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LIQUIDAÇÃO
Código de Processo Civil (LGL\1973\5): arts. 14, parágrafo único, 16, 17, 18, 161, 196,
233, 475-C, 475-E, 475-G, 538, parágrafo único, 538, 557, § 2.º, e 601.
1. Síntese da situação fática e jurídica existente e consulta
credor.
Antônio Luciano Pereira Neto e outros moveram ação de resolução parcial de contrato
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em face de Lhano Nelson. Os pedidos formulados nessa ação foram julgados
improcedentes, assim como os formulados em medida cautelar de depósito em apenso,
razão pela qual os autores foram condenados ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil
reais) a título de honorários advocatícios, além do pagamento das custas processuais.
Com o trânsito em julgado dessa decisão, o credor Lhano Nelson ingressou com pedido
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de liquidação de sentença por arbitramento e execução do julgado em maio de 2002.
Para essa liquidação, fixou as seguintes premissas de direito: (a) nos termos do art. 16
do CPC (LGL\1973\5) “responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como
autor”; (b) de acordo com o art. 18 do CPC (LGL\1973\5) “o juiz ou tribunal (…)
condenará o litigante de má-fé (….) a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta
sofreu”, sendo que “o valor da indenização será (…) fixado pelo juiz, em quantia não
superior a 20% sobre o valor da causa ou liquidação por arbitramento”; (c) o conceito de
perdas e danos é normativo, regido pelo então vigente art. 1.059 do CC/1916
(LGL\1916\1): “As perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de ganhar”.
E, no plano fático, as seguintes: (a) os danos suportados pelo credor Lhano Nelson, cujo
valor seria arbitrado na liquidação de sentença, resultam do retardamento do
cumprimento dos termos da transação que os autores celebraram com aquele em
06.06.1990, e que buscaram rescindir de modo temerário com o ajuizamento da ação
em questão; (b) na referida transação, os autores confessaram o recebimento de
doações inoficiosas, com excesso de legítima, feita pelo pais dos litigantes quando vivos
e se comprometeram a avaliá-los e vendê-los, pagando ao credor Lhano Nelson sua cota
hereditária com o produto da venda, no prazo de três anos a partir da assinatura do
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
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A liquidação de sentença por arbitramento, assim, teve por objetivo apurar o valor da
cota hereditária devida ao credor Lhano Nelson, cujo pagamento deveria ter ocorrido em
06.06.1993 e, a partir daí, viabilizar a quantificação: (a) dos lucros cessantes sofridos
pelo credor, consubstanciados nos juros legais que deixou de perceber com o
retardamento do pagamento de sua cota hereditária; e (b) dos danos morais sofridos
pelo credor, em razão da angústia suportada pelo retardamento do pagamento de sua
cota hereditária por mais de nove anos (tempo que tramitou a ação de rescisão
contratual).
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Pretendeu-se, também, o recebimento do valor de R$ 17.045,43 a título de honorários
pagos pelo credor aos advogados que o defenderam ao longo da ação, bem como ao
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pagamento da verba honorária de sucumbência no importe de R$ 10.000,00, ambos
atualizados.
Sobreveio sentença nos autos, rejeitando os cálculos apresentados pelo perito para
apuração dos danos. Entendeu-se que a expressão “dano processual” contida na decisão
liquidanda corresponderia apenas às perdas e danos ocorridos no âmbito do processo, e
que a conduta danosa da parte contrária não teria sido eficiente, pois vencida na
demanda. Por fim, registrou que pela via da litigância de má-fé não poderia haver a
reparação do direito material que não foi objeto da ação, o que chamou de
“impossibilidade do meio”. Com base nesses fundamentos determinou o pagamento
apenas: (a) da multa de 1% do valor da causa; (b) das custas processuais, inclusive
honorários do perito; (c) da sucumbência arbitrada em 10% do valor acrescido à
condenação.
Foi manejado recurso de apelação pelo credor Lhano Nelson, alegando violação aos arts.
16, 18, 435, 467, 471 e 610 do CPC (LGL\1973\5) e 1.060 e 1.061 do CC/1916
(LGL\1916\1). O TJMG deu parcial provimento ao recurso para incluir na condenação o
valor despendido com honorários advocatícios, reafirmando, no mais, o entendimento
externado em primeira instância.
Quesito 1
Quesito 2
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Quesito 3
Quesito 4
Quesito 5
Os acórdãos recorridos negaram vigência aos arts. 1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do
CC/1916 (LGL\1916\1)? (em vigor quando os devedores foram condenados)
3. Fixação de algumas premissas legais e doutrinárias
São sujeitos desses deveres aqueles que figuram como partes no processo,
independentemente de sua posição: autor, réu ou interveniente, de acordo com o que
dispõe o art. 16 do CPC (LGL\1973\5).
Por sua vez, o art. 17 do CPC (LGL\1973\5) enumera as condutas que caracterizem a
litigância de má-fé: deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso (inc. I); alterar a verdade dos fatos (inc. II); usar do processo para
conseguir objetivo ilegal (inc. III); opuser resistência injustificada ao andamento do
processo (inc. IV); proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do
processo (inc. V); provocar incidentes manifestamente infundados (inc. VI); interpuser
recurso com intuito manifestamente protelatório (inc. VII). São fazeres que
frequentemente se sobrepõem e têm a pretensão comum de impedir a realização de
uma tutela jurisdicional justa, efetiva e tempestiva.
As consequências jurídicas que podem advir da violação a esse código de conduta foram
estabelecidas pelos arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5). O primeiro dispositivo legal
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afirma que “responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé”, enquanto o
segundo fixa as sanções passíveis de aplicação ao litigante de má-fé como “pagar multa
não excedente a um por cento sobre o valor da causa”; “indenizar a parte contrária dos
prejuízos que esta sofreu”; pagar “honorários advocatícios e todas as despesas que
efetuou”.
A primeira delas diz respeito à natureza das sanções, que são de duas ordens:
indenizatória e punitiva.
Essa responsabilização civil, como não poderia deixar de ser, é aquela positivada na
legislação civil (arts. 186 e 927 do CC/2002 (LGL\2002\400)), que contém a fórmula
universal por meio da qual se impõe a todos o dever de indenizar quando, violando
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deveres de ação ou abstenção cause danos a outrem.
Com acerto e, nesse exato sentido, Solange Tomiyama em artigo sobre o tema sustenta
que: “O dano compreende o prejuízo extraprocessual efetivo e o que razoavelmente se
deixou de ganhar, revelando as consequências do ato ímprobo. A reparação do dano
causado representa a retomada da posição tida como custo originário, isto é, do valor
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necessário para alcançar o status quo ante da prática do ato de má-fé”.
O conceito de dano era dado, na vigência do art. 1.059 do CC/1916 (LGL\1916\1) (atual
art. 402 do CC/2002 (LGL\2002\400)), e que previa a reparação dos lucros cessantes e
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danos emergentes. A indenização por dano moral tem fundamento constitucional (art.
5.º, V e X, da CF/1988 (LGL\1988\3)) e infraconstitucional (art. 186 do CC/2002
(LGL\2002\400)) e também integra a esfera de reparação tutelada pela responsabilidade
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civil extracontratual.
18 do CPC (LGL\1973\5): “Indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu,
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mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou”.
Ainda sobre essa indenização, importa destacar que o legislador optou por criar dois
regimes distintos, como se vê no art. 18, § 2.º, do CPC (LGL\1973\5). Assim, o valor da
indenização poderá ser fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% sobre o valor da
causa, ou liquidado por arbitramento.
Comentando esse dispositivo legal, Humberto Theodoro Júnior observa, com pertinência
que “conferiu-se, outrossim, ao juiz a faculdade de fixar objetivamente a indenização,
tomando como base o valor da causa (hipótese em que não deverá ultrapassar o limite
de 20% sobre aquele valor), ou de determinar que se proceda à liquidação por
arbitramento. Na maioria das vezes, portanto, o juiz mesmo arbitrará sanção,
tornando-se de aplicação imediata ao infrator. O arbitramento, a meu ver, será
recomendável apenas quando houver indícios de danos efetivos de grande monta, que
possivelmente ultrapassem a margem tarifada da lei (20% do valor da causa). Aí, sim,
haveria necessidade de uma perícia para determinar o prejuízo real sofrido pela parte
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que suportou as consequências da litigância temerária”.
Ernani Fidélis dos Santos sintetiza: “Para os prejuízos efetivos, não há limite
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indenizatório. Para os presumidos há o limite de vinte por cento do valor da causa”.
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Esse entendimento, aliás, tem plena acolhida pela jurisprudência.
Essa é a razão pela qual optou o legislador por determinar que a liquidação seja feita por
arbitramento na hipótese de prejuízos efetivos. Estabelece o art. 475-C do CPC
(LGL\1973\5) (equivalente ao revogado art. 606 do CPC (LGL\1973\5)) que se fará
liquidação por arbitramento quando “determinado pela sentença ou convencionado pelas
partes”, ou quando “o exigir a natureza do objeto da liquidação”.
Diversamente do que ocorre na liquidação por artigos (art. 475-E do CPC (LGL\1973\5)),
na liquidação por arbitramento não há oportunidade para se alegar e provar fato novo. A
perícia a ser realizada incidirá sobre elementos já definidos, no curso da ação. O
cabimento da liquidação por arbitramento decorre, portanto, da necessidade de
atividade pericial para a quantificação do valor devido, conforme parâmetros definidos
na sentença. Assim, somente nos casos em que há a necessidade de participação de
perito, que dispõe de conhecimentos técnicos necessários à resolução da questão, é que
se impõe a liquidação de sentença por arbitramento. Conhecimentos corriqueiros,
integrantes do conjunto de informações do senso comum, não devem ser submetidos ao
arbitramento, mas resolvidos pelo juiz. Se se tratar, todavia, de situação dependente de
conhecimentos especializados, não deve o juiz prescindir dessa forma de liquidação,
nomeando, para tanto, técnico cujos conhecimentos guardem relação próxima, ou
direta, com o objeto da obrigação.
isto é, em que não tenha sido possível ao juiz determinar o valor da condenação ou
individuar o objeto da obrigação, e tem como objetivo justamente eliminar a
generalidade presente na condenação, de molde a tornar exequível a obrigação
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constituída pela sentença que condenou o réu.
A partir dessas premissas, pode-se afirmar que, quando se determina a liquidação dos
danos por arbitramento, é porque se está diante de situação em que o julgador
entendeu que a composição das perdas de modo presumido (e pela sistemática legal, no
limite de 20% do valor da causa) não seria suficiente para a reparação integral do
prejuízo. Por isso é que a determinação de liquidação das perdas e danos por
arbitramento pressupõe situação em que sejam vislumbrados danos de grande monta,
como bem ponderou Humberto Theodoro Júnior.
Em interessante voto, o Min. Humberto Martins explicita esse mesmo raciocínio para
justificar a cumulação de sanções, não apenas daquelas previstas para o litigante de
má-fé, mas também das demais previstas no microssistema da repressão ao abuso do
direito no processo: “Portanto, o acórdão recorrido acabou por confundir os institutos da
multa por litigância de má-fé (art. 18, caput, do CPC (LGL\1973\5)), com a indenização
por litigância (art. 18, § 2.º, do CPC (LGL\1973\5)) e com a multa por ato atentatório à
dignidade da justiça (art. 601 do CPC (LGL\1973\5)). Não se diga que tais institutos não
podem ser aplicados cumulativamente. Em certos casos, por guardarem escopos
diversos, eles podem. Sobre o tema, inclusive, registro as anotações do saudoso
professor Theotonio Negrão, na sua clássica obra Código de Processo Civil (LGL\1973\5)
e legislação processual em vigor (38. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 139, item 9,
relacionado ao art. 18, caput, do CPC (LGL\1973\5)): ‘A multa prevista neste artigo é
uma sanção punitiva. Para que ela possa ser aplicada conjuntamente com outras
sanções é necessário que elas exerçam funções distintas (p. ex., coercitiva ou
reparatória). Um mesmo comportamento não pode ser sancionado mais de uma vez com
a mesma finalidade. São também punitivas as sanções previstas nos arts. 14, parágrafo
único, 161, 196, 233, 538, parágrafo único, 557 § 2.º, e 601, caput; logo, não podem
ser impostas cumulativamente. Em cada caso concreto, deve ser aplicada a multa mais
específica. Dado o caráter genérico da multa prevista no art. 18, sua efetiva incidência
fica prejudicada nas situações em que também exista suporte material para a aplicação
de punição prevista nos artigos arrolados anteriormente com as sanções dos arts. 14,
parágrafo único, 538, parágrafo único, 557, § 2.º, e 601, caput, seja imposta a
condenação a indenizar, a pagar honorários advocatícios e a ressarcir despesas previstas
neste art. 18, na medida em que se trata de sanção reparatória, ou seja, distinta da
punitiva. Tanto a multa quanto as demais verbas previstas neste art. 18 são cumuláveis
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com a multa prevista nos arts. 461, § 4.º, 621 parágrafo único, e 645, caput, que tem
distinta finalidade coercitiva. Não existem óbices para que uma outra conduta do
litigante no mesmo processo venha a ser objeto de nova punição, fazendo incidir mais
uma vez a pena do art. 18 (RT 623/113) ou dando azo à incidência de outra sanção mais
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específica, sem prejuízo da pena imposta pelo comportamento anterior (…)’”.
A ação de liquidação visa à obtenção de uma sentença de mérito que defina o quantum
da obrigação que foi constituída na ação de conhecimento quando, nesta última, não
tenha sido possível extremar os seus limites quantitativos ou individualizar seu objeto.
O pedido formulado pelo autor da liquidação é, portanto, limitado, sob pena necessidade
de obediência aos limites da condenação, assim fixados na sentença liquidanda. Trata-se
de manter afastada a discussão, de qualquer espécie ou natureza, sobre o mérito da
ação de conhecimento resolvida por sentença ilíquida.
Na verdade, mesmo que de liquidação por artigos se trate, em que há razoável atividade
probatória, o respeito ao objeto da sentença liquidanda é absolutamente inarredável, sob
pena de desrespeito a coisa julgada já ocorrida em relação à sentença que se vai
liquidar, ou até mesmo à própria sentença liquidanda, se ainda não tiver ocorrido o
trânsito em julgado. De rigor, seja qual for a técnica de liquidação de que se tenha
servido a parte (ou o Poder Judiciário, se a determinação do método estiver contida na
sentença) - arbitramento ou artigos -, a mesma limitação se aplica.
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Essa regra trata, na verdade, daquilo que Cândido Rangel Dinamarco chama de “regra
da fidelidade da liquidação ao título”. Para esse autor, seria até mesmo desnecessária a
expressa normatização constante do revogado art. 610 do CPC (LGL\1973\5) -
correspondente ao atual art. 475-G do CPC (LGL\1973\5) -, pois, segundo seu entender
de todo modo estaria defeso qualquer novo julgamento a respeito daquilo que foi objeto
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do processo de conhecimento anterior.
Analisados os dados que nos foram fornecidos pelo consulente, e alicerçados nos
elementos jurídicos examinados nos itens precedentes, aos quais nos reportamos,
manifestamos nossa opinião em relação às questões formuladas.
Quesito 1
A conjugação desses provimentos faz ver, com clareza, que houve a condenação do
litigante de má-fé a pagar multa de 1% sobre o valor da causa e danos, que apesar de
terem sido denominados de processuais, são aqueles indicados no art. 18 do CPC
(LGL\1973\5), como revela a própria remissão ao dispositivo legal feita pela decisão
“sujeitando-se, portanto, à condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”,
reforçada pelo que se decidiu em sede de embargos de declaração “sujeitam-se sim à
condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”.
Essa conclusão é obtida não apenas a partir do que se contém literalmente na decisão
liquidanda, mas se põe como a única possível para guardar coerência com a sistemática
da tutela ética do processo, expressa, no que tange especificamente à litigância de
má-fé, nos arts. 16, 17 e 18 do CPC (LGL\1973\5).
A primeira razão que justifica esse entendimento é a de que os danos e prejuízos a que
aludem os arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) (este último expressamente invocado na
condenação) são aqueles que decorrem da responsabilidade civil extracontratual
(normatizada pelos arts. 186, 187 e 927 do CC/2002 (LGL\2002\400), antigos 159,
1.059, 1.060, 1.061 do CC/1916 (LGL\1916\1)).
O ato ilícito é de natureza processual - e por isso a menção da decisão liquidanda a dano
processual, querendo designar os decorrentes do ilícito processual -, mas a
responsabilidade civil daí advinda é ampla, permitindo a apuração de danos ocorridos
fora do processo.
Nessa mesma linha, viu-se que é possível cumular as sanções previstas no art. 18 do
CPC (LGL\1973\5) (indenização, multa e despesas com o processo); que essa cumulação
de sanções também é possível em relação a outras penas constantes de dispositivos que
integram o microssistema da repressão ao abuso de direito no processo, desde que
tenham natureza diversa; que não há limite indenizatório para os danos realmente
sofridos, mas apenas para aqueles presumidos e, por fim, que a aplicação dessas
penalidades independe do resultado da demanda - basta que o ato de má-fé esteja
caracterizado.
A terceira razão, que nos parece fundamental para sustentar esse entendimento, é que a
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Lei não contém palavras inúteis, de modo que, se as perdas e danos mencionados nos
arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) se restringissem àqueles sofridos no âmbito do
processo, desnecessário seria a menção, na parte final do dispositivo, ao dever do
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Ademais, diante da faculdade legal de a indenização ser presumida, ela poderia ter sido
limitada a 20% do valor da causa e fixada desde já no acórdão. Se isso não ocorreu, foi
porque se reconheceu a gravidade da conduta dos autores da ação - que utilizaram na
demanda documento cuja falsidade já havia sido reconhecida definitivamente em outra
ação para impedir Lhano Nelson de receber a herança que lhe cabia - e, vislumbrando a
amplitude dos danos causados ao herdeiro necessário com essa conduta, o Tribunal
determinou a apuração dos danos em liquidação por arbitramento.
Como se viu linhas atrás, é pacífico na doutrina que a liquidação por arbitramento é
utilizada justamente nas hipóteses em que o dano real certamente ultrapassaria os 20%
do valor da causa e, por isso, não pode ser presumido e fixado previamente pelo
magistrado, mas verificado concretamente.
Por todas essas razões nos parece que nenhuma outra conclusão é possível no caso, que
não a de que a condenação em litigância de má-fé ora analisada abrangeu as sanções de
multa e indenização por perdas e danos - decorrentes de ilícito processual -, mas
aferíveis extraproces-sualmente.
Quesito 2
Sim. Como registramos anteriormente, a liquidação por arbitramento foi iniciada pelo
credor Lhano Nelson fixando as seguintes premissas de direito: (a) nos termos do art. 16
do CPC (LGL\1973\5) “responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como
autor”; (b) de acordo com o art. 18 do CPC (LGL\1973\5) “o juiz ou tribunal (…)
condenará o litigante de má-fé (….) a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta
sofreu”, sendo que “o valor da indenização será (…) fixado pelo juiz, em quantia não
superior a 20% sobre o valor da causa ou liquidação por arbitramento”; (c) o conceito de
perdas e danos é normativo, regido pelo então vigente art. 1.059 do CC/1916
(LGL\1916\1): “As perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de ganhar”.
E, no plano fático, as seguintes: (a) os danos suportados pelo credor Lhano Nelson, cujo
valor seria arbitrado na liquidação de sentença, resultam do retardamento do
cumprimento dos termos da transação que os autores celebraram com aquele em
06.06.1990, e que buscaram rescindir de modo temerário com o ajuizamento da ação
em questão; (b) na referida transação, os autores confessaram o recebimento de
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doações inoficiosas, com excesso de legítima, feita pelos pais dos litigantes quando vivos
e se comprometeram a avaliá-los e vendê-los, pagando ao credor Lhano Nelson sua cota
hereditária com o produto da venda, no prazo de três anos a partir da assinatura do
instrumento em 06.06.1990; (c) os autores efetuaram o pagamento de quantia ínfima,
devendo até aquele momento o pagamento da quase totalidade da cota hereditária; (d)
além de não efetuarem o pagamento, os autores ingressaram em 21.06.1991 com a
ação em questão, objetivando rescindir o contrato e privar o credor Lhano Nelson de sua
cota hereditária, mas efetuaram o pagamento devido, em razão da mesma transação,
aos demais irmãos do credor.
A liquidação de sentença por arbitramento, assim, teve por objetivo apurar o valor da
cota hereditária devida ao credor Lhano Nelson, cujo pagamento deveria ter ocorrido em
06.06.1993 e, a partir daí, viabilizar a quantificação: (a) dos lucros cessantes sofridos
pelo credor, consubstanciados nos juros legais que deixou de perceber com o
retardamento do pagamento de sua cota hereditária; e (b) dos danos morais sofridos
pelo credor, em razão da angústia suportada pelo retardamento do pagamento de sua
cota hereditária por mais de nove anos (tempo que tramitou a ação de rescisão
contratual).
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Pretendeu-se, também, o recebimento do valor de R$ 17.045,43 a título de honorários
pagos pelo credor aos advogados que o defenderam ao longo da ação, bem como ao
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pagamento da verba honorária de sucumbência no importe de R$ 10.000,00, ambos
atualizados.
A multa foi fixada em valor determinável por simples cálculo, de 1% sobre o valor da
causa atualizado. Foi calculada em perícia e dispensava a demonstração de qualquer
outro requisito para se tornar exigível, pois independe da prova de culpa ou dolo dos
litigantes de má-fé ou de prejuízo da parte lesada.
Os danos, por sua vez, por serem aqueles decorrentes da responsabilidade civil
extracontratual, derivada de ilícito processual, exigem a demonstração do dano e nexo
de causalidade com a conduta, dispensando, porém, nova comprovação da conduta
ilícita, pois essa já foi reconhecida de modo definitivo no título judicial que declarou a
litigância de má-fé e lhe impôs sanções.
A conduta ilícita foi reconhecida no acórdão objeto da ação de liquidação como: “Terem
utilizado como um dos fundamentos do pedido formulado na presente ação, o fato de o
réu, ora embargado, ter sido deserdado em testamento aberto, posteriormente à
transação que pretendem rescindir, fato este já reputado quando do julgamento da ação
de deserdação, trânsita em julgado, na qual se reconheceu a falsidade do testamento
em referência. Logo, ainda que as sanções impostas ao litigante de má-fé tenham sido
aplicadas aos segundo-apelantes naqueles autos, temos que, ao utilizarem novamente o
mesmo argumento ensejador das penalidades em comento como um dos fundamentos
da presente pretensão, sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC
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(LGL\1973\5).
A toda evidência os danos apurados guardam direta correlação com o ato ilícito
reconhecido na decisão liquidanda.
Como frisado acima, na liquidação de sentença apurou-se o valor dos lucros cessantes
decorrentes do retardamento no cumprimento da obrigação, e a sucumbência na
demanda não impediu que esse dano se implementasse. Precisamente por isso não é
correto afirmar - como fez a sentença confirmada pelo acórdão objeto do recurso
especial - que “o artifício foi inválido para o fim que se lhe predispôs” e que “não houve,
portanto, maiores perdas ou danos para o réu além das despesas processuais que teve
para a defesa de seu direito”.
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Os danos morais também se encontram no espectro das perdas e danos previstos no art.
18 do CPC (LGL\1973\5) e independem de comprovação no caso, por se tratar de dano
moral puro, que exige apenas a demonstração da violação ao direito. Sua relação de
causalidade com a conduta ilícita também é clara, pois, na época em que se deu início a
liquidação de sentença - novembro de 2002 - já haviam se passado mais de nove anos
desde a celebração do acordo para Lhano Nelson receber a sua cota-parte da herança, o
que ainda não havia ocorrido em razão do ato ilícito cometido pelos litigantes de má-fé:
utilização de documento falso, em duas ações judiciais, para impedir o exercício do
direito do herdeiro.
Quesito 3
Sim. É preciso repetir aqui que o acórdão objeto da liquidação de sentença condenou
Antônio Luciano Pereira Neto e outros (autores da ação) nos seguintes termos: “No que
diz respeito ao apelo aviado pelo réu, temos que os autores, ao sustentarem a sua
pretensão em documento já declarado falso por sentença transitada em julgado, a
saber, o pedido do de cujus para que promovessem a ação de deserdação contra o réu,
agiram de modo temerário, de má-fé, sujeitando-se, portanto, à condenação nas penas
do art. 18 do CPC (LGL\1973\5). Assim, condeno os autores ao pagamento de multa no
importe de 1% sobre o valor atualizado da causa, bem como a indenizar os danos
processuais que causaram ao réu, remetendo-se as partes para a liquidação sob a forma
de arbitramento”. E que, aclarando esse provimento, ao decidir os embargos de
declaração opostos pelos autores, aquele Tribunal ainda reforçou que os autores
“sujeitam-se sim à condenação nas penas do art. 18 do CPC (LGL\1973\5)”.
Explicamos, também, que o ato ilícito é de natureza processual - e por isso a menção da
decisão liquidanda a dano processual, querendo designar os decorrentes do ilícito
processual-, mas a responsabilidade civil daí advinda é ampla, permitindo a apuração de
danos ocorridos fora do processo (mas em decorrência dele).
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4. A Lei não contém palavras inúteis, de modo que, se as perdas e danos mencionados
nos arts. 16 e 18 do CPC (LGL\1973\5) se restringissem àqueles sofridos no âmbito do
processo, desnecessário seria a menção, na parte final do dispositivo, ao dever do
litigante de má-fé a pagar “mais os honorários advocatícios e todas as despesas que
efetuou”.
Quesito 4
O significado e alcance da expressão negar vigência foi bem apreendido pelo ex-Min. do
STF Pedro Lessa: “Deixar de aplicar a lei invocada, ou dar a essa Lei interpretação de
39
forma a negar direito que ela confere”.
Quesito 5
Os acórdãos recorridos negaram vigência aos arts. 1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do
CC/1916 (LGL\1916\1)? (em vigor quando os devedores foram condenados)
Sim, pelas mesmas razões expostas na resposta ao quesito anterior, ao qual nos
reportamos integralmente.
5. Conclusão
Analisados os dados que nos foram fornecidos, e alicerçados nos elementos jurídicos
examinados nos itens precedentes, aos quais nos reportamos, manifestamos nossa
opinião no sentido de que os acórdãos recorridos negaram vigência aos arts. 16, 18,
435, 467, 471 e 610 do CPC (LGL\1973\5) e 1.059, 1.060, 1.061 e 1.063 do CC/1916
(LGL\1916\1) (vigente a época), porque:
todas as despesas que efetuou. É pacífico na doutrina que se trata de ilícito processual
de natureza extracontratual. Isto é, de um ato contrário à lei processual, mas com
consequências que transcendem o âmbito do processo, podendo causar danos de
diversas ordens ao lesado.
3.2 O sistema da tutela ética do processo foi estabelecido de modo a prestigiar a ampla
indenização, razão pela qual é possível cumular as sanções previstas no art. 18 do CPC
(LGL\1973\5) (indenização, multa e despesas com o processo); essa cumulação de
sanções também é possível em relação a outras penas constantes de dispositivos que
integram o microssistema da repressão ao abuso de direito no processo, desde que
tenham natureza diversa; não há limite indenizatório para os danos realmente sofridos,
mas apenas para aqueles presumidos e, por fim, a aplicação dessas penalidades
independe do resultado da demanda - basta que o ato de má-fé esteja caracterizado.
3.3 A Lei não contém palavras inúteis, de maneira que, se as perdas e danos
mencionados nos arts. 16 e 18 se restringissem àqueles sofridos no âmbito do processo,
desnecessário seria a menção, na parte final do dispositivo, ao dever do litigante de
má-fé a pagar “mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou”.
3.4 A decisão liquidanda determinou que os danos fossem apurados em liquidação por
arbitramento, que é o procedimento adequado quando for necessária atividade pericial
para a quantificação do valor devido, conforme parâmetros definidos na sentença. Nesse
contexto, seria absolutamente desnecessário determiná-la se a decisão liquidanda
tivesse limitado (ou pretendido limitar) a condenação por litigância de má-fé à pena de
multa de 1% sobre o valor da causa e ao pagamento de honorários advocatícios e
despesas processuais, uma vez que essas verbas podem ser apuradas mediante simples
cálculos do credor.
2 Autuada sob o n. 024.91.785.559-5, que tramitou perante a 8.ª Vara Cível de Belo
Horizonte.
3 Em razão do grande volume dos autos à época - cerca 1.149 folhas e 11 volumes -
requereu-se expedição de carta de sentença, com o objetivo de facilitar os
procedimentos e manuseio.
6 A esse respeito afirmamos, em outro espaço que: “O princípio da lealdade, de sua vez,
vem tratado minuciosamente nos arts. 14 e seguintes do CPC (LGL\1973\5). O
comportamento das partes e de todos os envolvidos no processo deve respeitar os
preceitos relativos à boa-fé, repugnando ao sistema o comportamento desleal. Se o
processo tem como um de seus escopos a realização do direito no caso concreto, não se
pode alcançar esse objetivo por meio de trapaças e comportamentos levianos. A lei
prevê severas punições para os comportamentos destoantes desse princípio. Como já
observamos, quando tratamos da noção de norma que contém dever a ser observado
pela parte (e por todos quantos atuem no processo), o art. 14 do CPC (LGL\1973\5)
prevê como dever, tanto das partes quanto de seus advogados, o de “proceder com
lealdade e boa-fé” (inc. II) (WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA,
Flávio Renato Correia de. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e
processo de conhecimento. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2008. vol. 1,
p. 86).
7 Com habitual lucidez, Arruda Alvim registra a esse respeito que: “A alta finalidade
pública do processo civil, que consiste na verificação de fatos ocorridos, como
Página 18
A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO
8 Integram essa tutela os arts. 14; 16; 17; 18; 273, II; 161; 196; 233; 557, parágrafo
único; 538, § 2.º; 601, caput, do CPC (LGL\1973\5).
10 EREsp 36.718/RS, 2.ª Seção, rel. p/ acórdão Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ
13.02.1995. Mais recentemente, o STJ reafirmou essa posição, expressa no seguinte
precedente: “No que concerne à natureza jurídica da indenização por litigância de má-fé,
constata-se que, ao contrário da multa supracitada, ela não nasce por meio de um
negócio jurídico. Ela é prevista em norma de ordem pública, disposta nos arts. 16, 17 e
18 do CPC (LGL\1973\5), que regulam a conduta das partes no processo. Por meio
desses dispositivos, protege-se, em um primeiro momento, as partes litigantes, e em um
segundo, a própria coletividade, pois resguarda e recomenda um dever geral de lealdade
processual. Essa conduta leal dentro do processo funciona como um requisito necessário
para a efetiva existência do procedimento processual, o que nos leva à conclusão de que
atua também como uma das bases do direito subjetivo de ação, e em consequência, da
segurança jurídica” (REsp 1.127.721/RS, 3.ª T., j. 03.12.2009, rel. Min. Nancy Andrighi,
DJe 18.12.2009).
11 ARRUDA ALVIM. Tratado de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 1996. p.
428.
sujeito’. Adverte Caio Mario ser ‘este o mais delicado dos elementos da responsabilidade
civil e o mais difícil de ser determinado. Aliás, sempre que um problema jurídico vai ter
na indagação ou na pesquisa da causa, desponta a sua complexidade maior. Mesmo que
haja culpa e dano, não existe obrigação de reparar, se entre ambos se estabelecer a
relação causal’. Como explica Genéviève Viney, ‘cabe ao jurista verificar se entre os dois
fatos conhecidos (o fato danoso e o próprio dano) existe um vínculo de causalidade
suficientemente caracterizado’. Analisando-se o exposto no art. 18 do CPC
(LGL\1973\5), constata-se que o litigante de má-fé será condenado a pagar multa não
excedente a 1% (um por cento) sobre o valor da causa e a indenizar à parte contrária
dos prejuízos que esta sofreu, além dos honorários advocatícios e todas as despesas que
efetuou. Os danos a serem ressarcidos podem ser tanto de ordem material (patrimonial)
e moral, podendo ser fixados desde logo pelo juiz a ser apurado em liquidação por
arbitramento. Ora, consoante ensinamento da Mestre Maria Helena Diniz, o dano é ‘um
dos pressupostos da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não
poderá haver ação de indenização sem a existência de um prejuízo. Só haverá
responsabilidade civil se houver um dano a reparar.’ Isto é assim porque a
responsabilidade resulta em obrigação de ressarcir que, logicamente, não poderá
concretizar-se onde nada há que reparar. Não pode haver responsabilidade civil sem a
existência de um dano a um bem jurídico, sendo imprescindível a prova real e concreta
dessa lesão. Deveras, para que haja pagamento da indenização pleiteada é necessário
comprovar a ocorrência de um dano patrimonial ou moral, fundados não na índole dos
direitos subjetivos afetados, mas nos efeitos da lesão jurídica” (TOMIYAMA, Solange. O
valor da condenação da litigância de má-fé: art. 18 do CPC (LGL\1973\5). In: GOMES
JUNIOR, Luiz Manoel; COURA, Andréia Fernandes et al. Temas controvertidos de direito
processual civil: 30 anos do CPC (LGL\1973\5). Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 441).
15 TOMIYAMA, Solange. Op. cit., p. 433-436. Nelson Nery Junior compartilha desse
mesmo entendimento: “Caso o juiz reconheça a litigância de má-fé, mas não tenha
parâmetros para fixar o valor da condenação, deverá fixá-la desde logo, não podendo
exceder a 20% do valor dado à causa, corrigido monetariamente. Na hipótese de os
prejuízos excederem esse limite, o juiz deverá reconhecer a litigância de má-fé (an
debeatur) e remeter à apuração do quantum debeatur para a liquidação por
arbitramento. Neste último caso o prejudicado deverá demonstrar a extensão do dano
na ação de liquidação por arbitramento, que se dará nos mesmos autos. O limite de 20%
sobre o valor da causa, portanto, é para que o juiz possa, de imediato, fixar a
indenização. Não significa que não possa haver prejuízo maior do que 20% do valor da
causa, pelos atos do litigante malicioso. Havendo prejuízo, qualquer que seja o seu
montante, deve ser indenizado integralmente pelo causador do dano. Entender-se o
contrário é permitir que, pelo comportamento malicioso da parte, haja lesão a direito de
outrem não inteiramente reparável, o que se nos afigura motivo de empobrecimento
indevido da parte inocente, escopo que, por certo, não é perseguido pelo direito
processual civil”. (NERY JUNIOR, Nelson. Atualidades sobre o processo civil. 2. ed. São
Paulo: Ed. RT, 1996. p. 32-33).
17 Sobre o tema, essa foi a mesma conclusão de Roque Antonio Mesquita Oliveira, em
artigo que trata sobre o abuso do direito no processo civil: “Assim, constata-se que a
parte ofendida pelo litigante de má-fé poderá ser ressarcida tanto em seu aspecto
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A CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUA
LIQUIDAÇÃO
18 Arruda Alvim registra sobre essa questão que: “A responsabilidade engendrada por
tal ilícito é processual, com pressupostos de ocorrência próprios, embora, redutíveis, no
que diz ao seu fundamento, e, à extensão da indenização, à responsabilidade por ato
ilícito (extracontratual). E é inconfundível com a responsabilidade por custas e
honorários, apesar da dicção atécnica do art. 35, do CPC (LGL\1973\5)”. ARRUDA
ALVIM. Resistência injustificada ao andamento do processo. Revista de Processo. vol. 17.
ano 5. p. 16-17. São Paulo: Ed. RT, jan.-mar. 1980.
21 Seu entendimento foi assim registrado: “O § 2.º do art. 18, que antes parecia fazer
previsão apenas de prejuízos efetivamente conhecidos, passou a ter a seguinte redação,
introduzida pela Lei 8.952/1994: ‘O valor da indenização será desde logo fixado pelo
juiz, em quantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou
liquidado por arbitramento’, o que significa: se os prejuízos forem conhecidos em sua
extensão e valor, o juiz condenará em quantia líquida; conhecidos apenas na extensão,
mas não no valor, far-se-á arbitramento; não revelados com nenhum dado, o juiz
procederá ao arbitramento, não devendo a indenização ultrapassar, porém, 20% do
valor atualizado da causa. Em outras palavras, para os prejuízos efetivos, não há limite
indenizatório. Para os presumidos há o limite de 20% do valor da causa, nunca se
admitindo, como antes acontecia, a liquidação por artigos, posto que, à falta de
conhecimento concreto do dano, não do valor, ao juiz compete a fixação nos termos
legais” (SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual: processo de
conhecimento. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007. vol. 1, p.
116-117). Na mesma linha Solange Tomiyama afirma que “quando o dano efetivo for de
valor superior ao estimado pela lei (20% do valor da causa), o juiz deverá fixar a
obrigação de indenizar e remeter a liquidação por arbitramento” (TOMIYAMA, Solange.
Op. cit., p. 433-436). José Roberto dos Santos Bedaque, citado por Antonio Carlos
Marcato também reconhece o caráter reparatório da pena por litigância de má-fé: “Além
disso, tem esta última direito ao ressarcimento dos prejuízos que sofreu. Trata-se aqui
das perdas e danos, ou seja, tudo o que ela efetivamente perdeu mais o que deixou de
ganhar. A previsão legal tem intuito reparatório, pois o comportamento desleal do
litigante pode gerar maior demora na solução do litígio, causando dano ao adversário.
Impõe-se, portanto, a reparação” (MARCA-TO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil
(LGL\1973\5) interpretado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 64).
25 “A multa a que também alude o art. 18 do CPC (LGL\1973\5) não tem caráter
indenizatório, mas repressivo. Por isso, sua imposição depende sempre da
caracterização do dolo processual - definido este como conduta maliciosa,
conscientemente endereçada para obter vantagem ilícita mediante prejuízo de outrem;
expedientes processuais sem esse teor subjetivo antiético não comportam tal
reprimenda.” (DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 265-271.)
26 Também assim defende Humberto Theodoro Júnior: “A multa criada pela Lei 9.668,
de 23.06.1998, que se acresce às perdas e aos danos, também é aplicável de ofício ou a
requerimento da parte, independentemente de demonstração de efetivo prejuízo”
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 88-89).
30 Extraído da íntegra do AgRg no REsp 877.904/RS, 2.ª T., j. 06.11.2007, rel. Min.
Humberto Martins, DJ 19.11.2007, p. 219.
33 Tema que desenvolvemos em: Liquidação da sentença… cit. p. 123, 125 e 127.
34 Essa é a lição, por exemplo, de Limongi França que conclui: “§ 1.º No texto da lei se
entende não haver frase ou palavra inútil, supérflua ou sem efeito. § 2.º Se as palavras
da lei são conformes com a razão, devem ser tomadas no sentido literal, e as referentes
não dão mais direito do que aquelas a que se referem” (LIMONGI FRANÇA, Rubens.
Hermenêutica jurídica. 10. ed. rev. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 36).
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