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A “dona” diz que não ama aquele homem, mas se a mulher insistisse, ficaria com
o marido dela.
A partir deste momento a mãe aspira à morte, mas não morre. Vende seus
objetos de estimação (“... meus anéis se dispersaram, / minha corrente de ouro
/ pagou conta de farmácia.”); precisa sustentar as filhas (“... costurei, lavei, fiz
doce,”); envelhece (“... fiquei de cabeça branca, / perdi meus dentes, meus
olhos,”).
Até que um dia a “dona” reaparece, sozinha e abandonada. Vem pedir perdão à
mulher que ela tanto ferira e deixar-lhe, como recordação de tamanha
perversidade, o último vestido de luxo que ainda possuía.
me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,
A mãe olha para esta “dona” destruída em sua beleza, não responde ao seu rogo
e pendura o vestido no prego da parede para que ele ficasse ali, como memória
dos tormentos. Logo depois, o pai retorna ao lar. E, como se nada tivesse
acontecido, pede que a mulher que coloque mais um prato na mesa:
Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.
O barulho da comida
na boca me acalentava.