Nos discursos inflamados do atual presidente do Brasil, e de diversos outros
discursos oficiais tem-se tornado cada vez mais recorrente a alusão de que a produção e o consumo do álcool combustível (etanol) pelas pessoas é o combustível do futuro. De fato, o álcool é um biocombustível e bem menos poluente que os combustíveis fósseis, e está ao alcance no presente, de forma barata e acessível a grande parte da população brasileira, e até mesmo mundial. No Brasil, o setor sucroalcooleiro gera divisas com a exportação na casa de US$ 7,7 bilhões, criando empregos diretos e indiretos no patamar de 3,6 milhões por ano. Por tudo isso, somando-se a grande valorização do preço do álcool no mercado internacional, devido à possibilidade do etanol se tornar um combustível mundial, as plantações de cana-de-açúcar tem aumentado em alguns Estados do país, especialmente em São Paulo. Tudo isso seria de se enaltecer não fossem os problemas verificados em todo o processo da produção do álcool combustível. Os problemas da monocultura são expressos e verificáveis, e permeiam toda a História da agricultura do Brasil. O Estado de São Paulo concentra nos dias hoje cerca de 60% de toda a produção de cana-de- açúcar do país, possui também, em decorrência disso, concentração de terras, evasão fiscal, más condições de trabalho nas plantações, e como conseqüência direta da monocultura: o enfraquecimento da diversidade econômica das cidades em detrimento à agropecuária e alimentos básicos que encarecem o custo de vida à maioria da população, a mais carente e que é atingida diretamente. Isso sem citar os problemas ambientais e de saúde gerados no âmbito desta produção: por exemplo, as queimadas que ainda são efetuadas neste tipo de exploração agrícola que afetam os solos e a qualidade do ar nas cidades a sua volta, que causam nas pessoas diversos problemas respiratórios. Algumas destas variáveis, se assim podemos chamar, são a lotação dos precários e mal instalados hospitais municipais e mesmo os melhores hospitais estaduais, inchando a já deficiente atenção médica da rede pública, aumentando os gastos gerais do Estado para com a área médica, bem como os orçamentos das famílias mais carentes, pois como se sabe, os mais abastados não costumam enfrentar filas de Pronto Socorro. Na área propriamente ambiental, as queimadas desgastam os solos, matando microorganismos fundamentais à vida vegetal das espécies cultiváveis, fazendo os agricultores e indústria da cana, cada vez mais, utilizarem de adubos químicos para obterem a produtividade desejada. Tais insumos uma hora ou outra, são carregados invariavelmente, aos rios, lagos e ao subsolo onde poluirão os depósitos de água. É preciso olhar com bastante atenção a expansão do setor sucroalcooleiro, para não se cometer os erros do passado agrícola exportador brasileiro. Em São Paulo, nos anos de 2005-2006 a área plantada com cana-de-açúcar aumentou em 15%. A crença em uma só cultura pode causar a vulnerabilidade, ou, fragilidade diante de uma mudança econômica que afete este setor, isso apenas para atentar o lado econômico da coisa. Uma pequena atualização (crítica), nas pesquisas recentes sobre a produção da cana-de-açúcar no Brasil nos dias de hoje, podem mostrar os numerosos problemas sociais, econômicos e ambientais, históricos da agricultura brasileira, ainda ocorrendo e sendo sustentados pelos seus resultados econômicos mais imediatos e rápidos.