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Mas, uma questão ainda perdura no ar, qual é o interesse desta epopeia para a História?
Se vendo pelo lado literário, a Epopeia de Gilgamesh é considerada por muitos como a
obra literária mais antiga conhecida. Para a historiografia, a epopeia possibilita não
somente entender alguns costumes dos povos desta época, como também compreender
sua visão do mundo que eles tinham, já que Gilgamesh viaja por muitos lugares; além
de entender alguns aspectos da religião suméria, como também alguns aspectos de
ordem política e social. Já que se desbravando os versos do poema, pode-se retirar uma
análise da sociedade daquela época. E por fim, outro ponto interessante a se analisar
neste poema, é a sua versão do Dilúvio. Versão esta que antecede a versão biblíca em
alguns séculos.
Mas, antes de começar a falar sobre a epopeia, farei uma rápida introdução a respeito de
quem foram os Sumérios. A região que compreendia a Suméria se estendia do centro ao sul da
Mesopotâmia como pode ser vista no mapa abaixo. Não se sabe ao certo quando foi que os
sumérios se estabeleceram nestas terras baixas e férteis, mas, indícios arqueológicos sugerem
o estabelecimento de cidades a pelo menos uns 5000 a.C.
Os sumérios ficaram conhecidos como tendo sido uma das civilizações mais avançadas
da Antiguidade, tendo se destacado nos campos da matemática, engenharia, irrigação,
agricultura, astronomia, medicina e na escrita. O alfabeto mais antigo conhecido pelo
homem tem origem suméria; a escrita cuneiforme(alguns historiadores defendem que
os hieroglifos egípcios sejam mais antigos). Estimasse que a escrita cuneiforme tenha
sido inventada por volta de 4000-3500 a.C, mas foi sendo aperfeiçoada pelos séculos
seguintes, tendo sido uma escrita usada ao longo de pelo menos 3 mil anos.
Gilgamesh:
Neste ponto é importante assinalar que para os antigos naquela época, não havia uma
divisão nítida entre o que era mito, lenda e história como hoje possuímos. Hoje para
alguns, mito e lenda referem-se a histórias fictícias e fantasiosas, mas para os antigos
sumérios, tudo era história, pois o sobrenatural e o natural não eram planos afastados,
mas que confluíam em si. Ademais, não se falava em "mito" ou "lenda" de Gilgamesh,
mas falava-se em seus feitos, aventuras e histórias.
Gilgamesh, segundo nos conta sua epopeia, era filho da deusa Ninsun, uma deusa
menor da cidade de Uruk, com um mortal. No entanto seu pai nunca foi definitivamente
definido. Em algumas versões se fala que seu pai foi um sacerdote do templo da deusa;
em outras que ele teria sido um fantasma ou um demônio, e em outras, que ele teria sido
filho do rei Lugulbanda, o qual foi o segundo soberano de Uruk, da Segunda Dinastia,
tendo governado por 1200 anos. Sendo assim, Gilgamesh era descrito como sendo 2/3
deus e 1/3 humano. Por isso ele possuía uma grande beleza e força herdada de sua mãe,
e a mortalidade de seu pai.
"Proclamarei ao mundo os feitos de Gilgamesh. Eis o homem para quem todas as coisas
eram conhecidas; eis o rei que percorreu as nações do mundo. Ele era sábio, ele viu
coisas misteriosas econheceu segredos. Ele nos trouxe uma história dos dias que
antecederam o dilúvio. Partiu numa longa jornada, cansou-se, exauriu-se em trabalhos
e, ao retornar, descansou e gravou na pedra toda a sua história". (OLIVEIRA, 2001, p.
60).
Com tais trunfos ele tinha tudo para ser um herói, mas, de fato não fora assim no
começo. O rei se vangloriava em dizer que foi o responsável por ter erguido as muralhas
de Uruk, na qual de fato, no poema a cidade tem o epíteto de "Uruk, a das grandes
muralhas" ou "Uruk, a de poderosas muralhas".
"Uns 9 quilômetros de muralhas cercaram a cidade, fechando não só a sua parte mais
central, mas incluindo também subúrbios e baldios (para a fabricação de tijolos), hortas
e, provavelmente, algumas terras de pastagem. A muralha tinha, de fato, fundações,
fundações de tijolo cozido. Sua altura era de mais de 7 metros e os portões eram
protegidos por torres salientes". (LEICK, 2003, p. 79).
No entanto, se por um lado o rei dispunha de força, beleza e coragem, ele era um
soberano orgulhoso e devasso. Nas primeiras partes do poema, conta-se como o povo da
cidade estava desgostoso com o governo de Gilgamesh, o qual arranjava brigas, corria
atrás de qualquer mulher que lhe chama-se a atenção e vivia em festas.
"Os deuses escutaram o lamento do povo. Os deuses do céu gritaram para o Senhor de
Uruk, para Anu, o deus de Uruk: "Uma deusa o fez forte como um touro selvagem;
ninguém pode opor-se à força de seus braços. Não há pai a quem tenha sobrado um
filho, pois Gilgamesh os leva todos; e é este o rei, o pastor de seu povo? Sua luxúria não
poupa uma só virgem para seu amado, nem a filha do guerreiro nem a mulher do nobre".
(OLIVEIRA, 2001, p. 61).
Enkidu:
Enkidu e Gilgamesh
Araru obedecendo as ordens de An, moldou no barro a imagem e essência de An, um ser
no qual ela o batizou de Enkidu. Enkidu personificava a força oposta a Gilgamesh.
Enquanto este simbolizava o homem "civilizado" e "corrupto", Enkidu simbolizava o
homem "selvagem" e ao mesmo tempo "puro". Enkidu é descrito como sendo um
homem forte, robusto, de longos cabelos emaranhados, barba longa, e pelos espalhados
pelo corpo. Em algumas das retratações dele, ele possui chifres.
"A deusa então concebeu em sua mente uma imagem cuja essência era a mesma de An,
o deus do firmamento. Ela mergulhou as mãos na água e tomou um pedaço de barro; ela
o deixou cair na selva, e assim foi criado o nobre Enkidu. Havia nele virtudes do deus
da guerra, do próprio Ninurta. Seu corpo era rústico, seus cabelos como os de uma
mulher;eles ondulavam como o cabelo de Nisaba, a deusa dos grãos. Ele tinha o corpo
coberto por pelos emaranhados, como os de Samuqan, o deus do gado. Ele era inocente
a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terra". (OLIVEIRA, 2001, p. 62).
Enkidu vivia correndo pelas florestas e campos junto com os animais selvagens, se
alimentando de grama e bebendo água. Ele não era um ser totalmente bestial como
alguns pensam. Ele sabia falar a língua dos homens, e desarmava as armadilhas dos
caçadores para salvar os animais.
Sua história se entrelaça com a de Gilgamesh quando este é avistado por um caçador.
Este intimidado pela criatura, fala com seu pai, no qual diz para ele ir procurar a ajuda
do poderoso Gilgamesh, rei de Uruk e senhor de Kullab. O caçador vai em busca do rei
e lhe conta seu relato. Gilgamesh intrigado com tal ser, decide desafia-lo, mas, para isso,
ele teria que "humanizá-lo". Ele lhe envia uma prostituta com este, dizendo que a
luxúria da prostituta corromperia a pureza de Enkidu, o enfraquecendo. Dito isso, o
caçador retorna com a prostituta, a qual leva a cabo sua missão. Após sete dias com a
prostituta, Enkidu deixa de ser totalmente selvagem, passa a comer pão e a beber vinho,
a usar roupas e a untar o pelos com óleo.
Enkidu passa a viver um tempo entre os camponeses e aprende a cultivar a terra. Depois
de algum tempo, ele é avisado que Gilgamesh realizaria um ritual de casamento em
Uruk e o povo estava revoltado com este. Enkidu decide seguir para a cidade.
"Irei à cidade cujo povo Gilgamesh domina e governa; vou desafiá-lo au-dazmente para
um combate e gritarei por Uruk: 'Vim para mudar a velha ordem, pois sou o mais forte
daqui." (OLIVEIRA, 2001, p. 67).
Lá Enkidu se encontra com Gilgamesh e os dois partem para a luta. Gilgamesh sendo
orgulhoso não aceitava que houvesse um homem mais forte que ele. Mas, durante a luta
ele descobre que Enkidu era mais forte que ele, sendo derrotado ele esperava por sua
morte, mas, no fim Enkidu poupa-lhe a vida, e Gilgamesh passa a ser eternamente grato
a ele.
Diferente de Gilgamesh que possuem relatos que indicam sua existência como monarca
real, Enkidu carece de fontes que corroborem se realmente foi um homem real.
Encontram-se poemas dedicados a ele, mas cujas histórias datam depois da Epopeia.
Teria sido Enkidu um conselheiro, general, amigo do rei Gilgamesh, ou um personagem
introduzido em sua história? Pois a Epopeia não foi escrita na época do rei, mas foi
escrita séculos depois, inclusive possuindo distintas versões. Os relatos mais antigos que
foram até hoje descobertos dessa história, em forma escrita, datam por volta do século
XX a.C, o que revela um texto proveniente de cinco ou seis séculos depois da vida de
Gilgamesh, o que bate com a hipótese de Lévêque, que o rei possa ter se tornado uma
"figura lendária", séculos depois.
Enredo:
Após a união de Gilgamesh e Enkidu os dois iniciam suas aventuras. Dessa parte em
diante a epopeia se divide em quatro partes principais: a viagem para a Floresta de
Cedros, a Vingança de Inanna e amorte de Enkidu, e por fim a busca pela
imortalidade e a história do dilúvio.
A Floresta de Cedros ou a Terra dos Cedros, era um lugar sagrado no qual se encontrava
uma montanha associada a morada dos deuses e em alguns casos era tida como o trono
da deusa Inanna. A gigantesca floresta, retratada na epopeia, era guardada por um
gigante chamado Humbaba ou Huwawa. Gilgamesh e Enkidu acabam matando Humbaba
e conquistando o almejado tesouro.
Possível representação de Gilgamesh (direita) e Enkidu confrontando Humbaba (ao
centro).
De fato na Mesopotâmia sempre houve uma escassez de madeira, sendo assim, a
madeira era algo raro e muito valioso. Por isso que ambos viajam para tal lugar. No
campo historiográfico, alguns historiadores associam a localização de tal floresta
no Líbano, ou na Síria, ou no Elam, ou até mesmo na Turquia.
"Vem comigo, Gilgamesh, e seja meu consorte; infunde-me a semente de teu corpo;
deixa-me ser tua mulher e serás meu marido. Arrearei para ti uma carruagem com ouro e
lápis-lazúli; as rodas serão de ouro, as trompas de cobre; em vez de mulas, terás para
puxá-la os poderosos demônios da tempestade. Ao entrares em nossa casa, envolvida na
fragrância do cedro, terás a soleira e o trono a beijar-te os pés. Reis, tiranos e príncipes
se curvarão à tua presença; eles te trarão tributos das montanhas e das planícies. Tuas
ovelhas darão à luz gêmeos e tuas cabras trigêmeos; teus burros de carga serão mais
rápidos do que as mulas; nada se igualará a teu gado, e os cavalos de tua carruagem
serão conhecidos em terras distantes por sua velocidade." (OLIVEIRA, 2001, p. 81).
No entanto ele acaba resistindo a traiçoeira tentação da deusa do amor e da guerra. Com
isso ele a repudia.
"Gilgamesh abriu a boca e respondeu à gloriosa Ishtar: “Se vos tomar como esposa, que
presentes poderei oferecer em troca”? Que vestes e perfumes poderia te dar? De bom
grado dar-vos-ia pão e todo tipo de comida à altura de um deus. Dar-vos-ia de beber um
vinho digno de uma rainha. Eu abarrotaria vosso celeiro de cevada; mas fazer de vós
minha esposa, isso não. O que seria de mim? Fostes para vossos amantes como um
braseiro que arde sem chama no frio, como uma porta que não protege do vento cortante
ou da tempestade, uma fortaleza que esmaga sua guarnição, uma jarra que enegrece o
ombro de quem a carrega, um odre que escorre e esfola a pele de seu portador, uma
rocha que cai do parapeito, um aríete vindo do inimigo, uma sandália que faz tropeçar
aquele que a veste. Qual de vossos amantes chegastes alguma vez a amar para
sempre?". (OLIVEIRA, 2001, p. 81).
Inanna revoltada com o repúdio de Gilgamesh parte para o céu a procura de An. Lá ela
lhe pede que este lhe de o Touro do Céu para poder castigar Gilgamesh. An acaba
cedendo e lhe dá o touro, no entanto os dois heróis matam o touro. A raiva de Inanna
cresce ainda mais. Porém, em meio ao tumulto, o deus dos ventos e da terra, Enlil fica a
parte dos fatos. Enlil fora quem escolhera Humbaba como guardião da floresta, e este era
irmão de Inanna. Zangado com a morte de Humbaba, com a morte do Touro do Céu e a tristeza
de sua irmã, ele decide amaldiçoar Gilgamesh.
"Por terem matado o Touro do Céu e por terem morto Humbaba, que tomava conta da
Montanha de Cedro, um dos dois tem de morrer". (OLIVEIRA, 2001, p. 84).
Possível representação de Gilgamesh (direita) e Enkidu, confrontando o Touro do Céu.
Como Gilgamesh considerava Enkidu como um irmão, a maior dor não seria perder sua
própria vida, mas perder seu irmão. Com isso Enlil amaldiçoa Enkidu, e por 12 dias ele
sofre as dores da enfermidade, morrendo com grande sofrimento. Com a morte de
Enkidu, Gilgamesh passa temer ainda mais o fardo dos mortais, então decide buscar
uma solução, procurar a vida eterna.
Utnapshitim:
Bíblia:
"Deus vendo que era grande a malícia dos homens sobre a terra e que todos os
pensamentos do seu coração estavam continuamente aplicados ao mal, 'arrependeu-se
de ter feito o homem sobre a terra. E tocado de íntima dor de coração, disse:
"Exterminarei da face da terra o homem que criei, desde o homem até aos animais,
desde os répteis até às aves do céu". (Gênesis 6: 5-6).
Epopeia:
"Foi o que Enlil fez, mas Ea, por causa de sua promessa, me avisou num sonho. Ele
denunciou a intenção dos deuses sussurrando para minha casa de colmo: 'Casa de
colmo, casa de colmo! Parede, oh, parede da casa de colmo, escuta e reflete. Oh,
homem de Shurrupak, filho de Ubara-Tutu, põe abaixo tua casa e constrói um barco.
Abandona tuas posses e busca tua vida preservar; despreza os bens materiais e busca tua
alma salvar. Põe abaixo tua casa, eu te digo, e constrói um barco". (OLIVEIRA,
2001, pp. 100-101).
"Eis as medidas da embarcação que deveras construir: que a boca extrema da nave tenha
o mesmo tamanho que seu comprimento, que seu convés seja coberto, tal como a
abóbada celeste cobre o abismo; leva então para o barco a semente de todas as criaturas
vivas". (OLIVEIRA, 2001, p. 101).
"O barco tinha um acre de área e cada lado do convés media cento e vinte côvados,
formando um quadrado. Construí abaixo mais seis conveses, num total de sete, e dividi
cada um em nove compartimentos, colocando tabiques entre eles. Finquei cunhas onde
elas eram necessárias, providenciei as zingas e armazenei suprimentos". (OLIVEIRA,
2001, p. 101).
Bíblia:
"disse a Noé: O fim de toda a carne chegou diante de mim; a terra, por suas obras, está
cheia de iniquidade e eu os exterminarei com a terra. "Faze uma arca de madeiras
aplainadas; farás na arca uns pequenos quartos, e calafetá-la-ás com betume por dentro e
por fora. "E hás de fazê-la do seguinte modo: o comprimento da arca será de trezentos
côvados, a largura de cinquenta côvados, e a altura de trinta côvados". (Gênesis 6: 5-6).
Epopeia:
"Foi com muita dificuldade então que a embarcação foi lançada à água; o lastro do
barco foi deslocado para cima e para baixo até a submersão de dois terços de seu corpo.
Eu carreguei o interior da nave com tudo o que eu tinha de ouro e de coisas vivas:
minha família, meus parentes, os animais do campo — os domesticados e os selvagens
— e todos os artesãos". (OLIVEIRA, 2001, p. 102).
Bíblia:
"Mas contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca tu e teus filhos, tua
mulher e as mulheres de teus filhos contigo. "E, de cada espécie de todos os animais,
farás entrar na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo". (Gênesis 6: 6-8).
Epopeia:
"Ao primeiro brilho da alvorada chegou do horizonte uma nuvem negra, que era
conduzida por Adad, o senhor da tempestade. Os trovões retumbavam de seu interior, e,
na frente, por sobre as colinas e planícies, avançavam Shul-lat e Hanish, os arautos da
tempestade. Surgiram então os deuses do abismo; Nergal destruiu as barragens que
represavam as águas do inferno; Ninurta, o deus da guerra, pôs abaixo os diques; e os
sete juizes do outro mundo, os Anunnaki, elevaram suas tochas, iluminando a terra com
suas chamas lívidas. Um estupor de desespero subiu ao céu quando o deus da
tempestade transformou o dia em noite, quando ele destruiu a terra como se despedaça
um cálice. Por um dia inteiro o temporal grassou devastadoramente, acumulando fúria à
medida que avançava e desabando torrencialmente sobre as pessoas como os fluxos e
refluxos de uma batalha; um homem não conseguia ver seu irmão, nem podiam os
povos serem vistos do céu. Até mesmo os deuses ficaram horrorizados com o dilúvio;
eles fugiram para a parte mais alta do céu, o firmamento de Anu, onde se agacharam
contra os muros e ficaram encolhidos como covardes". (OLIVEIRA, 2001, pp. 102-
103).
Bíblia:
"E, passado sete dias, caíram sobre a terra as águas do dilúvio. "No ano seiscentos de
vida de Noé, no segundo mês, aos dezessete do mês romperam-se todas as fontes do
grande abismo, e abriram-se as cataratas do céu". (Gênesis 7: 6-8).
Epopeia:
"Por seis dias e seis noites os ventos sopraram; enxurradas, inundações e torrentes
assolaram o mundo; a tempestade e o dilúvio explodiam em fúria como dois exércitos
em guerra. Na alvorada do sétimo dia o temporal vindo do sul amainou; os mares se
acalmaram, o dilúvio serenou. Eu olhei a face do mundo e o silêncio imperava; toda a
humanidade havia virado argila. A superfície do mar se estendia plana como um
telhado. Eu abri uma janelinha e a luz bateu em meu rosto. Eu então me curvei, sentei e
chorei. As lágrimas rolavam pois estávamos cercados por uma imensidade de água.
Procurei em vão por um pedaço de terra". (OLIVEIRA, 2001, p. 103).
Bíblia:
"E caiu chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites". (Gênesis 7: 6-8).
"E veio o dilúvio sobre a terra durante quarenta dias; e as águas cresceram, e elevaram a
arca muito alto por cima da terra. Inundaram tudo com violência, e cobriram tudo
na superfície da terra". (Gênesis 7: 6-8).
"Toda a carne que se movia sobre a terra foi consumida; as aves, os animais, as feras, e
todos os répteis que andam de rastos sobre a terra, e todos os homens". (Gênesis 7: 6-8).
Epopeia:
"A quatorze léguas de distância, porém, surgiu uma montanha, e ali o barco encalhou.
Na montanha de Nisir o barco ficou preso; ficou preso e não mais se moveu".
(OLIVEIRA, 2001, p. 103).
"Na alvorada do sétimo dia eu soltei uma pomba e deixei que se fosse. Ela voou para
longe, mas, não encontrando um lugar para pousar, retornou. Então soltei uma
andorinha, que voou para longe; mas, não encontrando um lugar para pousar, retornou.
Então soltei um corvo. A ave viu que as águas haviam abaixado; ela comeu, voou de um
lado para o outro, grasnou e não mais voltou para o barco". (OLIVEIRA, 2001, p. 103).
Bíblia:
"E no sétimo mês, no vigésimo sétimo dia do mês, parou a arca sobre os montes da
Armênia". (Gênesis 8: 8-9).
"E tendo-se passado quarenta dias, abriu Noé a janela, que tinha feito na arca e soltou
um corvo, o qual saiu e não tornou mais, até que as águas secaram sobre a terra.
"Mandou também uma pomba depois dele, para ver se as águas teriam já cessado de
cobrir a face da terra. "E ela não encontrando onde pousar seu pé, tornou a vir a ele para
a arca". (Gênesis 8: 8-9).
"Depois de ter esperado outros sete dias, novamente deitou a pomba fora da arca. "E ela
voltou a ele pela tarde, trazendo no bico um ramo de oliveira, com as folhas verdes.
Entendo pois Noé que as águas tinham cessado sobre a terra". (Gênesis 8: 8-9).
Epopeia:
"Eu então abri todas as portas e janelas, expondo a nave aos quatro ventos. Preparei um
sacrifício e derramei vinho sobre o topo da montanha em oferenda aos deuses. Coloquei
quatorze caldeirões sobre seus suportes e juntei madeira, bambu, cedro e murta. Quando
os deuses sentiram o doce cheiro que dali emanava, eles se juntaram como moscas sobre
o sacrifício". (OLIVEIRA, 2001, p. 104).
Bíblia:
"E Noé edificou um altar ao Senhor e, tomando de todos os animais e de todas as aves
puras, ofereceu-os em holocausto sobre o altar. "E (com isto) recebeu o Senhor um
suave odor". (Gênesis 8: 8-9).
Deste ponto em diante retornarei a epopeia. Noé e sua família foram abençoados por
Deus, e tiveram o dever de repovoar a terra e reconstruir as cidades.
De qualquer forma este lugar ficava localizado além do Oceano, no extremo do mundo.
Tendo Gilgamesh cruzado campos, rios, florestas, montanhas, mares, até chegar
finalmente ao jardim dos deuses depois da Montanha Mashu, e de lá ser tentado
por Siduri (uma mulher que fazia vinho), a permanecer neste jardim, ele é ajudado por
esta, e vai em busca do barqueiro Urshanabi, o qual o leva até a Utnapishtim.
Chegando lá ele ouve de Utnapishtim o relato do dilúvio, e então pede para ele, se este
poderia lhe conceder a imortalidade. De primeiro momento, o homem se recusa, mas,
depois de tanta persuasão, ele acaba cedendo, porém com uma condição, Gilgamesh
teria que ficar seis dias e sete noites sem dormir. Sendo assim, ele aceita o desafio e
começa sua batalha contra o sono. No entanto, o poderoso herói acaba cedendo ao sono,
e Utnapishtim disse que com isso ele não poderia ajudá-lo e o melhor seria que ele
voltasse para casa.
Referências Bibliográficas:
ANÔNIMO. A Epopeia de Gilgamseh. Tradução de Carlos Daudt de Oliveira. 2a ed.
São Paulo, Martins Fontes, 2001.
BÍBLIA Sagrada. São Paulo, Edições Paulinas, 1975.
CONTENEAU, Georges. A civilização de Assur e Babilônia. Rio de Janeiro, Ferni,
1979.
LEICK, Gwendolyn. Mesopotâmia: A invenção da cidade. Rio de Janeiro, Imago Ed,
2003.
LÉVÊQUE, Pierre. As primeiras civilizações: a Mesopotâmia e os hititas, vol, II.
Tradução de Antônio José Pinto. Lisboa, Edições 70, 1987. 2v.
WERNER, Keller. E a Bíblia tinha razão. São Paulo, Circulo do Livro S. A, 1978.
(Capítulo 4: Narrativa de inundação na antiga Babilônia).