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CURSO DE FILOSOFIA
Aproximação crítica ao Ceticismo: convidando o cético para dançar ao som de Astor Piazzola.
PORTO ALEGRE
2010
1
Acadêmico do curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, 2011/2. Tem interesses voltados para a área de Direito Civil Constitucional, Filosofia do Direito e
Sociologia Jurídica aliados a Teoria do Caos e Teoria da Complexidade.
http://lattes.cnpq.br/9536373205346420
1. Aproximação crítica ao Ceticismo: convidando o cético para dançar ao som de
Astor Piazzola.
Aviso de início que tentarei ser o mais técnico possível, mas creio que não resistirei aos
encantos do discurso leigo. Com forte acento cético. Dos mais baratos possíveis. Sempre me
identifiquei com o Charada e o Curinga do que com o Batman. Aliás, o Ceticismo é o tema deste
ensaio.
Porque a escolha do Ceticismo? Afinal, não é Epistemologia II? Ocorre que utilizando
uma das fontes de crença, a percepção, sou levado a acreditar que os epistemólogos nutrem um
grande medo deste vilão chamado cético. Seu nome e influência foram invocados pelo professor e a
turma em todos os encontros deste semestre. Quem será, então, este divertido vilão, chamado
Cético?
Grife-se que não se trata de crença irracional e muito menos injustificada. Pelo
contrário, sou levado a crer racionalmente, e vislumbro absolutamente justificada pelo fato de ser
um observador neutro e sem preconceito que se encontra no seu primeiro mês de contato com a
filosofia. Minha percepção conclui, então, que os epistemólogos, em sua busca por verdade do
conhecimento, nutrem um medo paralisante desta famosa e influente pessoa que se chama cético.
Tal qual Perseu, que não pode olhar nos olhos da Medusa, sob pena de petrificar, os epistemólogos
esquivam-se entre espelhos e dogmáticas, da petrificante dúvida e incerteza, tal qual cunhada por
Heisenberg, que o Ceticismo representa.
Quem sabe, então, o cético não é Lúcifer, expulso do paraíso em razão de sua
característica questionadora? Será que temos espaço para Lúcifer na certeza das verdades filosóficas
ou vamos renegá-lo à “periferia” do conhecimento não científico?
Em razão de todo o exposto até aqui é que se justifica a escolha do tema. Quem será
este louco chamado Cético? ‘Recusando o totalitarismo das certezas, em proveito da liberdade de
escolha e criação, farei filosofia com rigor e, porque não, arte? Nunca artístico e sempre arteiro.’ 2
(Ricardo Aronne)
Vamos, então, conhecer este cético! Proponho uma dança para diminuir o clima hostil
que se percebe para com o cético. Quem sabe um tango? Astor Piazzola? ‘Convido-o a tomar o
centro do salão. Sacando a bailar...na singular e cotidiana balada para un loco...Piantao??? Veni,
vola senti...el loco berretin, que tengo para vos... (Astor Piazzola).’3
2
Aronne, Ricardo. Razão e Caos no Discurso Jurídico e outros ensaios de direito civil
constitucional. Porto Alegre. 2010.
3
Idem.
4
Feldman, Richard. Epistemology.
Na contramão desta proposição, o Cético sustenta que nós conhecemos muito menos, ou
nada, do que a perspectiva standard da epistemologia afirma sermos capaz. Deste modo, pode-se
afirmar que Cético é aquele que duvida, questiona e pratica suspensão de julgamentos. Para o
Cético, a resposta nunca é tão óbvia quanto parece, a não ser a dúvida. Só sei que nada sei.
Sócrates? Cético?
O conhecimento científico nasce com dúvida e torna-se estático com a obtenção de uma
solução, de uma verdade. Cético é alguém que questiona as coisas e pratica a suspensão de
julgamentos. A dúvida e a incerteza, assim, são características marcantes do pensamento cético.
Cumpre salientar que nota marcante do Ceticismo são sua naturalidade e obviedade. Um
cético refinado não parece invocar contradições lógicas em seus argumentos, na mesma medida que
parece utilizar as mais simples e óbvias considerações para injetar dúvida e incerteza nas
proposições epistemológicas.
Para o cético, então, nós conhecemos muito menos, ou nada, do que a perspectiva
standard da epistemologia afirma sermos capaz. O Cético coloca em dúvida a existência do
conhecimento e coloca em dúvida nossa capacidade de conhecer as coisas. Afinal, dúvida e
incerteza são notas marcantes do cético.
Entretanto, não se pode esquecer que o principal objetivo da epistemologia não é refutar
o ceticismo e provar que o conhecimento existe, mas desenvolver uma teoria geral estabelecendo as
condições sob as quais as pessoas têm conhecimento e crenças racionais. Não é plausível
desenvolver uma ciência com o único objetivo de refutar teses contrárias.
5
Willians, Michael. The Blackwell Guide to Epistemology.
vislumbra-se que são filhas da modernidade. São criação da razão científica, tendo como dogma a
verdade e a certeza e como sombra a incerteza como imanência. Assim como toda a construção,
então, este paradigma epistemológico é passível de desconstrução (Jacques Derrida).
Percebe-se, portanto, que o papel dos mitos era descrever o mundo antigo na cabal
impossibilidade de apreender o mundo em um conceito. Os conceitos servem para pacificar o
espírito, enquanto os mitos o desafiam, instigando-lhe a percepção. As fórmulas, redutoras por
natureza, possuem exclusiva função de sempre garantir certeza nos resultados esperados.
Com base no autor supracitado, pode-se concluir que o Ceticismo é a razão consciente
do dogmatismo que não tem consciência das suas limitações. Enquanto a Epistemologia continuar
trabalhando com a matriz das certezas e verdades totalitárias, o Cético se fará presente com a
ameaça da incerteza.
6
Aronne, Ricardo. Razão e Caos no Discurso Jurídico e outros ensaios de direito civil
constitucional. Porto Alegre. 2010.
Por fim, cumpre salientar que o convite que fiz para um tango com cético não seria
exarado para o epistemólogos, afinal para dançar tango é preciso improviso, sensibilidade e paixão,
habilidades que o frio e calculista dogmata não possui.