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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
Alentejo
Elvas não
esqueceu
os judeus
Sever
do Vouga
As coisas boas
da Costa Má
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Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
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FUGAS N.º 910 Foto de capa: Ivan Alvarado/Reuters FICHA TÉCNICA Direcção David Dinis Edição Sandra Silva Costa
Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima
e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro, José Alves e Francisco Lopes Secretariado Lucinda
Vasconcelos Fugas Praça Coronel Pacheco, 2, 4050-453 Porto.
Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas
#Diários de Cuba
No rasto
da revolução
insular
Durante 23 dias percorri cerca de dois mil
quilómetros de leste a oeste de Cuba. No embalo
do caminho: um curso de cinema, um diário, uma
mochila, um telemóvel e a revolução insular de um
povo erudito, generoso, dividido entre a nostalgia
de Fidel Castro, que morreu faz dia 25 um ano,
e o anseio por abertura internacional e o fim
do embargo económico. Vanessa Rodrigues
VANESSA RODRIGUES
ALEXANDRE MENEGHINI/REUTERS
A presença
de Fidel
Castro está
ainda muito
presente por
toda a ilha, mas
os habitantes
de Cuba
preferem
olhar para
o futuro,
que se joga
agora por
Raul Castro;
na página ao
lado, o bairro
El Vedado,
em Havana
#Diários de Cuba
PAULO PIMENTA
Na página
ao lado,
Trinidad, na
foto principal,
e uma rua de
Havana; em
baixo, uma
bodega em
Trinidad
VANESSA RODRIGUES
#Diários de Cuba
#Dia 7. “A revolução
do paquete semanal”
O autocarro em que viajo de ma-
drugada para Camaguey é muito
desconfortável. Quatro horas e
meia para 278 quilómetros. Atra-
saria uma hora. André está à minha
espera num tuk tuk reservado pela
minha anfitriã, Nina. Está lua cheia.
Corre um vento manso. Na manhã
seguinte, Nina vai mostrar-me a
cidade. Mais à frente, esta mulher
charmosa de cabelos curtos e gri-
salhos, 45 anos, encontra o irmão
do companheiro. Pede-lhe que se
encontre com ela para tratar de ne-
gócios. “Mas sóbrio”, suplica. “É
que o alcoolismo é um problema
social grave em todo o país.”
Reparo que várias igrejas têm a
placa dos Alcoólicos Anónimos.
Entramos num teatro de arena que
ela e Enrique ajudaram a construir.
Passamos pela Iglesia Catedral de
Nuestra Señora de la Candelaria, to tem vindo a mudar no acesso à #Dia 8. “A revolução dio militar. A mensagem: Hasta la
caminhamos pela praça do Parque informação.” Itinerário da tarde: victoria siempre. Caminho mais de
é uma praça”
Ignacio Agromonte. Nina: “Cama- Plaza San Juan de Dios, Parque Jose uma hora a pé até ao centro, pela
guey é uma cidade com muita pro- Martí, Plaza Maceo, Plaza Cristo e Faltam 15 minutos para a uma da Avenida Allende. Leio um cartaz:
gramação cultural: casa da Cultura, União dos escritores. Há música ao manhã. O autocarro parte de re- “Bloqueo, el genocidio más largo de
teatros, Biblioteca Municipal, Asso-
ciação dos Artesãos.” Entramos na São três horas vivo com poesia. Quero perder-me
na cidade.
gresso a Havana. Oito horas de
viagem em vigília, porque é im-
la historia”. Há obras por toda a
parte. Reabilitações, areia, tábuas
rua do cinema, onde as lojas têm
nome de filmes. Barbearia: El mari- de viagem até Encontro o rumo, ao entardecer,
até ao Café da Ciudad, onde paro
possível dormir. Os autocarros são
precários, sujos, vão lotados, o ar
de madeira.
Chego à Plaza Vieja e ouve-se
do de la Peluquera; Multicine: Casa- para escrever e beber um sumo de condicionado deixa de funcionar rumba e salsa. Subo até à torre da
blanca; Loja: Grandes Ilusiones. descansarmos manga. Corre uma brisa doce. À mi- na primeira hora de viagem. Abre- câmara escura para contemplar a
Nina deixa-me no centro videoar- nha espera, para jantar, há cama- se o tejadilho. Paliativo, apenas, cidade num ângulo de 360 graus
te. Converso com a curadora Teresa
Dominguez. “Em Cuba funciona o
os olhos no rões salteados com manteiga pelo
chef Enrique. O acolhimento é ge-
porque entra uma corrente de ar
quente. Chego a tempo de desfrutar
em tempo real. É vívida, vibrante,
destruída, reconstruída, charmosa,
paquete semanal. Há pessoas es-
pecializadas em séries, filmes, de-
exuberante neroso. “As pessoas gostam muito
de receber e Cuba é um país segu-
o fim da manhã na Praça da Revo-
lução. Está cheia de carros antigos,
decadente. Almoço e estou em dú-
vida: ir à Calle Aguiar conhecer as
senhos animados e música. Deixas
uma pen drive e podes ter as últi-
vale de Viñales ro. Fidel deixou um bom legado.
Mas agora estamos numa incerteza,
coloridos, estilo norte-americano.
E há uma enchente de turistas a
barbearias? Museu de Belas Artes?
Museu da Revolução? Opto pelas
mas novidades. É uma revolução”, Raul não tem o mesmo carisma e os fotografar as imagens gigantes de barbearias, passando por casas co-
graceja. “Cuba não está assim tão cubanos estão cansados do embar- Che Guevara e Camilo Cienfue- loniais em ruína. Um homem bem
fechada, pois com a Internet mui- go”, afirma. gos, esculpidas a ferro, num pré- vestido levanta-se no momento em
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#Diários de Cuba
VANESSA RODRIGUES
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FOTOS: RUI GAUDÊNCIO
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ele lhe pediu para enumerar três porque ela se chama Constança
Alexandra Prado Coelho factos sobre gin. “Eu não sabia
responder.” Mas sabia outra
Raposo Cordeiro e porque, em
família, “tudo o que tinha a ver
?
a “Vou pedir-vos que esqueçam coisa: que o universo das bebidas com raposa, cativava”. O menu
a ideia de cocktail e que pensem a interessava. Tinha já passado vai ser inspirado “nos animais Resposta rápida
só em sabores.” Sorriso aberto, pelo Tivoli em Vilamoura, pelo amigos da raposa, que são
gestos entre o entusiasmo e Ritz Carlton e estava no Penha emblemáticos de Portugal, e que Qual é o equilíbrio certo para
algum nervosismo, Constança Longa, em Sintra. “O Dave disse- podem ser reais ou fictícios”. uma bebida?
Raposo Cordeiro tem 26 anos e me ‘Miúda, vai para Londres’”. Descreve, entusiasmada: “Vai Para o final de boca é sempre a
a energia inquieta de quem sabe E, passados alguns meses, ser um espaço só com música acidez, o amargo, isso de caras.
que tem muito para nos mostrar e Constança embarcava num avião portuguesa, uma ligação muito É preciso o nível certo de açúcar
está impaciente por fazê-lo. para Londres, onde confirmou grande com a natureza na sua para dar volume de boca, a
Foi ela quem preparou as rapidamente que “não sabia forma mais orgânica, a pedra frescura no início, um elemento
bebidas que vão ser servidas nada”. (a mesa será um grande cubo mais neutro no meio, e no fim
com os pratos criados por Mas aproveitou bem todas de mármore), o gelo em bloco, atacar com a acidez e o amargo.
Bernardo Agrela, no Cave 23, em as oportunidades que lhe as flores, as plantas.” Aliás,
Lisboa, num dos vários jantares surgiram. Passou por bares esse trabalho, em torno das Qual foi a bebida mais arriscada
organizados durante a Lisbon diferentes, desde os mais flores, plantas, frutas e outros que fizeste?
Food Week. E tem razão: não tradicionais — “Tínhamos que ingredientes portugueses já Foi inspirada no Ferrero
podemos pensar nos cocktails a saber 300 receitas de cocktails começou e, para já, é só com eles Rocher de foie-gras que o José
que estamos habituados. Aqui clássicos de cor” — até começar a que quer trabalhar. Avillez [chef do Belcanto] faz.
podemos ter, por exemplo, a perceber que o caminho que lhe Desafiou um casal de amigos Redestilei etanol com foie-gras
acompanhar um aveludado de interessava era outro. “Comecei a que admira muito no universo e chocolate, fiz uma infusão de
ostra, uma bebida feita à base de entrar em competições, a querer dos cocktails, Maria Berg e Alex avelã assada com Porto branco,
rainha cláudia fermentada e licor atingir certos sabores, mas sem Kratena, aos quais se juntaram um licor seco de framboesa e
de musgo. um certo tipo de equipamento outros amigos, e está a organizar rum branco.
Ou, com a vieira que vem numa não era possível.” Acabou por seis encontros em Arraiolos, onde
tapioca de caril com crumble encontrar o que procurava (e que vive. “Temos uma masterclass As pessoas ainda são muito
de nougat, telha de mostarda ela própria ainda nem sabia o que com uma produtora de plantas conservadoras em relação
de algas cabelo de velha — era) no bar Peg and Patriot, de para fins medicinais, a Willemijn a cocktails?
uma bebida que “foi a mais Matt Whiley. As colheres de De Jongh, que vive há dez anos Em Portugal menos, parece-me,
desafiante”, confessa Constança, “Destilavam, faziam licores, medidas que em Portugal e conhece tudo. embora ainda não possa falar
porque nos põe “a pensar o que é aquilo para mim era outro Constança usa Estamos quatro horas a apanhar muito. Como não conhecem
um cocktail”: um caldo de cebola, mundo.” Um dia disse a uma para preparar ingredientes e depois vamos para tanto, estão muito mais abertas.
galinha, lúcia lima, sálvia, louro amiga que o seu sonho era os cocktails, a cozinha criar bebidas.” Em Londres, como a maior parte
e gin. Ou ainda, para a bola de trabalhar ali e amiga respondeu- os livros que A partir desse trabalho, que das pessoas conhece bem os
Berlim com recheio de rabo de lhe simplesmente “Make it significam permite aos amigos estrangeiros clássicos e sabe do que gosta,
touro, “um cocktail que puxa à happen”. Ela seguiu o conselho conhecimento conhecerem melhor Portugal, pede sempre isso e dali não sai.
nostalgia” — e aqui a nostalgia e não só conseguiu trabalho lá e constante Constança ficará com uma série Acho que aqui temos um ponto
tem a ver com “hamburgers e como se viu, em pouco tempo, aprendizagem de receitas originais para servir a nosso favor.
litrosas” — com licor de alperce, a chefiar a equipa de bar. “Da e a alcofa para na Toca da Raposa. Mas, garante,
pêssego e tangerina verde, e “a primeira vez que lá fui, vi-os recolher as no seu bar as bebidas nem vão
litrosa”. com uma caixa de plantas, de frutas e ervas ser o mais importante. “O que eu
Em cada caso, as criações verduras, a comer as folhas. que utiliza nas gosto é de criar uma ligação entre
de Constança foram pensadas Disseram-me ‘Prova’, e eu suas bebidas pessoas que não se conheciam
com uma enorme atenção aos cheirava e eles diziam, ‘Não, e, de repente, está um ambiente
sabores do prato. A ideia, explica, come’.” espectacular.” Desde os dias do
não é criar uma bebida que os A pouco e pouco, começou Penha Longa que isso era o que
reproduza em forma líquida, a pensar de outra forma, culturas presentes em cada zona. lhe dava mais prazer.
mas sim que os complemente, libertou-se da ideia da estrutura Mais tarde fizemos outro menu só Isso e que as pessoas percebam
tornando o conjunto muito mais clássica de um cocktail e viu inspirado em chefs.” o que estão a beber. “Vou pedir à
interessante do que a simples abrir-se um mundo novo. “Se São formas de trabalhar que minha avó que leia a descrição do
soma das partes. conseguisse fazer uma coisa com quer trazer para o bar que vai cocktail e pergunto-lhe ‘Consegue
E, no entanto, ainda há quatro complexidade, com princípio, abrir em Lisboa em Março do perceber a que é que isto sabe?’”.
anos Constança não sabia “nada” meio e fim, só com fermentados, próximo ano. Já o tem todo na Se ela disser que sim, é porque
sobre cocktails. Percebeu isso boa!” Outro desafio foi pensar cabeça — e, mais importante que está bem, é porque “é possível
quando, numa conversa com no menu do bar a partir de um isso, já tem o espaço físico. Vai ter uma bebida clean, saborosa,
Dave Palethorpe, o proprietário tema. “Começámos com o mapa ser perto do Largo do Carmo e complexa e com elementos que
do bar Cinco Lounge, em Lisboa, de Londres e estudávamos as vai chamar-se Toca da Raposa, toda a gente conhece.”
Constança Cordeiro
“Quero fazer um cocktail em que a minha avó
reconheça todos os ingredientes”
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Passeio
os seus judeus
seria há alguns séculos. Vamos até vamos reencontrar algumas das
à Idade Média e, de repente, as ru- personagens com as quais nos po-
as animam-se numa azáfama, ho- deríamos ter cruzado nas ruas da
mens, mulheres, crianças, todos Judiaria Velha há muitos séculos.
pertencentes à comunidade judaica Se a maioria se perdeu no ano-
da cidade, às compras, a caminho nimato, há, contudo, nomes que
de casa, alguns dirigindo-se para se destacam, famílias que, pela sua
a sinagoga, outros para o trabalho influência, conseguiram resistir nas
nas oficinas de ourives, no boticário memórias da cidade. Uma delas é
ou noutros comércios. mesmo nome de rua: Botafogo.
Seria assim Elvas provavelmente Vamos até lá, guiados pela histó-
desde o período islâmico, a partir ria que Rui Jesuíno conta numa das
do século X, admite Rui Jesuíno, suas crónicas.
a sinagoga de Elvas no tempo em que os judeus dioso da história dos judeus elven-
ses e autor do livro Elvas – Histórias
novos elvenses que deu nome à
rua onde viviam, junto à Bibliote-
eram cerca de um quarto da população. Hoje ajuda do Património, que reúne crónicas
sobre a cidade.
ca Municipal: a Rua do Botafogo.
Tinham lá um palácio com um pá-
a recordar algumas das famílias mais poderosas Logo no século XIV ficou famo-
so um judeu, de nome Vidal, pelos
tio, à direita de quem desce, que
se havia de transformar em quar-
e influentes da terra, dos Botafogo aos Gomes da seus poemas, “cantigas que ficaram
célebres e que estão hoje transcri-
tel no século XVII e em cinema e
casas particulares no século XX”,
Mata Coronel. E até o chocolate em barra entra tas, embora incompletas, nos can-
cioneiros da Biblioteca Nacional e
escreve. Antes de ganhar o nome
dos Botafogo, o que aconteceu no
Passeio
Os frescos
aliás, uma forma de dessacralizar o início do século XVII, o chocolate Debaixo
do branco,
espaço, numa mensagem clara para era bebido, depois foi introduzido
os cristãos-novos. o açúcar e em meados do século XVII
começa a desenvolver-se em Baiona,
Elvas é
A descoberta do chocolate no país basco francês, o chocolate
em barra.”
em barra
O que Rui descobriu foi que “os
Voltemos então à história das famí- apelidos são de famílias judias de
lias judaicas de Elvas. “A mais rica
é a dos Gomes da Mata Coronel.”
Rica e muito poderosa, dado que
Elvas”. Entrou em contacto com in-
vestigadores em Baiona e eles confir-
maram que foram judeus portugue-
colorida
Abraham Senior (o nome que tinha ses que se instalaram no bairro de
antes de ter sido forçado a tornar-se Saint-Esprit e começaram a vender
cristão-novo) era, em Segovia, “um o chocolate em barra, embora não a Quando começaram a trabalhar
intelectual e político que trabalhava pudessem confirmar qual a sua ori- nas paredes do antigo Açougue
directamente com os Reis Católicos gem exacta em Portugal. Municipal, hoje identificado como
como o maior arrecadador de impos- Mas não são apenas as colunas, sendo muito provavelmente a anti-
tos de toda a Espanha”. Uma posição agora novamente visíveis, da antiga ga sinagoga de Elvas, os técnicos da
que, segundo alguns historiadores, sinagoga que nos recordam a história Câmara descobriram os frescos nas
fazia dele o homem mais rico da Pe- dos judeus de Elvas. Em vários edi- paredes, que usam a técnica do mar-
nínsula Ibérica no final do século fícios da cidade — e a Câmara dispo- moreado, muito popular sobretudo
XV, tendo sido financiador dos Reis nibiliza um mapa para quem estiver nos séculos XVIII e XIX, explica Rui
Católicos nas guerras para a expul- interessado em fazer esse percurso — Jesuíno, responsável do Município
são dos mouros da Península e “até vêem-se marcas de cruzes que identi- para o Património e Turismo.
da viagem de Cristovão Colombo à ficam as casas dos cristãos-novos. O mesmo tem acontecido noutros
América”. “Faziam-se cruzes nas ombreiras edifícios da cidade à medida que vão
Depois da morte de Abraham (que das portas para cristianizar a casa. sendo intervencionados. “Mesmo
adoptou como nome cristão o de Temos mais de 20 dessas cruzes”, em casas simples encontram-se
Fernão Peres Coronel), a família dis- uma delas, muito discreta, na casa estes marmoreados, tanto no inte-
persa-se e alguns vêm para Portugal, do irmão do médico judeu Garcia da rior como nas fachadas. Ou então,
tendo o seu neto Tristão Peres Coro- Horta, situada na Praça da República. na parte de baixo, era usado o már-
nel vindo instalar-se em Elvas, onde E essa foi uma prática que se prolon- more e mais para cima, onde já não
a família se tornou muito influente. O gou no tempo. “Na Real Fábrica de era tão visível, o marmoreado. Havia
bisneto de Abraham, Luís Gomes de Chapéus criada por Jácome Ratton e pessoas que tinham dinheiro para
Elvas Coronel, acabaria por mudar vendida por ele a outro francês, que usar mármore, mas os que não ti-
o nome para Luís Gomes da Mata, era judeu, há também um crucifor- nham recorriam a esta técnica.”
comprou o ofício de correio-mor do
Reino e “passou a administrar todos
me, feito já no século XVIII, quando
os cristãos-novos já não eram assim
A generalização do uso da cal
branca acontece com o Estado No- Graça
os correios de Portugal”, tendo cons- denominados.” vo, que “quis higienizar os centros
truído o Palácio do Correio-Mor em
Loures e a Quinta do Correio-Mor
em Elvas. “Ainda hoje”, escreve Rui
E, num edifício apalaçado da Rua
dos Falcatos, existe mesmo uma mi-
kveh, os banhos usados pelos judeus
históricos”. Antes disso, afirma Rui
Jesuíno, as pessoas misturavam co-
rantes na cal e a cidade tinha um O forte
inexpugnável
Jesuíno, “descendentes desta família para o ritual da purificação — que, aspecto muito mais colorido, que
estão entre os mais ricos dos Estados não se sabe como, sobreviveram a hoje se começa a recuperar num ou
Unidos da América, agora com o ape- todos os esforços para fazer desapa- noutro edifício. “A cor mais usada
lido Colonel”. recer para sempre as marcas da exis- era o ocre militar, mas também ha-
Curiosamente, segundo as investi- tência dos judeus de Elvas. Tal como via bastantes edifícios em bordeaux,
gações do historiador, os judeus de a velha sinagoga, esquecida durante que é o óxido de ferro, e alguns em
Elvas estão também ligados à histó- 500 anos e hoje redescoberta para azul, embora menos, porque o azul a Visto do ar parece uma estrela chamou Vasco da Gama — nome que
ria do chocolate em barra. “Foi algo contar uma história que a cidade já era o corante mais caro.” de quatro pontas colocada sobre passaria para o neto deste, o futuro
que descobri recentemente. Até ao não quer apagar. No próximo ano deverá abrir em um quadrado, pousado sobre outra famoso navegador.
Elvas uma escola de Artes e Ofícios, estrutura e, finalmente, uma última A igreja desapareceu quando foi
fruto de uma parceria da Câmara que serve de base a todo o conjunto. tomada a decisão de construir o for-
Municipal com a Associação In-Ci- O Forte da Graça, em Elvas, constru- te. Não havia dúvidas de que a mon-
dade, que se destina a criar mão-de- ído numa colina elevada, um ponto tanha constituía uma ameaça para
obra especializada na recuperação estratégico que, se capturado por os habitantes — foi, aliás, nela que
do património e de muitas destas inimigos, se tornaria uma ameaça se instalaram as tropas espanholas
técnicas. perigosíssima para a cidade, tinha durante o cerco na Batalha das Li-
que ser inexpugnável. E foi assim nhas de Elvas, com duas bocas de
que foi planeado. fogo viradas para a cidade.
Antes da construção do forte, que A ordem de construção do forte
aconteceu entre 1763 e 1792, existiu partiu do britânico Conde de Lippe,
naquela montanha a Ermida de ao qual o Marquês de Pombal con-
Nossa Senhora da Graça, mandada fiara a reorganização profunda do
erguer pela bisavó de Vasco da Ga- Exército português. Rui Jesuíno con-
ma. Conta Rui Jesuíno no livro Elvas ta no seu livro: “Considerado, por
– Histórias do Património que Catari- muitos, um génio na arte militar”,
na Mendes, mulher de Estêvão Vaz chega a Portugal em 1762 e “encontra
da Gama, ficou viúva com 18 anos um cenário desolador: um exército
e com um filho ainda bebé, a que impreparado, feito de gente pobre,
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i
Forte da Graça
Horário: de terça a domingo das 10h às 17h;
encerra à segunda-feira.
Preços: 5€, visita guiada 8€. Visita guiada
especial com inscrição prévia (acesso à cisterna
e contraminas aberto quatro vezes por ano) 15€.
Moleiro da Costa Má
As coisas boas
da Costa Má
Tecnologia
FOTOS: DR
Uma app portuguesa
que liga compradores e viajantes
+
soa, em qualquer parte do mundo. quer comprar um produto qual- viaja para Portugal ou — melhor
Victor Ferreira “Estávamos num café, no Restelo quer, seja gadget, comida, tabaco ou ainda — pode encontrar logo al-
[em Lisboa], num belo fim de tarde roupa. Em vez de o comprar numa guém que anuncia ter aquele pro-
a Costuma aproveitar as viagens de quando o Pedro me disse: ‘Lembras- loja da sua cidade, onde vai pagar duto desejado nas suas mãos e que o
amigos ou familiares para lhes pedir te daquela tua ideia? É possível fa- mais caro devido às elevadas taxas vende a um determinado preço. Há
que comprem aquele produto que zer uma app e lançar um negócio’”. alfandegárias aplicadas pelo fisco Pixel Buds, auriculares uma aplicação concorrente desta,
não consegue comprar localmente Começaram então a pensar seria- brasileiro sobre produtos importa- que traduzem a Garbr, menos versátil porque não
ou que, noutras paragens, sai mais mente no assunto. Londres tinha fi- dos, o potencial comprador pode permite a compra imediata — mas
barato? Agora pode fazer o mesmo cado para trás, Pedro Vilela “estava colocar uma encomenda na app. De- vale a pena experimentar as duas
com desconhecidos, através de uma entre projectos” e Pedro Almeida, pois, basta que algum turista ou via- Uma das novidades recentes e comparar.
aplicação para smartphone criada também de 34 anos e formado em jante que tenha como destino o Rio lançadas pelo Google pode Por razões de segurança, todas as
por dois portugueses. engenharia electrotécnica, não an- de Janeiro aceite essa encomenda, ser um pequeno apoio para os transacções são feitas por cartão de
Chama-se Hand2Hand e foi lan- dava muito satisfeito com o que fa- compre o produto no seu ponto de viajantes com menos destreza crédito e as verbas envolvidas só são
çada, para Android e iOS, há preci- zia. Com programadores na Ucrânia origem e acerte o preço, data e local linguística. No início de Outubro, desbloqueadas quando o compra-
samente dois meses. Através desta e o apoio norte-americano para um de entrega com o comprador. a empresa introduziu os Pixel dor confirmar que recebeu o pro-
app, pode ligar-se a qualquer utiliza- plano de negócios, lançaram a Han- Outro cenário possível é estar in- Buds, que se distinguem pela duto encomendado nas condições
dor que viaje para um destino onde d2Hand que, nestes dois meses de teressado num produto estrangeiro capacidade de traduzirem, no correctas.
pode adquirir o produto pretendido vida, ganha 175 novos utilizadores que é muito caro em Portugal ou que momento, tudo o que nos estão Para quem viaja, é uma forma de
e entregá-lo no dia e no local com- por dia, em média. não está à venda por a dizer — ou o que nós queremos ganhar uns euros, para quem com-
binado. A app é gratuita mas cá — aquele vinho comunicar. Ideais para levar em pra é uma forma de poupar — ou
A ideia nasceu quando Pedro Vi- a empresa dos dois Pe- da Argentina, os viagem — a qualidade do som pelo menos de obter aquele produto
lela, um dos criadores da app, vivia dros cobra 10% de co- charutos cuba- é uma aposta clara —, servem que não estava à venda por perto
em Londres, mas só mais tarde se missão (e leia até ao fim nos, o último mo- por isso como uma espécie — e para quem quiser experimen-
tornou uma realidade. “Os meus co- que a Fugas abre- delo de sa- de tradutor pessoal, capaz de tar depois deste texto, a Fugas tem
legas estavam sempre a pedir-me pa- lhe a porta a um patilhas ajudar em 40 idiomas diferentes. uma pequena oferta: se introduzir o
ra que na próxima viagem a Portu- desconto). da sua Neste momento, o produto só código fugaspublico na app, estará
gal lhes comprasse vinho português, Um exem- marca se encontra disponível nas lojas isento da comissão de 10% na sua
que em Inglaterra é mais caro e di- plo, para preferi- Google norte-americanas (EUA primeira venda (e já agora descre-
fícil de comprar, e outros produtos demonstrar da. Pode e Canadá) e a entreganão é va-nos a experiência para fugas@
que em Portugal são mais baratos, como tudo entrar na possível para Madeira ou Açores. publico.pt). Fora isso, convém ter
como tabaco”, conta este lisboeta funciona, as aplicação Custam 159 dólares. V.F. alguns cuidados básicos: não aceite
de 34 anos, formado em gestão e vantagens e e deixar (nem faça) encomendas de produtos
em marketing. os riscos — que uma en- ilegais no país de destino; não exce-
Regressado a Portugal, foi outro também os comen- da as quantidades permitidas para
Pedro — Pedro Almeida — quem deu há. Imagine da para não correr riscos na alfândega; teste
o impulso que faltava para transfor- um cidadão algum sempre (como comprador) o produ-
mar uma necessidade de alguns num do Rio de utiliza- to encomendado antes de confirmar
negócio disponível a qualquer pes- Janeiro que dor que a recepção.
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#fugadoviajante
Esta tag diz-lhe alguma coisa? A Fugas (@fugaspublico) está à procura
das melhores fotos de viagem. Siga a conta e partilhe os melhores
instantâneos das suas férias com a #fugadoviajante
Especulação toponímica
@maggie.pi “Se há lugares únicos este é um deles. Amager
Strandpark é um lugar calmo e ideal para passear, relaxar e
a Intromissão rochosa do o mar amassava, num esmoer para a linha do mar. contemplar a paisagem. Foi um extenso passeio ao longo do parque
Alentejo litoral, o cabo Sardão cartilagens. Atento às vagas azuis, um idoso e do mar, mas fez-me sentir relaxada e feliz. Senti-me fascinada
contempla o Atlântico do alto dos No momento que antecedeu o estava de pé; aceitou ler a minha pela atmosfera deste lugar. Fez-me perder a noção do tempo.
seus penhascos, mas sem nunca se chuto derradeiro (e desconhece- história, e depois respondeu: Fez-me viajar.”
mostrar presunçoso. Indiferente se que acaso etológico enviou - Na verdade, havia um homem
aos tumultos da ondulação que o animal até àquele ponto do filho destas terras que era louco.
lentamente lhe morde os calços, espaço), um sardão trepou para Não de nascença — e ninguém
conserva uma postura sábia, os hexágonos do esférico, e aí nunca lhe quis senão bem —
de ruralidade à beira-mar: é se coseu de medo até que se mas endoidecera depois de ter
sem dúvida um dos mais belos despenhou nas águas. Só havia vindo da guerra. Todas as noites
miradouros portugueses, e lugar uma embarcação no mar, nessa passeava-se por estes espinhaços,
de visita demorada. noite, muito para lá da costa cantando canções sem sentido.
Numa altura, enquanto olhava o convoluta, e um barco pescava Na guerra fora cabo, e o apelido
campo de futebol de terra batida nesse adormecimento líquido. era Sardão. Apareceu morto
que se estende ao lado do edifício As redes puxaram a faina para numa arriba certa manhã, e como
do farol, perguntaram-me (ou o casco: no emaranhado veio homenagem o nome do cabo foi
imaginei que alguém me fizesse a o réptil e a bola. O pescador dado ao cabo.
pergunta, talvez um dos miúdos agarrou-os, e ao ver o lagarto Regressei para junto do carro,
que aí jogavam) por que motivo enfiar-se entre tábuas, olhou atravessando o campo de futebol:
assim se chamava o cabo. Então demoradamente para terra, apesar de tudo, o lugar mantinha
sentei-me na cadeira ferrugenta enquanto no farol giravam as a sua beleza, pedia para ser
que fazia de banco de suplentes e hélices da luz. revisitado, e agora, ao ter-lhe
propus-me uma resposta. Em chegando a casa, mostrou à metido uma história, tornava-
“Numa tarde, no tempo esposa o animal que aprisionara se ainda mais meu. As crianças
em que havia paus a servir de numa garrafa vazia, e um estavam junto de um poste, mas
balizas, duas crianças jogavam convencimento esclareceu-lhe de electricidade, tombado e
à bola. Suspensas num planalto, as dúvidas, comovendo-o de sem cabos. Aproximando-me,
desafiavam-se em remates, e importância: o cabo era Sardão, perguntei-lhes se sabiam por que
o tempo não fazia sentido. A porque o bicho dali se atirava é que ao cabo chamavam Sardão?
certa altura, um pontapé mais para a morte (a bola, essa, não E uma disse, esticando o braço:
forte fez a bola extravasar as interessava para o caso).” – Porque sardão é o nome de um
alturas do olhar, e um gancho A reconstrução deste topónimo arbusto e dantes, se calhar, havia @mr.quina “Aproveitando o bom tempo que se fez sentir durante
de vento catapultou-a para além em termos históricos, sobretudo muitos nas redondezas. o mês de Outubro, decidi ir fazer um dos vários trilhos pedestres
do precipício: a espuma das à luz da realidade presente, E a outra acrescentou, mas nada que a serra de Montejunto, a pouco mais de 60km de Lisboa,
ondas dissolveu-lhe o rasto, e as lembrava-me, no entanto, um tendo que ver com o caso: oferece. Já no caminho para casa, pouco antes do pôr-do-sol, dei
crianças — barriga espalmada exercício de escola primária – Com o cabo da vassoura que o de caras com esta imagem. As torres eólicas espalhadas um pouco
no chão, cotovelos raspados, — quis assim averiguar o grau meu pai tem na mala da carrinha por todo o concelho de Sobral de Monte Agraço e arredores. Foi
faces postas na boca da arriba — de verosimilhança da minha tiramos a bola debaixo do carro. talvez a última fotografia que tirei nesse dia, mas talvez tenha sido
nada viam senão os calhaus que descrição, e dirigi-me de novo André Paiva a melhor.”
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Gastronomia
Estrelas Michelin
já chegaram
a 45 restaurantes
em Portugal
i Escondidinho
Restaurantes
com estrelas
Duas estrelas
2*
Vila Joya Albufeira
no Porto em 1936
Ocean Armação de Pêra
Belcanto Lisboa
Il Gallo d’Oro Funchal a Quase a completar 90 anos, o na qual, como nos interiores, se re-
The Yeatman VN Gaia restaurante do Porto mantém o velam trabalhos valiosos da Fábrica
ambiente burguês e requintado e Constância, dirigida então por Leo-
1* também a cozinha tradicional da poldo Battistini.”
Willie’s Quarteira época. Também a “primorosa a cozinha
São Gabriel Almancil Está no coração da Baixa do Por- do Escondidinho, sem dúvida a me-
Henrique Leis Almancil to, a poucos metros do Coliseu e do lhor que se pôde encontrar no Porto
Largo do Paço Amarante igualmente exclusivo Cafá Majestic, sob todos os pontos de vista”, man-
Fortaleza do Guincho Cascais mas o Escondidinho procura recriar tém ainda hoje a essência da época.
Eleven Lisboa o estilo das grandes casas solarengas Carta avantajada onde se alinham
Feitoria Lisboa do Norte de Portugal. Sinónimo do entradas, sopas, saladas, peixes,
L’And Vineyards luxo e conforto que era apanágio da carnes, legumes, omeletas e sobre-
Montemor-o-Novo burguesia daquele debutar da déca- mesas com dezenas de opções.
Pedro Lemos Porto da de trinta do século XX. Presunto de Chaves com ou sem
Bon Bon Carvoeiro Inaugurado em 1931, o restaurante melão, amêijoas premium à Bulhão
Antiqvvm Porto mantém ainda todos os traços ar- Pato, camarão no espeto ou lagosta
William Funchal quitectónicos iniciais, o mobiliário gratinada são algumas opções para
Casa de Chá da Boa Nova e decoração requintada, com gran- entradas. Pescada au Meunier, fi-
Matosinhos des candeeiros em ferro, cadeirões letes de linguado com alcaparras,
Loco Lisboa forrados a couro, jarrões, louças e os bacalhaus (gratinado, à Brás ou
Lab by Sergi Arola Sintra peças de estanho como elementos à Escondidinho) e cataplanas dão
Alma Lisboa decorativos. Um ambiente impeca- testemunho dessa cozinha primo-
velmente cuidado, onde não falta a rosa, enquanto nas carnes desfilam
Restaurantes lareira e, do lado da rua, o peque- o chateaubriand, tornedós, escalo-
que tiveram estrelas no portão em ferro que antecede a pes de vitela com molho de vinho
Tavares Lisboa (2010/2012) porta de entrada e os janelões late- do Porto ou o entrecôte laminado,
Amadeus Almancil (2007/2011) rais, a compor o ar de casarão de não faltando, claro, as tripas à moda
Arcadas da Capela Coimbra província. do Porto.
(2005/2012) Eis a descrição que agora aparece Os pratos andam por volta dos
Ermitage Almancil (1996/2000 no sítio da Internet do restaurante: 20€, mas a carta inclui agora um
os espaços de hotel e restauração. A - 2003) “A sala de jantar, reproduz, na sua “menu gastronómico” por 35€ que
estreia para Portugal surge na edição Tia Alice Fátima (1993/1996) traça, o aconchegado conforto das inclui entrada (caldo verde ou pata-
1936-1938, com a atribuição de estre- A Bolota Elvas (1992/1993) residências do século XVIII, a que niscas de bacalhau), prato (bacalhau
las a cinco restaurantes. Com duas Ramalhão Montemor-o-Velho não falta, sob os tetos apainelados, ou posta à Escondidinho), doçaria
estrelas, o Escondidinho, no Porto, (1991/2001) a pujança ornamental das antigas tradicional, café e vinho da casa.
e Pettermann, Chave d’Ouro e Ave- La Réserve Faro (1990/1995) faianças nacionais e os vistosos lam- Os inspectores da Michelin não
nida, em Lisboa, e Clube Naval, em Conventual Lisboa (1987/1998) bris cerâmicos, imitando a escola hesitaram em atribuir-lhe duas es-
Setúbal, os quatro com uma estrela. Porto de Santa Maria Cascais de Delft, cujos azulejos sobressaem trelas logo à primeira, mas o guia
Com o eclodir da Guerra Civil em (1984/2008) pela extraordinária beleza. O projec- deixou de se publicar nas décadas
Espanha e a II Guerra Mundial que se Casa da Comida Lisboa to de Amoroso Lopes, habilmente seguintes. A cozinha mantém-se e o
lhe seguiu, a publicação do guia para (1983/1985) executado pelos Grandes Armazéns contexto também, mas evoluíram,
Espanha e Portugal foi interrompida Tágide Lisboa (1981/1992) Nascimento, é de notável concepção e muito, os critérios e os conceitos
e só regressou em 1973. Nesse ano Garrafão Matosinhos artística, destacando-se a fachada dos avaliadores.
não foram atribuídas estrelas para (1978/1980)
o nosso país, mas viriam no ano se- Michel Lisboa
guinte para os restaurantes Aviz e (1974/1976 – 1978/1984)
Michel, ambos em Lisboa, O Pipas, Portucale Porto (1974/1980)
em Cascais, e Portucale, no Porto, os O Pipas Cascais (1974/1978)
quatro com uma estrela. Aviz Lisboa (1974/1976)
Desde então, a presença de res- Escondidinho (2*) Porto
taurantes portugueses estrelados (1936/38)
uma extensão das indicações forne- tem sido uma constante. As primei- Pettermann Lisboa (1936/38)
cidas pelo Real Clube Automóvel de ras duas estrelas desta nova época Chave d’Ouro Lisboa (1936/38)
Espanha (que então fornecia as in- pós-guerra surgiram só no limite do Avenida Lisboa (1936/38)
dicações para o guia) sobre os esta- milénio, em 1999, para o Vila Joya, Clube Naval Setúbal (1936/38)
belecimentos da Galiza, já que eram às quais se juntam agora outros qua- Hotel Mesquita VN Famalicão
das únicas referentes a Portugal. tro restaurantes: Ocean, desde 2012, (1929/1935)
Tudo muda, no entanto, a partir Belcanto, desde 2015, e Yeatman e Hotel St.ª Luzia Viana
de 1933, quando o guia passa a ter Il Gallo d’Oro, desde este ano. Foi do Castelo (1929/1935)
inspectores anónimos próprios e também em 2017 que pela primeira
adopta a nomenclatura de uma a vez a lista de restaurantes estrelados
três estrelas com o formato actual e ultrapassou a barreira da dezena e
passa a haver uma separação entre meia e superou a vintena.
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Gastronomia
À volta i
A Mesa Lá de Casa
da mesa
Rua Teixeira de Sousa, 18
Vila Real
Tel.: 960 164 144
acontecem
(sextas e sábados até às 23h
e domingos até às 18h). Encerra
à segunda-feira
coisas
A cozinha da mãe
por trás de um menu de autor
À frente de um restaurante com estrela Michelin, Tiago Bonito não esquece as suas
origens e transporta-as para o menu a que chamou Identidade. Alexandra Prado Coelho
FOTOS: DR
a Quando Tiago Bonito era peque- pinambor, espuma de champanhe ra trazer um bocadinho a região” —
no, a mãe trazia para casa o leite tira- (a lembrar a tal espuma do mar) e com ostra, agrião e fitoplâncton. Se
do das cabras, acendia a lareira para molho do assado. é verdade que o foie-gras que serve
fazer os seus cozinhados e pousava o A sapateira aparece no prato pa- noutra entrada não é um produto
tacho com o leite ao lado do fogo pa- ra lembrar a alimentação do robalo português, Tiago justifica a presença
ra ele ir coalhando. Era esse queijo, (que é sobretudo caranguejo de cas- na carta pelo facto de ser servido
com um cheiro a fumado, que deli- ca mole, mas esse “não tinha carne com um creme de pistáchios, gel
ciava Tiago ao pequeno-almoço. E suficiente”) e o molho do assado, de pêra e um molho de especiarias
são estas memórias, profundamente sublinha o chef, é feito da forma tra- e cacau. Aqui não se trata de uma
enraizadas, que transporta hoje pa- dicional, com uma redução (durante memória, mas de uma homenagem
ra o seu Menu Identidade, que serve 48 horas) de um assado da cabeça do aos Descobrimentos portugueses e
no restaurante Largo do Paço, na peixe e de legumes caramelizados — aos produtos que nos chegaram
Casa da Calçada, em Amarante (uma “para trazer a comida de conforto, através deles.
estrela Michelin). de casa, aos nossos clientes”. Já no prato de lavagante azul, o
Desenhou o menu a partir preci- Antes do robalo, Tiago já tinha homenageado é o arroz carolino
samente dessa palavra — Identidade. servido (quase literalmente) o mar português trabalhado numa tinta
Com cada letra a corresponder a um à mesa, com uma entrada de vieiras de choco para lhe dar cremosidade
conceito que é importante para ele: com percebes, um tártaro de cara- e evitar a manteiga, com renda de
Criatividade, Produto, Evolução, bineiro e um consomé de lavagante, açafrão, espuma de citrinos, gel de
Inspiração, Conhecimento, Memó- que veio acompanhado por um bú- funcho e caviar.
rias, Dedicação, Sabor, Tradição, zio no qual ouvíamos o som do mar Nos pratos de carne, surge um pa-
Experiência. “Queria uma palavra e das gaivotas — uma ideia que lhe to de Landes com ngocchi de batata,
que identificasse a gastronomia por- surgiu quando “andava a apanhar trufa, beterraba e geleia real. Ape-
tuguesa, o Largo do Paço, mas tam- funcho do mar em Vila do Conde, sar de não ser um pato português,
bém o produto e o chef”, explica. a sentir o cheiro do sargaço e a ou- Tiago fala da tradição portuguesa
Numa conversa com a Fugas de- vir as gaivotas”. “Quis que o prato de comer arroz de pato, e explica
pois da apresentação do seu menu trouxesse essa recordação. Hoje a que, como já servira arroz com o
de estreia na Casa da Calçada (onde cozinha tem que conseguir criar lavagante, optou aqui pela batata.
sucede a André Silva e, se recuar- memórias e despertar memórias Como a mãe, quando cozinhava pa-
mos um pouco mais, a Vítor Matos) antigas.” to, o pincelava com mel, ele usa a
regressa muitas vezes a essas memó- Há também uma entrada de en- geleia real.
rias, transportando-nos para a sua guia fumada — “um peixe do rio, pa- Por fim, antes das sobremesas,
casa de infância e para os cheiros vem o bovino maturado (um animal
e sabores do que a mãe cozinhava com cerca de 10 anos, maturado 35
— como os do arroz doce que, com dias), que enquanto é grelhado é
a ajuda do filho, fazia pela noite Tiago Bonito pincelado com a sua própria gordu-
dentro em tachos de cobre para os e o algodão ra, com chanterelles, alcachofras e
pratinhos usados como convites de doce. Em molho bordalês. “Cheiro a terra —
casamento. A memória do queijo fu- baixo, gelado foi o que anotei no bloco de notas”,
mado, por exemplo, surge no menu de cabra com recorda. Anda sempre com ele e tira
numa das sobremesas, sob a forma beterraba fotos e escreve todas as ideias que
de gelado de leite de cabra fumado, e robalo com lhe passam pela cabeça para traba-
caldo de beterraba, laranja, noz em sapateira lhar mais tarde. Serve aqui um puré
ganache de chocolate e gelatina de de aipo fumado, feito com o aipo
abóbora e cardamomo. deixado em cima das brasas até tor-
Para se dizer que se conhece bem rar por fora. “Cozinha nos seus pró-
o produto não basta receber as en- prios açúcares e depois fazemos um
comendas que chegam à cozinha. puré com o interior, que fica muito
Tiago é pescador e sabe qual o peixe macio e com um sabor a fumo.”
que está melhor nas diferentes al- Voltámos assim ao fumo da larei-
turas. “No mar de Inverno há mais ra da casa de infância de Tiago, an-
ondulação e espuma, por isso o ro- tes de nos despedirmos com uma
balo encosta-se mais a terra, vem sobremesa inspirada nas uvas e no
atrás dos caranguejos, é um peixe vinho do Porto e do Douro, na qual
mais gordo.” Daí que neste menu en- as folhas do Outono, nas suas várias
contremos robalo selvagem acom- cores, parecem ter caído das árvores
panhado por sapateira, puré de tu- para vir pousar no nosso prato.
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Vinhos
NELSON GARRIDO
elemento chave na definição de os vinhos brancos por que razão
Elogio do Vinho um grande branco. Para se ser não são classificados? É como
“grande” é preciso vencer a prova se Montrachet fornecesse uvas
do tempo. Pintores, escritores e a produtores conceituados de
cientistas, por exemplo, chegam a Beaujolais e os vinhos fossem
precisar de séculos para atingir o classificados com a designação
reconhecimento e a fama e serem genérica de vinho da Borgonha.
considerados “grandes”. Nos E depois temos as castas. As
vinhos acontece o mesmo. Não é grandes regiões de vinhos brancos
ao fim de cinco, dez anos ou até fundaram o seu prestígio em torno
Pedro Garcias 20 anos que um produtor pode de castas específicas: Chardonay
aspirar a ter um vinho reconhecido na Borgonha, Sauvignon Blanc no
a No último Elogio do vinho como “grande”, por muito bom Loire (Sancerre e Pouilly-Fumé),
escrevi que Portugal ainda não é que ele seja. Esse estatuto só se Riesling no Mosel e na Alsácia, etc,
um país de grandes vinhos brancos alcança ao fim de muitas décadas, etc. Em Portugal, tirando Bucelas
e que dificilmente algum dia o quando a soma de inúmeras (Arinto), Colares (Malvasia Fina),
será. “Dificilmente” não é nunca, colheitas não deixa dúvidas sobre Dão (Encruzado), Vinhos Verdes
mas, sendo uma visão pessimista, a qualidade e a singularidade do (Alvarinho e Loureiro, sobretudo)
justifico-a, sobretudo, com a vinho. e Douro, ainda andamos a
natureza do nosso clima. Os vinhos Ora, se virmos bem, a experimentar. Na Bairrada, depois
brancos gostam de frio — daí haver esmagadora maioria dos bons de algumas tentativas de afrancesar
tão bons brancos na França, na vinhos brancos portugueses ainda a região, só agora é que a Bical, a
Alemanha, na Áustria e até na tem uma história demasiado curta. Maria Gomes e a Cerceal começam
Suíça, por exemplo — e o clima de Em boa verdade, de marcas que a ganhar solidez. No Alentejo, as
Portugal é tudo menos frio. continuam no mercado, só os castas principais, a Antão Vaz e a
Esta tese não é pacífica. Ainda brancos do Bussaco (feitos com Roupeiro, estão a perder terreno
bem. Nas redes sociais, houve uvas do Dão e da Bairrada) e os para outras variedades nacionais
quem reagisse assim: “Acho que Porta dos Cavaleiros e Frei João, e estrangeiras. Em Lisboa, região
os [nossos] brancos nunca foram das Caves de São João, já venceram com grande potencial para
tão bons. (…) Se em 20 anos já a prova do tempo. Destes, ainda brancos, ainda é pior. Como a
atingimos este nível, imaginem podemos encontrar garrafas região é “nova”, podia fazer tudo
onde poderemos chegar com extraordinárias com 40, 50 ou bem feito — mas “bem feito” parece
algumas centenas de anos de produzimos mais tinto é porque clima é claramente mediterrânica. mais anos. Quando queremos ser introduzir castas francesas,
desenvolvimento?” (Paulo os nossos solos e o nosso clima Não é por acaso que os Vinhos surpreender alguém, é nestes quando seria possível construir
Pimenta). Ou: “Há quem esteja são mais favoráveis aos tintos. Verdes e algumas bolsas da zona de vinhos velhos que pensamos. uma identidade e um perfil em
numa situação pior e infelizmente Os nossos hábitos de consumo Lisboa mais influenciadas pelo mar Vinhos com história e com um torno de castas já com história na
trata-se da minha Itália. Eu acho são sempre determinados pela são as regiões de maior tradição perfil bem definido. região, como a Vital, por exemplo.
que Portugal tem mais potencial geografia. em vinhos brancos. Em França, há muitos brancos Um dos melhores vinhos brancos
nos brancos do que nos tintos” Claro que dizer de forma taxativa No entanto, hoje temos assim, com uma reputação de Lisboa, o António, do Casal
(Giorgetti FW Giorgetti). Ou: que Portugal tem um clima quente belíssimos vinhos brancos em construída ao longo de décadas Figueira, é feito com esta casta.
“Não se confunda clima com pode ser exagerado. Mas, tirando qualquer região do país. Só no e até de séculos e baseada no Exemplo flagrante da falta de
meteorologia. Habitamos numa a faixa litoral, a natureza do nosso Alentejo e no Douro, podíamos conceito de terroir, no estudo organização e rumo no vinho
latitude temperada. Tal como desfiar um rol imenso. Com aprofundado dos solos e na português é o arquipélago dos
o Professor Orlando Ribeiro tecnologia e água na vinha será supremacia da vinha face à adega. Açores, onde há quem esteja
escreveu, somos um país atlântico sempre possível fazer vinho Os lugares e as castas são o selo de a fazer vinho de Chardonnay
com influência mediterrânica branco. Até no deserto. Mas os garantia dos vinhos. Cada vinha e Sauvignon Blanc, quando
evidente” (Afonso Fernandes grandes vinhos brancos serão está devidamente estudada e há nas ilhas três castas locais
Marques). Ou: “E há quantos anos sempre excepções em regiões classificada em função do subsolo, extraordinárias: Verdelho, Arinto
(ou gerações) andam eles [os
franceses] nisto? (…) Por cá, como Em Portugal como o Douro ou o Alentejo e
estarão confinadas às suas zonas
solo, altitude, exposição, influência
dos ventos, etc. Em Portugal,
e Terrantez. Mas o exemplo
ainda mais eloquente do nosso
sabemos, fora no Douro e no vinho
do Porto, há poucas famílias que nunca mais altas frescas.
Podemos tentar contrariar
pouco ou nada está estudado e vale
quase tudo. Há umas delimitações
“problema” está nos Vinhos
Verdes, onde se fazem alguns
tenham tradições antigas no vinho. a natureza, mas esta acabará gerais e dentro delas cada um faz o dos melhores e dos piores vinhos
E já não falo em seculares, como houve uma sempre por vencer. A vida de um que quer. No Douro, por exemplo, brancos do país. Quais são as
os Hugel da Alsácia, por exemplo” vinho encarrega-se de colocar os melhores vinhos brancos são grandes marcas das duas maiores
( João Paulo Martins).
Juntos, estes quatro comentários
verdadeira isso em evidência. Em condições
normais, um branco muito bom
feitos por produtores instalados
à beira do rio que vão comprar
empresas da região, a Sogrape
e a Aveleda? O Gazela e o Casal
dizem quase tudo. Em Portugal,
nunca houve uma verdadeira
cultura de de uma região quente vai durar
menos tempo do que um branco
uvas nas terras mais altas, como
Murça ou Carrazeda de Ansiães.
Garcia. Isto diz tudo. É assim
que queremos ser reconhecidos
cultura de vinho branco. Por
alguma razão. Se consumimos e
vinho branco de qualidade semelhante de uma
região fria. Ora, “tempo” é o
Não há nada de mal, mas se esses
são os melhores terrenos para
com um país de grandes vinhos
brancos?
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Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os
seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas - Vinhos em Prova, Praça Coronel Pacheco, n.º 2, 3.º 4050-453 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
89 Um tinto 88 87
Zafirah Tinto 2016
Monção
de Monção Olho de Mocho Reserva
Branco 2016
Frei João Branco 2016
Caves S. João
Castas: Alvarelhão, Pedral,
Vinhão e Borraçal
à moda de Herdade do Rocim
Vidigueira
Anadia
Castas: Maria Gomes, Arinto e
Graduação: 10,5% vol
Região: sub-região Monção e antigamente Castas: Antão Vaz
Graduação: 13% vol
Chardonay
Graduação: 12,5% vol
Melgaço Região: Alentejo Região: Bairrada
Preço: 8€ Preço: 12€ Preço: 3,80€
a Quem gosta de vinhos diferen- Branco com fruta madura Um rótulo que é um ícone
tes, alternativos, vinhos ditos com (cítrica e de polpa branca) e dos vinhos nacionais e surge
arestas, pouco limpos até, vinhos discreto toque fumado. Tem agora renovado, com toques
“sãozinhos” como a vinha os deu, uma textura sedosa e a fruta de modernidade mas sem
minguados de álcool e fresquíssi- é muito saborosa. A barrica concessões ao estilo clássico
mos, para beber sem contenção, parece ter sido usada como e austero de sempre. Uma
tem que conhecer este Zafirah. É o um apontamento ligeiro só metáfora, afinal, quase perfeita
primeiro tinto produzido por Cons- com o objectivo de complexar para o que encontramos dentro
tantino Ramos, enólogo que trabalha um pouco o vinho. A meio da da garrafa. Um vinho que, sendo
com Anselmo Mendes. boca, parece algo estreito, leve, fresco e aromático, nos
Lote de Alvarelhão, Pedral, Vinhão mas termina bem, com sabor enche também a boca com
e Borraçal, tem origem numa vinha pronunciado e acidez bem equilíbrio, sabor, persistência e,
de latada já velha, igual a tantas ou- proporcionada. Um branco até, alguma intensidade. Grande
tras que ainda subsistem nos cam- muito agradável e harmonioso. amplitude à mesa, prazer
pos húmidos do Minho. É um vinho P.G. garantido e quase imbatível na
que tenta emular os antigos tintos de relação entre preço e qualidade.
Monção, já descritos no foral atribu- J.A.M.
ído a esta vila por Afonso III em 1261.
Os primeiros a interessarem-se por
estes vinhos abertos de cor foram os
Proposta ingleses, ainda antes de se perderem
da semana de amores pelos vinhos do Douro.
De perfil antigo, são, no entanto,
vinhos muito modernos e com ca- 84 89
da vez mais apreciadores em todo o
mundo, em especial nos mercados
mais evoluídos. Na Galiza, este re- Selecção de Enófilos Aventura Branco 2016
gresso aos vinhos de antigamente, Branco 2016 Vinho Regional Alentejano
feitos com castas que foram fican- Quinta da Alorna (engarrafado Susana Esteban
do esquecidas e mal-amadas, está para o Intermarché) Mora
na moda e já envolve uma grande Almeirim Graduação: 12,5% vol
número de produtores. Nos Vinhos Castas: Fernão Pires e Moscatel Região: Alentejo
Verdes, o fenómeno ainda é muito Graúdo Preço: 9€
recente. Graduação: 12,5% vol
É uma nova forma de encarar o Região: Alentejo Lote de apenas 6000 garrafas
vinho tinto numa região dominada Preço: 1,99€ a partir de uvas de vinha velha
pelo vinho branco. Provámos este na serra de São Mamede, que
Zafirah pela primeira vez num almo- Não há muitos segredos neste destacam o carácter mineral
ço de rojões à moda do Minho com vinho. Ou melhor: o seu segredo e a complexidade do vinho.
arroz de cabidela, no restaurante Bo- está no aroma, de grande Há aromas da serra, sabores
cados, em Ponte de Lima (magnífico, exuberância, com muitas notas concentrados de fruta amarela
por sinal), e foi uma bela surpresa. florais e de fruta tropical, e madura, mas domina a frescura
Como é fresquíssimo e seivoso, ca- numa prova muito crispy. Até quase ácida e um final seco e
sou bem com a comida. No aroma, parece ter um ligeiro gás, tal tenso que cativa como principal
cheio de fruta vermelha muito viva, é a sua vivacidade. Sendo um virtude. É, por isso, um vinho
tem parecenças com o tradicional vi- vinho de uma grande cadeia de gastronómico, com alma, corpo
nho “morangueiro”, mas na boca a supermercados, percebe-se o e o carácter rude do lugar que o
sensação do morango desaparece e estilo. Continua a haver muitos fez, que é servido com apelativa
o que prevalece é o sabor primordial consumidores para este tipo de envolvência aromática com a
do vinho pouco maduro mas — e isso vinho. P.G. marca do trabalho de enologia
é que impressiona — sem a rusticida- de Susana Esteban. J.A.M.
de dos vinhos tintos minhotos feitos
à base de Vinhão. Uma graciosidade
(que será o significado de Zafirah).
Pedro Garcias
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Motores
+
FOTOS: DR
O McLaren 720S
foi escolhido
como o Carro
de Sonho 31 modelos na corrida
pelo título de Carro
do Ano em Portugal
Há 31 modelos a disputar o
Essilor Carro do Ano / Troféu
Volante de Cristal 2018, número
que confirma o “bom momento”
vivido pelo sector.
Depois de uma travessia
no deserto, com a indústria
automóvel a refectir a crise, o
número de carros matriculados
ao longo de 2016 animou o
sector e, este ano, tudo indica
que o cenário positivo se repita:
até Outubro de 2017, foram
matriculados 187.450 veículos
ligeiros de passageiros, o que
representa um crescimento de
7,8% face ao período homólogo
de 2016. Perante estes números,
torna-se mais fácil perceber o
crescimento de inscritos para
Carro do Ano, que duplicou
desde o ano passado.
O Essilor Carro do Ano 2018/
Troféu Volante de Cristal tem
como objectivo escolher
os melhores automóveis do
mercado português, apoiando-
se nas avaliações de um painel
composto por jornalistas
automóveis em representação
de quase uma vintena de
Portas da Luz
Tinto 2016
Produtor
Casa Santos Lima
Prémios
• Medalha de Ouro
• Melhor Vinho Português
Citadelles du Vin
Concurso francês
Tipo
Vinho Tinto
Colheita
2016
Região
+8,50€
Algarve
Castas
Touriga Nacional
HOJE e Syrah
COM O PÚBLICO
Teor alcoólico
14 %
Em Banca: Beyra Reserva Tinto 2015 . 7,49€ | Morgado de Sta. Catherina Branco 2015 . 8,99€ | 18 Nov Portas da Luz Tinto 2016 . 8,50€
25 Nov Herdade de São Miguel Alicante Bouschet 2015 . 10€ | 02 Dez Maquia Tinto 2014 . 12€ | 09 Dez Tyto alba Touriga Nacional 2014 . 10,90€
16 Dez Herdade Grande Tinto Gerações 2013 . 12€ | 23 Dez Caçada Real Branco 2016 . 6€
Colecção de 8 vinhos. PVP unit.: variável. Preço total da colecção: 75,88€. Periodicidade semanal ao Sábado. De 4 de Novembro a 23 de Dezembro de 2017. Limitado ao stock existente. É proibida a venda de álcool a menores de 16 anos. Seja responsável, beba com moderação.
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FOTOS: NUNO FERREIRA SANTOS
panha, onde buscaram a inspiração
para criar “uma coisa à portuguesa”.
Naquela tarde de domingo, dois
sportinguistas equipados a rigor de-
nunciavam que era dia de jogo. Mas Aqui não é só o futebol que
só mais tarde se saberia que acabaria é rei. Há espaço para todos os
por não correr assim tão bem (empate desportos, do boxe ao xadrez
a duas bolas com o Braga). Mas, ainda
—
que a conversa passe sempre pelo fu-
tebol, cabem lá todas as modalidades,
garante Francisco Moura Guedes. Por
exemplo, o mais-que-esperado com-
bate, que, em Agosto, opôs os boxeurs O barulho e a quantidade de
Conor McGregor e Floyd Mayweather, ecrãs ligados ao mesmo tempo
encheu-lhes a casa que tinham aber- podem ser desorientadores
to há pouco mais de uma semana.
“Eram 5h da manhã e tínhamos fila.
Foi uma loucura”, recorda. aconteceu, conta Francisco, com um
“Conseguimos conciliar o melhor combate de kickboxing de um atleta
de dois mundos: o sports bar típico do ginásio Kolmachine, de Lisboa,
americano, com televisões que nun- que ia combater na Holanda, e que
ca mais acabam, com aquilo que é a reuniu cerca de 60 pessoas na sala
realidade portuguesa. Faz sentido ter- Grant’s do The Couch, que pode ser
mos um espaço cheio de néones em reservada para grupos. O mesmo nu-
que só vendemos hambúrgueres?”, ma despedida de solteiro que reuniu,
questiona. Não, responde. Por isso, no bar, 18 ingleses que queriam ver
mantiveram-se as portas em madeira um jogo da segunda divisão da liga
que foram aproveitadas da antiga loja inglesa. E viram.
de discos Trem Azul e acrescentaram- “Pode vir aqui sozinho ou pode vir
sanduíche é que seja deliciosa O pão é estaladiço e fofo, a maioria que se encontra até
sem pesar no estômago. É por manteiga é grossa e salgadinha: em pastelarias decentes é
isso que impera a regra do pão que mais se pode pedir? Outra um pão de forma adulterado,
com manteiga. Esta diz que se o arte portuguesa é saber calcar a cheio de açúcar, óleo vegetal e
pão for muito bom e a manteiga carcaça até ficar no ponto certo conservantes. É muito bonito e
for muito boa então a sanduíche
não precisa de mais nada.
de dentição. Quando era criança
gostava de me sentar em cima Para as faz umas torradas grossas que
ensopam manteiga mas, para
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