor que
entre um lado de fora e um lado de dentro. O lado de fora é apresentado nas duas primei- "se petrifica". Assim, é na soleira que o problema do habitar se torna presente.^
ras linhas da primeira estrofe e compreende tanto elementos naturais como fabricados O poema de Trakl ilumina alguns fenómenos essenciais de nosso mundo-da-vida
pelo homem. O lugar natural está presente na neve caindo, que sugere o inverno, e na e, em particular, as propriedades fundamentais do lugar. Primeiramente, ele indica
referência ao anoitecer. O próprio título do poema "situa" tudo nesse conte.xto natural. que toda situação é a um só tempo local e geral. O anoitecer de inverno que o poema
Mas um anoitecer de inverno não é apenas um ponto no calendário. Presença concreta, descreve é obviamente um local, um fenómeno nórdico, masíis sugestões de um " i n -
também é vivido como um conjunto de qualidades, ou, em geral, como um Stimmung, terior" e um "exterior" são gerais, assim como os sentidos relativos a essa distinção.
um "temperamento ou caráter", que tbrma o pano de fundo dos atos e acontecimentos. Dessa forma, o poema concretiza propriedades básicas da existência. Falo aqui em
No poema, essa qualidade está presente na neve fria, gelada, macia, silenciosa, que bate "concretizar" no sentido de transformar aquilo que é genérico, "visível", isto é, em
na janela e esconde o contorno dos objetos ainda reconhecíveis no lusco-fusco. A pala- uma situação local, concreta. C o m isso o poema se move numa direção oposta à do
vra "cai" induz ainda a uma impressão de espaço, ou melhor, a sugestão da presença da pensamento científico, pois, enquanto a ciência parte do "dado", a poesia nos remete
terra e do céu. Com um mínimo de palavras, Trakl dá vida a todo um ambiente natural. às coisas concretas, desvendando os sentidos inerentes ao mundo-da-vida."
Mas o exterior, o lado de fora, também possui propriedades criadas pela mão do ho-
Além disso, o poema de Trakl faz uma distinção entre elementos naturais e elemen-
mem. Lá está o sino que toca ao anoitecer, ouvido em toda parte, que torna o "lado de
tos fabricados pelo homem, com o que sugere um ponto de partida para uma "feno-
dentro", o "privado", parte de uma totalidade "pública" abrangente. O sino vespertino,
menologia do ambiente". Os elementos naturais são, evidentemente, os componentes
entretanto, é mais que um artefato prático, é um símbolo, que relembra os valores co-
principais do dado, e os lugares costumam ser definidos em termos geográficos. Cabe
muns nos quais se fundamenta essa totalidade. Como diz Heidegger, "o repicar do sino
insistir, porém, que "lugar" significa mais do que uma localização. A literatura atual
ao anoitecer chama os homens, como mortais, à presença do divino"."
sobre a "paisagem" contém várias tentativas de descrição de lugares naturais, mas essa
Os dois versos seguintes apresentam o "lado de dentro", descrito como uma casa prática usual nos parece, mais uma vez, excessivamente abstrata, porque se baseia em
que d á abrigo e segurança por ser fechada e "bem-preparada". Mas há uma janela, considerações "funcionais", ou mesmo "visuais".' Precisamos mais uma vez recorrer à

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ajuda da filosofia. Heidegger estabelece uma primeira distinção fundamental entre os usada em seu sentido original de "reunir", e, mais adiante, ele acrescenta: "Only what
conceitos de "terra" e céu", quando afirma: " A terra é o que sustenta ser\'indo, flores- conjoins itself out of world becomes a tliing" ["Só o que se reúne fora do mundo chega
cendo e dando frutos, espalhando-se em rochedo e água, abrindo-se em plantas e ani- a ser coisa"].'*
mais [...1 O céu é o caminho arqueado do sol, o curso das várias luas, da cintilação das Essas observações introdutórias fornecem várias pistas sobre a estrutura dos lu-
estrelas, das estações do ano, da luz e do crepiisculo do dia, das sombras e dos clarões gares. Algumas já foram estudadas pelos filósofos e oferecem um excelente ponto de
da noite, da clemência e da inclemência do tentpo, das nuvens errantes e do azul pro- partida para uma fenomenologia mais completa. Demos um primeiro passo com a dis-
fundo do espaço celeste [...1".'° Como muitos achados fundamentais, a distinção entre tinção entre fenómenos naturais e fenómenos fabricados peio homem. U m segundo
terra e céu pode parecer trivial. Mas sua importância se revela quando acrescentamos passo é representado pelas categorias terra-céu (horizontal-vertical) e fora-dentro.
a definição de Heidegger do "habitar": "o modo como você é, eu sou, o modo como Estas categorias têm implicações espaciais, mas o conceito de "espaço" reaparece aqui
os homens são na terra, é habitar [...]". Mas "na terra" já traz em si o sentido de "sob não como uma noção essencialmente matemática, mas como uma dimensão existen-
o céu"." Heidegger também chama de mundo o que fica entre a terra e o céu, e diz que cial.'" U m último passo especialmente importante é dado pelo conceito de "caráter". O
"o mundo é a casa onde habitam os mortais".'- Em outras palavras, quando homem é caráter é determinado por como as coisas são, e oferece como base de nossa análise os
capaz de habitar, o itrundo se torna um "interior". fenómenos concretos do mundo-da-vida cotidiana. Só assim podemos compreender
Em geral, a natureza forma ampla e extensa totalidade, um "lugar", que, de acordo de modo cabal o genius loci, isto é, o "espírito do lugar" que os antigos reconheciam
cora as circunstâncias locais, possui uma identidade peculiar. É possível definir essa como aquele "outro" que os homens precisam aceitar para ser capazes de habitar."* O
identidade, ou "espírito", nos termos concretos, "qualitativos", que Heidegger em- conceito de genius loci refere-se à essência do lugar.
prega para caracterizar o céu e a terra, e devemos partir dessa distinção fundamental.
C o m ÍS.S0, podemos obter uma compreensão existencialmente relevante do conceito A ESTRUTURA DO LUGAR '
de paisagem, que cabe preservar como principal designação dos lugares naturais. Mas
a paisagem comporta lugares subordinados e também "coisas" naturais, como a "ár- A análise até aqui realizada sobre o fenómeno do lugar leva-nos a concluir que a estru-
vore" de Trakl. O significado do ambiente natural se "condensa" nessas coisas. tura do lugar deveria ser classificada como "paisagem" e "assentamento" e analisada
Os elementos do ambiente criado pelo homem são, em primeiro lugar, todos os por categorias como "espaço" e "caráter". Enquanto "espaço" indica a organização
"assentamentos" de diferentes escalas, das casas às fazendas, das aldeias às cidades, tridimensional dos elementos que formam um lugar, o "caráter" denota a "atmosfera"
e, em segundo lugar, os "caminhos" que os conectam, além dos di\'ersos elementos geral que é a propriedade mais abrangente de um lugar. Em vez da distinção entre
que transformam a natureza em "paisagem cultural". Quando os assentamentos es- espaço e caráter, podemos partir de um conceito amplo, aomo o de "espaço vivido".'"
tão organicamente integrados ao seu ambiente, supõe-se que são pontos focais onde No nosso caso, entretanto, é mais prático distinguir espaço de caráter. Organizações
a qualidade peculiar do ambiente se condensa e "explica". Heidegger afirma que: "as espaciais similares podem ter cunhos muito diferentes conforme o tratamento con-
casas particulares, as aldeias, as cidades são construções que retinem dentro delas e creto dos elementos que definem o espaço (ou/rwifí-íríi). A história das formas es-
em torno delas esse entre multiforme. As construções trazem a terra, como paisagem paciais básicas já recebeu novas caracterizações."' Por otitfo lado,4eve-seassiaakT
habitada, para perto do homem e, ao mesmo tempo, situam a intimidade da vizi- que a organização espacial impõe certos limites a essas interpretações e-que os dois
nhança sob a vastidão do céu".'^ Logo, a propriedade básica dos lugares criados pelo conceitos - espaço e caráter - são interdependentes.
homem é a concentração e o cercamento. Os lugares são literalmente "interiores", o O conceito de "espaço" certamente nào é novo na teoria da arquitetura, mas pode
que significa dizer que "retinem" o que é conhecido. Para cumprir essa função, os ter muitos significados. A literatura corrente distingue dois usos: o í s p a ç o c^cao geo-
lugares contêm aberturas através das quais se ligam com o exterior. (A bem dizer, metria tridimensional, e espaço como campo perceptual." Entretanto, nenhum deles
só u m interior pode possuir aberturas.) Além disso, as construções se ligam às suas é satisfatório, porque são abstrações a partir da totalidade intuitiva tridimensional da
vizinhanças porque repousam sobre o solo e se elevam para o céu. Finalmente, os experiência cotidiana, que podemos chamar de "espaço concreto". N a realidade, as
ambientes criados pelo homem incluem artefatos o u "coisas" que servem de focos ações concretas das pessoas não têm lugar num espaço isotrópico homogéneo, mas
internos e sublinham a função de reunião do assentamento. Nas palavras de Heideg- ocorrem em um espaço que se caracteriza por diferenças qualitativas, como "em cima"
ger: "the thing things world" ["a coisa reiíne o mundo"], onde a palavra "thinging" ê e "embaixo". Muitas tentativas já foram feitas na teoria da arquitetura para definir o
espaço em termos qualitativos concretos. (Siegfried) Giedion distingue "exterior" de res naturais e os lugares feitos pelo homem. As propriedades de confinar um espaço,
"interior" como fundamento de uma concepção grandiosa da história da arquitetura.-" típicas de uma fronteira, são determinadas por suas aberturas, como Trakl intuiu po-
Kevin Lynch investiga mais a fundo a estrutura do espaço concreto, introduzindo os eticamente ao usarias imagens da janela, da porta e da soleira. Geralmente a fronteira,
conceitos de "nodo" ("marco"), "baliza", "caminho", "borda" e "distrito" para in- especialmente a parede, expõe a estrutura espacial como extensão, direção e ritmo
dicar os elementos que embasam a orientação das pessoas no espaço.-' E Paolo Por- contínuos ou descontínuos.
toghesi define o espaço como um "sistema de lugares", o que dá a entender que o "Caráter" é um conceito ao mesmo tempo mais geral e mais concreto do que "es-
conceito tem raízes em situaçóes concretas, embora possam ser descritos por métodos paço". Por um lado, indica uma atmosfera geral e abrangente, e por outro, a forma e a
matemáticos.-- Esta última concepção é compatível com a afirmação de Heidegger de substância concreta dos elementos que definem o espaço. Toda presença real e-stá inti-
que "os espaços recebem sua essência dos lugares e não 'do espaço'".-' A relação inte- mamente ligada ao caráter.-" Uma fenomenologia do caráter deve compreender uma
rior-exterior, que é um aspecto principal do espaço concreto, sugere que os espaços pesquisa sobre o.'í caracteres obscn.'nvci< hcm . r o n i r i uin exiuiie dc .seus determinantes
poaòuciu giaub variados de extensão e cercamento. Enquanto as paisagens se diferen- concretos. Assinalamos anteriormente que diferentes ações exigem lugares com um
ciam por terem extensões variáveis, mas basicamente contínuas, os assentamentos cunho diferente. U m habitat tem de ser "protetor"; um escritório tem de ser "prático";
: são entidades muradas entre fronteiras. Portanto, assentamento e paisagem mantêm um salão de baile, "festivo"; e uma igreja, ".solene". Quando visitamos uma cidade es-
entre si uma relação de figura-fundo. De modo geral, tudo o que fica encerrado se trangeira, geralmente o que nos impressiona é seu caráter peculiar, que é parte impor-
manifesta como "figura" contra o vasto fundo da paisagem. O povoamento perde sua tante da experiência. As paisagens também possuem caráter, algumas das quais são
identidade quando tal relação se corrompe, da mesma forma como a paisagem perde de um tipo especialmente "natural". Falamos, por exemplo, de paisagens "áridas" e
. sua identidade de ampla extensão. Em um contexto maior, tudo o que fica encerrado "férteis", "sorridentes" e "ameaçadoras". É importante a.ssinalar que geralmente todos
se torna lun centro que pode exercer a função de "foco" para seu entorno. O espaço se os lugares possuem um caráter, e que essa qualidade peculiar é a maneira básica em que
estende a partir do centro com graus variáveis de continuidade (ritmo) e em diferen- o mundo nos é "dado". Até certo ponto, o caráter de um lugar é uma função do tempo;
tes direções. Naturalmente, as direções principais são a horizontal e a vertical, isto é, ela muda com as estações, com o correr do dia, e com as situações meteorológicas, fa-
as direções da terra e do céu. Portanto, centralização, direção e ritmo são importantes tores que, acima de tudo, determinam diferentes condições de luz.
propriedades do espaço concreto. Por último, deve-se mencionar que os elementos
O caráter é determinado pela constituição material e formal do lugar. Devemos
naturais (como as montanhas) e os assentamentos podem agrupar-se ou formar fei-
então perguntar como é o solo em que pisamos, como é o céu sobre nossas cabeças,
xes, c o m graus diversos de pro.KÍmidade.
ou de modo mais geral, como são as fronteiras que definem o lugar. O modo de ser
Todas as propriedades espaciais mencionadas são de natureza "topológica" e cor- de uma fronteira depende de sua articulação formal, que está novamente relacionada
respondem aos famosos "princípios de organização" da teoria da Gestalt. As pesquisas com a maneira pela qual ela foi "construída". Olhando uma construção desse ponto
de Piaget sobre a concepção de espaço das crianças confirmam a importância existen- de vista, temos de examinar como ela repousa s ó b r i o solo e como se ergue para o céu.
cial desses princípios.-' Os modos geométricos de organização somente se desenvol- Uma atenção especial deve ser dedicada às fronteiras laterais, o u paredes, que contri-
vem mais tarde na vida para atender a necessidades especiais e geralmente são vistos buem decisivamente para determinar o caráter do ambiente urbano. Devemos a Ro-
como uma definição mais "exala" de estruturas topológicas básicas. O cercamento bert Venturi o reconhecimento desse fato, depois de tantos anos em que se considerou
topológico converte-se então em círculo, a curva livre <onverte-se em linha reta, e o "imoral" falar sobre "fachadas".-' O caráter de uma "família" de construções que cons-
febce numa grade. A arquitetura usa a geometria para tornar patetite um sistema geral titui um lugar geralmente está "condensado" em motivos característicos, como certos
de grande abrangência, como uma ilação de "ordem cósmica". tipos de janelas, portas e telhados. Esses motivos se tornam às vezes "elementos con-
Todo espaço cercado é definido por uma fronteira, e Heidegger afirma que: " A vencionais" que servem para transpor o caráter de um lugar para outro. Desse modo,
fronteira não é aquilo em que uma coisa termina, mas, como já sabiam os gregos, a na fronteira, caráter e espaço se combinam e isso nos leva a concordar com Venturi
fronteira é aquilo de onde algo começa a se fazer presente"." As fronteiras de um quando ele define a arquitetura como "a parede entre o interior e o exterior".-'
espaço construído são o chão, a parede e o teto. As fronteiras de uma paisagem são Excetuando as intuições de Venturi, o problema do caráter do lugar quase não foi
estruturalmente semelhantes e consistem no solo, no horizonte e no céu. Essa simila- tratado na teoria corrente da arquitetura. O resultado disso foi que grande parte da
ridade estrutural simples tem importância fundamental para as relações entre os luga- teoria perdeu contato com o mundo-da-vida concreta. Isso é especialmente notório
110 caso da tecnologia, que atualmente é considerada ura moio banal de satisfazer de- zadas de forma topológica no interior de uma estrutura geométrica etc. Voltaremos
mandas práticas. Contudo, o caráter do lugar depende de como as coisas são feitas, e mais adiante a esses problemas específicos de correspondência estrutural; por ora, é
é, por isso mesmo, determinado pela realização técnica (a "construção"). Heidegger preciso dizer algumas palavras a respeito do principal "degrau" na escala de níveis
obser\'a que a palavra grega téchiie significava uma "re-velação" criativa {Enthergeii) ambientais: a relação entre lugares naturais e lugares criados pelo homem.
da verdade e pertencia à poíésis, isto é, ao "fazer".-' Uma fenomenologia do lugar deve, Os lugares construídos pelo homem se relacionam com a natureza de três formas
então, abordar os métodos básicos de construção e suas relações com a articulação básicas. Em primeiro lugar, o homem deseja fazer a estrutura natural mais exata. Isto
formal. Somente dessa maneira a teoria da arquitetura poderá ter uma base verdadei- é, ele quer visualizar seu "modo de entender" a natureza, dando "expressão" à base de
ramente concreta. ,;, apoio existencial que conquistou. Para tanto, ele constrói o que viu: onde a natureza
A estrutura do lugar se expressa em totalidades ambientais que incluem os as- insinua um espaço delimitado, constrói uma área fechada; onde a natureza .se mostra
pectos do espaço e de seu caráter. Esses lugares são chamados de "países", "regiões", "centralizada", ele erige um Mal [marco];'- onde a natureza indica urna direção, ele faz
"paisagens", "assentamentos" e "construções". E isso nos traz de volta a "coisas" con- um caminho. Em segundo lugar, o homem tem de simbolizar seu modo de entender
cretas do mundo-da-vida cotidiana do qual partimos c nos relembra as palavras de a natureza (inclusive ele mesmo). A simbolização implica "traduzir" para outro meio
Rilke: "Quem sabe não estamos nós aqui para dizer [...)" Assim, ao classificar lugares, um significado experimentado. Por exemplo, um determinado caráter natural é tra-
deveríainos usar palavras como "ilha", "promontório", "baía", "floresta", "bosque", duzido em uma construção cujas propriedades de algum modo o exprimem." O ob-
ou "praça", "rua", "pátio", "chão", "parede", "teto", "telhado", "janela", "porta". jetivo da simbolização é libertar o significado da situação imediata, por meio do que
Por isso, lugares são designados por substantivos e isso implica dizer que os con- se torna um "objeto cultural", que pode fazer parte de uma situação mais complexa
sideramos "coisas [reais] que e.^cistem", que é o sentido original da palavra "subs- ou transferir-se para outro lugar. Finalmente, o homem precisa reunir os significados
tantivo". O espaço, como um sistema de relações, é indicado por preposições. No aprendidos por experiência a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou um
dia-a-dia, raramente falamos sobre "espaços", mas sobre coisas que estão "acima" microcosmo, que dê concretude a esse mundo. A reunião desses significados depende,
ou "abaixo", "antes" ou "atrás" umas das outras, ou usamos preposições como "de", é claro, da simbolização e pressupõe uma transposição de sentidos para um lugar, que
"em", "entre", "sob", "sobre", "para" "desde", "com", durante". Todas essas prepo- por isso assume o caráter de um "centro" existencial.
sições indicam relações topológicas do tipo mencionado acima. Por fim, o caráter é Visualização, simbolização e reunião são aspectos do processo geral de fixar-se num
indicado por adjetivos, conforme já dissemos. U m caráter é uma totalidade complexa determinado lugar; e habitar, no sentido existencial da palavra, depende dessas funções.
e um adjetivo sozinho não pode dar conta de mais de um aspecto dessa totalidade. Heidegger ilustra o probleina com a menção à ponte, "construção" que visualiza, sim-
Muitas vezes, porém, o caráter é tão nítido que uma só palavra é suficiente para captar boliza e liga, e faz do ambiente um todo unificado. Heidegget>escreve o seguinte:
sua essência. Como se vê, a própria estrutura da linguagem cotidiana confirma a aná-
lise que fizemos do lugar. A ponte se estende lépida e forte sobre o rio. Ela não junta as margens que já existem,
Países, regiões, paisagens, assentamentos, construções (e seus lugares secundá- as margens é que surgem como margens somente porque a ponte cruza o rio. É a
rios) formam uma série dotada de uma escala que diminui gradativamente. Designa- ponte propriamente dita que faz com que as margens fiquem uma defronte da outra.
mos os degraus nessa escala de "níveis ambientais"."' No "topo" da série, encontramos É pela ponte que um lado se opõe ao outro. Tampouco as margens correm ao longo
os lugares naturais mais abrangentes, que "contem" os lugares criados pelo homem do rio como faixas de fronteira indiferentes da terra firme. Com as margens, a ponte
nos níveis "inferiores". Estes possuem a função de "reunir" e "focalizar" a que.nos leva ao rio as duas exteníióes de paisagem que se encontram atrás delas. Põe o rio, as
referimos acima. Em outras palavras, o homem "recebe" o ambiente e faz convergir margens e a terra numa vizinhança recíproca. A ponte junta a terra, como paisagem,
para ele as construções e as coisas. Desse modo, as coisas "explicam" o ambiente e evi- em torno do rio.^'' •• ^ -
denciam o seu caráter. Esta é a função básica do detalhe em nosso ambiente.^' Isso não
significa, porém, que os diferentes níveis tenham a mesma estrutura. Aliás, a história Heidegger t a m b é m descreve o que a ponte junta e assim revela seu valor como sím-
da arquitetura mostra que isso raramente acontece. Os assentamentos vernaculares bolo. Não podemos nos estender aqui sobre esses detalhes, mas eu gostaria de salien-
geralmente têm uma organização topológica, embora as casas particulares possam ser tar que a paisagem como tal obtém seu valor por intermédio da ponte. Antes dela, o
rigidamente geométricas. Nas grandes cidades, não é difícil encontrar áreas orgaiti- significado da paisagem estava "oculto" e a construção da ponte lhe retira o véu.

452
A ponte liga o Ser a uma certa "localização" que podemos chamar de um "lugar". Só tanto num sentido físico como psíquico. No Egito antigo, por exemplo, o campo era
que esse lugar não existia como entidade antes da ponte (embora sempre houvesse não somente cultivado de acordo com os fluxos e refluxos do rio Nilo, mas a estrutura
muitos "sítios" ao longo da margem do rio em que o lugar poderia surgir), mas se faz mesma da paisagem servia de modelo para o traçado dos edifícios "públicos" que de-
presente com e como ponte.'-' : ; < ,, >, viam dar uma sensação de segurança por simbolizarem uma ordem ambiental eterna."
No curso da história, o genius loci tem se mantido como uma realidade viva, ape-
O propósito existencial do construir (arquitetura) é fazer um sítio tornar-se um lugar, sar de nem sempre ser designado por esse nome. Artistas e escritores buscam inspi-
isto é, revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado. ração no caráter local e tendem a "explicar" tenômenos da vida cotidiana e da arte
A estrutura de um lugar não é fixa e eterna. É normal que os lugares mudem, às por referência a paisagens e ao contexto urbano. Goethe, por exemplo, afirmoíi: "É
vezes muito rapidamente. Isso não significa, porém, que o genius loci necessariamente claro que o olho é educado pelas coisas que vê desde a infância e, por isso, os pin-
mude ou se extravie. Mais adiante veremos que fer lugar pressupõe que os lugares tores venezianos enxergam tudo com mais clareza e alegria do que outros povos".*
conservem suas identidades durante determinado período de tempo. Stabilitas loci é Em 1960, Lawrence Durrell escreveu: "À medida que você vai conhecendo a Europa,
uma condição necessária para a vida humana. Como então essa estabilidade é com- saboreando lentamente seus vinhos, queijos e as qualidades peculiares dos diferentes
patível com a dinâmica da mudança? Deve-se assinalar, primeiramente, que qualquer países, começa a perceber que o determinante mais importante de qualquer cultura é,
lugar deveria ter a "capacidade" de receber diferentes "conteúdos", naturalmente den- no fim de tudo, o espírito do lugar".'" O turismo moderno cotnprova que as pessoas
tro de certos limites.* U m lugar que só é próprio para certos fins logo se torna inútil. têm grande interesse pela experiência de diferentes lugares, embora, ao que parece,
Segundo, é óbvio que se pode "interpretar" um lugar de diferentes maneira.s. K a ver- esse também seja um dos valores em declínio nos dias de hoje. O fato é que, durante
dade, proteger e conservar o genius loci implica concretizar sua essência em contextos muito tempo, o homem moderno imaginou que a ciência e a tecnologia haviam-no
históricos sempre novos. Poderíamos dizer também que a história dc um lugar deve- libertado da dependência direta dos lugares.'- Mas essa crença logo se revelou ilusória
ria ser sua "auto-realizaçâo". O que, a princípio, eram simples possibilidades é reve- - de repente, surgiram, como tenebrosa nêmesis, a poluição e o caos ambiental, devol-
lado pela ação humana, iluminado e "conservado" em obras de arquitetura que são ao vendo ao problema do espaço sua verdadeira relevância. , ,}>...
mesmo tempo "velhas e novas".'' Assim sendo, um lugar comporta propriedades que Usamos a palavra "habitar" para nos referirmos às relações entre o homem e o
têm um grau variável de invariância. lugar. Para entender melhor o que esta última palavra significa, vale a pena retomar a
A conclusão geral é que o lugar é o ponto de partida e o objetivo de nossa investi- distinção entre "espaço" e "caráter". Quando o homem habita, está simultaneamente
gação estrutural; no início, o lugar se apresenta como um dado, espontaneamente vi- localizado no espaço e e.xposto a um determinado caráter ambiental. Denominarei
vido como uma totalidade e, ao fim e ao cabo, ele surge como um mundo estruturado, de "orientação" e "identificação" as duas funções psicológiías implicadas nessa con-
iluminado pela análise dos aspectos do espaço e do caráter. dição.*' Para conquistar uma base de apoio existencial, o homem deve ser capaz de
orientar-sc, de saber onde está. Mas ele também tem de identificar-se com o ambiente,
O ESPÍRITO DO LUGAR isto é, tem de saber como está em determinado lugar.
O problema da orientação tem recebido considerável atenção por parte da lite-
Genius loci é um conceito romano. Na Roma antiga, acreditava-se que todo ser "inde- ratura teórica recente sobre planejamento e arquitetura. Devemos citar novamente a
pendente" possuía um genius, um espírito guardião. Esse espírito dá vida às pessoas e obra de Kevin Lynch, cujos conceitos de "nodo", "caminho" e "distrito" indicam as
aos lugares, acompanha-os do nascimento à morte, e determina seu caráter ou (;ssên- estruturas espaciais básicas que são objetos da orientação das pessoas. A percepção de
cia. Até os deuses tinham seus genius, o que bem ilustra a natureza fundamental do uma inter-relação entre esses elementos forma uma "imagem ambiental", sobre a qual
conceito." O genius denota o que uma coisa é, ou o que "ela quer ser", para usar uma Lynch afirma: "Ter uma boa imagem ambiental confere ao indivíduo uma importante
expressão de Louis Kahn. Não precisamos nos estender aqui na história do conceito sensação de segurança emocional"." Assim, todas as culturas criaram "sistemas de
de genius e sua relação com o daimon dos gregos. Basta assinalar que os antigos viviam orientação", ou seja, estruturas espaciais que facilitam o desenvolvimento de uma boa
seu ambiente como constituído de caracteres definidos. Principalmente, os antigos re- imagem ambiental. " O mundo pode organizar-se em torno de um conjunto de pontos
conheciam a suma importância de entrar em acordo com o genius da localidade onde focais, ou fragmentar-se em regiões indicadas por nomes próprios, ou articular-se por
viviam. Em tempos passados, a sobrevivência dependia de uma boa relação com o lugar. caminhos fixados na l e m b r a n ç a " . E s s e s caminhos geralmente se baseiam ou derivam
Y

de uma dada estrutura natural. Quando o sistema é frágil, a pessoa tem dificuldade as "forças" da natureza: u m assentamento humano no deserto visa principalmente
de formar aquela imagem e se sente "perdida". "O medo de se perder decorre da ne- excluir a areia e o sol. O que queremos dizer é que o ambiente é vivido como portador
cessidade característica do organismo vivo de orientar-se em seu entorno."*' Eviden- de um significado. [Otto Friedrich) BoUnow escreveu com bastante propriedade que,
temente, estar perdido é justo o oposto do sentimento de segurança que distingue o "lede Stimmung ist Obereinstimmung", isto é, todo caráter consiste em uma corres-
habitar. A qualidade ambiental que protege o ser humano de perder-se é denominada pondência entre o mundo externo e o mundo interno, entre corpo e alma.'' No caso
por Lynch de "imagibilidade", que designa "aquela forma, cor ou organização que do homem urbano moderno, a relação amistosa com um ambiente natural limita-se
facilita a formação de imagens mentais vividamente identificadas, fortemente estru- a relações fragmentárias. Em vez disso, ele tem de identificar-se com coisas fabrica-
turadas e de grande utilidade do ambiente".*" O que Lynch pretende acentuar é que das pelo homem, como ruas e casas. O arquiteto norte-americano de origem alemã,
os elementos componentes da estrutura espacial são "coisas" concretas, dotadas de Gerhard Kallman, certa vez contou uma história que ilustra bem essa situação. A o vi-
"caráter" e de "significado". Mas Lynch se limita a analisar a função espacial desses sitar sua cidade natal, Beriira, no final da Segunda Guerra Mundial, depois de muitos
elementos e, por conseguinte, nos lega um entendimento fragmentário do habitar. anos de ausência, ele quis rever a casa em que crescera. Como era de esperar, tratando-
Mesmo assim, a análise de Lynch é uma contribuição essencial para a teoria do se de Berlim, a casa tinha desaparecido, e Kallman se sentiu um pouco perdido. De re-
lugar. A importância de seu livro decorre ainda do fato de seus estudos empíricos pente, ele reconheceu o desenho típico das calçadas: o chão em que brincava quando
sobre a estrutura urbana concreta confirmarem os "princípios gerais de organização" criança! E teve a forte sensação de, enfim, voltar para casa.
da percepção, definidos pela psicologia da Gestalt e pelas pesquisas sobre psicologia Essa história nos mostra que os objetos de identificação são propriedades con-
infantil de (Jean) Piaget.*' cretas do ambiente e que as pessoas geralmente desenvolvem relações com elas du-
Não querendo reduzir a importância da orientação, é preciso ressaltar que habi- rante a infância. A criança cresce em espaços verdes, marrons ou brancos; passeia
tar pressupõe, antes de tudo, uma identificação com o ambiente. Embora orientação ou brinca na areia, na terra, na pedra ou no mu.sgo, sob um céu nublado ou sereno;
e identificação sejam aspectos de uma relação total, esses fatores m a n t ê m certa in- agarra e levanta coisas duras e macias; ouve ruídos, como o som do vento balançando
dependência no interior da mesma totalidade. Sem dúvida, uma pessoa é capaz de as folhas de uma certa espécie de árvore; tem experiências do calor e do frio. É assim
orientar-se bem sem se sentir profundamente identificada; ela se safa sem sentir-se que a criança toma conhecimento do ambiente e elabora esquemas perceptuais que
"em casa". E é possível sentir-se "em casa" sem conhecer a fundo a estrutura espacial determinam todas as suas ftituras experiências.'- Os sistemas perceptuais se compõem
do lugar, isto é, o lugar é percebido por ter um caráter genericamente agradável. O de estruturas universais, inter-humanas, e também de estruturas condicionadas pela
sentimento profundo de ser do lugar pressupõe que as duas funções psicológicas este- cuhura e determinadas pelo lugar. É evidente que todo ser humano precisa possuir
jam plenamente desenvolvidas. Nas sociedades primitivas, até os menores detalhes do tanto sistemas mentais de orientação como de identificação.'
meio são conhecidos e significativos, constituindo estruturas espaciais comple-xas.*^ A identidade de uma pessoa se define em função dos sistemas de pensamento de-
As sociedades modernas, porém, concentram toda a atenção quase exclusivamente na senvolvidos, porque são eles que determinam o "mundo" acessível. Esse fato é con-
fiinção "prática" de orientação, enquanto a identificação é deixada ao acaso. Em con- firmado pelo uso corrente da linguagem. Quando uma pessoa quer declarar quem é,
sequência disso, a alienação tomou o lugar do verdadeiro habitar, no sentido psicoló- geralmente diz: "Sou nova-iorquino" ou "Sou romano". Isso tem u m significado bem
gico. Existe, portanto, uma urgente necessidade de compreender melhor os conceitos mais concreto do que dizer: "Sou arquiteto" ou, então, "Sou um otimista". Nós enten-
de "identificação" e de "caráter". demos que a identidade das pessoas é, em boa medida, uma função dos lugares e das
"Identificação" significa, para os fins destaanálise, ter uma relação "amistosa" com coisas. Heidegger disse: "Wir sind die Be-Dingen"Por isso, é importante não só que
determinado ambiente. O homem nórdico tem de se relacionar bem com o nevoeiro, nossa ambiência possua uma estrutura espacial que facilite a orientação, mas também
a neve e os ventos gelados; tem de gostar do ruído da neve rangendo sob seus pés que esta seja constituída de objetos concretos de identificação. A identidade humana
quando sai para passear, tem de sentir a poesia de estar envolto pelo nevoeiro, como pressupõe a identidade do lugar.
Herman Hesse, que escreveu: "estranho, caminhar no nevoeiro! Solitário é cada ar- Identificação e orientação são aspectos essenciais do estar-no-mundo do homem.
busto e pedra, uma árvore não enxerga a outra, todas as coisas estão sós f...]".™ O Enquanto a identificação é a base do sentimento de pertencer, a orientação é a fun-
árabe, por sua vez, tem de ser amigo da infinita imensidão do deserto de areia e do sol ção que o torna capaz de ser aquele homo viator [homem peregrino] que faz parte
escaldante. Isso não quer dizer que seus assentamentos não devam protegê-lo contra de sua natureza. Caracteristicamente, o homem moderno, por muito tempo, deu ao

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peregrino um papel de honra. Ele desejou ser "livre" e conquistar o mundo. Hoje Esses versos dizem que os méritos do homem não contam muito se ele é incapaz de
começamos a compreender que a verdadeira liberdade pressupõe um sentimento de habitar poeticamente, isto é, de habitar no verdadeiro sentido da palavra. Heidegger
pertencer e que "habitar" significa pertencer a um lugar concreto. afirma o seguinte: " A poesia não voa acima e sobrepuja a terra a fim de escapar dela
A palavra "habitar" tem muitas conotações que confirmam e iluminam nossa tese. e de pairar sobre ela. A poesia é o que primeiro traz o homem para a terra, fazendo-o
Em inglês, a palavra dwell [habitar] deriva do norueguês antigo dvelja, que significa pertencer a ela, e as.sim trazendo-o à morada".'" Somente a poesia, em todas as suas
residir ou permanecer. De modo análogo, Heidegger relacionou o alemão "wohnen" formas (e também a "arte de viver") dá sentido à vida humana, e o significado é a ne-
[morar, residir] a bleiben (permanecer] e skh mtjlialten [deter-se, ficar].^* O filósofo cessidade humana fundamental. '
assinala que o gótico wuniaii significava "estar satisfeito", "estar em paz". A palavra A arquitetura pertence à poesia, e seu propósito é ajudar o homem a habitar. Mas
em alemão para "paz", Friede, significa ser livre, isto é, protegido do perigo e das ame- é uma arte difícil. Fazer construções e cidades concretas não é suficiente. A arquitetura
aças. Es.sa proteção é obtida por um Umfriediaig. ou confinamento. Friede também c n m c ç n a existir quando "faz visível lodo um ambiente", para citar uma definição J e Su-
se relaciona com zufrieden (conteúdo), Freund (amigo) e o gótico frijôn (amor). Hei- zanne Langer.^ Isso significa concretizar o genius loci. Vimos que isso acontece por meio
degger usa essas relações linguisticas para mostrar que habitar significa estar em paz de construções que reúnem as propriedades do lugar e as aproximam do homem. Logo, o
num higar protegido. Acrescente-se que a palavra em alemão para habitar, Wobmmg, ato fundamental da arquitetura é compreender a "vocação" do lugar. Dessa maneira, pro-
vem de das Gewohnte, o que é conhecido ou habitual. As palavras "hábito" e "habitat" tegemos a terra e nos tornamos parte de uma totalidade compreensível. O que se defende
revelam uma relação análoga. Isto é, o homem sabe ao que tem acesso por meio da aqui não é uma espécie de "determinismo ambiental". Apenas reconhecemos o fato de
morada. C o m isso, voltamos ao Obereinstimmung ou a correspondência entre o ho- que o homem é parte integral do ambiente e que ele somente contribui para a alienação
mem e seu ambiente, e tocamos então na raiz do problema do ato dc "reunir". Reunir e ruptura do ambiente quando se esquece disso. Pertencer a um lugar quer dizer ter uma
significa que o mundo-da-vida se tornou gewohnt ou "habitual". Mas reunir é um base de apoio existencial em um sentido cotidiano concreto. Quando Deus disse a Adão:
fenómeno concreto e isso nos conduz à conotação final do "habitar". Mais uma vez "Serás um fiigitivo e um peregrino na Terra","' pós o homem frente a frente com seu pro-
é Heidegger quem desvenda a relação fundamental, quando assinala que a palavra blema fundamental: atravessar a soleira e reconquistar o lugar perdido.
"construir" no inglês antigo e no alto alemão equivalente, buan, significava morar e é
estreitamente relacionada com o verbo ser. "Então, o que significa ich bin [eu sou]? A ["The Phenomenon of Place" foi extraído de Architectural Association Quarterly 8, n. 4,
antiga palavra bauen, com a qual tem a ver bin, responde: ich bin, du bist, quer dizer: 1976: pp. 3-10. Cortesia do autor e da editora.] .,/is!-'. .a-.;;*!,:-. • i 'i ;
eu habito, tu habitas. O modo como tu es e eu sou, a maneira pela qual nós, os seres
humanos, somos na terra é buan, o habitar.""'' Pode-se concluir que habitar significa . í; i . •
reunir, juntar, o mundo como uma construção concreta, ou uma "coisa", e que o t.R.M. Rilke, The DuinoHegíes, I X Elegy. Nova York: i97i. •'
ato arquetípico de construir é o Umfriedungou confinamento. A intuição poética de 2.0 conceito de "mundo-da-vida cotidiana" foi criado por Husserl em The Crisis ofEuropean Scien- '
Trakl sobre a relação fora-dentro confirma isso e nos faz entender que o conceito de ces and Tramcendemal Phenametiology, 1936.
concretização denota a essência do habitar."^ 3. Martin Heidegger, "Bauen Wohnen Denken"; Bollnow, "Mensch und Raum"; Merleau-Pont>',
"Phenomenolog)' of Perception"; Bachelard, "Poetics of Space"; também L. Kruse, Rinmúicbe Um-
O homem habita quando é capaz de concretizar o mundo em construções e coisas.
welt. Berlim; 1974.
Já dissemos que a "concretização" é a função da obra dc arte em oposição à "abstra-
4. Heidegger, "Language", in Albert Hofstadter (org.l, Poetry, Lariguage, Thought. Nova York; 1971.
ção" da ciência.'" As obras de arte concretizam o que fica "entre" os puros objetos da
5. Tradução de Liliane Stahl.
ciência. Nosso mundo-da-vida cotidiana consísíe nesses objetos "intermediários", e Ein Winterabend *' - •>••
compreendemos que a função essencial da arte é reunir as contradições e complexi- Wenn der Sdinee ans Fenster fâllt, • '
dades do mundo-da-vida. Sendo uma imago mundi, a obra de arte ajuda o homem a Lang die Abendglocke lâuter, ' - '
habitar. [Friedrich] Hõlderlin estava certo quando disse: Vielen ist der Tisch bereitet v ' ' • ••
Und das Haus ist wohlbestellt. • '" '

Cheio de mérito, mas poeticamente, o homem Manchcr auf der Wanderschaft , .. ,


Kommt ans Tor auf dunklen Pfaden.
Habita nesta terra."

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Golden bliiht der Baum der Gnaden . • ., 41. L. Durrell, Spíríf of Place (Londres, 1969), p. 156-
Aus der Erde kuhlem Saft.j 42. Ver M. M. Weber, Explorations into Urban Structure (Filadélfia; 1963), que fala de "uma esfera
Wanderer tritt wiU lierein; urbana sem lugares".
Schmerz versteinerte die Schivclle. ' " ' 43. Norberg-Schulz, op. jit., 1963, em que utilizo os conceitos de "orientação cognitiva" e "orienta-
Da erglãnzt in reiner Helle ^ ' " ' ; > - ção catéctica".
Auf dem Tische Brot und Wsir^ ^ ' ' • 44. Lynch, op. cit., p. 4.
6. Heidegger,op.dt,p. 1^9. ^ , , / , . • , . «. 45. Id. ibid., p. 7.
7. Id. ibid., p. 204. •, , 1 t i, 46. Id. ibid., p 125- ' ' ' " ''• ' '
8. Christian Norberg-Schulz, "Symbolization", em Imentiom iit Aríhitecture. Oslo e Londres: 1963. ;i: 47. Id. ibid., p. 9.
9. Ver, porexemplo, J. .Appleton, Tlie Experience ofLandscape. Londres: 1975. . ^ 48. Para uma exposição mais detalhada, ver Norberg-Schulz, op. cit., 1971.
10. Heidegger, op.cit.,p. 149. , , ,,1 , ... , , ' 49. A. Rapoport, "Australian Aborigines and the Definition of Place", in P. Oliver (org.), Shelter, Sign,
• • • * — r i " - • - » " • , ^ òytnbol. Londres;
12. Heidegger, Hefre/cítTHíiujfreuiií/. Pfullingen: 1957, p. 13. ' 50. Seltsam, im Nebet zu wandern! Einsam ist jedcr Busch und Sein, kein Baum sicht den anderen,
13. Id. ibid., p. 13. jeder ist allein.
14. Heidegger, op. cit., pp. 181-81. 51. BoUnow, op. cit-, p. 39.
15. Norberg-Schulz, Bxistence, Space and Architecture. Londres e Nova York: 1971, onde adoto o con- 52. Norberg-Schulz, op. cit., 1963, PP- 4iss.
ceito dc "espaço existencial". 53. Heidegger, op. cit., 1971, p. 181. "Nós somos os 'coisificados'", os condicionados.
16. Heidegger chama a atenção para a relação entre as palavras gegen (contra, contrário) e Gegenii 54. Heidegger, "Building Dwelling Thinking", in op. cit., 1971,146SS. - •^
(ambiente, localidade). 55. Id. ibid., p. 147- '' '
17. Foi o que fizeram alguns autores, entre os quais K. Graf von Diirckheim, E. Straus e O. F. BoU- 56. Norberg-Schulz, op. cit-, 1963, p.âiss, 68. , . .
now. 57. Id. ibid., p. 168SS. . -,' ,
18. Conipare-se com a distinção de Alberti entre "beleza" e "ornamento". 58. Full of merits, yet poetically, man ^ }^,Js,•i•h 1

19. Norberg-Schulz, op. cit., 1971, p. uss. ' i >' - t r ' • ? Dwells on this earth. _ ?. ,
20. S. Giedion, The Eternal Present: The Beginnings of Architecture. Londres; 1964- 59. Heidegger, op. cit., 1971, p. 2)8. , _ , . _ , i-
21. K. L>Tich, T/ie fmíigío/r/ieCít)'. Cambridge: 1960. " 60. S. Langer, Feeling and Form. Nova York; 1953.
22. P. Portoghesi, LeInibizionideWArchitettura Moderna. Bari: 1975, pp. 88ss- ••'*;'•.>• .1, 61. Cédesii', cap. 4, versículo 2. ' ' "'•
23. Heidegger, op. cit., p. 18.
24. Norberg-Schulz, op. cit., 1971, p. 18. '
25. Heidegger. op. cit., p. 154. "Presença é a velha palavra para o ser." -., / , , ,i.a %fí .suRJl M -S i
CHRISTIAN NORBERG-SCHULZ . O PENSAMENTO DE HEIDEGGER SOBRE
26. O. F. BoUnow, Das Wísen der Stimmungen. Franfurt am Mein; 1956.
ARQUITETURA
27. Robert Venturi, Complexity and Contradiaion in .Arciiitectwe. Nova York; 1967, p. 88.
28. Id. ibid., p. 89. r Esta lúcida explicação de "O pensamento de Heidegger sobre arquitetura" c o n t é m
29. Heidegger, "Die Frage nach der Technik", in Vortrãge und Aufiãtze Pfullingen. 1954, p. 12. o uma análise linguistica de vários escritos do filósofo, seguindo o interesse do próprio
m
30. Norberg-Schulz, op. cit., 1971, p. 27.
o- Heidegger pela etimologia das palavras de uso corrente. Em resumo, o ensaio desen-
a
*^
31. Id. ibid., p. 32. c volve a crítica de Norberg-Schulz à arquitetura moderna, que ele considera a origem
32. D. Frey, Grundlegung zu einer vergleichenden Kunstwissenschaft. Viena c Innsbruck: 1949,
33. Norberg-Schulz, op. cit., 1963. / ,
£o. de uma crise de significado por ter criado um ambiente diagramático e funcionaiista
.1 que n ã o favorece o habitar. Referindo-se a um "nsonsento de confusão e crise", Nor-
34. Heidegger, op. cit., p. 152,1971.
berg-Schulz reconhece que o problema do significado na arquitetura foi abordado por outros
35. W. f. Richardson, Heidegger, Through Phenomenology to Thought. The Hague; 1974, p. 585.
autores e que alguns partiram da semiologia (estudando a arquitetura como sistema de signos
36. Para o conceito de "capacidade", ver Norberg-Schulz, op. cit, 1963. ,
convencionais), m é t o d o que lhe parece inadequado para explicara disciplina. Ele propõe como
37. Venturi, op. cit.
alternativa para compreender a arquitetura a leitura da fenomenologia heideggeriana.
38. Paulys, Realencychpedie der Klassischen Alterumwissenschaft vii, I, coL, 1155SS.
39. Norberg-Schulz, Meaning in Western Architecture. Londres e Nova York; 1975, pp. 8oss. Norberg-Schulz afirma que o propósito da arquitetura é fornecer um "ponto de apoio
40. Goethe, Italienische Reise 8, out. 1786. existencial" que propicie uma " o r i e n t a ç ã o " no e s p a ç o e uma "identificação" com o caráter

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