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insuficiência do mo e o processual clássico, marcadamente individualista. re
gulamentação do processo coletiYQJnseI:e:se,--pois,...llessecontexto, como forma
de permitir a adequada tutela de bens iurídícos de natureza.transindividual, que'
açi então eram quase que descons~o~as ordens jurídicas.
Vale salientar que, conquanto a ascensão das massas deixasse evidente a neces-
sidade do processo coletivo, nos países europeus em geral a regulamentação a esse
respeito somente ocorreu na segunda metade do século:XX.Diversamente, os Esta-
dos Unidos, que já haviam tratado do tema em 1842, editaram em 1938 as Pederal
Rules of Civil Procedure, cuja norma nº 23, sobretudo com a reforma de 1966, deu
origem ao modelo de processo coletivo de maior influência no direito comparado.
2 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Jurisdição coletiva e coisajulgada: teoria geral das ações coletivas. 2. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 32-33 e 48. Observe-se que, conquanto a primeira codificaçãc das ações
de classe no direito norte-americano tenha ocorrido em 1842, nos dois séculos anteriores as courts of chance/y
já admitiam tais ações excepcionalmente, com base em critérios de necessidade e conveniência (GIDJ, Antonio,
A class action como instrumento de tutela coletiva dos direitos: as ações coieüvus ('11/ 1/11/(/ /l(,,.,~I'('cliv(/ cumpurad«,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 4046),
3 ALVIM NETTO, José Manuel de Arruela, Anowçfll's sohll' tiS IlI'lpll'xjdlld,·~ " IIS "1111111IIr"" dll pllll'l:SNIl clvll
contemporâneo sua evoluçuo "O lado da do dll,'!l1I ""II"II,rI,l/n/,'" .I,. /)/1";/11'/" ('"",""",/,,/ v.:l, Siíll 1',1\110
H,'Vlsto! dO', '1'1 ilrll""I,. '""' 1'1'1'1 •• '11,1)'
IIWlIll' pelo Brasil COIll SUei indcpcndêncía juridica de Portugal foram justamente
IlO sent ido cornrárlo. Isso se explica pelo fato de que, em face do tardio desenvol-
vimcnto do capitalismo 110S países da América Latina, o fenômeno da ascensão
dóis massas, com a reivindicação de direitos transindividuais, somente ocorreu
depois da Segunda Guerra Mundial.
Pois bem. Em 1916 foi publicado o Código Civil de Clóvis Bevilágua, ~e,
1116n de cssencialmen . d' . ualista e o ara a proteçao do patrimônio
[lI ivudo, teve a intenção deliberada de fechar as portas às tute as co etlvas.
Na seara processual, também foi marcado por um ideário liberal-individualis-
I iI o Código de Processo Civil de 1939, cuja diretriz foi seguida, com técnica mais
npurada, pelo Código de Processo Civil de 1973, ainda em vigor.
Em .tais Códigos de Processo Civil foi dado enfQqJ..l.f!_HUaSe que exclusivo aos
conflitos individuais do tipo "Tício versus Caio", não se tratando de conftimsde
11IílSSarelativos a direitos metaindividuais, tais atrl-
mônio púb lCO e a probidade administrativa. O máximo que se permitiu a título
dI' IImprlaçao nos elementos da causa (partes, causa de pedir e pedido) diz res-
pl'ilo às hipóteses de litisconsórcio, intervenção de terceiros e reunião de ações
plll conexão ou continência; mesmo assim, porém, o processo permaneceu essen-
u,lImente individualista, com a não-vinculação de grupos à autoridade da coisa
jlllgllda e a ausência de previsão acerca de legitimados para a defesa de direitos
11,insi ndividuais, cujos titulares (isto é, determinadas coletividades) estão impos-
"ihililados de figurar corno partes no processo.
Antes mesmo do CPC de 1973, todavia, o avanço da sociedade e a massifi-
1'.1\,10 dos conflitos ocorrida posteriormente à Segunda Guerra Mundial já to r-
nuv.un evidente a necessidade de inovações no direito processual brasileiro, sob
PI'II,I de este perder sua eficácia social.
Nesse sentido, alguns instrumentos processuais destinados à tutela de direi-
IO~ coletivos despontaram no ordenamento jurídico brasileiro.
q cxcrn 10 bl
'tico consiste na ação o sta.);!rimeiramente na
COIl~Utuiç㺠de 1934, suprimida na e 937, restabelecida Da de 1946 e, porfim,
disciplinada na Lei 4.71V6S (LAP), a qual foi recepcíonada pelas Constituições
pnfil('liores, inclusive a de 1988..
Outro marco importante consiste na promulgação da CLT em 1943, permi-
urulo iI solução pelo Judiciário de dissídios coletivos entre categorias de empre-
'ados (' empregadores, representadas pelos respectivos sindicatos. De modo se-
Nhll IIh~lilllll~ o C6dl}lo Civil di' 2()()2 1(,lIha nvançado no uuuu dn tutela de interesses sociais (veja-se, por
IlIplo, 01111.'121, 1/111' dl~put· ~ohll'" fllll~;IO surjol do ('C)1I11i11O), I1'1('}lou aos direitos coletivos limo disciplina
IIH.'II.I' 11111111'1111',
IIIII~.I, llillidil, pl:ldl,"du oll·XI~ladu. p;\1111I>\lIl1ldl' OpOllllllldlldl' di' dl'SlilHII um capüulo para
.1Ilhirlpflll.1 do 1)111'110 MIII.:,IIII <;01"1111".o 11'111 II~,IIIIIII'IIII' 11'1"1";""1111 li! XI.'11<11'
IIVIII\(;il IIi1 '"illl'lliI
4 Curso de Processo Coleuvo • I)onil.l'lli l~Cl'I"I,,!I'11
apítulo I do Título 11
mentais"), trata não só de direitos indiViauais,
• Como explica Antonio Gidi, "a legislação [LACPe CDC] e a doutrina brasileiras foram baseadas inteiramente
11;\ doutrina italiana que (esta sim) estudou as class actions norte-americanas" (Rumo a um Código de Processo
Civi! Coletivo: C/ coâificação das ações coletivas no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 30). Critica o autor,
pO/(\Il1. que n doutrina italiana publicada nos anos 70 inspirou-se no processo coletivo norte-americano das
dt"('odlls anteriores, de maneira que a importante reforma da Rule 23, realizada em 1966, não foi objeto de
('\111<10. Assim, conclui que u(> ronsuungedm snbcr qUI' n fonte da atual legislação processual coletiva brasileira
tI 1\ dnuuinn lurllnnn, cujo dll\'l\o uno \('111 lH'l1I nuncn \('V(' muliçào de proC('SSOcoletivo" (op. CiL, p. 32).
v c: lU NOVJo:H, Adll I't-IltW IlIi Dllt'Ito l',on's\lIlil COI('IIVO,'1111,.111 (,'oll',iv(/: :W 1111os dei 1.I'i da Açcl() Civil Príl>lica c
,/11 "'/1/11111 ri,' /":/".1(/ ri,' 11/11'110.\ /),'/1.\11.\, I'. /11111.11111 c ',Irligll rI,'/"'/".II' rlII 0'1/.\/1111/11'11 CoO/dt'llIldm: POlllo I lemlque
d,,~ StllllO'. 1.,11'1111Slilll'iltil" AII.t~, !l()Oh I' 10
jL~menLe nesses dois diplomas noi mat ivns_!1~}II~H,lIlIln
~ jlplJ('iI,~I() do CÓdigo ck:
Processo Civil a um plane mcramcnté'fesidnul. - -
A par desses principais diplomas legais versando sobre processo coletivo,
cabe destacar a Lei 8.429/92, que trata do procedimento da ação de improbidadc
administrativa, e as Leis 9.868/99 e 9.882/99, que dispõem a respeito das ações
de controle concentrado de constitucionalidade (ADI, ADC e ADPF).
Outros textos normativos tocam no tema dos direitos coletivos e sua proteção
emjuízo, tais como a Lei 7.853/89 (institui a wtela jurisdicional de interesses co
l~iyos OJ! djfllsos das pesSc;'asportadoras de..deficiência), a Lei 7.913/89 (dispõe
sobre a ação civil pública de responsabilidade por danos causad ao~o
re~ercado de valores mobiliário~Lei 8.0691 (Estatuto da C~do
Adolescente - arts. 208 a 224), a Lei 8.884/94 (dispõe sobre a proteção da ordem
econômica - arts. 29 e 88), a Lei 9.394/96 (Lei de iretrizes e Bases da Educação
Nacíonal - art. 52), a LeI 10. 003 (Estatuto de Defesa do Torcedor - art. 40),
a.J..ei10.741/2003 (Estatuto do Idoso. arts. 78-a-9~-;a..Lê 11.340/2006 (entre
qutras disposições.....cr.ia-mecaIlismospara coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher - art. 37). -- -
"\ Mas nem tudo são flores. Passados anos da entrada em vigor do Código de
Defesa do Consumidor e da Lei da Ação Civil Pública, e, não obstante a intensa
produção legislativa acima resumida, ainda são frequentes os equívocos dos ope-
radores do direito ao lidar com o processo coletivo, sobretudo pelo indevido vín-
culo com a visão individualista do cpc.
Convidamos o leitor a, nos capítulos seguintes, desprender-se dos conceitos
tradicionais do CPC e buscar a fixação de um pensamento coletivo. Para tanto,
analisaremos os princípios e institutos peculiares do processo coletivo, destacan-
do, desde já, que assumem feição tão distinta daqueles inerentes ao processo in-
I I1
dividual que autorizam a conclusão de que o Direito Processual Coletivo existe,
hoje, como ramo autônomo do Direito Processual (v. Capítulo 11,2.1, infra).
a) Acesso à Justiça
Como visto no tópico anterior, as ações coletivas surgiram no ordenamento
brasileiro com a finalidade de permitir a provocação do Estado à adequada solu-
ção de conflitos de massa inerentes à sociedade contemporânea.
Um dos principais fundamentos ou objetivos das ações coletivas, portanto,
consiste em permitir o amplo acesso à justiça das demandas de massa. Trata-se
do que Mauro Cappelletti e Bryant Garth identificaram como a segunda onda re-
novatória do Direito Processual em busca de maior efetividade e, consequente-
mente, de maior acesso à justiça.'?
Obviamente, para que se cumpra tal mister, não basta apenas o ato de criar
diversas espécies de ações coletivas. O acesso à justiça pressupõe a tutelajurisdi-
cional diferenciada, ou seja, a consideração dos meios mais amplos e satisfatórios
possíveis para que se solucionem os conflitos de interesses da maneira mais justa
. razoável. Desse modo, em virtude das características e dos aspectos peculiares
dos direitos metaindividuais, houve a necessidade de "revisitação" e adaptação
de diversos institutos jurídico-processuais já existentes, porquanto essencialmen-
1(' individualistas e, por conseguinte, insuficientes para uma adequada instru-
nu-ntalizaçãc dos direitos coletivos em sentido amplo.
Além do acesso à justiça de demandas versando sobre direitos transindividu-
.ils, que se qualificam como indivisíveis e não podem ser postulados isoladamente
por cada indivíduo integrante do grupo," as ações coletivas também proporcio-
num que se leve à justiça conflitos que, no plano individual, jamais seriam obje-
1 () de tutela jurisdicional. Exemplo dessa hipótese consiste na conduta ilícita que
1l,10gera prejuízos significativos no plano individual, porém, se analisada global-
nu-me, representa dano elevado ao grupo (de consumidores, p. ex.), justificando
" propositura de ação coletiva em defesa dos direitos individuais homogenea-
uu-nte considerados.
b) Economia Processual
A sociedade contemporânea, marcada pela intensa e crescente industriali-
.,1(;;\0, urbanização" e globalização, estimula também uma intensa litigiosidade,
provocada por massas de consumidores, classes sociais, categorias profissionais,
ellfim, por comunidades, coletividades ou mesmo grupos de indivíduos homoge-
ne.uncnte considerados.
ti Cu,so dI' !',on'sso Col"llvo • l)o"I/.,·ltI,~ C'·"I,,,·I,,,
Exemplo dessa litigiosidade de massa silo os 111 llh.u ('S d(' processos (indivi
duais) movidos para discussão da cobrança de tarifa IlH'IlS:tI pelas operadoras
de telefonia fixa. Alguns anos depois da flexibilização do monopólio estatal rc
ferente à exploração dos serviços públicos de telecomunicações, a prática das
concessionárias de tais serviços concernente à cobrança de tarifa mensal básica
começou a ser impugnada judicialmente pelos consumidores, dando origem (l
uma avalanche de processos que literalmente abarrotou o Judiciário. Evidente
mente, fosse intentada uma ação coletiva - inclusive mais adequada pela natu
reza unitária e incindível inerente ao contrato de concessão, o qual, por sua vez,
influi diretamente sobre os contratos celebrados com os usuários _,12o desgas
te do Judiciário seria mínimo, ao mesmo tempo em que a tutela prestada seria
potencializada.
Nesse contexto, a eficaz tutela dos direitos coletivos importa, inevitavelmen
te, na redução da quantidade de ações ajuizadas individualmente e, por conse
quência, do número de processos nos tribunais com a mesma matéria a ser de-
cidida. Economizam-se gastos inerentes à prestação jurisdicional, evitam-se
julgamentos "contraditórios?" (notadamente mais comuns no caso de múltiplas
ações individuais) e contribui-se, assim, para o melhor funcionamento e para
a harmonia do sistema jurídico. Parte-se, enfim, na conhecida lição de Kazuo
Watanabe,14 de um tratamento atomizado dos litígios para uma estrutura molecu-
lar, que resulta em economia dos mecanismos processuais disponíveis.
Por fim, vale destacar a interessante observação de Antonio Gidi, no sentido
de que "as ações coletivas promovem economia de tempo e de dinheiro não so-
mente para o grupo-autor, como também para o Judiciário e para o réu". Quan-
to a este, lembra o processualista que muitas vezes ocorre de a solução coletiva
apresentar-se "mais econômica e menos desgastante para o réu do que ter de en-
12 Kazuo Watanabe, no artigo intitulado Relação entre demanda coletiva e demandas individuais (Revista dI'
Processo, n2139. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 29-35), bem descreveu ('8S(, exemplo como hipótese
de ação pseudoindividual. Confira-se, a esse respeito, o tópico 6 do Capft 1110 111d('sl<' llvio.
13 Utiliza-se essa expressão em sentido impróprio, pois não se alude il "t;"I'~ Id(lllll,'/I'., IIIIIS 11I0 somente com
origem comum (ou seja, fundadas em situações de faro ()II <1('<11,('110,'qltlv"I"III •.~)
'4 Demandas coletivas e os problemas ('I11CI&('I1I('Sdll plj'IKI~ 1'"1'11'11' /1'1".'" 1/.11'"" ",\.\11, li" 117, UIIO 17, SÍlo
!'ilulo: Ikvistil dos 'ü ibuuuls, jul./s('1. 1992, p, l!i :>.!,
", (;1111,1\11111I110.1\rI"'.1 1/1'11111/ ., IIp. 1'11, p. :lh,
'li" dl'l ivaçno OCOI rc dl! ti uas mnncnns: I por meio da aplicação do direito
I'f'lo ()I~ao julgudo: em umn causa específica, e, portanto, concretamente e de
uuuln .uuo: iuuivo: 11 de forma preventiva e abstrata, visto que a punição de
IOlldulas ilf<:iws,quando bem realizada em cada caso concreto, gera estímulo
p.1I;1 () cumpi imcnto voluntário do direito pela sociedade."
,JlJlUSPRUOÊNCIA TEMÁTlCA