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ASPECTOS HUMANISTAS, EXISTENCIAIS E FENOMENOLÓGICOS PRESENTES

NA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

HUMANISTIC, EXISTENCIAL AND PHENOMENOLOGICAL ASPECTS IN PERSON


CENTERED APPROACH

Márcia Elena Soares Bezerra


Universidade Federal do Pará (UFPA)
Edson do nascimento Bezerra
Universidade da Amazônia (UNAMA)

Resumo
A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) é considerada uma das correntes
identificadas com a Terceira Força em Psicologia ou Psicologia Humanista.
Há aspectos significativos que correlacionam o pensamento do seu
fundador, Carl Rogers, com alguns pressupostos da psicologia humanista e
da filosofia existencialista. Mesmo que seu trabalho não tenha sido
orientado pela fenomenologia, percebe-se em sua obra, desdobrada em
várias fases, a prática de uma atitude desta natureza. Considerar, portanto,
a ACP como uma abordagem humanista, existencial e fenomenológica
remete-nos a uma série de questões relacionadas: 1) o que se entende por
humanista? 2) Por consequência, o que é ser humano nesta perspectiva? 3)
Como pensar o humanismo na psicologia? 4) Quais aspectos derivados da
fenomenologia e do existencialismo encontram ressonância com a teoria e
o método da ACP? Este artigo tem como objetivo contribuir na reflexão
sobre as possíveis correlações entre essas perspectivas filosóficas e a
Abordagem Centrada na Pessoa, tema ainda controverso no contexto
brasileiro mesmo diante da diversidade teórica e de perspectivas que esta
abordagem vem assumindo na atualidade.

Palavras chave: humanismo; existencialismo; fenomenologia; abordagem


centrada na pessoa.

Abstract
Person Centered Approach (PCA) is considered one of the theories
identified as the Third Force in Psychology or Humanistic Psychology. There
are some significant aspects that estabilsih a relationship between the
thought of its founder, Carl Rogers, and some purposes of the humanistic
psychology and the existencial philosophy. Even though Rogers's work has
not been based on phenomenology, it is possible to realize on his writtings,
trhough its several phases, the practice of an attitude like the
phenomenological one. Therefore, to consider PCA as a humanistic,
existencial and phenomenological take us to some connected issues: 1)
What is understood as humanistic? 2) By consequence, what is being human
in this theorical point of view? 3) How to think humanism on psychology? 4)
What aspects from phenomenology and existencialism can estabilish

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____________________Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa

relationship with theory and method of PCA? This article aims to contribute
on the reflexion about possible relationships between these philosophical
theories and Person Centered Approach, a very controversial theme at
brazilian context even though there is theorical diversity and a lot of pionts
of view about this approach currently.

Key-
Key-words: humanism; existencialism; phenomenology; person centered
approach.

Resumen
El Enfoque Centrado en la Persona (ECP) se considera una de las corrientes
identificadas con la tercera fuerza en psicologia o Psicologia Humanista. Hay
aspectos importantes que se relacionan el pensamiento de su fundador,
Carl Rogers, con algunos supuestos de la psicología humanista y de la
filosofia existencialista. Aunque su trabajo no haya sido orientado por la
fenomenologia, percibe en su obra, dividida en varias fases, la práctica de
una actitud esta naturaleza. Considerar, por lo tanto, el ECP, como un
enfoque humanístico, existencial y fenomenológico nos lleva a uma serie de
preguntas relacionadas: 1) ?qué se entiende por humanista? 2) Por
consiguiente, ?qué es ser humano en este enfoque? 3) ?Comó pensar
humanismo en la psicología? 4) ?Cualés aspectos derivados de la
fenomenología y de lo existencialismo encuentran resonancia con la teoría y
el metodo del ECP? Este artículo tiene como objetivo contribuir en la
reflexión sobre las posibles correlaciones entre las perspectivas filosoficas y
el Enfoque Centrado en la Persona, tema aún polémico en el contexto
brasileño mismo ante la diversidad teórica y de perspectivas que este
enfoque ha asumido hoy.

Palabras clave: humanismo; existencialismo; fenomenologia; enfoque


centrado en la persona.

Introdução A perspectiva filosófica constitui-se em


um modo de pensar a realidade, de
A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) questioná-la e de nortear a práxis do ser
é fruto do trabalho desenvolvido por Carl humano (Holanda, 1998). Este processo de
Rogers ao longo de toda a sua vida produtiva inquirição e elaboração conceitual dá-se
em Psicologia. No percurso do sobre construtos derivados da história da
desenvolvimento de seu pensamento, ele filosofia. Na prática psicológica não deve
sempre demonstrou preocupação com as ocorrer a mera transposição de categorias
bases filosóficas da Psicologia, no entanto, a filosóficas ao plano empírico do trabalho
ACP surge a partir de sua experiência clínica e cotidiano do profissional da psicologia. Há o
de pesquisas científicas dela decorrente. duplo risco de, por um lado,
Poucos são os pensadores mencionados por descontextualizar-se, e, por conseguinte,
ele que o influenciaram diretamente neste distorcer-se determinado conceito filosófico
sentido. de sua acepção original, e por outro lado,
desconsiderar-se a produção conceitual

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existente na própria psicologia. É necessário, estavam muito presentes, daí, o seu extremo
portanto, que ocorram as devidas interesse com a comprovação científica dos
apropriações, para que assim as abordagens dados observados na prática clínica (Barreto,
psicológicas, em seu corpo teórico e técnico, 1999).
possam ser enriquecidas na compreensão e Por ter tido uma formação pragmática e
reflexão da experiência humana por meio de determinista, Rogers considerava a ciência
conceitos filosóficos. como algo externo, como um “corpo de
Quanto às perspectivas filosóficas conhecimento” sistemático e organizado em
presentes na Abordagem Centrada na Pessoa, fatos observáveis; somente quando conheceu
Messias (2001) aponta que a ligação existente outros paradigmas e modelos de ciência
entre a psicologia de Rogers e o movimento tentou integrar esses dois aspectos, o
humanista e existencial é significativa. Não se cientista e o vivencial.
pode, no entanto, afirmar que o seu trabalho
foi direcionado pela fenomenologia, pois A ciência apenas existe nas pessoas.
Rogers só descobriu tardiamente esta Qualquer projeto científico tem o seu
impulso criativo, o seu processo, a sua
filosofia. Ele próprio afirma que nunca conclusão provisória, numa pessoa ou em
estudou filosofia existencial. Seu contato com várias pessoas. O conhecimento – mesmo
a obra de Soeren Kierkegaard e de Martin o conhecimento científico - é aquele que
Buber, por exemplo, deveu-se à insistência de é subjetivamente aceitável. O
alguns de seus estudantes de teologia em conhecimento científico só pode ser
comunicado àqueles que estão
Chicago. Apesar disso, encontramos subjetivamente preparados para receber
convergências entre seu pensamento e a sua comunicação. A utilização da ciência
desses autores. apenas se dá através de pessoas que
procuram valores que significam alguma
É o que leva Puente (1978) a afirmar coisa para elas (Rogers, 1991, p.195).
que Rogers, mesmo não sendo filósofo, “se
encontra na orientação da fenomenologia ao Portanto, reconheceu que a ciência,
reconhecer neste pensamento o seu estilo de como a terapia e outros aspectos da vida,
trabalho, que se caracteriza pelo esforço de baseiam-se na experiência imediata das
se aproximar até aquelas camadas do pessoas, que é comunicável apenas em parte
subjetivo que estão mais próximas do e de forma limitada. Para ele, ao se
objetivo, as experiências pessoais” (p.55). estabelecer uma relação terapêutica, por
Ao tomar a experiência prática, vivida, exemplo, os sentimentos e o conhecimento
como ponto de partida para formular sua se fundem numa experiência que é vivida ao
teoria e método psicoterapêutico, ao incluir a invés de ser analisada, em que o terapeuta,
subjetividade do terapeuta e do cientista e ao no momento da relação, é mais um
se interessar pela compreensão dos participante do que um observador. Atua
significados atribuídos pela própria pessoa às como observador quando se interessa pela
suas vivências e pelos modos de ordenação e pelo processo que ocorre nesta
experienciação dos mesmos, Rogers assume, relação. Deve para tal utilizar-se dos recursos
em seu modo de trabalho, a prática de uma científicos, não de forma impessoal, mas
atitude humanista e fenomenológica. vivendo subjetivamente outra fase de si
Mesmo com tais intenções, não há mesmo. Tentou resolver seu impasse,
como negar que a construção da sua teoria colocando a pessoa, com seus próprios
ainda mantinha-se vinculada ao modelo valores, como a base da relação terapêutica e
positivista e à matriz cientificista que da relação científica.
dominava o projeto de constituição da Considerar, então, a ACP como uma
psicologia da época, em que a noção de abordagem que possui aspectos humanistas,
verdade e o conhecimento representacional existenciais e fenomenológicos remete-nos a

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uma série de questões relacionadas: 1) O que técnicas psicoterápicas construídas a priori,


se entende por humanista? 2) Por descoladas da experiência, antes de se
consequência, o que é ser humano nesta estabelecer o contato com a pessoa ou grupo
perspectiva? 3) Como pensar o humanismo em sua concretude.
na psicologia? 4) Quais aspectos derivados da A Abordagem Centrada na Pessoa é
fenomenologia e do existencialismo considerada uma das correntes identificadas
encontram ressonância com a teoria e o com a Terceira Força em Psicologia ou
método da Abordagem Centrada na Pessoa? Psicologia Humanista. Tal identificação
Com base nestes questionamentos, justifica-se por sua advocacia pela dignidade e
mesmo que reconhecendo a abrangência dos valor da pessoa na sua busca pelo
mesmos, apresentaremos a seguir algumas crescimento (Rogers, 1983).
reflexões sobre possíveis correlações entre A psicologia humanista surgiu no final
essas perspectivas filosóficas e a Abordagem da década de 1950 e início da de 1960, nos
Centrada na Pessoa com o objetivo de trazer Estados Unidos, num período de pós-guerra,
subsídios que possam fomentar discussão e marcado pela desesperança, crise moral e de
contribuir para uma na melhor compreensão valores. Amatuzzi (2001) esclarece que a
desta abordagem psicológica. designação ‘psicologia humanista’ não se
refere, pois, “a uma teoria específica, ou
ACP e Psicologia Humanista-
Humanista-Existencial mesmo a uma escola, mas sim ao lugar
Norte-
Norte-Americana comum onde se encontram (ainda que com
pensamentos diferentes) todos aqueles
Têm-se vários conceitos acerca do que psicólogos, insatisfeitos com a visão de
venha a ser Humanismo (ver Amatuzzi, 2001; homem implícita nas psicologias oficiais
Nogare, 1994). Etimologicamente, significa disponíveis” (p.19).
tudo aquilo que se volta para o humano. O Surgiu, portanto, como uma reação, a
humanismo toma o Homem como foco de partir da insatisfação sentida face às duas
qualquer preocupação filosófica; é uma correntes predominantes, o behaviorismo e a
interrogação sobre o ser, que surge desde os psicanálise clássica. Mesmo considerando as
filósofos gregos descobertas e contribuições dessas duas
correntes, o sentimento prevalecente entre
O humanismo, em sentido mais estreito, os psicólogos humanistas era de que essas
pode ser definido como um movimento
vertentes, permanecendo em suas
de retorno à cultura greco-latina clássica,
surgido no período do Renascimento, nos perspectivas originais, com seus pressupostos
séculos XV e XVI (Gobbi, Missel & reducionistas e deterministas, não traziam
Holanda, 2002). O humano concebido respostas aos anseios humanos, às questões
como fim último de uma determinada de sentido, naquele momento histórico.
teoria de conhecimento, abordagem ou
A seguir analisaremos algumas
postura ética é um denominador comum
presente nas diversas acepções sobre o perspectivas da psicologia humanista, de um
humanismo. Ele “... surge então como um modo geral, que se identificam com a
questionamento, uma procura pelo proposta da Abordagem Centrada na Pessoa:
sentido de ser deste homem. É um 1. Uma visão de sujeito capaz de
esforço contínuo pela compreensão de
autorealizar-se e autoatualizar-se, com
sua totalidade, pela sua consideração
integral” (Holanda, 1998, p.21). capacidade para “atuar seguindo convicções e
princípios pessoais, que em si mesmo, são
Rogers sempre enfatizou a relação com geradores de subjetivação, e não expressão
a pessoa humana como fator primordial na de forças ocultas” (González Rey, 2003, p.59).
estruturação de qualquer conhecimento Cabe refletir que esta concepção,
sobre o fenômeno psicológico. Fez questão de apesar de incluir uma noção de sujeito ativo
colocar em xeque a validade de teorias ou no mundo, portador de vontade própria e

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possibilidades de escolha, ainda relaciona-se a Mas é um princípio norteador de uma prática


um sujeito soberano e epistêmico pleno que psicológica que ratifica a vida e as inúmeras
dominou o pensamento moderno. A este possibilidades que o ser humano tem de
respeito, Moreira (2007) ressalta a operar mudanças em seu autoconceito, em
importância de ampliarmos a visão de ser seu comportamento e em suas atitudes
humano, a partir de uma concepção dialética diante das situações vividas, uma vez dadas as
da ACP. Isso implicaria em olhar o homem condições necessárias para tal.
concreto, inserido na realidade; em conceber Amatuzzi (2010) possibilita-nos refletir
a pessoa, além da dimensão subjetiva sobre a atualidade e a amplitude desta
individual, enfatizando a dialética entre o prerrogativa quando enfatiza que o
meio humano subjetivo e o meio objetivo, ou pressuposto humanista é um pressuposto de
seja, a pessoa é, concomitantemente, um autonomia, em que o ser humano é
sujeito individual e transindividual. É concebido como detentor de algum poder
necessário, então, considerar as expressões sobre as determinações que o afetam. Com
singulares e os sentidos subjetivos próprios, base nisso, engendram-se práticas
mas igualmente considerar as múltiplas psicológicas alicerçadas na autonomia
influências recebidas do meio no processo crescente da pessoa e numa relação
contínuo de produção de subjetividade. O ser intersubjetiva e dialógica. O autor afirma que
humano é concebido enquanto uma esta concepção é “uma visão ética e tem
totalidade complexa, em processo, em devir, repercussões práticas na vida das relações
um ser implicado e configurado em seu pessoais, sociais e até políticas” (p.19).
ambiente, seja este físico, fenomenológico- A ética aqui enfatizada refere-se a uma
experiencial, relacional ou sócio-histórico- postura em que o ser humano é tratado não
cultural. de um modo utilitário, mas como possuidor
2. Uma maior ênfase à consciência, à de um valor próprio e inalienável. Segundo
subjetividade e à saúde psicológica. Amatuzzi (2010), “a abordagem centrada na
A consciência é concebida enquanto pessoa é muito mais uma ética do que uma
vivência ativa, intencional, criadora de técnica” (p.21).
sentidos, que gera novos processos de Evidenciam-se, dessa forma, diversos
subjetivação no curso de sua expressão aspectos humanistas presentes na
pessoal. De acordo com González Rey (2003), Abordagem Centrada na Pessoa, uma vez que
a consciência humana organiza-se, expressa- ela busca resgatar o respeito e a ênfase no ser
se e desenvolve-se “na contínua humano, destacando o papel dos sentimentos
processualidade do sujeito, que em suas e da experiência como fator de crescimento.
complexas operações reflexivas (...) logra Busca centrar-se na relação interpessoal,
articular elementos de sentidos muito construindo condições psicológicas
diversos nos diferentes momentos de sua adequadas ao desenvolvimento do potencial
expressão” (p.60). de mudança daquele que recorre a uma
A subjetividade, portanto, desenvolve- relação de ajuda.
se num processo contínuo, não sendo, algo Quanto à noção de pessoa, há duas
enclausurado no interior do individuo, uma características norteadoras, aparentemente
vez que o ser individual se forma a partir das contraditórias: a primeira é que esta pessoa,
relações estabelecidas com os outros e com o única em sua concretude existencial (daí a
mundo. aproximação da ACP com o Existencialismo), é
3. Uma perspectiva positiva quanto às um ser em processo, em movimento,
potencialidades e possibilidades. dinâmico, em construção, nunca passível de
Esta característica pode ser facilmente ser esquematizado redutivamente; por outro
confundida como um olhar ingênuo ou lado, ela (pessoa) é concebida originalmente
deveras “otimista” sobre a condição humana. como possuidora de recursos próprios que

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lhe permitem superar as condições mais se sustentam na atualidade (Rosa &


existenciais adversas. Kahhale, 2002). No entanto, deste movimento
Ainda que esta concepção de ser pontual ocorrido na História da Psicologia
humano seja questionada, principalmente derivaram a valorização das relações
devido à ausência nas obras de Rogers de pautadas no vivido (Amatuzzi, 2001) ou no
uma leitura mais aprofundada sobre a experiencial (Rogers & Stevens, 1992), a
influência sócio-histórica e política na legitimação da capacidade criativa e
constituição da subjetividade humana, é inovadora do ser humano e a consideração do
notória a sua preocupação em priorizar o humano como valor absoluto da existência.
humano em sua psicologia. Se Vale ressaltar, que segundo Amatuzzi
compreendermos que a Psicologia, enquanto (2001), o rótulo específico de psicologia
Ciência Aplicada, foi utilizada por muitas humanista é apenas um episódio
décadas no Brasil, por exemplo, para justificar momentâneo de algo que tem um sentido
e manter um alto grau de desigualdade social maior: a presença de uma atitude humanista
que relega grande parte da população à no interior da psicologia. O humanismo na
condições sub-humanas de existência, psicologia aponta para uma atitude
percebe-se a relevância efetiva de um fenomenológica, uma postura diferente que
humanismo engajado de Rogers na se revela o homem no que ele tem de
valorização da pessoa em sua inteireza – e aí próprio, onde o ser humano tem que ser
pode-se ampliar esta inteireza a níveis sociais, captado em seu movimento e para isso é
políticos e transcendentes, por exemplo – necessário nos colocarmos na postura do
ainda em nossos dias. Proporcionar o espírito atual, do presente, do atuante, do em curso.
crítico e libertário, como apregoado pela O que está na raiz do humanismo não é, pois,
Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, ou apenas um postulado teórico, ou uma
suscitar o debate e a participação política da hipótese, mas uma atitude concreta em favor
pessoa em sociedade, no sentido pleno de de homens e mulheres, sujeitos de ação no
cidadania democrática, é algo profundamente mundo.
identificado com a ACP. O caráter existencial presente em
A estruturação dos pilares principais algumas psicologias humanistas é decorrente
desta abordagem deu-se no contexto de do encontro com vertentes da filosofia
afloramento da Psicologia Humanista na europeia no solo norte-americano entre 1940
sociedade norte-americana do pós-guerra. No a 1970. Conforme aponta Fonseca (s.d.), as
entanto, não se pode dizer que Rogers perspectivas fenomenológico-existenciais no
derivou os princípios básicos da ACP desta âmbito da psicologia foram recebidas nos
rede de relações. Pelo contrário, os seus Estados Unidos com certa polêmica, de um
estudos, já provenientes da década de 1930 e lado, e com bastante entusiasmo, por outro,
bastante influenciados pela Terapia da uma vez que elas configuravam uma
Relação de Otto Rank, dentre outros, serviram alternativa válida para contrapor a dicotomia
de referência e inspiração para esta reação existente entre as abordagens psicanalítica e
coletiva ao reducionismo das abordagens comportamental.
psicanalíticas e comportamentais de A identificação com alguns referenciais
Psicologia, tão valorizado pela cientificidade existencialistas, por exemplo, deve-se ao seu
do meio acadêmico norte-americano desta compromisso pela primazia da atitude em
época. detrimento da teorização abstrata da
Percebe-se que, pelo próprio realidade, numa espécie de efetivação da
desenvolvimento e ampliação de perspectivas máxima sartriana de que a existência precede
ocorridas no meio psicanalítico e a essência. Segundo Rollo May (1980), maior
comportamental, as críticas da chamada representante das idéias existencialistas entre
Psicologia Humanista ou Terceira Força não os chamados psicólogos humanistas, tal

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identificação encontra sua origem em William garante tranquilidade e bem estar, ao


James (1841-1910), considerado um dos contrário, obriga-lhe a ser mais cuidadoso
principais precursores da psicologia norte- consigo, já que passa a ter diversas opções
americana. Conforme o autor verifica-se em existenciais. Esta filosofia convoca-nos a
James a ênfase dada ao imediatismo da atuarmos como protagonistas de nossa
experiência, à importância da vontade como própria vida, assumindo nossas escolhas no
elemento de decisão e ao compromisso com mundo e, por conseguinte, sendo
a construção da verdade, esta pensada não responsáveis por suas consequências.
de forma teórica, mas eminentemente Rogers (1980) expressa a identificação
existencial e vivida. Concebia também a com esse modo de fazer em seu artigo “Duas
realidade como algo indeterminante em tendências divergentes”. Se,
termos lógicos, porém dependente do mundo tradicionalmente, há uma tendência objetiva,
da experiência. própria de práticas fundamentadas em
De um modo geral, o Existencialismo teorizações reducionistas, definições
pode ser definido como uma ampla corrente operacionais e procedimentos experimentais,
filosófica contemporânea, nascida na Europa por outro lado, a esta contrapõe a tendência
pós-primeira guerra mundial. Este movimento existencial. Relata que, no decorrer de sua
prioriza a existência concreta do homem no experiência profissional, partiu de uma
mundo e teve suas raízes históricas no perspectiva objetiva para, gradualmente,
pensamento do filósofo dinamarquês Sören assumir um viés existencialista. Sob esta
Kierkegaard (1813-1855). Seu pensamento referência afirma,
reporta-se à existência em seu aspecto
singular e concreto, contrapondo-se às (...) A essência da terapia... é um encontro
tradicionais correntes filosóficas modernas na de duas pessoas, no qual o terapeuta é
aberta e livremente ele próprio e
sua tendência universalista, em especial a evidencia isto talvez mais
hegeliana, bastante valorizada na primeira completamente, quando ele pode livre e
metade do século XIX. com receptividade entrar no mundo da
O movimento existencialista configurou- outra. (...) O cliente sente-se confirmado
se enquanto tal na Alemanha da década de (para usar o termo de Buber) não
somente no que ele é, mas em suas
1920, período de muito sofrimento, potencialidades. Pode afirmar-se,
desespero e angústias. É na década de 1950, temerosamente de estar certo, como
entretanto, que ocorre maior divulgação uma pessoa única, separada. Pode tornar-
desse movimento, inclusive no contexto se o arquiteto de seu próprio futuro
norte-americano (Penha, 1982). através do funcionamento de sua
consciência. O que isso quer dizer é que já
Dentre os diversos pensadores que que ele está mais aberto à sua
difundiram o existencialismo, destacam-se: experiência, pode permitir-se viver
Jean-Paul Sartre, Martin Buber, Karl Jaspers, simbolicamente em função de todas as
Gabriel Marcel, Emmanuel Levinas. Cada um, possibilidades. Pode consentidamente dar
da sua forma, utilizou o método vida, em seus pensamentos e
sentimentos, aos impulsos criativos
fenomenológico para elaborar a sua filosofia dentro de si mesmo, às tendências
da existência, unindo assim os dois conceitos destrutivas que ele descobre dentro de si,
– fenomenologia e existencialismo (Gobbi e ao desafio do crescimento, ao desafio da
outros, 2002). morte. Pode fazer face, em seu
A corrente existencialista concebe o ser consciente, ao que para ele significa ser, e
o que lhe significa não ser. Torna-se uma
humano comprometido com o mundo, cuja pessoa humana autônoma capaz de ser o
existência é instável e contraditória. É um que é e de escolher seu caminho. Este é o
conjunto de possibilidades em constante resultado da terapia, vista por esta
atualização. É capaz de criar condições para segunda tendência (Rogers, 1980, p. 100-
adquirir a sua liberdade, o que não lhe 101).

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pelos trabalhos de Ludwing Binswanger


As duas tendências apresentadas acima (1881-1966) e Karl Jaspers (1833-1969). No
correspondem às duas atitudes que o ser que se refere à psicologia, a década de 1970 é
humano assume em suas diferentes relações um marco quanto à produção de
interpessoais e com a própria existência, conhecimento. Impulsionada pelos estudos
segundo a filosofia dialógica de Martin Buber do grupo liderado por Amadeo Giorgi, na
(1878-1965): a relação EU-ISSO, que Universidade de Duquesne, Pensilvânia, EUA,
fundamenta a tendência objetiva pela sua a fenomenologia transformou-se em método
natureza objetal, exclusivamente cognoscitiva de pesquisas empíricas. É importante
e utilitária; e a relação EU-TU, que expressa a ressaltar que o trabalho de Giorgi foi
tendência existencial, pelo seu modo baseado precedido pelo de dois psicólogos ligados a
na relação pessoal, “... do encontro de Carl Rogers: Adrian L. Van Kaam (1959),
mulheres e homens que se dirigem entre si fundador de um programa de psicologia
enquanto realidades pessoais, dimensões dedicado à fenomenologia em Duquesne e
existenciais, num duplo movimento recíproco Eugene Gendlin (1962), que formulou um
de aceitação e confirmação, sendo através modelo de psicoterapia considerado de
desse que ambos acolhem o mundo como inspiração fenomenológica.
celeiro da alteridade” (Valente, 2006, p.56). Ainda que existam concepções distintas
Rogers (1991) assinala diversos pontos de fenomenologia, este conceito ainda
de convergência das suas idéias com as de permanece bastante associado a Edmund
Buber. Para ele, nos momentos profundos do Husserl (1859-1938). O caráter formal de uma
processo psicoterápico dá-se uma verdadeira nova epistemologia surgiu ao final do século
relação Eu-Tu, um encontro dialógico XIX, na Alemanha.
permeado de reciprocidade, como uma Fenomenologia advém de duas palavras
espécie de vivência atemporal que envolve gregas: phainomenon e logos. Phainomenon
intensamente terapeuta e cliente. (fenômeno) corresponde a tudo aquilo que
aparece, que se manifesta e que pode ser
Aspectos fenomenológicos presentes na percebido, captado pelos sentidos ou pela
ACP consciência. Logos é entendido como o
discurso esclarecedor. Assim,
Ao nos referirmos sobre os aspectos etimologicamente, fenomenologia significa o
fenomenológicos presentes na ACP é discurso esclarecedor a respeito daquilo que
importante refletir sobre a inserção desta se mostra por si mesmo. De um modo geral, é
perspectiva na psicologia brasileira e latino- compreendida como o estudo ou a ciência do
americana. Para Fonseca (s.d.), a ACP que fenômeno.
recebemos no Brasil é fruto da vertente De acordo com Zilles (2002), a
pragmática e empirista norte-americana e da fenomenologia husserliana, “é, em primeiro
fenomenológico-existencial européia, que, lugar, uma atitude ou postura filosófica e, em
inicialmente, foi recebida de modo acrítico e segundo lugar, um movimento de idéias com
impessoal e, gradualmente, desenvolveu-se método próprio, visando sempre o rigor
enquanto uma abordagem singular e com radical do conhecimento” (p.13). Husserl,
perspectivas próprias a partir da década de atento aos problemas do conhecimento,
1980. busca encontrar um método e um ponto de
De acordo com Gomes, Holanda & partida para a Filosofia enquanto ‘ciência do
Gauer (2004), no cenário internacional, os rigor’.
pressupostos fenomenológicos se expandiram O desenvolvimento das idéias de
rapidamente da filosofia para o campo da Husserl foi precedido por um acontecimento
saúde: na psiquiatria, a primeira área de histórico que ocorreu ao final do século XIX:
influência da fenomenologia, é representada declínio dos grandes sistemas filosóficos

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Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa ____________________

tradicionais e ascensão das Ciências, em noção de intencionalidade (Martins &


particular a Matemática e a Psicologia, que se Dichtchekenian, 1984).
converteram na chave das explicações da Para Husserl (s.d), “a propriedade
teoria do conhecimento e da lógica. Husserl fundamental dos modos de consciência [...] é
questionou a pretensão da Psicologia da a chamada intencionalidade, é sempre ter
época submeter o modo de conhecer aos consciência de alguma coisa” (p.21). Zilles
seus princípios, dedicando-se a encontrar um (2002) explica que a intencionalidade
método de conhecimento rigoroso que fenomenológica é “visada de consciência e
servisse de fundamento às demais Ciências produção de um sentido que permite
(Capalbo, 1987). perceber os fenômenos em seu teor vivido”
Dentre os principais conceitos (p.31). É o que Husserl denomina de análise
desenvolvidos por Husserl, destacam-se: intencional.
essência, redução e intencionalidade. Como nosso intuito neste artigo não é
Entende-se essências ou eidos como a explanar de forma detalhada sobre a
estrutura invariante cuja presença fenomenologia enquanto filosofia e sim
permanente define o que é o objeto, ou seja, apontar alguns conceitos que convergem com
essências são as maneiras características do a psicologia e a ACP, apresentaremos agora
aparecer dos fenômenos; são conceitos, alguns aspectos considerados significativos da
objetos ideais que nos permitem distinguir e fenomenologia heideggeriana.
classificar os fatos. Referem-se ao sentido do Martin Heidegger, discípulo de Husserl,
ser do fenômeno; independem da experiência é tido como um dos poucos filósofos
sensível, muito embora se dando através dela contemporâneos cuja produção apresenta
(Zilles, 2002). Segundo Dartigues (1992), singular crescimento póstumo, uma vez que
essência é o “ser da coisa ou da qualidade, ele morreu deixando uma grande quantidade
isto é, um puro possível; em consequência, de inéditos que começaram a ser editados a
poderá haver tantas essências quantas partir de 1978, o que gerou uma terceira fase
significações nosso espírito é capaz de de seu pensamento (Nunes, 2002).
produzir” (p.16). Heidegger reinterpretou o método
Quanto à redução ou epoque, ela oriundo da fenomenologia de Husserl, na
aparece sob diversas formas, acompanhando busca do sentido das coisas, em íntima
a evolução do pensamento de Husserl. Num relação com a hermenêutica. Para ele, existir
primeiro momento, quando acreditava que a é interpretar-se. O recurso hermenêutico faz-
existência era separável do sentido das coisas, se necessário para o aparecer e o desvelar do
entendia a redução como a colocação entre fenômeno (Nunes, 2002; Bruns & Trindade,
parênteses, o colocar de lado a existência 2001).
factual das coisas para se evidenciar a Na elaboração de Ser e Tempo, para
essência. Tal concepção estava compatível viabilizar o objetivo de questionamento do
com um contexto, racionalista, que sentido do ser, o autor estrutura, de modo
considerava a consciência enquanto original, conceitos que posteriormente
interioridade, fechada em si mesmo, que despertaram interesse em teóricos e
representa um “exterior”. Um segundo profissionais de diferentes áreas das ciências
aspecto da redução manifesta-se no lema humanas. Evidenciaremos àqueles que mais
“voltar às coisas mesmas”, tais como frequentemente têm sido referenciados por
aparecem antes de qualquer apreensão, uma psicólogos: ser-no-mundo, angústia, abertura
espécie de retorno ao elemento puro como e cuidado.
fundamento do conhecimento. Com o tempo, Heidegger buscou romper com a
esta visão de consciência enquanto concepção do ser como conceito vazio e
representação se tornará superada a partir da universal. Na sua investigação, distinguiu a
estrutura do ser da do ente. Para este autor,

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____________________Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa

“[...] Ente é tudo de que falamos, tudo que primária o mundo, estrutura fundamental
entendemos [...] ente é também o que e pertencente exclusivamente ao dasein, onde
como nós mesmos somos.” (Heidegger, 2005. se dá o ingresso dos entes diferentes de nós.
p.32) A existência humana, então, não teria
Na perspectiva heideggeriana esse ente uma vida privada, precedente, que depois, se
que cada um de nós somos e que possui em relacionaria com o mundo exterior; ela existe
seu ser a possibilidade de questionar, é no mundo. É o que nos diz Nunes (2004), “o
designado como Dasein, expressão alemã que Dasein (enquanto Ser-no-mundo) não está
significa “ser-aí”. A edição brasileira traduz o para o mundo como uma coisa encaixada
dasein como pre-sença. dentro de outra maior, mas sim que ao
O dasein sempre se relaciona de mundo se liga sob forma de um engajamento
formas distintas com os entes, em virtude do pré-reflexivo, integrante da constituição
seu caráter dinâmico, em constante mesma desse ente que somos” (p.126).
movimento, que está sendo, numa espécie Em lugar da consciência pura do ‘eu
de acontecendo contínuo conforme a transcendental’, Heidegger partiu da
possibilidade existencial vivenciada. Esse facticidade no mundo, da vida que é histórica
caráter pré-ontológico, determinação original e se compreende historicamente. A essência
e constitutiva do próprio dasein, permite que da existência humana é existir em pluralidade,
venha a se expressar com relação aos entes e não em si mesma, uma vez que ela pertence
de múltiplas maneiras, com várias a um mundo circundante, com sua estrutura
possibilidades. Essa amplitude de modos de referencial de utensílios e com a co-presença
ação corresponde ao caráter de existência, dos outros. O homem, enquanto, ser-no-
característico do dasein. mundo, é compreendido no seu próprio
Belém (2004) esclarece que o dasein existir, pois o existente só pode se
“se identifica com o homem, mas não é o compreender em sua relação com o mundo
homem. É dizer o mais originário do homem, (Lanteri-Laura, 1965).
que, ontologicamente é a sua existência” A expressão ser-no-mundo refere-se a
(p.95). O ser-aí diz de um “ser lançado em um fenômeno de unidade que abrange os
um mundo cujo estar presente implica na seguintes momentos estruturais: a) ser-em,
possibilidade da existência”. que não indica uma coisa, um ser
Para Heidegger (2005) “o estar- simplesmente dado, dentro do mundo, mas
lançado, porém, é o modo de ser de um ente se refere a uma constituição existencial, a um
que sempre é suas próprias possibilidades e habitar em, estar familiarizado com; b) ser-
isso de tal maneira que ele se compreende junto ao mundo, no sentido de empenhar-se
nessas possibilidades e a partir delas no mundo e não dar-se em conjunto de
(projeta-se para elas)” (p.244). coisas que ocorrem; c) ser-com, em que a co-
Com isso, pode-se dizer que o dasein é presença dos outros constitui
possibilidade lançada ao mundo. A esta existencialmente o ser-no-mundo, pois,
estrutura do dasein de ser lançado, conforme afirma Heidegger (2005): “na base
Heidegger nomeou de facticidade da desse ser-no-mundo determinado pelo com,
existência. “O dasein se entrega à o mundo é sempre o mundo compartilhado
responsabilidade de assumir o seu próprio com os outros” (p.170); d) ser-próprio
ser e, sendo se relaciona com ele e se cotidiano e o impessoal significa que o ser-
comporta com o seu ser como possibilidade no-mundo é sempre em função de si próprio,
mais própria” (Belém, 2004, p.97). porém o próprio do cotidiano, habitual é o
Desta forma, pelo seu caráter impróprio ou próprio impessoal caracterizado
existencial e promotor de sentido, o dasein é pela dispersão e impessoalidade, em que o
principalmente ser-no-mundo. O acesso do si-mesmo é aprendido como próprio, uma
ente à existência tem como condição vez que “ de início, “eu” não “sou” no sentido

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Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa ____________________

do propriamente si mesmo e sim os outros que nos escapa. Essa ausência da coisa é o
nos moldes do impessoal. É a partir deste e nada, que se revela em parte alguma, com
como este que, de início, eu “sou dado” a que a angústia se angustia. Daí porque
mim mesmo (Heidegger, 2005, p.182). estamos sempre tendendo à cotidianidade,
Ao procedermos uma leitura nos voltando aos entes, para compensar o
psicológica deste conceito eminentemente mal-estar.
filosófico, podemos abstrair que quando o
dasein descobre o mundo, isto é, quando A angústia não é somente angústia com...
ocorre uma abertura para si mesmo, este mas, enquanto disposição, é também
angústia por... O por quê a angústia se
“descobrimento de mundo” e esta abertura angustia não é um modo determinado de
se cumpre e se realiza como uma “eliminação ser e uma possibilidade da pre-sença [...]
das obstruções, encobrimentos, Na angústia o que se encontra à mão no
obscurecimentos, como um romper das mundo circundante, ou seja, o ente
deturpações em que a pre-sença se tranca intramundano em geral, se perde [...] na
angústia se está “estranho” [...] Mas,
contra si mesma” (Heidegger, 2005, p.182). estranheza significa igualmente “não se
Outro aspecto importante refere-se ao sentir em casa” (Heidegger, 2005, p.251-
que Heidegger denomina de decaída,, 252, grifos do autor).
também traduzida por decadência, ou seja, o
desvio de si, o de-cair no mundo das Este “não se sentir em casa”, enquanto
ocupações, a fuga da existência que está fenômeno mais originário, faz com que o
fundada na angústia. Heidegger, inspirado dasein abra-se como ser-possível. Segundo
em Kierkegaard, não conceitua a angústia Heidegger (2005, p.255) só na angústia
como uma experiência disfuncional, um subsiste a possibilidade de uma abertura
estado ou uma propensão, mas a concebe privilegiada na medida em que ela “retira a
enquanto uma disposição fundamental da pre-sença de sua de-cadência e lhe revela a
existência; como aquilo que se teme, mas, propriedade e impropriedade como
que, ao mesmo tempo, se deseja. É na possibilidades de ser”. Através da angústia lhe
angústia que a existência abre-se a si mesmo. é aberto um horizonte de possibilidades, em
O dasein por apresentar diversas que se pode viver no mundo partindo de si
possibilidades de concretizar-se, oscila entre mesmo. Este é o ser-si-mesmo. Sobre essa
fechamento para si e abertura, entre o dinâmica existencial, Critelli (1996) afirma:
próprio impessoal e o próprio pessoal; possui “por mais que se tente arquitetar uma
um modo de ser em que já se põe diante de sociedade em que se logre o controle da
si mesmo e se abre para si em seu estar- angústia, da inospitalidade do mundo, da
lançado. A angústia, como disposição fluidez e liberdade humanas, da transmutação
constitutiva, é que irá propiciar a abertura incessante dos sentidos de se ser, a
para si do dasein, uma saída da empreitada é, de saída, irrealizável” (p.22).
cotidianidade, uma independência dos Como a abertura se refere à
outros, uma ruptura consigo, com o que se é constituição estrutural do dasein, este ente,
cotidianamente, com a estabilidade. Esta em sua totalidade, é explicitado e
disposição para a abertura não significa um determinado pelo conceito de cuidado
voltar-se para si subjetivo, mas caracteriza-se (sorge), como ser do dasein. O ingresso ao
pelo ser a si mesmo, com as coisas e com os cuidado se dá por meio da angústia, que se
outros. Como é uma disposição não se refere explicitamente ao dasein como ser-no-
equivale à abertura; ela é um entre mundo que de fato existe. Desta forma, este
fechamento e abertura, porém, ainda que aspecto de já ser lançado em um mundo,
permeado de cotidianidade, está voltado como ser junto aos outros entes que lhe vêm
para o não-cotidiano. Por sermos ser-no- ao encontro dentro do mundo, pressupõe o
mundo nos voltamos para as coisas, para algo caráter do dasein estar destinado a projetar-

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____________________Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa

se ao seu poder-ser mais próprio, como uma significados que o sujeito lhes atribui, ou
possibilidade de si mesmo, determinado por seja, o de não priorizar o objeto e/ou
sujeito, mas centrar-se na relação sujeito-
esse sentido originariamente libertário. objeto-mundo (Bruns, 2001, p.63).

É no preceder a si mesma, enquanto ser


para o poder-ser mais próprio, que
Forghieri (1993) assevera que o objetivo
subsiste a condição ontológico-existencial da aplicação do método fenomenológico para
de possibilidades de ser livre para as o campo da Psicologia, passa a ser o de
possibilidades propriamente procurar captar o sentido ou o significado da
existenciárias. O poder-ser é aquilo em vivência para a pessoa em determinadas
função de que a pre-sença é sempre tal
como ela é de fato. (Heidegger, 2005,
situações, por ela experienciadas em seu
p.258, grifos do autor). existir cotidiano.
Não é interesse da Psicologia e da
Assim, Feijoo (2000) ressalta que “o Psiquiatria, “[...] chegar a um esclarecimento
cuidado não se refere a um determinado filosófico-fenomenológico da estrutura
modo de relação, e sim à condição de ser transcendental do ser humano enquanto ser-
aberto às possibilidades de relação nas suas no-mundo, mas sim, empreender uma análise
diferentes modalidades” (p.83). Considera existencial ou empírico-fenomenológica de
que Heidegger ao se referir à dimensão do formas concretas de existência“ (Binswanger
cuidado rompe com uma concepção citado por Forghieri, 1993, p.59).
tradicional de subjetividade enclausurada Amatuzzi (2001, 1996) afiança que o
uma vez que o dasein põe-se diante de si e vivido, para o qual a pesquisa fenomenológica
abre-se para si em seu estar lançado, a sua está voltada, não se manifesta sozinho, ou
constituição é abertura. Para Heidegger puro. Ele sempre se mostra por meio de
(2005), o cuidado não significa uma atitude concepções, percepções, construções da
especial para consigo, pois em virtude de sua consciência. Para o autor, o vivido que
determinação ontológica, nele também se “vemos” não é mais o puro vivido, mas o
acham colocados os dois outros momentos vivido “visto”, e, portanto, já formulado,
estruturais: o ser-em e o ser-junto a, composto por palavras. O acesso do
articulados estruturalmente entre si. pesquisador ao vivido se dá, então, através de
Reportando-nos, mais especificamente, versões de sentido. Considera, portanto, que
a apropriação pela psicologia de alguns dos o vivido é polissêmico, pois contém um
conceitos apresentados, destacamos Bruns significado potencial imediato, relacionado ao
(2001) quando afirma que a inspiração contexto da ação ou situação do sujeito, e
fenomenológica se presentifica quando o também outros significados menos imediatos,
psicólogo parte do princípio de que não há relacionados com outros contextos. Aqui, o
um ser “escondido”, uma realidade “em si autor amplia a compreensão a respeito dos
mesma”, objetiva e neutra atrás das significados da vivência ao considerá-la
aparências. A premissa em que sustenta a portadora de múltiplos sentidos relacionados
argumentação é que o ser humano é sujeito e a diversos contextos, ou seja, não só ao
objeto do conhecimento e que vivencia contexto da ação imediata. O esforço de
intencionalmente sua existência, atribuindo- compreensão da significação do vivido pode,
lhe sentido e significado. portanto, sofrer interferências e distorções
pela pressão de padrões sociais ou mesmo do
A fenomenologia possibilitou à psicologia autoconceito.
uma nova postura para inquirir os Nesta mesma direção, Dutra (2004), ao
fenômenos psicológicos: a de não se ater considerar o sujeito como um ser-no-mundo
somente ao estudo de comportamentos
observáveis e controláveis, mas procurar
e um ser-com, de relação, cuja subjetividade
interrogar as experiências vividas e os não se encontra separada do mundo,

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Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa ____________________

argumenta não ser possível, se pensar num convite à atualização, ao redimensionamento


homem no qual se identifiquem lugares, ou como nos refere Dutra (2004)
essências ou estruturas que determinem um “desconstruir, no nosso entender, significa,
dado modo-de-ser no mundo. A compreensão antes de tudo, uma mudança no campo
do ser humano passa então pela epistemológico” (p.38).
interpretação das suas possibilidades de ser- Bezerra (2007), ao correlacionar as
no-mundo, indo além das palavras e do texto, perspectivas rogeriana e heideggeriana,
mas de todo o seu universo psicológico, social destacou as seguintes categorias para análise:
e histórico. Esta é uma contribuição centralidade, angústia e autenticidade que
heideggeriana que possibilita um olhar mais serão brevemente comentadas a seguir.
amplo aos fenômenos psicológicos, tanto no A teoria de Rogers foi construída a
sentido interpretativo das relações da pessoa partir da noção de centralidade, em que a
no mundo, quanto na compreensão dos definição de pessoa ancorou-se no projeto da
modos de estar e atuar neste mundo. modernidade, como um ser indiviso, unitário,
Quanto às possibilidades de centrado, livre, com primazia da ordem
correlacionarmos algumas concepções subjetiva. Na perspectiva heideggeriana, ao
fenomenológicas, em especial a invés da centralidade, evidencia-se a noção
heideggeriana, com a prática clinica, vale de abertura, conceito vinculado ao projeto
atentar para o fato de que a compreensão da pós-moderno que valoriza a disposição para a
existência enquanto fenômeno é captada descoberta e a existência (dasein) enquanto
indiretamente, não por um mundo interno mera possibilidade, abertura de ser;
desconhecido, mas pelo seu modo próprio de apropriação de si que é também abertura ao
mostrar-se ou seja, o fenômeno é apreendido outro e ao mundo. Como possibilidade de
através de perspectivas, na medida em que se atualização, e considerando o cenário
desvela. Assim sendo, focaliza-se a forma de contemporâneo e os múltiplos modos de
se mostrar, podendo inclusive mostrar-se existência, é válido uma reinterpretação da
como não é: aparência ou através de teoria de Rogers em uma perspectiva des-
indicações de coisas que em si mesmas não se centrada ou centrada nas relações, que vá
mostram, apenas se anunciam: manifestação além da pessoa-indivíduo, com abertura à
ou ainda mostrar-se e ao mesmo tempo complexidade em que o sujeito constitui e é
esconder-se: entulhamento (Feijoo, 2000), constituído pelo mundo, de modo
Esta autora ressalta, ainda, que, “[...] ininterrupto.
cabe ao psicoterapeuta a tarefa de trazer à Quanto ao conceito de angústia, na
tona a expressão inautêntica e autêntica do teoria da personalidade formulada por
cliente, mobilizando-o de forma a possibilitar Rogers, ela aparece enquanto uma resposta
o reconhecer-se – bem como, uma vez funcional ao alto grau de incongruência entre
lançado em sua liberdade e sua self e experiência organísmica. Já em
responsabilidade, escolher suas Heidegger, é vista como uma disposição
possibilidades” (Feijoo, 2000, p.105). fundamental da existência, fenômeno
Com base em tais premissas, é possível constitutivo da condição humana, que
lançar um olhar contemporâneo sobre a possibilita desvelamento da existência, sair da
Abordagem Centrada na Pessoa e refletir cotidianidade e uma apropriação de si. Por
sobre algumas propostas de reconfiguração um viés psicológico, esta categoria pode ser
de alguns conceitos da matriz epistemológica apropriada pela teoria e método da ACP,
desta abordagem. O sentido de re- devendo esta abordagem também abrir-se ao
configuração, desconstrução ou re-leitura estranho, à falta, como condição de
aqui empregado não significa, possibilidade da existência.
necessariamente, destruição ou negação da Articulando-se o conceito de
teoria rogeriana, mas acima de tudo, um autenticidade em Rogers, entendido como

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____________________Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa

acordo interno, simbolização acurada da


experiência na consciência, abertura à Amatuzzi, M.M. (2010). Rogers:: ética
experienciação com a concepção de cuidado humanista e psicoterapia. Campinas: Alínea.
na fenomenologia de Heidegger, vista como
um projetar-se ao seu poder-ser mais próprio, Barreto, C.(1999). A compreensão e o lugar da
propiciado pela angústia, ou seja, o cuidado já abordagem centrada na pessoa no espaço
é abertura enquanto tal, acontecendo, pode- científico-sociocultural contemporâneo.
se refletir sobre a função terapêutica, que a Revista symposium, Universidade Católica de
partir desta noção seria desvelar as várias Pernambuco, Recife, ano 3, p. 34-40.
possibilidades de existir e devolver o cliente
ao seu cuidado, facilitando à assunção de si e Belém, D. M. (2004). Abordagem centrada na
não mais ‘libertar as capacidades já presentes pessoa: um olhar contemporâneo. 2004. 135
em estado latente’. f. Dissertação (Mestrado em Psicologia
Rogers, já em sua última fase, expandiu Clínica) – Departamento de Psicologia,
suas concepções deixando indicativos de Universidade Católica de Pernambuco, Recife.
mudanças e ampliação de sua abordagem.
Fonseca (1998) considera que Rogers Bezerra, M. E. (2007). Um estudo crítico das
contribuiu, de forma significativa e psicoterapias fenomenológico-existenciais:
diferenciada, com a constituição de um terapia centrada na pessoa e gestalt-terapia.
modelo fenomenológico-existencial de 125f. Dissertação (Mestrado em Psicologia
psicologia e de psicoterapia. Alerta-nos sobre Clínica e Social). Departamento de Psicologia
a importância de uma compreensão efetiva, Cínica, Universidade Federal do Pará.
experimentação e desdobramento deste
modelo. Bruns, M. A. (2001). A redução
Assim, no que se refere à ACP, fenomenológica em Husserl e a possibilidade
detentora de um corpo teórico próprio, de superar impasses na dicotomia
sistematizado e consistente, aberta à subjetividade e a objetividade. Em: Bruns, M.
permanente atualização, conclui-se que, A.; Holanda, A.F. (Org.) Psicologia e pesquisa
antes de tudo, é uma abordagem psicológica fenomenológica: reflexões e perspectivas. São
singular, com sólida fundamentação em Paulo: Ômega.
pesquisas acadêmicas estabelecidas a partir
de atendimentos psicoterápicos, ampliada Bruns, M. A & Trindade, E. (2001).
posteriormente para diferentes tipos de Metodologia fenomenológica: a contribuição
relação de ajuda. Possui, além disso, da ontologia-hermenêutica de Martin
caracteres significativos de natureza Heidegger. Em: Bruns, M. A.; Holanda, A. F.
humanista, existencial e fenomenológica que (org.) Psicologia e pesquisa fenomenológica:
lhe permitem dialogar proficuamente e reflexões e perspectivas. São Paulo: Ômega.
estabelecer permanentes correlações com
todo modo de pensamento estabelecido Capalbo, C. (1987). Fenomenologia e ciências
sobre parâmetros não-positivistas, contrários humanas. Rio de Janeiro: Âmbito.
a qualquer forma de objetivismo causal,
utilitarista, universal e reducionista da Critelli, D. M. (1996). Analítica do sentido:
complexa e dinâmica condição humana de uma aproximação e interpretação do real de
existência. orientação fenomenológica. São Paulo: EDUC:
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Nota sobre os autores

Márcia Elena Soares Bezerra:


Bezerra Professora
Assistente da Faculdade de Psicologia da
Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre
em Psicologia Clínica e Social pela
Universidade Federal do Pará (UFPA).
Coordenadora Técnica da Clínica de Psicologia
da UFPA. Email: marciasoares@ufpa.br

Edson do Nascimento Bezerra


Bezerra:
erra: Professor
Assistente da Universidade da Amazônia
(UNAMA). Formação em Filosofia e em
Psicologia pela Universidade Federal do Pará
(UFPA). Email: en.bezerra@gmail.com

Recebido em: 12/07/2012


Aceito em: 30/11/2012

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