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Resumo
O presente artigo irá abordar uma reflexão teórica das possibilidades das linguagens visuais como
um instrumento de ensino e aprendizagem para favorecer o processo de desracialização dos espaços
escolares a partir da concepção de alfabetização visual discutida por alguns autores, na qual
propõem a alfabetizar no sentindo de saltar da utilização passiva ou apenas de consumo de imagens
para uma forma na qual possam ser leitores críticos de imagem e outros ligados a visualidade.
Como também o relato de experiência destes conteúdos apreendidos em conjunto com o contato
com o modulo de linguagens visuais no Curso de Extensão em Cultura Africana e Afro-brasileira
oferecido no ODEERE/UESB e aplicado no projeto de extensão UniveCidades sitiado pela Pró-
reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
“Embora usada por nós com tanta naturalidade, a visão ainda não produziu sua civilização”
Caleb Gattegno.
Com esta frase começamos este artigo, pois ela em poucas palavras dá sentindo a
necessidade de se pensar a alfabetização visual, partir de uma situação passiva do olhar, perceber, e
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Graduando em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/ bolsista do Programa institucional de
bolsas de Iniciação a docência.
² Mestre em Desenho, Cultura e Interatividade pela Universidade Estadual de Feira de Santana/Integrante do Grupo de
Pesquisa “Linguagens Visuais: Memórias e Culturas.”
das ações ativas, expressar, fazer, as quais emanaram em mensagens visuais, enviando e recebendo
constantemente, sem se dar conta deste sistema, complexo e sem ordenamento, mas necessários à
nossa comunicação. Naturalmente preferimos as informações visuais, ela é o mais antigo registro
que temos na historia humanas, as pinturas rupestres encontrada em cavernas e datadas de mais de
30 mil anos ou mais validam essa sentença. Outra frase que evidencia esse lcontexto histórico de
forma sarcástica de autor desconhecido, “no princípio não era verbo, era imagem”, apesar de a frase
opor-se a outra ligada às liturgias do cristianismo, consequentemente e humoristicamente denota
essa relação histórica do homem com a linguagem visual, muito antes da verbal.
Os primeiros passos acerca deste tema, posto pelo autor, aponta para o risco de envolver a
abordagem do alfabetismo visual num excesso de definições (DONDIS) diante da complexidade
que já tem, porém acredito que tamanha complexidade é a consequência que a linguagem visual tem
por ser um sistema de comunicação verbal quase que universal, uma fotografia, um videoclipe, obra
de arte de determinadas culturas podem ser compreendidas sem necessariamente o apoio do texto
escrito. Se comparada ao sistema verbal de escrita, a estrutura repleta de técnica e definições, a
comunicação visual aparenta uma desordem, ou falta de pressuposto capaz de defini-la como um
sistema comunicativo capaz de ser apreendido, porém a tentativa de colocar a pé de igualdade com
qualquer outra estrutura de linguagem se faz inútil, pois são processos antagônicos. No sentido
comum, alfabetismo constitui aprender a ler e escrever, no contexto das linguagens visuais o
sentindo empregado é de criar e compreender mensagens visuais, tão simples o sentindo que
custamos acreditar que isso não ocorra, naturalmente sim, porém a eficácia se dar a partir de
estudos. Se há pessoas mal alfabetizadas que não compreendem e dominam o sistema linguístico
materno também há no campo da visualidade, e neste caso mais ainda, pois ficou por anos que a
eficácia nesse campo se atingiria através do “dom” e do talento. Quando trazemos essa perspectiva
para os espaço escolares que utilizam de recursos visuais, Dondis coloca-se
Percebemos que o autor se prende na fotografia, porém seu questionamento aplica-se a todas
as manifestações da linguagem visual, ainda assim a própria fotografia é o mais comum, nesse caso
ele angustia-se com o fato de não existir um referencial para as pessoas que não se encontram nos
extremos da fotografia, produtores e historiadores, sociólogos, mas o cidadão comum,
consumidores das visualidades.
Já o autor Edson Ferreira (2014) aponta também essa necessidade, porém restrita ao campo
cultural, mas diferente de Barthes que estava mais próximo de uma preocupação com sujeito
individual, Edson em particular traz a questão das culturas africana e afro-brasileira. Entrelaçando
as linguagens visuais e a cultura para uma abordagem das visualidades no campo da comunicação
sem desprezar as outras dimensões; oralidade e escrita. Assim coloca
No contexto deste autor e o recorte para as culturas africana e afro-brasileira que nós
apropriamos para tomar as linguagens visuais como ferramenta para a promoção da desracialização
dos espaços dos espaços escolares por meio do projeto Olhares Protagonistas aplicado nas escolas
de educação básica. As linguagens visuais como mediadora nesses espaços possibilitou a quebra da
resistência em discutir temas desta cultura na sala de aula.
O Surgimento do Projeto.
Diante das riquezas visuais que têm a cultura africana e afro-brasileira, o modulo se faz
necessário para a capacitação desses professores e todos cursistas ao tratar com esta cultura, assim
NETO (2014) descreve a importância das linguagens visuais com a educação nas ações propostas
pelo módulo em umas das experiências da efetivação dessas ações no ano de 2010,
Conceber a educação nessa lógica nos faz acreditar que o contato com a imagem,
por meio das intervenções das Linguagens Visuais e Cultura, propiciou um nível de
desenvolvimento que permitiu ao aluno ampliar a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a
imaginação. Em se tratando dos cursos de extensão em história e cultura afro-brasileira,
essas condições são imprescindíveis para a compreensão dos símbolos, que se apresentam
nessas formas de conhecimentos tradicionais apresentados em sala. (NETO, 2014, p.98)
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Em março de 2003, foi aprovada a Lei Federal nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura
Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Essa lei altera a LDB (Lei de Diretrizes e
Bases) e tem o objetivo de promover uma educação que reconhece e valoriza a diversidade, comprometida com as
origens do povo brasileiro.
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Orgão de Educação e Relação Étnicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
os conteúdos quando esta homogeneização é necessária, e que propicia um tipo de
mensagem com um tratamento áudio e vídeo bastante inteligível para homens e mulheres
dos setores populares. (WOHLGEMUTH, 2005, p.11).
Partindo desse pressuposto colocado por Silva Neto, escolhemos a comunidade do Barro
Preto, bairro quilombola para aplicar o projeto, que foi titulado: Olhares Protagonistas, Identidade e
Afirmação por meio da Educação Audiovisual, neste projeto são ministrados oficinas de produção
de vídeo, os quais abordam o contexto sociocultural dos jovens participantes, propiciando uma
experiência significativa com as mídias e a leitura crítica das mídias visuais, em contraponto ao que
é posto pela mídia radiofônica local, e radiodifusão, não trabalha, em sua programação diária, com
os atributos referenciais de ancestralidades em seu conteúdo programático, além de abordar a
comunidade como bairro violento, descaracterizando assim o negro, é que o projeto ora proposto
torna-se relevante. Os alunos inseridos no curso são protagonistas ao abordar através da linguagem
audiovisual a realidade do bairro. Também ressaltamos como foi discutido no inicio deste artigo, o
fato das oficinas do vídeo tornam-se importante para quebra de resistência para discussão de temas
nesses espaços, pois para a realização das oficinas, anteriormente é realizados discussão com os
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Programa de Extensão Comunitária UniverCidades, um conjunto de ações desenvolvidas pelos discentes nos
municípios do sudeste da Bahia, permitindo diálogo e interação entre a Universidade e os demais seguimentos sociais
através de ações, como Cursos, Oficinas, Treinamentos e Capacitação, Atividades desportivas e culturais, e eventos
planejados de acordo com as áreas temáticas de Comunicação Social, Tecnologia e Produção, Meio Ambiente, Cultura,
Direitos Humanos e Justiça, Trabalho, Educação e Saúde.
alunos de vários temas relacionados com a cultura Africanos e Afro-brasileiros no intuito de
sensibiliza-los, vídeos são utilizados a fim de despertar a percepção para mídias com o olhar crítico,
principalmente para entenderem os processos históricos que negam a visibilidade dessas culturas,
dos seus símbolos e atributos que são bastante ricos, que incluem desde literatura, com contos e
mitos, culinária própria e tantos outros.
Considerações Finais
O projeto ainda encontra-se em fase de execução, porém já trazendo bons resultados para a
comunidade quando se veem protagonistas, atores, produtores e espectadores dos curtas metragem
produzidos, e para escola os vídeos se tornaram uma forma de aproximação da comunidade em
volta com espaço escolar, colocando a realidade dos alunos nas salas de aulas, nesse projeto é
possível comtemplar diversas propostas; a alfabetização visual tão necessária na sociedade atual,
protagonismos juvenil, o trato com a lei 10639/03 como tantas outras que é possível contestar em
cada palavra dos alunos participantes ou até nos tímidos sorrisos daqueles antes não valorizados se
veem protagonistas de suas historias.
Referenciais Bibliográficos
BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia / Roland Barthes ; tradução Júlio
Castañnon Guimarães – Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1984.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual; tradução Jefferson Luiz Camargo. – 3ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
SILVA NETO, Antonio Argolo. A africanidade em Jequié e sua visualidade nas ações do
ODERRE. In SANTANA, Marise de. (Org) ODEERE: formação docente, linguagens visuais e
legado africano no sudoeste baiano - Vitoria da Conquista: Edições UESB, 2014.
WOHLGEMUTH, Júlio. Vídeo educativo: uma pedagogia audiovisual. Brasília: Editora Senac,
2005.