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DIREITO CIVIL
1. DIREITOS DA PERSONALIDADE
1.1. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Biografias: autorização prévia e liberdade de
expressão – (Info 789) – IMPORTANTE!!!
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do
indivíduo biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa
autorização prévia seria uma forma de censura, não sendo compatível com a
liberdade de expressão consagrada pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as
seguintes:
“É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras
biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização
de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas
falecidas ou ausentes”.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que
seus direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá
ser feita não apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras
formas, tais como a publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito
de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 10/6/2015 (Info 789).
OBS:
Interpretação literal do art. 20 do CC: As biografias não-autorizadas seriam proibidas,
já que elas constituiriam na divulgação ou publicação da imagem-atributo do
biografado sem que este tenha dado seu consentimento. Diante disso, o biografado
poderia, invocando seu direito à imagem e à vida privada, pleitear judicialmente
providências para impedir ou fazer cessar essa publicação (art. 21 do CC). Em outras
palavras, o biografado poderia impedir a produção da biografia ou, se ela já estivesse
pronta, a sua comercialização. O exemplo mais emblemático de disputa judicial
envolvendo o tema ocorreu no caso do cantor Roberto Carlos, que processou o
jornalista e escritor Paulo Cesar de Araújo, autor de sua biografia não-autorizada
chamada de “Roberto Carlos em detalhes” e que havia sido lançada em dezembro de
2006 pela Editora Planeta, sendo proibida pela Justiça em abril de 2007.
ADI 4815: Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou
uma ação direta de inconstitucionalidade no STF com o objetivo de declarar a
inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21 do Código Civil. O pedido principal da
autora foi para que o STF desse interpretação conforme a Constituição e declarasse
que não é necessário o consentimento da pessoa biografada para a publicação ou
veiculação de obras biográficas, literárias ou audiovisuais.
Conflito entre dois diplomas: No presente caso, temos um conflito entre dois diplomas
legais:
O CDC, que garante ao consumidor o princípio da reparação integral do dano;
As Convenções de Varsóvia e de Montreal, que determinam a indenização
tarifada em caso de transporte internacional.
Assim, a antinomia ocorre entre o art. 14 do CDC, que impõe ao fornecedor do serviço
o dever de reparar os danos causados, e o art. 22 da Convenção de Varsóvia, que fixa
limite máximo para o valor devido pelo transportador, a título de reparação.
Qual dos dois diplomas irá prevalecer? Em caso de extravio de bagagem ocorrido em
transporte internacional envolvendo consumidor, aplica-se o CDC ou a indenização
tarifada prevista nas Convenções de Varsóvia e de Montreal? As Convenções
internacionais.
Por que prevalece as Convenções? Porque a Constituição Federal de 1988 determinou
que, em matéria de transporte internacional, deveriam ser aplicadas as normas
previstas em tratados internacionais. Veja:
Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes
aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do
transporte internacional, observar os acordos firmados pela
União, atendido o princípio da reciprocidade.
Esse quadro acima perde a importância. Isso porque, na prática, o STJ terá que se
adequar ao entendimento do STF manifestado em sede de repercussão geral e, por
isso, deverão ser aplicadas as Convenções de Varsóvia e de Montreal para todos os
casos relacionados com transporte aéreo internacional (seja envolvendo relação de
consumo ou não).
No conflito entre o CDC e o CBA, deverá prevalecer o CDC, uma vez que se trata de
norma que melhor traduz o objetivo da CF/88 de proteger o polo hipossuficiente da
relação consumerista, isto é, o consumidor. O CBA é anterior à CF/88 e, por isso
mesmo, não se harmoniza em diversos aspectos com a proteção constitucional do
consumidor. O CC não se aplica ao caso porque se trata de relação consumerista e o
CDC é lei específica.
4. UNIÃO ESTÁVEL
4.1. Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as
mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge – (Info 864) – IMPORTANTE!!! –
(DPU-2017)
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido deixou descendentes? Ex: João, casado
com Maria, morreu e deixou dois filhos (Pedro e Tiago). Maria terá direito à herança?
O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC). Assim, se a pessoa morrer e for
casada, em regra, seu cônjuge terá direito à herança. Vale ressaltar, no entanto, que, se
o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito
à herança, a depender do regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina
e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro
necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os
descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a
depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os
descendentes. Vejamos:
Voltando ao exemplo: João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos Pedro e
Tiago. Se, por exemplo, Maria era casada com João sob o regime da separação
convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança
deixada pelo marido. Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da
comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será
meeira, mas não herdeira. Se os consortes são casados no regime da comunhão
universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à
meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao
cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança.
Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens
pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em
prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda
para os descendentes.”
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido não deixou descendentes, mas deixou
ascendentes? Ex: João, casado com Maria, morre sem deixar filhos ou netos, mas
deixou pai e mãe. Como será feita a divisão da herança? Neste caso, o cônjuge
sobrevivente herdará em concorrência com os ascendentes. Logo, em nosso exemplo,
Maria receberá 1/3 da herança, o pai de João 1/3 e a mãe o 1/3 restante. Vale ressaltar
que aqui não importa qual era o regime de bens do casal.
Ao se comparar este art. 1.790 com o art. 1.829 do CC veremos que o legislador trouxe
regras muito mais desvantajosas para o companheiro do que para o cônjuge do
falecido.
Um exemplo ilustra bem essa diferença de tratamento: pelo art. 1.790 do CC, se o
falecido deixar a companheira e um tio, por exemplo, esse tio iria herdar 2/3 da
herança e a companheira apenas 1/3.
Essa tese foi acolhida pelo STF? O art. 1.790 do CC, que trata sobre a sucessão do
companheiro, é inconstitucional? SIM. O STF entendeu que o art. 1.790 do Código
Civil de 2002 é inconstitucional.
CF/88 protege diferentes modalidades de família: A CF/88 prevê não apenas a família
decorrente do casamento (família matrimonial), sendo protegidas outras modalidades
de família. Umas das espécies de família protegidas pela Constituição é a família
derivada da união estável, seja ela hetero ou homoafetiva. Isso está expresso no § 3º
do art. 226 do Texto Constitucional:
Art. 226 (...)
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou
companheiro(a)” Como consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser
considerado herdeiro necessário.
5. ALIMENTOS
5.1. Prisão civil não serve para cobrança de débitos pretéritos – (Info 857)
O juiz poderá decretar a prisão civil de João neste caso? NÃO. A sentença de
exoneração da prestação de alimentos não tem efeitos retroativos. Isso significa que,
mesmo tendo ficado exonerado de pagar a pensão a partir de julho de 2015, o pai
possui uma dívida que vai de julho de 2013 a julho de 2015. Este débito continua
podendo ser exigido, no entanto, não é possível que se decrete a prisão civil do devedor
para cobrar essa dívida.
A CF/88 (art. 5º, LXVII) só admite a prisão por dívida decorrente de pensão
alimentícia quando a não prestação é voluntária e inescusável: "LXVII - não haverá
prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;"
Com base nessa orientação, a 2ª Turma concedeu habeas corpus de ofício a
determinado devedor que estava preso por não ter pago a pensão alimentícia, mas
provou, no caso concreto, que estava desempregado. Os Ministros entenderam que
o inadimplemento não foi voluntário em virtude da situação de desemprego.
STF. 2ª Turma. HC 131554/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/12/2015 (Info
812).
Observação: situação decidida com base no caso concreto. Não significa que sempre
que o devedor estiver desempregado, ele estará dispensado de pagar a pensão
alimentícia. Ex: ele pode não estar trabalhando, mas possuir outras fontes de renda,
como alugueis, investimentos etc. Neste caso, continuará tendo a obrigação de pagar,
podendo, inclusive, ser preso em caso de inadimplemento.
6. FILIAÇÃO
6.1. Paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade o pai biológico – (Info
840) – IMPORTANTE!!! – (DPU-2017)
OBS:
Sobre o assunto, vejamos o seguinte precedente:
STJ: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA.
FILIAÇÃO. IGUALDADE ENTRE FILHOS. ART. 227, § 6º, DA
CF/1988. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE.
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. VÍNCULO BIOLÓGICO.
COEXISTÊNCIA. DESCOBERTA POSTERIOR. EXAME DE
DNA. ANCESTRALIDADE. DIREITOS SUCESSÓRIOS.
GARANTIA. REPERCUSSÃO GERAL. STF. No que se refere ao
Direito de Família, a Carta Constitucional de 1988 inovou
ao permitir a igualdade de filiação, afastando a odiosa distinção
até então existente entre filhos legítimos, legitimados e
ilegítimos (art. 227, § 6º, da Constituição Federal). O Supremo
Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário
898.060, com repercussão geral reconhecida, admitiu a
coexistência entre as paternidades biológica e a socioafetiva,
afastando qualquer interpretação apta a ensejar a
hierarquização dos vínculos. A existência de vínculo com o pai
registral não é obstáculo ao
exercício do direito de busca da origem genética ou de
reconhecimento de paternidade biológica. Os direitos à
ancestralidade, à origem genética e ao afeto são, portanto,
compatíveis. O reconhecimento do estado de filiação configura
direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, que
pode ser exercitado, portanto, sem nenhuma restrição, contra
os pais ou seus herdeiros (REsp 1618230/RS, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 28/03/2017, DJe 10/05/2017)”.
Contestação: Os herdeiros de Pedro alegaram que o Código Civil prevê que apenas
João (o marido) poderia questionar o vínculo de filiação, conforme preconizado pelo
art. 1.601:
Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade
dos filhos nascidos de sua mulher, sendo tal ação
imprescritível.
Assim, se o marido não questiona a filiação, deve-se presumir que os filhos nascidos
durante o casamento são filhos do marido, nos termos do art. 1.597, I, do CC, que
prevê a presunção de paternidade do marido (pater is est quem nuptiae demonstrant).
Confira:
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do
casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de
estabelecida a convivência conjugal;
São constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei 13.146/15, que determinam que as
escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo às
pessoas com deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer
natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa
obrigação.
STF. Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 9/6/16 (Info
829).
8. USUCAPIÃO
8.1. Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja
inferior ao módulo mínimo dos lotes urbanos previsto no plano diretor – (Info 783)
Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião
especial urbana, prevista no art. 183 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido
alegando que o plano diretor da cidade proíbe a existência de imóveis urbanos
registrados com metragem inferior a 100m2. Em outras palavras, fixou que o
módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área
ocupada pela pessoa seria menor que isso, ela não poderia registrar o imóvel em
seu nome.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei
municipal impede que a pessoa tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. Se forem preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito
à usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo
dos módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área
(dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem
índole constitucional.
Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento
dos requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor
obstáculos, de índole infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor
de parte interessada, o modo originário de aquisição de propriedade.
STF. Plenário. RE 422349/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/4/2015
(repercussão geral) (Info 783).
9. SUCESSÕES
9.1. A capacidade de suceder é regida pela lei da época da abertura da sucessão –
(Info 741)
O art. 377 do CC-1916 previa que o filho adotivo, nessa situação, não tinha direito à
sucessão hereditária. Essa regra vigorou e foi válida até a promulgação da CF/88,
quando, então, não foi recepcionada pelo art. 227, § 6º.
Se a morte ocorreu antes da CF/88, o juiz, ao analisar se a pessoa tem ou não
capacidade para suceder (ser herdeiro), deverá levar em consideração o art. 377 do
CC-1916, não podendo ser aplicado retroativamente o disposto no art. 227, § 6º, da
CF/88 para considerar o art. 377 inválido.
STF. Plenário. AR 1811/PB, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Dias
Toffoli, julgado em 3/4/2014 (Info 741)
12. DPVAT
12.1. Constitucionalidade das leis que reduziram o valor da indenização e vedaram
a cessão de direitos de reembolso por despesas médicas – (Info 764)