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ENCONTROS – ANO 14 – Número 26 – 1º semestre de 2016

ESTATÍSTICA E PESQUISA DE OPINIÃO SOBRE DITADURA


COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO DE HISTÓRIA

Vitória Azevedo da Fonseca1

Resumo: Este texto apresenta uma prática pedagógica, cujo objetivo era envolver
a participação dos alunos na compreensão da problemática em torno do tema
“Ditadura”, na disciplina de História. Encaro a prática como uma estratégia de
ensino considerando-a como uma ferramenta que compõe um caminho de
aprendizagem. A atividade envolveu debate, pesquisa de opinião e análise
estatística sobre o tema Ditadura. Como resultado, houve grande envolvimento dos
estudantes, e o mapeamento da opinião de jovens sobre a Ditadura.

Palavras Chave: Ensino de História – Ditadura – Estatística – Pesquisa de Opinião.

1Doutora em História pelo PPGH da Universidade Federal Fluminense. Professora da Secretaria


de Educação de São Paulo. Produtora audiovisual.

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I - Introdução

Apresento neste texto uma prática educacional desenvolvida com alunos do

Ensino Médio a partir da utilização de metodologia estatística no ensino de História.

Encaro a prática como uma estratégia de ensino, considerando-a como uma

ferramenta que compõe um caminho de aprendizagem. A atividade envolveu

debate, pesquisa de opinião e análise estatística sobre o tema Ditadura.

Pensar o uso da estatística no ensino de História envolve algumas

problemáticas em relação à “importação” de estratégias não constantes na

dimensão disciplinar. Por outro lado, a utilização de metodologias estatísticas é

incentivada nas diversas disciplinas, para além da Matemática, principalmente para

o desenvolvimento de habilidades para a leitura do mundo e cidadania.

Desde os anos de 1980 se ressaltava a necessidade de ensinar estatística e

probabilidade nas escolas para que os estudantes pudessem ter noções mínimas

para compreender informações constantes relacionadas ao cotidiano. Atualmente,

as propostas curriculares enfatizam a importância desse estudo para a própria

cidadania, considerando que as informações de custo de vida, mercado de

trabalho, cenário político e eleitoral e diversas situações do cotidiano, são

perpassados pela leitura estatística.

Assim, consideramos que o trabalho com estatística e


probabilidade se torna relevante ao possibilitar ao estudante
desenvolver a capacidade de coletar, organizar, interpretar e
comparar dados para obter e fundamentar conclusões, que é a
grande base do desempenho de uma atitude científica. Esses
temas são essenciais na educação para a cidadania, uma vez que
possibilitam o desenvolvimento de uma análise crítica sob
diferentes aspectos científicos, tecnológicos e/ou sociais. (LOPES,
2008, p.61)

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Apesar do estudo da estatística estar comumente relacionado ao ensino da

matemática, mesmo conceitualmente, essa relação não é necessária,

principalmente se considerarmos o ensino na Educação Básica.

No que diz respeito ao ensino fundamental e ao ensino médio, os


conceitos e procedimentos da Estatística estão relacionados aos da
Matemática. Eles, contudo, diferem quanto ao objetivo, pois
enquanto os conceitos estatísticos têm o foco em descrever,
organizar, resumir e comunicar dados coletados sobre fenômenos
das diversas ciências, os da Matemática centram-se no
desenvolvimento do raciocínio lógico, por meio dos cálculos
necessários para a interpretação e análise dos dados. Por essa
razão, entendemos que quase todas as ciências usam conceitos e
procedimentos da Estatística, ou seja, os profissionais de outras
ciências aprendem a utilizá-los, muitas vezes, sem ter a
preocupação com os aspectos matemáticos ou conceituais
subjacentes a eles. (PAGAN, 2011, p.725)

Como citado, a estatística faz parte da prática de outras ciências e apresenta

objetivos diferentes dos da matemática, sendo, muitas vezes, bastante adequado

no desenvolvimento da aprendizagem de outras áreas de conhecimento. Nesse

sentido, utilizar procedimentos estatísticos no ensino de História pode ser bastante

instigante. Aliada a isso, a prática de pesquisa de opinião também é promissora

como estratégia de ensino.

II - Organizando a atividade

A atividade relatada aqui foi uma segunda atividade que, em relação à

primeira, sofreu algumas alterações e adaptações. A primeira atividade,

desenvolvida com alunos da 1ª série do Ensino Médio da Escola Estadual Doutor

Arthur Cyrillo Freire, na cidade de Sorocaba (SP), foi pensada a partir da

necessidade de transformar o ensino de História, em determinadas turmas, nas

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quais eram enfrentados problemas na relação com os estudantes e sua empatia

com a disciplina:

Ensinar História Antiga em turmas de Ensino Médio pode ser


bastante difícil se os alunos não conseguirem criar algum tipo de
identificação com o assunto abordado. Assim, adotar simplesmente
as atividades sugeridas no sistema de ensino do Estado de São
Paulo, ou seja, as atividades previstas nos materiais didáticos,
podem causar distanciamento, e, em muitos casos, a apatia dos
estudantes. (FONSECA, 2015, p.117)

Desta maneira, aos alunos foi solicitado que apresentassem sugestões de

atividades para que as aulas pudessem ser mais interessantes e envolventes.

Dentre as sugestões, foi apresentada a proposta de fazer debates. Assim, foram

realizados debates sobre o tema “Democracia”, considerando sua relação com o

tema “Grécia Antiga”, estudado no momento, e o fato da questão de a democracia

ocupar destaque nas redes sociais naquele momento.

Assim, unindo o estudo do passado com questões do presente significativas

para os alunos, utilizamos uma estratégia de ensino, também relevante para

aqueles alunos, que era a prática do debate. E, a partir do debate, cuja pergunta

norteadora era “Existe democracia no Brasil ?”, foi proposta, em uma das turmas,

a realização de uma pesquisa de opinião, em toda a escola, questionando sobre o

que pensavam os outros estudantes sobre o mesmo tema. Assim, a pesquisa foi

feita com 400 alunos e seus resultados foram apresentados em artigo citado

(FONSECA, 2015). A pesquisa estava relacionada a uma questão que fazia sentido

para os estudantes, naquele momento, e, assim, vem ao encontro do que sugere

Lopes.

Acreditamos que não faz sentido trabalharmos atividades


envolvendo conceitos estatísticos e probabilísticos que não estejam
vinculados a uma problemática. Propor coleta de dados
desvinculada de uma situação-problema não levará à possibilidade
de uma análise real. Construir gráficos e tabelas desvinculados de
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um contexto ou relacionados a situações muito distantes do aluno


pode estimular a elaboração de um pensamento, mas não garante
o desenvolvimento de sua criticidade. (LOPES, 2008, p.62)

No entanto, a partir dessa primeira experiência, algumas etapas foram

repensadas na atividade seguinte. Em primeiro lugar, na primeira atividade foram

feitas duas pesquisas em função da turma estar dividida em dois grupos, um que

defendia a existência da democracia no Brasil e outro que questionava essa

proposição. Assim, a partir do próprio ponto de vista, cada grupo teve autonomia

para desenvolver um questionário, aplicá-lo e analisá-lo. E, ao final, pudemos

comparar os resultados de pesquisas de opinião realizadas sob diferentes pontos

de vistas.

No entanto, a mesma prática não foi viável posteriormente, em função da

especificidade do tema, no caso, Ditadura, e da necessidade de experimentar

outras formas de desenvolver a atividade. A segunda atividade, na qual a pesquisa

foi unificada, envolveu toda a turma. Isso também significou a organização de uma

dinâmica diferenciada considerando o maior número de alunos envolvidos.

III - Construindo uma pesquisa de opinião sobre Ditadura

Da mesma forma que a primeira, esta atividade iniciou-se com um debate,

cujo foco principal foi a seguinte pergunta: “A ditadura é um sistema viável para o

Brasil ?”. O tema foi escolhido em função de diversos fatores. Em primeiro lugar, já

havia sido debatido anteriormente o tema da democracia, relacionando-a ao estudo

da Grécia Antiga. Nesse sentido, iríamos estudar o tema ditadura relacionando-o

ao estudo de Roma Antiga. No entanto, o tema extrapolou a sala de aula, assim

como o tema da democracia, ambos bastante presentes nas redes sociais. No caso

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da ditadura, sua presença era ainda mais marcante pois os alunos, frequentemente,

traziam perguntas sobre se era possível que a ditadura voltasse no Brasil, em

função, acredito, das diversas manifestações favoráveis à volta do regime militar

ao Brasil, ocorridas em meados de 2015.

Assim, a partir da questão, os alunos foram divididos em dois grupos e o

debate foi realizado com a mesma metodologia, mediado pela professora, com

perguntas e respostas controladas pelo tempo. O debate foi extremamente

acalorado, com participação intensa e disputas acirradas. No entanto, apesar da

turma estar dividida em dois grupos, não foi considerado prudente propor uma

dicotomia sobre o tema em função do fato de alguns alunos demonstrarem certa

simpatia pela ditadura e a turma ter criado uma divisão muito tensa em torno do

tema. Assim, era importante que essa divisão não continuasse, por isso, a pesquisa

de opinião foi proposta para ser desenvolvida com a turma toda, com uma mesma

pesquisa.

Outro fator importante era garantir que um maior número de estudantes

pudesse ser entrevistado e suas opiniões pudessem ser registradas em uma

mesma pesquisa. Além disso, na atividade anterior, os estudantes desenvolveram

perguntas que precisavam de maior atenção, o que poderia ser feito em uma

pesquisa unificada. Desta maneira, as perguntas foram elaboradas coletivamente

e esse processo foi bastante interessante.

Assim, depois de um debate acalorado sobre a ditadura, os alunos se

mobilizaram para saber a opinião dos outros estudantes da escola. Nesse sentido,

a pesquisa de opinião, e posterior construção de uma análise estatística, esteve

diretamente relacionada com uma vivencia dos estudantes, como defende Lopes.

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Parece-nos essencial à formação de nossos alunos o


desenvolvimento de atividades estatísticas que partam sempre de
uma problematização, pois assim como os conceitos matemáticos,
os estatísticos também devem estar inseridos em situações
vinculadas ao cotidiano deles. Assim sendo, esse estudo os
auxiliará na realização de seus trabalhos futuros em diferentes
ramos da atividade humana e contribuirá para sua cultura geral
(LOPES, 2008, p.58)

Considerando que faz parte do método estatístico as etapas de coleta de

dados, organização dos dados, descrição através de planilhas e gráficos, análise e

interpretação e, por fim, tomada de decisões, a organização da atividade buscou

seguir essas etapas. Assim, a partir dessa referência mais ampla, as etapas foram

organizadas e cumpridas, exceto a última, pois não havia uma decisão a ser

tomada, nesse caso.

A abordagem utilizada foi o método quantitativo de uma amostragem cuja

população foi composta por estudantes do Ensino Médio do período diurno da E.E.

Arthur Cyrillo Freire, situada na cidade de Sorocaba, o que compôs 317

questionários.

A primeira etapa envolveu a elaboração do questionário, de extrema

importância, pois os alunos precisavam construir perguntas adequadas cujas

respostas pudessem ser transformadas em variáveis. Além disso, requeria

conhecimento sobre o tema para que as perguntas pudessem ser sintetizadas.

Com isso, a partir do estudo realizado para compor o debate, os alunos foram

orientados a elaborarem perguntas e que as apresentasse para o coletivo. Assim,

na data previamente combinada, os alunos foram apresentando suas questões e

estas foram sendo debatidas e selecionadas, com a mediação e intervenção da

professora. Esse momento foi particularmente interessante pois os estudantes

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frequentemente apresentavam suas dúvidas e questionamentos em função de

elaborar uma pergunta mais significativa.

Nesse sentido, a elaboração do questionário pode ter funcionado como

pretexto para que os alunos demonstrassem interesse pelo tema e o mesmo

pudesse ser aprofundado. Ou seja, para fazer perguntas, era necessário conhecer

melhor o assunto e assim, o tema foi abordado em uma das aulas.

Depois de pronto o questionário, os alunos foram divididos em pequenos

grupos para aplica-lo nas diferentes turmas do Ensino Médio. Após a aplicação, foi

necessário decidir as formas de tabulação das respostas. E, nesse sentido, cada

pequeno grupo teve liberdade para escolher o melhor método de organizar os

dados. Os grupos, nesse caso, eram os mesmos que aplicaram os questionários.

Foi possível assim, organizar as informações das diferentes turmas o que

possibilitou análises interessantes também. Ou seja, ao final foi possível observar

a relação entre os resultados de determinada turma com os resultados gerais e,

perceber as semelhanças ou discrepâncias nos mesmos.

Após a tabulação das respostas, a partir das diferentes turmas, os dados

foram centralizados em uma lousa, para que todos pudessem acompanhar o

processo de unificação dos dados. Os alunos foram convidados a transformar os

resultados em porcentagens e, em grupo, a elaborarem possíveis explicações. E,

a partir dos dados, foram elaborados os gráficos e, posteriormente apresentados à

turma para que pudesse ser finalizada a atividade e feito um balanço e análise final.

Nesse sentido, seguimos a proposta de Lopes, para quem os alunos devem

ser envolvidos em situações concretas,

Acreditamos que é necessário desenvolver uma prática pedagógica


na qual sejam propostas situações em que os estudantes realizem
atividades, as quais considerem seus contextos e possam observar
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e construir os eventos possíveis, por meio de experimentação


concreta, de coleta e de organização de dados. (LOPES, 2008,
p.58)

IV - Análise dos resultados

Apresento aqui os gráficos produzidos a partir dos 317 questionários

aplicados em turmas de 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio e, posteriormente, a

análise empreendida pelos alunos.

A primeira pergunta proposta − “O que é ditadura para você ?” − tem um

caráter mais amplo e busca mapear quais das referências apresentadas nas

respostas é mais marcante para os estudantes.

Gráfico 1 – Questão 1 - Pesquisa realizada em junho de 2015 com 317 alunos da Escola
Estadual Dr. Arthur Cyrillo Freire, situada na cidade de Sorocaba/SP.

Na análise dos alunos, a escolha da alternativa “c”, com 45% dos estudantes

relacionado a Ditadura ao Regime Militar, ou seja, a resposta com maior escolha,

é justificada pelo fato de associarem o termo “ditadura” aos militares. “Por eles

terem ouvido falar em ‘Ditadura Militar’ associam as palavras”, explicou um dos

alunos. Nas análises separadas por turmas, a tendência foi a mesma, e a mais

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escolhida foi a alternativa “c”. Chama a atenção, no entanto que, unindo as

alternativas “b” e “e”, 42% dos estudantes associam Ditadura com governo

manipulador e autoritário.

A segunda pergunta, “Para resolver os atuais problemas políticos e

econômicos do Brasil, você acredita que adotar uma ditadura seria uma solução?”,

cujo objetivo era radicalizar uma “fala” bastante presente naquele contexto,

inclusive dita por estudantes da própria turma, demonstrou resultados

surpreendentes para os próprios alunos.

Gráfico 2 - Questão 2 - Pesquisa realizada em junho de 2015 com 317 alunos da Escola
Estadual Dr. Arthur Cyrillo Freire, situada na cidade de Sorocaba/SP.

Nas análises sobre a escolha da alternativa “b”, ou seja, a Ditadura não seria

uma solução para os problemas políticos e econômicos do Brasil, por 61% dos

alunos, os alunos demonstraram diferentes visões. Cito abaixo alguns trechos

significativos que buscam explicar a escolha pela opção “b”: “as pessoas de hoje

em dia sabem que a ditadura foi uma coisa muito rígida e eles não estão dispostos

a perder sua liberdade”; “Mesmo sem ter um conhecimento profundo sobre, eles

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sabem que foi algo difícil de tirar do poder”; “Para eles não é o melhor a fazer, pelo

contrário, só pioraria”; “Hoje em dia muitas pessoas são informadas, através dos

professores, sobre o horror que foi a ditadura”.

A questão 3, “qual das alternativas melhor descreve uma Ditadura” não foi

pensada de maneira polarizada, como a anterior, e apresentou diversas

possibilidades de respostas. No entanto, 58% dos alunos, escolheram a alternativa

“a” como a que melhor descreve uma ditadura, ou seja, “Morte, falta de liberdade,

perseguição e censura”.

Gráfico 3 - Questão 3 - Pesquisa realizada em junho de 2015 com 317 alunos da Escola
Estadual Dr. Arthur Cyrillo Freire, situada na cidade de Sorocaba/SP.

De acordo com a análise dos alunos, essa foi a escolha pois “essa é a

imagem que passaram para as pessoas a respeito da ditadura e ainda passam”;

“por ter sido algo muito marcante”, “sabendo que naquela época eles eram muito

rígidos eles (os alunos) escolheram a alternativa com maior agressividade”.

É interessante observar, nesses casos, a abrangência das explicações. Na

primeira frase, a escolha é explicada pela educação recebida pelos estudantes. A

terceira explicação chega a fazer uma análise discursiva, ou seja, a alternativa foi

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escolhida pois apresenta as palavras consideradas mais violentas, e essas, nesse

sentido, melhor representaria a Ditadura.

A questão 4, sobre o número de ditaduras existentes no Brasil no período

Republicano, tinha objetivo de mapear o conhecimento dos alunos a respeito do

tema. A alternativa escolhida por 52% dos alunos foi a “b” que informa ter havido

apenas uma ditadura, entre 1964 e 1985.

Gráfico 4 - Questão 4 de Pesquisa realizada em junho de 2015 com 317 alunos da Escola
Estadual Dr. Arthur Cyrillo Freire, situada na cidade de Sorocaba/SP.

Para os alunos que analisaram a questão, a escolha e a compreensão de

que houve apenas uma ditadura no período Republicano e o desconhecimento de

mais da metade dos estudantes da existência de uma Ditadura no Estado Novo foi

justificada pois “a ditadura de Getúlio não é muito reconhecida”. Eles não sabem

sobre a ditadura de Getúlio Vargas, pois é algo aprendido apenas na escola e por

isso é esquecido.” Nessa última explicação, é interessante observar o comentário

de que o que é aprendido na escola é esquecido. E, se a Ditadura Militar é

conhecida, minimamente, pelos estudantes, é em função da circulação, em outras

mídias, de referências a esse período.

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A última questão, teve como objetivo mapear a opinião dos alunos sobre o

sistema político mais adequado para o Brasil e possíveis soluções para o futuro do

país. Não houve uma tendência marcante e duas questões, a “b” e a “c”, juntas,

somam 67% das respostas. Ou seja, a preferência varia entre “criar um novo

sistema” ou “reformar a República”. Em ambos os casos há a indicação de

necessidade de mudanças. Cabe ressaltar, no entanto que apenas 6% dos alunos

indicaram a Ditadura como um sistema melhor, mesma quantidade para uma

República Parlamentarista ou uma Monarquia. E, 17% dos estudantes

selecionaram a alternativa “a” que propunha a manutenção do sistema.

Gráfico 5 - Questão 5 - Pesquisa realizada em junho de 2015 com 317 alunos da Escola
Estadual Dr. Arthur Cyrillo Freire, situada na cidade de Sorocaba/SP.

Essa questão demonstra que, no que se refere a propostas de mudanças

não há tendência dominante, apenas que existe a necessidade de mudanças.

V - Conclusões

A atividade, em sua amplitude, aliando um debate, e o desenvolvimento de

uma pesquisa de opinião e sua posterior análise estatística, teve resultados não
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quantificáveis, alguns observáveis ao longo do processo, e outros observáveis nas

análises realizadas.

Nesse sentido, foi possível observar o envolvimento, a dedicação e a

participação de alunos, que, inclusive, não demonstravam interesse em aulas

expositivas nem pela disciplina de História. Além disso, a necessidade de

organização em grupos pequenos e de sincronizar e organizar uma atividade com

a turma inteira que envolvia a saída da sala de aula, significou adotar uma prática

pouco comum, mas, interessante pois os alunos demonstraram maturidade e

seriedade no encaminhamento da pesquisa realizada nas salas de aulas de outras

turmas, de forma independente e responsável.

Além disso, através de uma atividade dinâmica, o tema pode ser abordado

de maneira mais significativa para os estudantes. E, principalmente, a estatística e

a leitura de gráficos deixou de ser algo estranho. Ao passar pela experiência de

realizar uma pesquisa de opinião, tabular, fazer porcentagens e colocar em

gráficos, os estudantes puderam apropriar-se dessa metodologia o que poderá

ajuda-los em leituras posteriores.

E, por fim, a partir desta atividade, foi possível criar uma pesquisa de opinião

voltada para jovens no ambiente escolar sobre um tema nevrálgico para a

sociedade brasileira atual, cujos resultados, a partir de uma população significativa,

pode ser analisado e refletido. E, inclusive, essa prática, ou semelhante, pode ser

aplicada em outras situações.

Referências
ANASTASIOU, Lea das Graças; ALVES, Leonir Pessale (org). Processos de Ensinagem
na Universidade; pressupostos para estratégias de trabalho em aula. Joinville-SC:
UNIVILLE, 2003.

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LOPES, C. A. E. A Probabilidade e a Estatística no Ensino Fundamental: uma análise


curricular. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade
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PAGAN Adriana; MAGINA, Sandra. O ensino de estatística a partir da interdisciplinaridade:
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PONTE, J. P.; BROCARDO, J.; OLIVEIRA, H. Investigações matemáticas na sala de
aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

***

STATISTICAL ANALYSIS AND OPINION SURVEY UPON DICTATORSHIP AS


A PEDAGOGICAL STRATEGY OF THE TEACHING OF HISTORY.

Abstract: This paper presents a practice of teaching, whose purpose was to make
students of high school capable of understanding the issues upon the dictatorship
as a theme in the teaching of history. Considering the importance of practice as a
tool which makes up a learning path, the activity has involved debate, survey and
statistical analysis. It is worth highlighting the engagement of students in this activity
and mapping of their opinions about the dictatorship.
Keywords: History – dictatorship – teaching and learning – statistics – survey.

Recebido em: 24/02/2016


Aprovado em: 24/03/2016.

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