Professional Documents
Culture Documents
Resumo
Um site é o produto final de uma rede simbiótica de profissionais envolvidos no processo de criação. Deste
modo, a pesquisa parte da análise do processo de criação, sob a visão da crítica genética, tendo como objeto de
estudo o site do Instituto de Estudos Superiores da Amazônia (IESAM), no ano de 2012. Assim, iniciamos o
trabalho pelo levantamento dos documentos do processo de criação do site selecionado para estudo. Entre esses
documentos existem briefing, esboços de planejamentos, desenvolvimento de sites, arquivos digitais, entre
outros. Com este estudo, constatou-se que o processo criativo do web site em questão não ocorreu de forma
linear, pois permitiu o uso de mecanismos que proporcionam a legibilidade dos conteúdos a serem transmitidos
por meio da composição da mensagem visual.
Palavras-chave: Crítica genética, processo de criação, web.
Abstract
A website is the result of a symbiotic network of professionals involved in the creation process. Thus, the
research begins with the analysis of creation process, by using genetic criticism. Its aim is to study the website of
the Instituto de Estudos Superiores da Amazônia (IESAM) in the year 2012. Thus, we begin this research by
observing documents of the creation process of the website. Among those documents, we selected briefings,
studies of planning, website development. As consequence of this study, we discovered that the creation process
of the website did not occur in a linear manner; in fact, it allowed the use of mechanisms that provide the
readability of the content to be transmitted by means of the composition of the visual message.
Key Words: Genetic criticism, creation process, web.
Introdução
O ato criador leva à construção de um objeto em uma determinada linguagem. Mas seu
percurso é organicamente intersemiótico (SALLES, 2009, p. 118). Refletindo assim, todo o
processo de criação, por si só, agrega um conjunto de fatores e filosofias impregnado de
personalidade do criador ou do seu cliente. Este é um fato gerador de desentendimentos no
processo de criação, pois muitas ideias e propostas, às vezes inviáveis, vêm à tona no
momento de “nascimento” de um site, pois este, após conclusão, diferentemente de um
escritório ou representação, fica disponível 24 horas por dia, sete dias por semana,
ininterruptamente online, proporcionando o máximo de visibilidade de um produto.
1
Mestrando em Comunicação, Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia (UNAMA), especialista em
Comunicação Empresarial pela Faculdade da Amazônia (FAAM), bacharel em Comunicação Social: Habilitação
em Multimídia e Relações Públicas pelo Instituto de Estudos Superiores da Amazônia (IESAM).
2
Doutoranda em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP), mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP), bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda – pela Universidade da Amazônia
(UNAMA), bacharel em Comunicação Social – Jornalismo – pelo Centro Universitário das Faculdades
Integradas Alcântara Machado (FIAMFAAM), bacharel em Relações Públicas pelo Instituto de Estudos
Superiores da Amazônia (IESAM).
1
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
2
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Quando o usuário faz compras pela internet, ele transforma, manipula e solicita o
produto que será baixado do estoque da loja e, ao mesmo tempo, informa a seu cartão de
crédito ou conta bancária um novo débito que alterou uma estrutura de conteúdo. Quando o
usuário faz pagamentos de contas por meio de um site de banco, ele está interagindo com sua
conta corrente, ou quando envia uma mensagem para outra pessoa, ele está modificando a
interface da caixa de mensagens do receptor. Dessa forma, ele, usuário, passa a fazer parte de
um processo que está sempre em movimento.
A interatividade é caracterizada como “a arte da participação”, é o receptor assumindo
o papel de autor em uma obra aberta, uma obra em estado de possibilidade. Justamente no
espaço virtual (ciberespaço), podemos visualizar, por meio da tela do computador, as marcas
da ação do usuário ora receptor, ora destinatário.
Navegação
Na internet, encontramos uma infinidade de sites destinados aos mais variados
públicos, oferecendo desde produtos e serviços até entretenimento e informação. Com a
evolução rápida dessa mídia, muitos se preocupam em desenvolver seu site e colocá-lo no ar
para não ficar de fora. A esse imediatismo, junta-se a falta de capacitação profissional. Muitos
sites foram desenvolvidos, quanto ao conteúdo, de forma confusa ou genérica demais; em
termos tecnológicos, com endereços e links confusos, contendo informações irrelevantes, que
precisam de downloads lentos, em muitos casos.
Há vários sites que seguem a mesma estrutura independente de seus conteúdos. É
importante pensar que o site precisa agregar valor ao usuário; pois hoje a maioria das pessoas
não navega mais na rede, apenas visita alguns sites fixos, e faz uso de e-mail, chats e redes
sociais. O profissional dessa área deve preocupar-se com o usuário, compreendendo suas
necessidades.
Leão (1999), em Labirinto da Hipermídia, associa a arquitetura do ciberespaço com o
do Oriente. Nesse sentido, a autora coloca a necessidade de construir um projeto bem
organizado, e o espaço a ser concebido com algo mutável e flexível. Deve ser ressaltado que
pensar a estrutura de navegação implica entender algumas questões tecnológicas, porém, neste
3
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
4
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
gênese da obra com o material que possui e descrever os mecanismos que sustentam essa
produção.
O foco de atenção da crítica genética é, portanto, o processo por meio do qual algo que
não existia passa a existir, pautado em algumas características que alguém lhe oferece. Uma
obra surge ao longo de um processo complexo de apropriações, transformações e ajustes. A
crítica genética entra na complexidade do processo, mas a principal questão que impulsiona
este estudo é a organização desse movimento. Não seria a interpretação da obra considerada
final pelo criador, mas sim o processo responsável pela sua produção. Ressaltamos que só nos
interessa estudar o processo de criação porque essa obra existe.
A crítica genética utiliza-se do percurso da criação para desmontá-lo e, em seguida,
colocá-lo em ação novamente. Quando nos referimos a percurso, falamos sobre os rastros
deixados pelo criador. O interesse dos estudos genéticos é o movimento criativo: o ir e vir do
criador. Assim, o crítico passa a conviver com o ambiente do fazer, cuja natureza o criador
sempre conheceu.
Estrutura metodológica
Este estudo tem como objetivo identificar e analisar os documentos que envolvem o
processo de criação de páginas para internet, especificamente, o site do Instituto de Estudos
Superiores da Amazônia (IESAM), vinculado em 2012; seu projeto gráfico e sua estratégia de
navegação, dentro de todo o processo de comunicação desenvolvido na rede. É importante
citar que abordamos a navegação do ponto de vista do projeto gráfico, que envolve questões
estéticas e comunicativas. Porém, não entramos em questões tecnológicas. Assim, iniciamos o
trabalho pelo levantamento dos documentos do processo de criação do site selecionado para
estudo, entre esses documentos existem briefing (informações do instituto, produtos e
serviços, consumidores, mercado), esboços de planejamentos, desenvolvimento de sites,
arquivos digitais, entre outros.
No campo da comunicação identificamos e analisamos os documentos que envolvem o
processo de criação de um website. Estudamos o percurso que vai do levantamento das
informações – briefing ao planejamento – o roteiro de navegação, estrutura, execução e
desenvolvimento do website.
Dentro da expansão dos limites dos estudos genéticos, buscamos com esta pesquisa
desenvolver o estudo dos documentos do processo de criação para internet, mais
precisamente, no processo criativo de um website.
5
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
6
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Mecanismos do processo
Ao analisarmos os documentos digitais, index.html, percebemos que o web
designerpartiu de um layout básico da estrutura de navegação, e cada passo do processo foi
aprimorando seu projeto no nível da navegação e da interface gráfica, incluindo elementos,
conteúdos e links que, muitas vezes, auxiliam no deslocamento do internauta dentro do
website. O web designerprecisa fazer mudanças ao longo do percurso do processo de criação,
são escolhas que vêm ao encontro de objetivos traçados pelo cliente, o instituto IESAM, e
pelas necessidades do público-alvo. De forma clara, vemos as transformações dos layouts por
intermédio dos mecanismos de adição, corte, substituição e deslocamento de elementos
promovidos pelo webdesigner, a respeito desses mecanismos trataremos a seguir.
Adição
O mecanismo de adição é o mais constante no processo, ele está presente em maior
número em relação aos outros mecanismos. A cada layout, o web designer procura inserir
elementos que completem as informações ali contidas.
8
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Vimos aqui alguns elementos que foram sendo adicionados ao longo do processo de
criação. Este com certeza é o maior mecanismo que o web designer utiliza ao longo do
processo, a Adição.
A cada novo layout, o web designer vai acrescentando elementos e informações que se
fizeram necessários ao projeto, seja por meio de dados do briefing, seja em nome de uma
interface gráfica mais clara, tornando a navegação mais fácil ao internauta, assim como é
percebido na figura 5:
9
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Corte
O segundo mecanismo que o web designer utiliza é o corte, em uma proporção menor
ao mecanismo da adição. Ao longo do processo de criação, o web designer vai identificando
elementos que se tornam dispensáveis ao projeto, seja pela falta de conteúdo ou por não
auxiliarem de forma alguma na navegação.
O corte faz-se necessário conforme o web designer percebe quais conteúdos estão
sendo repetidos, ou que não existe um conteúdo suficiente para mantê-los, e que tais
informações podem tornar o site confuso do ponto de vista do usuário.
10
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Substituição
Nos documentos do processo de criação, encontramos outro mecanismo utilizado pelo
web designer, a substituição. Percebemos que tal mecanismo apresentou-se pouquíssimas
vezes durante o percurso.
O mecanismo de substituição foi pouco utilizado pelo web designer, mas a adequação
dos elementos e palavras em uma linguagem digital aproxima o internauta, deixando-o mais à
vontade; sob esse aspecto a substituição torna-se um mecanismo fundamental no processo
criativo.
11
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Deslocamento
O deslocamento dos elementos nas páginas é outro mecanismo que o web designer
trabalha no processo de criação.
13
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Considerações finais
A internet é uma grande aliada das empresas para a realização de negócios, seja para
novos negócios ou complementação de outros já existentes no mercado. Como uma
ferramenta de apoio ao marketing, tornou-se um canal de aproximação com seus clientes, seu
público-alvo em potencial. A rede é construída de forma livre, não existe um controle de
14
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
qualidade, nem no que diz respeito à interface gráfica, nem a conteúdo. Qualquer pessoa pode
desenvolver um site e colocá-lo no ar, apenas utilizando softwares apropriados; não há
necessidade de concessões governamentais, como no caso da TV. A única exigência é que se
faça um registro do endereço do site, para que não haja problemas de conflitos nas buscas e
nas navegações por nomenclaturas repetidas. Esse registro e sua manutenção são feitos a um
custo quase que irrelevante.
As escolhas e decisões pelos elementos que farão parte da composição visual
constituem o processo criativo e, nesse caso, como todo e qualquer processo comunicacional,
que tem como objetivo a compreensão por parte do receptor, essas escolhas precisam ser
feitas com bastante cuidado. Podemos ver que o processo criativo de um website assemelha-se
a outros processos criativos que têm como objetivo fins comerciais, divulgação de produtos e
serviços em comunicação. Como no caso do processo criativo da propaganda, que, ao longo
do percurso, os publicitários que trabalham diretamente com criação de mensagens precisam
fazer escolhas de imagens e textos que sejam mais adequados a essas mensagens produzidas
com a finalidade de persuadir o consumidor e gerar o desejo de aquisição do produto. Os
profissionais o executam também pautados em informações de briefing (perfil de mercado,
público-alvo, concorrentes etc.) e em objetivos traçados pelo cliente, em relação ao mercado e
à comunicação. Conforme observamos no trecho descrito por Bertomeu (2002, p. 39): “O
briefing parece ser um instrumento que o profissional de criação utiliza para balizar o
processo, mas não é ferramenta definitiva para o bom resultado criativo de uma propaganda”.
Neste estudo de caso, encontramos alguns pontos em comum entre os processos
criativos para internet e para a propaganda, ambos por meio de objetivos comerciais,
procuram caminhos que conduzam a tais objetivos que, em especial, os elementos escolhidos
auxiliem de forma efetiva no processo comunicacional.
O processo criativo do web site do instituto IESAM não ocorreu de forma linear.
Iniciou-se linearmente por meio dos dados do briefing, mas durante seu percurso o
movimento de ir e vir tornou-se constante. Ao mesmo tempo que o web designer adicionou
conteúdos, imagens, fez recortes, substituições e deslocamentos, ele foi percebendo
informações repetidas ou confusas e foi adaptando-se às necessidades e objetivos do instituto.
O internauta acaba por definir uma série de procedimentos que serão adotados pelo
web designer na construção do site, com a forma de aprendizagem dos movimentos e a
quantidade de clicks que ele deverá fazer para que possa navegar no website. Os sistemas de
ícones são elementos que tornam a interface gráfica mais simples e com um menor número de
15
DITO EFEITO - ISSN 1984-2376 ANO IV, Vol. 4, N.º 4, Jan-Jun. 2013 UTFPR-CAMPUS CURITIBA
Referências
BAIRON, S. Multimídia. São Paulo: Global, 1995.
BERTOMEU. J. V. C. Criação na Propaganda Impressa. São Paulo: Futura, 2002.
BEVAN, N. Usability is quality of use. In: Anzai & Ogawa (eds) Proc. 6th International
Conference on Human Computer Interaction, July (1995). Elsevier. Disponivel em:
<citeseerx.ist.psu.edu/.../download?doi=10> Acesso em: 29 set. 2011.
DOMINGUES, Diana (Org.). Arte no Século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo:
Editora UNESP, 1997.
LEÃO, L. O Labirinto da Hipermídia – arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo:
Iluminuras, 1999.
MUNARI. B. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SALLES, C.A. Crítica Genética: uma (nova) introdução. 2. Ed. São Paulo: Educ, 2000.
_______. Crítica Genética: fundamentos dos estudos genéticos sobre o processo de criação.
3. ed. São Paulo: Educ, 2008.
ZILE. Renata. Usabilidade não nasceu ontem e tem história. Disponível em:
<http://webinsider.uol.com.br/2003/01/10/usabilidade-nao-nasceu-ontem-e-tem-historia/>.
Acesso em: 29 set. 2011.
16