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1.

Actividades rurais
2. A paisagem agrária; características gerais e evolução
3. As estruturas fundiárias
4. A diversidade da paisagem agrária: tipos de campos e povoamento rural
5. A criação de gado
6. A silvicultura
7. Problemas e marginalização do sector agrário

IV. ACTIVIDADES RURAIS

1. A PAISAGEM AGRÁRIA; CARACTERÍSTICAS GERAIS E EVOLUÇÃO

Características mediterrâneas da paisagem agrária portuguesa – «traços


essenciais», enunciados por Orlando Ribeiro: «o predomínio dos cereais, entre estes
o trigo e o milho», cultivados não raro em condições desfavoráveis, para se tentar
prover as necessidades do consumo; «a importância das culturas arbustivas e
arbóreas», cujas raízes mais longas vão procurar água aos horizontes profundos do
solo, na rigorosa estação seca, e entre as quais eram tradicionalmente importantes
a vinha e a oliveira, a segunda em franco declínio nos últimos tempos, enquanto
ganharam importância algumas árvores de fruto; «a extensão das áreas de
regadio», também como consequência da duração e características do Verão; «a
predominância do gado miúdo», em relação com os pastos não muito ricos e,
nalguns casos, o relevo acidentado, circunstâncias que as modernas técnicas
pecuárias permitem ultrapassar.

Cereais, vinha e oliveira desde cedo ganharam importância no Sul, onde são
mais acentuadas as influências mediterrânicas; no Norte, a cultura de cereais
variados, como o trigo, a cevada e o milho miúdo, que evitavam os fundos húmidos
dos vales, cobertos por vegetação dificilmente penetrável, e preferiam as encostas
não muito declivosas, proporcionava, juntamente com a castanha e a bolota, os
principais contributos vegetais para a alimentação.

Com os Romanos, a par do desenvolvimento da rega no Sul, ter-se-á dado a


progressiva ocupação dos vales nas regiões setentrionais, sob a forma de prados
permanentes. Os Suevos (Século V) difundiram o centeio, que se generalizou em
vastas áreas montanhosas do Norte, e um tipo novo de arado, mais potente. Aos
Muçulmanos (século VIII) deve-se o aperfeiçoamento das técnicas de rega e da
fruticultura; o arroz terá sido introduzido ou divulgado por eles. A organização do
país nos séculos XII e XIII e a difusão da economia monetária activaram trocas
comerciais e com isto coincide o alargamento da superfície cultivada, baseado
sobretudo nos cereais (trigo e centeio). Entre meados dos séculos XV e XVI
ampliam-se os limites das terras aproveitadas para a agricultura com utilização de
espécies diferentes, como a vinha e a oliveira, lucrativas e relativamente pouco
exigentes de mão-de-obra; na segunda metade desta fase foi introduzido o milho,
de origem americana, que ocupou progressivamente os campos regados do
Noroeste, em alternância com os pastos, e se difundiu por vastas áreas, seduzindo
os camponeses pelos seus elevados rendimentos, o que implicou novas arroteias,
restrições nalguns sectores dos espaços dedicados à criação de gado e todo um
conjunto de outras transformações. Nos séculos XVII e XVIII, expandiu-se no vale do
Douro uma cultura comercial, a da vinha, sob a influência directa do mercado
consumidor britânico, para o que foi necessário cobrir de socalcos as vertentes e,
em muitos casos, obter o próprio solo, com xisto esmagado, estrume e aluviões. O
século XIX assistiu à difusão da batata, que se deve ter começado a cultivar em
Portugal duzentos anos antes, proveniente da América; ganhou importância
sobretudo nas montanhas do Norte, onde tomou em grande parte o papel que tinha
até então a castanha na alimentação.

Data de 1875 a primeira avaliação do aproveitamento agrário do território


continental. A impressão que dela se retira é a da larga extensão dos terrenos
incultos. O conjunto dos incultos abrangia mais de metade do país, embora uma
parte deles fosse tida como produtiva. Não admira que o conteúdo de muitas
orientações político-económicas da época, prolongadas até aos começos do século
XX, tivesse como objectivo a contracção destas extensões desaproveitadas. Foi
relevante a legislação do final do século XIX, que dificultava a importação de trigo,
protegia a produção nacional e condicionou o aumento da área ocupada por este
cereal, designadamente no Alentejo.

Outra faceta desta tendência de extensificação cultural está ligada à redução


de baldios, áreas que constituem propriedades colectivas dos habitantes de
diversos lugares. A sua partilha e o posterior aproveitamento privado foram
estimulados por leis que remontam à segunda metade do século XVIII e entre as
quais se salienta um decreto de Agosto de 1869. Em muitas regiões procedeu-se à
divisão dos baldios, ficando em regra conhecidas como «sortes» as várias parcelas
distribuídas. A partilha fazia-se por sorteio entre os moradores das povoações
detentoras de baldios. Com frequência, estas parcelas, objecto de sucessivas
transacções, acabavam por se concentrar nas mãos dos proprietários abastados.
Por outro lado, na generalidade das áreas montanhosas, onde eram utilizados como
pasto para os numerosos rebanhos de gado miúdo que, embora de diferentes
donos, deles se serviam em comum, os baldios subsistiram, opondo-se tenazmente
as populações locais à sua divisão.

Com a chamada «campanha do trigo» dos primeiros tempos do regime


fascista deu-se novo impulso ao alargamento da área de cereais. Encetada em 1929
e prolongada pelos anos 30, esta acção procurava garantir a auto-suficiência do
país em trigo; como incentivos, figuravam subsídios diversos, créditos e preços
considerados atractivos para os produtores. A campanha favoreceu
fundamentalmente os grandes agrários alentejanos, ao mesmo tempo que servia
interesses de empresas influentes, a CUF (adubos) e a Metalúrgica Duarte Ferreira
(maquinaria agrícola moderna). A área cultivada de trigo aumentou de forma muito
acentuada entre 1929 e 1932, mas depois passou a declinar progressivamente.
Para além de problemas financeiros e de comercialização, do persistente
crescimento demográfico que dificultava ou impedia a tentativa de anular as
importações, os solos não tinham aptidões para searas permanentes de trigo.

Aumentou-se a área cultivada, mas pouco ou nada se tomaram em conta as


reais potencialidades ecológicas e não se estudaram devidamente as técnicas nem
as espécies a utilizar. A miragem do aproveitamento dos incultos fazia pensar
erradamente que bastava apenas reduzi-los.

Do que fica dito, e como sublinhou E. Castro caldas (1978), resulta a ideia de
juventude de largos trechos da paisagem agrária portuguesa e a da saturação a que
se fez chegar o aproveitamento do território.

A imagem de saturação a que se aludiu – é ainda Castro caldas que o precisa


– não significa de modo algum que se encontrem esgotadas ou restringidas as
acções a empreender na agricultura, nem que se tenha atingido o limite na
capacidade produtiva do sector. Pelo contrário: ao mesmo tempo que se impõe a
reconversão de certos sistemas, com maior atenção a conceder à silvo-pastorícia e
à silvicultura, a difusão de técnicas mais aperfeiçoadas e até de outras culturas
abre um amplo leque de actuações. A expansão recente da área florestal, que se
afigura desejável, tem comportado algum exagero na utilização de espécies de
crescimento rápido, designadamente o eucalipto, solicitadas pela indústria da
celulose, e que prejudicam o equilíbrio ecológico.

Entretanto, o conjunto da área cultivada diminuiu nos últimos tempos.

Se tomarmos em conta a evolução das áreas cultivadas de algumas das


principais espécies produzidas no Continente, verificamos uma tendência geral de
redução que deve traduzir-se pelo melhor ajustamento à capacidade de utilização
dos solos; quanto aos rendimentos, a tendência desenha-se no sentido do seu
aumento.

Apesar da rotina da vida rural portuguesa, novas espécies ganharam


importância, após meados do século XX, ligadas à difusão de certos hábitos de
consumo ou às necessidades de determinadas indústrias. Os pomares, já antigos
nalgumas regiões, como o Algarve, mas que tiveram largo incremento a partir do
começo dos anos 60, por exemplo em diversas áreas da Beira (macieira, pereira,
pessegueiro). A produção, que alcançara um máximo em meados dos anos 70,
decresceu depois, por envelhecimento dos pomares, aumento dos encargos
financeiros, que dificulta a sua substituição, falta de enquadramento técnico e de
disciplina dos circuitos de comercialização, aspectos não contemplados com a
necessária eficácia, enquanto se alargava a área cultivada.

Entre as culturas destinadas à indústria, salientam-se a cevada dística, o


tomate, o girassol e, durante alguns anos, o cártamo. Todas se repartem pelo
Alentejo, embora estejam também representadas no Ribatejo (sobretudo o tomate e
o girassol) e na Estremadura (em especial a cevada dística). As áreas cultivadas
têm oscilado sensivelmente, com alguma tendência de declínio nos últimos anos. O
tomate, cuja indústria de concentrado se incrementou em 1957 e beneficiou dum
regime de condicionamento que favoreceu as áreas de cultura mais propícias, teve
rápido desenvolvimento; o número de unidades industriais passou de 6 naquele ano
para 34 em 1969 e a feição caótica como se implantavam e concorriam entre si,
bem como o aumento dos custos de produção e factores externos ligados à
evolução do mercado internacional, levaram a uma crise em 1968-72. A adesão á
CEE tem implicado ajustamentos, com a fixação de limiares de produções
subsidiadas.

Inovações mais recentes dizem respeito a espécies como o tabaco e a


beterraba sacarina, já há largos decénios cultivados nos Açores, mas que no
Continente se encontravam sujeitas a condicionamentos legais que protegiam a sua
produção nas colónias.

Houve também expectativas com o ambicioso plano de rega concebido pelo


Estado Novo para o Alentejo; aprovado em 1958, teve as suas primeiras obras
adjudicadas em 1962. Previa-se que, no conjunto, a rega beneficiaria cerca de
700000 ha, permitindo, por meios artificiais, o aproveitamento do solo na rigorosa
estação seca. No total, os aproveitamentos levados a cabo abrangeram apenas
cerca de 30000 ha e mantêm-se fortes dúvidas quanto à plena viabilidade de certos
empreendimentos, devido aos caudais escassos e irregulares dos cursos de água: a
polémica levantou-se sobretudo em torno do mais vultoso desses
empreendimentos, o de Alqueva, no Guadiana.

As espécies cultivadas nas Regiões Autónomas têm sofrido decréscimos


muito sensíveis. Nos Açores, o milho é o cereal mais importante, e a batata. O recuo
da área das espécies cultivadas tem coincidido com o aumento da de pastagens. Na
ilha de São Miguel desenvolveram-se diversas culturas industriais, como a da
beterraba sacarina, a do chá e a do ananás, este produzido em estufas. Na Região
Autónoma da Madeira o milho não tem grande importância, enquanto o trigo e a
batata são as mais importantes. Outras culturas são a da banana e a da cana-do-
açucar, esta em acentuada diminuição. O vinho é de excelente qualidade e objecto
de exportação.

2. AS ESTRUTURAS FUNDIÁRIAS

A terra tanto pode ser directamente aproveitada por quem a possui, como
através do arrendamento ou outras formas eventuais de contrato; daqui a distinção
entre propriedade, a área que pertence a um mesmo dono, e exploração, aquela
que está a cargo de determinada pessoa.

Tanto a propriedade como a exploração se encontram repartidas muito


desigualmente em Portugal: são bem mais pequenas e parceladas no Norte do
território, em especial no Noroeste, muito maiores e contínuas no Sul,
designadamente no Alentejo e sueste da Beira. Nos Açores e na Madeira as
propriedades e explorações são pequenas, sobretudo na segunda, onde atingem
valores menores que os do Noroeste.

Poder-se-á perguntar se o peso que o ambiente físico e as condições


históricas parecem exercer nos traços mais salientes da estrutura da propriedade
rústica não reflectirão afinal a inércia da nossa vida rural, a falta de investimentos
ou de iniciativa para corrigir o que está mal na situação presente.

O último inquérito às explorações agrícolas do país foi feito em 1989;


contaram-se as que tinham uma extensão mínima de 1 ha de superfície agrícola
utilizada (SAU) (de 10 ares nas Regiões Autónomas) e as que, com superfície
inferior, detinham certo peso económico, aferido a partir de determinados critérios.
Foram apuradas assim 598742 explorações, com 5316161 ha. Os critérios utilizados
no inquérito anterior, realizado em 1979 e relativo apenas ao Continente, foram
diferentes: não só se definiu uma superfície mínima menor (0,5 ha), como também,
na sua determinação, se tomavam em conta as superfícies agrícola e florestal,
enquanto em 1989 se utilizou apenas a superfície agrícola utilizada. Há ainda outras
divergências a assinalar (inclusão na SAU, em 1989, das chamadas «pastagens
permanentes pobres»). Assim, não é viável, em geral, a comparação entre os dois
inquéritos. Bastará referir que, como seria de esperar, o número de explorações
diminuiu muito (eram 783944 em 1979), mas o mesmo não aconteceu em relação à
sua área (5182902 ha naquele ano), o que pode indiciar alargamento da dimensão,
sobretudo nas classes em que esta não é muito reduzida. No mesmo sentido, uma
publicação do INE, Portugal Agrícola, editada em 1993, refere que os «dados
confirmam um melhor dimensionamento das explorações agrícolas». Seja como for
pode continuar a dizer-se que o número de explorações agrícolas portuguesas é
manifestamente exagerado em relação à superfície do país.

No Continente, a SAU por exploração é, em média, de 7,1 ha. Mas os


contrastes de dimensão são grandes e exprimem-se bem, a nível de concelho.
Tomando em conta as chamadas «regiões agrárias», a média é apenas de 2,6 ha
em Entre-Douro-e-Minho e de 6,1 ha em Trás-os-Montes, enquanto alcança 40,7 há
no Alentejo. Na primeira daquelas áreas havia 91% de explorações com menos de 5
ha e na segunda, 65,9% (84,1% com menos de 10 ha). No Alentejo, era de 56,8% o
número de explorações com área menor que 5 há; as que ultrapassavam 50 ha
representavam 12,8% (0,1% em Entre-Douro-e-Minho e 0,8% em Trás-os-Montes).
No que se refere à área ocupada por estas explorações com mais de 50 ha,
correspondia a 83,4% no Alentejo, 12,7% em Entre-Douro-e-Minho e 11,7% em Trás-
os-Montes.

Em termos de parcelamento, o número médio de blocos com SAU por


exploração era de 5 no Continente, mas elevava-se a 9 em Trás-os-Montes e a 4 em
Entre-Douro-e-Minho, ao passo que não ia além de 2 no Alentejo.

As estruturas das explorações nas Regiões Autónomas são comparáveis às


do Noroeste, mas na Madeira elas apresentam-se mais exíguas e parceladas. A SAU
por exploração é, em média, de 0,3 ha (4,8 ha nos Açores) e as explorações com
menos de 5 ha atingem a quase totalidade em número (99,8%) e em área (94,1%)
(76,4% e apenas 18,7% nas ilhas açorianas, onde a área ocupada pelas explorações
com mais de 50 ha era de 25,2%).

A nível nacional, o recenseamento agrícola de 1989 continuou a evidenciar o


envelhecimento dos produtores (57,5% com 55 e mais anos) e o seu baixo nível
cultural.

Os modos de exploração compreendiam a conta própria em 69% da SAU,


cabendo as partes restantes ao arrendamento fixo (24%) e a outras formas.

Tendência para a diminuição da superfície cultivada. Confirmou-se a redução


da área dos cereais, mas também a do olival e a da vinha diminuíram. As pequenas
explorações familiares do Norte foram as mais afectadas pela evolução ocorrida
(abandono, integração noutras), num intervalo de tempo que coincide com as
medidas do primeiro quadro comunitário de apoio e a quebra da protecção do
mercado nacional. Contudo, a nível da mecanização e das acessibilidades, registou-
se melhoria generalizada nas explorações.
Dentro do mesmo quadro de transformações, nalgumas áreas do Baixo
Alentejo (Mértola) têm-se procurado alternativas à cultura dos cereais; salientam-se
frutos secos (amendoeira, nogueira, alfarrobeira).

No Norte, existe uma multidão de pequenos proprietários que se torna


necessário organizar, de modo a conferir maior viabilidade económica às
explorações: a formação de cooperativas, mais ou menos diversificadas, segundo as
circunstâncias, parece ser um importante caminho a seguir, embora não isento de
dificuldades, pois haverá que captar a confiança dos camponeses, organizá-los
devidamente e prestar-lhes a necessária assistência técnica; nos últimos tempos, o
movimento cooperativo mostra-se ainda incipiente. Também parece de encarar a
hipótese de eventuais formas de emparcelamento, mas a sua execução será ainda
mais difícil (foram empreendidas operações do género no baixo Mondego e no
concelho de Silves).

Deficiências das pequenas e muito pequenas explorações: desde as


dificuldades de mecanização e organização dos trabalhos agrícolas, até à auto-
subsistência que lhes é inerente e faz perder excedentes não negligenciáveis ao
nível dum conjunto de produtores, mas que não se torna viável a cada um deles
lançar em circuitos comerciais amplos. Em contrapartida, é um facto que, nalguns
casos, as pequenas propriedades e explorações do Norte acabam por funcionar em
quadros mais amplos, a cargo dum elemento qualificado do agregado familiar,
enquanto, por inércia ou deliberadamente (menores impostos), as diferentes peças
desses quadros continuam a figurar de forma isolada nas estatísticas oficiais.

Agostinho de Carvalho (1984) insiste, com pragmatismo, nas virtualidades


da pequena (e média) exploração, que vai assegurando parte essencial da nossa
produção agrícola. Esta realidade é inegável, diversos factores apontam no sentido
da sua persistência (o número avultado de activos no sector agrícola, as incidências
do regime sucessório, o desejo de aplicação dos rendimentos de emigrantes e
operários-agricultores, que torna a procura de terras maior que a oferta) e há várias
possibilidades de fazer progredir essas unidades de dimensão reduzida. Torna-se
indiscutível a necessidade de melhorar, de todas as formas possíveis, as pequenas
empresas agrícolas.

No Sul, designadamente no Alentejo, o problema é inverso, devido à


presença de grandes propriedades e explorações, com a sua lógica económica
específica, sem que se assegure pleno emprego à população rural sem terra.

As tensões sociais forjadas manifestaram-se amplamente pouco depois da


Revolução de 25 de Abril de 1974; desencadeou-se um processo de reforma agrária,
com a ocupação de numerosos latifúndios pelas massas de trabalhadores rurais,
encetada em Outubro daquele ano no distrito de Beja. Em 1975 declararam-se
sujeitos a expropriação os prédios com extensão superior a 500 ha de sequeiro ou
50 ha de regadio. Delimitada a área de aplicação da reforma agrária,
correspondente aos distritos de Beja, Évora, Portalegre e Setúbal e a sectores
adjacentes dos de Castelo Branco, Lisboa, Santarém e Faro. Em fins de 1976,
estavam ocupados 1066230 ha e constituídas 468 Unidades Colectivas de Produção
(U.C.P.), explorações originais que se geraram, sem corresponderem, em rigor, nem
a cooperativas, nem a empresas estatais, com as suas direcções designadas pelos
trabalhadores e o estado ausente da sua administração. Houve também a formação
de cooperativas, de menor dimensão. A falta de enquadramento técnico e
financeiro e a mudança de orientação política, cada vez mais longe do radicalismo
inicial, tornaram difícil a exploração destas explorações. As expropriações previstas
na lei não se efectivaram e, pelo contrário, passou a proceder-se à entrega de
reservas aos antigos donos.

A partir de 1991, foi abolida a ZIRA (Zona de Intervenção da Reforma


Agrária) e tomaram-se medidas para a entrega de milhares de hectares de terra e
para o pagamento de indemnizações a proprietários que tinham sido privados do
seu uso.

A reforma agrária portuguesa foi um fenómeno efémero. De acordo com a


orientação político-económica decorrente da integração na CEE, não tinha
cabimento. Não obedecia a uma lógica de mercado, mas à vontade expressa da
garantia de trabalho e à tentativa de fazer aumentar a produção. No contexto
actual da PAC (Política Agrícola Comum), com as suas medidas restritivas tal
tentativa está desajustada.

A evolução recente trouxe de novo consigo problemas de desemprego


agrícola, apesar das modificações da estrutura profissional da população activa,
com relevância do sector terciário.

Tanto no Norte, como no Sul, como nas Ilhas, não basta retocar ou modificar
profundamente a estrutura fundiária: é preciso indicar os produtos de mais seguro
rendimento, melhorar as técnicas de cultura, encaminhar o que se colhe por
circuitos comerciais não viciados.

Mas o enquadramento em que tudo isto pode ser feito subordina-se hoje aos
princípios e ás orientações da PAC.

3. A DIVERSIDADE DA PAISAGEM AGRÁRIA: TIPOS DE CAMPOS E


POVOAMENTO RURAL
Na paisagem agrária portuguesa formou-se ao longo dos tempos um fundo
contrastado de grandes tipos de campos, que abrangem vastas áreas.

A progressiva urbanização, sob diversas formas, o crescimento da indústria,


a própria redução da área cultivada e as modificações verificadas na agricultura
reduziram a representatividade das paisagens tradicionais.

Seguindo de perto a sistematização dos tipos de campos mais


característicos, sugeridos nos trabalhos de O. Ribeiro, distinguiremos, em primeiro
lugar, a área do Noroeste, onde o milho é a cultura fundamental, processada no
tempo quente e alternando com pastos no Inverno, razão por que aquele geógrafo
chama expressivamente estas parcelas campos-prados. A policultura aqui presente,
sucessivamente enriquecida, é hoje bastante variada, já que ao milho estão
associados o feijão, a abóbora, culturas hortícolas. Estes campos são habitualmente
fechados por renques de árvores

No Norte Interior encontramos campos abertos, ou seja, sem formas


aparentes de divisão. O espaço cultivado organiza-se a partir de unidades de
povoamento aglomerado, em relação ao qual se deve reservar a designação de
aldeias; em torno delas dispõem-se as culturas mais exigentes (fertilização
frequente, rega), que alastram também ao longo das linhas de água, embora aí se
encontrem sobretudo prados naturais, a que se dá o nome de lameiros. Para além
ficam os campos de cereal; tradicionalmente era o centeio o preferido, mas hoje
encontra-se substituído em grande parte pelo trigo e relegado para as áreas mais
montanhosas. Outras culturas são as das árvores de fruto, muitas vezes no anel
regado e bem estrumado que rodeia a aldeia, e a vinha, nalguma encosta soalheira.
No conjunto deparamos com uma dissociação das espécies cultivadas, que
contrasta com a policultura do Noroeste e, ajudará a entender que, em regime de
auto-subsistência, sejam bastante parceladas. A própria cultura dos cereais de
sequeiro implica, em princípio, a posse de mais que uma parcela, pois é extensiva,
compreende um período de descanso dos solos (pousio): o ritmo tradicional baseia-
se na divisão da terra em dois sectores (folhas), um dos quais recebe o cereal e o
outro fica em pousio. Neste último pastam (ou pastavam) os gados da comunidade.
A introdução da batata veio enriquecer este sistema, pois a nova planta ocupou
nalguns casos o lugar do pousio.

Para sul da Cordilheira Central, na Beira Baixa, em parte do Ribatejo e no


Alentejo, domina também a agricultura extensiva, baseada no trigo e com pousios
mais longos, que chegam a alcançar cinco a sete anos nalgumas áreas alentejanas.
Para compensar estes intervalos entre duas sementeiras consecutivas, muitos dos
campos, em regra abertos, compreendem também a exploração florestal, com
árvores esparsas, o sobreiro e a azinheira, que constituem o chamado montado;
pode aparecer também o olival. Estes campos arborizados contrapõem-se aos
campos limpos (sem árvores) do Norte Interior. Nesta Região, e tal como na
anterior, os pousios estão ligados ao aproveitamento pastoril.

Existem no Continente outros tipos de campos, de representação mais


exígua, ou porventura menos característicos. Na faixa litoral que se estende a sul
do Mondego aparecem campos abertos, sem pousio, onde a sucessão das culturas
não é fixa, mas comporta muitas vezes a alternância de leguminosas com trigo ou
milho de sequeiro. Nalgumas áreas os campos são fechados. Podemos distinguir,
por último, os campos intercalares, em que ganham importância as culturas
arbustivas e arbóreas, menos dependentes das condições de tempo e da sua
variação de ano para ano. Estas culturas compreendem figueiras, amendoeiras e
alfarrobeiras em grande parte do Algarve; entre as árvores, semeiam-se cereais de
sequeiro.

Indicados já os tipos de povoamento rural nalgumas regiões, assinale-se que


o seu fundo mais antigo na generalidade do território continental é a aglomeração,
excepto no Noroeste, onde são bastante remotas as formas de dispersão. Mas o
significado das aldeias é variável. As do Norte traduzem a presença de
comunidades rurais, cujo espírito se mantém mais ou menos vivo. No Sul
alentejano, as aglomerações assumem duas formas. Umas correspondem a sedes
das vastas explorações rurais, e é costume dar-se-lhes o nome de montes, já que
ficam preferencialmente nalguma elevação. Os montes maiores e mais complexos,
considerando o pessoal que congregam, algum do qual permanente, e o facto de
serem dotados de individualidade própria, que até no plano espiritual é susceptível
de se manifestar, pela existência duma capela, apresentam-se como pequenas
aldeias. Contrapõem-se-lhes outras, em geral grandes, bem maiores que as do
Nordeste, largamente habitadas por trabalhadores rurais; estas aldeias, insinuadas
no seio dos latifúndios, reunindo gente sem terra, revestem-se de significado social
bem característico, hoje em parte alterado pela evolução da região. As aldeias da
Estremadura são diferentes: umas, mais compactas e estruturadas, identificam-se
com aglomerações antigas, outras, de contornos menos nítidos e conjugando
elementos diversos, com aglutinações do povoamento.

A dispersão é antiga no Noroeste. Na Beira Alta e litoral, Estremadura e parte


do Ribatejo e Algarve regista-se dispersão intercalar, isto é, infiltrada entre as
antigas aldeias, em parte como resultado da difusão do milho, cereal susceptível de
constituir base de policultura ligada a individualismo agrário. As formas mais
exageradas de disseminação, em que as casas parecem dispostas ao acaso, sem
nenhuma ligação entre si, encontram-se em áreas ocupadas no último século,
pedaços de areal ao longo da costa, charnecas e Alentejo.
Os tipos de povoamento rural estão associados às características das
actividades agro-pecuárias, incluindo a estrutura fundiária, através das quais
transparecem influências naturais que as condicionam. Porém, nos dois últimos
decénios, têm-se registado transformações, resultantes da interpenetração de
formas ligadas aos outros sectores de actividade (tanto o secundário, como o
terciário), que se insinuam no ambiente rural.

Do mesmo modo, os esquemas clássicos da casa rural portuguesa têm sido


substituídos ou relegados para plano secundário por modelos inspirados em
padrões suburbanos, próximos do estilo da vivenda; este facto é mais sensível nas
áreas de emigração, que proporciona volume de capitais para a renovação da casa,
mas traduz no fundo o desejo de conforto, inspirado nos paradigmas difundidos a
partir da cidade, e traz como resultado a nítida desarticulação entre a estrutura da
habitação e as características da exploração.

Os tipos tradicionais da casa rural aludidos são fundamentalmente dois. A


casa do Norte constitui um todo único e corresponde à casa-bloco. Compreende em
regra dois pisos, dos quais o inferior (loja) fica reservado para guardar os animais,
bem como alfaias e alguns produtos agrícolas; o superior (sobrado) forma
propriamente a habitação e dá-lhe acesso uma escada exterior de pedra. As
grandes explorações do Sul exigem importantes anexos exteriores, que não podem
ficar circunscritos ao perímetro propriamente da habitação. Aparece então a
chamada casa-pátio, com uma construção para alojar as pessoas e outras para o
gado, as máquinas agrícolas, as colheitas. Nas aldeias alentejanas,
tradicionalmente de assalariados rurais sem terra, a casa resume-se à parte da
habitação e apresenta um único piso; a pesada chaminé, elemento que muitas
vezes está ausente no Norte, torna-se aqui característica e mais para sul, no
Algarve, adquire frequentemente inegável beleza.

Os materiais de construção tradicionais reforçavam a oposição entre os dois


tipos principais de casa rural: pedra no Norte, barro (adobe, taipa, tijolo) no Sul.

A paisagem agrária das Regiões Autónomas está organizada em função do


relevo. Na Madeira existe grande variedade de espécies cultivadas que, mesmo em
pequenas parcelas, aparecem misturadas. No conjunto, porém, o clima impõe o
escalonamento com a altitude: distingue-se um andar mais baixo de espécies
tropicais (bananais, cana-de-açúcar, anona, papaia, manga, maracujá), a que se
segue outro mediterrâneo (figueira, nespereira, citrinos, vinha, esta alastrando até
ao nível do mar) e dos cereais (milho, trigo, centeio, cevada), ao mesmo tempo que
aparecem, nos vales altos, árvores de fruto da Europa média (cerejeira, macieira,
ameixieira). Esta agricultura assenta em três aspectos básicos: a criação de gado,
que aparece como actividade complementar e assegura abundante obtenção de
estrume; a armação da terra em socalcos (poios); a rega, estruturada em extensa
rede de canais (levadas), que cruzam vastas áreas e atingem centenas de
quilómetros de comprimento total. O terceiro aspecto está ligado à relativa
escassez das chuvas, que só nas maiores altitudes se tornam abundantes; é no
Porto Santo que os efeitos das secas são mais graves. A população está sobretudo
distribuída perto da costa, e o tipo de povoamento predominante é o disperso.

Nos Açores o ordenamento da paisagem rural é diferente. As áreas mais


elevadas estão constantemente envolvidas por nevoeiros e nuvens; constituem o
domínio dos pastos, de excelente qualidade. Fundamentalmente, temos culturas até
350-450 metros, um andar silvo-pastoril até 800 metros e, acima, matos
espontâneos. A paisagem revela a separação entre duas actividades: a agricultura e
a criação de gado. A partir deste facto, o relevo das várias ilhas condiciona bastante
as características da vida rural. A distribuição da população, tal como na Madeira,
faz-se essencialmente pela periferia das ilhas, embora haja algumas diferenças nos
tipos de povoamento: o que domina é o misto, linear ou orientado, com as casas
dispostas em longas filas, segundo os principais caminhos; no Corvo o único lugar
habitado é uma aldeia, portanto uma forma de povoamento aglomerado.

4. A CRIAÇÃO DE GADO

Nos primeiros tempos da vida do país, a pecuária revestia-se de importância


fundamental, provavelmente maior que a da agricultura. Terrenos muito vastos não
aproveitados para esta facilitavam amplos movimentos dos gados em busca de
melhores pastos e com um ritmo comandado pela sucessão das estações do ano.
Os pastores agrupavam-se em associações regionais, as rafalas, com base nas
quais se criou uma organização de âmbito nacional (Mesta).

5. A SILVICULTURA

O avanço da superfície florestal na última centena de anos: não iria além de


7% do território em 1875 e saltou para 32% em 1963. A degradação das matas
iniciais pelo homem, directa ou através da criação de gado, é antiga e conhecem-se
medidas do século XIII, no sentido da plantação de árvores. Data de 1824 a criação
do primeiro organismo florestal do Estado (Administração Geral das matas do
Reino). Um factor muito importante no aumentar da área das matas foi a
arborização dos baldios, já ventilada no século XIX, mas decidida segundo um plano
geral, em 1938, pelo regime fascista; neste mesmo ano foi reconhecida a área total
dos baldios, equivalente a pouco mais de 400000 ha. Para além de outras medidas,
decididas para sectores restritos, determinou-se o povoamento florestal, de modo a
garantir em bases mais sólidas o aproveitamento dos baldios e a impedir a rápida
degradação dos solos e da vegetação espontânea, por via da apascentação
exagerada. Este empreendimento ficou a cargo do Estado e decidiu-se que os lucros
a retirar posteriormente seriam divididos entre este e as entidades administrativas
locais.

O plano de povoamento florestal foi acolhido com franco descontentamento


pelas populações locais, que subitamente se viam privadas de terras, em relação às
quais o seu sentido de posse era tão claro como nas propriedades individuais e que
tinham funções específicas: pastoreio do gado miúdo, obtenção de estrume,
culturas episódicas, fabrico de mel. As medidas tomadas foram frequentemente
aplicadas com rudeza e geraram grandes tensões; representavam um conjunto de
transformações complexas na vida dos habitantes, decididas à margem destes e
sem que se planeasse com cuidado o modo de captar a sua adesão.

Na sequência da Revolução de 25 de Abril de 1974, foi decidido devolver os


baldios às comunidades rurais. Aquela medida concretizou-se através de três textos
legais de 1976 e é, em si, uma determinação correcta, embora tenham subsistido
diversos problemas, resultantes da sua falta de enquadramento eficaz: dificuldades
na delimitação dos baldios dos vários lugares; apropriações indevidas; divisão,
ainda que sem pleno efeito legal, de baldios nalgumas comunidades; atritos na
administração; etc. Dum modo geral, a florestação destas áreas não tem
progredido, verificando-se até destruição de determinados povoamentos e relativo
incremento da criação de gado miúdo.

A área total arborizada representa pouco mais de um terço do território


continental. Os principais povoamentos encontram-se no Centro do país, com
prolongamentos para noroeste e parte do Alentejo. A espécie mais representada é o
pinheiro bravo, o sobreiro, a azinheira e o eucalipto que se tem difundido muito
ultimamente. Portugal é o principal produtor mundial de cortiça.

A silvicultura é, sem dúvida, o sector mais dinâmico e promissor da


economia agrária portuguesa. No entanto, são muitos os problemas e as
dificuldades que enfrenta este ramo. Para além de nele interferirem superiormente
diversos organismos, com sobreposição de algumas funções e, não raro, falta de
coordenação, verificam-se imperfeições de vária ordem na legislação que o rege,
absentismo frequente dos proprietários e, muitas vezes certo desinteresse pelas
suas explorações, encaradas como se fossem uma forma de aproveitamento do solo
sem necessidade de especiais cuidados. As condições técnicas da silvicultura são
também deficientes em vastas áreas (preparação dos terrenos, densidade
exagerada de árvores, cuidados de manutenção). Por outro lado, a dominância do
pinheiro bravo afigura-se excessiva.

Num país tão arborizado nos moldes desfavoráveis evocados e onde a


estação seca é acentuada por períodos de tempo mais ou menos prolongados, mas
sempre sensíveis, resulta quase inevitável uma calamidade, que se repete todos os
anos: os incêndios, cuja área de incidência tem sido considerável.

6. PROBLEMAS E MARGINALIZAÇÃO DO SECTOR AGRÁRIO

Como sintoma das dificuldades do sector, costumam apontar-se as carências


da produção. Em 1986, o sector primário contribuía com 9% para a formação do
Produto Interno Bruto (P.I.B.), o que constitui valor elevado, em comparação com os
4% da CEE, no seu conjunto. Mas, de facto, a parte do Produto Agrícola Bruto
(P.A.B.) no P.I.B. tem vindo a decrescer acentuadamente em Portugal: era de 31%
em 1950 e de 15,5% em 1974. Uma evolução deste tipo é perfeitamente natural, á
medida que se acentua o nível de desenvolvimento de qualquer país, pois o P.A.B.
tem um ritmo de crescimento menos acentuado que outros sectores, nos quais os
progressos tecnológicos são mais eficazes, as possibilidades de aumento da
produção mais seguras e maiores as exigências a nível de «serviços». Mas o que
acontece em Portugal «exprime uma estagnação permanente da produção agrícola,
cujo crescimento anual permaneceu sempre inferior a 2% desde 1940».

Em relação com as deficiências da estruturação do sector, mas também com


o aumento dos consumos, relacionados com a melhoria generalizada do nível de
vida, e a partir de níveis muito baixos, verifica-se pesado défice na sua balança
comercial. Com a integração de Portugal na CEE e a aplicação das medidas da PAC,
o significado do desequilíbrio da balança comercial agrícola modificou-se e a
situação que dele resulta reveste-se, em termos macroeconómicos, de menor
gravidade.

Segundo a sistematização apresentada numa obra da autoria de Armando


Sevinate Pinto e outros (1984), a agricultura, depois de constituir sector subalterno
em 1950-1960, entrou em rotura com o tipo de crescimento baseado na indústria
em 1960-74 e acabou por se tornar verdadeiro «travão» ao desenvolvimento
socioeconómico. Descapitalizada no primeiro período, vê-se incapaz, no segundo,
de responder às exigências cada vez maiores de consumo alimentar, relacionadas
com a circulação crescente de dinheiro (aumento do PIB e das remessas dos
emigrantes e receitas do turismo). Os autores mostram como foi sobretudo
significativo o acréscimo do consumo de carne, que levou ao da produção de
alimentos compostos para os animais – mas marginalizando-se a produção
forrageira nacional e com base na importação de milho e outros cereais. A indústria
portuguesa de alimentos compostos serve bem o mercado interno, mas as suas
matérias-primas são em grande parte importadas.

Os condicionamentos do sector agrário modificaram-se com a entrada de


Portugal na CEE. O país ficou ligado a um amplo espaço geográfico, no seu conjunto
com nível tecnológico bem superior, e em relação ao qual se levantam problemas
de excedentes de produção, que determinaram a fixação generalizada de preços
baixos. Os ajustamentos graduais no sentido destes, a fixação de níveis ou quotas
de produção, as propostas e os incentivos quanto á reconversão da utilização do
solo começam a fazer sentir os seus efeitos no nosso país. Os agricultores
portugueses vêem-se agora confrontados com incentivos para reduzirem a área e a
produção de muitas das espécies cultivadas. A concorrência de produtos dos
parceiros comunitários tem sido fonte de atritos e descontentamentos. Os
processos e as fases, segundo os quais, no âmbito da PAC (Política Agrícola
Comum), se dará a integração plena de Portugal na Comunidade vão ser relevantes
na evolução da nossa agricultura. A entrada de fundos comunitários,
designadamente através do chamado PEDAP (Programa Específico para o
Desenvolvimento da Agricultura Portuguesa) condiciona – teria de condicionar, por
força – melhoramentos em vários domínios. Mas levantam-se novos problemas, e o
sentimento de crise referido acaba afinal, por permanecer.

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