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UNIVERSIDADE DO ESTADO PROJETOS

DO RIO DE JANEIRO

Reitor NIVAL NUNES DE ALMEIDA DE PESQUISA


Vice-reitor RONALDO MARTINS LAURIA
ELABORAÇÃO, REDAÇÃO

E APRESENTAÇÃO
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CONSELHO EDITORIAL
Maria Lucia Seidl de Moura
Augusto José Maurício Wanderley
César Benjamin Cristina Ferreira
Donaldo Beno de Souza
Evanildo Bechara
ZENA EISENBERG
;.~~. A Francisco Manes Albanesi Filho zwe@puc-rio.br
o. PUC-RIo
Lúcia Bastos (Presidente)

Rio de Janeiro, 2005


CAPÍTULO 1

DECISÕES PRELIMINARES

ESCOLHA DO TEMA

Um pesquisador é um estudante por toda a vida, e sua preparação para


realizar pesquisas é um trabalho que nunca termina. Pode iniciar-se na
graduação ou mesmo antes, como foi o caso de J. Piaget, que publicou
seu primeiro trabalho científico aos onze anos de idade.
Alguns têm a oportunidade de participar de grupos de pesquisa
na graduação. Nessa experiência, podem começar a descobrir os temas
pelos quais se interessam. Da mesma forma, alguns cursos de gradu-
ação exigem a apresentação de um trabalho final - a monografia. Na
realização dessa monografia, pode estar (ou não) sendo inaugurada
uma carreira de pesquisador. Isto pode, por vezes, dar-se mais tarde, na
realização de um curso de mestrado, ou somente no doutorado, quan-
do oficialmente se considera que efetivamente ocorre. Só com o título
de doutor, por exemplo, começa-se a ter acesso a bolsas específicas de
pesquisador do CNPq.
De qualquer maneira, o processo se inicia com a escolha de um tema
e a formulação de perguntas. O que me interessa? O que me instiga?
De tudo o que venho lendo e estudando, em que tenho vontade de me
aprofundar e pesquisar? Estas são as primeiras questões, que só podem
surgir por meio de leituras e estudos. Não há possibilidade de destacar
temas para estudo se não há estudo de temas. Isto parece bastante óbvio,
mas muitas vezes os estudantes apresentam dificuldades nesse ponto,
pois lhes faltou interesse ou aprofundamento em quaisquer dos temas
com os quais tiveram contato na graduação. Para a elaboração de um bom
projeto de monografia num semestre, é necessário ter tido tempo antes
para se interessar e refletir sobre temas e questões. Da mesma forma, a
realização de um projeto de mestrado em doze meses, ou de doutorado
em dois anos, exige que algumas escolhas tenham sido feitas antes do
r

ingresso numa pós-graduação. Essas escolhas devem ser produto de por quem) está sendo publicado e trazer idéias sobre temas diversos.
estudos já realizados. Esse tipo de atividade não deve ser iniciado somente quando se neces-
Para começar, no caso da monografia, é possível fazer uma análise sita desenvolver um projeto. Faz parte da rotina de um pesquisador e é
em termos de subáreas da psicologia. Preferências se delineiam por psi- fundamental para que ele possa manter-se atualizado.
cologiado desenvolvimento, social ou clínica, às vezes influenciadas por Na realização de projetos de dissertações e teses, muitas vezes já existe
um ou mais professores com os quais se estabeleceu um bom vínculo e uma preferência por determinados ternas, em geral desenvolvida desde a
que despertaram um interesse mais acentuado por uma dessas subáreas. graduação. Freqüentemente, há uma inclinação para esta ou aquela abor-
Uma oportunidade especialmente propícia para ~avorecer a escolha é, dagem teórica, a fim de orientar a investigação. Os cursos variam em suas
como foi dito, a participação em projetos de pesquisa como bolsista de exigências. Alguns demandam um anteprojeto para a seleção de candidatos;
iniciação científica. Tal participação tem corno objetivo ir além da mera outros, um plano de estudos. O primeiro caso é cada vez mais comum no
escolha de temas de interesse, propiciando uma verdadeira capacitação mestrado e ocorre na quase totalidade dos programas no nível de douto-
para a atividade de pesquisa. rado. De qualquer maneira, algumas escolhas já devem ter sido feitas, e o
Imaginando um aluno que não teve essa oportunidade e dividindo a trabalho será facilitado se for dada continuidade a estudos já realizados
análise de preferência por subáreas, dá-se um primeiro nível de escolha. na monografia e/ou em projetos de que o aluno participou na graduação
Escolhida a psicologia social, por exemplo, o que parece particularmente (no caso do mestrado) ou na dissertação (no caso do doutorado).
interessante? A questão de diferenças de gênero? De preconceitos e es- Uma condição fundamental em todos os níveis, e que vai prever
tereótipos? As representações sociais? A influência social? A part ir das em g rande parte o sucesso da empreitada, é a escolha do te ma ser
primeiras leituras que despertaram o interesse, é recomendável procurar orientada por interesse e não por imposição ou fa lta de opção. A tarefa
livros básicos e manuais e ler sobre as principais questões relacionadas de realizar um projeto de pesquisa e uma monografia, dissertação ou
aos ternas, para tom ar contato com teorias e autores. tese é suficientemente árdua para os que estão motivados e orientados
A escolha de temas está ligada diretamente a teorias. Os temas só pela busca do conhecimento. Pesquisar algo por que se tem pouco ou
existem orientados teoricamente. Muitas vezes, destacar um tema para nenhum interesse pode tornar-se frus trante e até mesmo insuportável.
pesquisar é selecionar as teorias com as quais se vai trabalhar, corno no Um problema comum, decorrente da falta de experiência ou de co-
caso do estudo de representações sociais ou sistemas de crenças. Em nhecimento da literatura na área, além de uma certa dose de onipotência,
outros, como o desenvolvimento cognitivo, existe mais de uma teoria, é a escolha de temas amplos, de grande complexidade, que envolveriam
e o viés teórico a ser adotado é também produto de uma escolha. Nem a reali zação de uma série de pesquisas e não de um trabalho apenas.
sempre, no entanto~ o caminho é linear. Escolhe-se um tema específico Exemplos nesse sentido são temas corno fracasso escolar e violência; muito
sem conhecer as teorias que tentam explicá-lo. Por exemplo, a relação já foi estudado a respeito. Para se obter algum sucesso numa pesquisa
entre o aumento de agressividade em crianças e a televisão. As teorias de sobre ambos, é preciso bastante cuidado na identificação de um problema
agressividade são múltiplas, e a forma de abordar o assunto vai depender específico, o que requer diversas leituras do que já fOl investigado e o
de algum conhecimento sobre essas teorias e da opção por uma delas. conhecimento das limitações das publicações na área.
Uma m aneira de buscar temas que possam motivar a investiga- Observa-se também, com relativa freqüência, que os alunos, es-
ção é examinar números recentes de periódicos das áreas de interesse. ,'. 0='1.•
pecialmente os do mestrado, desejam realizar um trabalho de grande
Apesardo desenvolvimento de ferramentas de busca, a serem discutidas relevância científica e social, além de profundo significado em suas vidas.
posteriormente, a visita a bibliotecas ainda é muito importante. Folhear Não estão conscientes de que o trabalho é apenas urna das investigações
periódicos cientificas ou seus sumários pode dar uma noção do que (e do que se espera ser uma série na carreira de pesquisador que se inicia.

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r
Como tal, ele tem o sentido- de exercício e de ritual de iniciação; não estilos e perspectivas. Duas pequenas histórias ilustram a importância
constitui uma contribuição significativa ao conhecimento da área, por dessa escolha, que é recíproca.
mais que isto seja difícil de aceitar. No caso do doutorado, embora o Uma aluna de mestrado no exterior tinha um orientador com um
grau de complexidade esperado seja maior, ainda assim trata-se de um estilo não diretivo. Para ele, orientar era quase uma atividade terapêutica
trabalho qu e inaugura formalmente a carreira de pesquisador, e não é (havia sido orientando de C. Rogers). As sessões de orientação dependiam
possível, nesse momento, a não ser em casos raros da história da ciência da iniciativa da aluna. Ele se sentava em silêncio, fumando seu cachimbo.
(por exemplo, a tese de N. Chomsky), ter algum tipo de impacto. Numa ocasião, a aluna escolheu um instrumento para usar na estudo e
Nessa etapa, assim como nas demais, o papel do(a) orientador(a)' é passou um mês pesquisando a respeito. Ao final desse tempo, concluiu
de extrema importância. A partir de sua ex periência, ele é capaz de su- que não era apropriado. Ao levar essa conclusão ao orientador, ele disse
gerir temas pelos quais o aluno pode se interessar e indicar leituras para que já sabia. Perplexa, a aluna perguntou por que a deixara estudar um
um contato inicial. Além disso, adverte para os problemas de escolhas mês o instrumentoi ele respondeu que ela precisava descobrir sozinha.
que podem levar a dificuldades por vezes intransponíveis e a becos sem Esta pode ser uma estratégia interessante, mas, com os prazos atuais de
saída, ou à realização de trabalhos de grande pretensão, mas que pouco cursos de pós-graduação no Brasil, talvez não seja a mais eficiente. Além
contribuem para o desenvolvimento de quem os executa. disso, causou muito estresse à aluna.
Cabe aqui um pequeno desvio no tema para falar de um aspecto Outra história. Uma doutoranda escolheu um tema para pesqui-
funda mental para o sucesso do planejamento de um bom projeto nessa sar, sem qualquer experiência prévia (nem teórica nem empírica). Seu
etapa da carreira: a escolha do orientador. Os estilos de orientar trabalhos orientador recomendou que passasse um mês no campo, observando a
científicos de alunos de graduação ou pós são muito variados, dos mais atividade que pretendia investigar. Isto ainda não era coleta de dados,
diretivos aos que deixam o aluno fazer sozinho suas escolhas. Todos mas um estudo preliminar, uma espécie de sensibilização, para que a
podem ser adequados conforme as características do aluno e do profes- aluna pudesse formular questões mais pertinentes sobre o tema. Ao cabo
50[. O que é indis pensável, no entanto, é a ex periência do orientador no de um mês, a doutoranda voltou e o professor perguntou-lhe como havia
estudo e na pesquisa do terna ou da subárea escolhida. O estudante deve sido a experiência. Ela, muito ofendida, respondeu que não havia gostado
procurar conhecer as publicações do professor, consultando seu currículo e que "não era atividade de urna doutoranda" ficar observando daquela
Lattes 1, se ele o tiver (do contrário, já é um sina l de que não está engajado maneira. A continuação da conversa - na qual a aluna demonstrou o
corno deveria na vida acadêmica). Uma boa estratégia é escolher um pouco va lor que atribuía ao dado empírico na ciência - levou o professor
orientador ativo e produtivo, alguém que publica regularmente na área a recomendar-lhe a proCura de um novo orientador.
que investiga. O orientador, além de seu papel óbvio de acompanhar o Esses dois exemplos pretendem dizer o seguinte: as escolhas podem
trabalho acadêmico, deve ser um mentar de entrada na vida acadêmica ser boas para a dupla, mas podem também não ser. Caso isto ocorra,
nacional e, algumas vezes, internaciona l. Além da experiência e p ro- devem ser mudadas a tempo, não quando resta apenas um mês para
dutividade, é preciso conversar, a fim de verificar a compatibilidade de a defesa.

Para não cansa r o leitor, a partir desse ponto será uSildo o termo orientador, enten-
dendo -se tanto os professores quanto as professoras que orientam a realização de .... . . PREPARAÇÃO: CONSULTA À LITERATURA
projetos, e aluno, indicando ambos os gêneros .
2 O currículo La ttes é uma fenamenta do CN I'q para apresentação dos currícu los de
pesquisadores brasileiros em todas as á reas da ciência. Estão d isponíveis an-/ine e
O contato com a literatura, ou seja, com os trabalhos que vêm sendo
podem ser acessados por qualquer interessado. desenvolvidos numa área, subárea ou tema, é de extrema importância

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em tod as as etapas de realização de um projeto e, mesmo, na preparação Filosofia e Ciências Humanas da U FRJ, no campus da Praia Vermelha, e a
que o an tecede. Já foi dito que a escolha do tema exige certa fa mi liarj~ da pUC . Encontram-se também periódicos e liv ros de áreas relacionadas
dade com a literatu ra. Depois dessa escolha, a consulta à literatura será naS bibliotecas do Instituto d e Medicina Social da UERJ , do IUPERJ e do
novamente fundamental. Instituto Fernandes Figueira. Fora do Ri o, deve-se descobrir e explorar
Para se preparar, um pesquisador precisa acompanhar o de senvolvj~ as boas bibliotecas, como a do Instituto d e Psicologia da us p.
menta do conhecimento. Isto é o que pensa Beveridge (1957). Para tanto, d iz Localizadas as principais bibliotecas, a visita deve ser planejada.
ele, d eve-se estar h abituado a ler periódicos científicos, da mesma forma A meta p ode ser uma exploração inicial -ou uma busca orientada por um
que se lêe m diariamente os jornais. O autor aponta que a edição de 1952 tema pelo qual já se começa a fazer uma opção. Confo rme o objetivo, a
do World List of Scientijic Periodicals listava mais de 50 mil periódicos. Por consulta aos catálogos é O próximo passo. Eles podem se r organizados por
seus cálculos, isso envolvia o equivalente a mais d e 2 milhões d e artigos assuntos ou autores. Geralm ente, para os menos experientes, a consulta
por ano, ou 40 mil por semana! Embora esses cálculos incluam todas as por assuntos é mais útil nesse ponto do processo. Nem sempre o caminho
áreas do conhecimento, pode-se imaginar que, quarenta anos depois, é linear e direto. De acordo com o tema, é preciso explorar sub temas ou
mesmo con sideran do ap enas a psicologia, só é possível acompanhar assuntos correlatos para se encontrar a li teratura relevante.
uma pequena fração do que se publica nas línguas em que se sabe ler. Na etapa d e consulta à literatu ra, são ú teis as dissertações e teses,
Adair e Vohra (2003) confirmam essa suposição apresentando números que muitas vezes fazem boas revisões, assim como os artigos que têm
impressionantes. Segu ndo os autores, O número d e resumos publicados como objetivo a revisão d os estudos sobre um tema ou problema. Um
por algumas entidades d e psicologia, como a American Psychological periódico em que esses artigos são publicados é o Annual Review Df
Association (ArA), aumentou de 555 mil em "957 para },7 milhões em ' 997· Psychology. A revista A merican Psychologis t também apresenta artigos
Os autores ainda citam Thorngate (1990), que estimou h á quase quinze que analisam criticamente temas relevantes e por ve zes polêmicos na
anos que "os psicólogos estavam publicando artigos num ritmo de cem psicologia con temporânea. Uma de suas seções se dedica especificamente
por di a, mais ou m enos u m a cada quinze m inutos" (p. 262). à análise dessa natureza: a "Science Watch".
Como faze r p ara superar esse impasse? É preciso saber analisar e Além da busca por temas, é útil consultar nas bibliotecas as listas
selecionar. Mais uma vez, é fundamental a fa milia r idade com a área e de periódicos e locali zar os que tratam do assunto ou os que foram in-
a subárea nas quais se está interessado. Um pesquisador com experiên- dicados por pesquisadores consultados. O próximo passo é a consulta a
cia, freqüentemente o próprio orientador, poderá indicar as publicações seus últimos números, ou aos números de um certo período, conforme o
impor tantes e indis pensáveis, além de g uiar a busca inicial. Esta é u ma tipo de trabalho que se tem em mente realizar (por exem plo, os ú1timos
das razões pela qual, como já mencionado, é extremamente importante cinco ou dez anos). Finalmente, o exame do conteúdo desses periódicos
o processo de orientação na reali zação de monog rafias, dissertações pode leva r à seleção de trabalhos sobre o tema.
ou teses. O orientador d eve ser a lguém que estuda ou pesquisa o tema D epois de localizados livros e artigos, é interessante proceder a
escolhido pelo aluno. Só assim pode efetuar algum tipo de indicação um a seleção do que se va i retirar por empréstimo, ou do que se va i
com segurança. rep rodu zir em xerox, lembrando sempre as leis de direitos autorais e os
Para a realização da busca, é recomendável di rigir-se a bibliotecas. limites para esse tipo de cópia. Muitas vezes já é adequado organizar
É preciso identificar as melhores da cidade ou região. No Rio de Janeiro, o material em fichas, uma para sua referência bibliográfica, outra para
infelizmente, as condições das bibliotecas de psicologia, especialmente o resumo tal como apresentado na revista, enriquecido d e comentários
no qu e se refere à disponibilidade de periódicos especializados inter- pessoais. Uma sugestão é criar um banco de dados n o programa Access
nacionais, não são ideais. Atual mente, as melhores são a do Centro de ou similar. O trabalho e o tempo despendidos na criação de um sistema
próprio de organização de material consultado serão compensados com conectivos "e", "ou", "não". Em poucos segundos, aparece uma série
menos dificuldade no momento de redação do projeto. de sUes em que foi encontrado o solicitado, em ordem de prioridade.
Paralelamente à pesquisa manual nas bibliotecas por meio da con- As buscas podem ser feitas tanto na rede como em newsgroups, num
sulta de seus catálogos, pode ser realizada uma busca eletrônica em bases determinado idioma ou em vários. Nem sempre os resultados são bons
computadorizadas de dados. Algumas bibliotecas dispõem de assinaturas na primeira pesquisa, e refinamentos são necessários. Por exemplo:
desses sistemas que armazenam enorme quantidade de informações e deseja-se pesquisar referências sobre o uso de drogas por crianças. Por
que permitem ao usuário ter acesso a arquivos de dados, fazendo buscas intermédio do browser (Netscape ou Explorer), é feita a conexão com
por assunto, uma ou mais palavras-chave, autores ou publicações. Tais o Altavista (http://www.altavista.com) e são procuradas as palavras
buscas podem ser limitadas por períodos, faixas etári as dos sujeitos, drugs e children. A pesquisa apresenta as primeiras dez referências em
língua em que o trabalho foi publicado etc. Antes, esses bancos estavam que houve mais acertos dessas palavras e informa que ao todo foram
disponíveis em CO-ROM, em bibliotecas que tinham sua assinatura; hoje encontradas 1.806 referências.
a consulta pode ser feita pela internet, em bibliotecas ou instituições. De O segund o tipo de ferramenta de busca é voltado especificamente
forma geral, várias dessas bases de dados estão disponíveis no portal de para publicações científicas. Nesse grupo, há ferramentas de acesso li-
periódkos da CAPES, que será abordado adiante. Serão mencionadas as vre e de acesso restrito ou limitado. O que isso significa? As primeiras
bases de acesso livre e as de acesso restrito. podem ser acessadas de seu computador pessoal ou em bibliotecas das
É importante ter consciência de que a pesquisa nas bases de dados instituições d e ensino superior - sem nenhum custo para o usuário.
exige algum conhecimento da área e do tema de interesse, para que os Como dizem Ribas e Ribas,
indexadores adequados possam ser usados. A informação está disponível
no sistema, mas o resultado de cada busca depende de que as indicações algumas das principais ferramentas de identificação de literatura
fornecidas pelo pesquisador sejam apropriadas ao que se deseja inves- podem ser acessadas através de computadores situados dentro ou
tigar. Além disso, algumas vezes só são incluídos trabalhos publicados fora das universidades, sem qualquer tipo de custo. Em alguns casos,
em inglês, ou nos Estados Unidos, ou que tenham resumos nessa língua; pode-se não só identificar a literatura, mas também obter o próprio
assim, pode não ser apresentada a literatura publicada em português, texto completo de artigos científicos, publicados em excelentes peri-
de interesse para o pesquisador. ódicos como Psicologia: Reflexão e Crítica (2004, p. 1).
Atualmente, apesar da insubstituÍvel importância das bibliotecas,
outro meio cada vez mais difundido de busca de informações bibliográ- Há ferramentas de acesso livre de literatura nacional e internacional.
ficas é a internet. O vasto manancial de informações disponíveis na rede Em r elação às primeiras, citamos as seguintes:
mundial de computadores cria a necessidade de saber onde encontrá-las,
ou seja, onde buscar informações sobre informações. lndex-Psi Periódicos e Livros - É uma das mais importantes ferramentas
Dois tipos de fontes de busca podem ser mencionados. O pri- de busca de artigos e livros publicados no Brasil sobre psicolo-
meiro é o de sifes que permitem a busca rápida e eficiente sobre um gia. Trata-se de um banco de d ados desenvolvido por iniciativa
determinado assunto. São chamados de índices, diretórios, search do Fórum Nacional de Entidades de Psicologia, com apoio do
engines. Os mais importantes são o Altavista, o Yahoo! e o Google (há Conselho Federal de Psicologia (CFP) e a participação técnica
o Google Scholar, com foco em trabalhos científicos). Existem também da puc de Campinas. Pode ser acessado pela página do CF P,
sites brasileiros como Bookmarks e Cadê? De modo geral, é necessá- http://www.pol.org.br. ou, dentro dela, na Biblioteca Virtual de
rio fornecer palavras-chave e/ou frases, podendo~se também usar os Saúde, http://www.bvs-psLorg.br;
'f

Plataforma Lattes - Base de dados criada pelo CN Pq para indexar toda Education Resources lnformatio n Center (ERlc) - É mantidó pelo Instituto
a produção de pesquisadores brasileiros que possuem currículo de Ciências da Educação (IEs), d o Departamento de Educação d os
no sistema Lattes. Nela, referências de artigos, livros, dissertações, Estados Unidos. A base de dados é sobre educação e inclui biblio-
teses e resumos de congresso, produ zidos por pesquisadores em grafia desde '966. O endereço é http://www.eric.ed.gov;
todas as áreas da ciência, podem ser localizadas. O acesso se dá em MedLinelPubMed - PubMed é uma ferram enta de busca de artigos cien-
http://lattes.cnpq.br. Busca-se por palavras-chave, e o resultado é uma tíficos na área da saúde e indexa, entre outros, mais de trezentos
lista de pesquisadores em cujos currículos há referências a trabalhos periódicos de psicologia e psiquiatria. Oferece acesso a informações
sobre o tema, com links para os mesmos e para resumos do grupo de bibliográficas, inclusive da base MedLine. É disponibilizada pelo
pesquisa a que pertencem, se for o caso; sistema de recuperação.Entrez (Entrez retrieval system). Foi d esenvol-
SciELO Brasil - Base de dados que ofe rece ferra menta de busca e a~es- vida pelo Centro Nacional para a Informação de Biotecnologia (NCB I)
50 a artigos científicos de alguns periódicos, como, por exemplo, na Livraria Nacional de Medicina (N ML), localizada no Instituto
Psicologia: Reflexão e Crítica (UFR Gs), Estudos de Psicologia (UFRN) Nacional de Saúde d os Estados Unidos. Entrez é um sistema de
e Revista Brasileira de Psiquiatria. Pode ser acessada pela página busca e recuperação u sado para O PubMed e outros serviços. Já
do CFP e pela Biblioteca Vi r tual de Psicologia. Seu endereço é o LinkOut permite acesso a textos completos de artigos nos sUes
http://www.scielo.br; de periódicos. Vale a pena explorar com calma todos os rec ursos
Conselho Federal de Psicologia (CFP) - Permite acesso à Biblioteca Virtual oferecidos em http://www.ncbLnlm.nih.gov/entrez;
de Saúde, à BibHoteca Virtual de Psicologia e, por meio des ta, ao Findarticles - É uma base em que se pode encontrar literatura internacional
Scielo e ao Index-Psi Periódicos e Livros, além de outras bases de com texto completo em diversas áreas, inclusive em psicologia. O
dados. Também dá acesso a textos completos do periódico Psicologia: acesso gratuito é limitado, mas pode-se adquirir livros e capítulos
Ciência e Profissão. O endereço é http://www.pol.org.br; de interesse. O endereço é http://www.findarticles .com.
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) - Resulta da parceria entre a Rede Nacional
de Bibliotecas da Área de Psicologia, coordenada pelo Serviço de Sabendo-se que info rmação vale muito, pode-se imaginar que
Biblioteca e Documentação (S BD) do Ins tituto de Psicologia da us p as ferramentas mais poderosas de busca e as bases de informação
(rpusp), o C FP e a Organização Pan-Americana da Saúde - repre- mais abrangentes são de acesso restrito, ou seja, apenas para os que
sentada no Brasil pelo Centro Latino-Americano de Informação em pagam. Felizmente, os estudantes e professores de muitas instituições
Ciências da Saúde (BIREME). É uma ampla base de literatura na área brasileiras de ensino superior têm acesso a elas pelo portal de peri-
de saúde, com acesso a outras, tais como: MedLine, Lilacs e Adolec. ódicos da CAPES , importante iniciativa d o Ministério da Educação.
O endereço é http://www.bireme.br; A página pode ser acessada nas instituições autorizadas por m eio
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (AN PEPP) do e ndereço http://w ww.capes.gov.br. ou diretamente na página
- Contém informações sobre grupos de trabalho, bancos de te- http://www.periodicos.capes.gov.br.
ses e dissertações, fóruns de dis cu ssão, avaliação de periódicos O anexo 1 oferece mais informações sobre o portal da CAPES e seu
brasileiros d e psicologia e links interessantes. O endereço é uso. Entre algumas das bases de dados disponíveis, estão:
http://www. a npepp.org.br.
Assia Plus - Contém resumos de trabalhos publicados sobre ciências
Em relação à literatura internaciona l, os recursos abertos também sociais a partir de 1987;
existem: Dissertation Abstracts - Traz mais de 1 milhão de referências, com resumos
de teses defendidas desde 1980 e dissertações de 1988 em diante, de pensamento e uma visão ampla do que está sendo estudado. Vale o
cobrindo mais de 3 mil subáreas; conselho de Francis Bacon: "Leia, não para contradizer ou negar, nem
Educa"lion lndex - Cobre material publicado sobre diversas subáreas da para acreditar ou aceitar sem crítica, mas para ponderar e refleti r".
educação em mais de quatrocentos periódicos; É preciso ler sem se prender apenas aos detalhes d os artigos, mas
PsycInfo - Base de dados que oferece resumos e citações da literatura buscando compor uma visão da área, fa zer analogias, detectar tendências,
científica nas ciências humanas. Inclui material relevante para identificar abordagens teóricas diversas, seus pontos de aproximação e
psicólogos, profissionais e pesquisadores de áreas afins: artigos de de divergência. Uma boa estratégia é, em primeiro lugar, ler o resumo e
periódicos (mais de 2 mil títulos), capítulos e livros; ter uma idéia geral do artigo ou capítulo; depois, ler tentando identificar
Social Sciences Index - Permite acesso aos trezentos principais perió di- os principais temas abordados e o argumento geral desenvolvido. Deve-
cos publicados em inglês, em áreas das ciências sociais, incluindo se tentar responder a perguntas do tip o: sobre o que é esse trabalho?
sociologia, economia, ciências ambientais, geografia, relações in- O que o autor pretendeu argumentar? Como ele conseguiu isso? Com o
ternacionais, direito, criminologia, estudos urbanos, estudos sobre que concordo ou não? Por quê? Em que esse trabalho ajud a o desenvol-
a mulher etc.; vimento do argumento de meu projeto?
Sociofile - Contém informações sobre cerca de 1.500 periódicos em Weiten (200 2) cita o trabalho de Robinson (1970), que pode ser útil.
trinta línguas, cobrindo principalmente sociologia e disciplinas Segundo esse autor, cinco passos devem ser seguidos para aumentar a
relacionadas. eficiência da leitura para O estudo:

Para encerrar esta parte sobre b uscas bibliográficas na internet, cabe 1 Pesquisar - Antes da leitura do texto em questão, deve-se explorá-
ressaltar a diversidade de ferramentas e a quantidade de informações lo para ter uma idéia do que trata, quais os seus principais itens e
disponíveis. Para ter acesso a tudo isso, além de usar as ferramentas, subitens e qual a sua organização geral;
restritas ou não, é preciso conhecer um pouco do que se procura. A busca 2 Perguntar - Lidar com uma parte de cada vez e formular uma
não pode ser cega. Deve ser planejada e dirigida, e é necessário explorar pergunta para ser respondida p ela leitu ra. Se o item incluir, por
com calma os recursos d isponíveis em cada ferramenta e base. exemplo, atenção conjunta e desenvolvimento da intersubjetividade,
Paralelamente aos vários tipos de busca realizados e aos estudos procurar responder: o que é intersubjetividade? Como se relaciona
desenvolvid~s a partir dos resultados dessas buscas, é de grande valia com o estabelecimento da atenção conjunta?;
para o pesquisador iniciante (e para o experiente também) a participação 3 Ler - É o aprofundamento da leitura, sempre tendo em mente res-
em eventos científicos em sua área de interesse. A Reunião da Sociedade ponder às questões formuladas;
Brasileira de Psicologia, que se realiza anualmente, e o Congresso Norte- 4 Recitar - Depois da leitura minuciosa e atenta, responder, com suas
Nordeste de Psicologia, bienal, entre outros, fornecem uma visão geral próprias palavras, à pergunta da seção lida, Só passar adiante quan-
do desenvolvimento das investigações de psicologia no pais e dos pes- do isso tiver sido f eitoi
quisadores engajados em estudos dos diferentes temas. 5 Revisar- Após ler todo o texto, rever os pontos principais e formar
A leitura de artigos sobre um dado tema nos periódicos selecionados uma idéia geral do texto,
pode levar a mudanças na escolha feita. Além disso, e la precisa ser de-
senvolvida de forma a buscar um equilíbrio entre a familiarização com Às vezes, é importante não se restringir a leituras diretamente rela-
o que já foi investigado e a manutenção de uma relativa origin alidade. cionadas ao terna, ou a urna única maneira de abordá-lo. Isto garante uma
É preciso ler criticamente, buscando observar uma certa independência visão ampla e o aprofundamento necessário no tema em foco. Por exemplo,

}o
se o projeto se situa na área de representações sociais, e a leitura de um Nesse ponto, se isto ainda n ão foi fe ito, é importante co meçar a
p esquisador iniciante focaliza apenas estudos orientados pela teoria de pensar em d esenvolver um sistema para organizar o que está sendo lido.
S. Moscovici, não se tomará conhecimento de debates importan tes na Há os que ainda resistem ao computador. Recomenda-se sup erar o pro-
área d e representações sociais e n a de p sicologia social como um tod o. blema, caso haja a inten ção de seguir a carreira docente e de pesquisad or.
Pod e-se mesmo ficar com a falsa idéia d e consenso, o que não existe. Enquanto isso, sistemas de organização em fichas podem funcionar. Uma
A consu1ta à IHeratura deve inclui r estudos teóricos e investigações possibilidade é usar fichas de tamanhos diferentes: uma pa ra o resu m o
empíricas. M uitas vezes, no exame das investigações, identifica-se m ais d o que está sendo lido, com comentários devidamente diferenciados d o
de uma abordagem teórica e vai-se aos autores citados para maior ap ro- que é síntese do textoi uma para citações interessantes, que, se não forem
fund amento. Daí, volta-se ao exame das investigações feitas, contrastando registradas qu ando lidas, não serão facilmente recuperadas; e outra para
os estudos com as explicações teóricas. Um exemplo pode ser observado as referências bibliográficas.
no trabalho de A . Ribas em seu projeto de tese e, posteriormente, na Uma regra de ouro: não ler n ada sem anotar a referência bibliográfica
própria tese. Interessada em estudar responsividade materna, a autora completa, já no formato apropriado. Colocand o as referênci as em fichas,
realizou um levantamento inici al sobre o tema: pode-se selecionar com facilidade as que tiverem sido efe tivamente us a-
das no texto, na redação do projeto. Além disso, como estão em fichas
Uma investigação realizada por Ribas, Seidl de Moura e Ribas (no separadas, elas podem ser d isp ostas em ordem alfabética.
prelo)) forneceu um panorama das pesquisas Gue focaliza m a res- Para quem já se apr opriou do computador com o ferramenta, as
ponsivid ade matern a. Tratou-se de um leva ntamento bibliográfico possibilidades se amptiam. É possível organizar o m aterial criando
realizado através de buscas sistemáticas em importantes bas es de dados arquivos em Word para as referências e prepara r os resu mos dos textos
bibliográficos n acionais (Prossiga, cNPq/s BPe/ Academia Brasileira de lidos, organizand o-os em arqu ivos, d iretórios e disquetes separados. Uma
O ências, lndex-Psi, Conselho Federal de Psicologia/ru e-Campinas) alternativa mais sofisticada é criar bancos de dados usando o utilitário
e uma b ase internacional em psicolo gia (PsycInfo, d a American Access. Cada um pode experimen tar e perceber a forma com a qual se
Psychological Asso dati on) sobre o tema entre 1967 e 2001. Foram sente mais cOflfortável.
identificados registros de 231 artigos nas bases de dados internacionais O m étod o d e organização é pessoal, p orém, seja qua l for, é fun-
e muito poucos registros (apenas quatro)nas bases nacionais. damental p ara um acesso eficiente ao materi al consu ltado e para su a
Tendo como base a p esquisa de Ribas, Seidl de Moura e Ribas utilização em textos de natureza d iversa. Se o m étodo for eficaz, pode
(no prelo) e outras fontes, como Bornstein (1989) e outros, pode-se acompanhar o pesquisador em sua trajetória acadêmica, permitindo a
apresentar in icialmente um panorama tanto do conceito de responsi- construção de um acervo valioso. Uma das autoras deste livro criou u m
vidade como de algumas das muitas questões relacionadas à pesquisa sistema de fichas quando realizou seu mestrado. Tal sistema continuou
sobre este tema (Ribas, 2002, pp. 14-5). a se r usado durante dezessete anos, inclusive em seu doutorado. Ao
se preparar para escrever u ma tese para concurso de professor titular,
o panorama mencionado indicou que muitos estudos não apresen- o acervo constru íd o foi de inestimável va lor. Mu itos livros e artigos
tavam fundamentação teórica clara e que a principal teoria usad a para clássicos, lidos m ais de uma década antes, não tiveram de ser relidos;
tratar d a responsividade era a do apego. Essa informação possibilitou à estavam fichados, e a infor mação sobre eles pôde ser facilmente re cu-
autora tomar decisões e fazer escolhas te óricas e metodológicas. perad a e citada.
Outro aspecto importante no processo de con sulta (e, posterior-
3 Este trabalho já foi publicado: Ribas, SeidJ de Moura e Ribas Ir. (2003), mente, d e revisão) da literatura é o conhecimento de ou tras línguas.

32 33
A necessidade varia de uma subárea da psicologia para ou tra. Em algumas, Nas monografias, não se espera que a revisão seja exaustiva - atu-
a literatura mais importan te é a anglo-saxã, e é preciso desenvolver a almente, isto é impossíve l, d ad o o volume d e publicações. Nos projetos
capacidade d e le r em inglês. Em outras, os trabalhos m ais importantes de d issertações e, especialmente, de teses, já é fundamental um a ampla
são em francês, e a proficiência em leitura nessa língua é fundamental. revisão, o que, todavia, cost uma ser feito de maneira automática e bu-
O ideal seri a dominar ambas as línguas mais a a lemã, único idioma em rocrática, sem a compreensão de seus propósitos.
que estão disponíveis importantes trabalhos em psicologia, como a :ob ra Um efeito disso é a falta de visão mais ampla e crítica ou do pano-
Psicologia dos povos, de W. Wundt. rama d a área específica q ue se pretende investigar. Desse modo, como
É bom levar em conta que ler constantemente é essencial para fazer será d iscutido, observa-se a re dação d e capítulos de revisão da literatura
pesquisa. No entanto, corno afirma Medawar, que consistem numa colagem não articu lada de resumos des conexos de
artigos diversos, que foram identificados na revis ão feita. Não são discu-
conhecimento livresco em demasia pode caus ar dano e confinamento tidos 05 textos levantados, não é realizad a uma aná lise dos mesmos e das
à imaginação. Mesmo porque a meditação incessante sobre a p esquis a implicações de seus resultados para a teoria em que se ap óiam, nem são
alheia é, com freqüência, um substituto psicológico da pesquisa, do discutidas as lac unas do conheci mento na área que justificam o estudo
mesmo modo que a lei tura de ficção científica pode estar no lugar do proposto. Ou seja, a revisão da literatura não atinge seus objetivos. Outro
romance na vida real (1982., p. 21). equívoco comum é identifica r alguns est udos n a bu sca inkial realizad a,
selecionar os que ap óiam as hipóteses ou pressupostos do trabalho e
usá-los como uma espécie d e argumento de autorid ade para justificar o
REVISÃO DA LITERATURA
traba lho realizado e/ou suas conclusões.
Quando um tema é escolhido e a literatura, consultada, quando se
A escolha de um tema exige que se te nha familiaridade com o que já começa a tomar contato com pesquisadores experientes na área e as pri-
foi pesquisado a r espeito. Freqüen temente se observa que a escolha meiras idéias para um projeto de 'pesquisa são esboçadas, a primeira etapa
feita pelos alunos revela falta de conhecimento sobre O que já foi estu- do processo está concluída. A partir desse momento, a revisão sistemática
dad o. As conseqüências são graves. Podem leva r tanto à incapacidade da literatura vai levar à seleção de um problema específico, ajud ar em sua
de delimitação de um problema que não seja amplo dem ais ou vago delimitação, mostrar sua relação com pesquisas realizadas anteriormente
quanto à dific uldade de justificar a necessidade d a pesquisa proposta, e colabora r na seleção de técnicas para sua investigação.
a seleção de hipóteses já corroboradas ou rejeitadas e o·uso d e técnicas Segundo Hitchcock e Hughes, a revisão de literatur a
que a experiência anterior revelou não apropr iadas. Em todos esses
casos, a revisão da literatura realizada de forma ad equad a teria evitado amplia ~ refina o conhecimento existen te; ajuda a definir e clarificar
tais problemas. as questões da pesquisa; permite a identificação de la cunas e de áreas
Essa etapa d a elaboração de projetos é, em geral, a mais mal inter- pouco exploradas; ajuda a esclarecer aspectos teóricos, metodológicos
pretada. Muitos estudantes a consideram um a ex igência arbitrária e e analíticos; p ermite a identificação de debates atua is e controvérsias
burocrática, uma espécie de obstáculo a ser superado para fazer o que (1995, pp. 9 0 - ').
é mais interessante: o próprio estudo, no qual vão dar su a contribuição
original e significatíva. Como pensam assim, cumprem essa tarefa sem Quando a revisão da literatura é feita de forma pouco adequada,
muito entusiasmo e sem a dedicação que exige. Com isso, não obtêm um ou mais desses objetivos podem não ser atingidos. Observam-se
resultados satisfatórios. todos os tipos de problemas: questões vagas e n ão definidas, repetição

34 35
não justificada do que já foi amplamente estudado, inconsistência teórica, que mudaram ao longo d o tempo. Outras vezes, refletem tendências
inadequação metodológica e desconhecimento de controvérsias importan- na pesquisa do tema. Uma aluna de d outorado vem estudando a fala
tes. Por exemplo, sem uma revisão ampla e crítica da literatura, pode-se materna dirigida a bebês em fase pré-lingüística desde a graduaçã o.
assumir uma posição radical de modularidade da mente, ignorando um Ao longo do tempo, já aprendeu que não há muitos estudos recentes
debate conte mporâneo e evidências de processamento de domínio espe- sobre o tema - bastante pesquisado em dé cadas anteriores (especial-
cífico, mas também de processamento central. Urna pesquisa empírica mente de 1970 a 1990) - e que os termos mudam: de ma/ernal input para
em cognição deve levar em conta esse debate, situar-se nele e d iscutir maternal speech~ por exemplo. Apesar disso, fica ainda frustrada ao ter
seus resultados à luz dos argumentos que o sustentam. pouco retorno de algumas tentativas de busca no PsycInfo. Algumas
Como fazer a revisão? Este é um processo muito interessante e bases de d ados e ferramenta s de busca têm um Thesaurus, sendo útil
nada mecânico. Exige algum conhecimento inicial da área, curiosidade consultá-lo.
e um pouco de capacidade investigativa. Quando o tema é específico, a
revisão pode ser m ais focalizada e torna-se mais fácil. Quando o tema
é complexo e multifacetado, pode exigir aproximações e correções de DEFINIÇÃO DO l'ROBLEMA, IDENTIFICAÇÃO DAS
rumo para q ue se obtenham bons resu ltad os. QUESTÕES DE PESQUISA E FORlI,lULAÇÃO DE HIPÓTESES
De todo modo, a revisão da literatura é uma busca sistemática, a
fim de m apear o que se tem pesquisado na área. Não é uma fa se discreta, Cabe, neste ponto, esclarecer que o desenvolvimento de um projeto de
independente da p esquisa. A integ ração do material levantado deve pesquisa não é um processo linear, e muitas etapas podem ser executadas
permitir uma análise do que se tem denominado "o estado da questão" de forma paralela. As etapas que vêm sendo descritas p odem desdo-
sobre um determinado tema ou problema de pesquisa, revelando lacunas brar-se simultânea ou sucessivamente. É possível explorar a literatu.ra,
que justificam o est udo que se pretende realizar. formular um problema, fazer uma revisão mais exau stiva, descobrir
A amplitude da busca pode variar conforme os objetivos do trabalho. um subtema de interesse, rever a questão definida ilnteriorrnente, voltar
Pode restringir-se aos estudos brasileiros dos últimos cinco anos, incluir a rever a literatura para verificar como foi estudada e tomar decisões
os estudos internacionais de um período ou seT dirigida para uma década metodológicas. Essa etapa, apesar de muito interessante, é um pouco
em particular, como a de 1960. Não há possibilidade de ser exaustiva, aflitiva. Há uma sensação de que o tempo está passando e de que "não
mas deve oferecer uma boa amostra do que se tem publicado sobre o se tem ainda nada". Muitos alunos desanimam, especialmente se suas'
assunto e permiti r a identificação das principais questões, tendências e, se buscas têm como resultado um dos dois extremos: não identificam muitos
for o caso, controvÉrsias. Assim, a revisão, em vez de exaustiva, deve ser estudos sobre o tema ou identificam estudos demais.
seletiva e sistemática, sem ser, no entanto, inadequadamente tendenciosa, Um conselho do orientador de mestrado de uma das autoras pode
como na situação mencionada, em que se usam os estudos selecionados ser útil. Ele dizia para ter cautela quando não se encontrasse nada numa
apenas para apoiar o ponto de vista do p.esquisador. Além disso, nos três busca. Com sua visão um tanto cética, mas produto da experiência, afir-
tipos de projeto que vêm sendo discutidos aqui (monografia, dissertação mava que a chance de estar sendo original era remota. O mais provável,
e tese), esperam-se escopos diversos. segundo ele, é qu e não se estivesse sabendo procurar. Em contrapartida,
As ferramentas para a revisão da literatura são as mesmas já discuti- encontrar muita coisa pode ser sinal de que não se estabeleceu um foco
das, mas deverão ser mais dirigidas e guiadas pelo conhecimento inicial suficientemente estreito. A definição de uma questão pode surgir desse
do tema. O resultado dessas buscas pode ser frus trante e insatisfatório. refinamento. Nesses momentos, como em tantos outros, é de suma im-
Às vezes, ele se dá graças ao uso de palavras-chave não adequadas ou portância o papel do orientador.

17
Enfim, num determinado instante, chega-se à definição de um proble- o estudante com algum talento real para pesquisa geralmente não
ma de pesquisa a ser tratado no projeto. A consulta e a revisão sistemática tem dificuldade para encontrar um problema adequado. Se no curso
da literatura, se bem odentadas, levam naturalmente à identificação de de seus estudos ele não percebeu lacunas no conhecimento ou incon-
um problema específico. Na tese, espera-se originalidade. Isto significa sistências, ou não desenvolveu algu mas idéias próprias, não promete
que o problema deve corresponder a uma lacuna no conhecimento da muito como pesquisador (1957, p. 13).
áre a e que o trabalho realizado é inédito. Na d issertação, assim ..como
na monografia.. isto não é esperado. No entanto, a rev isão da literatura Percebe-se essa habilidade em alguns alunos d esde a graduação.
permite que se identifiquem questões interessantes a serem investigadas. Em outros, ela parece não estar prese nte mesmo durante o curso de
Nem sempre o alvo da pesquisa necessita ser um problema específico. doutorado, que é feito apenas para se conseguir um título indispensável
Por vezes, o ex ame da literatura revela que são necessários estudos na carreira acadêmica.
e:xploratórios, a fim de definir problema~ específicos para pesquisas Medawar, em Conselho a um jovem cientista (1982), parodiando os
posteriores. que consideraram política a "arte do p ossível", diz que a pesquisa é "a
O processo de identificação d e problemas, como quase todas as arte do solúvel", no sentido daquilo que é possível estudar, do que é
etapas da pesquisa, não é linear e envolve um questionamento constante, exeqüível. Assim, é importante avaliar a complexidade do problema
um d iálogo interno do aluno-pesquisador e conversas com seus colegas identificado e a viabilidade de investigá-lo no tempo disponível para
e o orientador. Dessa maneira, pode-se restringir um foco por demais realizar a monografia, a dissertação ou a tese. Nos três casos, mesmo com
amplo, esclarecer idéias vagas e confusas, transformar impressões em as diferenças esperadas, convém ter em mente a questão da viabilidade.
metas sistematizadas e abrir mão de alguns objetivos, mesmo que pro- É bom começar com um problema que ten ha chance de sucesso e não
visoriamente, para a realização de um bom traba lho. esteja além das capacidades técnicas do pesquisador. Por exemplo, numa
Algumas subetapas do processo de descoberta de questões de pes- monog rafia, em que o tempo é reduzido, em geral com um semestre para
quisa consistem em: escolher um tema geral; discutir com o orientador e a elaboração do projeto e outro para a realização do estudo, talvez não
outros colegas; buscar a literatura e delinear o conte:xto geral d o estudo seja aconselhável escolher um problema que necessite ser investigado
desse tema e sua importância na área; discutir com o orientador e ou- por um complicado sistema de análise de observações, com o qual o
tros professores que se dediquem ao estudo do tema; procurar outros aluno pode ainda não estar familiarizado.
pesquisadores, identificando-os na literatura (em buscas n a base Lattes), Hitchcock e Hughes (1995), comentando o trabalho de Light, Singer
assistindo a congressos ou examinando seus livros de anais; identificar e Willett - By designe planning researel! OI! higher edu ca/ion - (1990, p. 82),
abordagens teóricas relevantes e seus pressupostos, estudá-las e optar por apontam que o pesquisador d eve ser capaz de fazer três coisas impor-
uma fundamentação para orientar o traba lho; realizar uma revisão mais tantes: "explicitar de forma clara urna questão de pesquisa que sirva
sistemática da literatura, identificando tendências, debates contemporâ- de base para o planejamento, entender sua ligação com a metodolo-
neos e controvérsias, influências e preferências metodológicas; refletir e gia a ser empregada e aprender a partir do trabalho já reolizado por
discutir; identificar questões de estudo, ana lisar sua complexidade e a outros". Fazendo isto, será capaz de realmente definir um problema,
viabilidade de estudá-las no tempo previsto; submetê-las a pessoas mais especificar os aspectos envolvidos e formular as hipóteses com que
experientes no estudo d a área; refiná~las e definir o problema a ser estu- vai trabalhar.
dado e os objetivos ou hipóteses da pesquisa, segundo sua natureza. Pessôa (Z0 03, pp. 45-6), em seu projeto de mestrado, identificou
Pode-se dizer que a capacidade de identificar problemas de pesquisa uma lacuna na li terat ura e nela focalizou seu estudo, como pode ser
já é uma pista do provável sucesso do pesquisador. Beveridge observa: visto no qu adro 1:
claramente definidos n o projeto, para que se possa, dep ois de realizada
a investigação, avaliar se foram plenamente atingidos.
Seguem alguns exemplos:
A revlsao da literatura indicou que os d iversos aspectos aqui dis cutidos têm sido in vest i·
gados, ma s não são considerados de forma articulada. O e squema a seguir dá uma Idé ia
dess a s a rticu laçõ e s.

Anal isar a r elação entre as características da fala mate rna aos cinco e vinte mes es e o
desenvo lvi mento li nguistico do bebê aos vinte mes es, avalia do par mei o do MacArthur

I De'senvoi"imento ll ~g üístko , 1 - inventario do desenvolvimento de habilfd ades comunicativas -, que se rá preenchido


pe ja mãe e pe la a nálise de s ua fa la reg is trada na sessão de obs ervação da brincadeira
(pessõa , 2 003, p. 47).
Tendo em vista essas cons iderações , este projeto tem como o bjeti vos :
! ."Nfv_e l sOcroefonõmicó . !
I Int eg ra r o estudo da re spons iv idade materna ao refere ncial teórico da abo rda ge m
I ;.Odlá}ogolnterativo no' cçntexto -es p~dfico da brincadeIra i. I 50clo cultural, ta nt o no qu e se refe re à discus são teórica sobre responsividade Quan t o
no Qu e s e refe re aos da d os empíricos encontrados na pesqU isa;
A li ng uag e m p ode ser estud ada em três di mensões: si ntaxe, prag mática e s emântica . Investigar a responsi vidade materna e m termos do seu carâte r contin gente e apropria-
No ãmbito da pragmática. o foco reca i sobre a maneira como o fa lant e utiliz a os si gnos do, diferenciando re sponSi vldad e pa ra ati vidades com e sem estresse, n uma amostra
e faz uso dos enunciados. Cons idera -se o contexto no q ual os signos sã o proferidos, brasile ira;
vis ando a finalidades esp ecífi cas e ao suj eito para quem o d isc ur so foi d irigido, NO uso Ana lisar a relação entre a respo nsi vl da de materna e o nível soc ioe co nômico da famlli a
da prag mátic a, pode m ser id entific ad os os aspectos cultura is e sociais ime rna lizados (esco laridad e materna e status socloeton6mi co medido pelo Ho llin gshea d) ;
pela s pessoas em inte raçll,o s oci al <I Avaliar possíveiS relações entre a respons ivid ade mate rn a e a lguma s variáveis do
Com Isso, o p res~nte estudo ateve-s e a os a specto s pragmáticos das sentenças emitidas contexto de de senvolvime nto das crianças , especifica me nte o nú me ro de hora s que
pelas máes em contextos especifi cos, pressupondo sua influ ê ncia no de se nvolv ime nto a mãe pa ssa sozinha com a criança por semana e o núm ero de pes so as que cu ida m
Jingü lsu co infanti l. da cria nça diariamente (Ribas, 2002, pp. 81-2).

Alguns estudos envolvem a formulação de hipóteses. Para auto-


A definição do problema, ou a identificação das questões do traba-
res como Beveridge, as hipóteses são fundamentais na investigação e
lho, é o ponto de partida nas pesquisas de natureza qualitativa, Nesse
consistem em estratégias mentais que têm a função de sugerir novos
caso, não são formul adas h ipóteses a serem testadas, mas os objetivos e
experimentos e observações, Também ajudam a enxergar de outra forma
as questões a que se tentará responder com a investigação. Nos demais,
o significado de um objeto ou evento, Ao lon go da história das ciências,
após determinar o que deve ser respondido pela pesguisa, é necessário
as hipóteses têm levado a descobertas importantes, Além disso, não
elaborar uma predição específica que possa ser testada, ou seja, formular
uma ou mais hipóteses, . precisam es tar corretas para n os conduzir a resultados interessantes.
Podem, assim, ser frutíferas, mesmo não sendo verdadei ras.
Antes de abordar a formulação de hipóteses, é preciso discutir a espe-
É ainda Beveridge (1957, pp. 66- 70) quem indica precauções em
cificação de objetivos. Em qualquer tipo de projeto, eles são fundamentais.
relação às hipóteses. A primeira é ter o desprendimento de abandonar
Definidas as questões da pesquisa, o problema, a lacuna na literatura,
idéias que se revelaram infrutíferas. As hipóteses são instru mentos; não
°
explicita-se que o estudo a ser desenvolvido visa realizar ou alcançar,
devem aprisionar a busca de conhecimento, O desprendimento deve
É comum indicar um objetivo geral, desdobrado em objetivos específicos,
ser equilibrado com a perseverança necessária aos que se dedicam à
Eles devem ser formulados em linguagem objetiva e com todos os termos
;r ·--·'···

investigação científica. Segundo Beveridge, a incapacidade de abandonar


idéias estéreis é característica das mentes menos criativas. Uma segunda
recomendação é ter disciplina intelectual ao subordinar idéias a fatosi para
Hipóteses correlacionais:
isso, é necessário não esquecer que as hipóteses não são fatos, mas meras As pe ssoas mais intelIgentes costumam ser mais criativas :
suposições. O autor sugere como estratégia a formulação de hipóteses Quanto maio r a idade dos parceiros ao se casar, meno r a probab il idade de que o
múltiplas ou de uma sucessão de hipóteses. A terceira dica é não aC9lher casamento termin e em divórcio;
Hom ens com atitudes mais preconceituosas e m relaçao às mulheres tendem a endossar
automaticamente qualquer conjectura que venha à mente. Deve-se sub-
mais fo rteme nte a prática de violência doméstica contra elas .
metê-la, mesmo sendo uma hipótese provisória, a uma análise cuidadosa Hipóteses compa rativas:
antes de aceitá-la. Ainda confo rme Beveridge, concepções que se mostram Cria nças proven ientes de lares deses truturados demonstram índices de auto ·estima
errôneas devem ser abandonadas. Em síntese, adverte: menores que criança s proven ientes de lares estruturados;
Alunos submetidos a um método de ensino audiovisual aprese.ntam me lhor re.ndimento
num curso de líng uas que os alu no s submetidos a um método oral :
Precisamos resistir à tentação de nos tornarmos muito apegados às Pessoas idosas têm atitudes mais negativas em relação ao a bono qu e pesso as maís
noss as hipóteses e buscar julgá·las objetivamente, modificando-as jovens.
ou d escartando-as sempre que evidência contrária for disponível.
É necessário vigilância para impedir que nossas observações e inter-
pretações sejam tendenciosas em favor da hipótese (1957, p. 71). rejeitad a, e o que era hipotetizado a respeito da rel ação entre as variáveis
é confirmado. No planejamento, é necessário pensar em cuidados para
Para serem testáveis, as hipóteses científicas devem ter formulação garantir que a h ipótese esteja r ealmente sendo testada, ou seja, que o
precisa, e todos os fenômenos envolvidos devem ser claramente defi- estudo tenha validade.
nidos, como será discutido em item posterior. As hipóteses podem ser Sem esses cuidados, supondo-se que, colhidos os dados e realizadas
de natureza correlacionaI ou comparativa: no primeiro cas o, o objetivo as análises pertinentes, seja veri ficad a uma diferença estatísticamente sig-
principal é verificar a existência de correlações entre variáveis num único nificativa na direção prevista, ainda não se pode afirmar que a diferença
g rupo de sujeitos; no segundo, as hipóteses visam efetuar comparações não é devida a variáveis estranhas que confundem os resultados. Fatores
entre grupos de sujeitos. Alguns exemplos são apresentados na próxima além da variável independente podem ter tido um efeito na variável de-
página, no quadro 3. pendente. É preciso afastar a possibilidade de que variáveis secundárias
Nas pesquisas que utilizam análise quantitativa, as hipóteses gerais expI iquem os resultados. A eliminação dos efeitos das vari áveis secundá-
que orientam o estudo são formuladas de maneira bastante específica, em rias é feita, de preferência, na fase do delineamento da pesquisa, quand o
termos de hipótese nula. Em muita s investigações, a hipótese de pesquisa podemos usar controles para eliminar a chance de efeitos sistemáticos
é complexa e desdobra-se na hipótese nula, na hipótese da variável secun- das variáveis secundárias sobre a variável dependente.
dária e, quando se trata da pesquisa experimental, na hipótese causal. A hipótese da variável secundária não pode ser testada diretamente.
A hipótese nula é testada por intermédio de métodos estatísticos. Ela Cada uma é eliminada antecipando-se variáveis secundárias potenciais
afirma que não existe diferença entre grupos (resultado da intervenção e reduzindo-se cuidadosamente a probabilidade de seu efeito no delinea-
experimental), ou entre o comportamento antes (baseli"e) e depois da mento da pesquisa. No caso de estudos experimentais, a hipótese causal
intervenção experimental, além da diferença qu e pode ser atribuída afirma que a variável independente tem o efeito previsto na variável
ao acaso. Essa hipótese é tes ta da na investigação e pode ser rejeitada dependente. Pode-se ratificar a hipótese causal somente depois de rejeitar
ou não. Se uma diferença significativa for verificada, a hipótese nula é tanto a hipótese nula como a de va riáveis secundárias.

43
DEFINiÇÃO DE CONCEITOS, a abord agem teórica considerada. No quadro abaixo, são apresentados
CONSTRUCTQS, VARIÁVEIS E INDICADORES algu ns exemplos:

C ONCEITOS, CON STR UCTO S E INDI CAD ORE S

"A id entidade de gênero co nsi ste na autopercepção da vivência de um papel masculino


o p apel desempenhado pela teoria na elaboração das d iferentes par tes ou fe mi nin o, que se co nfig ura em traços in Strumentais e expreSS ivos incorporados ao
de um projeto vem sendo reiterado desde o início deste livro, o que toma autoconceito do individ uo· (5 pence, 1985, citada p or Ferreira, 1995, p. 206) .
necessária a consideração de seus elementos funda mentais, os conceitos, ~A identidade de gênero cons iste em uma estrutura cognitiva q ue contêm as crenças do
Individuo s o bre s ua masculi ni dade e fem inilidade , abstraídas a partir de sua exp erienci a
que, segundo Neuman (2003), nada mais são do que idéias expressas
pess oa l e s a ciar" (Bem , 198 1, citada por Ferreira, 1995, pp. 206-7).
em símbolos ou p alavras, No dia-a-día, as pessoas estão constantemen te "Uma atitud e s ocia l cons ist e em uma o rgani zação d uradoura de c.renças e co gni ções
lidando com conceitos aprendidos por meio da expeIiência e utilizados em geral , dotada de carga afetiva pró ou contra um objeto social definido, q ue pred ispõe
D

para a comunicação. Gato e cachorro são exemplos de conceitos que as a uma ação coerente com a s cognições e afetos relativos a este obje to (Rodrigues , Assmar
&Jabl onsk i, 2 0 00 , p. 100) .
crianças logo aprendem e passam a u sar em sua vida d jária, ainda que,
'A atitud e de uma pessoa em relação a alguma c.oisa defin e·se pelas reações avaliado-
muitas vezes, não saibam corn o defini-los. ras Favoráveis ou desfavoráveis - quer s ej am expressas em convicções , se ntimentos ou
Nas ciências naturais, os conceitos são freqüentemente expressos em inclinaçõ es pa ra agir" (Olson & lana, 1993, citados por Myers . 2000 , p. 69).
símbolos (letras gregas, fórm ulas etc.), ao passo que as ciências humanas e
sociais adotam predominantemente as palavras. Tais conceitos costumam
ser denominados constructos e são de maior complexidade que os utili- A definição opera cional torna explícitas as operações necessárias para
zados no cotidiano, na medida em que se referem a idéias mais vagas e provocar o constructo no indivíduo ou para observar e mensurar seu s
abstratas, isto é, a fenômenos não diretamente observáveis ou vivenciados, indicadores. É, portanto, essencial do ponto de vista aplicado, pois mos-
podendo ser u sados em diferentes contextos, Os constructos "atitude" e tra aos interlocutores do pesquisador o modo pelo qual ele procederá
"identidade de gênero", por exemplo, relacionam-se a fenômenos internos empiricamente, ou seja, como montará sua situação de pesquisa e/ou
que, em conseqüência, não podem ser di reta mente obser vados. coletará seus dados. No quadro 5, são apresentados exemplos de defini-
Desse modo, o pesquisador tem de se restringir a observar uma ções operacionais utilizadas para d iferentes constr uctos.
ou várias das diversas formas pelas quais os constructos se apresentam
no mundo empirico~ caracterizadas como indicadores do constructo. Por
exemplo: o constructo "ansiedade em falar em público" pode ter corno VARIÁVE I S: CONCE IT UAÇÃO E CLASS I F I C A Ç Ã O
indicadores o "suor nas mãos", o "gaguejar", as "respostas fornecidas
num teste destinado a avaliar essa característica" etc. A tarefa de definir Os con ceitos ou constructos utili zados nas ciências humanas e sociais
os constructos sob investigação constitui, assim, parte essencial de um não costumam se manifestar de modo único; ao contrário, apresentam-se
projeto, pois, ao realizá-la, o pesqu isador explicita o contexto n o qual sob várias formas em contextos divers os, razão pela qual são usualmente
estará usand o tais constructos, do ponto de vista teórico e aplicado, ser- denominados variáveis. Em outras palavras, uma vari ável pode ser vista
vindo-se, para tanto, das definições constitutiva e operacional. como um conceito ou constructo que varia, isto é, como uma caracterís-
A definição constitutiva ou conceitual determ ina o conceito por meio tica ou fenômeno que pode apresentar mais de um atributo ou categoria
de outros conceitos, fazendo a ligação do constructo com a teoria, já qu e (variáveis qualitativas ou discretas), ou mais de um valor, em termos de
um mesmo con structo pode apresentar dife rentes definições, conforme quantidade ou intensidade (variáveis quantitati vas ou contínuas) .

44 45
1
I:-":,i ~(:" - -'\,":_ ~,: ,: ;~,": - \ ;.~i;:"'~;~~ rC;~?: . "- ~J'ê ~ ~i~~ ~~:~~~í_ ç~~s ,'?~~{a~ip 9; ~IS)'·".'--~~: _~_'~.: _~,~ t_~" _~":~_r
papel que desempenham na investigação, isto é, de sua localização
na relação causal. A variável independente é a que ocorre primeiro
Constructo : frustração n O tempo, é a causa, aquela que o pesquisador manipula, expondo os
Definição operacional: fenômeno provocado peta sltuaçao de impedir um grupo de partidpantes da pesquisa a determinados atributos dessa variável. Já
crianças de ir ao pát iO na hora do recre io após terem sido avi sadas de que o recreio
seria no pátio.
a variável dependente associa-se ao efeito dessa manipulação, ou seja~
Construc:to: esquiva d e obstâculo$ é o resultado que se observa no indivíduo após ele ser exposto à vari-
• Defin ição operacional: fenômeno provocado pet a situação de solicitar a pessoas cegas ável independente, ocorrendo depois desta. A variável extrínseca, por
que andem numa sala com biombos colocados para serv ir de obstáculos. fim~ refere-se aos efeitos indesejáveis, constituindo, portanto, qua lquer
Constructo: agressão
Definição operaciOrtal: numero de soco s e pontapé s que uma criança dá em outra, da
outra variável, além da independente, que possa afetar a dependente.
equ ipe a dversária, durante um jogo entre dois times. Os efeitos potenciais dessas variáveis devem ser contr olados para que
Ind icadore s: socos e pontapés. não cheguem a afetar os resultados da relação causal de interesse do
Constructo: inteligencia pesquisador.
Defi nição operacional: numero de respo stas corretas obtidas no tes te de Rave n .
• In dicador: respostas dadas ao teste.
Numa pesquisa sobre os efeitos do tipo de problema na memori-
zação~ por exemplo~ o tipo de problema seria a variável independente,
com os problemas numéricos e verbais constituindo seus dois atributos.
Assim, o gênero, por exemplo~ é uma variável qualitativa que apre- A memorização seria a variável dependente, e a experiência anterior com
senta dois atributos (masculino e feminino), enquanto o estado civil abarca o tipo de problema, uma das variáveis extrínsecas a serem controladas.
as categorias solteiro, casad o, divorciado e viúvo. Já a renda familiar Os leitores interessados em se aprofu ndar nas técnicas disponíveis para
consiste numa variável quantitativa cujos valores oscilam entre zero e o controle das variáveis extrínsecas em pesquisas experimentais poderão
milhões de reais, ao passo que os resultados num teste de inteligência consultar o livro de Cozby (Z003), que apresenta uma análise detalhada
apresentam valores de zero ao número máximo de pontos possível de sobre tais questões.
ser obtido no teste (escore 50 num teste de cinqüenta questões). Outros Nas pesquisas destinadas a investigar relações não causais ent re
exemplos de variáveis são apresentados a seguir: variáveis (pesquisas correlacionais e ex post Jacto), os autores costumam
denominar o fenômeno a ser explicado como "variável dependente" e as
L"
I ',, '·
" ·
i ',' · , ':,
....,', razôes trazidas para defini-lo como "variável independente". Tal denomi-
nação não implica, entretanto, o fato de que as variáveis independentes
Variáveis Classificação quanto à natureza
Afiliação rellg i<lsa Qualitativa consideradas possam ser tratadas como causas das variáveis dependentes,
Cor dos olhos Qualita tiva já que nessas situações não há a manipulação da variável independente,
Método de enS ino Qualitativa tampouco a possibilidade de verificar sua ocorrência anterior à variável
Alt ura Quantitativa
dependente em termos temporais.
Atit ud e Quant itativa
In telig enci a Quantitativa No projeto de investigação, é recomendáver que todas as va riáveis
envolvidas sej am identificadas. Quando se relacionarem a conceitos
mais simples e diretamente observávei s, não é necessário que sejam
Nas pesquisas voltadas à investigação de relações de causa e efeito constitutiva e operacionalmente definidas, como é o caso, p or exemplo,
entre variáveis (pesquisas experimentais), é feita a distinção entre três das variáveis sexo, idade, estado civil etc. No entanto, todas as variáveis
variáveis (independentes~ dependentes e extrínsecas), em função do associadas a constructos devem ter sua definição constitutiva e opera-

47
cional explicitada. O processo de especificação das variáveis e defin ições
de um projeto, conduzido após a formulação das hipó teses d a pesquisa, CAPÍTULO 2
é exemplificado abaixo:
DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA
: ,,,;.,. .;. :,: ~.i. · · Qu~~ ;o )\i roces:so d e)sp';e c~fi c~çãO d'e y~ri~vel~ e 'de fi n(çõ,es '.: : l:· T ':

Exemplo 1:
• Problema: a expos ição à vi olência interfe re na agres si\' idade de crJa ncas7
• Hipótes e comparativa: crianças e x pos t as a um fil me \'Iolento apresentarão mai o r Após explicitar o que pretende fazer, ou seja, os objetivos, problemas,
agres slvidade que cri ança s não exposta s a ess e fil me. questões e hipóteses da pesquisa, o pesquisador d eve proce der ao
·· Vari ável ind e pend ente: exposiç a o à violência .
Defin iç ão co n s titu tiva: ex peri ência vlve.nciada med ia nte o contato com mod el os
detalhamento de como p retende fazer, isto é, do método que utilizará
para atingir seus objetivos. Segundo Cone e Foster (1993), a regra fun-
que utilizam a força física e o poder para subjugar os mai s fracos.
• DefiniçàO o p e ra ci onal : fenômeno provocado pe la situação de col ocar as cria nça s damental a ser adotada é a replicabilidade: a metodologia do projeto
pa ra verem o filme X. deve ser exposta de modo suficientemente claro e detalhado, para que
• Variável de: pendente: agre ss lvidade.
qualquer pessoa que a leia seja capaz de reproduzir os aspectos essen-
· Definição con s titutiva: atos dest inados a cau sar intenciona lmente dan os fisicos
ou p ~ ic o ló gi c os a outra pe ssoa. ciais do estudo.

· D e fin l ç ~o operaCional: numero de ataques ver bais d irig idos a um cole ga durante
uma brincad e ira realizada Imediatamente apôs a exibi ção do fil me.
Nessa etapa, portanto, devem ser especificados todos os procedi-
mentos necessá rios para se chegar aos participantes da pesquisa, obter
Exemplo 2: deles as inform ações de interesse e analisá-las. Em outras pa1avras,
• Problema: a motiva ção para o traba lho se as socia à produtivida de? o pesquisador d eve definir a amostra, ou o grupo de p artici pantes,
• Hip ótese correla ci o nai: quanto ma ior o g rau de motivação para o trabalho , maior o e as técnicas de coleta e análi se de dados a sere m empregad as no
grau de prod ut iv idad e.
estudo.
·· Vari ave l ind epen d e nte: mot lvaç;"\ o para o trabalho .
Defin ição constitut iva: estado in terno ca rac ter izado por uma fo rça que impulsio-
na o individu o a agir de modo a a lca nçar a s me ta s de tr a balho q ue Il1 e s ã o
coloçadas. DEFINIÇÃO DO S PARTICIPANTES

· Definição op e raCional: res ultado obtido numa e sc ala destina da a ava lfa r a mo-
tivação para o trabalho.
A partir dos objetivos da pesqu isa, o p esquisador deve especific ar o
• Va riável depend ente : pr odutividade.

· De fi ni ção co nstiWtiva : desempenho apresen tado em situaç õe s de trabalho a o


lo ngo de um d ete rmin ado período .
conjunto de pessoas que lhe interessa estudar (população) e, não sendo
possível considerar o grupo total, definir o subconjunto de casos ou
• Defin içilo o peraCio nal: n umero de peças fab ricada s sob a res pons a bil idade do
elementos (amostra) que irá efetivamente abordar em seu estudo. Assim,
individuo durant e uma semana.
por exemplo, uma pesquisa a respeito da influência da telev isão sobre
a agressividade poderia ter como participantes crianças n a faixa de 7 a
12 anos, os pais de crianças nessa faixa etária ou ambos.
Em alguns estudos, como n o caso dos leva ntamentos quantita-
tivos (surveys), é fundamental que a amostra seja representativa d a
população, isto é, que reflita da forma mais fiel possível su as caracte-
rísticas, na medida em que tais estudos têm por objetivo realizar uma
descrição acurada de determinadas variáveis, constructos e relações AMOS TRAS PROBA B IL ÍST I C A S
presentes na amostra, com a finalid ade de generalizar essas conclu-
sões para a população. Conseqüentemente, proced imentos de seleção Na amostragem probabilística, todos os elem entos que constituem a
de amostras devem ser adotados, de modo a prevenir a ocorrência de população têm chances conhecidas de serem incluídos n a amostra
vieses sistemáticos que ameacem a representatividade (Shaughnessy (Shaughnessy & Zechmeister, 1994). Tal procedimento pressup õe, assim,
& Zechmeister, 1994). o uso de uma listagem que inclua todos os membros da população (base
Em outros t ipos de estudos, como os de natureza qualitativa, em da amostra), já que é a partir daí que se processa a seleção dos elementos
que a preocupação maior não é a generalização dos resultados obtidos que irão compor a amostra . Assim, por exemplo, se um p esquisador
numa amostra, mas a caracte rização, comp reen são e interpretação pretende investigar as atitudes dos es tudantes de uma uni versid ade
dos fenô men os observados num grupo esp ecífico, não existe a ne- sobre o aborto, median te um procedimento de amostragem probabilís-
cessidade de serem adotados procedimentos sistemáticos de seleção tica, deverá prever a adoção de uma listagem dos alun os regularmente
de amostras. Em síntese, a etapa de definição da metodologia requer matriculados naquela universidade, o que dará origem à amostra dos
a descrição minuciosa dos participantes do estudo - suas principais estudantes selecionados para participar da p esquisa.
características, locais onde podem ser encontrados e número de pes- As amostras probab ilísticas mais usada s são as aleatórias simples,
soas a serem abordadas'::" e dos proced imentos a serem adota dos em estratificad as e por conglomerados. A amostragem aleatória simples
sua seleção, q ua ndo se fizerem n ecessários. Os dois procedimentos constitui a técnica básica de amostragem probabilística. Sua caracterÍs·
básicos de amostragem referem·se à seleção de amoshas probabilísti- tica essencial é a de que cada elemento da população tem chances iguais
cas ou n ão-probabilísticas, em suas diferentes modalidades, conforme de ser incluído na amostra. Isto pode ser obtido por meio do sor teio
resumido aba ixo: dos elementos constantes da listagem da população que irão compor a
amostra ou da utilização de uma tabela de números aleatórios.
Na amostragem aleatór ia estratificada, a listagem d a população ini-
cial é subdiv idida em subconjuntos (estratos), retirando-se de cada um
Amostras probabilisticas Amostras não-probabilísticas amos tras aleatórias simples. Num levantamento de atitudes realizado
t) Utilização mai s freqü ente: 1) Utilização mais fre qüe nte: numa universidade, por exemplol pode-se dividir a população de estu-
Estu dos descritivo-quantita tivos (Ie- Est udos qua ntitativos sobre a relaç!o dantes em estratos relacionados aos diferentes centros ou departamentos
vantamentos e ce nsos)_ en tre va riáve is (experime nt ai s e corre- aos quais os alunos estão filiados, para, em seguida, retira rem-se amos-
lacionais);
tras aleatórias de cada um desses segmentos. Tal procedimentu assegu-
Estu dos descriti vo-Qualitativos (estu-
d os de ca so e estudos de camp o). ra uma representatividade maior que a amostragem aleatória simples,
quando a população é forma da por segmentos homogêneos. Então, no
2) Tipos: 2) Tipos:
referido levantamentol ao se utili zar uma amostra estratificada tem-se a
Amos tra aleatóri a simples ; Amostr as acidenta is;
Amos tra a leatória estratifi cada; Amos tras intencionais: garantia de que todos os centros ou departamentos estarão igualmente
Amostra aleató ria por con glomera- Amostras po r cotas . representados, ao passo que na adoção de uma amostra aleatóri a simples
dos. pode ocorrer o caso de alguns centros ou departamentos ficarem mais
3) Concl usões: 3) Conclusões: representados do que outros.
• Generalizáveis à p opu lação. • Não-generalizáveis à população. A amostra por conglomerados diferencia-se dos métodos anterio-
res devido ao fato de que a unidade de amostragem não consiste num
"

elemento individual, mas num conjunto de elementos (conglomerado), As principais amostras não -probabilísticas são as acidentais, in-
como bairros, escolas, residências, fábricas etc. Desse modo, a listagem tencionais e por cotas. As amostras acidentais, também chamadas de
da população é constituída por conglomerados selecionados mediante amostras d e conveniência, car acterizam-se por utilizar pesso as que
procedimentos semelhantes aos utilizados na amostragem aleatória sim- se dispõem voluntariamente a colaborar no estudo, respondendo aos
ples. Tal procedimento pode ser útil nas situações em que não é possível instrumentos de coleta de dados propostos pelo pesquisador, Assim, no
obter uma listagem dos elementos individuais da população, mas apenas casa da pesquisa a respeito d as atitudes de estudantes sobre o aborto,
de conglomerados. Assim, num levantamento sobre a opinião de donas o pesquisador poderia abordar os alunos em suas salas de aula ou nos
d e casa a respeito de determinado produto, pbr exemplo, pode-se obter corredores e pedir àqueles que desejas sem colaborar na pesquisa que
uma listagem de residências, selecionar aleatoriamente as casas a serem r espondessem a um questionário sobre o assunto.
visitadas e, por fim, entrevistar a pessoa que mora em cada uma das Já as amostras intencionais utilizam pessoas que, na opinião do
residências selecionadas para compor a amos tra. pesquisador, têm, a priori, as características especificas que ele deseja
As amostras probabilísticas são as únicas que permitem a previsão ver refletidas em sua amostra. Nesse sentido, ele procura -dirigi r-se a
do tamanho do erro de estimativa em que o pesquisador incorre ao re- locais onde sabe que irá encontrá-las, como, por exemplo, um jogo de
alizar g en eralizações acerca, dos resultados obtidos na amostra para a futebol- se pretende estudar as opiniões de torcedores sobre um a nova
população d a qual elase originou. Por isso, apenas essa modalidade de lei para o esporte - ou um clube de jazz- para encontrar indivíduos que
amostra oferece a capacidade potencial de assegurar a representativida- se disponham a fala r sobre os rituais de socialização utilizados pelos
d e da população (Shaughnessy & Zechmeister, 1994), No entanto, para freqüentadores.
que tal objetivo seja atingido, é imprescindível a utilização de tabelas De modo semelhante ao processo de amostragem estratificada, a
e fór mulas de cálculo que indiquem o tamanho d e amostra apropriado amostragem p or cotas implica a obtenção de uma amostra que reflita a
para populações de tamanhos variados, levando em considera:ção a proporção em que certos subgrupos ocorrem na população. Ela difere,
magnitude do erro de estimativa em que o pesquisador deseja incorrer. entretanto, da primeira por não ser aleatória, isto é, a seleção das pessoas
Mais detalhes sobre o assunto podem ser encontrados em Bunchaft e necessárias ao preenchimento de cada cota é feita por conveniência. Um
Kellner (1997)' pesquisador que deseja realizar uma pesquisa sobre convivência familiar
numa amostra de executivos e tem conhecimento de que a população de
executivos de empresas sediadas no Rio de Janeiro distribui-se em 70%
AMOSTRAS NÃO-PROBABILÍSTICAS de homens e 30% de mulheres, por exemplo, poderá compor sua amostra
com 21 0 homens e 90 mulheres que se disponham voluntariamente a
Na amostragem não-probabilística, a chance de cada elemento da popu- colaborar com a pesquisa.
lação ser incluído na amostra é desconhecida. Conseqüentemente, tais As amostras não-probabilísticas são freqüentemente usadas na psi-
amostras não permitem a avaliação do grau de representatividade que cologia e nas demais ciências humanas e sociais, em função de que nem
possuem em relação à população. No entanto, oferecem a vantagem de sempre o pesquisador dispõe de uma listagem da população, condição
serem mais econômicas e menos trabalhosas (Shaughnessy & Zechmeister, indispensável à utilização de amostras probabilísticas. Em outras circuns-
1994). Mostram-se, dessa maneira, particularmente úteis às situações tâncias, ainda quando tal listagem pode ser reunida, ela se mostra muito
nas quais a seleção cuidadosa de pessoas que tenham as características grande e dispersa (como no caso d as pessoas residentes em um estado ou
previamente especificadas no problema da pesquisa seja suficiente para país), o que tende a aumentar excessivamente os custos da investigação.
que o pesquisador atinja os objetivos da investigação, Acrescente-se a isto o fato de que, na maioria das vezes, O foco de interesse
do pesquisador é a investigação de relações entre variáveis, não a descrição o conhecimento das principais características, vantagens e limitações de
acurada de determinadas características de uma população mediante a cada uma delas é de fundamental importância para a decisão sobre a que
investigação e generalização do modo pelo qual tais características ocorrem se mostra mais apropriada à mensuração d os constructos contemplados
numa amostra representativa daquele conjun to d e indivíduos. nas questões e/ou hipóteses d a pesquisa.
Desse modo, na etapa de definição do tamanho e do tipo d e amostra,
o pesquisador deve se perguntar se a representatividade da amostra é
ou n ão crucial para a realização de seus objetivos. Caso a resposta seja OBSERVAÇÃO
afirmativa, ele deverá adotar procedimen tos que garantam tal repre-
sentatividad e. Por ou tro lado, se a resposta for negativa, pod erá usar A observação pode se r considerada uma técnica para colher impressões e
uma amostra de conveniência de tamanho compatív:el com o método registros sobre um fenômeno por meio d o contato direto com as pessoas
de coleta de dados que esteja usando. Nessas ocasiões, a consulta aos a serem observadas ou de instrumentos auxiliares (câmeras de vídeo,
tamanhas de amostras costumeiramente adotados em estudos correlatos filmadoras etc.), d e modo a abstraí-lo de seu contexto para que possa ser
pod e auxiliar a decisão a ser tornada. analisado em suas diferentes dimensões. Tal procedimento é útil não
somente à obtenção de informações a serem fornecidas em resposta a
questões de p esquisa, m as também ao desenvolvimento de hipóteses a
ESCOLHA DA TÉCNICA DE COLETA DF. DADOS serem testadas em estudos fut uros.

A escolha da técnica de coleta de dados está intimamente associada à a) Observação artificial e naturalista
natureza dos constructos envolv idos na pesquisa, na medida em que No que diz resp eito ao grau de intervenção do pesquisador na situação
tal escolha de ve se nortear pelo objetivo de obter instrumentos capa zes a ser observada, as técnicas observacionais disting uem-se em artificiais
d e fornecer informaçõ es ú teis a respeito d os indicadores expU citados na e naturalistas. A observação artificial ocorre no contexto da pesquisa ex-
definição p révi a desses constructos. Além disso, a adoção de qualquer perimental, em que O pesquisador inter vém na situação, m anipulando
instrumento d e pes quisa deve levar em conta suas qu alidades, no que uma ou mais variáveis independentes e observando o comportamen to
diz respeito à validade e fidedignidade. dos indivíduos (variáveis dependentes) em resposta a essas manipula-
A fidedi gnidade refere-se ao grau de exatidão dos dados fornecidos, ções. Uma determinada situação é, assim, especialmente preparada para
isto é, do quanto constituem uma reprodução fiel das características que certos tipos de reações sejam observados e registrados (Goodwin,
d os participantes da pesquisa que se deseja estud ar. Já a validade di z 1995)' Já a observação naturalista se dá em ambientes reais, sem que haja
respeito ao fato de o instrumento estar realmente avaliando aquilo que a intervenção d o observador no fluxo de acontecimentos, interações
se pretende avaliar. e comportamentos naturalmente emitidos pelos indiv íduos, em sua
A investigação da validade e da fidedignidade de um instrumento vida diária.
se dá por diferentes métodos, cuja escolha está condicionada à natureza
da técnica de coleta de dados e aos objetivos associados a seu emprego. bJ Observação participante e não-participante
Tais métodos não serão apresentados aqui, mas podem ser encontrados De acordo com o tip o de interação que se estabelece entre o observador e
em pasquali (1996a). os sujeitos observados, as técnicas observadonais podem ser classificadas
Entre as técnicas de coleta de dados mais utili zadas estão a obser- em participantes e não -participantes. Na observação participante, ocorre
vação, a entrevista, os questionários, as es calas e os testes psicológicos. grande interação entre o observador e os participantes da pesquisa. Tendo

54 55
r '-·
como base o pressuposto de que vivenciar a perspectiva de membro do membros passem a ter comportamentos que não teriam caso o observador
grupo é fundamental para a compreensão de seus aspectos intrínsecos, não estivesse lá. E.,c,se efeito, entretanto, é difícil de ser avaliado, embora
o observador assume um determinado papel no gr upo e participa das tenha maior probabilidade de ocorrer nas situações em que o grupo em
atividades que o caracterizam (Adler & Adler, 1994). A observação não- observação seja pequeno ou as atividades do observador sejam muito
participante, ao contrário, caracteriza-se pelo não-envolvimento do obser- proeminentes dentro do grupo (Goodwin, '995)'
vador com o contexto a ser observado, isto é, ele realiza suas observações O uso da observação participante remete, ainda, a questões éticas
a distância, sem participar como membro da situação. associadas à invasão da privacidade dos participantes. Desse modo, o
Como n~ ob servação participante existe um estreito contato entre pesquisador deverá tomar os cuidados n ecessários para que suas obser-
os indivíduos pesquisados e o observador, este deve utilizar estratégias vações não causem danos às pessoas observadas. Assim, a observação
para fazer com que os outros se sintam à vontade em sua presença. rea lizada sem o consentimento dos participantes, mas em locais públicos,
Essas envolvem o estabelecimento de um bom rapport com a comunidade é considerada eticamente mais correta do que a efetuada em espaços
ou grupo a ser observado e levam as pessoas a agir com naturalidade, privados (Goodwin, '995)·
de modo que o pesquisador possa observar e registra r adeq uadamen-
te as informações necessárias (Bernard, 1995). O grau de participação, c) Observação sistemática e assistemática
contudo, pode variar desde o desempenho de-um papel mais periférico As técnicas observacionais, no que diz respeito à sua forma de registro,
dentro do grupo, em que O observador interage com os demais membros diferenciam-se em sistemáticas e assistemáticas. A observação sistemát ica,
sem se envolver nas atividades centrais à definição de uma pertença também chamada de padronizada ou estruturada, implica a adoção de
grupal, até o desenvolvimento de uma identidade grupal, em que o uma série de decisões prévias sobre os elementos e situações a serem
observador passa a adotar os valores e metas que definem a pertença observados e a forma de registro desses d ados, que se articulam em ro-
ao grupo (Adler & Adler, 1994)· teiros, fichas ou catálogos de observação prefixados. A organização dos
De acordo com Shaughnessy e Zechmeister (1994), o fato de o obser- dados permite que todos os indivíduos sejam submetidos a um mesmo
vador participante ter as mesmas experiências dos indivíduos em estudo processo de observação e que os registros das observações realizadas com
permite-lhe realizar importantes reflexões a respeito desses indivíduos e diferentes sujeitos e grupos sejam comparados (Fernández-Ballesteros,
dos grupos aos quais eles estão afiliados. Entretanto, o observador deve 199 6). O observador dirige sua atenção, portanto, tão-somente aos as-
estar atento para não se identificar demasiadamente com as pessoas ou pectos pré-especificados, deixando de lado todos aqueles considerados
situações observadas, pois, caso isso aconteça, corre o risco de perder irrelevantes a seu s objetivos.
a objetividade e o distanciamento necessários à elaboração de observa- Por outro lado, a observação assistemática, também denominada não-
ções válidas e acuradas. Nesse sentido, Bernard (1995) recomenda que estruturada ou livre, não envolve o estabelecimento de critérios prévios
todos os dias o observador se abstraia da imersão cultural em que esteve para orientar o registro do fenômeno a se r observado. Utiliza-se, assim,
inserido, de modo a intelectualizar e refletir sobre o que aprendeu com de narrativas de formato flexívet que descrevem minuciosamente, e do
suas observações naquele dia. modo mais fiel possível, as diferentes facetas e modalidades que caracte-
Outro problema relacionado à ~bservação participante diz respeito rizam os sujeitos, grupos ou situações observados (Fernández~Ballesteros,
à influência que ela exerce no comportamento dos sujeitos observados. 199 6). O observador tem, portanto, liberdade total para decidir o tipo
Como nesse tipo de procedimento o observador interage com as outras de informação a ser registrada e a forma de fazê-lo, o que implicará
pessoas, torna decisões e participa de atividades, agindo como se fosse o exercício de sua capacidade de síntese, abstração e organização dos
um membro do grupo, tal participação pode fazer com que os demais dados coletados.
-';'I'h.,·,
( ,
,
A adoção de um registro sistemático d e certos comportamentos/ consistem fundamentalmente na descrição por escrito de todas as
eventos ou de uma descrição compreensiva de todas as situações nas manifestações (verbais, ações, atitudes etc.) que o pesquis ador observa
quais eles ocorrem dependerá dos objetivos do pesquisador e das qu~stões no sujeito, as circunstâncias físicas que se considerem necessárias e
de pesquisa ou hipóteses que se pretende testar. Na primeira situação? que rodeiam a este etc. Também as anotações de campo devem regis·
os ganhos quanto à validade e fidedignidade são maiores, enquanto na trar 'as reflexões' do investigador que surjam em face da observação
segunda ganha-se em profundidade e abrangência. dos fenômenos. Elas repres entam ou podem representar as primeiras
Nas duas modalidades, o observador poderá ainda adotar a postura buscas espontâneas de significados? as primeiras expressões de ex·
de revelar aos participantes da pesquisa que eles serão observados ou plicações (1995, pp. 154'5)·
de realizar suas anotações sem que eles saibam que estão sendo acom-
panhados. No entanto, o fato de as pessoas saberem que estão sendo Para Adler e Adler (1994), toda observação assistemática deve fa zer
observadas pode levá-Ias a alterar seu comportamento (reatividade), referência explícita a participantes, interações, rotinas, rituais, elemen-
cabendo ao observador decidir o quanto isso poderá interferir nos obje- tos temporais, interpretações e organização social presentes na situação
tivos da pesquisa e optar, se for o caso, pelo uso de técnicas não-reativas observada. Os referidos autores, citando SpradIey (1980), afirmam que
(Goodwin, 1995) que resguardem os princípios éticos. as observações iniciais devem ser não-focalizadas e mais superficiais,
Embora, para fin s didáticos, seja comum a distinção dos métodos a fim de dotar o observador de uma compreensão geral a respeito da
observacionais em termos de seu grau de estruturação (sistemática versus situação e de orientar acerca da direção futura a ser tomada no processo
assistemática) e em função da interação entre observad or e observado observacional.
(participante versus não-participante), o. que costuma ocorrer, na práti- Após o observador estar mais fami1iarizado com a situação e já ter
ca, é a junção dessas variantes num tipo de observação assistemática e captado os grupos sociais e os processos~chave que nela operam, ele é
participante ou sistemática e não-participante. Em outras palavras, o capa z de distinguir os fenômenos que mais lhe interessam . Assim, pode
observador participante prefere adotar abordagens menos estruturadas, proceder a observações focalizadas, nas quais sua atenção será dirigida,
isto é, costuma converter-se no próprio instrumento de observação, ao de modo mais aprofundado, para determinados comportamentos, pes-
passo que o observador não-participante tende a privilegiar as estra tégias soas, sentimentos? estruturas e processos. D urante a realização d essas
mais estruturadas, optando, assim, por utilizar instrumentos padron i- observações, podem surgir questões de pesquisa que irão moldar as
zados na coleta de dados. observações futuras, as quais são ainda mais seletivas, no sentido de
permitirem o refinamento de conceitos e o estabelecimento de relações
d) Processo de observação livre ou assistemátíca entre os fenômenos previamente selecionados como objeto de estudo.
De acordo com AdIer e Adler (1994), o processo de observação livre Desse modo, as diferentes fa ses do processo vão progressivamente di-
inicia-se com a escolha do local a ser observado, que pode ser orientada rigindo o foco do pesquisador para os fenômenos que emergem como
pelo interesse teórico num dado fenômeno ou pela facilidade de acesso os mais significativos do ponto de vista teórico ou empírico, devendo as
a um determinado lugar. Em seguida, se necessário, o pesquisador deve observações sucederem-se até que as características das novas descobertas
obter uma autorização formal para o acesso e realizar o treinamento comecem a replicar as anteriormente obtidas (Adler & Adler, 1994).
dos observadores. Só depo(s disso ele poderá proceder às observações Terminada a fase de coleta das anotações de campo, o pesquisador
propriamente ditas? registrando o resultado nas anotações ou diários está em condições de organizar e classificar seus registros; pode exami-
de campo, nar se vão ao encontro de suas ex pectativas ou hipóteses a respeito dos
As anotações de campo, segundo Trivifios, fenômenos observados e interpretá-los à luz dos fundamentos teóricos
i'" 'r -'
~ , !
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que orientaram a coleta. É fu ndamental que os registros de campo re- empíricas d isponíveis a respeito de sistemas observacionais adotados
I únam informações que a~end am aos objetivos da pesquisa. Em síntese, em estudos anteriores similares.
\ a observação assistemática ocorre em tempo real e de forma contínua, Desse m odo, o processo de observação sistemática inicia-se com

I sem que haja prévia especificação dos elemen tos a serem observados,
e fornece, como res ultado, descrições acerca dos aspectos verbais, não-
a escolha da unidade de observação, isto é, do que observar. Segundo
Fernández-Ballesteros (1996), isso pode constituir comportamentos in-
verbais e espaciais da conduta, bem como impressões do observador a dividuais e relações ou interações entre duas ou mais pessoas, ou entre
respeito dos fenômenos observados (Fernández-Ballesteros, 1996) . Segue o indivíduo e seu meio. A definição de tais unidades deve se apoiar nos
u m exemplo: pressup ostos teóricos que ser vem de referencial à pesq uisa, bem como
em estudos-piloto previamente realizados com o objetivo de testar as
",:~:-:_~: >/'i.~:', :p:ua~ r;?j...' ~~:~~., p'r ~. ',dé', .~y;'p.•(,~.:~'~.s.:~.:~ ~ ~_:.6: ib•.l~ t.-X~._~.·~ô. ·.<a s~ s. .,.te,.iná.~. i~.''a. ;
.0,_ ' I t, categorias de observação a serem utilizadas no trabalho definitivo.
2;~J2' -'~~»-,~ : ':,'r ·:·f , : (,~ daPta~o~:e~qEs ~ Íl :, 1~ 9 3 j' ~ l' '-·~ " .:L::' >.~ ~>-- ~ Em seguida, o pesquisador deve escolher a unidade de medida,
1) Situação a ser observada: defini ndo se as unidades de observação serão registradas em termos
In teração entre os m embros de uma família d urante uma reunião dom in ica l. de sua ocorrência, freqüência ou duração, Depois, o pesquisador deve
proceder à elaboração de um roteiro ou catálogo do qual façam parte
2) Dimensões a serem observadas:
todos os comportamentos ou padrões de interação que sejam relevantes,
Espaço: layout do lo ca l em Que a situação obs erva da ocorre (por exemplo: a cor das
paredes, as dimensões do Jocal etc ); acompanhados de uma descrição clara e precisa dos mesmos. Quando
Obj etos: ele ment o s fíSiCos do local (por exemplo: as cadeiras, as mes as etc.); o pesquisador não d ispõe de informações suficientes sobre o fenômeno
Eventos: ocasião ou ocasiões particulares em q ue a obs ervação o corre (por exem plo: em estudo, pode realizar observações assistemáticas prévias que lhe
o al moço . o lanche etc) ;
p ermitam estabelecer descrições mais precisas acerca dos diferentes
Temp o: seq üência e m que o s e ventos oco rr em (po r e xemplo : o ba n ho de piscina
acontece pri meiro; e m segu ida, o almoço etc,) ; aspectos que o caracterizam (Fernández-Ballesteros, "996).
Ato res: nomes (podem ser fictícioS) e ca racterísticas relevantes dos atores envolvido s Os ro teiros de observação são compostos, portanto, de uma série de
n o evento (por exemplo: Franci sco, o pai , t e m SO an os e é alto ;joana , uma da s fi lhas, comportamentos ou padrões de inter-relações comportamentais, classi-
tem 6 a nos e é magra etc ):
ficados em categorias mais ampla s e acompanhados de uma descrição
Atividades: atos praticados indi vidualmente por cada um dos a tores (por exemp lo:
Fran cisco b rinca na pis ci na com Joana, colocando-a em cima d a bóIa e empurrando-a precisa, selecionados de forma racional e apriorística por serem catego-
ao longo da pis cina: Francisco to ma um drinque (om sua espos a à beira da piscina rias teoricamente releva ntes aos objetivos do estu do. No quadro la, na
e u:.); página seguinte, há um exemplo de definição de categoria.
Metas : o objetivo de cada a lar (por exemp lo: FranCisco Que r divertir Joan a ; Franci Sco
Na maioria das ocasiões, o pesquisador não tem condições de ob -
q uer relaxar na companhia d e sua espos a e tc .) ;
Sentimentos: a s e m oções demonstradas em cada ativid ade (por exemplO: Francisco servar os comportamentos de interesse em todos os momentos e locais
está a legre por brin car com soa fi lha etc) . em que eles se apresentam, bem como em todas as pessoas nas quais se
manifestam. Nesse sentido, a decisão a ser tomada consiste na definiçã o
das amostras de tempo, situações e indivíduos a serem observados.
e) Processo de observação sistemática ou estruturada Ao de finir a amostragem de tempo, o pesquisador deve decidir
Na observação sistemática, ao contrário da observação livre, a classifi- a duração de cada observação, o número de vezes em que ela deve se
cação Ou codificação dos comportamentos ocorre à medida que a obser- realizar e O intervalo de tempo entre cada uma. No qu e diz respeito
vação se realiza, o que implica a definição prévia dos aspectos a serem à amostragem de situações, o investigador pode optar entre observar
observados. Isto dependerá dos objetivos do trabalho e das evidências apenas os comportamentos emitidos numa dada situação ou observá-los

60
r realizar uma pré-observação ass istemática que lhe possibilite delimitar
tais critérios com maior precisão (Fernández-Ballesteros, 1996). Os regis-
tros obtidos p or meio da observação sistemática podem ser submetidos
Inte ração:
a análises estatísticas, que permitirão ao pesquisador responder às
O Inicio d e uma Interação ê caracterizado por um dos parce ir os ao dirigir um com-
portamento sodal (at ividade) em re lação ao outro e ser respondido por ele com um questões da pesquisa e interpretar os dados à luz do referencial teórico
com portamento social (atividade), nu m intervalo de cinco se gundos. O fim do episód io que orientou o estudo. Abaixo, segue um exemplo:
de interação caract eriza-se por um ou por ambos os parceiro s deixa rem de d iri g ir r om·
porta mento s soc ia is (atividades) em f!! laçao ao outro , num Intervalo de tempo maior
que cinco segundos. N3.o sã o co ns ide radas interações cujo tem po de du ração seja igual
ou inferi or a cinco segundos. Assim, o tempo mínimo pa ra caracterizar um episódio de
interação é de s ei s segundos.
1) Siu.ação de p@squlsa:
Um pesquisador deseja investig ar se existem diferenças d e g êne.ro no comportame nto
Observações para cOdificação:
de risco , com O intuito d e testar a hipótese d!! que os home ns tendem a correr mais ris-
O qu e caracteriza uma inte ração é o que o nome Ind ica: inter-ação. Não se trata de com -
cos q ue as mulheres. Para tanto, resolve observar a conduta d e homens e m ulheres ao
po rta me nto socia lm e nte dirígido_ Ass im, n.lo basta a mãe so rrir, tocar, fa la r com o bebê,
atravessarem a r ua di ante de um si nal de trâns ito.
por ex emplo . t precis o que o bebê responda dentro do tempo Ind icado na defi n ição co m
um comportamento social dirig id o à mãe. Interação ê uma seqü ênCia, que nã o pode ter
2) Processo de observação:
menos de dois comportamentos , um da mã e e um do bebê. As seqüi!n cia s po dem SEr
,. Escolha da unidade de observação: comportam ento de atravess ar a rua ;
in iciadas pela m ~e (Intencionalmente) ou pel o bebê, quando este emite um comporta mento
,. Definição da un idade de med ida: fr eq üencia d e em issão de cada categoria de obser-
que d eflagra uma res p osta na mã e. Nesse ca so, não se pressupõ e in tenci onalidad e na ação
vação;
do bebê. Para have r interação , é preciso haver a lgum engajament o reciproco. Quando a
)t Elab oração d o roteiro d e observação (categorias a serem ob s!! rvadas);
mãe estâ realizand o alguma a tividade não voltada ao bebê (asslstln do à telev isão, por
Atrave ssar com to tal segurança: atravessa r com o sinal aberto (verde) para os
exempl o) e faz a lgo que pa rece associado a uma ação d o beb ê, não se pode fa lar de inte-
pedestres;
ração . No e ntanto, a mãe pode e star fazend o a lguma coisa (lavan do louça, por exemp lo)
Atraves sar com s egura nça moderada: atravessar co m o sinal fechado (ve.rmelh o)
e eS Tar tamb ém ate nta ao bebê. conversando co m ele. Nesse caso, havendo urna res posta
para os pedestres, mas s em carros à v ista;
do be bê nas condiçõe s da definição, pod e-se fa lar em interaç ão.
Atravessar com insegurança: atravessar co m o s inal fechado (vermelho) para os
pe destres e no m eio dos carros;
Tentar atravessar com Insegurança: começar a a travessar com o sina! fechado
por intermédio de diferentes situações, o que lhe permite verificar até (vermelhO) para os pedestres , e no mei o dos carros , e retornara calça da até que
o sinal ab ra para os pede.stres.
que ponto um determinado comportamento se mantém estável ou varia. Definição da amostragem de tempo: períodos de observação de trinta minutos a cada
Além disso, é preciso decidir se todos, alguns ou apenas um dos sujeitos hora. durante oito horas, ao longo de uma semana e em diferentes cruza mento s da
presentes no evento serão observados (Fernández-BaBesteros, 1996). cidad e.
As decisões a respeito dos critérios de amostragem a serem adotados
devem se pautar em indicadores racionais associados aos 'objetivos da
pesquisa, à na tureza e comp1exidade do fenômeno a ser observado e ao VANTAG E NS E LIMITAÇÕES DAS TÉ C NICAS O BSERVACIONAIS
tipo de unidade de observação escolhido. Por outro lado, é necessário
ter em m ente que os fenômenos observados num período de tempo es- A principal vantagem das técnicas observacionais reside no fato de elas
tabelecido devem ser representativos do que ocorre no tempo total em serem eminentemente diretas ou seja, o observador, em vez de fa zer
f

que se realiza a observação. Desse modo, quando o pesquisador não tem perguntas a respeito dos sentimentos, opiniões e atitudes das pessoas,
dados suficientes para estípular critérios de amostragem, é aconselhável vê e escuta o que elas dizem. Desse modo essas técnicas mostram-se
f
particularmente apropriadas à apreensão dos fenômenos em seu habitat geral sobre si própria, muito embora tais informações possam se referi r a
naturat isto é, na form a em que se manifestam no mundo real. Isto não outras pessoas e eventos relevantes. Apesa r de diferirem quanto ao grau
quer dizer, entretanto, que elas não apresentem problemas originados de estruturação, as diversas modalidades dessa técnica têm em comum
no próprio observador. o fato de apresentarem, usualmente, um formato flexível e aberto, que
Uma das críticas fregüentemente dirigidas às técnicas observacionais implica grande participação do entrevistador. Este a conduz de acordo
é a de que elas estão mais sujeitas a erros provenientes de interpretações com as características e desdobramentos da situação na realização da
subjetivas das situações, na medida em que ao fazer uso das mesmas o entrevista (Fernández-Ballesteros, '996). Além disso, desempenha papel
observador se apóia exclusivamente em suas próprias percepções (Adler essencial na utilização desse método de coleta de dados, na medida em
& Adler, '994). Por outro lado, o fato de o observador ter idéias precon- que lhe cabe ol?ter a cooperação dos participantes, motivá-los a respon-
cebidas a respeito do que será observado pode fazer com que tais idéias der adequadamente, dirimir suas dúvidas e avaliar a qua lidade das
interfiram na decisão do que observar (Goodwin, 1995). Além disso, respostas, de modo que a entrevista forneça d e fato informações úteis
a adoção desse método costuma implicar grande consumo de tempo, aos propósitos da pesquisa (Trochim, 2002) .
ainda quando o pesquisador utiliza um sistema de categorias já pronto,
pois mesmo ness as situações há necessidade de ele se familiarizar com a) Tipos de entrevista
o ma terial. As entrevistas podem ser classificadas em estruturadas, ines truturadas
Considerando~se que a utilidade das observações como instrumento e semi-estruturadas. As primeiras caracterizam-se por apresentar um
de pesquisa depende da acurácia de seu conteúdo, é fundamental que o formulário previamente elaborado de perguntas, redigidas em conso-
pesquisador adote certos p rocedimentos para garantir tal precisão. Ele nância com os objetivos do estudo, contendo um número limitado de
deve proceder a uma descrição clara dos objetivos da pesquisa e, qu an- opções de respostas (Fontana & Frey, 1994). Equivalem aos questioná-
do pertinente, das categorias que compõem o sistema de observação, rios (que serão abordados na seção seguinte) no que diz respeito à sua
bem como a um treinamento adequado dos observadores na realização confecção, deles diferindo em função de as respostas serem fornecidas
de registros n arrativos e/ou na utili zação do sistema de categorização. oralmente pelo entrevistado e anotadas p elo entrevistador (naqueles, as
Como parte do treinamento, poderão ser feitas observações prévias, que respostas são dadas por escrito). Essa modalidade de entrevista é a que
proporcionem maior segurança no uso dos procedimentos durante a menos consome tempo e menos exige d o entrevistador, já que sua tarefa
condução do estudo propriamente dito. consiste apenas em percorrer o roteiro, do qual não há possibilidade de
Outro recurso para garantir a precisão dos d ados coletados consiste se afastar para aprofundar as respostas fornecidas pelo entrevistado. No
na utilização de dois ou mais observadores independentes para cada si- quadro 12 a seguir, estão as principais recomendações para a realização
1

tuação. Isto permite que O pesquisador verifique o gra u de concordância de uma entrevista estruturada.
entre os observadores (precisão entre observadores), checando, assirn l
As entrevistas inestruturadas ou livres, em contrapartida, não reque-
suas descobertas e eliminando as interpretações imprecisas. rem um roteiro prévio de perguntas, sendo compostas apenas de estímu-
los iniciais, ditados pelos objetivos da pesquisa. O entrevistado é livre para
conduzir o processo, enquanto o entrevistador limita-se "ao recolhimento
ENTREVISTA da informação, à estimulação da comunicação e a manter o fluxo d e in-
N
formações sobre as variáveis estudadas (Contandriopoulos, Champagne,
A entrevista consiste numa técnica de coleta de dados que supõe o contato Potvin, Denis & Boyle, '997, p. 78). Na pesquisa, sua utilização ocorre,
face a face entre a pessoa que recolhe e a que fornece informações eml em geral, quando não se tem um conhecimento teórico ou empírico sufi-
já que o entrevistador tem liberdade de acrescentar novas questões com
o intuito de aprofundar pontos considerados relevantes aos propósitos
do estudo (Contandriopou los & cols., 1997). Veja um exemplo:
Aparê ncia: vista-se de forma discreta, a 11m de não haver contraste com seus entrev is-
tad os. Evite rou pas luxuosas , caras demais ou excessivamente informaiS (bermudas,
sandálias havaiana s etc.);
2 Estabelec imento de rOPI'0rt: antes de ini ciar a entrevista, dei xe o e ntrevi s tado à
vontade. Dirija sempre o olh ar a s eu rosto, escute com atenção e não o interrompa. Objetivo do estudo:
ligue o gravador, se fo r usâ· lo, e obtenha pe rmissão para tal ; Identifi car a cu lt ura de determinada orga nizaç.a o de tra balho.
3 Roteiro: famil iarize-se co m O roteiro e use-o para cond uzir a entrevista. Faça as
perguntas na sequêncla prevista, sem alterá-Ias. Perguntas de checagem podem ser Perguntas:
feitas , mas na forma planeja da e p ré-especificada (por exemplO: ~A lgo mal sr; ~Vo cê "Você poderia me descrever as metas dessa orga.nizaçao?'·;
gosta ria de dizer mais alguma coisa? '); "O que é mais valo rizado aquP";

4 Registro das respostas: decida se o reg is tro será feito por você ou pelo gravad or. "Em sua opinião. quais são as práticas mais adotadas nes sa organização?":
Se fo r anotar, faça -o verbatim. ou seja. exatame nte como foi dito , sem adicionar ou "Quais são as datas e eventos mais comemorados na emp resa?" ;
omitir informaç6es. "Como é feito o trein ame nto dos novos memb ros?";
~Como e o relacionamento dos d onos (om os demais emprega dos?".

ciente do fenômeno a ser estudado, ocasião em que se torna necessária a


realização de estudos exploratórios como forma de obter maior compre- b) Etapas na realização da entrevista
ensão do referido fenômeno e formular questões ou hipóteses específicas, A realização de uma entrevista pode ser dividida e m quatro etapas:
O quadro abai xo exemplifica um roteiro para a realização de uma en- preparação, início, corpo e término (Fernández-Ballesteros, 1996;
trevista inestruturada: Troch im, 2002).
Na etapa de preparaçãor deve-se defin ir o que se deseja avaliar e
elaborar um roteiro, que irá variar em função do grau de estrutura da
entrevista, devendo levar em conta os objetivos do estudo e o tempo dis-
Objetivo do estudo: ponível para sua realização. O treinamento dos entrevistadores também
Identifi car experiências traumáti cas d e idosos asilados.
faz parte dessa etapa e deve ser feito com muito cuidado, urna vez que a
Tôpicos a serem abordados: qualidade dos resultados obtidos na pesquisa depende, em grande parte,
ExperiênCias traumáticas vivenciadas: "Todas as pess oas costumam passar por ex- do trabalho realizado p or eles.
periênCias traumáticas ao longo de s uas vidas. Você poderia me contar uma des sas O entrevistador d eve introduz ir a entrevista com uma breve
experiên cias pe las quai s você passour ;
Sentimentos el iciados: ~O que você s entiu na época?':
apresentação de si e de seus objetivos, dando espaço também para
Recurs os uti lizado s para lidar com a Situação: "Como você reagiu a "e ste aconteci- que o entrevistado se apresente, procurando, contudo, não se alongar
mento ?". demais em explicações, já que as pessoas, de modo geral, não têm in-
teresse em conhecer todas as nuanças de um estudo. Nesse momento,
é fundam ental o e stabelecimento de um rapport, que garanta o de-
A entrevista semi-estruturada situa-se num ponto intermediário senvolvimento do processo de entrevista numa atmosfera agradável,
entre as duas técnicas anteriores e se apresenta sob a forma de um roteiro evitando a manifestação de dúvidas ou de ansiedades por parte do
preliminar de perguntas, que se molda à situação concreta de entrevista, entrevistado,

66
Na condução da entrevista propriamente dita, são importantes a conversarem livremente, questionando-se uns aos outros e expondo suas
especificação e a clarificação dos diferentes tópicos a serem abordados, próprias opiniões, sentimentos e reações. De acordo com a A S A (1997),
o que pode ocorrer por meio de perguntas mais abertas ou de forma o número ideal d e participantes nesse tipo de grupo é de seis a doze,
mais diretiva. Tais posturas condicionam-se ao desenrolar da entrevista, pois grupos muito p equenos são facilmente dominados por u m ou dois
especialmente no que concerne à necessidade de confrontar hipóteses membros, enquanto os muito gra ndes correm o risco de perder em coesão,
emergentes durante o processo. 05 dados obtidos nessa etapa p odem ser com os membros se dispersando em conversas p aralelas ou podendo
gravados e tra nscritos se o entrevistado concordar com o p rocedimento. sentir-se frustrados por ter de esperar muito tempo para part icipar.
Outra forma de registro consiste em tomar notas imediatamente após o Os grupos focais oferecem a vantagem de reunir grande quantidade
término da entrevista, visto que o registro simultâneo não é aconselhável, de informação num curto espaço de tempo, além de permitirem que o
"por prejudicar o curso natural e espontâneo da entrevista" (Fernández- moderador explore assuntos não contemplados previamente no roteiro,
Ballesteros, 1996, p. 276). mas ainda ass im relacionados aos objetivos d a pesquisa, quando emer-
Antes de terminar a entrevista, é recomendável que o entrevistador gem durante a discussão. Entretanto, a qualidade dos dados fornecidos
faça um resu mo das informações obtidas, de modo a esclarecer algum depende das habilidades do moderador, que, se não tiver experiência e
ponto porventura obscuro. Em seguida, deve encerrá·la de forma não treinamento s uficientes, pode acabar deixando que umas poucas p es-
abrupta, agradecendo a colaboração e informando quando os resultados soas dominem a discussão ou que os rumos do grupo afastem-se dos
da pesquisa serão disponibilizados. objetivos estabelecidos.

c)Grupos focais d) Vantagens e limitações da entrevista


Os grupos fo cais isto é as entrevistas em profundidade realizadas com
I I
A entrevista apresenta a vantagem de fornecer informações basta n te
um pequeno grupo de pessoas cu idadosamente selecion adas para dis- detalhadas sobre os tópicos de interesse para a investigação, pois o en-
cutir determinados tópicos, tornaram-se, n os últimos anos, uma técnica trevistador, por estar face a face com o entrevistado, pode deter-se em
bastante popular para a coleta de dados acerca de opiniões e atitudes. aspectos que não se mostrem suficientemente claros nas respostas iniciais
A composição desses grupos costuma ser feita de modo a reunir pessoas dos sujeitos (Good win, 1995). Ela é particularmente útil quand o a amos-
com interesses, experiências ou características demográficas similares tra é composta por p essoas que não têm condições de dar respostas por
(indivíduos que desempenham uma mesma função, alunos de uma escrito, como no caso dos analfabetos, ou quando as perguntas exigem
mesma série, joven s de uma mesma faixa etária etc.), o que tende a respostas de n at ureza mais complexa, que podem ser adequadamen te
resultar em discussões mais produtivas. Dessa forma, uma mesm a pes· esclarecidas no decorrer da entrevista. Além disso, é relativamente fácil
quisa deveria prever a realização de vários grupos focais, com todos de responder, sobretudo quando se refere a opiniões, uma vez que as
eles orientados para um mesmo tópico de discussão (por exe mplo, as pessoas não têm de escrever, mas apenas emitir suas impressões oral-
opiniões sobre a pesqu isa com célula s ~tronco) , mas d iferenciados em mente o que aumenta a taxa de resposta.
I

função das caracter ísticas de seus respondentes (grupos de ecologistas, Tod av ia, a entrevista constitui uma técnica que consome muito
biólogos e médicos, por exemplo). tempo, além de apresentar altos cu stos, porque s ua utilização exige
Cabe ao moderador desse tipo de grup o ma nter os indivíd uos foca- o envolvimento de pessoas que devem ser previa mente treinadas.
dos nos tópicos pertinentes aos propósitos da pesquisa e assegurar-lhes A presença do entrevistador pod e inibir os sujeitos, principalmente quand o
uma discu ssão rica e proveitosa. Para tanto, é conveniente lançar ao as perguntas se referirem.a aspectos de natureza mais Íntima ou polêmica,
grupo cada um dos tópicos a serem abordados e deixar os participantes levando-os a se recusar a responder ou a fornecer respostas distorcidas,

68
mas socialmente desejáveis (Goodwin, 1995). Por essa razão, tal método tornou muito popular. Permite que um grande número de respondentes
de coleta de dados requer um maior grau de sensibilidade do entrevistador, seja atingido num curto espaço de tempo, com uma taxa mais baixa de
que deve ser capaz de obter as informações pertinentes aos objetivos da não-resposta do que a obtida nos questionários enviados p elo correio
pesquisa €, ao mesmo tempo, não se distanciar do roteiro da entrevista. (Neuman, 2003)· No entanto, tem um custo mais alto que o dos demais
tipos, além de sofrer limitações quanto à sua extensão, já que se torna difícil
aplicar questionários mais longos por telefone. Essa forma de aplicação
QUESTlONÁRIOS não se mostra adequada às perguntas abertas, face à maior dificuldade
de formular e anotar as respostas a esse tipo de pergunta por telefone.
Os questioná rios são instrumentos compostos de um conjunto de per-
guntas elaboradas, em gerat com o intuito de reunir informações sobre cJ Auto-administração em grupos
as percepçõesr crenças e opiniões dos indivíduos a respeito de si mesmos Os questionários podem ser também administrados diretamente a grupos
e dos objetos, pessoas e eventos presentes em seu meio (Goddard lU & de indivíduos em situações nas quais o aplicador informa os objetivos
Villanova, 1996). Podem ser administrados por meio de entrevista pessoal da pesquisai fornece instruções, esclarece as dúvidas sobre a forma de
ou telefônica, em grupos de pessoas in loco e mediante o u so de correio preenchimento do instrumento e, em seguida, solicita que todos O com-
postal ou de recursos eletrônicos. pletem, assegu rando-se de que o fazem da melhor forma possível. Essa
modalidade de aplicação é imprópria para pessoas analfabetas ou que
a) Administração por meio de entrevista pessoal apresentem d;ficuldades de leitura. Contudo, é um tipo de qu estionário
A aplicação em situações de entrevista pessoal caracteriza-se pelo fato de baixo custo e de alta taxa de resposta, em virtude de garantir o ano-
de o pesquisador, em contato direto com os respondentes, formular as nimato e a presença dos entrevistados no local de aplicação, o que faz
perguntas do questionário e anotar as respostas por eles fornecidas. Esse com que o preencham até o final e o devolvam, caso tenham concordado
procedimento permite maior flexibilidade na obtenção das respostas, em participar da p esquisa.
pois o entrevistador tem condições de clarificar as perguntas que por
acaso não tenham sido compreendidas pelo entrevistado, assim como d) Auto-administração via correio postal
de obter respostas mais completas. Contudo, na tentativa de esclarecer Nessa modalidade de administração, o envio e o retomo dos questionários
as respostas dadas, o entrevistador pode incorrer no erro de introduzir são feitos pelo correio. Isto permite que grande quantidade de responden-
idéias que acabam por ser incorporadas às respostas subseqüentes dos tes seja obtida de forma mais rápida do que nos casos em que são aplicados
entrevistados (Shaughnessy & Zechmeister, '994). O fato de o entrevis- de maneira coletiva. O anonimato, freqüentemente utilizado nessa fanna
tador estar em contato direto com o entrevistado pode inibi-lo, impedin- de aplicação, é uma garantia de que as perguntas mais embaraçosas serão
do -o de fornecer respostas fidedigna s, sobretudo quando se referirem a respondidas a contento. Entretantor a util ização de questionários pelo
aspectos mais íntimos de sua vida pessoal. correio tem a desvantagem de apresentar uma taxa relativamente baixa
de retomo (geralmente 30%, segundo Shaughnessy & Zechmeister, '994),
bJ Administração por meio de entrevista telefônica em comparação ao número de questionários enviados.
Nessa modalidade, o entrevistador entra em contato por telefone com o
respondente em potencial; caso este concorde em participar da pesquisa, e) Auto-administração por meios eletrônicos
aquele faz as perguntas e registra as respostas. Esse tipo de questionário O advento da internet fez com que os questionários administrados
é muito utilizado nas pesquisas norte-americanas; no Brasil, ainda não se por correio eletrônico (enviados por e-mall para serem preenchidos no

70 71
computador pessoal do resp ondente e devolvido'i-também por e-mail), Ex.: Você já sofreu algum tipo de violência doméstica?
bem como os questionários disponíveis em determinadas páginas da ( ) Sim () Não
rede (a serem preenchidos na própria r ede e enviados au tomatlCarnente),
angariem cada vez mais popularidade entre os pesquisadores nacionais e Quando as mulheres provocam seus
estrangeiros, Esses questionários oferecem maior garantia de anon imato maridos, elas merecem apanhar.
e são capazes de atingir um grande número de pessoas de diferentes ( ) Concordo ( ) Discordo
regiões geográficas num curto espaço de tempo e a um custo bastante
baixo. No entanto, a amostra obtida dessa forma apresenta determina- Essas perguntas são mais fáceis de serem respondidas e analisadas
dos vieses, oriundos do fato de que atualmente nem todas as pessoas do que as pergunta~ abertas, além de permitirem uma comparação
têm acesso a computadores e internet. O pesquisador precisa cercar-se direta das respostas fornecidas por diferentes sujeitos. Entr etanto,
de cuidados (como o uso de softwares que controlem o recebimento de restringem a possibilidade de o indivíduo expressar sua verdadeira
apenas uma resposta proveniente de cada e-maU ou de cada máquina) opinião.
destinados a impedir que uma mesma pessoa responda mais de uma Uma terceira alternativa de resposta, relacionada a opções como
vez ao questionário. "não tenho opini.ão", "às vezes" etc., pode ser acrescentada às perguntas
fechadas. Todavia, os autores divergem quanto à sua utilidade: alguns
f) Tipos de perguntas defendem sua eliminação, a fim de forçar os respondentes a se posicionar
As perguntas utilizadas num questionário classificam-se em abertas, de modo favorável ou não sobre o tópico em questão; outros sugerem su a
fechadas e de múltipla escolha. adoção, pois uma taxa muito alta de respostas nessa opção pode indicar
que os respondentes nâo têm conhecimento suficiente a respeito do que
f 1) Perguntas abertas está sendo perguntado. De todo modo, essa alternativa deve ser adotada
São aquelas que permitem ao respondente expressar livremente su a com precaução, pois ela, por si só, suscita um número relativamente alto
opinião sobre o que está sendo perguntado. Ex.: "Em sua opinião, quais de eleições (Goddard 11 1 & Villanova, 199 6).
são os motivos que levam um homem a agredir sua esposa ou compa-
n hei ra?". /3) Perguntas de múltipla escolha
Essas perguntas fornecem respostas mais profundas a respeito dos Situam-se num nível intermediário do contínuo, cujos p ólos são as
tópicos aos quais se relacionam, mas provocam uma taxa maior de não- perguntas abertas e fec hadas. Constituem questões com várias opções
respostas, além de suscitarem análises mais complexas (Slavin, 1984). de respostas, que devem ser construídas de forma a representar, d o
São particularmente úteis nos estágios iniciais da pesquisa, quando o modo mais acurado possível. as diversas possibilid ades de opiniões
pesquisador não tem ainda uma compreensão clara do fenômeno em es- dos respondentes.
tudo, havendo, assim, necessidade de obter informações mais descritivas
que possam ser adotadas posteriormente na elaboração de perguntas de Ex.: Que medida você considera mais eficaz
natureza mais objetiva (Goddard lJI & VilIanova, 1996). para coi~ir a prática de violência doméstica?
( ) Pre nder o agressor
f2) Perguntas fechadas ( ) Tirar a vítima da casa
Apresentam um número limitado de alternativas de resposta, tais como ( ) Aconselhar o agressor
"sim" e unão", "concordo" e "discordo", "verdadeiro" e "falso" etc. ( ) Aconselhar a vítima
Tabela 1. Exempl o de plano de ques tionário sobre v Iolê ncia domi!stica
As perguntas abertas podem ser utilizadas como um recurso ini-
cial n a preparação de questões de respostas múltiplas, pois oferecem a Tópicos N ° de perguntas
capacidade potencial de fornecer ao pesquisador dados sobre a ampla Motivos para a v iol ência doméstica 7
gama de alternativas que caracterizam as opiniões dos participantes Mitos sobre o as sunto 6
da pesquisa. Med idas em relação ao agressor 4
Oados sociodemogrâncos 3

g) Elaboração do questionário Total 20


Atualmente, pode-se encontrar vasta literatura dedicada à apresentação
das diferentes etapas a serem adotadas na elaboração de um questionário.
Na consulta às obras sobre o assunto, foram selecionadas as su gestões g,J) Redação das perguntas
de alguns autores (Goddard 111 & ViUanova, 1996; Neuman, 2003), Concluído o plano do questionário, o pesquisador pode proceder à reda-
que, combinadas à experiência adquirida pelas autoras deste livro na ção das perguntas, utilizando o formato (aberto, fechado ou de múltipla
confecção desse tipo de instrumento, p ossibilitaram a organização da escolha) que mais se adapte a seus objetivos. Na rea lização dessa tarefa,
apresentação que se segue. é aconselhável observar as recomendações a seguir:

g.1l Especificação do tipo de informação a ser coletada 1 Formular questões tão curtas quanto possível, que contenham pa-
A elaboração de um questionário inicia-se coma especificação do tipo lavras simples e familia res a todos os respondentes, pois as pessoas
de informação a ser obtida com o instrumento, que deverá estar intima- não costumam estar disponíveis para despender tempo e esforço
mente associada às questões e/ou hipóteses de pesquisa. Desse modo, tentando entender as perguntas de um questionário;
o pesquisador deve identificar os diferentes tópicos de interesse para 2 Formular perguntas claras e compreensíveis, isto é, que não sejam
a investigação, bem como os dados demográficos (idade, sexo, nível de vagas ou contenham ambigüidades. Ex.: "Com que fre qüência
escolaridade etc.) s obre os quais é necessário coletar dados. Assim, por você atende casos de violência doméstica?" (pergu nta mais vaga);
exemplo, num questionário destinado a avaliar as opiniões de psicólogos "Quantos casos de violência doméstica você atendeu no último mês?"
sobre a violência doméstica, pode-se decidir pela inclusão de pergun- (pergunta mais específica)i
tas associadas aos seguintes tópicos: os motivos que levam à violência 3 Formular questões que se refiram a um único tema. Ex.: "Quantas
doméstica, os mitos sobre o assunto e as medidas a serem tomadas em vezes ao mês você costuma atender casos de v iolência sexual ou
relação ao agressor. de violência física?" (pergunta referente a dois assuntos djstintos);
"Quantas vezes ao mês você costuma atender casos de violência
g.2)Preparação do plano do questionário sexual?" (p ergunta referente a um único assunto);
A etapa seguinte consiste na preparação do plano do questionário, no 4 Evitar o uso de perguntas a que a s pessoas podem não esta r em
qual se especifica o número de questões a serem elaboradas para cada condições de responder. Ex.: "Como você se sentiu quando aten-
uma das dimensões. Essa divisão não precisa ser eqüitativa; associa-se deu pela primeira vez um caso de violência doméstica?" (se tal
à relevância de cada uma das dimensões para os objetivos da pesquisa. fato ocorreu há muito tempo, a pessoa pode não se recordar da
O plano de um questionário de opiniões sobre a violência doméstica, situação);
composto de vinte questões, poderia estruturar-se como exemplificado 5 Evitar o uso de perguntas tendenciosas, devido ao fato de induzi-
a seguir: rem as pessoas a escolher um determinado tipo de resposta. Ex. :

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)'

"A maioria dos profissionais de saúde condena a prática da violência e reflexão, deixando para o final as questões sobre dados sociodemográ-
doméstica por considerá-la prejudicial à vida emocional da vítima. ficas e os agradecimentos pela participação.
Dê sua opinião sobre isso" (pergunta mais tendencios~); "Quais são,
em sua opinião, as implicações da violência doméstica para a vida g,s) PrÉ-teste do questionário
emocional da vítima?" (pergunta menoS tendenciosa); A etapa final na elaboração do questionário consiste na realização de um
6 Evitar o uso de perguntas de elevada carga emocional. Ex.: "Co~o pré-teste com o objetivo de identificar os problemas que porventura o
a polícia deve lidar com homens que agridem mulheres indefesas?" instrumento possa apresentar, para que sejam corrigidos antes de sua
(pergunta de elevada carga emocional); "Como a polícia deve lidar utilização no estudo propriamente dito. Em geral, o pré-teste é feito
com quem pratica a violência doméstica?'1 (pergunta de baixa carga por informantes-chave, que auxiliam o pesquisador com comentários
emocional); críticos sobre o instrumento. Após preencher o questionário, eles são
7 Evitar o uso de construções na forma negativa. solicitados a avaliá-lo em seus aspectos positivos e negativos, geralmente
em discussões em grupos.
Ex.: Os crimes em defesa da honra não costumavam ser punidos.
( ) Concordo (J Discordo h) Limitações dos questionários
(pergunta na forma negativa); Um dos problemas dos questionários é o da desejabilidade social, isto é, a
possibilidade de as pessoas darem respostas que não.correspondem efe-
Os crimes em defesa da honra recebem tivamente à opinião delas, mas que estejam de acordo com as convenções
hoje maior punição do que antigamente. e normas sociais. Segundo Fernández-Ballesteros (1996), uma forma de
( ) Concordo (J Discordo evitar tais distorções consiste em motivar suficientemente os sujeitos a
(pergunta na forma afirmativa), dar informações exatas e usar perguntas bastante claras e específicas.
Os questionários são muitas vezes criticados pelo fato de conterem
g.4J Estrutura do questionário itens preestabelecidos, o que impede os respondentes de expressar ple-
Finalizada a redação das perguntas, o pesquisador deverá decidir so- namente suas opiniões. De todo modo, constituem instrumentos muito
bre a estrutura do questionário, no que diz respeito a instruções aos úteis quando se quer obter informações a respeito de um grande número
respondentes, ordenação das perguntas, grupamento das questões etc. de pessoas com um custo mais baixo e num tempo mais curto do que o
As instruções devem explicitar os objetivos do questionár io, a forma de necessário, caso sejam utilizadas técnicas que exijam um contato direto
responder à; questões (marcar um X, circu lar o número correspondente e individual com os participantes da pesquisa .
à opção etc.) e a garantia de confidencialidade quanto às respostas obti-
das, já que esse fato costuma aumentar a disponibilidade de o individuo
colaborar com a pesquisa. ESCALAS

No que tange à ordenação, é aconselhável que as perguntas sigam


uma seqüência lógjca, reunindo-se todas aquelas relacionadas a um São instrumentos nos quais as pessoas são solicitadas a assinalar, num
mesmo tópico, com as mais gerais precedendo às mais específicas. As contínuo ordenado, o grau em que determinada situação se aplica a elas
perguntas de abertura devem se referir a tópicos mais agradáveis e in- ou a terceiros, Esse contínuo costuma ser expresso por meio de palavras
teressantes, de modo que o questionário avance para os mais delicados, ou expressões associadas a valores numéricos, conforme exemplificado
de caráter pessoal, ou referentes a temas que exijam maior concentração a seguir:
sentam características distintas (Slavin, 1984). Destina-se, em geral, a
Exemplo J. Indique o grau em Que voce concord a com a afi rmat iva a seguir: avaliar aptidões e rendimento e obedece a procedimentos de construção
Os políti coS brasileiros cost!Jmam ser corruptos. ainda mais rigorosos e sistemáticos que os adotados no desenvolvin\ento
de escalas. Por essa razão, não é comum o pesquisador elaborar testes
originais para sua p esquisa, a não ser que ela tenha como finalidade
específica a construção de um novo tes te. Caso não seja este O objetivo J

é mais comum o pesquisador lançar mão de testes já industrializados,


Exemplo 2. Indique o grau em que a segu in te afir mativa o(a) descrev e:
Sou uma pessoa com difi culdades de falar em público.
adquirindo-os dire tamente na editora do instrumento.
De modo contrário ao que ocorre com os testes, a maioria dos es-
tudos relacion ados ao desenvolvimento de escalas não chega a resultar
em sua editoração. São apenas p ublkados em periódicos especiali zados,
que muitas vezes não apresentam o instrumento completo, fazendo com
Exemplo 3. Indiqu e o grau em que a afi rm ati va a baixo se moStra típica da empresa em que o pesql.lisador p reci se entrar em contato com o autor da escala p ara
que você trabal ha: ter acesso a uma cópia.
Na m inh a em presa, ti compeliçdo entre cofegas ê fre qüe nte.

, ~,â. O;~ e.,.a·-p~.i.f._a


. .• \.. . 1 A.\P
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Apli ca·s ê' m-o·
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DE FINIÇÃO DA TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

A decisão seguinte à etapa de explicitação do instrumento de coleta de


dados a ser adotado refere-se à escolha d a forma de análise dos dados,
As escalas p ara a medida de atitudes, valores e aspectos da perso-
nalidade estão entre as mais utilizadas na pesquisa p sicológica. Embora isto é, das operações a serem empreendidas com o objetlvo de forne cer
existam di ferentes técnicas para a elaboração das mesmas as de tipo respostas às questões de pesquisa ou verificar as hipóteses previamente
J

Likert são as que têm despertado maior interesse e preferência, por terem formuladas. Tais procedimentos apresentam naturezas distintas, por se
um processo de construção mais simples. Essas escalas são compostas por destinarem ao tratamento e à análise de dados qualitativos ou quanti~
tativos.
uma série de afirmativas com as quais as pessoas devem expressar sua
opinião num contínuo que, usualmente, varia entre cinco e sete pontos.
Sua construção obedece a procedimentos r igorosos e sistemátlcos que
A NÁL ISE DE DADOS QUA L ITATIV O S
estão fora do escopo deste livro, mas que são minuciosamente descritos
em Pasquali (19 96b) ,
Os dados qualitativos apresentam-se sob a forma de descr ições narrativas,
resultantes, em geral, de transcrições de entrevistas inestruturadas ou
TE STES P SI C O L Ó GICO S
semi-estruturadas e de anotações provenientes de observações livres
ou assistemática s. Entre as estratégias adotadas na análise d e dados
Um teste p sicológico é um instrumento de medida padronizado, isto é, qualitativos, incluem-se a preparação e d escrição do material bruto, a
possibilita a comparação de resultados obtidos em amostras que apre- redução dos dados, sua interpretação e a análise transversal (Highlen
& Pinley, 1996).
A preparação dos dados brutos diz respeito à organização do grande durante a fase de análise dos dados ou ser fornecidas pelos próprios
volume de dados freqüentemente obtido em estudos qualitativos, por participantes do estudo. O fundamental é que sejam desenvolvidas em
meio do uso de etiquetas e títulos de identificação para cada relato in- estreita interação com os dados, permitindo, assim, sua compreensão.
dividual, bem com o da elaboração de uma listagem geral, que relacione, Deve-se tomar cuidado para não perder o elo entre essas categorias e o
segundo determinado critério de ordenação, todo o material coletado. contexto da qual se originaram (Maxwell, 199 6). No quadro 16, há um
Desse modo, qualquer pessoa que não tenha participado das etapas an- exemp10 de categorias utilizadas para analisar respostas de mães sobre
teriores da pesquisa, ao tomar contato com o material assim organizado, metas de socialização de seus filhos:
será capaz de analisá-lo (Contandriopoulos & cols., 1997).
A redução tem por meta estruturar os dados obtidos numa etapa
anterior de análise, mediante a utili zação de estratégias de codificação
que objetivam organizar o material coletado em categorias que facilitem Pergunta :
a comparação dos dados de forma intra e intercategorial (Maxwell,1996). Que qua lidad e!> voce de!>ejarla que !>eu fi lho tivesse como a du lto?

O processo de codificação consiste, ass im, na


Categorias de análise:
Auto-aperfe içoamento - preocupação com que se torne a utoconfiant e e inde pende nte e
atribuição de categorias a partes de discursos bem circunscritas e Que desenvolva totalm ente seus talentos e ca pacidades como ind ivíduo. Essa categoria
que apresentam uma grande unidade conceitual. Um bom sistema de refere -se a um desenvo!vlmento pessoal em vários planos. Ex.! que se reaJJ ze : que
tenha sucesso: qu~ seja inteligente, batalhad or, esfo rç ado: que s upe re obstácu los;
codificação deve ser inclusivo {. ..). Por inclusivo, entende·se um sistema
que tenha dinheiro, b oa profissão; que tenh a saúde; que possa se desenvolv er me n-
suficientemente d esenvolvido (...), que revele o conj unto dos laços entre talmen te e sempre crescer; que tenha au to· esti ma elevada; que goste d e estud ar: que
os di ferentes ele mentos do discurso. A codificação deve também se sin ta ter valor; que sai ba cuid ar de si; que busque a exce lência e a auto-sup eração;
adaptar à evolução do estudo, permitindo gerar novos códigos, em Autoco ntro le - preoc upa ção com que desenvo lva a ca pacidade de co ntro lar impu lsos
negativos de ganânc ia . ag re ssão ou egocenTrismo. Ex.: que seja calmo ; Que não se
função dos novos dados obtidos ou de uma maior compreensão da
estr esse; que domine seus Imp ul sos e !leja uma pessoa contro lad a ; q ue não seja.
situação estudada. Finalmente, o sis tema de codificação deve permitir egocên tri CO nem egoísta; q ue nã o se sinta frustrado se não conseg ui r o que quer; que
apreender os elementos do discurso em diferentes níveis de abstração. seja desprend ida; que não br igue po r qualquer coisa; qu e não seja agress ivo ou crue l;
Certos códigos visam a um objetivo essencialmente descritivo (ex.: que seja paciente: q ue nao seja invejoso ; que sa iba resolver a s coisas conver!>ando;
que tenha toleráncia à frustração; que nao tenha ma u gê.nio:
indicar a incidência deum acontecimento), en qua nto outros têm urna
3 Emo t ivi dade - p r eo cup ação com que des e nvo lva a c apaCidade para In timidade
vocação analítica ou teórica (ex.: papel do doente, controle terapêutico emo cio nal com os outros. Ex. : que tenha amigos; que encontre o amor; que não se
etc.) (Contandriopou los & cols., 1997, p. 88). Si nta só ; q ue seja uma pessoa boa : que seja sincero. amoroso, sens íve l; Que tenha
maturidad e emocional e otimismo; que seja amigáve l, afetivo, bondoso, ca rin hoso;
q ue não seja solitário; que tenha quem goste dele;
Highlene Finley (1996), citando Patton (1990), afirmam que uma das
4 Expectativas sociaiS - preoc upação com que atenda a expectativas sociais de trabalhar,
técnicas mais freqüentes de geração de categori as é a análise de conte- s er hone sto e seguir as leis . Ex.: q ue seja relig io so , bom cidadão; que se preocupe
údo, na qual se procura encontrar padrões ou regularidades nos dados com as outras p es soas; que seja ded icado. resp onsãvel; que tenha consciência eco-
e, p osteriormente, alocá-los dentro desses padrões, mediante o exame lóg ica, bom caráter, boa índole; Que seja justo, altruísta; que tenha solidaried ade,
Integridade; qu e não seja corr upto ;
de porções do texto. São criados rótulos ou códigos (categorias) que em
Bom comportamento - preocupação com Que se comporte bem , se rel aci one bem com
seguida são aplicados às partes do tex to que a eles se associam. os outros e desempen he bem os papêis esperados (bom pai. boa mãe, boa esposa etc.),
As categorias empregadas na codificação podem surgir do refe- especialment e em relação à fam íli a. Ex. : que seja respeitoso; que ajude os pais.
rendal teórico que n orteou o estudo, ser desenvolvidas indutivamente

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ANÁLISE DE DADOS QUAN T ITATIVO S
Na interpretação dos dados, pode-se verificar-lhes a congruência
com um modelo teórico prévio, explicá-los de forma relativamen_
te independente da teoria ou prever o modo pelo qual se daria a Os dados quanb tativos são aqueles que se apresentam sob forma nu-
mérica ou podem ser diretamente convertidos a ela, como os registros
evolução do fenômeno n o tempo (Contandriopoulos & cols., "997).
provenientes de observações sistemáticas, as respostas a p erguntas fe-
Trata-se, portanto, de determinar até que ponto os dados obtidos se
chadas ou de múltipla es.colha de questionários, as respostas aos itens
mostram úteis e informativos para os objetivos do estudo (Highlen
de testes e escalas etc. Na escolha da análise a se realizar com esse tipo
& Finley, 1996). No quadro "7, há um exemplo de interpretação
de dado, deve-se levar em consideração a escala de medida na qual os
baseada numa análise de conteúdo, conduzida por Barros (2.000)
dados foram fornecidos e a natureza das questões de pesquisa ou hipó-
em entrevistas reali zadas com psicólogos que atendiam casos de
violência doméstica: teses a serem testadas.

a) Níveis de medida
As escalas ou níveis de medida podem ser de quatro tipos: n ominal,
ordinal, de intervalos e de razão.
As op iniOes sob re a teorIa rem lnista div ergem. Há mulheres Que a consideram úl lJ e
As escalas nominais utilizam o número como rótulos para catego-
a vem adotando em sua prát ica; outras, p or sua vez, nã o a ad otam por achá ·la muito
radical. Expl orand o um pouco mais a categoria gênero , a impressão percebida pelas rias, isto é, os valores numéricos a elas associados só têm a função de
fal as é a de que o seu uso se dá de forma confusa. Sendo assi m, mesmo as que afi rmam identificá-las. Não podem ser somados, subtraídos, multiplicados ou
utilizar a teoria feminista fazem·no apenas pe lo viés da desigual dade sexista abordada div ididos (Kerlinger, 1973); o único tipo de comparação que permitem
pela teoria em seus primórdios:
"Em alguns casos, eu trabalho com a abordagem femin i st a quan do falo de submissão,
é a de igua ldade ou diferença. As perguntas fechadas dos ques tionários,
da educaç~:o" (entrevist a 4); com alter nativas "sim" e "não", bem como os distintos componentes d e
'A mulh er se coloca num papel sofrendo resquícios de urna sociedade machista •.. t. um sistema de observação em que só é possível comparar o número de
mu ito mais comum que se veja a mulher numa situação Inferiorizad a financei rament e, pessoas que se enquad ra m em cada uma das categorias, constituem um
de poder. N:i.o dá para deixar o aspecto da teoria fem inista de Jado· (en trev ista 1);
"Eu não tenho muito conheci mento da teoria feminista C.. ). Acho que existem pos ições
exemplo desse nível de medida.
feminislas multo radicais. colo cand o m uito essa coi sa de v itima e algoz. O fenômeno Já as escalas ordinais permitem a ordenação das pessoas em uma
gênero pode costurar uma SÉ.r ie de coisas ; eJe está ligado à po liti ca, à questão da edu· determinada característica, como, por exemplo, quando se pede a um
caçà o, à questão da saúd e. Enfi m. el e perm i te lidar com vários discursos, mas eu acho professor que ordene um grupo de cinco alu nos em função de seu grau
principalme nte que é uma questão de cidadania- (entrevista 2);
"Eu nAo tenho opin iAo muito formada não, mas acho que as feministas vão muito para
de pa rticipação em sala de aula. Essas escalas indicam que há diferenças
o extremo. Para complementar minha atuação, preciso ter espeCialização na ár ea social, entre as pessoas quanto à ordem que ocupam, mas não são capazes d e
pois o trabal ho envolve uma área que abran ge maiS pessoas de baixa renda, pessoas de tectar a distância exata que existe entre elas (Kerlinger, 1973)'
que vêm d e família pobre, vê m de mari dos alcoólatras, vêm de mães alcoôlatras, são Nas escalas intervalares, há o pressuposto de que elas têm urna
pessoas assim , praticame nte inferiore s, praticamente abaixo da socie dade .. E n t~o, eu
unidade de medida constante (como o item de um teste psicológico),
p reciso, nece.ssito m e aprofundar mais nessa área- (entreViSta 3);
"Acho a teoria fem inista muito radica1. .. Acho que saiu d o oito para o .oitenta ... Foi o que torna possível a determinação das distâncias existen tes entre
Importante a conqui sta, foI um marco. Hoje em di a eu até estudo mais gênero. Com elementos localizados em diferentes pontos da escala. O p onto z ero
a de gênero, m e aprofundei mais na questão .. se i lá de Que, mas me aprofundei mais nessa escala é arbitrário, ou seja, ela não apresenta um ponto de origem
na de gênero' (entrevista 5).
real, que corresponderia à ausência da característica a ser mensurada
(Goodwin, "995). Os tesles psicológicos são um exemplo de instrumento
que fornece uma medida no nível intervalar. As escalas do ti po Likert,
estritamente falando, estariam situadas no n ível ordinal, mas podem ser
também classificadas no nível intervalar (Günther, "996), h avendo uma Variável Forma de mensuração Ní\lel de m edida

tendência na literatura a considerá-las escalas de intervalo (Goddard III Ind ique seu sexo :
Sexo No mi na l
& Villanova, 1996). ( ) Masculino ( ) Femin ino
As escalas de razão, por sua vez, além de incorporarem toda.s as
Afiliação Qual é sua religião? Nom inal
características das demais, apresentam um ponto zero real, que corres~
r eligiosa ( ) Católica ( )Jud ia
ponde à ausência da característica a ser mensurada (Goodwin, 1995). As ( ) Protestante ( ) Muçulmana
medidas de tempo de reação, usadas em certos experimentos, sào u m ( ) Outra
exemplo desse tipo de escala. Modelos adicionais de mensuraçôes efetu~
posição Indique a posiçiiO q ue você ocupa em sua em · Ordinal
adas em cada um d os níveis de medida mencionados são apresentados hierá rqu i ca pres a:
na próxima página, no quadro 18. ( ) Presidente. ( ) Cer ente de
O nível de medida d os instrumentos adotados no estudo é um ( ) Vi ce-pres i den te departamento
( ) Gerente geral ( ) Superviso r
dos critérios que devem ser considerados na decisão sobre as análises
{ ) Funcion ário
quantitativas a serem efetuadas, pois a utilização de procedimentos
estatísticos específicos está condicionada ao nível d e medida do Atend iment o Indique a freqüênci a com que voci! vai à igreja : Ord in a l
instrumento. Pasquali (1996c) apres en ta um resumo em que oferece a serv iços ( ) Nun<a ( ) Muitas
religi osos ( ) Poucas vezes ao ano
exemplo s de vários cál culos estatísticos pertinentes aos diferentes v ezes ao ano ( ) Quase sempre
n íveis de medida. { } Algumas ( ) Todos
vezes ao ano os domi ngos

Intelig ênC ia Resultado igual a 22. corres ponde nt e a um total Inter v ala r
NATUREZA DAS QUESTÕES DE PESQUISA OU HIPÓTESES
de 22 itens co rretos obtidos no teste de Raven .

Sex ismo Qual ê sua op i nião sobre a afirmat iva aba ixo? Inter v alar
Na decis ão sobre a escolha da análise estatística mais apropriada a
As mulheres pre{ertm os homens que lhes dão
um conjunto de dados quantitativos, além do nível de medida desses s e.gurança financeira .
dados, devem ser levadas em consideração as questões ou hipóteses I) Di scord o 4 ) Concordo

de pesquisa, no que se refere ao fato de serem de natureza descritiva, fortemente em pan e


2) Discord o em parte S) Concordo
correlacionaI ou pretenderem efetuar comparações entre grupos de
3) Nâo discor do for temente
sujeitos. nem conco rdo
Na pesquisa d escrítiva, os dados às vezes se apresen tam sob a Observação: O re sultado Rnal serã a soma dos
forma verbal, devendo, assim, ser submetidos a análises qualitativas. escores obtidos em cada pergunta .

Entretanto, em outras ocasiões, pesquisas como as de levantamento, Expos ição à Qual é o t empo aprOXimad o em horas que s!u Razão
que empregam questionários com o instrumento de coleta de dados, televisão fi lho vé tel evi são a cada dia da seman a?
objetivam descrever o modo como certas características se apresentam
Ant igüidade Há quantos anos você trabalh a neS5a empresa? Razã o
nas amostras selecionadas para o estudo. Nesses casos, o pesquisador n a empr esa
deve fazer uso da estatística descritiva - cálculos como freqüências,
percentagens, médias etc. -, que está condicionada ao nível de medida
do instru mento (Pasquali, ' 996c), Tabelas e gráficos também podem ser ~,- " '. ri:.~'''~19i -;=;rl' LU:., d'&ão,ihoée às ''',)'': "
ad otados a fim de sumari zar os dados e obter uma descrição m ais clara ., ''' ' .L ._, " "" 1 'i i,i;€m .:~, :.. ,-" " I c , .~: " c'
o' " . ,', , : o~ , o " ' ,; " "
a r espeito do m od o pelo qual as características em estudo se distr ibuem Número de Nível Análises
Tipo de
na amostra e na população. questão ou variáveis de medida estat íst icas
Quando a pesquisa é de natureza correlacionat é p ossív~l efe- hipóte.se de e/ou grupos das variáveis
tu ar o cálculo de diferentes tipos de coeficientes de correlação, que pesqlJisa envolvidos

dependerão do nível de medida das variáveis envolvidas. As hipóteses De~crit;va Uma va riável Nom inal Cá lculo de
comparativas pressupõem a utilização de diferentes testes estatísticos. freqüências.
A escolha d o teste mais apropriado a cada caso é de termin ada por di- percenta gen S
e moda
versos parâmetros: a) nível de medida dos instrumentos utili zados na
mensuração das variáveis; b) tipo de d istribuição (norm al, curv ilí nea Ordinal Mediana
etc.) que as variáveis mensuradas apresenta m na população da qual as
Inter v alar Média e
amostras foram retiradas; c) número de grupos envolvidos no estudo;
ou de razi\o deSVio -pa drão
d) número de su jeitos que compõem cad a grupo; e) tipo d e relação que
os gr upos a serem comparados apresentam entre si (independentes ou Correlacion ai Duas var iaveis Nom inal Coeficiente de
corr elacionados) . contingênc ia

Os testes estatísticos subdividem-se em paramétricas e não-para- Ord inal Coeficie nte rho de
métricas. Cada um tem pressuposições específicas par a sua utilização, Spearman
que de\:,em ser atendidas para que os resu ltados obtidos sejam vá lidos. Coefici ente tau de
Kendall
Corno regra geral, pode-se dizer que os testes paramétricos implicam o
pressuposto de normalidade da distribuição da variável na população e Interval ar Coeficiente
no fato de ter sido mensurada ao nível intervalar ou de razão, enquanto ou de razão de Pearson

os testes não-paramétricos.não su põem a normalidade d a distribu ição e


CorrelacionaI Mais de duas Nom inal Regressão
se adaptam a dados mensurados por meio do nível nomin al ou ordinal v ariávei s logística
(Cone & Foster, 19 93)'
Ord ina l Regres scio
O advento dos pacotes estatísticos fez com que as análises estatísticas
tog islfca
evoluíssem de comparações simples entre grup os para um a multipli-
cidade de m étodos de aná lise de elevada complex idade. O tratamento Intervalar Regressão
em p rof undidade dessas técnicas está fora do escopo deste livro. Em ou de raz.\o múl ti pla

Bunchaft e Kellner (1997) e Levin (1987), no entanto, há uma apresentação Comparativa Uma variável Nomina l TeSte de
detalhada das ferramentas mais usadas na an álise de dados quantita~ Independente proporção
tivos. O quadro 19, a seguir, traz uma síntese das principais decisões a e dois gru pos
relacionados Ordin al Teste de Wi lco)Con
ser em tomadas na escolha da análise estatística mais adequada a cada
situação de pesquisa, bem como dos fatores que condicionam cada urna Interval ar Teste t para g ru ·
dessas decisões. ou de razão pos re lacionados

86
Comparativa Uma variavel Nom inal Teste do
independente e q ui-q uadrado
dois grupos
independentes Ordina l Tes te de
Mann-Wh itney

lntervalar Teste t
ou de raza.o para grupos
indep endentes
PA R TE II
Comparativa Uma variável Nominal Teste Q
Independen te de Cochran REDAÇÃO DE PROJETOS
e mais de dOis
grupos Or dinal Teste de Free dman
rela cionados
Intervalar Anál ise da
ou de razão variã nci a
intra-sujeitos

Comparativa Uma variável No min al Tes te do


independente qui -quadrado
e mai s de
dois grupos Ordinal Tes te de

independentes Kruskal-Wallis

In terval ar Análise da
ou de razão variância
entre-sujeitoS

88

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