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(TCI) tem sido debatida, pelo menos, desde 1999 – quando de sua proposta pelo
Dr. Mocef Mazurki – e, nos últimos anos, tem crescido os debates acadêmicos
RIBEIRO, 2016, p. 9), a limitação (ou não) da sua competência para julgar
3http://www.hottopos.com/isle24/index.htm e http://www.hottopos.com/notand41/index.htm,
consultados em 31 de julho de 2016.
uma eventual composição e sistemática de eleição dos juízes (CUNHA, 2016, p.
36-40).
Estados soberanos, mas por serem oriundas de grupos que não necessariamente
sendo vítimas em (e de) seus países, apesar de, paradoxalmente, estarem sob os
violência, doenças e fome – a taxa de mortalidade entre eles chega a ser até 50
LEVENE, 2000).
Vermelho de Pol Pot, o qual exterminou 1,5 milhões de seres humanos em três
anos e meio (e teria feito ainda mais vítimas). A reação internacional foi a de
5Artigo II - Na presente Convenção, entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos,
cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou
religioso, tal como: a) assassinato de membros do grupo; b) o dano grave à integridade física ou
Convenção para Proteção e Repressão do Genocídio. Ainda, crimes contra a
Roma, em seu art. 7º6, em 1998. E apenas neste milênio podemos contar com um
tudo isso sob as vistas e contando com a complacência das grandes potências.
conforme art. 2º, incisos IV e VII da Carta (ONU, 1950)7. O clima internacional
apelaram ao Conselho de Segurança para uma ação militar, mas Rússia e China,
7Salienta-se que a Resolução n. 377 de 1950 da Assembléia Geral da ONU, tendo em vista falhas
permanentes no Conselho de Segurança, afirmou sua competência para autorizar,
excepcionalmente, o uso da forca.
8Intervenção humanitária é definida como o uso da forca por um Estado, grupo de Estados, ou
uma organização internacional tendo em vista o sofrimento generalizado e morte entre civis em
outro Estado, afetados por graves violações de direitos humanos. Trata-se de um conceito
doutrinário, que envolve questões morais e políticas, pois a ajuda humanitária prevista nos
instrumentos internacionais dependem de aceitação do Estado ou de autorização do Conselho
de Segurança da ONU, conforme previsto no cap. VII da Carta. Como ficará claro, o conceito de
responsabilidade de proteger abrange outros tópicos que não apenas a intervenção armada.
9 Outro uso inadequado do princípio da responsabilidade de proteger, que gerou sérios
problemas, foi a invasão do Iraque em 2003 pelos Estados Unidos e Inglaterra, com autorização
do Conselho de Segurança dada ex-post facto, justificada, em princípio, pela suposta possessão
de armas de destruição em massa pelo regime de Saddam. Após ficar claro para o mundo que
tais armas não existiam, passou-se a justificar a invasão pela tirania e desrespeito aos direitos
Pensamos que, exatamente neste ponto, em casos de crises
(CANOTILHO, 2012).
revolver matéria fática, o que consideramos não ser adequado, como é a regra
que o problema não está apenas na ideia de soberania, mas em como os Estados
protegida na Carta da ONU, que deve ser utilizada para proteger os direitos
porém, prega-se a sua “relativização”, ou seja, que possa ser interpretada tendo
proteger sua própria população civil” (SCHMEER, 2010, p. 19-20). Com o termo
direito subjetivos, algo novo, pois o Estado é, por tradição, o sujeito de direito
Annan, que se formou, com o seu apoio, o comitê ad hoc liderado pelo Ministro
dos conflitos internos, bem como outras ações humanas que coloquem a
além de, em casos extremos, intervenção militar. Por fim, como elemento
endereçadas às causas dos danos que a intervenção foi designada para sobrestar
larga escala (ICISS, 2001, p. XII). Além da crítica referente à falta de densidade
discussão sobre o tema (ONU, 2005, p. 30; BELLAMY, 2001, p. 21-4)10. Ao lado
10A negociação para tal decisão foi extremamente complicada, principalmente pela sua
associação à intervenção humanitária e ao papel que caberia ao Conselho de Segurança.
Desempenhou um papel complicador, ainda, o representante dos Estados Unidos, tendo em
vista não só a responsabilidade de proteger, mas também a outro ponto que estava em
discussão na rodada, nominadamente o direito ao desenvolvimento e outras “metas do
milênio”.
temendo, não sem razão, primeiro, que este fosse utilizado como nova forma de
contexto e para que uma medida concreta fosse tomada pelo Conselho de
preparado então um novo estudo, liderado por Edward Luck, para que o
responsabilidade de proteger foi defendida como sendo nem mais nem menos
que o consenso obtido nos pontos 138 e 139 do documento de 2005, e a partir
sobre o tema. Ficou claro, então, que o que se perderia como oportunidade de
numa forma e modo que, após os trabalhos de Edward Luck, foi bem aceito
pelos países-membros (ONU, 2009), principalmente por se ater e centrar-se no
que foi decidido na Cúpula de 2005, isto é, por mais que houvessem propostas
Internacional.
noção não diminui, pelo contrário, reafirma a soberania dos países, na medida
limitado, sua efetividade deve ser ampla, pois, conforme decidido pelos
2009, p. 7-8).
não são para serem vistos linear ou sequencialmente, mas em conjunto (ONU,
uma vez que tais condutas são condenadas por todos os Estados, deve ser
organizações internacionais.
como uma ameaça ou ruptura da paz, nos termos do art. 39 da Carta da ONU –
como guia, seja expressamente, por meio de discursos e deliberações, seja pela
qualificada, a opinio iuris, reconhecida pelos Estados, ainda que fonte jurídica
12O Jus Cogens é definido, positivamente, pela Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados, de 1969, em seu art. 53: “Tratados incompatíveis com uma norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens) – É nulo todo o tratado que, no momento da sua
conclusão, seja incompatível com uma norma imperativa de direito internacional geral. Para os
efeitos da presente Convenção, uma norma imperativa de direito internacional geral é uma
norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo como
norma cuja derrogação não é permitida e que só pode ser modificada por uma nova norma de
direito internacional geral com a mesma natureza.”
13 Cf. Art. 103, Carta da ONU; art. 64, Tratado de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969.
Estados à necessária permissividade de medidas militares coercitivas, ainda que
Tal fato é comprovado pelo reconhecimento das resoluções 1674, 1706, 1755 e
saberem e terem condições de tomar providencias para evitá-lo (CIJ, 2007, p. 43;
4. Considerações Finais
e promoção dos direitos humanos no mundo, além de auxiliar que tal proteção
tenha se iniciado, haja grande energia criativa para que possamos pensar num
mundo melhor.
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