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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia -

Campus Paulo Afonso Disciplina: Sociologia do Trabalho


Professor: Márcio Nicory
Curso: Engenharia Elétrica

Texto complementar:
Sociologia do Trabalho e relações de trabalho

“... Chegou o momento de dizer o que entendemos por ‘Sociologia do


Trabalho`”.

Não se trata aqui de contar, mesmo resumidamente, a história das suas


origens. Era normal que o pensamento científico, evoluindo progressivamente
do abstrato e do geral para o concreto e o particular, se orientasse para a
observação metódica das sociedades humanas consideradas como um terreno
até então inexplorado dos fenômenos naturais. Nascida na Europa e nos
Estados Unidos no fim do século XIX, a Sociologia científica dirigiu primeiro o
seu interesse para os fatos sociais de caráter religioso, jurídico, econômico e
moral. Observam-se tais preocupações percorrendo, por exemplo, os sumários
de L’ Année Sociologique, animada por Durkheim e pelos seus primeiros
colaboradores.

Entretanto, o incessante progresso das técnicas de produção, o enorme


crescimento, em número e volume, das empresas, o lugar cada vez maior
ocupado pela indústria na atividade social, o fortalecimento das associações
sindicais e, paralelamente, dos conflitos entre empregados e empregadores, a
importância assumida, em decorrência do taylorismo, pelos sistemas de
“organização científica do trabalho” (scientific management), desviaram a
atenção dos sociólogos para os diversos grupos que os homens formam entre
si mercê das atividades de trabalho.

Mas essa atenção foi muito diversamente motivada, de acordo com as


circunstâncias políticas e a conjuntura econômica, os temperamentos, os
interesses presentes. A qualidade dos trabalhos nem sempre foi a mesma.
Surgiram inúmeras confusões. Assistimos à realização de pesquisas objetivas,
consagradas a problemas bem definidos, sustentadas pelo só estimulante do
conhecimento e, no pólo oposto (enfileirando-se entre os dois pólos todos os
casos intermediários), investigações apressadas, superficiais, encomendadas
para as suas necessidades imediatas por dirigentes de empresas, que
ambicionavam um “clima” sereno e um aumento da produtividade. Autores
norte-americanos puseram em foco o aspecto “diretorial” (managerial)
(SHEPPARD, 1949) da Sociologia industrial em algumas das suas tendências,
cujo privilégio não pertence aos Estados Unidos: existem na França e em toda
a Europa entendidos que, escondendo as suas manobras mais ou menos
eficazes atrás do biombo das “relações humanas”, não têm o que invejar aos
seus homólogos de Detroit ou Chicago.

Em conjunto, foi pela expressão “Sociologia Industrial” que se designaram


pesquisas e manifestações muito diferentes pelo valor e pelo objeto (algumas
se aproximam da Psicologia Social). Antes mesmo de ser definido, o termo
adquiriu direitos de cidadania e foi sob a sua égide que grandes revistas, como
o American Journal of Sociology, publicaram sobre o assunto os primeiros
números especiais.
[...] A Sociologia do Trabalho deve ser considerada, em sua mais vasta
extensão, como o estudo, nos diversos aspectos, de todas as coletividades
humanas que se constituem graças ao trabalho.

[...] Nesse ponto, três reparos se impõem. Primeiro de tudo, notemos que, de
acordo com a concepção aqui proposta, “Sociologia Industrial” foi sendo, pouco
a pouco, indevidamente utilizada para designar o estudo sociológico de
coletividades de trabalho não industriais.

[...] O segundo reparo se refere à legitimidade de uma Sociologia das


administrações. Existe um ramo inteiro de pesquisas consagradas à
administração e grandes revistas que, pelo título, invocam em seu favor uma
“ciência da administração” (administrative science). Até que ponto se justifica
o falarmos numa “Sociologia das administrações”? Será a administração uma
forma original das atividades de trabalho ou não passa de uma categoria que
se aplica a todas as atividades de trabalho, uma forma de prepará-las, efetuá-
las, assegurar-lhes os resultados, a fecundidade? É assim que autores muito
diferentes pela idade, pela formação, pelo meio, de Henri Fayol a Herbert
Simon, parecem compreender-lhe a essência: “Administrar”, diz Fayol, “é
prever, organizar, mandar, coordenar e controlar”; quanto a Simon,
complementando a definição habitual (“a administração é a arte de conseguir
que as coisas sejam feitas”, getting things done), sublinha que ela implica
tanto os processos de decisão quanto os de ação.
Uma boa organização administrativa deve assegurar, ligando estreitamente
essas tarefas, uma tomada correta de decisões e uma ação eficiente. Toda
coletividade de trabalho tem um aspecto administrativo, tarefas
administrativas, até a menos de todas, uma pequena loja, uma oficina de
artesão. .... Não há, por conseguinte, stricto sensu, uma Sociologia da
administração como há uma Sociologia da indústria ou do comércio. Pois a
administração está em toda a parte.

[...] Do sobredito resulta um terceiro reparo, que se refere à expressão


“relações industriais”. A pouco e pouco, esta passou a significar, no uso
corrente, o conjunto das relações entre empregadores e empregados, patrões e
salariados, bem como as associações formadas por uns e outros, os meios de
negociação, arbitragem e luta de que elas lançam mão em seus contatos e
conflitos. Essa denominação tornou-se tão passível de crítica quanto a de
“Sociologia industrial”. Assim como é abusivo falar em “Sociologia industrial”
para designar, de fato, toda a Sociologia do Trabalho, também constitui uma
fonte de confusão o emprego da expressão “relações industriais” para
abranger as relações entre empregadores e empregados em todos os ramos
das atividades econômicas e administrativas.

Toda coletividade de trabalho, da lojinha mais modesta à “empresa-mamute”,


do pessoal de um submarinho ao de uma fazenda etc... implica relações de
trabalho na indústria, no comércio, na agricultura, na administração (com as
ressalvas já mencionadas) e, no interior dessas grandes categorias, em cada
um de seus ramos, como por exemplo, a siderurgia, as minas de carvão, os
têxteis etc... Simultaneamente, a noção de relações de trabalho se distinguirá
nitidamente da noção de relações humanas, definidas como as “relações
recíprocas de ordem psicológica e social que se produzem na execução do
trabalho em comum”.
Referência:
FRIEDMANN, Georges; NAVILLE, Pierre. Tratado de Sociologia do Trabalho. São
Paulo: Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, 1973.

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