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UNIDADE 3
UNIDADE 4
3
Epistemologia Genética: uma Objetivos dESTA unidade:
Compreender o processo
de construção do
conhecimento, segundo
Reconhecer a
contribuição de Piaget
para o entendimento
• Piaget e sua epistemologia genética. do desenvolvimento
afetivo, moral e social
da criança.
• A construção do conhecimento.
78 FILOSOFIA
Piaget e sua epistemologia genética
C
aro educando, nesta unidade você vai conhecer a teoria de
Jean Piaget, que se considerava um biólogo por formação,
um psicólogo por necessidade e um epistemólogo por opção.
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pesquisa. O sujeito é, então, na perspectiva de Piaget, o sujeito
epistêmico: o sujeito cognoscente (KESSELRING, 1997).
82 FILOSOFIA
Tanto sua visão de desenvolvimento como de aprendizagem
apoiam-se na ideia da interação. O conhecimento surge da
interação contínua entre sujeito e objeto, interação que se dá
entre esquemas de assimilação e propriedades ou qualidades do
objeto de conhecimento (LAROCCA, 2002).
Fatores do desenvolvimento
84 FILOSOFIA
Para Piaget
86 FILOSOFIA
Piaget explica que a equilibração constitui-se como um processo muito
geral de oposição e reação às perturbações exteriores, mais precisamente
pela estabilização de sistemas de compensação. Assim explicita:
Este fator de processo biológico faz com que o sujeito regule suas
trocas com o meio e garanta sua sobrevivência. Existindo os outros
três fatores, é necessário que se equilibrem entre si. Para Piaget
a palavra ‘equilíbrio’ não está empregada num sentido estático,
A
teoria de Piaget é também conhecida como construtivismo.
Segundo Becker (1993, p.89), construtivismo significa:
Isso quer dizer que o sujeito, ao interagir com o meio e com outras
pessoas, para se apropriar das trocas que faz, precisa reorganizar essas
ideias transformando-as em algo seu, fazendo sua própria construção.
O estágio sensório-
conta, ao vir para o mundo: os reflexos, os órgãos dos sen-
motor se caracteriza tidos e a capacidade motora. O período senso-motor segue
como o período da
inteligência prática, do zero a aproximadamente 24 meses de vida da criança,
ou seja, o bebê
para conhecer o representando “a conquista, através da percepção e dos mo-
mundo utiliza-se da
percepção, da ação vimentos, de todo o universo prático que cerca a criança”
e do movimento.
Os esquemas de (RAPPAPORT, 1981, p.66).
ação constituintes
desta fase servem
de subestruturas
às estruturas
posteriores (PIAGET, Os primeiros esquemas sensório-motores irão permitir à criança
1970).
organizar os estímulos ambientais de modo que os esquemas
de ação constituintes desta fase servem de subestruturas às
estruturas posteriores (PIAGET, 1970).
90 FILOSOFIA
No início, a criança não diferencia o próprio eu do mundo
exterior. Com a interação com o meio, irá ocorrer, aos poucos,
um processo de diferenciação que a levará a perceber-se como
um ser entre outros seres e objetos que existem ao seu redor.
Por volta de um ano, por exemplo, a criança já será capaz de
perceber que um objeto continua a existir para além do seu campo
visual. Essa noção é a permanência do objeto. Outras noções
básicas também são construídas neste período: a construção do
espaço, pois passa a perceber que existem outros espaços, além
do imediato; a construção da noção de tempo, percebendo que
existem séries temporais, que alguns acontecimentos se sucedem
com regularidade; a construção da noção de causalidade, através
da qual percebe relações entre eventos causa e eventos-efeito.
92 FILOSOFIA
Crianças pré-operatórias ainda não construíram as noções de
conservação e invariância, por isso julgam pelo que veem. Se
colocarmos em frente a elas um copo baixo e largo com uma certa
quantidade de água e a despejarmos toda em um copo fino e alto,
a criança julga que o copo fino e alto contém mais água, pois não
consegue perceber que a quantidade de água não foi alterada.
94 FILOSOFIA
operações mentais que seguem os princípios da lógica formal, o que
lhe dará, sem dúvida, uma riqueza imensa em termos de conteúdo
e de flexibilidade de pensamento. Com isso, adquire capacidade
para criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta;
discute os valores morais de seus pais e constrói os seus próprios
(adquirindo, portanto, autonomia); torna-se capaz de aceitar
suposições pelo gosto da discussão; faz sucessão de hipóteses que
expressa em proposições para depois testá-las; procura propriedades
gerais que permitam dar definições exaustivas, declarar leis gerais
e ver significação comum em material verbal; os seus conceitos
espaciais podem ir além do tangível finito e conhecido para
conceber o infinitamente grande ou infinitamente pequeno; torna-
se consciente de seu próprio pensamento, refletindo sobre ele a fim
de oferecer justificações lógicas para os julgamentos que faz; lida
com relações entre relações etc. (RAPPAPORT,1981, p. 74).
P
iaget explica que a afetividade e a cognição são dois
processos que acontecem interligados, que são mesmo
inseparáveis. Assim se posiciona:
98 FILOSOFIA
social tanto em relação às atitudes como também nas normas e
regras que deve seguir, atendendo determinados valores.
100 FILOSOFIA
Para Piaget, ter assegurado o direito à educação significa ter
oportunidades de se desenvolver, em todos os aspectos, tanto do
ponto de vista intelectual como social e moral.
Isto significa que, para ele, educar é mais que transmitir conteúdos,
passar informações, consiste em dar possibilidades a cada pessoa
de desenvolver ao máximo suas potencialidades, transformando-
as em realizações efetivas e produtivas.
102 FILOSOFIA
SÍNTESE
Nesta unidade vimos que Jean Piaget passou a vida toda pesquisando
para responder às seguintes questões: Como o ser humano elabora
seus conhecimentos? Como aumentam e se ampliam os nossos
conhecimentos?
104 FILOSOFIA
4 Copie o quadro e complete os dados que faltam, de
cada estágio, segundo Piaget.
ESTÁGIO FAIXA ETÁRIA CARACTERÍSTICAS
Sensório-motor
2 a 7 anos
As operações
mentais
necessitam da
sustentação das
ações concretas
12 anos
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unidade
4
ObjetivoS dESTA unidade:
Concepção Sócio-Histórica de
Estabelecer as relações
Vygotsky e suas Implicações entre os conceitos e as
implicações pedagógicas
Educacionais na abordagem
vygotskyana;
Reconhecer a
importância da
linguagem no processo
de desenvolvimento e
aprendizagem do aluno;
ROTEIRO DE ESTUDOS
Compreender o
processo de formação
de conceitos sob a
• A formação social da mente: conceitos vygotskyanos. perspectiva de Vygotsky.
• A formação de conceitos.
pAra início de conversa
108 FILOSOFIA
A formação social da mente: conceitos
Vygotskyanos
N
ascido em Orsha, na Bielo-Rússia, em 1896, Lev Semenovich
Vygotsky teve um percurso acadêmico marcado por
uma diversidade de temas: artes, linguística, literatura,
antropologia, filosofia, ciências sociais, psicologia e medicina. Iniciou
sua carreira aos 21 anos, em Gomel, logo após a Revolução Russa,
em 1917. Lecionou literatura e psicologia. Mais tarde, em Moscou,
fundou o Instituto de Defectologia, tendo dirigido o Departamento
de Educação para Deficientes Físicos e Retardados Mentais.
• As funções
psicológicas têm um
suporte biológico,
pois são produtos da
atividade cerebral.
• O funcionamento
psicológico
fundamenta-se nas
relações sociais entre
o indivíduo e o mundo
exterior, as quais se
desenvolvem num
processo histórico.
• A relação homem/
mundo é uma relação
mediada por sistemas
simbólicos.
O processo de internalização da cultura pelo sujeito
110 FILOSOFIA
Os processos psicológicos superiores consistem, assim, em
ações conscientes e controladas, atenção voluntária, pensamento
abstrato, memória ativa e comportamento deliberado. Para
o desenvolvimento dos processos superiores, a existência de
processos elementares é condição necessária, mas não suficiente.
112 FILOSOFIA
pensamento infantil, amplamente guiado pela
fala e pelo comportamento dos mais experientes,
gradativamente adquire a capacidade de se
autorregular. Por exemplo, quando a mãe mostra a
uma criança de dois anos um objeto e diz “a faca
corta e dói”, o fato de ela apontar para o objeto
e de assim descrevê-lo provavelmente provocará
uma modificação na percepção e no conhecimento
da criança. O gesto e a fala maternos servem como
sinais externos que interferem no modo pelo qual
o menino ou a menina age sobre o seu ambiente.
P
ara se relacionar com o mundo que o cerca, o ser humano
conta, a partir do momento em que nasce, com a mediação
de outras pessoas. Para Vygotsky (1989), o caminho do objeto
até o aprendiz e deste até o objeto passa através de outra pessoa,
implicando que, pela mediação do outro, a criança, desde cedo,
aproprie-se dos significados socialmente construídos na cultura.
114 FILOSOFIA
Vemos, então, que, para Vygotsky, os signos são análogos aos
instrumentos ou ferramentas de trabalho, pois desempenham
o mesmo papel de transformação na natureza. Porém, ele os
caracteriza como instrumentos psicológicos, uma vez que são
criações da cultura humana que se dirigem para o mundo interno
do próprio homem, como meio auxiliar na resolução de problemas.
116 FILOSOFIA
Mediante o exposto, você pode concluir que a mediação dos signos
modifica as formas de agir, pensar, sentir e querer. Através dos
signos, os sujeitos adquirem controle do próprio comportamento a
partir dos significados compartilhados na cultura, tornando seu, ao
mesmo tempo em que (re)cria, o mundo à sua volta.
118 FILOSOFIA
Vygotsky disse que o único bom ensino é aquele que se adianta ao
desenvolvimento. Com esta afirmação, ele valorizou sobremaneira
a intervenção pedagógica: as instruções dadas pelos professores,
as demonstrações, a assistência oferecida aos alunos na resolução
de problemas, o fornecimentos de pistas e indicativos. Para ele, o
que o sujeito consegue fazer com a ajuda de alguém, amanhã ele
fará por si só.
A
matéria-prima do trabalho docente é o que chamamos de
“conceito”. No dicionário, a expressão conceito corresponde
à formulação de uma ideia por meio de palavras, quer dizer,
uma definição. Os conceitos não nascem prontos em nossas mentes,
nem ficam armazenados nela, no dizer de Vygotsky, “como um saco
armazena ervilhas”. Pelo contrário, os novos conceitos são formados
como resultado de um processo gradativo de elaboração em que
contam a experiência do sujeito no mundo e a inter-relação de
um novo conceito com outros conceitos formados anteriormente.
Vejamos este processo com mais detalhes.
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de modo semelhante ao uso que o adulto faz. Entretanto, muitas
vezes as crianças não têm domínio destes conceitos.
- Quem é a mamãe?
- E o que é afia?
Marina Z: - Amanhã?
Crianças: - Eu sei!
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Professora: - Fale Marina Z.
Zil – “É coisa que a gente olha, mas não pode pôr a mão” (regra
do museu).
Osv - “É coisa que se põe a mão cai de tão velha que ta.”
Algumas crianças simplesmente repetiram frases que ouviram da
coordenadora do museu:
“Cultura é criatividade.”
126 FILOSOFIA
3º) A fase dos conceitos propriamente ditos: A principal diferença
entre os complexos e os conceitos propriamente ditos está no
tipo de ligação entre os elementos. Nos conceitos os elementos
são agrupados de acordo com um atributo; nos complexos podem
existir tantas ligações quantos forem os contatos que realmente
existem entre os elementos. Para formar os conceitos propriamente
ditos, não basta unir elementos, será preciso abstraí-los, isolá-los,
examiná-los de modo separado da experiência imediata. Assim, a
formação de conceitos requer duas operações mentais: a análise
e a síntese, ou seja, um movimento de vai e volta do geral para o
particular e do particular para o geral. Por exemplo: a criança só
chegará ao verdadeiro conceito de cão quando souber distingui-
lo de outros animais, dos vegetais, através de uma definição que
sirva para as características de todos os cães.
a) Os conceitos espontâneos Quer dizer, na escola, mesmo a criança que não tem um cão
são ricos de experiência
pessoal, por isso são mais
ou nunca viu um cão pode adquirir a ideia de cão através da
concretos. No entanto,
mesmo já tendo o conceito,
interferência dos conceitos científicos.
o sujeito pode não ter
consciência dele, nem
saber utilizá-lo de forma
Para Vygotsky, o aprendizado de conceitos científicos na escola
deliberada. Os conceitos é uma força poderosa no desenvolvimento infantil, que
espontâneos não estão
organizados num sistema determina o destino do desenvolvimento mental do aluno. Mas,
hierárquico na mente.
Vygotsky diz: Ao operar com para que isto aconteça, deve haver uma inter-relação entre os
conceitos espontâneos, a
criança não está consciente conceitos espontâneos e os conceitos científicos. Quer dizer, o
deles, pois sua atenção
está sempre centrada no desenvolvimento de um deve buscar o desenvolvimento de outro.
objeto ao qual o conceito se
refere, nunca no próprio ato
de pensamento (VYGOTSKY, Veja o que diz Vygotsky (Id. Ibidem, p. 93-94):
1989, p. 79)
128 FILOSOFIA
A concepção de Vygotsky acerca do desenvolvimento dos conceitos
científicos mostra-nos que:
130 FILOSOFIA
( ) O desenvolvimento histórico e social do ser humano
é pouco relevante, pode até ser desconsiderado
na perspectiva vygotskyiana.
( ) A linguagem possibilita a apropriação das formas
de perceber e organizar o mundo, como se fosse
um filtro interposto entre o homem e a realidade.