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Luiz Eduardo Robinson Achutti Whi} ESC ONCE Antropologia Sel sobre (Ot ENO Xo trabalho mK TATCL irene eae PALMARINGA: a lh! hf Sem provocago, 0 aor desta {oloetnografa levania efevamente a {questo das relagbes, mas também das Singularidades do suport imagetio © do ‘suport esaio na sua pretensao muta ‘em conhecare revelar os homens 6 as sociedades. Oferace, desta manera, a0 seu letorduas aberturs, duas potas de entrada: esie poderé empreender a letura de um texto ou, virendo 0 Evo, mergulharna espessira das imagens. ‘Gada um desses reqistos,é verdade, partem de uma observagao, ambos so sas inierpretagdes conjugam se diferentemente em fungo dos suportes ulzados, O suport imagetico no funciona da mesma manetra que 0 ‘suport verbal. Cada um deles poe em ‘obra operagbes cognitvas eafetivas singuiares. ‘Observe! econtemplel com todo 0 meu ‘tempo as fologrtia realizadas © ‘organizadas por Achat. Eu ee quo ‘oravanie, mesmo cego,podera entrar ta Vila Dique onde nunca tna ido. Revonheceria as ruas, as cores das ‘casas de madeira. Reconheceia as rugas da tesla desta velha mulher que, ‘com um péo na mo, olharia ainda para mim, Reconhecera o cheiro do lio, 0 uot do labor, 0 rso das criangas, 0 odor {tesco do creme de barbear sobre 0 tigode do Senhor Pinheiro. Essas {ologratias tomaram-sefragmenios de tum discurso amoroso, lugares de um investment psiquico consideravel, de um prazer ede uma dor. Etienne Samain ] FOTOETNOGRAFIA Um estudo de Antropologia Visual sobre cotidiano, lixo e trabalho eco Luiz Eduardo Robinson Achutti 3B. Macrae © do autor Tedigao 1997 Direiios reservados desta edito: ‘Tomo Editorial Lida e Lvraria Palmarince ‘ilitores: Joio Cameiro ¢ Rui Diniz Gongalves ‘Prajeto Gace: Joao Carneiro ‘Capa: Roberto Siva Revisio: Tomo Editorial ‘Tomo Pditorial Tratamento das ftegratias para ftoites: Wilian Grillo “Inmpressio e actbamento: Cokie we Plo Livruria Palmarinca Lida. ‘ua Jeronimo Coetho, 243 Cx Postal 102 CEP 90010-241 Porto Alegre RS Fone: (051) 226 7744 Fax: 225 2577 Distribuidors Palmarines Rua Jeronimo Coelho, 281 Fone: (O81) 225 597/228 1163 Fax: (051) 225 6081 email: rosa(@qbeet.com-br “Tomo Titoial Lida. ‘Cx, Postal 1029 Agencia Central (CHP 9001-970 Forto Alegre RS Fone/Fax: (051 227 1021 +-mail:joso@portowebcom.br ‘AI79F Achutti, Luiz Eduardo Robinson 208p. Porto Alegre. 4, Fotoetnografi. 1 Titulo ‘um estudode antopolegia visual sobre cofidianolixoe trabalho / Liz Eduardo Robinson Achutt Porto Alegre. Tomo Baitorial Palmarines: 1997. 1. Antopologia Visual. 2. Imagem (otegrafia) na pesquisa antropoligica. 8. Catadoras de liso - Vila Dique cpp 572.7 ee ‘Gaatagaco na publica: iblotesiria Maria Livele Gomes Mendes CRB 107950 Sumario Prefiicio Introdugio Fotoetnografia da Vila Dique CContextualizando e Legenando: o didrio de campo a narrativa visual da Vila Dique Avila Oiabaiho co Lio Retraios Aa Cass Toor, Formas © Coes Imagens Dent ne . nett Ties ale Prefacio ANTROPOLOGIA EM CAMARA ESCURA. Rubem George Oliven * No final da década de setenta, quando comecava o processo de abertura democratica, eu lecionaya um semi- nario sobre industria cultural e cultura de massa no curso de Ciéncias Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os alunos tinham, em geral, uma grande inquietu- de intelectual ¢ politica, o que tornava as aulas uma ativi- dade desafiante ¢ estimuladora, Foi nessa época que co- nheci Luiz, Eduardo Robinson Achutti. Ele era estudante de Ciencias Sociais e se matriculara em meu seminaio. No final de uma das sessdes veio falar comigo. Contou-me que era fotdgrafo ¢ que desejava unir o seu interesse pela foto grafia com as Ciéncias Sociais. Discutiu comigo a mono- grafia que faria como trabalho final do semindrio e pediu- ‘me uma bibliografia. Fiquei encantado pela sua determi nagao e pelo seu entusiasmo ¢ consegui achar alguns livros eattigos sobre fotografia e imagem. Disse-Ihe também que ele deveria continuar nesta linha de preocupagées que me pareciam muito promissoras. O resultado evidenciou-se na monografia que foi muito criativa e de grande qualidade. * Professor Titular do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul lati Eduardo Robinson Achat Passado um tempo, ele me contou que estava traba- Ihando como free Jancerno Coojornal, um periddico men- sal alternativo daquela época, publicado por uma coope- rativa de jornalistas gatichos. Quando dei uma entrevista para o jornal, ele foi designado para fazer uma fotografia minha. Fiquei impressionado com 0 ntimero de fotos que bbateu e comentei o fato com ele. Explicou-me que queria escolher a foto que fosse mais adequada a entrevista e que pparu isto nio se devia economizar filme. ‘Acarteira de Achutti cresceu de modo impressionante e ele se fornou um dos mais importantes fotdgrafos do Rio Grande do Sul com varia exposigdes e prémios. Sentindo necessidade de refletir mais sobre seu oficio de fotografo preocupado com o social, matriculou-se no mestrado do Programa de Pés-Graduacdo em Antropologia Social da UFRGS onde recém tinha sido criado um Nuicleo de Antro- pologia Visual. Neste meio tempo, ele também foi aprovado ‘num concurso para professor de Fotografia do Instituto de Artes da UFRGS, onde desenvolve atualmente um criativo trabalho de ensino e pesquisa. presente livro é fruto de sua dissertagao de mes- trado aprovada em 1996. Ela foi orientada pela Professora Ondina Fachel Leal que foi a primeira mestre em Antropo- logia Social da UFRGS. Tive o prazer de orientar sua disser- tagio de mestrado, aprovada em 1983, que tratou de uma recepedo de uma telenovela da Globo ¢ que foi publicada pela Editora Vozes com o titulo A Leitura Social da Novela das Oito, © trabalho tinha um capitulo inteiro s6 de foto- .grafias de aparethos televisores em diferentes unidades do- meésticas. A ideia era expor, através da imagem, gostos com base numa etnografia da casa e do lugar onde as pessoas assistiam televisao. O capitulo propositadamente nao tinha nenhum texto escrito, pois era fiel A idéia de Roland Bar- thes de que “no fundo, a fotografia ¢ subversiva nao quan- Foloctnesratie do assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pen- saliva”, Desde entao, os trabalhos na area de Antropologia Visual foram se multiplicando no Programa de Pos-Gradu acao em Antropologia Social da UFRGS através de disserta- bes, de videos ¢ de exposigdes fotograficas. O trabalho de Achutti é pioneiro por varia razdes. Ao analisar o cotidiano numa vila popular, o autor decidiu es- tudar esta populacio a partir doyfixo. A vila estudada se caracteriza por ter na reciclagem dé lixo uma atividade pri- mordial, Achutti assinala que ha uma tendéncia muito for- te de rejeitar tudo o que esti ligado ao Lixo, Mas a perspec- tiva dele ¢ diferente ja que, como assinala no inicio de seu livro, “no lixo ndo encontraremos mais o fim da linha ou 0 fim da cadeia de consumo, encontraremos o fim do des- perdicio, as modernas solucbes para « preservagao do meio ambiente, encontraremos uma verdadeira usina de produ- fio de matéria-prima. Deste ponto de vista, o trabalho das mulheres da Vila Dique pode ser encaraclo como de fund: mental importdncia, situado no meio de um longo proces- 80 produtivo moderno”, O lixo nos diz muito sobre uma sociedade. Ele nos conta o que diferentes grupos sociais consomem, mas acima de tudo aquilo que eles jogam fora. ‘Temos aqui um ciclo em espiral: produgéo + consumo descarte > coleta ~* reciclagem — (re) produgao. ‘A segunda razao do pioneirismo deste livro se deve a0 fato de que séo mulheres Os principais protagonistas de sua pesquisa. Na Vila Dique sao as mulheres que se ocu~ pam do lixo coletado pelos homens. Sao elas que o classifi- cam e separam, ¢ sao também elas que o reciclam. Lixo é sujeira e como tal é visto como contaminante ¢ ameacando a satide. Na maior parte das sociedades, cabe @ mulher li- dar com a sujeira e tanter as coisas limpas: a limpeza da casa, a lavagem das roupas ¢ da louga e a higiene das cri- angas. As mulheres esta em geral reciclando. Elas tém wm Jia Eduardo Robinson Achutt ciclo biologico caracterizado pela ovulagao e pela secrecio do sangue menstrual, considerado impuro pelos homens ‘na maior parte das sociedades. Mas ¢ através de seu ciclo biolgico que as mulheres reciclam a vida, na medida em que gestam filhos. A terceira razao pela qual este estudo é pioneiro deve- se a0 fato de que ele se propoe a ser uma fotoctnagrafia) O autor se propde a estudar o lixo utilizando 0 método clissi- co da Antropologia que ¢ a etnografia. Mas, em vez de fa- zer uma descrigao que utilize a palavra escrita, ele optou pelo uso da imagem fotogréfica. Sao as imagens que nos fazem pensar, no o texto escrito, Isto faz. com que o livro possa ser abordado de duas formas. A primeira é ler os capitulos escritos nos quais 0 aulor discute a problemitica e as perspectivas de uma An- tropologia Visual. Nesta parte ha uma discussao a respeito de a imagem representar a realidade ou nao passar de um simulacro dela. Esta discussdo, que remonta a Aristoteles, é fundamental para a Antropologia que se preocupa muito com a reconstrugao da realidade a partir do trabalho etno- grifico. Achutti amplia esta discussao para a fotografia, ana- lisando a impossibilidade de uma objetividade fotografica. ‘A segunda forma de abordar o livro é apreciar o con- Junto de fotos que forma a fofoetnagrafia deste estudo, As belissimas fotos que compsem esta parte sio elogiientes. Nela vemos mulheres dignas e lindas na sua simplicidade € captamos rigos detalhes que se desvendam aos poucos. Par- ticularmente interessante é a secao intitulada “Imagens den- tro da Imagem?” em que Achutti devolve aos fotografados a sua imagem e os fotografia mostrando-as. Trata-se metafo- ricamente de presentear espelhos aos nativos. Mas, em vez de espelhos de vidro, o que temos é um espelho fotogrifico ‘em que os fotografados se reapropriam de sua imagem. Isto € particularmente importante porque atualmente ha uma 8 Fotoctnegratia discussio intensa na Antropologia a respeito do 08 pesquisados tém de nossas pesquisas. A camara escura de Achutti acima de tudo ilumina. Hla nos faz pensar. Pensar na nossa sociedade de consumo © em seus desperdicios; pensar sobre as mulheres (e por conseguinte sobre os homens); pensar no oficio do antro- pologo; pensar na comunicacao escrita e na comunicagao fotografica. orn que INTRODUCAO ‘Meu objetivo ¢ contribuir para o desenvolvimento tedrico e pratico da antropologia visual. A antropologia, que se baseia fundamentalmente em uma técnica des- critivo-interpretativa, faz ainda um uso restrito de ima gens ¢ técnicas visuais, embora esta abordagem sempre tenha feito parte das intencdes da antropologia enquan- to disciplina, desde os seus primérdios. Para a parte do exercicio visual, fotografei traba- Ihadoras de uma vila de favela na regido periférica da cidade de Porto Alegre, originalmente area de depdsito do lixo da cidade, que tém seu cotidiano, suas vidas, suas estratégias de sobrevivéncia e suas percepedes de mun- do permeadas pelo lixo, restos e detritos da grande cida- de. A vila fica situada junto ao entreposto de abasteci- mento de frutas e verduras central da cidade (CEASA), 0 que permite que os restos dos produtos hortigranjeiros ali vendidos sejam uma das fontes de alimentacaio destas pessoas. As mulheres trabalhadoras organizaram uma co- operativa de catadoras de lixo e em um galpio selecio- nam o lixo (que atualmente ja vem de uma coleta seleti- va feita pelo DMLU - Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal de Porto Alegre).

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