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SIMULAÇÃO E MODELOS DE DECISÃO

Parte I – Modelos de Decisão


Mestrado em Logística
2009/2010

Docente Modelos de Decisão: Aldora Gabriela Fernandes, CEng MSc PMP


Docente de Simulação: Doutor Luís Silva Dias
PROGRAMAÇÃO DAS AULAS

Parte I: Modelos de Decisão


• 29 de Maio (4h) – Apresentação da disciplina/ Modelos Determinísticos (Problemas de
Avaliação e Selecção de Projectos + Exercícios)
• 4 de Junho (4h) – Modelos Determinísticos (Problemas de Substituição + Exercícios)
• 11 de Junho (4h) – Modelos Probabilísticos (Árvores de Decisão / Formulação Matricial /
EMV + Exercícios)
• 12 de Junho (5h) – Modelos Probabilísticos (Teoria de Utilidade / Probabilidades
Subjectivas: Critérios + Exercícios)
• 17 de Junho (4) – Modelos Probabilísticos (Probabilidades Subjectivas: Critérios +
Exercícios)

AVALIAÇÃO
Nota Final: 45% nota de exame escrito de Modelos de Decisão + 55% Simulação.

Modelos de Decisão 2
Aldora Gabriela Fernandes
1. INTRODUÇÃO

Estas notas são baseadas nos apontamentos preparados pela Prof. Madalena Araújo, actual
responsável pela disciplina de Modelos de Decisão do Mestrado Integrado em Engenharia e
Gestão Industrial da Universidade do Minho.

Segundo White, Analise de Decisão, metodologia de Decisão e Teoria da Decisão são conceitos
distintos. O primeiro é considerado como a análise, de facto, de um problema. O segundo
conceito centra-se nas fases envolvidas na análise, do problema. Por último, a Teoria da
Decisão, é o estudo dos fundamentos teóricos quer do sistema ‘objecto’ quer do sistema ‘sujeito’,
envolvendo uma análise das teorias de escolha e da computação. O sistema ‘sujeito’ é aqui
entendido como o conjunto dos agentes de decisão, clientes do estudo. O sistema ‘objecto’ é o
sistema acerca do qual se estão a tomar decisões, ou seja, o sistema que se pretende controlar.

Valores Decisão Resultado

Sistema Sistema
x
Sujeito Objecto

Acções
Alternativas

x Processo de Decisão

Segundo Resnik, a Teoria da Decisão é o resultado de um esforço conjunto de economistas,


matemáticos, filósofos, sociólogos e estatísticos para explicar como os indivíduos ou grupos
fazem ou devem tomar decisões.

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Os principais objectivos da Teoria da Decisão são, primeiramente, fornecer modelos para como
guiamos os nossos desejos e as nossas crenças e, em segundo lugar para esclarecer como se
combinam em decisões racionais (Gärdenfors & Sahlin, 1988).

Componentes:
• O problema é analisado desde as alternativas (acções).
• As alternativas conduzem aos resultados (prémios, consequências).
• Estes são analisados com base num valor V ou na utilidade U, e a probabilidade Γ.

Modelo Base:
• Uma decisão implica uma escolha entre duas ou mais possíveis alternativas.
• Cada alternativa leva a um ou mais futuros estados.
• Um estado conjuntamente com a alternativa formam uma consequência.

Resumidamente, a tomada de decisão constitui uma acção que requer conhecimento técnico,
lógica, dados e informação, disponíveis equacionando as alternativas possíveis. A Teoria da
Decisão trata da tomada de decisões racionais e consistentes em situações de incerteza,
fornecendo um conjunto de conceitos e técnicas para apoio do decisor.

Os Modelos de Decisão são o conjunto dos modelos que caracterizam a Teoria da Decisão.

Os modelos a ser aplicados poderão ser determinísticos ou probabilísticos. No caso dos


probabilísticos poderemos estar perante um problema de risco (probabilidades conhecidas) ou
de incerteza (probabilidades subjectivas).

Os Modelos de Decisão podem ser aplicados a um conjunto vastíssimo de problemas,


nomeadamente [8]:
I. Problemas de sequenciação
II. Inventário/ stock
III. Alocação
IV. Afectação e transporte
V. Substituição e manutenção
VI. Busca (search)
VII. Competição

Modelos de Decisão 4
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Por exemplo, na perspectiva da Gestão de Projectos Organizacional (Gestão de Projectos,
Programas e Portfolios) os Modelos de Decisão poderão ser aplicados em diferentes fases,
nomeadamente na avaliação e selecção de projectos, planeamento, execução e controlo, mais
especificamente na prioritização e selecção de projectos, na selecção das variantes técnicas do
projecto e nas decisões de avanço ou interrupção do projecto.

Um investidor tipicamente tem à sua disposição um conjunto de soluções de investimento


diverso, necessitando assim de técnicas quantitativas ou qualitativas que o suportem na tomada
de decisão. Por exemplo, como técnicas quantitativas poderá utilizar o Valor Actual Liquido
(VAL), a Taxa Interna de Rendibilidade (TIR), o Período de Recuperação do Investimento (PRI) e
o Rácio Beneficio Custo (BCR). Como técnicas de qualitativas, a utilização dos Modelos de
Scoring, uma vez que nem sempre o único critério para a tomada de decisão é o factor
económico. Por exemplo, mesmo para organizações privadas com fins lucrativos o factor social e
ambiental também podem contribuir para a decisão.

Na fase de Planeamento do Projecto, tipicamente o agente de decisão tem várias opções


técnicas para a concepção do projecto, pelo que terá de ter técnicas que o ajudem na tomada de
decisão de selecção das variantes técnicas.

Por último, ao longo da execução e controlo do projecto, o investidor normalmente passa por
momentos de tomada decisão de avanço ou interrupção do projecto.

Atendendo a que se considera que as preocupações de ordem económica devem estar


subjacentes a qualquer análise de problema, é apresentado no próximo capítulo, as principais
noções referentes aos mais importantes modelos económicos.

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2. MODELOS (Económicos) DETERMINISTICOS

2.1 Introdução
Muito resumidamente serão revistos conceitos económicos fundamentais.

2.1.1 Valor do dinheiro no tempo


Uma determinada quantidade de dinheiro torna-se mais valiosa à medida que o tempo passa.
Designando-se por:
Crescimento do investimento

Taxa de interesse ou retorno sobre o capital original, ganho durante um certo período de tempo
(Juro).

É este interesse que os investidores procuram conhecer quando pretendem fazer uma selecção
económica de alternativas (investimentos).

Nota: Só será lícito comparar investimentos, custos ou benefícios quando referidos no mesmo
instante de tempo.

Equações Económicas

Um traço comum das equações económicas que serão apresentadas é o interesse composto.

A valorização conseguida num determinado período de tempo constituiu o investimento para o
próximo período de tempo.

Juro simples: o juro não é adicionado ao capital, não havendo a chamada capitalização “Juro
não dá juro”
Juro composto: o juro é adicionado ao capital, havendo a chamada capitalização “Juro dá juro”

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Exemplo:
Simples: Ano 1: 100 + 100 * 0.1 = 110
Ano 2: 110 + 100 * 0.1 = 120

Composto: Ano 1: 100 + 100 * 0.1 = 110


Ano 2: 110 + 110 * 0.1 = 121

Nomenclatura:
P – Valor Actual (quantia de dinheiro no momento presente)
S – Valor Futuro (quantia de dinheiro ao fim de certo tempo)
R – Custo Anual Uniforme (quantia uniforme paga ou recebida todos os anos)
i – Taxa de Juro (factor de interesse composto)
n – Número de períodos de capitalização

Duas formas de converter valores monetários no tempo:

1) Valor único – converter S para P ou vice-versa.


2) Série de valores – converter de R para P ou vice-versa, R para S ou vice-versa.

De Valor Actual para Valor Futuro (P → S)

Ano 1 : S1 = P + P * i = P(1+i)
Ano 2 : S2 = P(1+i) + P(1+i) * i = P(1+i)2
........

Ano n : Sn = P(1+i)n

S = P*(1+i)n = P*FPS, i,n

PFPS, i,n - Factor de conversão de um valor presente para um valor futuro á taxa de juro (i) em
(n) períodos de tempo.

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De Valor Futuro para Valor Actual (S → P)

Invertendo a equação:

P = S*(1+i)-n = S*FSP, i,n

PFSP, i,n - Factor de conversão de um valor futuro para um valor presente á taxa de juro (i) em
(n) períodos de tempo.

De Custo Anual Uniforme para Valor Actual (R → P)

Diagrama de fluxos monetários

R R R R R

.............
0 1 2 3 n-1 n

Nota:
O Custo deve entender-se num sentido algébrico, pois a mesma designação se aplica a um
Benefício Anual Uniforme.

P = R / (1 + i) + R / (1+ i)2 + R / (1+ i)3 + ............ + R / (1+ i)n


Substituindo e resolvendo:

P = R*[ ((1+ i)n – 1) / i(1+ i)n ] = R*FRP, i,n

FRP, i,n - Factor de conversão de um custo anual uniforme para um valor presente á taxa de juro
(i) em (n) períodos de tempo.

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De Valor Actual para Custo Anual Uniforme (P → R)

Invertendo a equação:

R = P*[ i(1+ i)n /((1+ i)n – 1) ] = P*FPR, i,n

FPR, i,n - Factor de conversão de um valor presente para um custo anual uniforme á taxa de juro
(i) em (n) períodos de tempo.

De Custo Anual Uniforme para Valor Futuro (R →S )

S = R*[ ((1+ i)n – 1) / i] = R*FRS, i,n

FRS, i,n- Factor de conversão de um custo anual uniforme para um valor futuro á taxa de juro (i)
em (n) períodos de tempo.

De Valor Futuro para Custo Anual Uniforme (S →R)

Invertendo a equação:

R = S*[i /((1+ i)n – 1)] = S*FSR, i,n

FSR, i,n- Factor de conversão de um valor futuro para um custo anual uniforme á taxa de juro (i)
em (n) períodos de tempo.

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2.1.2 Amortização
Amortização é a distribuição sistemática de um custo de um bem ao longo do tempo. Por
exemplo, seria incorrecto, e até ilógico, imputar toda a despesa de compra de um equipamento
às operações realizadas no primeiro ano de funcionamento, na medida em que este
equipamento vai continuar a servir as operações dos anos seguintes.

A amortização de um equipamento é importante para a alocação de certas despesas a vários


anos e também para fins contabilísticos e fiscais. Contabilísticos, porque terá de ser feito o
reajustamento do valor do património da empresa, uma vez que os equipamentos envelhecem e
tornam-se obsoletos, perdendo assim valor. Fiscais, porque são tratadas como um custo logo
provocam uma diminuição dos lucros, reduzindo desta forma os impostos pagos pela empresa
ao estado.

Dois Parâmetros Matemáticos da Amortização:


• Vida do bem amortizável (n.º de anos)
• Método de amortização

Principais Métodos de Amortização:


• Método Linear
• Método da Soma dos Dígitos

Nomenclatura:
Ci- Custo inicial de um bem depreciável
Cl- Valor residual de um bem depreciável
Cd- Custo depreciável (total a amortizar)
n – Número de anos de vida
n’ – Número de anos de vida para fins de amortização
Dfm- Fracção de amortização no ano m
Dm- Parcela de amortização no ano m
Bm- Valor contabilizado no ano m

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Cd = Ci - Cl Dm = Dfm * Cd Bm = Ci – Σ Dm

Bm = Ci – Cd * (m/n’(n’+1)*2n’- n+1

Método Linear

A distribuição do custo inicial depreciável é uniforme ao longo dos anos, logo a depreciação
fraccionária é igual para todos os anos.

Df1 = Df2 = Df3 =.……. = Dfn’ Df = 1 / n’

………..
0 1 2 3 n’-1 n’
Cd/n’ Cd/n’ Cd/n’ Cd/n’-1 Cd/n’

P= Cd/n’ * FAP, i, n’ = Cd * FMLP, i, n’

Método da Soma dos Dígitos


A depreciação fraccionária para cada ano é um quociente em que o denominador é a soma dos
dígitos de todos os anos e o numerador é igual ao número de anos que faltam.

Df m= ( n’ - m + 1) / (0 .5n’(n’+ 1))

Df 1 > Df 2 > Df 3 > …. > Df n’

O método da soma dos dígitos é um método acelerado de amortização.

………..

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0 1 2 3 n’-1 n’
Cd*Df 1 Cd*Df 2 Cd*Df 3 Cd*Df n’-1 Cd*Df n’

P = n’Σm=1 Cd*Df m * [1 / (1 + i) m ]= Cd *FSDP, i,n’

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2.2 Modelos (Técnicas) Económicos de Decisão

2.2.1 Modelo de Substituição Determinístico

Para que se possa analisar um problema de substituição, temos que primeiramente identificar
quais os motivos que possam estar por detrás duma substituição:
1) o equipamento pode tornar-se incapaz de desempenhar o papel que lhe estava
confiado;
2) ou, o equipamento mesmo estando em condições se de desempenhar o serviço que
lhe estava confiado, pode tornar-se economicamente conveniente a sua substituição, por
razões de perdas de eficiência por envelhecimento ou por o aparecimento no mercado
de outros equipamentos tecnologicamente mais avançados.

Sendo assim, em qualquer problema de substituição, existe a necessidade de contrapor duas


entidades como parte integrante desta análise, sendo estas:

● Equipamento Existente (equipamento em serviço)


● Equipamento Destituídor (equipamento novo)

“Qual origina um menor custo?”


Comparação entre o custo de manter em operação o equipamento existente e o custo de adquirir
e operar o equipamento novo.

Nomenclatura:
Cl0 – Valor de Sucata no momento presente
Cl1 – Valor de Sucata no fim do ano
B0 – Valor contabilizado no momento presente
B1 – Valor contabilizado no fim do ano
D1 – Valor de depreciação no fim do ano
Cf1 – Custo operativo no fim do ano
i – taxa de juro
t – taxa de imposto
r - taxa de juro após imposto

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r = i * (1-t)

O imposto reflecte-se na taxa de interesse sobre o capital que passa a ter efectivamente um
valor mais baixo.

Custo de manter o existente em serviço + 1 ano


Vender o equipamento agora por Cl0, ou mantê-lo em funcionamento por + 1 ano perdendo Cl0,
incorrendo num custo operativo no final do 1º ano Cf1 e recuperando Cl1. Considerando os
impostos, deverão ser contabilizadas as perdas resultantes da diferença do valor contabilizado
(B0) e do valor de mercado (Cl0), assim sendo uma despesa, deverá ser contabilizada a
poupança no imposto, t (B0 - Cl0).

Diagrama de Fluxos
tD1
t(B1 – Cl1)
Cl1

0 1
Cl0 Cf1 (1 – t)
t(B0 - Cl0)

P = Cl0 + t(B0 - Cl0) + [ Cf1 (1 – t) – Cl1 – t(B1 – Cl1) – tD1 ] *FSP, r, 1


R = P * FPR, r, 1

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Custo de manter o existente em serviço + 2 anos
Diagrama de Fluxos
tD2
t(B2 – Cl2)
tD1 Cl2

0 1 2
Cl0 Cf1 (1 – t) Cf2 (1 – t)
t(B0 - Cl0)

P = Cl0 + t(B0 - Cl0) + [ Cf1 (1 – t) – tD1 ] *FSP, r, 1 + [Cf2 (1 – t) – Cl2 – t(B2 – Cl2) –tD2]*FSP, r, 2
R = P * FPR, r, 2

Tanto na substituição ao fim de 1 ano ou 2 anos os índices obtidos deverão ser comparados com
os índices do equipamento novo.

Equipamento Novo
Diagrama de Fluxos Monetários

Cnd
CL
P R’(1-t) R’(1-t) R’(1-t) R’(1-t) R’(1-t)

.............
0 1 2 3 n-1 n
Cd(1-t) R(1-t) R(1-t) R(1-t) R(1-t) R(1-t)
Cf2(1-t)

P = Cd (1 – t FRA, r, n’) + R (1 - t)FRP, r, n + Cfx (1 - t)FSP, r, x – R’ (1 - t)FRP, r, n + Cnd (1 - FSP, r, n) + CL


(1 - FSP, r, n)
R = P * FPR, r, n

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Onde RA → Regime de amortização
1) Método linear → FMLP, r, n’
2) Soma dos dígitos → FSDP, r, n’

R = Cd (1 – t FRA, r, n’ ) FPR, r, n’ + R (1 - t) + Cfx (1 - t)FSP, r, x FPR, r, n – R’ (1 - t) + Cnd r + CL r

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2.2.2 Outros Modelos Económicos Determinísticos
A avaliação e selecção de projectos na maioria dos casos centra-se na análise da rendibilidade
dos projecto. Esta consiste em avaliar a capacidade do projecto em gerar excedente líquido,
medido através de critérios de rendibilidade (Valor Actual Líquido (VAL), Taxa Interna de
Rentabilidade (TIR), Período de Recuperação do Investimento (PRI) e o Rácio Custo/ Benefício -
Técnicas Quantitativas.

2.2.2.1 Valor Actual Líquido (VAL)


O método do cálculo do Valor Actual Liquido (VAL) [1] é o somatório dos cash-flows (diferença
entre o valor das receitas e das despesas do projecto) actualizados a uma determinada taxa de
juro, correspondendo a um determinado factor de actualização do dinheiro no tempo.

Podemos então, definir o método do VAL através da seguinte fórmula:

VAL = Σnk=1 CFProjecto k * (1+TA)-K

CFProjecto k – cash-flow do projecto no período K


TA - taxa de actualização
n – n.º de anos do projecto

CASH-FLOWS

A designação em língua inglesa cash-flow é entendida simplificadamente como o saldo de


recebimentos e pagamentos ocorridos em cada período da vida do investimento.

CFProjecto K = CFExploração K – CFInvestimento K

CFExploração K = Resultados Líquidos + Amortizações + Provisões do Exercício + Encargos


Financeiros de Financiamento

As Amortizações são excluídas do cálculo do cash-flow por duas razões:

 pelo facto das amortizações não corresponderem a um pagamento;

Modelos de Decisão 17
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 e para evitar uma dupla contagem dos custos, uma vez que o custo de investimento já
está incluído no investimento, pois faz parte do mapa de investimentos.

As provisões do exercício também são excluídas, porque não são um custo efectivo, não
correspondem a um pagamento.

Contrariamente às amortizações e provisões, os encargos financeiros de financiamento


correspondem de facto uma despesa em numerário. No entanto, estes são excluídos das
despesas do projecto pelo facto de serem considerados no processo de actualização.

CFInvestimento K = Investimento em Capital Fixo + Fundo de Maneio – Valor Residual do


Investimento

TAXA DE ACTUALIZAÇÃO

Quanto à determinação da taxa de actualização, esta constitui um factor crítico da política de


uma empresa, já que irá condicionar a aceitação ou rejeição de um projecto e, logo, influenciar o
seu futuro. A Taxa de Actualização é também conhecida por custo de oportunidade do capital ou
taxa mínima de rendibilidade do projecto. Não é mais do que a rendibilidade que o investidor
exige para implementar um projecto de investimento e irá servir para actualizar os cash-flows
gerados pelo mesmo.

A Taxa de Actualização é constituída por três componentes (taxas):

TA = [ ( 1+T1 ) * ( 1+T2 ) * ( 1+T3 ) ] – 1

T1: Rendimento Real - corresponde à remuneração real desejada para os capitais próprios
(normalmente utiliza-se a taxa de remuneração real de activos sem risco).
T2: Prémio de Risco - consiste no prémio anual de risco. Corresponde à taxa dependente da
evolução económica, financeira, global e sectorial do projecto, bem como ao montante total
envolvido no projecto.
T3: Inflação – a taxa de inflação apenas fará parte da taxa de actualização quando os cash-flows
do projecto estiverem calculados a preços correntes, isto é, com a inflação.

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A Taxa de Actualização deve ser criteriosamente escolhida, de modo a poder:
 Corresponder ao mais alto rendimento que se possa conseguir de investimentos
alternativos;
 Aumentar o grau de credibilidade de que o analista necessita para a sua apreciação do
projecto;
 Representar o valor temporal do dinheiro, como o custo de oportunidade.

Quanto maior for a taxa de actualização, menor será o VAL, uma vez que se exige uma maior
rendibilidade do projecto de investimento, isto é, está-se a ser mais exigente na rendibilidade que
se pretende obter com a implementação do projecto. Por outro lado, quanto menor a taxa de
actualização maior será o VAL.

PERÍODO DE VIDA DO PROJECTO

Relativamente ao período de vida do projecto (n) é a duração do projecto, ou pelo menos o


período pelo qual o projecto vai ser avaliado. Por exemplo, um investimento de modernização de
uma unidade fabril, é definido em função do período de vida técnica ou económica dos
equipamentos mais importantes do projecto. O período de vida mais curto é o que deve ser
considerado.
O período de vida técnico é definido em função das características técnicas intrínsecas ao
equipamento. O período de vida económico é o período de vida em que o produto produzido pelo
equipamento tem aceitação no mercado por parte dos consumidores e possui características
técnicas que asseguram níveis de produtividade competitivos face aos equipamentos
concorrentes.

VALOR RESIDUAL

Quando um projecto termina, alguns dos bens do investimento realizado (exemplo: edifícios,
equipamentos, material de transporte, etc.) mantêm algum valor. Torna-se assim, necessário
contabilizá-lo como receita, no fim da vida útil do projecto. Este valor não é mais do que o que a
empresa espera receber pela venda do seu imobilizado no final da vida útil do projecto.
No caso de não existir valor de mercado para um determinado bem, deverá considerar-se o seu
valor residual, ou seja, o valor líquido contabilístico.

Valor Residual = Valor de Aquisição - Amortizações Acumuladas

Modelos de Decisão 19
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Quando um bem do imobilizado é vendido, origina:
 uma mais valia, quando o valor da venda é superior ao valor líquido contabilístico;
 uma menos valia, quando o valor da venda é inferior ao valor líquido contabilístico.

As mais valias e as menos valias são consideradas, respectivamente, uma receita ou uma
despesa do exercício em que se originam, sendo o seu saldo, como tal, tributado normalmente
pelo imposto sobre o rendimento.

IRC ± Valias = (Valor de Venda - Valor Residual) * (Taxa de IRC)

Na prática, desinveste-se pelo valor de venda no ano após o fim da sua vida útil e, nesse mesmo
ano, determina-se o IRC gerado pela sua mais ou menos valia.

EFEITO FISCAL DAS AMORTIZAÇÕES NO VAL

Existem basicamente três métodos de amortização do imobilizado mais frequentemente


utilizados:
 Método das amortizações constantes
 Método das amortizações progressivas
 Método das amortizações regressivas

As amortizações, sendo consideradas custos não desembolsáveis, permitem uma economia


fiscal graças à redução da matéria colectável. Cada método de amortização influenciará de forma
diferente o VAL de um mesmo projecto.
É preferível pagar menos impostos no futuro próximo, embora os impostos dos últimos anos se
agravem. Assim, deve amortizar-se tão depressa quanto possível, dentro dos limites impostos
pela legislação em vigor.

VAL (Regressivas) > VAL (Constantes) > VAL (Progressivas)

PREÇOS CONSTANTES VERSUS PREÇOS CORRENTES

Existem dois métodos fundamentais de valorização das diferentes rubricas dos cash-flows
provisionais, na avaliação de projectos:
 a preços constantes (sem inflação);

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 a preços correntes (com inflação).

Faz-se a avaliação a preços constantes quando se pressupõem que os preços relativos dos bens
e serviços vendidos e comprados, não variam ao longo da vida do projecto, isto é, todos os
preços se mantêm constantes, não havendo, portanto, influência da taxa de inflação. A análise a
preços constantes é aconselhada quando existe uma taxa de inflação reduzida. Avalia-se a
preços correntes quando se considera a evolução real esperada dos preços de todas as rubricas.
Assim, há que fazer a previsão da inflação em todos os momentos futuros do projecto. A análise
a preços correntes é uma tarefa difícil e arriscada. No entanto, deve avaliar-se a preços correntes
quando a taxa de inflação é elevada, e/ou os preços de algumas rubricas evoluem a taxas
diferentes ao longo dos anos.

A avaliação a preços constantes sobreavalia o projecto, tornando o VAL superior ao de um


projecto avaliado a preços correntes. Isto deve-se ao facto da avaliação a preços correntes
inflacionar todas as rubricas excepto as amortizações. Como em geral é difícil prever a evolução
dos diferentes preços relativos aos diferentes bens, alguns autores defendem a aplicação de uma
taxa de inflação uniforme a todas as rubricas; tal procedimento é incorrecto, porque os preços
relativos dos diferentes bens se mantêm, o que faz com que o resultado seja idêntico a preços
constantes incorporados da inflação. Resultado idêntico se obteria se capitalizássemos o
resultado com a taxa de inflação.

Do exposto conclui-se que:

 a avaliação a preços correntes deve fazer-se com os preços nas diferentes rubricas a
crescerem de forma diferenciada.

 mesmo com os preços das diferentes rubricas a crescerem a taxas diferentes a previsão
dos preços é uma tarefa difícil. Restrições fiscais limitam o tratamento a preços correntes
das amortizações e das existências e podem induzir tratamentos inconscientes do plano
de exploração previsional, com umas rubricas a serem tratadas a preços correntes e
outras a preços constantes. Quando tal acontece o cash-flow do projecto tende a ser
artificialmente alterado.

Quando o projecto recorre a incentivos públicos a fundo perdido, é aconselhável fazer a avaliação
a preços correntes, porque para além da rentabilidade do projecto, está em causa o valor do

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subsídio a receber. A avaliação a preços constantes tende a subavaliar o subsídio, penalizando
desta forma o projecto.

ANÁLISE DO RESULTADO DO VAL

VAL > 0 - O projecto é economicamente viável, uma vez que o VAL superior a 0 permite cobrir o
investimento inicial, bem como a remuneração mínima exigida pelo investidor (TA), e ainda gera
um excedente financeiro.

VAL = 0 - O projecto é economicamente viável, uma vez que permite a completa recuperação do
investimento inicial, bem como a obtenção mínima exigida pelos investidores (TA). Podemos
concluir que um projecto com um VAL = 0 corre sérios riscos de se tornar inviável.

VAL < 0 - O projecto é economicamente inviável.

Quanto maior for o VAL, maior será a probabilidade do projecto ser viável economicamente, já
que um VAL positivo significa que as receitas geradas são superiores aos custos.

2.2.2.2 Taxa Interna de Rendibilidade (TIR)

A Taxa Interna de Rendibilidade (TIR) [1] representa a taxa máxima de rendibilidade do projecto.
Ou seja, não é mais do que a taxa de actualização que, para o total do período de vida do
projecto, iguala o VAL a zero. Portanto, o projecto será vantajoso se a taxa de actualização for
inferior à TIR. Uma TIR muito elevada é um indicador da qualidade do projecto visto que só será
abandonado se existir uma aplicação alternativa com uma remuneração superior. O que significa
que, quanto maior for a TIR menor a probabilidade de surgirem aplicações alternativas mais
compensadoras. Neste sentido, um projecto com uma TIR elevada, permite altas taxas de
remuneração do capital sem que o projecto perca viabilidade. Paralelamente, se a TIR for baixa
isso significa que será mais fácil surgir um projecto alternativo que apresente uma remuneração
superior.

TIR ⇒ VAL= 0

0 = Σnk=1 CFProjecto k * (1+TIR)-k

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ANÁLISE DO RESULTADO DA TIR

TIR > TA Implica que o VAL > 0; o projecto consegue gerar uma taxa de rendibilidade superior ao
custo de oportunidade do capital, pelo que estamos perante um projecto economicamente viável.

TIR < TA Implica que o VAL < 0; o projecto não consegue gerar uma taxa de rendibilidade
superior ao custo de oportunidade do capital, pelo que estamos perante um projecto
economicamente inviável.

Comparação dos Projectos pelos Índices de Avaliação: VAL e TIR

Pelo índice do VAL, projecto A mais rentável que o projecto B


Pelo índice da TIR, projecto A mais rentável que o projecto B

Projecto A

Pelo índice do VAL, projecto A mais rentável que o projecto B


Pelo índice da TIR, projecto B mais rentável que o projecto A (vice-versa)

Projecto Diferencial

Projecto Diferencial = Projecto de Maior Investimento – Projecto de Menor Investimento

TIRDif > TA ⇒ Projecto de Maior Investimento


TIRDif < TA ⇒ Projecto de Menor Investimento

2.2.2.3 Período de Recuperação do Investimento (PRI)

O Período de Recuperação do Investimento (PRI) [1] destina-se a determinar o tempo de


recuperação do capital investido, ou seja, calcula-se o tempo necessário para que as receitas

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geradas e acumuladas, recuperem as despesas em investimento realizadas e acumuladas
durante o período de vida do projecto.

O método do PRI apresenta o inconveniente de não ter em conta os cash-flows gerados depois
de recuperados os capitais investidos, o que o torna desaconselhável na avaliação de projectos
de longa duração. Apresenta, contudo, a vantagem de ser simples e adequado à avaliação de
projectos em contexto de alto risco, ou ainda de projectos com vida limitada como no caso de
contratos de concessão.

2.2.2.4 Análise de Benefício Custo


A Análise Benefício Custo [1] relaciona as receitas do projecto com as despesas em termos de
rácio. Assim, o rácio benefício custo em termos líquidos relaciona o cash-flow de exploração com
o cash-flow de investimento.

∑ (R − C )
t =0
t t

ratio B / C =
(1 + i )t
n
It
∑ (1 + i )
t =0
t

(Rt – Ct) - cash-flow de exploração


It - cash-flow de investimento

Um projecto é rentável quando o rácio Beneficio/Custo >1, ou seja, quando os benefícios são
superiores aos custos. Um projecto de investimento é tanto mais interessante quanto maior for o
índice de rendibilidade. Este rácio, sendo um critério de avaliação que utiliza a noção de cash-
flow, é semelhante aos rácios contabilísticos que caracterizam a rendibilidade do projecto com
base no lucro.

Modelos de Decisão 24
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2.2.3 Modelos de Scoring

Nem sempre o único critério para a tomada de decisão é o factor económico, por exemplo, o
factor social e ambiental também podem contribuir para a decisão, assim nestes casos
poderemos recorrer a técnicas qualitativas – Modelos de Scoring.

Os Modelos Scoring baseiam-se em e produzem índices qualitativos.

O primeiro passo para a utilização destes Modelos é definir os diferentes critérios de avaliação,
exemplo: lucro; fidelização do cliente; quota de mercado; aumento do volume de vendas;
satisfação dos colaboradores; responsabilidade social; responsabilidade ambiental; inovação;
internacionalização e imagem no mercado. Para cada um dos critérios deverá ser atribuído o
peso (i.e. importância) que este terá na avaliação, sendo o cálculo da avaliação final uma média
ponderada.

Segundo passo, definir a escala qualitativa que será utilizada para pontuar benefícios e custos
associados ao projecto. Por exemplo, uma escala de 1 a 5, 1- muito baixo; 2- baixo; 3- média; 4-
alto; 5- muito alto.

Terceiro, definir as tabelas de critério, uma vez que a qualificação de benefícios e custos deve
ser objectiva. Por exemplo:
Tabela de Critério: Fidelização do Cliente Nível
Não há expectativa de dependência 1
Potência dependência de curto prazo 2
Potência dependência de médio prazo 3
Potência dependência de logo prazo 4
Potência parceria de fornecimento > 5 anos 5

Tabela de Critério: quota de mercado Nível


Quota = 40% (igual ao valor presente) 1
Quota >= 40% € < 45% 2
Quota > 45% <50% 3
Quota > 50% <60% 4
Quota > 60% 5

Por último, pontuar cada um dos critérios de avaliação segundo a escala qualitativa definida e a
tabela de critério, produzindo para cada projecto um score final na escala qualitativa.

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Modelos de Decisão 26
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3. MODELOS DE DECISÃO PROBABILÍSTICOS

3.1 Introdução

Procuremos estudar modelos cujo objectivo principal seja facilitar a tomada de decisão em
condições de incerteza. Como já foi referido, há aspectos subjectivos nesta tomada de decisão,
que o analista dever tentar modelar, tanto quanto possível. Nomeadamente, referimo-nos à
incorporação no modelo dos critérios subjectivos de preferência dos agentes de decisão, bem
como à procura e selecção dos dados necessários, constituindo a modelagem do fluxo de
informação.

A notação utilizada será a seguinte:


(i) Considerem-se duas alternativas Z e Z’, então:
- Z > Z´ significa que o(s) agente(s) de decisão prefere(m) Z a Z’
- Z = Z´ significa que o(s) agente(s) de decisão considera(m)v Z a Z’, ou seja é
(são) indiferente(s) à escolha entre Z e Z’
- Z ≤ Z’ significa que Z não é preferido a Z’

(ii) Número de Utilidade


Se U for o número ou função que traduza o valor de cada decisão representado por
U (Z) e U (Z’), etc., então
UTILIDADE de qualquer alternativa Z, representada por U(Z), é um escalar que satisfaz
as seguintes condições
U(Z) > U (Z’) se e só se Z > Z’
U(Z) = U (Z’) se e só se Z = Z’

3.2 Caso de um Problema com uma Única Decisão


Vamos admitir que o número de acções possíveis é finito e que a cada acção está associado um ou mais
resultados. A ocorrência de qualquer resultado pode ser influenciada pela acção do(s) agente(s) de
decisão, embora, de um modo geral, este(s) ignore(m) qual o resultado que ocorre quando selecciona(m)
uma determinada acção.

Modelos de Decisão 27
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Representaremos as acções por a e os resultados por R, tendo

a1, a2,….., aK,…., aK e


R1, R2,….., Rh,…., RH

Exemplo: Problema de Decisão com um Estágio


Uma pessoa decide dar um passeio, a pé, durante uma hora. Não sabe se durante esse período
vai ou não chover. Deve ou não levar guarda-chuva?

Definição das acções possíveis:


a1 – levar o guarda-chuva;
a2 – não levar o guarda-chuva.

Apresentação dos resultados possíveis:


R1: não ficar molhado;
R2: ficar molhado.

Podemos agora representar o problema graficamente usando, por exemplo, uma árvore onde se
clarificam as relações entre as acções possíveis e os respectivos resultados. Segundo Bunn,
para a sua construção existem três elementos fundamentais que são: os nodos de decisão,
nodos de acaso e nodos finais.

Os nodos de decisão são geralmente representados por rectângulos e as suas ramificações sub
consequentes traduzem às várias alternativas possíveis para a decisão. Pelo que cada
alternativa origina obrigatoriamente um ou mais nodos de acaso subsequentes.

Os nodos de acaso representam-se por circunferências e as ramificações subsequentes


traduzem os vários resultados e consequências possíveis para a alternativa de decisão originária
deste nodo. O acontecimento de um determinado resultado relativamente aos restantes, está
determinado por um processo probabilístico que o agente de decisão não pode controlar. Cada
ramo subsequente de um nodo de acaso pode originar rectângulo, quadrados ou triângulos. Para
alguns autores se forem rectângulos ou quadrados significa que representam nodos de decisão
e se forem triângulos representam nodos finais, ou seja, representam o resultado final daquela
ramificação da árvore de decisão. Há autores que indistintamente usam rectângulos ou
quadrados para nodos de decisão e nodos finais ou de consequência. Nesta disciplina
utilizaremos apenas os rectângulos tanto para a representação dos nodos de decisão como dos

Modelos de Decisão 28
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nodos de consequência. Uma consequência é um par ordenado (ak, Rh). Graficamente, uma
consequência representa uma trajectória através da árvore.

2,1
R1

a1
1,1
2,2
R1
a2
2,3
R2

1.0 Estágio 2.0 Estágio


Fig.1 Árvore de Decisão

Podemos dizer que a árvore da figura 1 representa a decisão (1,1) e que as consequências q2,1;
q2,2; q2,3, se reapresentam pelos nodos em que terminam.

Normalmente temos mais decisões e resultados do que os representamos. Generalizando, os


nodos de acção são descritos pela notação (n, i), onde
n- índice de estágio, e
i – número sequencial dos possíveis resultados em cada estágio.

Cada consequência termina num nodo distinto, como por exemplo

q2,1 (a1, R1), e, para o exemplo considerado a ‘tradução’ das consequências é, obviamente, a
seguinte:
q2,1 = (a1, R1): levar o guarda-chuva, não ficar molhado
q2,2 = (a2, R1): não levar o guarda-chuva, não ficar molhado
q2,3 = (a2, R2): não levar o guarda-chuva, ficar molhado

Modelos de Decisão 29
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Para as decisões adopta-se nomenclatura idêntica à dos nodos de que partem ou divergem.
Assim, a decisão (1,1) é a decisão que partir do nodo (2,1).

É possível, então, escrever uma ‘matriz de consequência’ para a decisão (1,1), e que se
representa por Q1,1:
Q1,1 =
R1 R2
a1 q2,1 x
a2 q2,2 q2,3

3.3 Caso de um Problema com mais do que uma Decisão

Quando temos mais do que uma decisão em cadeia, um problema com decisões sequenciais,
podemos encará-lo como se tratasse de um conjunto de problemas de decisão única, do tipo
(1,1), (2,2), (2,3), …. Para a árvore que a seguir se representa as decisões simples são (1,1),
(2,1), (2,2), (2,3) e (2,4).

3,1
R2

3,2
a2
R3
3,3
2,1
R2

a3 3,4
R1
….… R3
2,2 …
R4
….…
a1 …
….…
1,1
2,3 …
R1 ….…

a4 ….…
2,4 …
R4 ….…

Modelos de Decisão 30
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Em resumo, para problemas com mais do que uma decisão consideramos o número que for
necessário de problemas de um estágio. Haverá consequências intermédias ou sub-
consequências, como é o caso da consequência (a1, R1), que pode representar-se por q2,1.
Genericamente, qn,i representará a consequência ou sub-consequência que termina no nodo de
decisão (n,i), qualquer que ele seja. Para o exemplo acima considerado:

q2,1 = (a1, R1) é uma sub-consequência de q3,1, bem como de q3,2, q3,3 e q3,4.

Da mesma forma que definimos uma matriz de consequência para p caso de um problema com
uma única decisão, podemos também fazê-lo para cada nodo de decisão não terminal (n,i). A
matriz representar-se-á por qn,i e será constituída por todas as consequências qn+1,j, das quais
qn,i é ela própria uma consequência. Vejamos dois exemplos:

Q1,1 =
R1 R4
a1 q2,1 q2,2
a4 q2,3 q2,4

Q2,1 =
R2 R3
a2 q3,1 q3,2
a3 q3,3 q3,4

A forma geral será

Qn,i =
R1 ….. Rh …… RH
a1
….
ak qn+1,j
….
aK

Modelos de Decisão 31
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Tipicamente nos projectos, estamos perante problemas com mais do que uma Decisão. Os
projectos são divididos em várias fases, correspondentes a outras tantas decisões ligadas entre
si e escalonadas no tempo. Uma decisão depende das decisões tomadas anteriormente, que
consequentemente influenciam as decisões futuras.
Esta atitude é prudente pois evita tomar hoje todas as decisões para o futuro. As decisões, assim
escalonadas no tempo, permitem colher informações adicionais e consolidar e corrigir as actuais
e, desta forma, diminuir o risco, que é tanto maior quanto mais longo for o horizonte para a
previsão.

Segundo Goodwin e Wright, o acesso a nova informação pode reduzir o nível de incerteza ou de
risco associado a uma decisão, aumentando o retorno esperado. Embora obter a informação
perfeita (a informação conseguir anular totalmente o nível de risco) seja muito difícil, mas o
cálculo do seu valor respectivo seria útil – Valor Esperado da Informação Perfeita (VEIP). Este
permite ao agente de decisão determinar quanto estaria disposto a pagar para obter 100% da
informação.

3.4 Formulação Matricial

A formulação matemática de um problema de análise de decisão pode variar conforme o autor


seguido. Aqui é apresentada uma formulação simplificada baseada em Bunn.

O modelo de decisão é formulado através das matrizes: “consequência” [Q], “valor” [V] e “peso”
[Γ].

Segundo Chiken and Hayns, numa análise ao processo de decisão, o recurso a matrizes,
apresenta a vantagem de permitir analisar as possíveis combinações entre todos os resultados e
alternativas. Contudo, estes também salvaguardam que podem resultar combinações irrealistas
às quais o analista terá de estar atento e não as considerar na análise do problema.

Como já referido, na matriz “ consequência” [Q], ai são as alternativas possíveis, Rj, são os vários
resultados e qij, são as consequências de escolher ai acontecendo Rj. A matriz abaixo representa
um exemplo de uma matriz ”consequência”.

Modelos de Decisão 32
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R1 R2 R3
a1 q1,1 q1,2 q1,3
a2 q2,1 q2,2 q2,3
a3 q3,1 q3,2 q3,3

Sendo possível a partir da matriz anterior obter a matriz “valor” [V] substituindo qij por vij, ou seja,
atribuindo valores às consequências da escolha de ai acontecendo Rj. A atribuição de um valor a
cada um dos resultados possíveis de uma alternativa, pode obedecer tanto a uma lógica de
ganhos como de perdas esperadas.

A matriz “peso” [Γ] representa o peso relativo que se atribui a um resultado possível emergente
de uma determinada alternativa. Os pesos relativos podem representar probabilidades de
ocorrência ou outra forma de ponderação. No caso das probabilidades, os pesos terão de variar
entre 0 e 1, de forma que o somatório de todos os resultados possíveis para cada acção, seja
sempre igual a 1. A estrutura da matriz é a mesma das anteriores, substituindo os qij ou vij, por
δij.

A combinação de todos os resultados de uma acção ponderados pelas respectivas


probabilidades de ocorrência resulta na matriz coluna [E], obtida então através do produto
escalar de [V] pela transposta [Γ] T. [V] é uma matriz que pode variar conforme a medida do(s)
objectivo(s) e tanto pode ser a “valor monetário”, como a “utilidade” (ver capitulo 3.6).

[E] = [ V x [Γ]T ]

Nestas situações estamos em ambiente de risco, pelo que são conhecidas as probabilidades,
tendo que se recorrer a critérios de decisão em ambiente de risco, como o valor monetário
esperado ou a máxima utilidade esperada. No entanto, muitas vezes não são conhecidas as
probabilidades de ocorrência de um determinado resultado perante uma determinada acção,
estando-se perante tomadas de decisão em ambientes de incerteza. Será então necessário
atribuir subjectivamente probabilidades aos diferentes resultados, de acordo com diferentes
critérios de decisão para tratamento de incerteza, como o Maxmin, o Minmax, Laplace, Hurwicz,
entre outros.

Modelos de Decisão 33
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3.5 Valor Monetário Esperado (EVM)

Segundo Bunn, o objectivo do critério valor monetário esperado (EVM) é escolher a alternativa
que maximize o valor monetário esperado de cada alternativa de decisão (EVai). O valor
monetário esperado para cada tomada de acção, é obtido através da soma ponderada dos
vários resultados possíveis dessa tomada de acção com a probabilidade respectiva da sua
ocorrência. Assim, o valor esperado para uma alternativa ai é calculado da seguinte fórmula:

EVai = Σ vij prob (Rj)


j

No caso de os valores monetários traduzirem receitas ou lucros, estamos perante um problema


de maximização do valor monetário esperado, assim

EVM = Max (EVai)


i

No caso de os valores monetários traduzirem custos ou perdas, então o problema é de


minimização do valor:

EVM = Min (EVai)


i

Exemplo:
Desenvolver internamente uma nova tecnologia ou sub-contratar? Os valores representados na
árvore de decisão correspondem a custos de sub-contratação ou de desenvolvimento interno.

Modelos de Decisão 34
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Resposta:

Sub-contratar, porque o valor monetário esperado da subcontratação é menor (101 000€) que a
desenvolvimento interno (126 000€).

Deficiências do Valor Monetário Esperado (EVM)

A tomada de decisão baseada em valor esperado, nomeadamente valor monetário esperado, é


comummente usada, apesar de pressupor a repetição do processo de decisão ao longo de
um período relativamente longo, de modo a permitir usar valores médios de retorno.
Contudo, em muitas situações a decisão que é necessário tomar é única, e a escolha, se vier a
correr mal, não permitirá recuperar as perdas em futuras tomadas de decisão, pois estas não
existirão.

É natural que nessas circunstâncias o agente de decisão prefira a alternativa de menor risco. O
critério do Máximo Valor Monetário Esperado encara todas as decisões como se traduzissem um
processo repetitivo na vida do agente de decisão, e não incorpora a atitude do agente de decisão
em relação ao risco. Para obviar a esta desvantagem foi criado o critério da Maximização da
Utilidade Esperada, que já permite modelar a tomada de decisão tendo em consideração a
atitude do agente de decisão em relação ao risco.

Modelos de Decisão 35
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Assim, o critério do Valor Monetário Esperado não é válido em todas as situações. Em alguns
casos é mesmo intuitivo que este não pode ser aplicado, como no seguinte exemplo:

Exemplo: O problema do pobre


Oferece-se a um pobre um bilhete de lotaria que poderá dar-lhe um prémio de 500 euros com
uma probabilidade de 0,5. Um homem rico oferece pelo bilhete 200 euros. Deve o pobre vender
o bilhete?
Resolução: Utilização da árvore de decisão

0,5 2,1
a1 não vender 500€
1,1 0,5 2,2
0€
2,3
a2 vender 200€

A aplicação do critério do Max EMV implica a escolha da acção a1, ou seja, o pobre deveria
conservar o bilhete de lotaria. Será que se trata de uma decisão razoável? Seria mais natural
que o pobre escolhesse a segurança dos 200 euros, recusando o risco de perder o prémio. Esta
atitude traduziria ‘aversão ao risco’.

O comportamento de ‘aversão ao risco’ pode ser explicado, em termos científicos, pelo recurso a
teoria de utilidade descrita no capítulo seguinte.

3.6 Teoria da Utilidade

A teoria da utilidade surgiu para explicar o comportamento da função “procura”. Esta parte do
pressuposto de que a satisfação do consumidor com um produto varia inversamente com a
quantidade consumida, ou seja, que a sua utilidade marginal diminui. Seguindo este raciocínio, a
utilidade do dinheiro assume um comportamento semelhante.

Modelos de Decisão 36
Aldora Gabriela Fernandes
Normalmente, para o mesmo problema de decisão diferentes agentes de decisão seleccionam
diferentes alternativas, o que é explicável pelas diferentes utilidades marginais associadas a
cada indivíduo. Segundo Moore e Thomas, a utilidade de uma determinada quantia monetária,
varia de acordo com o capital que o indivíduo já possui. O conceito de utilidade assenta na
combinação de dois conceitos “unidade de medida” e “probabilidade”. Desta forma, é possível
estudar tanto o comportamento do agente de decisão face ao risco, como possibilita lidar com
mais de uma unidade de medida.

Segundo Moore e Thomas, existem dois modos do agente de decisão expressar as suas
preferências:

 Preferência Directa. Exemplo: o agente prefere o resultado x a y;

 Atitude Face ao Risco. Exemplo: o agente prefere o resultado y quando está associado a
x um risco elevado.

A teoria da utilidade pretende explicar matematicamente a atitude do agente de decisão face ao


risco. A posição do agente não obedece a nenhum padrão definido e as preferências individuais
não são necessariamente extrapoláveis para outros indivíduos, ou seja, são pessoais de cada
agente decisor, devem ser analisadas para cada problema específico, localizado numa
determinada época temporal.

A curva de utilidade de um indivíduo é obtida através da expressão das preferências ou


indiferenças do agente de decisão a determinados valores esperados para cada decisão,
tornando-se possível desta forma, recolher dados acerca da utilidade marginal do agente. Por
último, ajusta-se uma função que relaciona unidades quantitativas, ou qualitativas com uma
unidade quantitativa arbitrária representativa da utilidade. Representa-se graficamente esta
relação, obtendo-se assim a curva de utilidade.

Esta teoria é aplicável a problemas com resultados monetários e não monetários, variáveis
únicas e multi-variáveis quantificáveis e não quantificáveis.

Modelos de Decisão 37
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A teoria da utilidade baseia-se no Teorema de Bernoulli (Utilidade): esta teoria assenta em três
pressupostos seguintes:
1. Para quaisquer duas somas de dinheiro Z e Z’ é possível definir números de utilidade
U(Z) e U(Z’)
U(Z) > U(Z’) se e só se se prefere Z a Z’
U(Z) = U(Z’) se e só se é indiferente entre Z e Z’

2. A função utilidade do agente decisão pela tomada de decisões é côncava para valores
monetários.

3. O valor da esperança da utilidade (ou valor esperado da utilidade) de uma lotaria é a


combinação convexa dos valores de utilidade dos prémios da lotaria, ou seja:

p Z

Lotaria =
Z’
1-p

O valor da esperança da utilidade é dada por:

U(lotaria) = p U(Z) + (1-p) U(Z’)

Estes princípios permitem concluir que podemos traçar uma curva de utilidade para cada um dos
problemas em análise. Na realidade, para o ‘problema do pobre’ podemos ter a seguinte curva
de utilidade:

U (Utilidade)

U (500€)

U (200€)

U (0€)

0€ 200€ 500€ €

Modelos de Decisão 38
Aldora Gabriela Fernandes
A utilidade da lotaria representa-se por α assim calculado:

α = ½ U(500) + ½ U(0)

Portanto vemos que a utilidade do resultado ‘receber 200 €’ é superior à utilidade da lotaria, pelo
que a acção preferível será ‘vender o bilhete’, a2, e não conservá-lo, a1, como havíamos
concluído anteriormente com a aplicação do critério de Max EVM. Em notação simbólica temos:

U(200€) > U(lotaria/α) a2 > a1

Mas, ainda não se indicou como calcular os números de utilidade. De seguida são apresentados
os axiomas essenciais para a justificação e esclarecimento do referido cálculo.

Axioma I – ordenamento completo, ou seja, a relação de preferência ou indiferença entre


lotarias é sempre identificável pelo agente de decisão.

Axioma II – transitividade. Se uma lotaria se prefere (ou é equivalente) a outra e esta a uma
terceira, então a primeira prefere-se (ou é equivalente) à terceira.

Axioma III – continuidade. Afirma que não há prémios “infinitamente bons” ou “infinitamente
maus”. Este axioma tem duas implicações:
• as curvas de indiferença das lotarias são rectas.
• as curvas de indiferença além de rectas são paralelas.

Axioma IV – independência. A partir de um conjunto de três lotarias em que duas delas sejam
equivalentes, quaisquer duas novas lotarias com um prémio comum a ambas constituído pela
terceira lotaria de partida não equivalente, e como prémio diferente as duas lotarias equivalentes,
ocorrendo esses prémios com igual probabilidade p nas duas lotarias, elas serão também
equivalentes, qualquer que seja a probabilidade p.

Axioma V – monotonicidade. Uma lotaria L1 prefere-se a outra (ou é-se indiferente a) L2 que
tenha os mesmos prémios se e só se a probabilidade de ocorrência do melhor prémio for
superior (ou igual) em L1.

Modelos de Decisão 39
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Axioma VI – redução de lotarias compostas ou substituição. Um agente de decisão é
indiferente entre uma lotaria composta e uma lotaria simples desde que ofereçam os mesmos
prémios com as mesmas probabilidades.

Para que as preferências de um agente de decisão possam ser explicitadas numa curva de
utilidade ele terá de aceitar os seis axiomas da utilidade e comportar-se de uma forma racional,
ou seja consistente com esses axiomas. Nem sempre o comportamento consegue ser racional.
O importante é que o agente de decisão perceba e deseje comportar-se consistentemente, de
acordo com os axiomas. De facto, a coerência não é um pré-requisito para a análise de decisão,
é antes um resultado.

Determinação de uma Curva de Utilidade segundo Neumann-Morgenstern

Determinam-se os valores de utilidade numa escala entre 0 e 1. Assim:


• Seleccionar os extremos: melhor valor possível (a) e pior valor possível (b).
• Atribuir os extremos de utilidade aos extremos de valor: U(a)=1 e U(b)=0.
• Representar num sistema ortogonal de eixos as utilidades (abcissas) e os valores
monetários (ordenadas). Marcar os extremos.
• Pedir ao agente de decisão (AD) que indique o valor certo monetário que para ele vale
tanto como uma lotaria hipotética que lhe dará com igual probabilidade a ou b.
O valor c que ele indicar terá então a utilidade
U(c) = 0,5U(a) + 0,5U(b)
Podemos representar mais um ponto da curva.
• Continuamos a solicitar informação semelhante – valor certo que vale tanto como uma
hipotética lotaria que lhe dará com igual probabilidade a ou c, por exemplo. Marcamos
novo ponto da curva.
• Solicitação semelhante para a lotaria entre c e b.
• E assim sucessivamente, tentando obter o máximo de pontos possível para traçar uma
curva adequada.

Depois de se obter a curva de utilidade o critério de maximização da utilidade esperada usa-se


de forma semelhante ao critério de maximização do valor monetário esperado, só que cada valor

Modelos de Decisão 40
Aldora Gabriela Fernandes
monetário na matriz de valor é substituído pela sua utilidade lida na curva de utilidade. Os
cálculos depois efectuam-se
se com utilidades e não com valores monetários.

Notas:
I. A determinação da curva consiste num conjunto de avaliações, no contexto de um
problema específico.
II. A utilização da teoria permite fazer inferências e transformar decisões complexas num
conjunto de decisões mais simples. Garante também uma consistência de critério em
decisões complexas.
III. Não se trata de uma teoria vulgar de descrição de comportamento humano. Pode, antes,
ser considerada como estabelecendo uma conduta apropriada em situações que se
requer uma tomada racional de decisões.

Abaixo é representado
sentado graficamente o conceito das curvas de utilidade,, segundo Moody.

Fig. 2 Atitudes do Agente de Decisão Face ao Risco.

Moody refere que geralmente todos os agentes têm tendência para assumir um risco elevado
enquanto o envolvimento for reduzido: conforme
onforme o envolvimento aumenta os agentes “avessos
ao risco” sentem-se
se mais atraídos para assumir riscos mais reduzidos que os “jogadores”.

Na figura 3 encontram-se
se as curvas de utilidade correspondentes aos perfis apresentados na
figura 2. É possível observar que um determinado valor monetário x, representa um valor distinto
de utilidade conforme o perfil do agente de decisão.

Modelos de Decisão 41
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Figura 31 Curvas de Utilidade dos Agentes de Decisão da Figura 2

Na figura 2 e 3, a linha recta representa a agente que é indiferente ao risco. A sua função
utilidade apresenta a variação directamente proporcional
proporcional ao valor monetário. O indivíduo avesso
ao risco apresenta uma função utilidade com uma curva côncava na base, enquanto que o
jogador2 apresenta uma curva convexa. Segundo Moody, o perfil da maioria dos indivíduos está
representado pela curva mista do agente de decisão comum. Tal interpretação é susceptível de
sugerir que a função de utilidade de um indivíduo comum se representará por uma
um linha
sigmoidal e não por uma linha curva ou recta, o que significa que ele estará desejoso de correr
riscos para valores monetários baixos e avesso quando estes valores começarem a ter
importância.

3.7 Máxima Utilidade Esperada


sperada (UE)

O critério da máxima
ma utilidade esperada (UE) [2] é aplicável tanto a decisões que envolvam
valores monetários como não monetários. Inclusivamente a sua utilização é extensível para
problemas que envolvam valores qualitativos. É possível definir funções de “utilidade” para
melhor traduzir o comportamento do agente de decisão face ao risco.

Segundo Moore e Thomas,, uma função de utilidade envolve as seguintes propriedades:


 Cada resultado possível é definido por um único número de utilidade;

1 “U.U.” é a notação utilizada para unidades de utilidade.


2 Por jogador entende-se
se o indivíduo com propensão para aceitar risco.

Modelos de Decisão 42
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 Os resultados devem ser ordenados por ordens de preferências segundo os números
definidos;
 A decisão óptima é a que maximiza a utilidade esperada.

A função utilidade não fornece valores absolutos, mas valores relativos numa escala pré definida
adimensional.

Este critério é uma variação ao EMV, em que em vez de utilizar a matriz [V] utiliza a matriz
“utilidade” [U]. A alternativa escolhida é a que corresponde ao maior valor obtido em [E].

O critério UE é na maior parte das vezes mais eficiente que o EMV para explicar o
comportamento que um indivíduo assume ao tomar decisões. Um agente de decisão perante
duas alternativas com igual EMV, pode intuitivamente preferir uma e rejeitar outra.

Moore e Thomas consideram que se as recompensas ou custos (perdas) são pequenas


relativamente ao activo existente do investidor, o EMV pode ser apropriado. Mas quando este
não é o caso, o melhor é utilizar outro critério como o da utilidade.

3.8 Probabilidades Subjectivas: Critérios

Neste capítulo serão descritos os critérios de decisão a utilizar em ambiente de incerteza, ou


seja, quando as probabilidades de ocorrência dos resultados não são conhecidas. Os critérios de
incerteza procuram atribuir probabilidades fictícias aos resultados, consoante o critério adoptado.
A formulação matricial é sempre semelhante para todos os critérios, diferindo apenas na
construção da matriz “peso”, ou seja, da matriz de probabilidades que será subjectiva. O perfil do
decisor relativamente ao desejo, aversão ou indiferença ao risco será determinante para se
seleccionar os critérios mais adequados.

3.8.1 Maxmin (Wald)


O critério de Maxmin [7], também conhecido por critério de Wald, assume que a pior das
consequências será a que vai acontecer. Este critério selecciona a acção do melhor valor dos
piores possíveis (selecciona o máximo dos mínimos). A utilização deste reflecte uma atitude por

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parte do agente de decisão ao risco muito pessimista, conservadora e de aversão (temendo o
pior cenário).

Muito resumidamente, a sua aplicação consiste:


1º - para cada alternativa de decisão ai admite-se como possível apenas o resultado com pior
valor (probabilidade 1 de ocorrer e todos os restantes com probabilidade nula);
2º - calcula-se a matriz de valor esperado [E] que terá apenas os valores da pior consequência
para cada alternativa;
3º - escolhe-se a alternativa que apresentar o melhor valor na matriz de valor esperado (o melhor
dos piores).

Muitas críticas podem ser feitas a este critério, a maior é que considera apenas a consequência
correspondente ao pior valor esperado, desprezando completamente os valores esperados das
restantes consequências. Isto significa que uma pequena desvantagem assuma um impacto
maior que uma grande vantagem. Segundo Moore e Thomas, no processo de tomada de
decisão devem ser consideradas todas as consequências, por mais pequenas que sejam as
probabilidades de ocorrência de um determinado resultado, visto poderem ter um impacto
significativo na selecção. No entanto, este é um bom critério para situações de necessária
aversão ao risco, por exemplo, no caso de problemas que envolvam vidas humanas.

3.8.2 Maxmax
O critério de Maxmax [2] é a contrapartida ao critério pessimista, descrito nos parágrafos
anteriores. A aplicação deste critério, consiste na escolha da alternativa ai com o maior valor
esperado admitindo como possível apenas a melhor ocorrência para cada alternativa. Quando o
problema envolve um grande número de alternativas e/ ou resultados é conveniente seguir os
seguintes passos:
1º - para cada alternativa de decisão ai escolhe-se a consequência de maior valor esperado;
2º - escolhe-se a alternativa que apresentar o melhor valor no 1º passo. Decide em função dos
máximos dos máximos.

O critério de Maxmax sofre das mesmas críticas que o Maxmin, embora reflicta a atitude oposta
por parte do agente de decisão. Correspondendo a uma propensão extrema relativamente ao
risco.

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3.8.3 Laplace
O critério de Laplace descreve-se muito rapidamente do seguinte modo:
(i) Para qualquer acção ak seja Rk o número de resultados que são possíveis, dado a
escolha de ak. Em correspondência com qualquer um destes resultados faça-se o
valor da probabilidade igual a 1/ Rk. Para todos os outros resultados impossíveis
faça-se a probabilidade igual a 0.
(ii) Construir a matriz peso
(iii) Calcular a matriz de Valor Esperado
(iv) Seleccionar a acção com melhor valor esperado.

O critério de Laplace é também conhecido como critério de indiferença, adequado para agentes
de decisão que não sejam avessos nem desejosos de correr riscos. Baseia-se no princípio da
razão insuficiente. Se nada sabemos sobre a probabilidade de ocorrência dos resultados, porquê
admitir que algum deles será mais provável do que outros?

3.8.4 Minmax Arrependimento (Savage)


O critério de Minmax arrependimento [2], proposto por Savage, introduz a noção de
arrependimento à posteriori por ter escolhido mal. Selecciona-se a acção correspondente ao
mínimo dos máximos arrependimentos.

A sua aplicação resume-se aos seguintes passos:


1º - calcula-se a matriz “arrependimento”. [A]. A matriz [A] é obtida através dos valores de
arrependimento (rij) correspondentes a cada vij. Como arrependimento entende-se o valor de
perda de oportunidade por não se efectuar a escolha de maior valor.
O cálculo dos rij envolve primeiro a identificação na matriz “valor” do maior vij de cada coluna,
sendo os valores de arrependimentos (rij) obtidos através da subtracção dos vij de uma
determinada coluna com o maior valor dessa coluna.

O critério de perda de oportunidade esperada (EOL) [2] é muito semelhante ao critério EVM, no
entanto, em vez de utilizar a matriz “valor” para o cálculo da matriz [E], consequência esperada
para cada tomada de decisão, utiliza a matriz “arrependimento” [A]. A matriz [A] é obtida através

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dos valores de arrependimento (rij) correspondentes a cada vij. Como arrependimento entende-
se o valor de perda de oportunidade por não se efectuar a escolha de maior valor.

2º - Constrói-se a matriz peso atribuindo probabilidade 1 ao pior arrependimento para cada


acção. Os restantes terão probabilidade nula de ocorrerem.

3º - Calcula-se a matriz de Valor Esperado do Arrependimento

4º - Selecciona-se a acção com melhor Valor Esperado de Arrependimento.

Este critério não é tão pessimista como o do Maxmin e tem o benefício de ser facilmente
entendido pelo agente decisor. No entanto, não pode ser considerado um critério robusto, uma
vez que nem sempre obedece ao princípio da independência das alternativas irrelevantes. Este
princípio significa que a inclusão ou exclusão de alternativas irrelevantes (isto é, que não sejam
nem se convertam na melhor alternativa) não deverão afectar o processo de selecção da melhor
decisão.

3.8.5 Hurwicz
O critério de Hurwicz [2] corresponde a uma ponderação dos dois critérios Maxmin e MaxMax,
através da aplicação de um índice de optimismo α (0 ≤ α ≥ 1). Este admite que apenas poderão
ocorrer as situações extremas, a melhor e a pior, para cada alternativa.

Assim, resumidamente, a sua aplicação baseia-se:


1º - para cada alternativa ai, identifica-se o valor mínimo atribuindo-lhe a probabilidade α e o de
valor máximo atribuindo-lhe a probabilidade complementar resultado de (1- α), logo atribuí-
se o valor 0 aos restantes resultados;
2º - calcula-se [E] = [ Y x [Γ]T ] que vem em função de α. Substituindo α pelo valor estabelecido
pelo agente de decisão;
3º - escolhe-se a alternativa ai correspondente ao maior valor esperado em [E], dependendo da
atitude do agente de decisão em relação ao risco, ou seja, em relação ao valor de α mais
adequado à sua atitude.

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O valor de α varia desde o máximo “optimismo” (α = 0) ao máximo “pessimismo” (α = 1). Assim,
a escolha do valor será função da personalidade do agente de decisão, reflectindo o seu carácter
optimista, pessimista ou medianamente avesso ao risco. Segundo Bunn (1991), a aplicabilidade
deste critério depende da facilidade do agente de decisão em decidir o valor de α. É um critério
bastante utilizado.

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Bibliografia

[1] Brealey, Richard A. e Meyres, Stewart C. (1996). Principles of Corporate Finance, 5º


Edition. The MacGraw – Hill Companies, Inc, New York.

[2] Bunn, Derek W. (1982). Analysis for Optimal Decisions. McGraw-Hill, New York.

[3] Chicken, John C. & Hayes, Michael R. (1989). The risk ranking technique in decision
making. Pergamon Press plc, Oxford.

[4] Goodwin, Paul; Wright g. (1991). Decision Analysis for Management Judgment Chichester.
John Wiley & Sons, New York.

[5] Michael Resnik: Choices: An introductionto Decision Theory. Cap 1-4

[6] Moody, Paul E. (1983). Decision Making. McGraw-Hill, New York.

[7] Moore, P. G.; Thomas, T. (1988). The Anatomy of Decisions. Penguim Books, 2ª ed.,
London.

[8] Rivett, P. Modeling Building for Decision Analysis. John Wiley & Sons, Chichester, 1980

[9] White, D.J., Decision Theory, 1969

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