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O MODELO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTIVEIS: UMA

ALTERNATIVA VERDADEIRAMENTE SUSTENTÁVEL PARA AMÉRICA


LATINA E ÁFRICA?

AUTORES:

PROF. DR. LAZARO CAMILO RECOMPENSA JOSEPH


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PROF. DR. PEDRO RAMOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Introdução

Os combustíveis vegetais mal chamados “bio” derivam-se de plantas cultivadas com todo um
arcabouço pesado de: insumos agrícolas, pesticidas, herbicidas, petróleo e derivados. Os termos “biodiesel”,
“bioetanol” e “biocombustível” têm se disseminado no mundo globalizado graças ao marketing publicitário
da mídia. Os combustíveis vegetais se obtêm como resultado de processos industriais muito complexos.
Aliás, o termo “bio” significa “vida” e merece destaque o comentário de Dominique Guillet (2007)- de que
resulta extremamente difícil saber e entender o que faz com que esses combustíveis vegetais levem ou
mereçam o prefixo “bio”.
Os biocombustíveis, longe de serem “limpos e ambientalmente” corretos, levam no seu processo de
produção, as sementes sociais e ecológicas, que acrescentam a concentração fundiária, a tragédia da
desnutrição, o deslocamento populacional, o desmatamento, a erosão dos solos, o uso irracional das águas,
entre outros.
Mesmo assim, as grandes transnacionais petroleiras, aliadas aos grandes grupos alimentares,
agroquímicos e produtores de sementes, tentam convencer o mundo globalizado de que a produção dos
biocombustíveis poder-se-ia converter em substitutos “quase perfeitos” dos combustíveis fósseis, e que sua
produção não constituem nenhuma ameaça à produção dos alimentos.
No caso do Brasil (grande defensor do modelo do agronegócio de produzir biocombustíveis), isto
pode ser confirmado através das palavras da senhora Dilma Rousef1 (Chefa da Casa Civil) quando afirmou
que “o novo diesel expressará o casamento entre o agronegócio e a indústria do petróleo. É um processo
revolucionário”.
Sendo assim, o presente trabalho visa analisar os principais impactos da produção de
biocombustíveis no Brasil (baseado no modelo do agronegócio) e os possíveis efeitos sociais, econômicos e
ambientais, da réplica ou transferência deste modelo para os países da América Latina, África e Ásia.
Para alcançar o objetivo traçado neste trabalho, o mesmo é dividido em três partes: a primeira aborda
os principais impactos econômicos, sociais e ambientais da produção de etanol utilizando como matéria
prima a cana de açúcar; na segunda parte se descrevem e ponderam os principais impactos da produção de
biodiesel destacando-se que o avanço do agronegócio capitalizado e mecanizado sobre a floresta está
agravando o efeito estufa no Estado de Mato Grosso, desmistificando-se o famoso ditado dos defensores da
produção de biocombustíveis no Brasil, segundo o qual “para satisfazer as necessidades mundiais de etanol
e biodiesel. o Brasil não necessita desmatar sua floresta”. Por último, expõem-se, nas considerações finais
do trabalho, as principais dificuldades que enfrentaram os diferentes países de América Latina, África e
Ásia em relação à “escolha” de que tipo de desenvolvimento eles precisarão: aquele integrado aos grandes
interesses do capital e associados a um padrão de desenvolvimento agressivo e destrutivo do meio ambiente
ou aquele que realmente gere equidade e preserve o meio ambiente das futuras gerações.

1
JORNAL FOLHA SÕ PAULO. Novo diesel estimulará agronegócio, diz Dilma. 20/05/2006. Disponível In:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u107854.shtml Acesso 12/09/2007.

2
1. O Modelo brasileiro para produzir biocombustíveis (etanol e biodiesel): reflexões acerca da
sustentabilidade (econômica, social e ambiental) de reproduzi-lo nos países da América Central e
África.

Iniciaremos este item caracterizando o modelo brasileiro do agronegócio, destacando a seguir suas
peculiaridades: a) necessidade de grandes estabelecimentos agropecuários e concentração fundiária; b)
utilização intensiva de tecnologias e máquinas em detrimento ao trabalho humano; c) danos ambientais em
grande escala; d) utilização de grandes quantidades de água no cultivo irrigado; e) presença de modificações
genéticas para melhoria de sementes ou rebanhos; f) concentração de capitais; g) gozo de facilidades de
empréstimos de bancos devido à terra, possível de ser dada como garantia de pagamento; h) predominância
de relações de trabalho de assalariamento; g) dependência de insumos e equipamentos importados e; h)
direcionamento da produção majoritariamente para mercado internacional. A cana-de-açúcar e a soja são as
“duas estrelas” para a produção dos biocombustíveis, e juntos como o algodão, o milho, a laranja e a carne
bovina constituem os principais produtos do agronegócio brasileiro.

1.1. Analisemos os principais impactos da produção de etanol em função do crescimento do


agronegócio no Brasil.

a) Impactos na ocupação territorial e na produção de alimentos.

O mercado de terras representa um importante componente na expansão de monoculturas com


conseqüente pressão sobre a pequena e média propriedade rural. Segundo Guedes (2006), a dinâmica desse
mercado é um indicador do vigor das atividades agropecuárias e das transformações na estrutura produtiva e
auxilia no entendimento da relação mudança/permanência dos modos de produção de diferentes grupos
sociais.
Nesse sentido, a expansão da cana-de-açúcar é facilitada por um mercado de terras pouco ordenado
jurídica e socialmente, o que acarreta reflexos positivos nos custos de produção, ao mesmo tempo em que
concentra a propriedade fundiária e inviabiliza os usos praticados pela agricultura familiar. Assim sendo,
como o aumento de produção na agroindústria canavieira está relacionado à expansão do cultivo em novas
áreas, isso ocasiona uma reconfiguração do espaço geográfico e uma pressão sobre modos de vida e
atividades rurais. (Assis & Zucarelli, 2007).
No Brasil, a prática de arrendamento de terras constitui-se como a principal estratégia utilizada pelo
setor sucroalcooleiro para a expansão dos plantios e desencadeia uma complexa alteração nos tipos de
produção, na disponibilidade de empregos, no fluxo migratório para cidades, na oferta de alimentos e na
possibilidade de demarcação de terras para reforma agrária.
Na Região Centro Sul do país, os canaviais avançam a passos largos sobre as áreas de grãos, laranja e
pastagem, o produtor, analisa essa oportunidade sob dois aspectos: como produtor e fornecedor da usina ou
como fornecedor de terra para arrendamentos. As pesquisas de campo, realizadas por Assis & Zucarelli,
(2007) constataram a opção pelo arrendamento como a seguir se destacam:

Os usineiros não têm interesse na terra. O que querem é a cana plantada e produzida, por isso
partem pra o arrendamento e pra produção independente (Entrevista com representante do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais – Rio Brilhante/MS, 03/12/2006).

A gente aqui vai ficando exprimido. Tem gente que pensa diferente, tem sentimento pela terra, aí num
arrenda pra cana, mas outros num agüenta e acaba cedendo. Eu tô ficando cercado pela cana
(Entrevista com P. pequeno produtor rural – Uberaba/MG, 26/11/2006).

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Quando aluga pra cana a pessoa vai ficando agredida, cê fica aqui cercado no meio do canavial ou
vai pra cidade onde é tudo diferente. O meu pai, por exemplo, ele não tira os 48.000 que a usina não
cansa de oferecer, mas a pessoa que toda a vida viveu na terra e na lida com a lavoura sofre de ver
sua terra cheia de cana (Entrevista com pequeno produtor rural – Cássia/MG, 24/11/2006).

Eu por exemplo tenho 51 anos de idade. Se eu arrendar pra cana por 12 anos quando acabar vou ter
63. Aí eu não consigo mais retomar minha atividade e acabo tendo que renovar (Entrevista com
médio produtor rural –Uberaba/MG, 26/11/2006).

A destilaria chega, arrenda as terras e já pensa que é dona. Mas ocê acha que alguém vai voltar pra
terra depois de 8 a 10 anos? No final acaba tendo que vender ou renovar o arrendamento (Entrevista
com comerciante –Iturama/MG, 29/11/2006).

Em São Paulo por exemplo um proprietário de terra recebe, livres entre R$500,00 a R$1.200,00 por
hectare para arrendar terra às usinas de cana. (PALMA. M & TORRES. A, 2006. Do suco para o álcool. In:
Revista Agroanalysis. Mercado & Negócios. Vol.26. No. 09, Pág. 19-21 Setembro 2006.). Este fato de por
si compromete a produção de laranja ....
Segundo (Assis & Zucarelli, 2007) nas regiões do Triângulo Mineiro e Oeste Paulista, aprecia-se uma
nova configuração espacial onde as pastagens cederam lugar ao plantio de cana. Essa alteração fica evidente
quando se analisa que: na primeira o efetivo bovino teve queda de mais de 448 mil cabeças no intervalo entre
os anos de 2003-2005 e na segunda 326 mil cabeças para o mesmo período. Argumentam que na região do
Triângulo Mineiro, embora as estatísticas oficiais ainda não apontem uma redução na produção de leite,
entrevistas realizadas (por esses pesquisadores) em cooperativas da região indicaram uma queda na entrega
desse produto. E na região do Oeste Paulista o número de vacas em ordenho foi reduzido em 12,3%
provocando uma queda de mais de 34 milhões de litros de leite no período de 2003-2005.
É necessário destacar que nessa mesma direção, as estatísticas oficiais entre os anos de 2002 e 2005
refletem um incremento de mais de 11 milhões de cabeças no rebanho bovino da região Norte,
fundamentalmente nos estados do Pará, Rondônia, Amazonas e Tocantins, que respectivamente apresentaram
aumentos de 48,1%; 41,2%; 33,7% e 14,3%, enquanto no nível nacional o acréscimo foi de 5,9% (IBGE
PPM, 2006). Dessa maneira, vislumbra-se uma eminente pressão da produção pecuária sobre os
ecossistemas amazônico e de cerrado.(Idem)
As informações coletadas no trabalho de campo pelos pesquisadores (Assis & Zucarelli, 2007)
apontam aos estados da região Norte como as novas fronteiras de acomodação do gado, como se pode
perceber na seguinte descrição:

Os tradicionais criadores aqui da região do triângulo estão arrendando ou vendendo as terras pra
cana e indo criar gado em Tocantins, Rondônia e Mato Grosso (Entrevista com veterinário da
Prefeitura de Iturama/MG, 28/11/2006).

Outro elemento que destacam é o efeito que a expansão dos canaviais tem provocado nas áreas (do
Triângulo Mineiro e Oeste Paulista) circunvizinhas a assentamentos da reforma agrária dedicadas à
agricultura familiar. Os pequenos produtores relataram que a implantação dos canaviais na região tem
encarecido e inviabilizado seus cultivos de hortaliças e frutíferas, uma vez que após a introdução da cana nas
propriedades vizinhas foram forçados a utilizar uma série de agrotóxicos para combater as pragas que
migram das plantações canavieiras. Esse tipo de ocorrência pode ser ilustrado nas seguintes narrativas
(Idem):

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Quando o pessoal da usina aplica o veneno para acabar com o mato que dá no meio da cana, isso se
espalha e acaba com o nosso pasto todo, que já é bem pouco. Aí na hora de tirar o leite é só prejuízo.
Tem também os besourinhos que vem de lá das plantações e atacam nossas hortas e árvores de fruta,
antes a gente num usava nem um tipo de veneno, agora se num atacar forte no combate num vira uma
planta sequer (Entrevista com pequeno produtor rural –Iturama/MG, 28/11/2006).

Antigamente num precisava nem dá combate nas nossas lavouras, agora num tem combate que dá
jeito nessas pragas da cana. É bisourinho verde, bisouro vaquinha, largata. Come nossa horta toda
(Entrevista com assentada rural - Iturama/MG, 26/11/2006).

No Mato Grosso do Sul a expansão da cana tem se processado sobre áreas dedicadas à produção de
soja, milho e gado. Existindo grandes indícios de que fazendas outrora consideradas improdutivas têm sido
transformadas em produtivas através de “arrendamentos para o plantio de cana”. A utilização desse tipo de
mecanismo pôde ser evidenciada nos seguintes relatos (Idem):

Aqui mesmo tem fazenda que era destinada pra reforma agrária e seria um novo assentamento, mas
aí veio o arrendamento. Essa é uma estratégia dos usineiros, arrendam as terras de fazendas
improdutivas que é uma maneira de jogar um balde de água fria na reforma agrária. É assustador
tão ocupando todas as terras da região (Entrevista com liderança do Assentamento Pana – Nova
Alvorada do Sul/MS, 04/12/2006).

O conflito cana e reforma agrária aqui no município de Rio Brilhante está complicadíssimo. A gente
não consegue mais avançar com o processo de reforma agrária. Depois da chegada da cana só tem
aumentado o número de acampamentos de beira de estrada (Entrevista com representante do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais – Rio Brilhante/MS, 03/12/2006).

Em Nova Alvorada do Sul tinha 17 áreas que seriam para a reforma agrária. Com o arrendamento
pra cana foram consideradas produtivas (Entrevista com representante da Comissão Pastoral da
Terra – Dourados/MS, 01/12/2006).

Baseando-se nos dados e levantamentos estatísticos publicados pela Comissão Pastoral da Terra –
CPT, destacam que no estado do Mato Grosso do Sul os conflitos de terra que são ações de resistência pela
posse, uso e propriedade do território cresceram 87,5% entre o período 2003-2005 saltando de 16 para 30
enfrentamentos. Nessa mesma direção, o número de ocupações em imóveis rurais teve um crescimento de
100% passando de 8 ocupações em 2003 para 16 em 2005 (CPT, 2006). Vale ressaltar, que durante o ano de
2004 foram realizadas 24 ocupações, sendo que 15 dessas foram empreendidas em municípios onde são
projetados novos plantios canavieiros. Sendo assim, argumentam que: é possível sinalizar que a expansão da
cana-de-açúcar em algumas regiões do Mato Grosso do Sul pode acarretar um aumento da tensão e do
conflito sobre a propriedade da terra.

b) Impactos no emprego

Como vem sendo propagado pelos defensores do modelo brasileiro de produção de etanol a partir da
cana, cujo argumento de expansão é a utilização de terras já degradadas, colocam-se várias questões
relacionadas com o emprego: a) que tipo de emprego serão criados? b) quantos deles serão destruídos? c)
qual o papel da mecanização nesse processo de expansão?, ou seja, é sabido que o emprego de mão de obra

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no setor sucroalcooleiro abrange as atividades seguintes: produção de mudas, plantio, combate de formigas,
conservação de carreadores, operação de máquinas, colheita manual e retirada de sobras, de todas essas
atividades a de maior demanda por mão de obra é a colheita manual sendo responsável por mais do 70% do
emprego gerado pelo setor.

Em um estudo sobre a força de trabalho na agricultura brasileira no período 1990-2000, Balsadi et


al. (2002) realizaram o cálculo2 da quantidade de força de trabalho necessária para algumas culturas
selecionadas. A força de trabalho é medida em Equivalentes-Homens-Ano (EHA), “que correspondem à
jornada de trabalho de um homem adulto, por 8 horas, por 200 dias por ano” (BALSADI et al., 2002, p.26).
Segundo os resultados, as culturas possuem as seguintes demandas de EHA para cada 100 hectares:
algodão: 24,8; amendoim: 10,6; arroz: 14,8; feijão: 14,6; mamona: 28,6; milho: 8,6; soja: 2,6; trigo: 0,9;
café: 30,6; cana: 11,8; laranja: 16,5. “No período considerado, apenas seis culturas responderam por cerca
de 70% do total da demanda: arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, mandioca e milho”. (BALSADI et al.,
2002, p.23)

Segundo Balsadi (2002), no período 1990-2002 houve um decréscimo de 21,5% na demanda global
de mão-de-obra na agricultura brasileira, em decorrência da mecanização das culturas. Os autores ainda
ressaltam que pode haver um decréscimo de até 60% na demanda total de mão-de-obra na agricultura se
houver uma mecanização de todas as áreas produtoras das principais culturas.

Nesse sentido. a mecanização asseveraria os níveis de exploração e desemprego na agroindústria


canavieira e se transformaria num grande problema social. Na realidade, o que vem predominando nessa
importante atividade econômica brasileira é a lógica do paradigma da adequação tecnológica que se traduz
em: progresso técnico agrícola/industrial, redução de emprego, precarização do trabalho e desrespeito à
legislação brasileira.

c) Impactos sobre a infra-estrutura urbana

Em franco desenvolvimento no segmento e escassez de mão-de-obra especializada, Mato Grosso do


Sul assiste à explosão de projetos de construção de novas usinas de açúcar e álcool no país. Serão pelo
menos 15 até 2010, prevê o governo, o que tende a elevar a área de cana no Estado de 150 mil para 600 mil
hectares. O boom é impulsionado por forasteiros e produtores locais decepcionados com os mercados de
grãos e carne bovina.

Segundo Assis & Zucarelli, (2007) a chegada da agroindústria canavieira em pequenos e médios
municípios tem alterado toda a dinâmica urbana e criado novas demandas por serviços públicos, tais como
saúde, segurança, educação, abastecimento de água, tratamento de esgoto, saneamento básico, habitação,
dentre outros. O fluxo de trabalhadores atraídos por esses empreendimentos pressiona a infra-estrutura
existente, ao mesmo tempo em que exige maiores investimentos por parte dos governos municipais. A
pesquisa de campo realizada por esses autores pôde constatar, nos municípios canavieiros percorridos, que
os moradores associam a instalação das usinas à piora na qualidade dos serviços públicos, bem como ao
aumento da criminalidade e da prostituição:

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Esse cálculo foi feito com base nos dados divulgados pelo Sensor Rural Seade (1996 e 2001).

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A usina traz os trabalhadores durante a safra, aí aumenta roubo, assassinato, prostituição. Depois os
que vêm pra cá e gostam trazem família e a coisa piora ainda mais (Entrevista com comerciante –
Iturama/MG, 28/11/2006).

Em Ipezal cê vê mais homem que qualquer outra coisa. Lá antes era uma vidinha pacata, agora
parece um formigueiro. Do dia 1º ao dia 10 você precisa ver a quantidade de mulher que desce pra lá.
É uma prostituição só. Essa cana é uma coisa que não traz desenvolvimento pro local, isso na
verdade é um fracasso pra gente (Entrevista com assentado rural – Nova Alvorada do Sul/MS,
04/12/2006).

Outra questão que sempre se escuta é que coma vinda dos nordestinos aumenta a prostituição. Aí
quando começa a safra você já vê a mulherada chegando e se espalhando pela rua afora (Entrevista
com Irmã T. liderança religiosa – Rio Brilhante/MS, 03/12/2006).

Eu venho sempre pra cá no final do mês quando sai o dinheiro do pessoal [trabalhadores do corte de
cana]. Lá onde eu moro não tem nenhuma opção, aí me restou a vida nos programas (Entrevista com
garota de programa –Iturama/MG, 28/11/2006).

Ao mesmo tempo verificaram uma pressão sobre a infra-estrutura de habitação com conseqüente
inchaço das áreas de periferia. No município de Uberaba/MG algumas localidades periféricas tiveram um
aumento considerável da população residente, em virtude da acomodação de migrantes cortadores de cana
que optam por não retornarem às suas cidades de origem, exemplo disso, são os bairros de Jardim Uberaba,
Valim de Melo e Jardim Alvorada. A permanência dos trabalhadores nas cidades canavieiras e a posterior
vinda de seus familiares, como visto no bairro Jardim Alvorada, onde a maioria dos barracos é ocupada por
maranhenses, que ocasionam uma forte demanda por serviços básicos como saúde, educação, coleta de lixo e
segurança. Ademais, como na entressafra o contingente de mão-de-obra empregada é bem menor, muitos
trabalhadores que não retornam para suas localidades permanecem desempregados até o início da próxima
safra3.

O período da safra foi identificado como sendo o momento de maior pressão sobre os equipamentos
de infra-estrutura municipal. Durante esses meses aumentam o número de habitantes, os atendimentos em
hospitais, o volume de lixo produzido, a quantidade de água utilizada, dentre outras demandas. Essas
modificações têm interferência em toda dinâmica urbana e exigem um rearranjo na rotina dos moradores
outrora acostumados com ambientes pacatos e tranqüilos. Do mesmo modo, requerem uma resposta dos
executivos municipais que são forçados a aumentarem a capacidade de investimento em decorrência dos
problemas ocasionados pela agroindústria canavieira. Os reflexos disso podem ser ilustrados pela declaração
de um secretário municipal:

Na época da safra temos uma grande pressão sobre os equipamentos de infra-estrutura. Para se ter
uma idéia, nossa média de lixo aqui no município é de 700 gramas/dia/habitante, quando chega o
período de safra isso dá um salto para mais de 1200. Já tivemos inclusive que ampliar nosso aterro
sanitário (Entrevista com representante da Secretaria de Agricultura Pecuária e Meio Ambiente –
Iturama/ MG, 28/11/2006).

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Essa mesma situação foi encontrada pelos citados pesquisadores nos municípios de Nova Alvorada do Sul e Rio Brilhante no
Sudeste de Mato Grosso do Sul.

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A deterioração das rodovias e estradas rurais é outro problema associado à atuação da agroindústria
canavieira. O peso excessivo transportado pelos caminhões que realizam o percurso campo-usina reduz os
custos de produção, ao mesmo tempo em que arruínam a malha asfáltica e as vias que fazem a ligação entre
comunidades rurais.

d) Impactos ambientais da produção de etanol a partir da cana de açúcar.

Os principais problemas ambientais ocasionados pela produção canavieira estão associados à:


destruição de áreas com vegetação nativa, contaminação de solos, nascentes e rios, poluição da atmosfera
pela queima de canaviais, destruição da biodiversidade, dentre outros mais. Os problemas ambientais mais
visíveis são as queimadas em canaviais, que acontecem em aproximadamente 80% das áreas plantadas. A
utilização dessa técnica reduz cerca de 80 a 90% o volume de palha da cana, ao mesmo tempo em que
facilita o corte manual, diminui os custos de transporte e compensa perdas de até 20% na safra.

A queima da cana-de-açúcar lança na atmosfera 64,8 milhões de toneladas de gás carbônico por ano.
Parte desses gases é reabsorvida pelos canaviais nos processos de fotossíntese e o restante polui a atmosfera,
contribuindo para o chamado “efeito estufa”. Já o ozônio não se dispersa com facilidade, prejudicando o
sistema respiratório dos seres vivos e o crescimento das plantas.

Pesquisa realizada desde 1988 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, na região de
Ribeirão Preto, mostra que a concentração atinge níveis inadequados (acima de 80 partes por bilhão por
volume de ar) nas épocas de queimadas. Os especialistas afirmam que as conclusões dessa pesquisa podem
ser extrapoladas para outras áreas canavieiras (Szmrecsányi, 1994; Urquiaga et al., 1998).
As conseqüências para o agroecossistemas são também nefastas; além de destruir a microbiota, as
queimadas diminuem a umidade e a porosidade dos solos, aumentando a compactação e, conseqüentemente,
a erosão. A lixiviação carrega grandes quantidades de nutrientes, mas a combustão também contribui para
esta perda; um canavial em chamas “exporta” 30-60 kg de nitrogênio e 15-25 kg de enxofre por hectare.
Esses nutrientes retornam ao solo, mas na forma de chuva ácida nociva aos vegetais. Considerando-se os
cerca de 3,5 milhões de hectares plantados com cana-de-açúcar, estima-se que, anualmente, 150 mil
toneladas de nitrogênio são perdidos pela combustão (Szmrecsányi, 1994; Urquiaga et al., 1998).
Desconhece-se a quantidade de fuligem que é lançada todos os anos na atmosfera, todavia se sabe
que, além de sujar as cidades, estas partículas contém substâncias cancerígenas. Os estudos são ainda
incipientes, mas já foi constatada a presença de 40 hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, compostos
orgânicos com efeitos mutagênicas e carcinogênicas. Dentre esses, 16 compostos são considerados
contaminastes ambientais prioritários pela agência de proteção ambiental norte-americana, US-EPA (Bohm,
1998; Silva e Froes, 1998).
As internações por problemas respiratórios aumentam consideravelmente durante a “safra” da
fuligem. Os quadros mais típicos variam entre uma simples inflamação das vias respiratórias até uma
infecção crônica. Alguns casos evoluem até a neoplasia, ou câncer. Já o monóxido de carbono emitido pelas
queimadas é bem menos prejudicial. Ao se ligar a hemoglobina do sangue este gás impede a troca de
oxigênio por dióxido de carbono provocando uma “asfixia celular sistêmica”. Intoxicações graves podem
ocorrer com indivíduos que permanecem em locais muito próximos aos canaviais em chamas. Esta
intoxicação não é cumulativa, isto é, ao cessar a exposição o organismo livra-se do gás e a oxigenação
celular normaliza-se (Bohm, 1998).

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Entretanto, áreas de reserva legal ilhadas em canaviais, animais da fauna nacional e populações
circunvizinhas aos plantios em geral arcam com todo o ônus socioambiental resultante dessa prática4.
Evidências desse tipo de ocorrência foram captadas durante a pesquisa realizada por Assis &
Zucarelli, (2007) e podem ser percebidas nos seguintes fragmentos:

A usina queima a cana ou no começo da noite ou quase amanhecendo, lá pelas cinco horas. Vem
muita sujeira com a queima da cana. Eles queimam em círculo, aí os bichos ficam lá no meio. Morre
tudo os coitadinho. Antes tinha capivara, daí deu de aparecer muitas mortas, queimada. Agora ocê
não vê mais nenhuma. Arara vermelha ocê não vê mais. Ocê vê, de vez em quando, umas azuis, mas tá
tudo sumindo (Entrevista com assentada rural/ Assentamento Água Vermelha - Iturama/MG,
26/112006).

Os animais silvestres estão fugindo para as cidades, todos com marcas de queimaduras. É arara,
maritaca, curicaca, siriema, lobo guará, cutia, capivara e até cervo do pantanal tem aparecido aí com
marcas de queimadura (Entrevista com representante de ONG local -Castilho/SP, 29/11/2006).

Aqui cê tem reserva legal que tá mergulhada no meio do canavial. Aí cada queimada que acontece vai
um pedaço da área que devia ser protegida. Cê num vê um passarim nessas áreas de cana é um
espaço intocável que envenena (Entrevista com representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
– Rio Brilhante/MS, 01/12/2006)

Em Nova Alvorada do Sul/MS os canaviais estão a menos de 20 metros das casas localizadas na
periferia da cidade. Na visão dos moradores desses bairros o período das queimadas representa graves
problemas que se traduzem em fuligem, fumaça, perigo de incêndio, aumento de doenças respiratórias,
aumento do calor e maior consumo de água. Do mesmo modo, essas dificuldades foram narradas por
habitantes de cidades canavieiras que estão a mais de 30 quilômetros de distância das áreas de plantio.
Assim sendo, percebe-se que as queimadas, além de representarem graves impactos ambientais, têm sido a
causa de vários problemas ocasionados à população dos municípios circunvizinhos às regiões canavieiras.

Segundo Assis & Zucarelli (2007) a ocorrência de desmates ilegais em áreas de novos plantios foi
outro problema relatado durante o trabalho de campo. Para a maioria dos entrevistados, o arrendamento de
terras tem provocado o aumento dos desmatamentos, uma vez que fragmentos de matas presentes nas
propriedades são derrubados para dar lugar à homogeneização dos canaviais. Em vários municípios foram
coletadas informações que indicam a prática de desmate ilegal e a supressão de matas ciliares:

A usina chega e acaba com tudo. De dia tá lá a Aroeira, o Buritizeiro e aqueles pedaços de mata. Aí
vem o preparo da terra. De noite tá tudo derrubado e enterrado (Entrevista com P. pequeno produtor
rural – Uberaba/MG, 26/11/2006).

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MATTOS & FERETTI FILHO, (2000) destacam os efeitos negativos das queimadas sobre os microorganismos presentes no
solo, bem como as ameaças às zonas remanescentes de vegetação nativa. Além disso, as queimadas em regiões de canaviais
ocasionam maior consumo de água, como confirmam dados do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto, onde ocorre
um aumento de 50% dos níveis de utilização durante a época da safra, tendo em vista que os habitantes são forçados a limparem
várias vezes os quintais, calçadas e roupas que se sujam em virtude da fuligem dispersa na atmosfera.

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As árvores que ficavam aí no meio das pastagens derrubaram tudo. Esses capãozinhos que tinham aí,
esses amontoado de árvore, já acabaram todos. De dia preparam a terra e de noite enterram as
árvores (Entrevista com assentado rural – Nova Alvorada do Sul/MS, 0412/2006).

Aqui mudou muita coisa, mudou as estradas, tirou as matas, não tem mais cerca. Anoitece eles
[trabalhadores da usina] ainda tão preparando a terra, amanhece já não tem mais árvore, tá tudo
enterrado. Aqueles troncos cumpridos de aroeira, eles abrem um buraco grande, um valão de 3 a 5
metros de fundura e enterram tudo. Dá dó. Os troncos grandes demais eles põe no caminhão e some
com aquilo. Se for um pequeno a polícia multa na hora, mas, os grandes ninguém vê (Entrevista com
comerciante local - Rio Brilhante/MS, 03/12/2006).

Percebe-se que a expansão da produção canavieira às novas zonas plantios traz consigo que o
preparo da terra seja seguido de derrubada das árvores, que são enterradas para obscurecer e dificultar a
fiscalização dos órgãos ambientais. A esse rol de impactos ambientais se junta a intensa utilização de
agrotóxicos, que associados aos desmates ilegais de matas ciliares têm contribuído para a contaminação de
rios e córregos. A partir dos trechos transcritos das entrevistas de campo realizadas por Assis & Zucarelli
(2007), pode-se notar que os moradores rurais relacionam a ocorrência desses problemas à introdução dos
plantios de cana, bem como focalizam uma diminuição no volume e na disponibilidade de água:

Avião que passa jogando veneno contamina tudo, a água, o milho e outros cultivos aí. Hoje em dia
tem muita gente morrendo de câncer. Antigamente, o povo todo da roça vivia mais de 90 anos. [...]
Nossas nascentes tão sumindo e os peixes morrendo por causa desses venenos que jogam na cana e
escorre pros córregos (Entrevista com B. pequeno produtor rural - Uberaba/MG, 26/11/2006).

Quando dá deles [usinas] molhar as cana, o córrego aí chega quase a secar. Num dá nem pra gente
dá o de beber pras criação (Entrevista com assentada rural – Assentamento Água Vermelha -
Iturama/MG, 26/11/2006).
Tem 30 anos que eu moro aqui. Nóis andava a pé. Fomos criado dentro daqueles córregos. Agora que
a cana chegou tá acabando tudo, os córregos tão secando tudo. Nem peixe tem mais (Entrevista com
morador da zona rural -Itapura/SP, 29/11/2006).

Segundo Jose Maria Ferradaz, pesquisador da Embrapa, não é de se espantar que em torno dos
agrotóxicos se desenvolvam as mais acesas polêmicas, quando se trata da relação entre agricultura e meio
ambiente. Em primeiro lugar, a magnitude dos interesses em jogo é gigantesca. Os gastos mundiais neste
segmento passaram de US$ 20 bilhões em 1983 para US$ 34,1 bilhões em 1998. Só no Brasil, entre 1970/71
e 2002/03, o consumo de agrotóxicos aumentou 439%, enquanto a produção agrovegetal cresceu em 326%.
Mas foi na última década do século que o consumo disparou. (Ver Figura 1).

10
Figura 1. Produção agrícola e consumo de fertilizantes no Brasil no período de 1970/71 a
2002/03.

Segundo Lopes, Guilherme e Silva (2003) a não correspondência entre o aumento do consumo do
fertilizante e o aumento da produção agrovegetal no Brasil se devem em primeiro lugar ao processo
intensificado de abertura dos solos de cerrado no Brasil, os quais, normalmente, levam 4 a 5 anos para
serem corrigidos, antes de passarem a responder em níveis adequados de produtividade e em segundo lugar
à necessidade de uma aplicação maior de adubos para a recuperação de áreas marginais do cerrado as quais
apresentam baixa fertilidade natural mas bom potencial produtivo.
Sendo que no ano de 2002 as culturas que mais se destacam no consumo de agrotóxicos foram: a
cana-de-açúcar e a soja com 0,195 e 0,138 toneladas por hectare respectivamente. Nessas lavouras, o
volume aplicado por hectare é relativamente baixo, mas o consumo global é extremamente elevado.
O que chama a atenção nestas informações é que, embora haja certa unanimidade na constatação de
que já é possível reduzir drasticamente ou mesmo eliminar o uso de agrotóxicos sem prejudicar a
produtividade das lavouras, o consumo não cessa de aumentar.
Ajuda a explicar o aumento do consumo, o fato de que a intensificação dos agrotóxicos não reduz
significativamente a incidência de pragas e de doenças. Ao contrário, entre 1958 e 1976 as principais
culturas brasileiras passaram a conviver com 400 novas espécies de pragas5. Dentre as principais causas
para essa multiplicação destaca-se a nocividade dos agrotóxicos aos inimigos naturais das pragas, o que
provoca desequilíbrios nos agroecossistemas, e a resistência que as pragas desenvolvem em relação a esses
produtos (Paschoal, 1979). Não se pode desprezar também o fato de as empresas produtoras de agrotóxicos
disporem de eficientes estratégias de marketing, veiculadas pelos meios de comunicação ou por vendedores
bem treinados. Estas estratégias atingem um contingente de agricultores muito superior ao alcançado pelos
órgãos públicos responsáveis pela extensão rural e pelas organizações não governamentais que atuam nessa
área.

5
Fenômeno similar ao ocorrido nos E.U.A. onde, em 1946, havia apenas 10 espécies de insetos e carrapatos resistentes aos
produtos organo-minerais. Em 1969, a resistência foi confirmada em 224 espécies de insetos e ácaros (Paschoal, 1979). Hoje,
cerca de 440 insetos e 70 fungos são resistentes aos agrotóxicos (NRC, 1989).

11
Além dos desequilíbrios ecológicos, desde os anos 70, tornaram-se muito mais freqüentes os casos
de contaminação dos recursos hídricos, dos solos, dos trabalhadores rurais e das cadeias alimentares,
incluindo o próprio homem (Shiki, 1984; Rüegg et al., 1986). Há estudos como o Relatório das Águas no
Brasil de 2003-2004 que revelou que nos últimos dez anos a contaminação das águas de rios, lagos e lagoas
tem se quintuplicado.
Sendo a principal fonte de contaminação, o despejo de material tóxico proveniente das atividades
agroindustriais e industriais, responsáveis por 90% do consumo das águas, devolvem-na à natureza
completamente contaminada. No caso das indústrias, o agravante está na falta de controle ambiental quanto
a geração, tratamento e destinação final de resíduos gerados no processo produtivo, normalmente
acumulados nas margens de cursos de água.
Segundo o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, José Maria Ferraz6 , a cana de açúcar é grande
consumidora de água, os gastos de água embutidos tanto na produção de cana quanto na do próprio etanol -
na produção de um litro de álcool gastam-se 13 litros de água, e ainda sobram 12 litros de vinhoto, Parte
desse subproduto é, acertadamente, aproveitada como fertilizante nas lavouras da cana-de-açúcar. Todavia,
se aplicado em excesso, pode provocar a salinização dos solos, devido aos elevados teores de sódio e
potássio, e a contaminação dos recursos hídricos, provocando a morte de peixes e de outros animais
silvestres, e o desequilíbrio da microbiota do solo (Shirota e Rocha, 1998).
Sendo assim, quando se analisa o preço de venda do etanol não se contabiliza esse gasto do consumo
de água, o que, do ponto de vista econômico, é uma grande desvantagem para o produtor, uma vez que a
água está se tornando um bem altamente valorizado e ao exportar o produto, o Brasil indiretamente estará
incrementando sua política de exportação de água.
Obviamente, perante essas constatações deve-se convir com Assis & Zucarelli (2007) que o atual
modelo de produção empregado pela agroindústria canavieira não coroa princípios mínimos de
sustentabilidade ambiental e/ou social. Nesse sentido, é inaceitável que a produção de uma energia tida
como limpa acarrete os inúmeros danos e impactos socioambientais como os anteriormente mencionados. A
esse respeito, há que se ter em mente a complexidade dos processos envolvidos na geração dessa energia e
não somente seu menor teor de poluição do ambiente, sobretudo, quando avaliamos os graves problemas
envolvidos na produção deste insumo, tais como: emprego de monoculturas, deslocamento de populações
rurais, pressão sobre a produção de alimentos, reconfiguração do espaço rural, destruição da vegetação
nativa, contaminação de solos, rios e nascentes, poluição atmosférica, enfermidades respiratórias, mortes
por excesso de trabalho e outros mais.

2. Analisemos os principais impactos da produção de biodiesel em função do crescimento do


agronegócio no Brasil.

Ao ser lançado, O Programa Nacional do Biodiesel previa-se a participação de 100 mil famílias até o
final de 2006, para isto foi assinado o Decreto n° 5.457/05 que criou o certificado de “Combustível Social”
e definiu níveis diferenciados de incentivos fiscais até a completa desoneração, de forma a estimular a
inclusão social e a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva. Para as regiões Norte e
Nordeste, a redução de algumas alíquotas pode chegar a 100% se a oleaginosa utilizada for a palma ou a
mamona plantadas por agricultores familiares e de 31% caso sejam provenientes de agricultura intensiva.

6
Ver. Verena Glass. Diante da fome e da escassez de água potável, o que significa plantar energia In: Carta Maior. Disponível In:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13631&editoria_id=3 Acessado 03/08/2007.

12
Já para as demais regiões, o desconto é de 68% para qualquer oleaginosa adquirida da agricultura
familiar. Esse Decreto estabelece ainda que para o produtor de biodiesel obter o “Selo Combustível Social”
será necessário comprovar a aquisição de percentuais mínimos de matéria-prima da agricultura familiar,
instituir regras de compra da produção com preços pré-fixados e assumir algumas prestações de serviços tal
como a assistência técnica aos agricultores. É somente de posse do “Selo Combustível Social” ou de um
projeto para sua obtenção que os empreendedores podem concorrer aos leilões públicos de compra do
biodiesel organizados pela Agência Nacional do Petróleo.

Segundo a Brasil Ecodiessel, sem esses incentivos nenhum empresário “em sã consciência”
compraria o produto de agricultores familiares do Norte ou Nordeste.

“Essas vantagens são absolutamente essenciais porque, na ausência delas, nenhum empresário em
sã consciência hesitaria um segundo entre usar dez tratores no Sul ou no Centro Oeste para produzir óleo
de soja ou fazer contratos de meação com mil famílias de assentados no Nordeste para produzir igual
volume de óleo de mamona”.
Brasil Ecodiesel, extraído de www.brailecodiesel.com.br

Segundo Schlesinger (2006), a frase deixa bem claro que se as vantagens passarem a valer também
para a soja, a agricultura familiar será deixada de lado ameaçando o aspecto social do Programa Nacional do
Biodiesel.

Na realidade, o que se percebe é uma concentração dos empreendimentos na região Centro-Sul do


país, concentração que impede a existência de uma diversificação de cultivos, haja vistas as especificidades
naturais encontradas em cada região do país. Nota-se que os incentivos fiscais diferenciados para as regiões
Norte e Nordeste não estão atraindo os investidores, uma vez que somente 6 das 23 usinas de biodiesel
autorizadas pela ANP foram instaladas nestas regiões (Ver Figura. 2 e Tabela 1 ). Nesse sentido, a
possibilidade de utilização da produção de soja, com preços em queda no mercado internacional, tem se
mostrado mais vantajosa e isso contribui para a formação de um mercado de grande escala alicerçado na
sojicultura. (Asis & Zucarelli, 2007).

Figura 2. Mapa das Unidades de Biodiesel no Tabela 1. Unidades de Biodiesel no


Brasil Brasil

REGIÃO EM AUTORIZADAS
CONSTRUÇÃO PELA ANP
OU
PROJETADAS
Norte 01 02
Nordeste 22 04
Centro-Oeste 16 07
Sudeste 22 07
Sul 14 03
TOTAL 75 23
Fonte: ANP, MDA, SIAM e Jornais Nacionais

13
Das 23 usinas que se credenciaram nos leilões da ANP para produzir biodiesel até o final de 2007,
12 têm a soja como única matéria-prima e outras 8 utilizam este grão mesclado à outras oleaginosas. Assim
temos um total de 20 empreendimentos dedicados à fabricação desse biocombustível através da soja, o que
representa quase 87% das unidades autorizadas pela ANP713. Mesmo as usinas projetadas para a região
Nordeste que tinham previsão de utilizar outras oleaginosas, já passaram a fazer uso da soja, a exemplo da
Brasil Ecodiesel que hoje apresenta os seguintes índices de matéria prima empregada na produção: 97,2%
de óleo de soja; 2,1% de mamona e 0,7% de algodão (FOLHA DE SÃO PAULO, 2006).
A consolidação da soja como matéria-prima principal para a elaboração do biodiesel traz consigo
um conjunto de impactos que a seguir se descrevem:

a) Impactos na ocupação territorial e na produção de alimentos.

Significa a aplicação de um modelo de produção que favorece a uma elite rural que já acumula
inúmeras vantagens, recebidas dos governos federais, estaduais e municipais, sendo uma delas a facilidade
de aquisição de terras públicas responsável pela criação de imensos latifúndios na Região Centro Oeste, que
explica em grande parte a origem da concentração de terras e da riqueza.
O estado de Mato Grosso (grande produtor de soja ) é um reflexo do anteriormente dito. No período
de 1985-1995/06 foram incorporadas aproximadamente 50% de novas áreas dedicadas à produção
agropecuária. Sendo que no ano de 1985 o número de estabelecimentos com menos de 50 hectares
“dedicados à atividade agropecuária” representavam 61% do total dos estabelecimentos do Estado já no ano
de 1995/96 equivaliam a 41% refletindo uma diminuição do 20% (Ver Tabela 2).
Enquanto que nesse mesmo período o número de estabelecimentos com mais de 5000 e 10000 mil
hectares e que representavam o 2% do total dos estabelecimentos do Estado cresceram em 66% e 17%
respectivamente (Idem ).
Por outro lado, em relação à área ocupada entre 1985 e 1995/96, os estabelecimentos menores de 50
hectares apenas ocupavam 1% do total das terras do estado, enquanto os estabelecimentos maiores de
10.000 hectares ocupavam 52% e 41% respectivamente. (Idem)
O exposto anteriormente revela o processo de concentração da terra, com grandes latifúndios que
retêm a maior parcela da terra e representam ao mesmo tempo um número bem reduzido de grandes
proprietários que por sua vez são os que detêm a maior parte da riqueza produzida no Estado.

7
Os cálculos foram elaborados por Assis & Zucarelli (2007) baseados em dados sobre as fontes oleaginosas utilizadas nas
unidades produtoras de biodiesel, que estão disponíveis nos sites da ANP, MDA e das próprias empresas.

14
Tabela 2. Número e área de estabelecimentos rurais segundo estratos em Mato Grosso, período
de 1985 e1995-96.

Fonte: Almeida Paula Luciana. Distribuição e Concentração da Posse de Terras no Estado de Mato
Grosso - uma análise dos censos de 1985 e de 1995-1996, segundo as mesorregiões geográficas. 2007. Trabalho não
publicado.

Deve-se destacar que no Estado de Mato Grosso, na atualidade, duas das principais microrregiões
produtoras de soja Alto Teles Pies e Pareceis no período analisado apresentaram um elevadíssimo nível de
concentração de terras medido pelo Índice de Gini8. (Ver Tabela 3)

Tabela 3. Índice de Gini nas microrregiões Alto Teles Pires e Parecis em Mato Grosso.

Microrregião Municípios Área Media Área Media Índice de Índice de


1985 1995/96 Gini 1985 Gini 1995/96
Alto Teles Pires 5 1931,44 923,13 0,907 0,938
Parecis 3 3024,71 1945,62 0,855 0,893
Fonte: (Idem)

O cultivo de soja no Brasil e no mundo aumentou vertiginosamente a partir dos anos 1990,
estimulado pelo aumento do consumo de seu farelo por animais criados em confinamento, sobretudo
frangos e porcos. Este foi o motivo que impulsionou o cultivo da soja e fez do Brasil o segundo maior
produtor e exportador mundial9 do produto, atrás apenas dos Estados Unidos.
O processo de esmagamento do grão transforma cerca de 80% do volume da soja em farelo e o
restante em óleo de soja bruto. Este último, uma vez refinado, é muito utilizado pela maioria da população
brasileira para cozinhar, faz-se gordura hidrogenada, margarina, lecitina de soja, tintas, cosméticos, produtos
farmacêuticos e medicinais, entre outros. A produção de biodiesel é o mais recente destino comercial; o

8
Mede o nível de concentração, o valor do índice varia de 0 a 1 sendo que quanto mais perto de 1 maior o grau de concentração.
9
Um em cada três quilos de soja comercializada no mercado internacional é brasileira. A produção nacional aumentou quatro
vezes, saltando de 12,1 milhões de toneladas em 1976/1977 para mais de 50 milhões de toneladas a partir da safra 2004/2005,
segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

15
interesse que hoje recai sobre o farelo de soja pode se inverter, a partir da entrada desta oleaginosa no
mercado do biodiesel: o óleo bruto da soja, atualmente um subproduto, passará a valer mais, podendo até
mesmo ser mais lucrativo do que o farelo.

Por atrás deste programa de biodiesel do Brasil está embutida a idéia de fazer com a soja o que já é
feito com a cana-de-açúcar, ou seja, através de uma mesma matéria-prima cultivada em latifúndios produzir
uma gama diversificada de mercadorias podendo obter maiores lucros dependendo da demanda de mercado.
Isso pode ser evidenciado no pronunciamento do presidente Luís Inácio Lula da Silva durante a inauguração
de obras no Mato Grosso:

[...] para os produtores de soja vai ser uma colher de chá extraordinária, porque a soja tem o preço
controlado pelo mercado internacional, às vezes aumenta, às vezes cai. Na hora em que a gente
introduzir a soja no óleo diesel, o que vai acontecer? Na hora em que o preço lá fora estiver pequeno,
a gente produz mais biodiesel, na hora em que o preço lá fora estiver bom, a gente vende por um
preço melhor e a gente vai garantir, numa regulagem de mercado, como a gente regula hoje o álcool
e o açúcar (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2006).

Portanto a preocupação é que o incentivo à produção de biocombustíveis estimule a ampliação do


cultivo de soja nas mesmas condições verificadas nos últimos anos, ou seja, a partir da expulsão de
pequenos agricultores, trabalhadores do campo e povos indígenas; da violação dos direitos humanos e
trabalhistas; da destruição ambiental; da concentração da terra e da renda.

b) Impactos no emprego

Segundo o trabalho de Balsadi (2002) a soja é a segunda cultura que menos necessita de braços para
que seja produzida. Por outro lado, é a cultura com maior área plantada, correspondendo a 28,4% da área
total e responsável pela absorção de somente 5,8% da mão de obra na produção agrícola no ano da pesquisa.

A região centro-oeste, apesar de ser uma das maiores produtoras de grãos do Brasil é a que menos
demandava trabalho humano em 2000, isso porque as principais culturas desta região “apresentam sistemas
de produção baseados em grandes propriedades, com elevadíssimos níveis de mecanização das operações de
cultivo” (BALSADI et al., 2002, p.26). O(s) autor(es) ressaltam que a mecanização se deve principalmente
ao caráter competitivo da agricultura, visando maior produtividade e que o processo de mecanização exige
um novo perfil do trabalhador rural, pois a operação das máquinas agrícolas exige cada vez mais preparação
dos operadores.

c) Impactos ambientais da produção de biodiesel a partir da soja.

As áreas de expansão do cultivo, como já foi dito anteriormente, se concentram na Amazônia e no


Cerrado, dois dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta. Suas florestas, suas águas, seus animais,
seus povos tradicionais e sua cultura estão sendo impactados pela soja.
Douglas Morton (2006), especialista em sensoriamento remoto da Universidade de Maryland,
publicou um estudo na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA (www.pnas.org), na qual
derruba dois argumentos comuns dos defensores do programa do biodiesel à base de soja com o intuito de
dissociar a atividade da fama de vilã da floresta. O primeiro é que a soja só faz ocupar áreas previamente
desmatadas para pastagem e abandonadas pelos pecuaristas -os dados mostram que isso acontece, sim, mas
não é suficiente para explicar toda a dinâmica do desflorestamento. O segundo é o de que as variações do

16
preço do grão só se refletirão nas taxas de desmatamento dois ou três anos adiante, porque a conversão de
floresta para lavoura leva tempo. O trabalho demonstrou que mais do 90% das aberturas para agricultura
foram plantadas no primeiro ano após o desmatamento. (Folha de São Paulo, 05/09/ 2006)
Cruzando imagens de satélite com levantamentos em campo, Morton estimou em 5.400 quilômetros
quadrados o total de floresta convertida diretamente para grãos em Mato Grosso de 2001 a 2004. No ano de
2003, quando o preço da soja no mercado internacional atingiu seu pico, a conversão direta para lavoura
representou quase um quarto de tudo o que se desmatou no Estado campeão da devastação da Amazônia.
(Ver Figura 3 e 4).
Para quem gosta de números, é quase um Distrito Federal onde a soja substituiu a floresta
diretamente -sem contar o efeito conhecido do grão de "empurrar" a fronteira agrícola indiretamente,
estimulando a pecuária a ocupar novas áreas. Nesse período, Mato Grosso desmatou 38 mil quilômetros
quadrados, ou 3,5 Jamaicas, 40% de tudo o que se perdeu de floresta na Amazônia.(Idem)

Figura 3. O efeito da soja no desmatamento Figura 4. Mapa das áreas criticas do


em Mato Grosso, de 2001-2004. desmatamento na Amazônia Mato-grossense.

Fonte:

Fonte: PNAS Fonte: IMAZON

Ou seja, através do trabalho de Morton (2006) consegue-se diferençar desmatamentos para pasto e
para lavoura, verificando-se que as áreas dedicadas ao plantio da soja eram duas vezes maior que as abertas
38097 23463
para pecuária { = 339 hectares contra = 143 hectares em media} o que demonstra que
5770 + 5463 16370
existe uma forte correlação do preço da soja com a taxa anual de desmatamento (Idem).
O estudo destaca uma queda de 12% na conversão de floresta para pasto, enquanto a de floresta para
lavoura cresceu 10% no período. Durante o período de 2001-2004 Morton acompanhou as emissões de
carbono após o desmate, chegando à seguinte conclusão: o avanço do agronegócio capitalizado e
mecanizado sobre a floresta está agravando o efeito estufa. Mostrando que no caso da conversão da
floresta para produzir grãos, as emissões acontecem todas de uma vez -já que a lavoura mecanizada não
admite "sujeira" e o seqüestro de carbono por rebrota é zero. Trata-se segundo o autor de uma redução
completa da biomassa em no máximo quatro anos. (Idem)

17
Isto de fato desmistifica aquela idéia que até então os cientistas compartilhavam em relação às
emissões de carbono, acreditava-se que as mesmas eram emitidas mais lentamente, pela decomposição de
tocos e raízes numa área desmatada e que parte dele voltasse ao solo por rebrota de parte da floresta em
áreas transformadas para pasto.
Segundo Schlesinger (2006), um dos fatores de estímulo ao agronegócio no Brasil – que agora ganha
novo impulso com a finalidade de produzir biodiesel – é “a disponibilidade” de água doce no país, um
produto caro e em extinção nas nações desenvolvidas incluída a China10 onde os rios e lençóis freáticos
estão tão contaminados que não permitem mais o crescimento da agricultura local. Mas o mau uso dos
recursos hídricos nas plantações de soja, etc. põe em risco o abastecimento futuro de água também no
Brasil, especialmente por causa da expansão da monocultura.
A Organização das Nações Unidas (ONU), destacou que para o ano de 2025, um em cada três países
do mundo terá seu desenvolvimento freado pela falta de água. Sendo assim o Brasil precisa se cuidar, pois
tem um dos maiores índices de desperdício 11 do mundo.
Para se ter uma idéia do volume de água exportado indiretamente analisemos as exportações
brasileiras de soja à China. O gigante asiático comprou 18 milhões de toneladas de soja em 2004, não
apenas do Brasil. Para que toda essa quantidade fosse colhida, os países produtores gastaram em suas
plantações cerca de 45 km3 de água doce12. Assim, indiretamente, a China “comprou” essa quantidade de
água embutida na soja. (Ver figura 5)

Figura 5. Exportação Virtual de água através da cultura da soja.

Fonte: Vânia Rodrigues. Água virtual: a água que consumimos sem ver. In:
www.aesabesp.com.br/artigos_agua_virtual.htm. Acesso 4/09/2007.

Devemos ressaltar que precisamente a soja13 é uma das culturas oleaginosas que apresenta menor
balanço energético 14, aproximadamente 3, (isto é, por cada quilocaloria gastada de “energia fóssil” na
produção do biodiesel obtém-se 3 quilocaloria na forma de soja). Isto significa que na atualidade, dados os
elevados graus de consumo energéticos da agricultura procedentes de combustíveis fósseis, ainda que esta
eficiência energética seja superior à unidade, trata-se simplesmente de “trocar”, por exemplo, 1 tonelada de
petróleo (energia não renovável) pelo equivalente de 3 toneladas de petróleo em soja obtido a partir da
biomassa. Portanto, segundo Carpintero (2006), o ponto mais débil no desenvolvimento da agroenergia à
10
Principal país importador mundial de soja, seguido da União Européia e do Japão. Entre 1994 e 2005, sua demanda de farelo
cresceu mais de 15% ao ano.
11
Em Israel são empregados 600 m³ de água para irrigar um hectare por ano. No Nordeste Brasileiro são utilizados 18.000 m³, ou
seja, 30 vezes mais.
12
Esta quantidade é igual a quase dois terços de toda a água usada para consumo humano no mundo inteiro.
13
A soja é uma oleaginosa cujo óleo representa somente 18% do grão, bem abaixo do amendoim (50%), da mamona (47%), da
palma (45%), do girassol (45%), do pinhão manso (37%) e do nabo forrageiro (36%)
14
Entendido como a relação entre (Energia contida no combustível / Energia fóssil usada para produzi-a).

18
base dos biocombustíveis nomeados “limpos” é a sua dependência dos combustíveis fósseis, o que significa
que em definitiva o processo apresenta como resultado final um pequeno aumento do rendimento do
petróleo.
Mesmo assim, os grandes empresários da soja esperam que essa cultura seja a responsável por 90%
da matéria prima utilizada na produção de biodiesel. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria
de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, a rainha do biodiesel será a soja e para que isso aconteça, ele
vê a necessidade de aumentar em 5 milhões de hectares15 a área de plantio da soja no Brasil.
Estes fatos contrariam os objetivos do Plano Nacional de Biodiesel que visavam garantir ao
agricultor familiar a possibilidade de geração de renda e de permanência no campo, pois através do cultivo
de múltiplas oleaginosas seria possível não apenas inserir o agricultor familiar no PNPB, mas também
diminuir a dependência de uma única matéria-prima sujeita às leis de mercado e às intempéries naturais.
Assis & Zucarrelli (2007) corroboram o anteriormente dito, ao perceber e coletar indícios de que os
mecanismos de controle e fiscalização do “Selo Combustível Social” não estão sendo capazes de impedir
que a produção da agricultura familiar seja utilizada apenas como fachada para a obtenção dos incentivos
fiscais. Os agricultores entrevistados na região de Cássia/MG afirmaram que a usina realiza a “compra de
papéis” que comprovam a entrega do produto de origem familiar, mas de fato abastece sua produção com
matéria-prima advinda de monocultivos realizados na região Centro-Oeste do país. Como revelam os relatos
(colocados por eles) e que a seguir se colocam:

Eu ia fazer um contrato com a usina pra entregar minha produção de nabo, mas quando fui ver o
contrato era datado de 2003 e ia até 2007, aí eu não topei assinar. Como é que eu vou assinar uma
coisa de tempo passado? A gente já tava em 2006 e o contrato era lá de 2003. Quando perguntei na
prefeitura me falaram que era um erro de data (Entrevista com A. pequeno produtor rural –
Cássia/MG, 24/ 11/2006).

Eu não vendo pra usina só no papel não, mas é isso que tá acontecendo aqui na região (Entrevista
com Z. pequeno produtor rural – Cássia/MG, 24/11/2006).

[...] O que tem acontecido aqui na região é que a pequena produção tá sendo utilizada pra justificar o
selo social, mas a usina não se interessa em saber como está a condição de produção da oleaginosa
(Entrevista com técnico da EMATER - Cássia/MG, 23/11/2006).

Por outro lado, as entrevistas realizadas por Assis & Zucarelli (2007) evidenciaram uma grande
frustração por parte daqueles pequenos produtores que investiram na lavoura do nabo forrageiro:

Eu até plantei o nabo no primeiro ano, mas acho que fica difícil dessa cultura ir pra frente porque
acaba competindo com outros produtos que rendem mais (Entrevista com Z. pequeno produtor rural –
Cássia/MG, 23/11/ 2006).

Os custos de plantio e colheita não foram compensados pelo rendimento do nabo forrageiro. Isso
afastou o pequeno produtor que aqui na região está inserido em outras atividades. [...] Em alguns
casos o pequeno produtor sequer colheu o nabo porque os custos do processo não compensavam. A
produção foi oferecida à usina que mesmo dispensada de outros custos não realizou a colheita
(Entrevista com técnico da EMATER - Cássia/MG, 23/11/2006).

15
Este acréscimo é igual à área hoje ocupada pelas lavouras de cana-de-açúcar no Brasil. De soja, já são 22 milhões de hectares, o
equivalente a cinco vezes e meia o tamanho da Holanda.

19
No início [2005] as pessoas estavam empolgadas com a usina. Eram sessenta produtores no
município que plantaram cerca de 500 hectares. Hoje [2006], na segunda safra, seis plantaram, mas
só dois entregaram a produção (Entrevista com Diretor da EMATER em Cássia/MG, 23/11/2006).

Os problemas ocorreram justamente por falta de subsídios aos agricultores familiares, inicialmente, a
usina em parceria com a prefeitura ofereceu o maquinário para o preparo da terra e plantio, ficando
a colheita a cargo dos produtores. Todavia, na segunda safra foram retirados todos os incentivos
concedidos (Entrevista com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cássia-MG,
23/11/2006).

Da maneira como foi instituído o biodiesel aqui na região vai favorecer somente o médio e o grande
produtor, pois, a cultura tá mais voltada pro agronegócio. A atividade em si é antieconômica para o
pequeno produtor, mas pode funcionar em termos de benefícios para a terra (Entrevista com técnico
da EMATER –Cássia/MG, 24/11/2006).
Por enquanto, o que se percebe é uma plena frustração dos agricultores familiares quanto a sua real
participação no PNPB. A esse respeito, merece destaque a afirmação de um pequeno agricultor de
Cássia/MG que na esperança de aumentar sua renda cultivou na sua propriedade 4 hectares de nabo
forrageiro:

“Tudo começa no pequeno e termina na mão do grande” (Entrevista realizada em 24/11/2005).

Essa frase sintetiza o que vem ocorrendo no processo de implantação do biodiesel. A agricultura
familiar não está sendo inserida nem mesmo na etapa elementar do Programa, ou seja, no fornecimento de
matéria prima. Assim sendo, os grandes produtores de soja estão assumindo um mercado que é propalado
como sendo o locus da inclusão social dos pequenos agricultores.
Devemos ressaltar e desmistificar o argumento dos defensores dos biocombustíveis de que o Brasil,
para satisfazer as necessidades mundiais de etanol e biocombustíveis, não precisa desmatar absolutamente
nenhum hectare do seu território.Citem-se as palavras da senhora Thelma Krug Secretária de Mudanças
Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente:

(...) Uma coisa adicional que eu digo é que não se pode imaginar desmatamento zero. Todos nós
temos o direito de buscar o desenvolvimento e reduzir impactos no meio ambiente. Esse é o papel do
Estado. Antes de assumir, eu perguntei à ministra: até quanto [de desmatamento por ano] a gente vai
poder chegar para assegurar os nossos planos de desenvolvimento: 5 mil, 10 mil quilômetros
quadrados? Há três anos, eram desmatados 28 mil quilômetros quadrados, agora estamos a 14 mil.
(...)
A resposta foi: (...) Não sabemos. Precisamos realmente sentar e projetar obras de infra-estrutura.
(FOLHA DE SÃO PAULO, 04/06/2007).

Por último, chama grandissimamente atenção que os defensores do modelo brasileiro de produção de
biocombustíveis não explicitem nem tenham elaborado o mapa de como vai ser distribuída a renda e/ou a
riqueza gerada pelos biocombustíveis em termos de recursos dedicados à saúde, educação, segurança
pública e infra –estrutura social: pilares do verdadeiro desenvolvimento sustentável. Lembremo-nos de que
a renda pessoal está distribuída de maneira tão desigual no mundo que, segundo o estudo publicado pelo
Instituto de Desenvolvimento Econômico da Universidade das Nações Unidas (World Institute for
Development Economics of the United Nations University, UNU-WIDER), o 1% e o 10% da população

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adulta mais rica do mundo detinha o 40% e 85% dos ativos mundiais respectivamente no ano 2000. Em
contraste, o 50% da população adulta mais pobre do planeta detinha apenas 1 % da riqueza de mundo.

Para integrar o 1% de adultos mais ricos do planeta, uma pessoa precisaria deter patrimônio superior
a US$ 500 mil, algo que 37 milhões de adultos conseguiram. Percebe-se, nos gráficos 1 e 2, que a riqueza
mundial está tão concentrada nas mãos de tão poucas pessoas que, se a renda mundial fosse distribuída de
maneira eqüitativa, cada pessoa disporia de ativos da ordem de US$ 20,5 mil.
Quase 90% da riqueza do mundo está sob o controle de moradores da América do Norte, Europa e
dos países de renda elevada na região Ásia-Pacífico, como o Japão e a Austrália. A concentração de renda
nos países varia de maneira considerável sendo que nos EUA moram 6% da população adulta mundial e
possuem 34% da riqueza mundial. Europa e os países de altos ingressos na área da Ásia-Pacifico também
apresentam uma riqueza desproporcional. Por outro lado, a participação da população adulta (da África,
China, Índia e os outros países pobres) da riqueza é consideravelmente menor em relação à população. (Ver
gráfico 1 e 2)

Gráfico 1. Participação da riqueza regional (%) Gráfico. 2. Participação da riqueza e população por
região

Fonte:
Fonte: World Institute for Development Economics of Fonte: World Institute for Development Economics of the
the United Nations University, UNU-WIDER, 2006 United Nations University, UNU-WIDER, 2006

Assim, quando o governo diz que pretende exportar a tecnologia de produção de etanol e o
biocombustíveis para os países da África e América Central, certamente também está incluindo no modelo
de produção: a) o desmatamento para dar lugar a novas plantações de cana ou soja, b) a expulsão de
pequenos agricultores de suas terras, às vezes com o uso da violência gerando conflitos rurais, c)
concentração de terras e da renda nas mãos de latifundiários, d) utilização elevada de agrotóxicos e
outros agroquímicos, e) contaminação dos solos, rios, lençóis freáticos e nascentes, devido aos desmates e à
elevada quantidade de produtos químicos utilizada em áreas de monoculturas; e f) pobreza rural e urbana,
porque além de expulsar os pequenos agricultores de suas terras, a monocultura quase não gera emprego,
assim, sem opção, muitos camponeses se deslocam para as periferias das cidades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho coincide plenamente com as observações feitas por Victor Bronstein, em relação ao que
representaria para o resto dos países a reprodução do modelo brasileiro de produzir biocombustíveis (seja
etanol ou biodiesel) como tentativa de substituir o consumo de energia fosseis para “salvar” o meio
ambiente e o planeta.
Percebe-se que não é verdade que os biocombustíveis constituem uma fonte de energia renovável e
perene visto que o fator crucial para o crescimento das plantas não é a luz solar e sim a disponibilidade de
água e das condições apropriadas de solo, caso contrário poder-se-ia produzir cana de açúcar, milho, soja,
colza, etc, no deserto de Saara. Isto nos leva a considerar que o efeito da aplicação do modelo brasileiro de
produzir biocombustíveis em escala planetária terá efeitos devastadores no meio ambiente.
Como analisado no trabalho, a produção de biocombustíveis no Brasil também: a) contamina a
superfície e provoca erosão do solo, b) contamina a água com produtos químicos, herbicidas, pesticidas etc;
c) polui o ar com substâncias que apresentam efeitos cancerígenos, ou seja, o suposto de que os
biocombustíveis são “verdes e limpos” é uma falácia.
Longe do que argumentam os defensores do modelo brasileiro, ditos biocombustíveis não nos
liberam do uso dos combustíveis fósseis, pois a produção dos mesmos exige o uso intensivo de maquinaria
pesada, transportes, herbicidas e pesticidas, o que se reflete num aumento do consumo do petróleo e seus
derivados.
Apesar da tão comentada eficiência ou rentabilidade energética do etanol (positiva ou negativa
dependendo das formas e dos itens que são incluídos na sua contabilização ou registro) devemos coincidir
com Bronstein em que uma das razões pelas quais o mundo consume cada vez mais petróleo é porque o
“ouro negro” contém uma alta de retorno energético quando comparada com os outros carburantes. Ou seja,
não há no mundo outra fonte de energia que possua tanta energia por unidade de volume e de peso como o
petróleo.
Assim, a transferência do modelo brasileiro de produzir biocombustíveis a outros países provocará
aumento nos preços dos alimentos, diminuirá a fertilidade do solo e não solucionará o problema energético
mundial provocado pelo alto consumo energético dos países desenvolvidos e a entrada da China e a Índia à
“civilização mundial”.
Não resta dúvida de que a imposição de cultivos orientados a produzir biocombustíveis no Sul
Global fará que grandes áreas de cana de açúcar, soja, palma africana, coloquem em xeque as florestas e
pastagens em países como Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai, Honduras, Guatemala, El Salvador etc; até
porque existe um fator limitante, mesmo no Brasil, que é a terra. A cana expulsa a pecuária e outras
culturas, como a soja, que são empurradas para regiões de fronteira, portanto, se a produção de
biocombustíveis for levada à escala global, será necessário desmatar a floresta.
Isto nos remete à análise da questão ética dentro do modelo de produção de biocombustíveis no
Brasil, quer dizer, "a questão de fundo é saber se as terras do planeta se destinarão preferencialmente a
atender aos cerca de 800 milhões de proprietários de automóveis, ou à garantia da segurança alimentar
mundial".
Devemos destacar que os defensores do modelo brasileiro de produção de biocombustíveis têm em
mira a reprodução do mesmo em países de África e da Ásia, em que, segundo estatísticas da ONU, 1 bilhão
de pessoas sofre de fome crônica e má nutrição, e 24 mil morrem diariamente de causas relacionadas a esses
problemas - entre estes, 18 mil são crianças -. Portanto, além de se decidir a que se destinarão as terras, é
preciso se saber se o Sul (incluído o próprio Brasil) continuará a desempenhar o papel de fornecedor da
matéria prima necessária para possibilitar aos países desenvolvidos manter seu padrão de consumo.

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Perante tais desafios, os governos deverão ter consciência clara de saber “escolher” que tipo de
desenvolvimento se quer para um futuro verdadeiramente sustentável: aquele como o modelo brasileiro
de produzir biocombustíveis com fundo e mentalidade nitidamente lucrativa associados a interesses
imperiais com forte viés de destruição ou um modelo alternativo que permita cuidar e utilizar racionalmente
os recursos limitados visando, também, o usufruto das gerações futuras, preservação do meio ambiente e da
biodiversidade.

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