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Victor Ribeiro

ÁREA DE INTEGRAÇÃO

ÁREA 3: O MUNDO
UNIDADE TEMÁTICA 9: A DESCOBERTA DA CRÍTICA: O UNIVERSO DOS
VALORES

TEMA-PROBLEMA 9.1 OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA


OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 1_OS VALORES E O MUNDO


 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA
 3_O DIREITO E A JUSTIÇA

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OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 1_OS VALORES E O MUNDO

DEBATE
◘ Porque são importantes os valores?
◘ O que torna as nossas acções boas ou más?
◘ Será que tudo justifica as nossas acções?

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 1_OS VALORES E O MUNDO

Ninguém sabe que coisa quer


Ninguém conhece que alma tem
Nem o que é mal nem o que é bem [ ... ]
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O Id é a parte obscura e impenetrável da personalidade. O Id
enquanto instância psíquica é o INCONSCIENTE.
◘ O Id é originalmente um sistema de necessidades, DOTADO DE
PODER. Tende somente a SATISFAZER as necessidades pulsionais
e CONFORMA-SE com o princípio do prazer."
◘ O Id faz a ligação entre o ORGÂNICO e o PSÍQUICO. Representa
no psiquismo as EXIGÊNCIAS de ordem orgânica ou instintiva.

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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ É composto por PULSÕES (instintos) que Freud reduz a dois:
- O instinto de vida (PRAZER / EROS), que compreende o instinto
de conservação de si e da sua espécie, o AMOR-PRÓPRIO e o
AMOR PELO OUTRO (objectal).
- O instinto de morte (DESTRUIÇÃO / THANATOS), que consiste na
tendência de qualquer estado evolutivo recente RETORNAR
ao seu estado anterior. Do orgânico ao inorgânico.
◘ A energia respectiva destes DOIS INSTINTOS FUNDAMENTAIS
são a líbido e a agressividade. (Encontram-se no id em proporções
variáveis).
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ Os conteúdos inconscientes do Id são:
- Inatos: PULSÕES SEXUAIS e PULSÕES AGRESSIVAS.
◘ O funcionamento do Id explica-se do seguinte modo:
- ENERGIA MÓVEL cuja orientação (móbil) é a procura do prazer,
a satisfação libidinal, através de uma SUPRESSÃO ou REDUÇÃO
DA TENSÃO ou de uma DESCARGA.
◘ O princípio regulador da ACTIVIDADE do Id:
- PRINCÍPIO DO PRAZER.

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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O Id tem ainda as seguintes características:
- AMORAL: ignora juízos de valor.
- INCONSCIENTE: por isso não temos acesso
directo a ele.
- NÃO RECONHECE OS PRINCÍPIOS
LÓGICOS E TEMPORAIS: por isso não lhes
obedece.

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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O NÚCLEO do NOSSO SER é constituído pelo Id, QUE NÃO
COMUNICA DIRECTAMENTE com o mundo exterior, apenas
conhecido através de uma OUTRA INSTÂNCIA PSÍQUICA: o Ego.
◘ Portanto, nós agimos na tentativa de REDUZIR A TENSÃO a um
nível mais tolerável. PARA SATISFAZER AS NECESSIDADES e
MANTER UM NÍVEL CONFORTÁVEL DE TENSÃO, é necessário
interagir com o mundo real.
◘ Por exemplo: as PESSOAS FAMINTAS devem ir em busca de comida,
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caso QUEIRAM DESCARREGAR a tensão induzida pela fome. É


necessário estabelecer alguma espécie de ligação ADEQUADA
entre as demandas do id e a realidade.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O ego serve como MEDIADOR, um FACILITADOR DA
INTERACÇÃO entre o id e as circunstâncias do mundo exterior.
◘ O ego REPRESENTA A RAZÃO ou a RACIONALIDADE, ao
contrário da PAIXÃO INSISTENTE e IRRACIONAL do id.
◘ Enquanto o id ANSEIA CEGAMENTE e IGNORA A REALIDADE, o
ego tem CONSCIÊNCIA DA REALIDADE, manipula-a e, dessa
forma, regula o id.
◘ O ego obedece ao PRINCÍPIO DA REALIDADE, refreando as
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demandas em BUSCA DO PRAZER até encontrar o objecto


apropriado para SATISFAZER a NECESSIDADE e REDUZIR a
TENSÃO.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud
◘ O ego NÃO EXISTE sem o id; ao contrário,
o ego EXTRAI A SUA FORÇA do id. O ego
EXISTE PARA AJUDAR o id e está
CONSTANTEMENTE A LUTAR para
satisfazer os INSTINTOS do id.
◘ Freud comparava a INTERACÇÃO entre o
ego e o id com o CAVALEIRO que, ao
montar um cavalo, FORNECE ENERGIA
para o mover pela vereda, mas, ao mesmo
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tempo, tem de CONTROLAR a força do


animal, a qual deve ser DIRIGIDA ou
REFREADA com as rédeas.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud
◘ O Ego REPRESENTA A RAZÃO, a
PONDERAÇÃO (pois é
discriminativo, intencional,
deliberativo, regulador) e a sua
FUNÇÃO ESSENCIAL é a de
organizar as energias livres e
móveis do Id, tendo em conta os
IMPERATIVOS e os LIMITES
IMPOSTOS PELO REAL.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O Ego ORIENTA A SUA ACTIVIDADE pelo princípio da
realidade, tem preocupações de AUTOCONSERVAÇÃO no seio
do real, o que OBRIGA o Ego a travar as pulsões, a modificá-las,
canalizá-las ou suprimir algumas que pareçam PERIGOSAS a esta
autoconservação.
◘ Realiza esta tarefa através da sua ACTIVIDADE DE
CONHECIMENTO (preceptivo e intelectual) que analisa
experiências em MEMÓRIA e analisa o estado PRESENTE das
SITUAÇÕES e avalia as CONSEQUÊNCIAS da linha de conduta a
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escolher.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud
◘ O Ego tem uma dupla actividade: CONHECIMENTO e DEFESA.
1. Conhecimento: através de percepções e sensações que o
informam sobre as MODIFICAÇÕES do REAL EXTERIOR e
INTERIOR.
2. Defesa: consiste em ESCOLHER e UTILIZAR vários
mecanismos de defesa.
◘ Mecanismos de Defesa do Ego: formam-se ao longo dos
diferentes estádios de desenvolvimento do Ego.
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- Projecção; negação; denegação; recalcamento; sublimação; formação


reactiva; isolamento; deslocamento.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O superego DESENVOLVE-SE desde
o início da nossa vida, quando a
criança assimila as REGRAS DE
COMPORTAMENTO ensinadas
pelos pais ou responsáveis,
mediante o SISTEMA de
recompensas e punições.
◘ O comportamento inadequado
sujeito à PUNIÇÃO torna-se PARTE
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DA CONSCIÊNCIA DA CRIANÇA,
uma porção do superego.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O comportamento aceitável para os
PAIS ou para o GRUPO SOCIAL e que
PROPORCIONE A RECOMPENSA
torna-se parte do ego-ideal, OUTRA
PORÇÃO DO SUPEREGO.
◘ Dessa forma, o COMPORTAMENTO é
determinado inicialmente pelas
ACÇÕES DOS PAIS; no entanto, uma vez
formado o superego, o
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comportamento é determinado pelo


autocontrolo.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ O superego representa a moralidade. Freud
DESCREVEU-O como o "defensor da luta em
busca da perfeição - o superego é, resumindo, o
máximo assimilado psicologicamente pelo
indivíduo do que é considerado o lado superior
da vida humana.”
◘ O superego entra em CONFLITO com o id. Ao
contrário do ego, que TENTA ADIAR a
SATISFAÇÃO do id para MOMENTOS e
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LUGARES MAIS ADEQUADOS, o superego tenta


INIBIR a COMPLETA SATISFAÇÃO do id.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ Assim, Freud imaginava a CONSTANTE LUTA dentro
da personalidade quando o ego é pressionado pelas
FORÇAS CONTRÁRIAS INSISTENTES.
◘ O ego DEVE TENTAR RETARDAR os ímpetos
agressivos e sexuais do id, PERCEBER e
MANIPULAR a realidade para ALIVIAR A TENSÃO
RESULTANTE, e LIDAR com a BUSCA DO
SUPEREGO PELA PERFEIÇÃO.
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◘ E, quando o ego é PRESSIONADO DEMAIS, o


resultado é a condição definida por Freud como
ANSIEDADE.
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ Id: fonte de ENERGIA PSÍQUICA e o ASPECTO DA
PERSONALIDADE relacionado aos instintos. Constitui o
RESERVATÓRIO DE ENERGIA PSÍQUICA, é onde se localizam as
pulsões de vida e de morte. É REGIDO pelo princípio do
prazer.
◘ Ego: ASPECTO RACIONAL DA PERSONALIDADE responsável
pelo CONTROLE DOS INSTINTOS. É o sistema que ESTABELECE O
EQUILÍBRIO entre as EXIGÊNCIAS do id, as EXIGÊNCIAS da
realidade e as ordens do superego. A VERDADEIRA
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PERSONALIDADE, que decide se acata as DECISÕES (do Id ou do


Superego).
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ Superego: o ASPECTO MORAL DA
PERSONALIDADE, produto da
interiorização dos VALORES e PADRÕES
recebidos dos PAIS e da SOCIEDADE.
◘ Origina-se a partir da interiorização das
PROIBIÇÕES, dos LIMITES e da
AUTORIDADE. (É algo que nos censura e
nos diz: Isso não está certo, não faças aquilo,
não faças isso, ou seja, é o nosso "freio").
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 1_OS VALORES E O MUNDO

O id, o ego e o superego: 2ª tópica de Freud


◘ A criança DESENVOLVE-SE passando do PRINCÍPIO DO
PRAZER para um PRINCÍPIO DO PRAZER moderado
pelo PRINCÍPIO DA REALIDADE: a sua personalidade
forma-se em direcção a uma SOCIALIZAÇÃO
PROGRESSIVA, cujo MECANISMO ESSENCIAL consiste num
jogo de múltiplas e sucessivas identificações.
◘ Significa isto que no contacto com o mundo exterior e
com a diferenciação do Ego e do Superego, o
DESENVOLVIMENTO PULSIONAL esbarra contra certos
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limites. Certos DESEJOS são impedidos, proibidos e


recalcados.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valores e escolha
◘ Em todos os momentos da nossa
vida temos de FAZER OPÇÕES e é a
partir delas que construímos e
tomamos as nossas DECISÕES.
◘ É a PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS que
temos, que descobrimos PREFERIR
umas coisas em detrimento de
outras e a RAZÃO que nos leva a
optar por elas.
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◘ O Mundo DEIXA DE NOS SER


INDIFERENTE.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valores e escolha
◘ E é em função disso que
DETERMINAMOS o que é mais
ou menos importante para nós
e para o mundo, justamente
porque temos a FACULDADE de
ATRIBUIR VALORES.
◘ A tudo aquilo que EXISTE
atribuímos um VALOR, de outro
modo não poderíamos PREFERIR,
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ESCOLHER ou JULGAR e depois


AGIR (fazer).
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valores e escolha
◘ Os valores são uma característica humana que funciona como uma
espécie de LUZ ORIENTADORA, que nos leva a julgar e a
estabelecer preferências entre aquilo que é JUSTO e INJUSTO,
CERTO e ERRADO, DESEJÁVEL ou INDESEJÁVEL.
◘ São os VALORES que DÃO COR À VIDA, que fazem com que a
REALIDADE NÃO PASSE DESPERCEBIDA e não sejamos meros
espectadores do MUNDO CIRCUNDANTE.
◘ A vida humana NÃO TERIA SENTIDO SEM VALORES, pois são eles
que enriquecem as nossas experiências, nos fazem AGIR e
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CONSTROEM, ao mesmo tempo, a nossa INDIVIDUALIDADE.


OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valores e escolha
◘ A AXIOLOGIA é um ramo do saber que tem por OBJECTO DE
ESTUDO a natureza dos juízos valorativos, especialmente os
morais.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Filosofia dos valores, J. Hessen
“[Valorar é reconhecer] alguma coisa como valiosa, no sentido
de sermos nós a atribuir-lhe um valor, julgando e apreciando,
emitindo um “juízo de valor”. (…)
Valoramos coisas diferentes. O nosso valor recai sobe todos os
objectos possíveis: água, pão, vestuário, saúde, livros, pessoas,
opiniões, actos.
Tudo isso é objecto das nossas apreciações. E nelas encontramos
já duas direcções possíveis de todas as nossas valorações. Isto é:
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os nossos “juízos de valor” ora são positivos, ora negativos: umas


coisas parecem valiosas, outras desvaliosas.”
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valores e escolha
◘ A partir do texto é possível retirar as seguintes conclusões:
- TUDO QUANTO EXISTE ESTÁ SUJEITO A VALORES, desde os
objectos mais simples (água, pão, vestuário) até aos mais complexos
(opiniões, actos…);
- OS VALORES NÃO SÃO PROPRIEDADES DOS OBJECTOS, mas um
instrumento para as nossas apreciações (juízos de valor);
- OS VALORES SÃO BIPOLARES, isto é, oscilam ente dois pólos, um
afirma um valor positivo, o outro, um valor negativo;
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- HÁ VALORES MAIS IMPORTANTES QUE OUTROS, ou seja, há uma


hierarquia de valores.
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valor – definição e características
◘ Valores são uma CARACTERÍSTICA
HUMANA, que permite a cada um
de nós AVALIAR A REALIDADE
EXTERIOR, atribuindo-lhe uma
importância, de acordo com aquilo
que é DESEJÁVEL ou INDESEJÁVEL,
funcionando, deste modo, como um
GUIA DE ACÇÃO.
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OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valor – definição e características
◘ Diferença entre valor e preço:
1. Geralmente falamos do VALOR DA MOEDA, do
VALOR DAS ACÇÕES NA BOLSA, ou ainda do
VALOR DOS OBJECTOS QUE ENCONTRAMOS
NO MERCADO e que têm um preço. Neste
domínio valor e preço são SINÓNIMOS.
2. Mas não podemos considerá-los
EQUIVALENTES ou IDÊNTICOS: por que razão
consideramos um objecto caro ou barato? Por
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que razão existem objectos que não conseguimos


vender por lhes termos apego afectivo?
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valor – definição e características
◘ Diferença entre valor e preço:
3. Essa explicação poderá ser dada justamente
porque SOBRE O PREÇO DO OBJECTO
existe ainda um valor associado: VALOR
ESSE DIFERENTE, relacionado não com o
objecto propriamente dito, mas antes com
um CONJUNTO DE AFECTOS,
EXPERIÊNCIAS, SIGNIFICADOS ao qual
cada um de nós atribui para si uma
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SIGNIFICAÇÃO SUBJECTIVA (pessoal e


única) NÃO QUANTIFICÁVEL.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valor – definição e características
◘ Preço: ELEMENTO MONETÁRIO expresso numericamente que é
atribuído a uma mercadoria, serviço ou património.
◘ Poderemos IGUALMENTE quantificar o valor da AMIZADE, do
AMOR, da HONRA, do RESPEITO? Será que a experiência de ter
um filho, viajar, namorar tem um preço igual para todos?
◘ NÃO! Cada um tem uma VIVÊNCIA ÚNICA e PESSOAL, sujeita a
interpretações próprias: atribuímos IMPORTÂNCIA de acordo
com o MODO COMO a (experiência) VIVEMOS e o SIGNIFICADO
que lhe reconhecemos.
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◘ É por isso que o VALOR TRANSCENDE, isto é, ULTRAPASSA e


SUPERA O FACTO.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Valor – definição e características
◘ Sai do plano da REALIDADE para se fixar no campo da
IDEALIDADE, do DESEJÁVEL, do DEVER SER.
◘ Max Scheler (1874-1928), filósofo alemão cujo trabalho se centrou
no campo da AXIOLOGIA, ou seja, da TEORIA DE VALORES, afirma
que existem diferentes tipos de valores, sendo UNS MAIS
IMPORTANTES QUE OUTROS e, a partir dessa distinção, cada
indivíduo constrói para si uma escala hierarquizada de
valores, ESTABELECENDO A RELAÇÃO ENTRE aquilo que é e
aquilo que deveria ser.
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◘ Existem VALORES SUPERIORES e VALORES INFERIORES e são eles


que constroem a NOSSA IDENTIDADE e determinam as nossas
escolhas e as nossas acções.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Tabela reformulada dos valores de Max Weber

Valores do Relacionados com o


AGRADÁVEL prazer: comida,
vestuário, bebida…
VALORES SENSÍVEIS
materiais Valores VITAIS Saúde, força,
resistência…
Valores de UTILIDADE Dinheiro, habitação,
vestuário…
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Tabela reformulada dos valores de Max Weber

Valores ÉTICOS Bem, bondade,


amizade…
Valores ESTÉTICOS Beleza, harmonia,
VALORES ESPIRITUAIS elegância…
imateriais Valores de Saber, evidência,
CONHECIMENTO validade…
Valores RELIGIOSOS Sagrado, divino,
milagroso…
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Actividade: QUESTIONÁRIO

◘ Elabore uma lista hierarquizada de valores, EVIDENCIANDO


aqueles que para si são mais importantes e depois confronte-a
com a lista dos seus colegas. Poderá indicar objectos,
comportamentos, actividades, hobbies preferidos, estilos de música,
livros, filmes…
◘ Verifique se existe ou será possível construir uma escala de valores
CONSENSUAL entre toda a turma.
◘ Que DIFERENÇAS existem entre valor e preço?
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◘ QUAL A VANTAGEM de possuir uma escala hierarquizada de


valores?
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 1_OS VALORES E O MUNDO


A dimensão pessoal e social dos valores
◘ Os valores além de DIZEREM RESPEITO À INDIVIDUALIDADE DE
CADA PESSOA, estão intimamente relacionados com o
CONTEXTO SOCIAL em que cada um de nós se insere.
◘ O ser humano é por NATUREZA um SER SOCIAL, mas VIVER em
sociedade e SER ACEITE por ela implica necessariamente a
ADOPÇÃO de um conjunto de regras e valores pelo qual essa
sociedade se rege.
◘ Edgar Morin, filósofo e sociólogo francês do século XX, AFIRMA
que “é o indivíduo que faz a sociedade e é a sociedade que faz o
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indivíduo.”
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 1_OS VALORES E O MUNDO


A dimensão pessoal e social dos valores
◘ É no contexto social que CONSTRUÍMOS e ENCONTRAMOS o
nosso PRÓPRIO EU em função do tempo e do espaço em que
vivemos, daquilo que NOS É OFERECIDO e em função dos
MODELOS COM QUE NOS IDENTIFICAMOS.
◘ No contexto social encontra-se já uma CULTURA que delimita e
determina o NOSSO AGIR, cabendo-nos moldar a nossa
identidade em FUNÇÃO das ALTERNATIVAS que nos são dadas.
◘ Apesar de escolhermos o nosso CLUBE, não fomos nós que o
criámos, o ESTILO DE MÚSICA de que gostamos, o hábito de ir à
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DISCOTECA, ou o ESTILO DE MODA que adoptamos, são modelos


JÁ EXISTENTES NA NOSSA SOCIEDADE.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


A dimensão pessoal e social dos valores
◘ Estará, então, o indivíduo sujeito na
sua totalidade à cultura e aos
padrões sociais? O ser humano é
apenas um instrumento ou um
produto da sociedade, onde a
liberdade não tem lugar?
◘ Existem, sem dúvida, alguns factores
sociais que moldam a IDENTIDADE
dos INDIVÍDUOS, os seus VALORES e
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os seus COMPORTAMENTOS.
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 1_OS VALORES E O MUNDO


A dimensão pessoal e social dos valores
◘ EIS ALGUNS, talvez os mais significativos:
- EDUCAÇÃO: transmite os valores da sociedade indispensáveis
para tornar o indivíduo apto à sua integração;
- HÁBITOS/TRADIÇÕES: evocam determinados valores próprios da
sociedade, envolvendo o indivíduo na sua participação e defesa;
- IDEOLOGIAS/CRENÇAS: induzem o indivíduo a acreditar em
determinados dogmas, indispensáveis para a sua participação
activa na sociedade;
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- LEIS: estabelecem a obrigatoriedade de certos comportamentos em


função de princípios fundamentais, permitindo o uso da força para
quem não os adoptar; (…)
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 1_OS VALORES E O MUNDO


A dimensão pessoal e social dos valores
◘ (…)
- MEDIA: os meios de
comunicação social
representam uma realidade de
acordo com a visão social
dominante ou a forma ideal
que pretende ser retratada.
Criam novos valores e
comportamentos.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


A dimensão pessoal e social dos valores
◘ Portanto, o contexto social não implica que o indivíduo PERCA A
SUA INDIVIDUALIDADE. É a partir daí que ele se constrói, na
medida em que se IDENTIFICA com ALGUNS MODELOS que tem
como referência, dos quais SE APROXIMA e AFASTA, propõe a
MUDANÇA e a sua EVOLUÇÃO, cria laços afectivos com uns ou
de conflitualidade com outros e, por MAIS LIMITADA QUE SEJA,
a ESCOLHA será sempre dele.
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Texto de M. Bunge, Treatise on Basic Philosophy
“Todos os homens (…) enfrentam conflitos de valores. Estes podem ser
intrapessoais, interpessoais ou intergrupais.
Um indivíduo enfrenta um conflito interno de valores quando está dividido
entre valores incompatíveis, tais como envolver-se numa ocupação
agradável e cumprir um dever doloroso. Dois indivíduos entram em
conflito interpessoal de valores quando têm valores incompatíveis ou
quando têm os mesmos valores, mas os meios disponíveis para os realizar
são escassos. E dois grupos sociais podem entrar em conflito intergrupal de valores
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quando os respectivos sistemas de valores estão em desacordo entre si ou quando


partilham os mesmos valores, mas competem pelos recursos para os realizar.”
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 1_OS VALORES E O MUNDO


A dimensão pessoal e social dos valores
◘ A diversidade cultural implica que cada GRUPO ou SOCIEDADE
tenha a sua cultura própria suportada em valores que assume
como os MELHORES ou MAIS IMPORTANTES para si. Mas isso não
implica que todos tenham de os assumir.
◘ Cada um decide o seu caminho, caminho esse feito através de
ESCOLHAS INDIVIDUAIS.
◘ Escolhemos o grupo a que queremos pertencer, os nossos amigos, o
clube desportivo, o partido político, mas, porque existe a
POSSIBILIDADE DE FAZER OPÇÕES, a individualidade de cada
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um FICA ASSEGURADA, bem como a existência de liberdade.


OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 1_OS VALORES E O MUNDO


Actividade / QUESTIONÁRIO:
◘ Qual o significado de viver em sociedade?
◘ Que significa afirmar que o indivíduo faz a sociedade e a sociedade faz o
indivíduo?
◘ Estará o indivíduo sujeito na sua totalidade à cultura e aos padrões
sociais?
◘ Quais são os factores sociais mais significativos que moldam a identidade
dos indivíduos, os seus valores e comportamentos?
◘ Concorda com a ideia segundo a qual o indivíduo não tem liberdade?
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◘ Apresente elementos que demonstrem a existência de uma determinação


ou de liberdade na escolha da sua identidade e valores.
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FONTES BIBLIOGRÁFICAS/OUTRAS
1. MANUAL ÁREA DE INTEGRAÇÃO, LISBOA EDITORA, CURSOS
PROFISSIONAIS, DE ADELAIDE GALVÃO TELES, ELÍSIO GALA, ISABEL
SOARES.
2. OBRAS DE FICÇÃO:”YAKA”, PEPETELA, DOM QUIXOTE, 1998.
3. OBRAS DE REFERÊNCIA: “VALORES”, FRANCESCO ALBERONI,
BERTRAND EDITORA, 1997; “O PARADIGMA PERDIDO”, EDGAR MORIN,
PUBLICAÇÕES EUROPA AMÉRICA, 1975; “A DERROTA DO PENSAMENTO”,
A. FINKIELKRAUT, PUBLICAÇÕES D. QUIXOTE, 1988.
4. FILMES / DOCUMENTÁRIOS SUGERIDOS: “AMÉRICA PROIBIDA”, TONY
KAYE, EUA, 1998; “CIDADE DE DEUS”, FERNANDO MEIRELLES, BRASIL,
2002; “COLISÃO”, PAUL HAGGIS, EUA/ALEMANHA, 2006.

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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

DEBATE
◘ Liberdade é fazer tudo o que queremos?
◘ Que significa ser responsável?
◘ Há alguma relação entre consciência e
responsabilidade?
◘ Moral significa o mesmo que ética?
◘ O que é uma acção boa?

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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

O verdadeiro sentido da liberdade


◘ O que é a liberdade? Será a possibilidade que cada um tem de
fazer aquilo que lhe apetece?
◘ A questão que se coloca é saber se o uso da liberdade se reduz
unicamente ao apetite!
◘ Sabemos que o APETITE é uma disposição instintiva que um
indivíduo sente num determinado momento, fruto de uma
NECESSIDADE ou DESEJO.
◘ Mas será aí que reside o fundamento de toda a liberdade?

Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

O verdadeiro sentido da liberdade


◘ Com base nas duas situações abaixo descritas e no contexto daquilo que
é o verdadeiro sentido da liberdade, responda ao seguinte questionário:
1) Considera que na situação a, a acção produzida pela Joana foi livre?
Justifique.
2) E na situação b? Justifique.
3) Tendo como ponto de partida estes dois textos, defina “Liberdade”.
4) Estabeleça a relação existente entre “liberdade” e “dever”.

Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O verdadeiro sentido da liberdade
a) A Joana tinha proposto a ela mesmo que nesse dia iria estudar
para o exame de matemática, uma vez que tem o objectivo de, este
ano, entrar na Universidade, a fim de se tornar médica e para isso
necessita de uma boa nota. Mas, como não lhe apetecia ficar em
casa, preferiu sair com as amigas e, de facto, divertiu-se muito mais
do que se tivesse ficado em casa a estudar, embora não tivesse
cumprido aquilo a que se tinha proposto.

Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O verdadeiro sentido da liberdade
b) A Joana tinha proposto a ela mesmo que nesse dia iria estudar
para o exame de matemática, uma vez que tem o objectivo de, este
ano, entrar na Universidade, a fim de se tornar médica e para isso
necessita de uma boa nota. No entanto, não lhe apetecia nada ficar
em casa fechada a estudar. E, quando as amigas a convidaram
para sair, ela pensou «é mesmo isto que me apetece», mas, embora
lhe apetecesse muito sair, decidiu ficar a estudar, não que fosse esse
o seu desejo, mas porque achou que o deveria fazer.

Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
51

 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


Liberdade e responsabilidade
◘ Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII, afirma que a
LIBERDADE, no sentido prático, é a independência da vontade
frente à coacção dos impulsos da sensibilidade.
◘ Sendo o Homem dotado de racionalidade, a ESSÊNCIA DA
LIBERDADE está, não na possibilidade de fazer o que lhe
apetece, mas na capacidade de se autodeterminar, de se
ASSUMIR como um ser que domina o seu próprio agir, ÚNICO
RESPONSÁVEL pelos seus actos, de forma a atingir os seus
objectivos e poder realizar-se como PESSOA.
Victor Ribeiro

◘ Tal situação só se verifica quando uma ACÇÃO é produzida


racionalmente e NÃO POR APETITES!
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


Fernando Botero
Liberdade e responsabilidade
◘ Nós, de facto, somos livres de tomarmos
as decisões que quisermos, mas, porque
se trata de uma decisão livre,
TORNAMO-NOS RESPONSÁVEIS POR
ELA e, logo, PELAS SUAS
CONSEQUÊNCIAS.
◘ Nesse sentido, liberdade e
responsabilidade IMPLICAM-SE
MUTUAMENTE uma vez que só um SER
Victor Ribeiro

AUTÓNOMO na DECISÃO e na ADESÃO às


orientações da sua acção pode ser
RESPONSABILIZADO PELO QUE FAZ! Fernando Botero
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


Liberdade e responsabilidade
◘ Texto de apoio de Fernando Savater, Ética para um jovem.
Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A consciência moral
◘ A LIBERDADE HUMANA implica uma
consciência crítica e reflexiva sobre as
possibilidades de escolha e as acções
praticadas, encontrando o seu sentido mais alto
quando PROCURA INCESSANTEMENTE O BEM.
◘ Podemos ENGANAR o outro dizendo não fui eu!,
ficando ISENTOS DE RESPONSABILIDADE dos
nossos actos, mas connosco, com a NOSSA
CONSCIÊNCIA, nunca ficaremos bem, nem
Victor Ribeiro

IMPUNES pelo facto de nos termos DESVIADO das


nossas convicções e princípios.
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
55

 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A consciência moral
◘ A existência de uma VOZ ou de um JUIZ INTERIOR que nos
anuncia o dever, que CONDENA ou APROVA os actos de
INCIDÊNCIA MORAL, independentemente da AVALIAÇÃO DE
TERCEIROS, exerce em nós um PODER TREMENDO capaz de
gerar ANGÚSTIA, REMORSO ou CULPA, quando agimos
contrariamente àquilo que seria de esperar de nós.
◘ O facto de nos SENTIRMOS MAL quando ERRAMOS é, por um lado,
um sentimento dispensável para a nossa vida, na medida em que
não nos ajuda a SUPERAR OS NOSSOS LIMITES; por outro lado, É
Victor Ribeiro

NECESSÁRIO, na medida em que nos APERCEBEMOS de que existem


em nós PRINCÍPIOS e VALORES e uma definição do que somos e
do que devemos fazer.
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
56

 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A consciência moral
◘ Assim, o uso da liberdade está implicado com a dimensão
moral, na medida em que esta envolve CONSCIÊNCIA e
RESPONSABILIDADE.
◘ Todo o indivíduo que DECIDE LIVREMENTE sobre o seu agir,
tem que garanti-lo em algo que o fundamente, ou, de outro modo,
JAMAIS PODERÁ JUSTIFICAR AS ACÇÕES QUE PRATICA.
Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A consciência moral
◘Texto de apoio de G. Madinier, A consciência moral.
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

Actividade / QUESTIONÁRIO:
◘ Qual a relação entre liberdade humana e consciência crítica e reflexiva?
◘ Porque é possível associar a consciência moral às imagens do farol ou de
juiz interior?
◘ De que modo o uso da liberdade está implicado com a dimensão moral?
Victor Ribeiro
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 3_O DIREITO E A JUSTIÇA


A distinção entre Ética e Moral
◘ Os conceitos de Ética e Moral são conceitos de NATUREZA
AXIOLÓGICA que, por vezes, se confundem.
◘ Ética diz respeito à REFLEXÃO TEÓRICA sobre o que é o bem e o
que é o mal.
◘ Já a Moral remete-nos para uma DIMENSÃO PRÁTICA, apresentando
um conjunto de normas ou de regras que REGULAM a conduta
do ser humano, ORIENTANDO AS SUAS ACÇÕES.
◘ A Moral FUNDA-SE assim na Ética, pois as suas normas são
Victor Ribeiro

definidas em função do que a Ética DEFINIU PREVIAMENTE


como bem e como mal.
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A distinção entre Ética e Moral
“A Vontade Má em HEGEL”
◘ Por que interessa o CONCEITO DO
MAL? A situação é paradoxal!
◘ Por um lado, o Homem tem a
FACULDADE DE DAR-SE REGRAS: é
universal; por outro, o Homem, na sua
nova determinação de acordo político, NÃO
PODE RESTRINGIR-SE AQUILO QUE
ELE SE DEU: regras reconhecidas
como universais são VIOLADAS POR
ELE PRÓPRIO. Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A distinção entre Ética e Moral
“A Vontade Má em HEGEL”
◘ A maldade - PERVERSÃO DE UMA REGRA - vai dar-se como
perversão da própria faculdade de criar regras.
◘ Uma sociedade DESREGRADA coloca em questão TODAS AS
DEMAIS SOCIEDADES.
◘ O estado de desregramento é PROVISÓRIO, até que surjam
outras sociedades regradas, ou que a sociedade sem regras
VOLTE A REGRAR-SE.
◘ Até a reconstituição da sociedade, embora possa apresentar um
estado de desregramento não significa o ETERNO viver sem
regras. Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A distinção entre Ética e Moral
“O indivíduo liberta-se através do dever, acredita HEGEL”
◘ Conhecer pressupõe ADENTRAR-SE NO MUNDO, na esfera do
não-eu da outridade.
◘ O CONHECIMENTO ABSOLUTO (e o ser verdadeiro) só pode surgir
da práxis total (actividade orientada para um resultado, por oposição a
conhecimento).
◘ O indivíduo conhece à medida que SAI DE SI MESMO, à medida que
se TRANSCENDE e ENTRA NO MUNDO, perdendo-se
primeiramente nele para COMPREENDÊ-LO e ASSUMI-LO mais
tarde.
◘ Esse ASSUMIR deve ser feito com “plena consciência”. Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


A distinção entre Ética e Moral
“O indivíduo liberta-se através do dever, acredita HEGEL”
◘ O indivíduo pode ser VÍTIMA DE INJUSTIÇA; mas isso não
importa à razão universal, à qual os INDIVÍDUOS SERVEM como
meios para o seu desenvolvimento.

Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

A distinção entre Ética e Moral


◘ Distinção importante: MORAL, IMORAL e AMORAL:
◘ MORAL: AQUELE QUE AGE DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS
MORAIS… em conformidade com a moral.
◘ IMORAL: AQUELE QUE NÃO CUMPRE AS REGRAS MORAIS A
QUE SE PROPÕE… contrário à moral.
◘ AMORAL: AQUELE QUE AGE SEM QUAISQUER REGRASMORAIS
OU PRINCÍPIOS… ausência de toda a obrigação moral.
Victor Ribeiro
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

A distinção entre Ética e Moral


◘ Texto de apoio de A. Sanches Vazquez, Ética
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

Actividade / QUESTIONÁRIO:
◘ Esclareça o papel da ética e da moralidade.
◘ Explique por que razão, apesar de diferentes, ética e moral se
relacionam.
◘ Das situações seguintes, indique as que são éticas e morais/imorais:
- Discutir o valor de um ser humano.
- Confessar a autoria de um acto condenável.
- Roubar por puro prazer.
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- Reflectir sobre o direito à eutanásia.


-
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?

◘ Todo o agir suporta-se num CONJUNTO DE REGRAS


FUNDAMENTAIS existentes na consciência de cada um.
◘ Como vivemos em SOCIEDADE, integrados num grupo de
indivíduos com diversos VALORES e REGRAS socialmente
definidas, uma ACÇÃO BOA para um poderá não ser para outro.
Victor Ribeiro
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?

◘ O que leva a considerar uma acção moralmente boa?


- A acção boa é a que é PRATICADA COM BOA INTENÇÃO,
independentemente dos fins ou resultados dessa acção NÃO
SEREM BONS: “o que conta é a intenção!”, como costumamos
dizer…
- A acção boa é a que tem em vista o RESULTADO DA ACÇÃO,
independentemente de haver boa ou má intenção.
- A acção boa é a que é PRATICADA COM BOA INTENÇÃO e em
Victor Ribeiro

que o fim ou resultado dessa acção SEJA IGUALMENTE BOM.


OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?
◘ No plano ideal a TERCEIRA HIPÓTESE é inequivocamente a
ACÇÃO moralmente boa…
◘ Porém, se tivermos a intenção de ajudar alguém e NÃO
CONSEGUIRMOS, a acção deixa de ser boa?
◘ Do mesmo modo, se fizermos bem sem termos tido essa
intenção, não estaremos a PRATICAR UMA BOA ACÇÃO?
Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?
◘ Existem duas teorias diferentes sobre esta questão:
- O FORMALISMO KANTIANO, do filósofo alemão Immanuel Kant
(1724/1804) que procura responder à questão “O que devo fazer?”,
assenta TODO O AGIR na moral da intenção e nos princípios;
- O UTILITARISMO do filósofo inglês Stuart Mill (1806/1873) apela
ao pragmatismo da moral que deve assentar nos FINS ou nas
CONSEQUÊNCIAS DA ACÇÃO.
Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?
◘ Para Kant, o essencial da acção deve ser regulado por princípios
racionais e independentes das circunstâncias exteriores, pois é a
única possibilidade de se AGIR LIVREMENTE e de BOA VONTADE.
◘ Por exemplo: se eu condenar o HOMICÍDIO, por que razão o
hei-de defender, através da PENA DE MORTE quando se trata de
um criminoso atroz ou de um assassino em série?
◘ Se, antes de qualquer situação, CONDENAVA O HOMICÍDIO, houve
algo que me fez mudar de opinião e isso ficou a dever-se às
circunstâncias: logo, NÃO HOUVE LIBERDADE NA DECISÃO!
Victor Ribeiro

◘ A liberdade é a INDEPENDÊNCIA DA VONTADE frente às


influências exteriores…
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?
◘ Portanto, nenhum indivíduo é CAPAZ DE DECIDIR livremente e
no seu puro estado de bondade QUANDO ESTÁ PERANTE
UMA SITUAÇÃO CONCRETA.
◘ Haverá sempre a TENDÊNCIA de decidir EM FAVOR PRÓPRIO ou
de OUTREM, ou EM FUNÇÃO do que lhe FOR MAIS MARCANTE.
◘ O evidente é que haverá sempre uma INFLUÊNCIA.
◘ Daí, ser necessário para Kant, a criação de uma lei que funcione
como imperativo, PRESERVANDO, ao mesmo tempo, a
LIBERDADE DO AGENTE, uma vez que estabelece as regras de
Victor Ribeiro

acção SEM SE REFERIR A ALGO DE CONCRETO e antes de ela


ser praticada.
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?

“Age de tal modo que a máxima da tua vontade


possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio
de uma legislação universal.”
Immanuel Kant
Victor Ribeiro
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?
◘ Stuart Mill defendia uma MORAL VIRADA para o DOMÍNIO
CIRCUNSTANCIAL, ou seja, o que está por trás de uma acção
MORALMENTE BOA não é o princípio formal que nos rege
(INTENÇÃO), não é também o INTERESSE PRÓPRIO, mas antes
o RESULTADO que se poderá obter dessa acção e a maior
felicidade geral que dela possa decorrer.
Victor Ribeiro
OS FINS E OS MEIOS: QUE ÉTICA PARA A VIDA HUMANA
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA


O que determina uma acção boa?
◘ Daí a designação UTILITARISMO: a moralidade da acção aplica-
se à acção em si mesma e DEPOIS DE SER REALIZADA, tendo
em conta os efeitos que produzir, ou seja, UMA MESMA ACÇÃO
poderá ser numa determinada situação BOA e noutra MÁ.
◘ O que define a MORALIDADE não é o princípio mas antes o
efeito, em função do MAIOR GRAU DE FELICIDADE que
promover para a sociedade.
Victor Ribeiro
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

FORMALISMO KANTIANO
O que interessa na moralidade de um acto é o respeito à
lei moral, e não os interesses, fins ou consequências do
próprio acto.
Uma boa vontade, guiada pela razão, age em função de
um imperativo categórico (dever), sendo aí puramente
livre e, logo, puramente boa.
Victor Ribeiro
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

UTILITARISMO
O verdadeiro sentido moral encontra-se no efeito que a
acção produz e maior grau de felicidade social que
trouxer. A regra moral que orienta as acções é o prazer,
procurando maximizar, imparcialmente, a felicidade de
todos.
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 2_A LIBERDADE E A NECESSIDADE DE UMA ÉTICA

Actividade / QUESTIONÁRIO:
◘ Que critérios fundamentam que uma acção possa ser considerada boa?
Depois de debater com os seus colegas, apresente exemplos concretos.
◘ Poderá um indivíduo amoral praticar uma acção moralmente boa?
Justifique.
◘ Depois de caracterizar cada uma das visões (formalista e utilitarista),
qual considera predominante hoje em dia? Justifique.
◘ Visione o filme “O último samurai” , a propósito do valor da honra e
proveito próprio em tempo de guerra e procure determinar de que
Victor Ribeiro

forma estas duas teorias estão presentes.


-
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FONTES BIBLIOGRÁFICAS/OUTRAS
1. MANUAL ÁREA DE INTEGRAÇÃO, LISBOA EDITORA, CURSOS
PROFISSIONAIS, DE ADELAIDE GALVÃO TELES, ELÍSIO GALA, ISABEL
SOARES.
2. OBRAS DE FICÇÃO: FIODOR DOSTOIEVSKI, “CRIME E CASTIGO”,
PORTUGÁLIA EDITORA.
3. OBRAS DE REFERÊNCIA: FERNANDO SAVATER, “ÉTICA PARA UM
JOVEM”, EDITORA PRESENÇA, 1993; “O CONTEÚDO DA FELICIDADE”,
RELÓGIO D’ÁGUA, 1995.
4. FILMES / DOCUMENTÁRIOS SUGERIDOS: “A ESCOLHA DE SOFIA”,
ALAN J. PALUKA, 1982; “HORIZONTES DE GLÓRIA”, STANLEY KUBRICK,
EUA, 1957; “O ÚLTIMO SAMURAI”, EDWARD ZWICK, JAPÃO, 2003.

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 FICHA FORMATIVA: OS VALORES E O MUNDO / A LIBERDADE E A


NECESSIDADE DE UMA ÉTICA / O DIREITO E A JUSTIÇA

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