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LEGISLAÇÃO SOBRE O USO DE RESERVATÓRIOS DE ÁGUAS

PLUVIAIS RESIDENCIAIS PARA O AUXÍLIO NA DRENAGEM URBANA

Fabio Gomes Coelho 1;Raphael M Page 2& Mônica de Aquino Galeano Massera da
Hora3

Resumo – A urbanização desordenada nas cidades brasileiras tem sido inadequada, principalmente
com relação aos sistemas de drenagem, que não impedem as enchentes. Diante desse cenário,
algumas cidades e estados do Brasil têm criado leis que incentivam ou determinam a reservação das
águas pluviais para minimizar os impactos das chuvas mais intensas.

Palavras-Chave – reservatório residencial, águas pluviais, Legislação.

RESIDENTIAL RAINWATER RESERVOIR FOR THE AID OF


URBAN DRAINAGE

Abstract – The unplanned urbanization of Brazilian cities has been inadequate, particularly with
regard to drainage systems, which do not prevent floods. In this scenario, some cities and states of
Brazil have created laws that encourage or determine the reservation of rainwater to minimize the
impacts of more intense rains.

Keywords – residential reservoir, rainwater, legislation

INTRODUÇÃO

Através do Decreto n° 24.643, de 10 de julho de 1934, a Presidência da República decretou


o Código das Águas e no TÍTULO V, que aborda as águas pluviais, consideram-se as águas pluviais
como as que procedem imediatamente das chuvas e que estas pertencem ao dono do prédio onde

1
Afiliação: Mestrando em Recursos Hídricos e Saneamento, fabiogomescoelho@hotmail.com
2
Afiliação: Acadêmico em Engenharia Ambiental, estagiário em projetos de infraestrutura urbana, raphacci_page@hotmail.com
3
Afiliação: Professora Adjunta da Universidade Federal Fluminense, dahora@vm.uff.br

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caírem diretamente, podendo o mesmo dispor delas a vontade, salvo existindo direito em sentido
contrário. Texto semelhante é apresentado no artigo 1290 do Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002: “O proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as
necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar o curso natural das águas
remanescentes pelos prédios inferiores”.
Este código determina que não seja permitido ao dono do prédio desperdiçar essas águas em
prejuízo dos outros prédios que delas se possam aproveitar, sob pena de indenização aos
proprietários dos mesmos, nem desviar essas águas de seu curso natural para lhes dar outro, sem
consentimento expresso dos donos dos prédios que irão recebê-las.
A partir dessas legislações, as águas pluviais se mostram importantes na área do saneamento,
mas em dois setores diferentes: no abastecimento público de água e na drenagem urbana. Na
drenagem urbana, a água da chuva é fundamental no dimensionamento do sistema de drenagem,
quanto maior o volume de chuva, mais complexo é o projeto de drenagem. Uma solução
complementar ao sistema de drenagem é a utilização de reservatórios para a retenção da água da
chuva durante o evento, para após um intervalo de tempo do seu término, a água retida ser escoada
de forma controlada para não causar enchentes.
O artigo tem por objetivo apresentar as legislações municipais e estaduais sobre a reservação
da água da chuva objetivando a redução de enchentes.

LEGISLAÇÃO SOBRE CAPTAÇÃO E RESERVAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS

O atual modelo de urbanização apresentado na maioria das cidades brasileiras tem se


mostrado desordenado e inadequado, principalmente com relação aos sistemas de drenagem, uma
vez que ao longo dos anos as superfícies dos solos vão se tornando impermeáveis, já que há
substituição de residências por prédios e as ruas são asfaltadas, impedindo que as águas das chuvas
infiltrem, aumentando, desta forma, aumentando o fluxo e velocidade da água no sistema de
drenagem, além da deposição de sedimentos oriundos da lavagem do solo.
O sistema de drenagem que antes havia sido projetado para uma determinada condição de uso
e ocupação do solo, passa a ficar subdimensionado, causando problemas de diversas proporções,
como alagamentos, transtornos no trânsito, inundações, transmissão de doenças, dentre outros. Em
muitos casos, esse sistema de drenagem não é redimensionado devido ao alto custo de
implementação.
Para mitigar os problemas, buscam-se soluções alternativas, como reservatórios de detenção,
barragens, desvio de cursos d’água, entre outras. Além destas intervenções físicas, algumas cidades
estão apresentando políticas públicas que envolvam os cidadãos para complementar o controle das
enchentes urbanas. As cidades do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Niterói e São Paulo, bem como o
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Estado de São Paulo têm adotado ideias semelhantes nesse sentido, adaptando para as suas próprias
peculiaridades locais.
De maneira geral, estas cidades exigem o uso de reservatórios de águas pluviais em
loteamentos que possuam algum percentual de área impermeável, variando este percentual de
acordo com o critério adotado para a retenção temporária das águas pluviais que precipitam sobre
cada lote, podendo captar através dos telhados, coberturas, pisos e áreas impermeáveis. Dessa
forma, esses lotes contribuem para o retardo do escoamento dessas águas para o sistema de
drenagem público, já que esses reservatórios só podem ser esvaziados no sistema de drenagem após
determinado tempo de encerramento da chuva.
Segundo CANHOLI (2009), a finalidade dessa solução é reduzir o pico das enchentes, por
meio do amortecimento de parte do volume escoado. A disposição local do reservatório de
reservação das águas precipitadas é tipicamente voltada ao controle em lotes residenciais e vias de
circulação. O objetivo é reduzir os picos das vazões veiculadas para a rede de drenagem.
Através da implantação deste dispositivo de drenagem, os lotes que possuem grande área
impermeabilizada não poderão contribuir no mesmo instante que ocorrem as chuvas, reduzindo a
velocidade do escoamento das águas pluviais, controlando a ocorrência de inundações, amortecendo
e minimizando os problemas oriundos dos picos de vazão, facilitando o funcionamento do sistema e
não necessitando de grandes obras para impedir as inundações e alagamentos.
A seguir são apresentadas as legislações referentes ao dimensionamento do volume dos
reservatórios.

Cidade de São Paulo

Através do Decreto n° 41.814/2002, do município de São Paulo, tornou-se obrigatória a


execução de reservatórios para águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou
não, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m². Nas reformas é exigido pelo Decreto a
construção de um reservatório de retardo, quando houver acréscimo de área impermeabilizada igual
ou superior a 100 m² e a somatória da área impermeabilizada existente e a construir resultar em área
superior a 500 m², calculando o reservatório em relação à área impermeabilizada. É exigido quando
há reformas sucessivas de edificações cujos acréscimos, a cada pedido de reforma junto à prefeitura
de São Paulo, não atingem 100 m² e a somatória das áreas acrescidas é igual ou superior a 100 m², o
reservatório dimensionado considerando-se toda a área impermeabilizada acrescida.
A Lei n° 13.276/2002, da cidade de São Paulo, determina que a capacidade do reservatório
para retardo das águas de chuvas, deverá ser dimensionada através da seguinte equação:

(1)

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Onde V é o volume do reservatório, em m³; Ai é a área impermeabilizada, em m²; IP é o
índice pluviométrico, adotado como 0,06 mm/h; t é o tempo de duração da chuva, adotado em uma
hora.
Quando aplicado, o reservatório ligado ao sistema de drenagem, estipulado pela Lei n°
11.228, o Decreto n° 41.814 determina que o volume resultante da equação (1) deva ser acrescido
ao volume calculado por:

(2)
Onde V volume de disposto adotado, em m³; S é a área do terreno, em m²; Sp é a área do
terreno livre de pavimentação ou construção, em m²; IP é o índice pluviométrico, adotado como
0,06 mm/h; e t é o tempo de duração da chuva, adotado em uma hora.

Cidade do Rio de Janeiro

Através do Decreto n° 23.940/2004, do município do Rio de Janeiro, tornou-se obrigatória à


construção de reservatório destinado ao acúmulo das águas pluviais e posterior descarga para a rede
de drenagem e de outro reservatório de acumulação das águas pluviais para fins não potáveis,
quando couber, para empreendimentos que possuam área impermeabilizada superior a 500 m². O
dimensionamento da capacidade dos reservatórios para retardo das águas pluviais é expresso por:

(3)
Onde V é o volume do reservatório em m³; k é o coeficiente de abatimento, sendo igual a
0,15; Ai é a área impermeabilizada, em m²; e h a altura de chuva, em m. A altura de chuva
corresponde a 0,06 metros nas áreas de planejamento 1, 2 e 4 da cidade do Rio de Janeiro e a 0,07
metros nas áreas de planejamento 3 e 5.
A Resolução Conjunta SMG/SMO/SMU nº 001/2005 da cidade do Rio de Janeiro,
complementa o dimensionamento do reservatório com o dimensionamento do orifício de descarga
do reservatório destinado ao retardo das águas pluviais deverá obedecer à equação abaixo.

S = Q/[Cd.(2gh)^(1/2)] (4)
Onde S é a área do orifício, em m²; Q é a vazão de águas pluviais gerada no lote
anteriormente à impermeabilização, conforme as normas da Secretaria Municipal de Obras; Cd é o
coeficiente de descarga, adotado o valor de 0,61 para orifícios circulares e 0,601 para orifícios
retangulares; h é a carga sobre o centro do orifício, em metro; e g é a aceleração da gravidade em
m²/s.

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Estado de São Paulo

A Lei nº 12.526/2007, do Estado de São Paulo, tornou obrigatória a implantação de sistema


para captação e retenção de águas pluviais, coletadas por telhados, coberturas, terraços e
pavimentos cobertos, em lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500
m². Esta determina que o reservatório de retardo deva ser dimensionado com base na equação (1) e
os condicionantes da cidade de São Paulo.

Cidade de Niterói

A Lei n° 2.630/2009, do município de Niterói, determina que as novas edificações, públicas


ou privadas, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m² deverão ser dotadas de
reservatório de águas pluviais. A Lei determina que o reservatório de águas pluviais possa ser de
acumulação ou de retardo. Ela determina que os reservatórios de retardo, destinados ao acúmulo de
águas pluviais e posterior descarga na rede de águas pluviais, deverão ter o seu volume calculado
pela equação (3), onde K é coeficiente de abatimento, adotado valor de 0,15 e H a altura
pluviométrica, adotado valor de 0,07 metros.

Cidade de Nova Iguaçu

A Lei nº 4.092/2001, do município de Nova Iguaçu, determina que os empreendimentos


novos e localizados em terrenos com área superior a 500 m² deverão implantar tanques de retenção
destinada a retardar em duas horas a chegada das águas pluviais no sistema de drenagem, córregos e
rios.

DISCUSSÃO E RESULTADOS

Ainda não há uma legislação em nível federal ou norma técnica brasileira que indique como
deve ser dimensionado o reservatório para retardo do escoamento das águas pluviais precipitadas
sobre os loteamentos. Cada município que possui legislação que determina a execução deste tipo de
dispositivo indicando uma metodologia própria para o dimensionamento, já que os eventos
pluviométricos, uso e ocupação do solo, sistema de drenagem, entre outros fatores que interferem
no escoamento das águas pluviais, variam de acordo com cada localidade.
É importante ressaltar que algumas dessas legislações municipais, que exigem a implantação
do reservatório de retenção, não indicam o momento de esvaziamento dos mesmos, como a da
cidade de Nova Iguaçu que indica para o esvaziamento duas horas após o término do evento
pluviométrico. A cidade do Rio de Janeiro é a única a exigir o dimensionamento do orifício de

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descarga do reservatório, sendo este fundamental para determinar a vazão contribuinte na rede de
águas pluviais da cidade.
É interessante observar que as equações levam em consideração a altura de chuva, fator
básico no dimensionamento e no sistema, coeficiente de abatimento, que é o coeficiente redutor da
precipitação máxima pontual usada na extrapolação deste valor pontual para toda uma área em seu
entorno, e a área impermeabilizada, elemento que impede a infiltração da chuva no terreno. A
equação (2) mostra-se clara e adequada ao objetivo do dimensionamento, calcular o volume do
reservatório para reter a água da chuva que antes da impermeabilização, infiltrava no solo, já que
leva em consideração toda a área impermeável, e não só a passível de captação.

CONCLUSÕES

As legislações municipais, de maneira geral, responsabilizam o dono do loteamento pela


impermeabilização do solo, o que é importante, já que este tipo de ação impacta no sistema de
drenagem, auxiliando o poder público no controle das enchentes e incentiva para um possível
aproveitamento dessas águas para fins não potáveis.
É importante que seja concebida uma norma ou legislação em âmbito nacional para a
execução dos reservatórios de retenção, de forma a permitir a orientar os municípios com a melhor
metodologia, diferenciando de acordo com as características pluviométricas das cidades. Com essa
orientação cria-se a expectativa da determinação da vazão de escoamento desses reservatórios.

REFERÊNCIAS

BRASIL, CÓDIGO DAS ÁGUAS. Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d24643.htm>. Acesso em: 20 nov. 2011.
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<http://www.saobernardo.sp.gov.br/SECRETARIAS/sp/geoportal/LEGISLACAO/LEI12526_2007.
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