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Batatas

As pragas da
BATATA
A caracterização morfológica, os
aspectos biológicos, o hábito de vida,
os danos causados e o manejo
de pragas na batata são abordados
por entomologista da Embrapa

E
m geral, a lavoura de batata é habitada por uma ra- fator de redução Afídeo verde
zoável quantidade de espécies de ácaros e insetos. A econômica da pro- Myzus persicae alado
diversidade e quantidade variam de região para dução. Todavia, as
região, devido ao modo de cultivo, cultivares, clima etc. pragas da parte área
Tanto a parte aérea como a parte subterrânea da batata é da batata não podem
hospedeira de diversas espécies, as quais podem causar ex- e não devem ser consideradas de ocorrência generalizada,
pressivos danos, dependendo das condições climáticas e o que levaria ao uso sistemático de medidas imediatistas
da variedade cultivada. No entanto, a importância de cada de controle (= aplicação de inseticidas). Há evidências de
espécie varia nas diferentes regiões produtoras dos três que grande parte da batata cultivada no Sul, especialmen-
Estados do sul do Brasil, embora se constatem diversas te na safra de outono, não necessita de aplicação sistemá-
espécies de pragas, a quantidade relativa é, em geral, pe- tica de inseticida na parte área.
quena. Pragas extremamente graves e limitantes em ou- A tomada de decisão para o controle de pragas aéreas
tras condições ainda não são problemas nesses Estados, através de inseticidas, deve basear-se na constatação e no
incluindo-se a Traça da Batata e a Mosca monitoramento da lavoura. Embora
Minadora. Não há dúvidas de que para não se tenha determinado os níveis
se manter esta inestimável vantagem, econômicos das perdas, os determinan-
tem-se que, cada vez mais, usar técnicas Afídeo verde tes para a tomada de decisão e de ação
de controle alternativas aos inseticidas, Myzus persicae áptero de controle devem basear-se na cons-
minimizando e racionalizando o seu uso, tatação e na extensão da presença.
tanto no espaço como no tempo. As principais pragas que atacam o siste-
O dano direto de pragas na batata deve-se: a) ma subterrâneo da batata (raízes, estolões e tu-
à alimentação nas folhas (folíolos), com redução bérculos) são as larvas de Vaquinha e de Pulga,
da área fotossintética; b) à alimentação nas raízes além do Bicho Arame, Coró e Lagarta Rosca (Fi-
e estolões, com redução da área de produção; c) à gura 1).
alimentação nos tubérculos, com redução da pro- O dano causado pelas pragas de solo, ge-
dução quali-quantitativa. ralmente, refere-se à perda da aparência do
O dano indireto é causado devido à trans- tubérculo, embora quando ocorre ataque pre-
missão e à predisposição da planta para a in- maturo nos estolões e tubérculos, soma-se
cidência de doenças viróticas, bacterianas e uma considerável redução de produção.
fúngicas. Assim, os ácaros e insetos pragas Em geral, o mercado de batata está cada
da batata são importantes comprometedo- vez mais exigente quanto à aparência do
res da produção e da produtividade da la- produto, incluindo a quase total ausên-
voura. cia de furos e de outras lesões no tubér-
As principais pragas da parte aérea da ba- culo, daí a grande importância do contro-
tata são: Vaquinha, Burrinho, Pulga, Traça, Pul- le das pragas de solo.
gão, Mosca Minadora e Ácaro (Figura 1). Ocorrem Este artigo trata da caracterização morfológi-
de maneira localizada e, sob certas condições de clima, ca, de aspectos biológicos, do hábito de vida, do
cultivar, sistema de plantio etc., constituem-se em um dano causado e do manejo das pragas da batata:
1) CIGARRINHA Empoasca spp. Assim como os pulgões, as cigarrinhas também podem
Os adultos são insetos pequenos, com cerca de três milí- transmitir viroses.
metros de comprimento, com corpo alongado. As asas, quando A infestação na lavoura é desuniforme e acontece em rebo-
fechadas, formam um tipo de “telhado” lateralmente ao corpo. leiras. As formas de se constatar a presença de cigarrinhas po-
São de cor geral verde-pálida a verde-prateada. dem ser por amostragem de folhas e visualização direta na par-
Vivem na face inferior dos folíolos e alimentam-se da seiva te inferior do folíolo, mais junto à nervura central; através de
da planta. Também injetam saliva tóxica na planta, causando a redes entomológicas; armadilhas amarelas de água ou pegajo-
paralisação do crescimento, o encarquilhamento e a necrose sas. Ao se tocar nas plantas infestadas, as cigarrinhas voam
dos folíolos e folhas. Esta necrose típica é de cor marrom com imediatamente a curtas distâncias, em vôos rápidos e diretos.
bordas amarelas, chegando até as margens dos folíolos. As plan- O ataque de cigarrinhas em lavouras de batata é esporádi-
tas atacadas podem morrer prematuramente. co e parece ser favorecido por clima quente e úmido.

2) PULGÕES
Fig. 03 - Desenho esquemático do
Algumas espécies de pulgões colonizam as plantas de bata- adulto alado e dano do Pulgão
ta, destacando-se o Myzus persicae (Sulzer); Macrosiphum eu-
phorbiae (Thomas); Aphis gossypii (Glover) e o Aulacorthum
solani (Kltb.); sendo as duas primeiras espécies as mais impor- O M. euphorbiae é
tantes. outro importante ve-
O M. persicae é capaz de transmitir mais de 100 espécies de tor de viroses em
vírus de plantas em, aproximadamente, 30 famílias diferentes, batata e capaz de
incluindo culturas de caráter econômico no mundo inteiro, transmitir o vírus
sendo considerado como o mais importante vetor de viroses na PLRV e o PVY.
cultura da batata. É vetor de vírus tais como o PLRV, o PVY, o Possui o formato do
PVA e o PVM. Esses vírus são apontados como os mais impor- corpo ovóide alonga-
tantes vírus da batata e os principais responsáveis pela degene- do, de coloração geral
rescência da batata. esverdeada, com extremida-
Nas regiões subtropicias e tropicais, o M. persicae se repro- des do corpo escuras. Quando
duz de forma assexuada durante o ano todo, porém, machos alado, possui a cabeça e o tórax verde-amarelado e o abdômen
de M. persicae foram capturados em armadilhas em várias regi- rosa-esverdeado, sem manchas.
ões do Brasil, o que caracteriza a possibilidade da presença de Os prejuízos causados pelos pulgões em batata não se res-
populações sexuadas nos hospedeiros primários durante os tringem à transmissão de viroses. A alimentação de M. persi-
meses mais frios do ano, principalmente na região sul do país. cae, na folhagem, podem ser severas, dependendo da ocasião
Os pulgões se apresentam em duas formas básicas quanto na qual ocorre a infestação; durante o período de desenvolvi-
à estrutura de seu corpo, ou seja, têm formas aladas (com asas) mento da planta. A saliva de M. persicae e de M. euphorbiae
e ápteras (sem asas). Isto acontece, basicamente, em resposta a tem ação toxigênica nas plantas, induzindo o aparecimento de
condições do local onde estão vivendo, quer seja da planta em necroses, principalmente ao longo das nervuras.
si, quer seja do clima. Geralmente, quando acontece uma con- A colonização de uma planta de batata no campo, por pul-
dição de estresse da planta hospedeira ou uma mudança re- gões, é considerada como dependente do estado fisiológico da
pentina da temperatura, surgem as formas aladas. planta. Assim, o M. persicae tem o seu foco inicial de coloniza-
O M. persicae, sem asas, tem o corpo de formato ovóide, ção localizado invariavelmente nas folhas inferiores da planta,
de cor geral verde clara a verde trans- e daí, se vai dispersando para as folhas da parte superior à me-
parente, sem manchas no corpo. Po- dida que estas passam para o estágio senescente. O M. euphor-
Fig. 07 - Desenho rém, em muitas regiões produtoras biae prefere as folhas superiores, brotos e as inflorescências das
esquemático do de batata têm se observado plantas de batata.
adulto do burrinho populações ápteras No armazém, os brotos de batata semente podem ser colo-
de coloração rosada nizados, principalmente, por A.solani e M. persicae.
ou avermelhada, so- No monitoramento de pulgões alados, infestantes ou não
bretudo nos cultivos de da cultura da batata, são utilizados diversos tipos de armadi-
outono. A forma alada man- lhas, em muitas das quais a atração exercida pela cor tem fun-
tém a cor geral do corpo verde cla- damental importância. Os pulgões que infestam as plantas de
ra, com tonalidades amareladas, ro- folhas largas são mais atraídos pela cor amarela (amarelo caná-
sadas, roxas e com manchas escuras rio), incluindo M. persicae e M. euphorbiae. Baseadas na atra-
características no dorso. A cabeça e ção pela cor, são comumente utilizadas as armadilhas amarelas
o tórax são de cor preta (Figura 3). de água e adesivas planas e cilíndricas. As armadilhas de suc-
A duração do ciclo de M. persi- ção, auxiliadas ou não pela cor, são muito utilizadas em outros
cae, com temperatura média entre 23 e países.
240C, é de cinco a oito dias, com longe- O número de pulgões coletados em armadilhas, principal-
vidade média de 20 dias. A fêmea é capaz de produzir até 80 mente M. persicae, tem relação com a infecção de PLRV nas
descendentes. plantas de batata, considerando a idade das últimas, na qual se
pode ser conhecido através de um estudo com armadilhas. A
Fig. 01 - Local da incidência presença de ventos constantes é uma característica desejável.
das principais pragas na A adubação deve ser equilibrada, evitando-se, principalmen-
planta de batata te, o uso excessivo de nitrogênio, o qual mascara os sinto-
mas de viroses e beneficia o crescimento das colônias de
pulgões. Evitar o estresse hídrico, que favorece a alimenta-
ção dos pulgões até certo ponto. Durante o cultivo, as
plantas com sintomas de viroses e também as plantas
voluntárias e plantas daninhas devem ser erradicadas
e descartadas longe da área de produção. A dessecação
das ramas deve ser realizada não somente para parar o
crescimento dos tubérculos como também para evitar a
descida do vírus para os mesmos.
No controle químico M. persicae deve-se optar pelo uso de
inseticidas com modos de ação distinta, em rotação, na parte
aérea. Inseticidas granulados ou aplicados via líquido po-
dem ser utilizados no sulco de plantio ou após a emergência
inicial das plantas ou, ainda, durante a amontoa. Existem
estudos que comprovam a redução na transmissão de viroses
não persistentes com a aplicação sistemática de óleo mineral.
Porém, as dosagens e o número de aplicações não estão ainda
definidos para as nossas condições, o que pode acarretar fito-
toxicidade, dependendo, principalmente, da temperatura do
ambiente e da variedade cultivada.
O PLRV, vírus do tipo persistente ou circulativo, é con-
trolado eficientemente com inseticidas. Esse vírus não é
transmitido durante a picada de prova que o pulgão faz na
planta logo após o pouso, dando ao inseticida a oportunidade
de atuar. O pulgão adquire o vírus ao se alimentar em plantas
infectadas e, após um período de latência, passa a transmiti-lo
durante toda a sua vida.
O controle de PVY através de inseticidas é limitado. O PVY,
vírus não persistente ou não circulativo, é transmitido durante
a picada de prova, não permitindo a atuação do inseticida an-
tes que a transmissão seja efetuada. O pulgão também adquire
o vírus em plantas infectadas, porém não há período de latên-
cia e o inseto permanece virulento até, aproximadamente, uma
hora.
As falhas no controle de M. persicae, na maioria das vezes,
estão ligadas ao seu hábito de colonizar preferencialmente as
folhas inferiores das plantas, o que dificulta a penetração da
observou a revoada, porém não há relação com o PVY. Isso se calda inseticida e também a translocação do mesmo em folhas
deve, provavelmente, ao fato de que o PVY é transmitido por mais velhas. O momento da intervenção e a qualidade da pul-
diversas espécies de pulgões vetores de vírus. No entanto, não verização são fundamentais para o controle desse inseto.
há um nível confiável de controle de pulgões em batata basea- No entanto, as falhas no controle de M. persicae também
do nas coletas através de armadilhas ou na população de pul- podem estar relacionadas ao uso indiscriminado de inseticidas
gões nas plantas, para as condições brasileiras. na cultura da batata. Essa prática, além de acarretar danos ao
A utilização de dados climáticos e do monitoramento atra- meio ambiente e elevar os custos de produção, contribuem na
vés de armadilhas pode resultar na previsão de revoadas de seleção de populações de M. persicae resistentes a inseticidas.
pulgões vetores de viroses em batata. As maiores revoadas de Nas principais regiões produtoras de batata do Brasil têm sido
M. persicae têm ocorrido quando a temperatura média encon- observadas grandes populações do pulgão, particularmente no
tra-se entre 18 e 240C e coincidido com a existência de plantas final de ciclo, em áreas onde foram aplicados diversos insetici-
jovens em campos de batata semente, por exemplo. das em várias ocasiões. A realidade é que de usados os insetici-
O controle de pulgões em batata semente deve ser muito das passaram a ser abusados no controle de pulgões.
rigoroso, não permitindo o desenvolvimento de colônias nas A presença de populações de M. persicae resistentes a inse-
plantas, já nas áreas de batata consumo, pode-se aceitar popu- ticidas, em áreas de produção de batata semente, pode resultar
lações maiores. No entanto, não há nível de controle estabele- no aumento de viroses.
cido para as condições brasileiras. É importante ter em mente que, no sul do Brasil, as infes-
Para as áreas de produção de batata semente é importante tações mais constantes e severas de pulgões acontecem no pe-
adotar uma série de medidas visando o controle cultural dos ríodo de plantio da primavera e a ocorrência dá-se, geralmen-
pulgões e das viroses. Inicialmente, a área escolhida deve apre- te, em manchas (reboleiras). Por essa razão, a lavoura deve ser
sentar baixa degeneração ou baixa atividade dos vetores, o que monitorada, através de armadilhas e/ou inspeção visual.
3) MOSCA MINADORA quer na cultura da batata quer em diver-
sas outras. Acredita-se que isso deva acon-
A mosca minadora, Liriomyza huidobrensis (Blanchard), é tecer devido ao ciclo de vida curto, a alta
uma séria e limitante praga da batata em muitos países das mobilidade, alta capacidade reprodutiva, os
Américas e no Caribe. O uso intensivo de inseticidas fez com ovos e larvas estarem protegidos no inte-
que a mosca minadora atingisse níveis populacionais elevados rior das folhas, a não presença de ini-
e, em certos casos, chegasse a inviabilizar o cultivo da batata, migos naturais de alta eficácia nas la-
como aconteceu em algumas regiões do Peru. Citam-se inú- vouras e o uso intensivo de insetici-
meros casos de resistência desta praga a inseticidas. A possibi- das.
lidade do desenvolvimento de resistência a inseticidas é gran- A incidência e o desenvolvimen-
de onde quer que seja, todavia não há comprovação de caso de to desta praga depende da cultivar de ba- Fig. 04 - Desenho
resistência da mosca minadora na cultura da batata no Brasil. tata, porém, no Brasil, ainda não se sabe esquemático do adulto e
O adulto é uma pequena mosca, de cerca de 2 mm de com- a duração do ciclo nas principais culti- dano da Mosca Minadora
primento, de cor marrom-escura a preta, com brilho metálico vares comerciais de batata, todavia, em
e com características manchas amarelas no dorso e na cabeça trabalhos experimentais a variedade Mo-
(Figura 4). A larva é branca-creme, sem pernas e corpo liso e nalisa foi a mais resistente e a
brilhante. O ciclo de vida é de cerca de 40 dias no outono e de Atlantic a mais suscetível,
cerca de 25 na primavera, porém pode ser completado em so- tanto em áreas tratadas
mente 19 dias, em períodos muito quentes. Várias gerações com inseticidas, quanto
anuais ocorrem e cerca de 4-5 em cada ciclo vegetativo da ba- em áreas não tratadas. As
tata podem ser desenvolvidas, razão pela qual é problema mai- variedades Bintje, Jaette-Bin-
or nos plantios de verão. tje e Crebella assumiram po-
A mosca minadora infesta e se desenvolve em mais de 40 sições intermediárias quan-
hospedeiros, tais como beterraba, espinafre, girassol, melan- to à incidência de mosca mi-
cia, melão, pimentão, couve flor, brócolis, alfafa, feijão, tomate nadora. A ocorrência da mosca mi-
e fumo, o que garante uma considerável e constante persistên- nadora durante tempo seco e quente favorece o rápido desen-
cia no agrossistema. volvimento e dano.
O problema com a mosca minadora tem se tornado mais Os adultos são de hábitos diurnos e muito ativos nas horas
constante e maior nos últimos anos em várias regiões do Brasil, da manhã.
O dano é causado pelo adulto e pela e larvas são mais ativos. O uso de bicos e barras de pulverização
larva. As moscas fêmeas fazem dois inadequadas com a localização, o modo de ataque da mosca mi-
tipos de puncturas ou “picadas” nos nadora e a fase do desenvolvimento das plantas, tem resultado
folíolos da batata, para oviposição e na ineficácia da aplicação de inseticidas pois, por exemplo, se
alimentação. As puncturas ou “pica- aplicado somente na camada superior de folhas, a eficiência só
das” têm sido utilizadas como indi- poderia ser observada na parte superior das plantas, embora a
cativo da presença e para o controle maior e mais intensa infestação estivesse nas partes inferiores,
da mosca. A constatação da presen- onde ocorrem as primeiras minas. Dosagens inferiores ou supe-
ça de puncturas ou “picadas” pode riores às recomendadas, o momento e o modo da aplicação têm
Fig. 05 - Desenho ser importante no monitoramento sido as causas dos fracassos no controle da mosca minadora e,
esquemático do adulto, da mosca minadora. principalmente, da necessidade de repetições de aplicações na
lagarta e dano da Traça As minas, conseqüentes do mesma planta e na mesma safra.
da Batata (P. operculella) hábito do movimento e da Não há, até o presente, nível de con-
alimentação das larvas, trole para a mosca minadora na cultura da
aparecem primeiro nas batata. Geralmente, o início das aplicações
folhas baixeiras das de inseticidas é em base da presença de
plantas, para depois, adultos, puncturas ou “picadas”, de mi-
surgirem nas superio- nas etc.
res. Armadilhas adesivas podem ser uti-
A oviposição ocor- lizadas para monitorar a mosca adulta,
re mais pela manhã e é porém ainda não há uma relação esta-
feita na face inferior dos belecida entre as capturadas e o nível de
folíolos. Para tal, a fêmea in- controle. Para efeito de monitoramento e
troduz o ovipositor no folíolo, também de controle é usado, em alguns pa-
depositando o ovo e causando íses, armadilhas feitas com lonas plásticas,
uma lesão. A cicatrização desta madeiras, galões ou outros recipientes
lesão produz um tipo de verruga, redondos de cor amarela, branca ou
que também é uma característica verde e untada com graxa (preferenci-
indicativa, junto com as puncturas ou “picadas”, do ataque da almente transparente) ou vaselina indus-
minadora. Plantas com muitas posturas e verrugas tornam-se trial. Independente da cor da armadi-
de cor prateada-acinzentada. lha, estas coletam mais moscas machos
As “picadas”, puncturas, verrugas e minas ocasionadas pela do que fêmeas, porém as armadilhas
mosca minadora reduzem a área foliar, causam a morte de folío- amarelas coletam maiores quantidades
los, das folhas ou da planta inteira ou debilitam as plantas, tor- de moscas fêmeas, o que é uma vantagem
nando-as mais susceptíveis a doenças fúngicas. em termos de retardar a disseminação
O controle com inseticidas granulados sistêmicos aplicados da infestação na planta ou na la-
na ocasião da amontoa, certamente, manterá as plantas livres da voura.
minadora, pelo menos, por cerca de 30 dias. O manejo dos restos cul-
Todavia, o controle químico da mosca minadora tem sido turais através da sua incorpo-
realizado com inseticidas fosforados, carbamatos, piretróides, re- ração no solo é de grande im-
guladores de crescimento e outros, tanto de uso isolados como portância no manejo, pois esses abri- Fig. 06 - Desenho
em mistura de tanque. gam o estágio de pupa ou larva da mosca esquemático do
É fundamental, tanto como a escolha do inseticida, a hora e minadora, servindo de fonte para a disse- adulto, lagarta e
a forma de aplica-lo na lavoura. Aplicações no período da ma- minação para outras áreas da lavoura ou dano da Traça da
nhã tendem a ser muito mais eficazes, pois é quando os adultos para áreas vizinhas. Batata (T. absoluta)

4) TRAÇA Phthorimaea operculella constitui um sério problema em


regiões de clima quente, danificando a folhagem e os tubércu-
Duas espécies de traças Phthorimaea operculella (Zeller) los de batata, sendo que temperaturas entre 25oC e 30oC são
eTuta (Scrobipalpuloides) absoluta (Meyrick), são mencionadas favoráveis ao desenvolvimento da espécie.
atacando a batata na América do Sul. P. operculella, que tem P. operculella ataca os folíolos, os talos e os tubérculos, na
distribuição cosmopolita e T. absoluta, que restringe-se aos pa- lavoura e no armazém, enquanto que T. absoluta restringe-se
íses sul-americanos. Ambas espécies existem no Brasil, porém somente aos folíolos. Além da batata, essas duas espécies de
o ataque em batata é esporádico e localizado. Não se conhece traças atacam diversas outras culturas, tais como o tomate,
caso em que a traça da batata seja uma praga generalizada nas fumo, berinjela, beterraba e pepino.
lavouras. Assim, é importante conhecer as suas características O ciclo de vida se completa em 20 a 30 dias. Anualmente,
e seus danos, para certificar-se da efetiva presença. podem desenvolver-se diversas gerações, dependendo da dis-
A mariposa destas duas espécies tem o corpo de cor castanha- ponibilidade de hospedeiro e da temperatura. Quanto mais
cinza-pálida e algo prateada, com manchas mais escuras nas asas, quente, maior e mais rápido é o desenvolvimento.
que lembram um X na espécie P. operculella, com franja de pêlos Os ovos são pequenos (0,5 mm), de formato oval-achata-
nas bordas das asas e longas e finas antenas (Figuras 5 e 6). do, de cor branca-creme e são depositados em diversos locais
da planta, tais como na face ventral do profundos retardam a emergência dos
folíolo, nos talos, nos tubérculos, além brotos, prolongando o ciclo da
do armazém, em caixas, paredes, ma- cultura e, conseqüentemente, o
deiras, estrados. Normalmente, a pos- tempo em que as plantas perma-
tura é de um só ovo, porém pode ocor- necem suscetíveis ao ataque da
rer a oviposição de maior número. Em praga. Por outro lado, plantios
cerca de cinco dias após o ovo ter sido de- muito rasos facilitam o acesso de
positado, nascem as lagartinhas. adultos e lagartas da traça aos tubér-
As lagartas são fáceis de serem reconheci- culos, principalmente no final do ciclo
das. Quando bem desenvolvidas, medem cerca de da cultura, quando os camalhões já estão
1 cm de comprimento. O corpo tem coloração branca-ver- desgastados. Realizar uma amontoa adequada.
de-amarelada cabeça marrom escura. A superfície dorsal da la- A amontoa é importante barreira física , dificul-
garta é de cor esverdeada à rosada e algo pálida-translúcida. A tando o acesso de adultos e lagartas da traça aos
fase de lagarta dura cerca de 12 a 14 dias. tubérculos e deve ser realizada de modo a evi-
As mariposas voam, princi- tar-se a formação de fendas e gretas. Com o
palmente à noite. Durante o dia crescimento das plantas, o engrossa-
se refugiam em lugares protegi- mento das hastes e desenvolvimen-
dos da luz, razão pela qual é difí- to dos tubérculos mais superficiais,
cil de se observar as mariposas das abrem-se fendas e rachaduras nos
traças durante o dia. Quando moles- camalhões, principalmente junto
tadas, durante esse período, têm vôos ao colo das plantas, por onde as fê-
curtos e desorientados. meas e lagartas da traça podem alcançar os
As traças atacam a batata na lavoura, onde tubérculos mais profundos. Maior importân-
as lagartas penetram e causam minas ou galerias cia ainda tem a amontoa, quando conside-
nos folíolos, talos e tubérculos. Somente ra-se que há variedades que têm por
as lagartas causam danos. característica emitir estolões super-
As lagartas penetram na folha ficiais; estas são geralmente mais
e se alimentam do parênquima, suscetíveis ao ataque da traça do
minam internamente os talos, e es- que as variedades que lançam es-
tes danos causam a perda do teci- tolões mais profundos. Em so-
do foliar, ruptura dos talos e a mor- los úmidos, há uma adesão mai-
te dos pontos de crescimento da plan- Fig. 09 - Desenho esquemático do adulto, or das partículas, com conseqüente
ta. Os tubérculos expostos são facilmen- lagarta e dano da Lagarta Rosca redução de fendas e gretas. Assim, a irri-
te atacados na lavoura. As mariposas colo- gação por aspersão, diminuindo as rachadu-
cam seus ovos juntos às gemas do tubérculo e, para isso, po- ras no solo, dificulta o acesso de adultos e lagartas aos tubércu-
dem entrar nas cavidades do solo para efetuarem a postura. los. Em áreas em que se dispõe de irrigação por aspersão, deve
As lagartas fazem galerias ou túneis no interior do tubér- manter-se o solo úmido, mesmo após a dessecação das plantas,
culo, sendo irregulares na forma, tamanho e profundidade. As como medida de prevenção aos danos nos tubérculos, princi-
lagartas emergem e penetram na batata através destes locais. palmente se o período entre a dessecação e a colheita for alon-
Sobre o tubérculo, junto aos olhos ou gemas, ficam excremen- gar-se. Adicionalmente, as lagartas não toleram condições de
tos característicos, ou seja, do tipo pó de serragem grudada em umidade prolongada. Desta forma, o uso de irrigação durante
finos fios “tipo de seda”. períodos de seca, favoráveis à praga, constitui-se em eficiente
A infestação ocorre na lavoura e se alastra no armazém, rápi- método de controle Eliminar outros hospedeiros da traça das
da e intensamente, especialmente em ambiente escuro, onde proximidades das lavouras, principalmente outras espécies de
ocorre os maiores danos. Uma lagarta pode atacar e destruir mais solanáceas. Restos de cultura, tubérculos não colhidos ou des-
de um folíolo, porém ataca somente um tubérculo ou um talo. cartados durante a colheita e plantas voluntárias (socas) são
Dentre as principais pragas da batata, P. operculella talvez fontes de alimento e abrigo para a traça, mantendo populações
seja a espécie com as maiores possibilidades de um eficiente da praga nas áreas de plantio, entre uma safra e outra. Não
manejo, devido às diversas táticas de controle disponíveis, se- atrasar a colheita, pois após a dessecação das plantas as lagar-
jam práticas culturais, uso de feromônios e inimigos naturais tas da traça descem para o solo, infestando os tubérculos, e as
ou controle químico. Por exemplo: Plantar sementes sadias. Den- fêmeas, na ausência de plantas verdes, buscam os tubérculos
tro dos armazéns os tubérculos continuam sendo infestados expostos e os mais superficiais para realizarem as posturas.
pela traça. O plantio destes tubérculos reconduz ovos, lagartas Durante a lavagem e classificação, separar e eliminar os tubér-
e pupas para o campo, constituindo importantes focos de dis- culos infestados. Armazenar em locais limpos, desinfetados e
seminação da praga na lavoura. Adicionalmente, sementes sa- protegidos. Populações da traça encontram condições favorá-
dias originam plantas com maior capacidade de suporte ao ata- veis em armazéns sujos e mal manejados. A limpeza e desin-
que de pragas e doenças, potencialmente mais produtivas, com festação do armazém e caixarias, através de pulverizações e
maior número de hastes e de tubérculos, reduzindo-se o per- expurgos, evitará o plantio de tubérculos infestados e a conse-
centual de dano causado pela traça. Preparar adequadamente o qüente reinfestação das lavouras pela traça. O uso de telas im-
solo evita a formação de torrões que servirão de abrigos a adul- pedindo o acesso dos adultos da traça aos armazéns, às caixas e
tos da traça e possibilita o plantio a uma profundidade ade- sacarias, após a desinfestação, evita novas posturas nos tubér-
quada. Plantar na profundidade adequada à época. Plantios muito culos. O armazenamento em câmaras frias reduz a infestação
nos tubérculos, uma vez que o ciclo de vida de P. operculella é mentar-se e morrendo em poucos dias.
interrompido em temperaturas inferiores a 10 o C. Armadilhas Embora eficientes todas essas táticas aqui discutidas, o con-
luminosas equipadas com lâmpadas “luz negra UV” têm sido trole da traça baseia-se larga e quase que exclusivamente no uso
empregadas com sucesso em armazéns para atrair e eliminar de agroquímicos. Princípios ativos dos grupos dos carbamatos,
adultos da traça. fosforados, piretróides, além de fisiológicos e microbianos, estão
Além destas práticas culturais e os cuidados durante o be- registrados para o controle de adultos e lagartas de P. operculella
neficiamento e armazenamento dos tubérculos, duas outras em batata e outras culturas. O correto emprego destes produtos
táticas de controle podem ser inseridas em um programa de envolve o uso das doses recomendadas, as épocas corretas de
manejo da traça da batata: o uso do feromônio sexual e o con- aplicação, a observância dos períodos de carência e a rotação dos
trole biológico. ativos de modo a evitar-se o surgimento de populações resisten-
Lagartas de P. operculella têm entre seus inimigos naturais tes aos inseticidas. Os próprios hábitos das lagartas, alimentan-
várias espécies de parasitóides e predadores, que contribuem do-se em folhas baixeiras, protegidas no interior de galerias e
efetivamente para a redução da população da praga nas lavou- ocultando-se em “casulos”, torna mais difícil aos inseticidas atin-
ras. Contudo, em termos práticos, o controle biológico da tra- girem com eficiência o alvo biológico. O uso de bicos leque, de
ça da batata tem se fundamentado no uso do Baculovirus phtho- preferência AI, pressão adequada para o tipo de bico utilizado e
rimeae. Tubérculos são tratados com formulações do vírus e as velocidade de pulverização compatível determinarão uma maior
lagartas, após infectadas, tornam-se lentas, deixando de ali- eficiência no controle químico da traça da batata.

5) BURRINHO Epicauta atomaria (Germar) do. Comem vorazmente as folhas da batata, principalmente as
mais jovens, situadas no terço superior da planta. A infestação
São besouros de corpo oval-alongado, cor cinza e com várias ocorre em manchas ou focos dentro da lavoura, muito rara-
manchas escuras nas asas. O aspecto geral é aveludado (Figura 7). mente estendendo-se por grandes áreas. Sob determinadas con-
As fêmeas depositam os ovos no solo, sempre em grupos de dições, como no início do período vegetativo, em lavouras pe-
50 a 80. As larvas se desenvolvem no solo, porém não atacam quenas, a desfolha brusca e intensa causada por burrinhos pode
ou comem qualquer parte da planta de batata. Os adultos nor- ser total, ficando somente as nervuras das folhas e talos da
malmente chegam em grandes revoadas (bando) na lavoura de planta, o que, sem dúvidas, levaria à redução da produção e até
batata e também, curiosamente, saem, subitamente, em ban- a morte precoce da planta.

6) BICHO DA TROMBA DE ELEFANTE Phyrdenus muriceus (Germar)

Os adultos são cascudos de tamanho médio, corpo com- ou menos do tamanho do


pacto, de cor geral cinza-escuro. A superfície do corpo é cober- seu próprio corpo). Ao se-
ta de tipo de “espinhos” e tem aparência fosca. Possuem, na guirem comendo a polpa
parte inferior da cabeça, uma longa “tromba”, algo que pode do tubérculo, produzem
caracterizá-los e daí, o seu nome vulgar de bicho da tromba de um tipo de câmara, onde
elefante. As larvas são brancas-creme, com muitos pêlos na as larvas permanecem.
superfície do corpo, cabeça de cor marrom-escura. Quase sem- Não se co-
pre permanecem encurvadas, lembrando um C (Figura 8). A nhece o compor-
infestação tem sido freqüente nas lavouras de batata da região tamento, ciclo de
sul do RS. vida e demais infor-
Os adultos podem consumir as folhas, deixando-as rendi- mações sobre esta
lhadas, bem como atacar e perfurar os talos da planta de bata- praga, em geral, espo-
ta. As larvas atacam os tubérculos, cavando galerias curtas (mais rádica da batata.

7) LAGARTA ROSCA Agrotis spp.


am no solo, junto à
Os adultos são mariposas, de cor geral cinza-escura, com planta de batata. Fig. 08 - Desenho esquemático do adulto,
manchas escuras e faixas mais claras nas asas (Figura 9). A A infestação de larva, dano na folha e tubérculo do bicho
lagarta é de cor cinza-escura, com manchas claras no dorso, lagarta rosca está in- da Tromba de Elefante
corpo liso e brilhante. fluenciada por diver-
As fêmeas adultas depositam os ovos no solo e nas partes sos fatores, tais como a textura do solo (ocorre especialmente
inferiores (rente ao solo) da planta de batata. As larvas, duran- em solos soltos e arenosos); a umidade do solo (solos de boa
te os primeiros estágios de desenvolvimento, se alimentam das drenagem e capacidade de se manterem arejados); temperatu-
folhas que estiverem junto ao solo, e após desenvolvidas, pas- ra do solo (em períodos secos e de intensa insolação, pode ha-
sam a agir como lagartas cortadeiras, cortando os talos das plan- ver mortalidade e/ou redução de dano); hospedeiros alternati-
ta, atacando e consumindo os tubérculos mais superficiais. As vos antecedentes e precedentes à batata que podem favorecer a
lagartas são ativas durante a noite, e, durante o dia, se refugi- incidência e quantidade de lagarta rosca.
8) ÁCARO BRANCO Polyphagotarsonemus latus (Banks)

A fêmea adulta possui o corpo oval e convexo no dorso, (após a amontoa). Em- Fig. 10 - Desenho esquemático
mede cerca de 0,25 mm de comprimento por 0,15 mm de lar- bora a infestação do adulto fêmea e macho, ninfa
gura. A cor do corpo é muito variável, de branca-amarelecida, sempre se inicie em e dano do Ácaro Branco
marrom-amarela a verde-clara ou escura. manchas (rebolei-
O macho adulto apresenta as mesmas cores da fêmea e tem ras), pode-se alastrar
uma característica marcante no corpo, uma reentrância lateral rapidamente por áreas
(Figura 10). maiores ou toda a la-
As fêmeas depositam os ovos nos brotos terminais e na face voura.
ventral das folhas jovens, preferencialmente junto à nervura cen- As plantas infestadas
tral da folha, formando colônias. pelo ácaro tornam-se de
Os machos têm o comportamento de transportarem as fême- cor verde-escura, sem
as para outras partes da planta, o que ajuda a alastrar a infestação. brilho e de aspecto cori-
Há consenso que a infestação do ácaro branco em batata áceo, parecendo queima-
seja decorrência do desequilíbrio causado pelo uso constante e das. Em seqüência a essa
intenso de inseticidas na parte aérea da planta, como por exem- série de sintomas, as plantas
plo, para controlar a mosca minadora. morrem, podendo não formar
A infestação do ácaro branco ocorre principalmente durante tubérculos ou ficarem esses
períodos secos e em lavouras com desenvolvimento avançado muitos pequenos.

9) PULGA Epitrixspp.

Considerados, até recentemente, como de menor im- ram observados, em média, 70


portância, os prejuízos causados por insetos estavam res- adultos da pulga por planta.
tritos à bataticultura orgânica. Recentemente, registros de Períodos secos e quentes, du-
danos mais expressivos em lavouras convencionais demons- rante a primavera, parece favo-
tram o seu potencial como praga da batata. Considera-se a recerem a incidência da pulga.
Epitrix fasciatus como a espécie mais freqüente, mas pro- Infestações no período entre
vavelmente outras espécies deste gênero (e mesmo de gê- o início da brotação até antes da
neros afins) estejam presentes nas lavouras de batata, cau- amontoa são as potencialmente
sando danos em folíolos e tubérculos. mais prejudiciais, podendo cau-
Os adultos são besouros com cerca de dois mm de com- sar dano econômico à cultura.
primento, corpo ovalado, coloração castanha escura a pre- Após esta fase, não haveria mais um nível de desfolha que
ta, brilhantes (Figura 11). Ativos durante o dia, disper- viesse a comprometer a produção.
sam-se, especialmente nas ho- As fêmeas penetram o solo através de fendas ou racha-
ras mais quentes do dia. Vivem duras, ovopositando logo abaixo da superfície, nas proxi-
de 50 a 90 dias. Polífagos, ata- midades das plantas. Os ovos têm cerca de 0,5 mm, cor
cam o fumo, batata, feijão e mi- branca, aspecto brilhante e são depositados em grupos.
lho, entre outros hospedeiros. Após uma a duas semanas eclodem as larvas. De colo-
Alimentam-se das folhas, per- ração branca, são cilíndricas, com a cabeça castanha. Ao
furando-as, abrindo orifícios eclodirem medem cerca de 0,5 mm e em seu máximo de-
arredondados, com um a três senvolvimento atingem cerca de 3,5 mm.
mm de diâmetro. Em plantas A fase larval transcorre no solo. Durante este período,
jovens pode haver o desfolha- as larvas alimentam-se de raízes, estolões e tubérculos. So-
mento total, uma vez que los arenosos e bem drenados podem favorecer as ativida-
o ataque da praga é ge- des da larvas, com conseqüente aumento de danos.
ralmente massivo, Nos tubérculos, escavam uma rede de estreitas galeri-
como os já ocorridos as, sob a pele, que acabam por romper-se e escurecer. Nos
em lavouras de batata pontos aonde estas galerias cruzam-se formam-se racha-
no Rio Grande do duras mais ou menos profundas, dando ao tubérculo um
Sul, em que fo- aspecto rugoso, depreciando-o comercialmente. O ataque
precoce nos estolões representa um sério dano, pois impe-
de a formação dos tubérculos.
O desenvolvimento larval completa-se em quatro a seis
semanas. As larvas empupam no solo e, entre uma semana
Fig. 11 - Desenho esquemático a dez dias emergem os adultos, fechando um ciclo de vida
do adulto, larva, dano na folha, de aproximadamente 50 dias. Assim, em batata, dentro de
talo e tubérculo da Pulga uma mesma safra, normalmente não se desenvolve mais
do que uma geração completa.
10) BICHO ARAME Heteroderes spp.

Fig. 12 - Desenho esquemático


Embora considerada praga de menor capacidade de disper- do adulto do bicho arame
são e, portanto, de ocorrência mais restrita, tem ocasionado
severos danos às lavouras de batata.
Os adultos têm hábitos noturnos, permanecendo durante
o dia ocultos entre os folíolos de batata ou abrigados na vege-
tação vizinha ou em fendas no solo. Medem cerca de 15 a 20
mm de comprimento, têm o corpo alongado e achatado, colo-
ração escura e a habilidade de retornarem à posição normal
quando colocados de costas (Figura 12). Alimentam-se de lí-
quidos adocicados e de matéria orgânica em decomposição.
Os ovos são colocados, normalmente em grupos, em cavi-
dades e fendas no solo, sob restos vegetais ou junto às raízes de
pastagens. As fêmeas ovopositam preferencialmente em áreas
que não foram lavradas por longos períodos, tais como aquelas
em pousio ou pastagens.
As larvas têm corpo alongado e
achatado, coloração amarelada a cas- mais o tubérculo, causando maior dano. As-
tanha-alaranjada, aspecto brilhante e sim, em períodos de seca, o dano do bicho
segmentos distintos e bastante quitini- arame pode ser maior.
zados, rígidos. A temperatura do solo é outro fator importante, pois influi
São polífagas, alimentando-se de na distribuição vertical das larvas no solo. Quanto mais quen-
restos de cultura, sementes, raízes e tu- te, mais profundas estarão as larvas, atacando os tubérculos
bérculos, atacando inúmeras espéci- que estiverem nestas posições.
es, tais como a batata-doce, cenou- O ataque de bicho arame não é uniforme na lavoura, mas
ra, beterraba, restos de culturas, ocorre em manchas, onde houver condições mais propícias para
bem como plantas expontâneas. o desenvolvimento, entre as quais a umidade elevada. As larvas
O ciclo de vida é longo. As lar- têm o hábito gregário.
vas levam cerca de seis a oito me- A movimentação das larvas no solo depende essencialmen-
ses para se desenvolverem comple- te da umidade. Assim, os danos tendem a ser maiores em solos
tamente. demasiadamente secos, em safras em que ocorrem estiagens,
As larvas danificam raízes e tu- uma vez que nestas condições os tubérculos seriam a fonte de
bérculos da batata , causando, nos alimento mais adequada para as larvas.
tubérculos, furos arredondados e O período larval é longo, estendendo-se por cerca de seis
profundos. Desenvolve-se melhor meses a um ano, quando as larvas, ao final de seu desenvolvi-
em solos com umidade alta. Em mento, atingem cerca de 25 a 30 mm de comprimento.
solos secos, as larvas procuram

11) CORÓ Dyscinetus spp.; Euetheola humilis (Burmeister)

Assim, normalmente, as corpo ovalado, cor variando de marrom-escura a preta. Há


populações de larvas já estão diferenças no tamanho, tonalidade de cor e aspecto geral
estabelecidas nas áreas des- entre o macho e a fêmea, podendo confundir e dar a idéia
tinadas ao plantio da batata, de serem diferentes espécies. As larvas são de cor branca-
podendo retardar o desenvol- creme, com muitos pêlos no corpo, formato arredondado e
vimento da lavoura ou prejudi- se posicionam à semelhança de U, tendo no final do corpo
carem a brotação, ao atacarem o sis- um “tipo de saco de terra” (Figura 13). As larvas vivem no
tema radicular e hastes de plan- solo em profundidades variáveis, chegando-se a encontrá-
tas novas e/ou os tubérculos-se- las a cerca de um metro da superfície.
mente. Os adultos não comem folhas, raízes ou tubérculos da
Os adultos são cascudos de batata. As fêmeas fazem a postura no solo. As larvas se
alimentam das partes subterrâneas da batata (raízes e es-
tolões). Quando bem desenvolvidas, podem atacar com
Fig. 13 - Desenho esquemático grande voracidade os tubérculos.
do adulto, larva e dano no Ainda não se conhecem as condições que favorecem a
tubérculo do Coró infestação de Coró. Se for encontrada grande quantidade
de larvas durante o preparo do solo, é aconselhável tomar-
se medidas de controle preventivo, como gradear mais uma
ou duas vezes e/ou usar inseticidas de solo.
12) VAQUINHA anualmente, quer em um só hospedeiro como em múlti-
plos.
Diabrotica speciosa (Germar) é importante praga na mai- Os adultos atacam somente a folhagem, consumindo
oria das regiões produtoras de batata do sul do Brasil, da- os folíolos. Ainda não se conhece o dano econômico que
nificando tanto a parte aérea quanto os tubérculos. isto possa causar em cultivares de batata. Sabe-se, entre-
Os adultos são besouros com corpo oval, cor verde, com tanto, que quando o ataque de adultos da vaquinha acon-
seis manchas amarelas nas asas, três em cada lado (Figura 14). tece no inicio do ciclo de desenvolvimento da batata a per-
De hábitos diurnos, são particularmente abundantes da provável é pequena, quando acontece no meio do ciclo,
nas estações quentes e chuvosas, as populações aumen- pode haver redução na produção e, quando acontece na
tando a partir de agosto e decrescendo após maio nas con- fase final do ciclo, não há influência alguma na produção.
dições do sul do Brasil. Chegam às lavouras de batata em As larvas são de corpo alongado, cor branca-creme, com
sucessivas migrações, a partir de áreas de milho, feijão, soja, pêlos, cabeça preta e têm uma placa preta na extremidade
fruteiras etc. posterior. As larvas atacam e causam dano nos estolões e
As populações mantém-se ativas durante todo o ano, tubérculos da batata. Quando o ataque se dá na ponta do
sendo mais ou menos abundantes em função, principal- estolão, não há formação do tubérculo. Algumas cultiva-
mente, da disponibilidade de alimento e da temperatura e res, como a cultivar Macaca, emitem uma maior quanti-
umidade. Assim, há várias gerações anuais, usualmente de dade de estolões, que podem compensar a formação de
seis a oito, desenvolvendo-se em um ou múltiplos hospe- tubérculos na planta.
deiros. Assim, nas lavouras de batata, o ciclo varia, usualmen-
A vaquinha é extremamente polífaga, ataca mais de 30 te, entre 40 a 50 dias, sendo, em condições normais, mais
espécies, incluindo feijão, milho, abóbora, melancia, me- curto durante a safra primavera (verificam-se até duas ge-
lão, pepino, tomate, frutíferas, entre outras. Possui ativi- rações na safra) e mais longo durante a safra plantada ao
dade durante todo o ano, sendo que a quantidade depen- final do verão ou no outono.
derá da presença do hospedeiro e da temperatura. Há influência de culturas antecedentes ao plantio de
O ciclo de vida é longo e depende do hospedeiro onde batata, na incidência da praga. O alho, a cebola e o milho
se desenvolve. Em batata, é de cerca de 40 dias na prima- diminuíram a incidência, quando comparadas ao feijão,
vera e de 50 no outono. Várias gerações se desenvolvem soja, batata e pousio.
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE CONTROLE DAS PRAGAS DE SOLO
O controle de pragas de solo, tradicionalmente, baseia-se tática dentro do controle cultural. Plantar sementes sadias que
no emprego de inseticidas aplicados nos sulcos de plantio e/ou darão origem a plantas com maior capacidade de suporte ao
por ocasião da amontoa e posteriores pulverizações foliares, ataque de pragas e doenças, potencialmente mais produtivas,
visando controlar tanto as larvas que se encontram no solo com maior número de hastes e de tubérculos, reduzindo-se o
quando da instalação da lavoura, tais como corós e bicho-ara- percentual de dano causado pelas larvas e lagartas.
me, como aquelas que chegam após o plantio, entre as quais, Preparar adequadamente o solo, sob condições adequadas
vaquinhas, pulgas e burrinhos. de umidade, evita a formação de torrões que
Inseticidas dos grupos dos fosforados, servirão de abrigos a adultos de vaquinhas e
dos carbamatos, dos piretróides e do fe- outras pragas.
nil-pirazol estão registrados para o uso Plantar na profundidade adequada à
nas lavouras de batata, propiciando a época. Plantios muito profundos retar-
rotação de ativos com diferentes mo- Fig. 14 - Desenho esquemático dam a emergência dos brotos, prolon-
dos de ação, evitando-se ou retardan- do adulto da Vaquinha gando o ciclo da cultura e, conseqüen-
do-se o surgimento de populações re- temente, o tempo em que as plantas per-
sistentes a um ou mais produtos. Car- manecem suscetíveis ao ataque das pragas.
bamatos e fosforados estão relacionados Por outro lado, plantios muito rasos facili-
com a inibição da acetilcolinesterase, en- tam o acesso de adultos e larvas de diabrotica,
quanto piretróides com o bloqueio dos pulga e lagarta-rosca aos tubérculos.
canais de sódio e o fenil pirazol com Realizar uma amontoa adequada. A
o bloqueio dos canais de cloro. amontoa é importante barreira física, difi-
Uma vez que se tem buscado cultando o acesso de adultos, larvas e la-
ativos com baixa mobilidade no gartas aos tubérculos e deve ser realizada de
solo, a distribuição do produto nos sul- modo a evitar-se a formação de fendas e gretas.
cos de plantio, principalmente quando se Com o crescimento das plantas, o engrossamento
empregam inseticidas granulados, deve me- das hastes e desenvolvimento dos tubérculos mais
recer especial atenção de modo que a pro- superficiais, abrem-se fendas e rachaduras nos ca-
teção aos tubérculos seja completa. Se a op- malhões, principalmente junto ao colo das plan-
ção for pulverizar os sulcos de plantio, me- tas, por onde os insetos podem alcançar os tubércu-
lhores resultados são obtidos com o uso de los mais profundos. Maior importância ainda tem a
bicos leque, que distribuem o inseticida tanto amontoa, quando considera-se que há variedades que
no fundo quanto nas laterais dos sulcos. têm por característica emitir estolões superficiais; es-
A eficiência dos inseticidas granulados tas são geralmente mais suscetíveis ao ataque de
depende, entre outros, da umidade do pragas do que as variedades que lançam esto-
solo e de suas características físicas e lões mais profundos.
químicas, da dose a ser empregada e Em solos úmidos, há uma adesão maior
do método de distribuição, da pola- das partículas, com conseqüente redução de
ridade da molécula, da densidade fendas e gretas. Assim, a irrigação por asper-
populacional da praga que se dese- são, diminuindo as rachaduras no solo, difi-
ja controlar e da idade das plan- culta o acesso de adultos, larvas e lagartas
tas. aos tubérculos. Eliminar outros hospedei-
A aplicação de líquidos ros da traça das proximidades das la-
por ocasião da amontoa vouras, principalmente outras espéci-
deve ser realizada antes es de solanáceas.
que as plantas cresçam a Restos de cultura, tubérculos não
ponto das folhas superiores enco- colhidos ou descartados durante a colheita e
brirem as inferiores, reduzindo a plantas voluntárias (socas) são fontes de ali-
quantidade de calda que efetiva- mento e abrigo para diversas pragas, que man-
mente chega ao alvo desejado. têm suas populações nas áreas de plantio, entre
Além dos fatores inerentes às ca- uma safra e outra.
racterísticas dos produtos, há a influ- Ao redor das lavouras há espécies de plantas
ência da tecnologia de aplicação (vo- que podem fornecer abrigo e alimento às pragas.
lume de calda, bicos, pressão etc) sobre a eficiência final do Mas, que também servem de refúgio e sítios de alimentação e
tratamento. acasalamento a inimigos naturais. Recomenda-se, assim, que
Vê-se, portanto, que devido às particularidades da própria plantas invasoras ou competidoras não sejam completamente
cultura da batata e dos hábitos dos insetos de solo, as chances eliminadas, mas que ao redor das lavouras sejam mantidas áre-
de sucesso no controle de pragas subterrâneas com inseticidas as limpas. .
dependem de um amplo conjunto de fatores.
O preparo do solo expõe larvas, lagartas e pupas a inimigos Luiz Antonio Salles
naturais e a condições climáticas adversas, sendo importante Embrapa Clima Temperado - Pelotas, RS

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