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Os ricos, principalmente, viviam sobre as vistas dos criados, comiam, dormiam sob os
olhos deles. Acabaram por perderem as intimidades a dois (os casais). E a exigência de
recusa aos criados o tranformou num intruso, no século XIX. Em 1830 começa a moda
dos retratos, de famílias, de pessoas e parentes passados que morreram ou amigos. Mas
esse processo favorece por fim a vulgarização e a contemplação da imagem da nudez.
No início do século XIX, é no seio do espaço privado que o indivíduo se prepara para
afrontar o olhar dos outros; ali configura-se sua apresentação em função das imagens
sociais do corpo. Impõe-se nessa época a elaboração de uma estratégia de aparência, um
sistema de comunhões e ritos que visam somente a esfera privada. Assim, ao cabo de
décadas, a camisola de dormir deixa aos poucos de ser tolerada fora do quarto.
Tornou-se símbolo de uma intimidade erótica e menor alusão a ela. Outro fato histórico
renova então as condutas privadas: o inaudito sucesso da lingerie. A extrema
sofistificação da vestimenta invisível valoriza a nudez, dando-lhe maior profundidade.
Enquanto se multiplicavam os estágios do despir-se (no final do século), a acumulação
erótica ainda era um tabu. As mulheres usavam corpetes para manter a silhueta esbelta e
acentuar as curvas das ancas e dos seios.
No final do século XIX, o corpo já está mais livre. Os gestos e as posturas são
permitidos e o corpo deixa de ser percebido como exterior à pessoa. Os prazeres do
corpo nu em meio a fluidez de um banho de mar já não é tão julgado.