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Com a redução do rebanho mundial de ovinos em torno de 8% nos últimos anos, o mercado

internacional abriu espaço para outras nações produtoras, a exemplo do Brasil. Apesar do
cenário, a ovinocultura nacional não deslanchou ainda, considerando que importa mais que
exporta. Além disto, o consumo interno da carne ainda é modesto: entre 0,7 e 1,0 quilo por
pessoa ao ano, muito baixo levando em conta que o País tem mais de 200 milhões de pessoas.

O que os agropecuaristas precisam saber é que a carne ovina tem alto valor de mercado
quando comparada às demais, o que inclui a bovina, tornando as negociações deste setor mais
rentáveis, afirma Samantha Andrade, técnica adjunta do Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural (Senar), em Goiás.

“A rentabilidade da atividade de ovinocultura se dá pela quantidade de arrobas produzidas,


em menor espaço de tempo, do que na atividade de bovinocultura de corte, por exemplo, sem
falar do constante preço alto da arroba do ovino”, destaca.

Conforme Samantha, o custo de manutenção de dez ovelhas, em um mesmo espaço onde é


criada uma vaca, é bem menor. Cita ainda que estudos mostram que um boi precisa de um
hectare de capim para se alimentar durante um ano e atingir entre 200 e 250 quilos. “Neste
mesmo espaço, 60 ovinos podem pastar e produzir até 900 quilos de carne.”

O alto valor cobrado pela carne ovina pode ser atestado pela cotação do mercado de carnes,
registrada nesta quarta-feira, 7 de outubro, no Brasil: 15 quilos variaram entre R$ 120,00 e R$
240,00; e o mesmo peso do boi gordo, de R$ 122,50 a R$ 157,00.

CONSUMO

Embora o cenário seja promissor, Samantha reforça que o consumo de carne ovina ainda é
tímido no Brasil: 0,7 a 1,0 quilo por pessoa ao ano, conforme dados de 2013 do Sebrae de São
Paulo. Mesmo assim, o País precisou importar, naquele ano, 7 mil toneladas de carne ovina do
Uruguai (maior mercado produtor do mundo) para abastecer o mercado interno, também
segundo informações do Sebrae-SP. Ela também destaca que o consumo se concentra mais na
culinária da África, Ásia e Oceania.

Na opinião da técnica adjunta do Senar Goiás, o consumo baixo vai além de questões culturais,
reforçadas pelo comércio de carnes mais populares, como a bovina e a de frango.

“Os pecuaristas não têm aderido de forma efetiva à ovinocultura também por falta de
conhecimento; de estruturação da cadeia – faltam cooperativas, e assistência técnica
qualificada -; e de plantas de abatedouros nas proximidades da propriedade rural; dentre
outras.”

Mesmo assim, “dentro do panorama brasileiro, os Estados ou regiões que se destacam pelos
bons índices de produção são o Nordeste, com o maior contingente de cabeças; região Sul,
com destaque para Rio Grande do Sul. Ainda há grande estímulo de produção na região
Sudeste”.

DIVULGAÇÃO

Com o intuito de atrair o consumidor brasileiro, a técnica adjunta do Senar Goiás defende a
necessidade de divulgação e publicidade mais amplas e eficazes da ovinocultura, que poderiam
surtir efeitos para o aumento deste consumo no País.

“Para tanto, deve-se trabalhar a qualidade da carne ovina ofertada ao público.”


Ela ainda atribui o baixo consumo no Brasil ao passado, “quando eram ofertados animais de
baixa aptidão, velhos e com características ruins para o consumo”. “Mas este hábito tem
deixado de existir, uma vez que a carne do animal que chega à mesa do consumidor, hoje,
envolve ovinos mais jovens, de carne macia e saborosa”. Daí a importância de acabar com o
“pré-conceito” e divulgar melhor o atual cenário da ovinocultura em território nacional.

CRIAÇÃO E PRODUÇÃO

Para incrementar a ovinocultura no Brasil, Samantha também defende a facilidade de se ter


uma criação consorciada ou paralela. “É possível, a exemplo de outras formas ainda mais
avançadas, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), em que todos os elos são
beneficiados com a utilização da criação e plantios simultâneos.”

Sobre o tipo de criação de ovinos, a técnica ajunta do Senar Goiás informa que, na região Sul
do Brasil, ela é baseada em raças laneiras e mistas, adaptadas ao clima subtropical, onde se
obtém lã e carne, representada pelas raças Dorper e White Dorper. Já no Nordeste, os ovinos
pertencem às raças deslanadas, adaptadas ao clima tropical, que apresentam alta rusticidade e
produção de carne e peles, tendo como grande representante o Santa Inês.

Apesar da produção nacional, que gira em torno de 18 milhões de cabeças distribuídas em


todo o País, ela comenta que o Brasil ainda tem a necessidade de importar a carne ovina de
países vizinhos, como o Uruguai.

“Levando em conta a obrigatoriedade de compra para atender ao mercado interno, isto torna
a criação de ovelhas, por exemplo, um mercado atraente para os pecuaristas, com
comercialização praticamente garantida.”

A produção de carne ovina é uma atividade que vem se desenvolvendo gradativamente no


país, mudando o foco e crescendo em regiões onde antes a ovinocultura era insignificante,
viabilizando sistemas de produção animal em pequenas propriedades e tornando-se mais uma
alternativa de investimento no meio agropecuário.

O rebanho brasileiro diminuiu significativamente (25%) na primeira metade da década de 90,


acompanhando uma tendência mundial, devido à grave crise que abateu o mercado da lã.
Houve uma forte retração na demanda mundial de lã, o que forçou os países produtores a
reduzirem seus rebanhos e modificarem o perfil da produção, direcionando o sistema mais
para a produção de carne, tornando-o mais flexível diante do mercado.

A queda no efetivo ovino nacional deveu-se à redução do rebanho na região Sul, maior
produtora de lã do pais.

Atualmente 58,5% do rebanho nacional se encontra no Nordeste, 28,5% na região Sul, 6,0% na
região Centro-Oeste, 2,5% na região Sudeste e 4,5% no restante das regiões (IBGE, 2005).

Dentre as regiões mencionadas, destacam-se o Centro-Oeste, Norte e Sudeste, apresentando


grande aumento de seus rebanhos.
Mesmo com o aumento da produção nacional, existe um déficit de carne ovina no mercado
que, segundo as estimativas, tende a persistir, pois a demanda ainda é superior a oferta,
dando espaço para as importações. A oferta de carne ovina brasileira existente no mercado
está abaixo da capacidade de consumo, no entanto, quantidade considerável de carne
consumida é de origem clandestina, o que compromete a análise adequada e confiável dos
dados.

As importações de carne ovina em 2006 totalizaram 7,1 mil toneladas (50% a mais que no ano
de 2005), comercializadas por cerca de U$ 2,10/kg (dados do Ministério de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC)).

A quantidade de carne importada é dependente de uma série de fatores e principalmente da


relação entre eles. O câmbio, as questões sanitárias, as mudanças de hábitos alimentares que
interfiram no consumo e as políticas fiscais, são alguns dos fatores que podem, de alguma
forma, afetar as importações.

Exemplos:

No final da década de 90 ocorreu desvalorização da moeda brasileira. Com isso, a cotação


média do dólar em 99 registrou aumento de 56% em relação a 98, que foi acompanhado por
uma redução de 32,5% no volume de importações.

Já em 2001, observou-se uma brusca queda nas importações, da ordem de 52%, logo após um
ano de significativo crescimento. O fato importante que marcou esse ano, mais
especificamente no final do mês de abril, foi a ocorrência de febre aftosa no Uruguai,
fornecedor de 99% da carne ovina importada pelo Brasil.

Importamos praticamente tudo do Uruguai, pois este pais exporta seus cordeiros e/ou cortes
traseiros à União Européia, a preços muito superiores e disponibiliza um grande volume de
cortes dianteiros ao Brasil, a preços mais baixos. Assim, a paleta tornou-se o corte mais
consumido no país e não existe uma diferenciação de preços para carne de cordeiro e outros
tipos de carne ovina, menos nobres.

Trocando em miúdos, o consumidor ainda não sabe distinguir a diferença entre uma boa carne
de cordeiro e a carne de animais mais velhos, fazendo com que o Uruguai consiga colocar seus
produtos no Brasil a preços competitivos (pois comercializa produtos de menor qualidade, ao
passo que o Brasil produz e comercializa cordeiros).

Segundo pesquisa publicada no FarmPoint: "Pesquisa de mercado FarmPoint: comportamento


do setor nas regiões do país" (maio/2007), a região Sudeste apresenta o maior mercado
consumidor de produtos ovinos com alto valor agregado, devido ao grande poder aquisitivo da
população nos grandes centros urbanos. Esta mesma pesquisa informa que o quilo de carcaça
gira entre R$ 4,90 a R$ 12,00, sendo mais comuns os valores entre R$ 6,50 e R$ 7,00. Muitos
informantes salientaram a diferença entre valores no comércio formal e informal, sendo que
neste último os preços são bem superiores.

Muitos apontaram o crescimento dos canaviais em São Paulo como fator preocupante para a
atividade pecuária, uma vez que muitas propriedades estão desistindo da atividade para
arrendarem suas áreas para usinas, por causa da maior rentabilidade.

Principais entraves da cadeia produtiva de ovinos

Muito se discute sobre a desorganização dos setores da ovinocultura no Brasil e a necessidade


de estruturação entre os elos dessas cadeias produtivas para possibilitar um desenvolvimento
sustentável.

Diversas são as sugestões para que as duas atividades adquiram importância econômica no
cenário nacional e até internacional: aumento da escala de produção criando competitividade,
constância de fornecimento e padronização; incentivo ao consumo dos produtos derivados
dessas espécies; aumento de pesquisas voltadas a novas tecnologias de produção; políticas
públicas de incentivo fiscal; entre outras.

Figura 1. Fluxograma da cadeia produtiva de ovinos.

Os entraves desta cadeia produtiva são pontuados principalmente pela falta de conhecimento
do mercado consumidor. Este desconhecimento mercadológico acarreta diversos problemas
em toda a sistemática da cadeia produtiva, como:

• Profissionalização, concebendo a propriedade rural como uma empresa;


• Padronização de processos;
• Irregularidade da oferta;
• Abates clandestinos;
• Falta de estruturação da comercialização;
• Falta de informações do perfil do consumidor;
• Competitividade com outros mercados;
• Desconhecimento dos nichos de mercado.

Um dos primeiros animais a serem domesticados pelo homem foi o ovino, com relatos no
Antigo Testamento de rebanhos que acompanhavam o desenvolvimento das civilizações nas
Planícies Mesopotâmicas. Há milhares de anos, essa espécie animal vem demonstrando seu
valor econômico, através da capacidade de conversão de forragens em produtos de qualidade
e essenciais para os seres humanos como a lã, a pele, a carne e o leite.

Os sistemas de produção de ovinos mundialmente sofreu mudanças, principalmente em


decorrência da crise da lã ocorrida nas décadas de 80 e 90. Em função disso, atualmente o
maior foco na produção de ovinos está em torno da carne (especialmente de animais jovens),
e também em grande expansão em nosso país, a produção de leite.

A exploração leiteira mundial não é uma atividade recente, existindo relatos também no
Antigo Testamento da produção de queijos a partir de leite ovino. A atual produção mundial
de leite ovino, fica em torno de 10 milhões de litros/ano, porém acredita-se que esta
estimativa seja bem maior (FAO, 2010).

No Brasil a exploração da atividade leiteira ovina em escala industrial é recente, mais


precisamente com a introdução da raça Lacaune no Rio Grande do Sul, pela Cabanha Dedo
Verde no ano de 1992. A partir dessa data, o Rio Grande do Sul e há quatro anos, o oeste de
Santa Catarina, estão produzindo queijos finos (originários dos países europeus) e iogurtes. O
diferencial da produção de queijos finos a partir do leite de ovelha é a alta agregação de valor
nesses produtos e a grande demanda, particularmente pelos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro, mais especificamente em hotéis e restaurantes de culinária requintada desses
estados.

A Lacaune (origem Francesa) é considerada uma raça de dupla aptidão (produtora de leite e
carne) e pode produzir de 150 a 220 kg de leite em até 150 dias aproximadamente.

A raça Bergamácia (origem Italiana) está no país desde 1930, e os maiores rebanhos se
concentram nas regiões centrais do país e Nordeste. Desde a década de 30, a raça foi
explorada para a produção de carne e lã, até que houve o aumento no interesse da atividade
leiteira no país, levando a raça para as salas de ordenha. A ovelha Bergamácia pode produzir
em média de 250 kg de leite durante um período de 160 dias.

Recentemente, a raça East Friesian ou Milchschaf (origem Alemã), é considerada a raça de


maior produção de leite entre todas as raças ovinas e foi introduzida no Brasil no ano de 2007.
Esta raça produz em média de 380 a 450 kg de leite durante 220 dias aproximadamente. A
Milchschaf está sendo muito explorada e estudada na Argentina e no Uruguai há mais de anos,
onde o objetivo é a alta produção de leite e aumento da prolificidade nos rebanhos (outra
característica dessa raça).

O valor nutritivo do leite ovino é indiscutível, pois em comparação com outras espécies é o que
apresenta os maiores teores de proteína, lipídios, minerais e vitaminas essenciais para a saúde
humana. Em geral, o consumo de leite de ovelha in natura é muito baixo, mas é muito
utilizado para produção de queijos finos e em alguns países, parte do leite é transformado em
iogurte ou queijos frescos (Haenlein&Wendorff, 2006).

No leite ovino existem propriedades únicas que o diferem dos demais leites, como é o caso da
coloração branca intensa e homogênea. Essa característica na espécie ovina está associada aos
carotenóides, pigmentos que são convertidos em vitamina A (que é incolor), impedindo que o
leite tenha coloração amarelada como no leite de vaca (Ebing&Rutgers,2006).
O sabor e o aroma do leite ovino são suaves e adocicados, além de possuir uma textura
cremosa, por conter glóbulos de gordura pequenos. Esta peculiaridade no tamanho dos
glóbulos gordurosos do leite ovino propicia que esse seja digerido mais facilmente. O leite de
ovelha contém maior quantidade de ácidos graxos saturados de cadeia média/curta e acredita-
se que isto leva à maior absorção da lactose, o que acaba por ser benéfico aos intolerantes à
lactose. Além disso, esse leite contém ácido lático, uma forma conversora da lactose,
tornando-a facilmente aceita pelas pessoas intolerantes à lactose (Campos, 2011). A proteína
mais abundante no leite é a caseína, e o leite de ovelha apresenta três vezes mais desse tipo
de proteína em relação aos leite de cabra e vaca. As proteínas do leite ovino são consideradas
proteínas de alto valor biológico (PAVB), contribuindo para uma melhor digestibilidade.

Portanto, em função das propriedades físico-químicas do leite ovino, o queijo proveniente


desta espécie animal apresenta rendimentos maiores, em relação aos queijos de outras
espécies produtoras de leite, pois a proporção gordura:proteínas e sólidos totais são mais
elevados. Segundo o produtor gaúcho Aguinsky (2011), para se produzir um quilo de queijo
ovino são necessários de quatro a cinco litros de leite, enquanto que para produzir a mesma
quantidade de queijo de vaca serão necessários de dez a doze litros de leite.

Os principais queijos produzidos no Brasil com Serviço de Inspeção Federal (SIF) são os Tipos
Pecorino Toscano Fresco e Maturado, queijo Fascal, Tipo Feta, Tipo Roquefort, Ricota Fresca
entre outros.

Os iogurtes provenientes do leite de ovelha também apresentam características próprias,


como é o caso da consistência cremosa. Isto se deve ao fato do leite ovino ser mais denso, ou
seja, mais rico em sólidos totais, não havendo necessidade de adicionar estabilizantes e muito
menos espessantes, devidos ao seu maior teor gorduroso (gordura saudável).

A lactose presente no iogurte é facilmente digerível, pois cerca de 50% de sua concentração
original já foi hidrolisada durante a fermentação, e as células bacterianas, durante o processo
de metabolismo humano, sob condições gástricas, sofrem lise, liberando a lactase (Brandão,
1995). Comparado ao leite de vaca, o iogurte feito com leite de ovelha tem o dobro de
quantidade de cálcio e proteínas, e 50% mais ferro. É também mais rico em vitaminas A, D, C, E
e complexo B e contém menos sal. Trata-se de um iogurte bem refrescante e excelente
quando servido com frutas (CAMPOS, 2011).
O doce de leite é outro produto proveniente do leite ovino, caracterizando-se por sua textura
suave e menor teor de gordura. Outro doce fabricado com leite ovino é a ambrosia, que quer
dizer "Manjar dos Deuses do Olimpo", que dava a imortalidade. Esse doce tem sua origem
discutível, citado como sendo tanto de Portugal quanto da Espanha. Também acabou
recebendo diversas formas de preparo, com versões regionais nos diversos estados brasileiros.
É citado tanto nos cardápios das Festas Juninas do Nordeste e Sudeste do país, quanto como
doce típico do Rio Grande do Sul (Casa da Ovelha, 2012).

E para finalizar, como produto procedente do leite ovino, os cosméticos para uso humano.
Produtos de embelezamento, como os sais de banho, sabonetes em barra e cremoso, creme
para as mãos e pés, cremes faciais e corporais, shampoo, condicionadores entre outros (Casa
da Ovelha, 2012).

Portanto, verifica-se que o leite ovino e seus derivados são produtos de alta qualidade e que
agregam alto valor comercial, por suas peculiaridades requintadas, elevando a rentabilidade
da propriedade. Sem dúvida demonstra ter grande importância econômica para o
desenvolvimento da ovinocultura nacional

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