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Campos Bidimensionais – Mapeamento Digital

1) Introdução
Os campos bidimensionais são aqueles com as seguintes características:

a) os vetores de campo são paralelos a um plano fixo, por exemplo ao plano XY.
Chamaremos este plano fixo de plano de campo;
b) As grandezas de campo não variam ao longo de um eixo normal ao plano fixo.

Supondo que o plano fixo seja o plano xy, as grandezas de campo não dependem da
variável Z, assim bastam duas componentes para definir os vetores dos campos
bidimensionais, ou sejam:

E Ex i Eyj [1.1]

V=V(x,y) [1.2]

Como exemplos de campos bidimensionais podemos mencionar o campo criado por


condutores cilíndricos infinitos, com eixos paralelos como por exemplo no isolante de um
cabo coaxial, em linhas de transmissão com dois ou mais condutores cilíndricos paralelos.
Uma forma muito útil e cômoda de representação gráfica dos campos bidimensionais, é
por meio do traçado, no plano do campo, de linhas de força e de linhar equipotenciais sendo
estas determinadas pela intersecção das superfícies equipotenciais, com o plano do campo.
Esta representação constitui o mapa do campo.
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2) Método dos quadrados curvilíneos

É um processo gráfico de mapeamento dos campos bidimensionais. Como as linhas de


campo e as linhas equipotenciais se cruzam em angulo reto, elas formam figuras
retangulares de lados curvilíneos. Vamos supor que as dimensões são suficientemente
pequenas para que as curvatura dos lados não seja muito atenuada, conforme Figura 1.

Figura 1. – Linhas de campo e de equipotenciais

Se considerarmos uma profundidade L (paralela ao eixo Z) do campo esse retângulo


curvilíneo define no campo uma célula, ou uma caixa de profundidade L, conforme Figura
2.

Figura 2. – Quadrado curvilíneo

As superfícies laterais dessa caixa, são duas faces quipotenciais V1 e V2 com V1>V2 e
quatro faces que formam um tubo de fluxo. Todo fluxo que atravessa a caixa, vai da
superfície V1 para a superfície V2. Não existe fluxo através das demais faces, pois eles
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delimitam um tubo de fluxo. Vamos admitir também que no meio da célula a distancia
entre os seus lados V1 e V2 seja b, a largura h e a profundidade L igual a 1.
Para aplicarmos o método dos quadrados curvilíneos devemos admitir que:

A diferença de potencial entre duas equipotenciais sucessivas é constante;


O fluxo limitado por duas linhas de campo sucessivas é constante em todo o campo;
A relação entre a base e a altura média de todos os retângulos é a mesma, ou seja
b/h= constante.

Portanto a densidade de fluxo na seção de qualquer célula é dada por:

D [2.1]
h

Por outro lado o valor do vetor de campo E no centro de qualquer das células, pode ser
calculado por:

V1 V2 V
E [2.2]
b b

Sendo a permitividade do meio suposto isótropo e homogêneo, temos que D= E e

portanto combinando-se as duas equações anteriores vem que :

V h
ou [2.3]
h b b V

se escolhermos b=h o campo ficará dividido em quadrados curvilíneos.


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O método dos quadrados curvilíneos baseia-se na possibilidade de se conseguir traçar


graficamente uma rede de linhas formando quadrados curvilíneos que será então o mapa de
campo. Para iniciar o processo gráfico traçam-se as equipotenciais e linhas de força dadas
pelas condições iniciais e pelas condições de simetria. Em seguida procura-se interpolar
outras equipotenciais e construir linhas de campo mantendo-se a ortogonalidade. É evidente
que não se poderá chegar a um bom mapa logo na primeira tentativa. A habilidade na
aplicação do método dos quadrados curvilíneos só se consegue mediante adequado
treinamento e familiaridade com os campos bidimensionais.

3) Método numérico

A solução de problemas de campos bidimensionais pode ser tratada através do método


de relaxação. Inicialmente supomos uma distribuição arbitrária do potencial e depois, por
cálculos baseados na equação de Laplace, obtemos uma Segunda distribuição mais próxima
da verdadeira. Partindo-se da Segunda distribuição calculamos uma terceira ainda melhor, e
assim por diante até que se alcance um resultado com precisão satisfatória.
Para a aplicação deste método construímos inicialmente paralelamente ao campo
bidimensional que se deseja estudar, um reticulado ou grade nos vértices do qual vamos
determinar os potenciais. Os potenciais das bordas do reticulado, são conhecidos e
constituem as condições de contorno. Aos demais vértices são atribuídos potenciais
arbitrários. Em seguida a partir das condições de contorno e dos potenciais atribuídos aos
vértices da rede, recalculam-se os valores em cada vértice utilizando-se as relações obtidas
a partir da equação de Laplace.
A equação de Laplace para o campo bidimensional é dada por :

2 2
V V
0 [3.1]
2 2
x y

Para a Figura 3 em que as cargas estão concentradas na região de contorno, calculando-


se derivadas em relação a X nos pontos a e c teremos :
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Figura 3. – Concentração de cargas

V V1 V0 V V0 V3
e [3.2]
x a h x c h

Então no ponto 0 teremos :

V V
2 x a x c V1 V0 V0 V3
V V1 V3 2V0 [3.3]
=
x2 0 h h2 h2

Analogamente considerando as derivadas em relação a y podemos obter :


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V V
2 y b y d V2 V0 V0 V4 [3.4]
V V2 V4 2V0
=
y2 0 h h2 h2

Finalmente a equação de Laplace no ponto 0 será:

2 2
V V V1+V2+V3+V4-4V0
0 ou 0 [3.5]
2 2 2
x 0
y 0
h

Resulta que o potencial no ponto 0 será a média dos potenciais nos pontos a,b,c e d
conforme equação abaixo:

V1 V2 V3 V4 [3.6]
V0
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4) Exemplo de aplicação

Seja uma caixa metálica muito longa (calha), de seção quadrada, limitada superiormente
por uma placa de potencial igual a 100V, a direita por uma placa com potencial de 50V e
inferiormente e a esquerda por placas ligadas a terra (potencial de 0V) conforme Figura 4.
Determinar por integração numérica da equação de Laplace, o potencial nos vértices da
malha em que foi dividido a região interna da caixa.
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Figura 4. – Calha
Primeiramente atribuem-se potenciais arbitrários a esses pontos. Os valores adotados
inicialmente poderão ser aqueles indicados nos vértices da malha. A partir daí recalculamos
o valor do potencial fazendo uso da equação 3.6. Por exemplo
V11=(47+100+0+19)/4=41,5. Este valor será utilizado para calcular o nó seguinte ou seja,
V12=(60+100+41,5+37,5)/4=59,75 e assim por diante.
A tabela abaixo mostra as iterações em cada nó:
100 100 100
V11 V12 V13
0 41,5 59,7 63,4 50
45,5 61,5 64,2
46,2 61,9 64,2
46,3 62,0 64,2
46,3 62,0 64,2
V21 V22 V23
0 22,3 37,0 45,0 50
23,4 37,3 45,0
23,6 37,4 45,0
23,6 37,4 45,0
23,6 37,4 45,0
V31 V32 V33
0 11,1 19,3 28,6 50
10,7 19,1 28,5
10,7 19,1 28,5
10,7 19,1 28,5
10,7 19,1 28,5
0 0 0
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Na Figura 5 apresentamos o potencial considerando-se os pontos V21, V22 e V33.

Figura 5. – Potencial nos pontos V21,V22 e V33


5) Exercícios

Na Figura 6 abaixo vemos dois tubos concêntricos, metálicos, coaxiais, de seção


quadrada. O tubo interno é mantido em um potencial de 100V e o externo está ligado a terra
–12
(0 Volts). O meio existente entre os dois tubos é o ar = 8,85x10 F/m. A outra figura

representa uma oitava parte desse conjunto de condutores, com a grade utilizada para o
calculo numérico da equação de Laplace, pelo método da iteração. Os valores dos
potenciais, obtidos pelo computador estão indicados na Figura 7. Calcule os valores que
faltam.

Figura 6. – Tubos concêntricos metálicos


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Figura 7. – Potenciais

a) Calcule os valores que faltam.


b) Desenhe os equipotenciais de 25, 50 e 75 Volts.

6) Referencias Bibliográficas

[1]Camargo J. B. & Maya P. A.; Laboratório de Eletromagnetismo I, Apostila, Editora


Faculdade de Engenharia Industrial, 1998.

[2]Camargo J. B. & Orsini L. Q.; Eletromagnetismo – Cap. 3, Apostila EDUSP

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