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Psicologia social como especialização da psicologia: o

neoliberalismo atinge ao (CFP)


Eduarda Medina
Universidade do Oeste Paulista

RESUMO: A crítica diz respeito à Psicologia social, debatendo o que de fato essa
especialização consiste e quais as consequências disso. O tema abordado é a
resolução implantada pela (CFP) e o impacto que trouxe para os psicólogos. A
problemática apresentada tem o objetivo de, baseado nas consequências, promover
a conscientização dos danos que futuramente isso poderá causar.

INTRODUÇÃO:

No ano de 2000, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) instituiu várias áreas de


especialização para a psicologia. Anos mais tarde a psicologia social foi oficializada
como uma especialização da área. Segundo a resolução (5/03) instalada, a
psicologia social é definida como uma área específica da psicologia que atua na
“compreensão subjetiva dos fenômenos sociais”. As áreas de atuação do psicólogo
social são diversificadas, podendo ser nas instituições ou espaços comunitários, por
exemplo. A função desse especialista, segundo a resolução implantada, é promover
ações sociais em meio à comunidade, grupos e movimentos sociais. Além disso, é
proposta a realização de pesquisas sobre temas que relacionem os indivíduos e as
sociedades.

A divulgação desta nova resolução tem sido alvo de polêmica e discussões no


campo da psicologia e das ciências sociais. Os argumentos apresentados sobre as
críticas à especialização são pertinentes e adotados por grande parte dos
psicólogos. A minoria, que estão de acordo com ela, defende que tudo não passa de
uma falha na comunicação: ruídos em relação à linguagem usada na resolução,
palavras que causaram desentendimentos. Entretanto, mesmo que os apoiadores
estejam corretos, é inaceitável o descuido linguístico em artigos tão importantes que
podem impactar todos profissionais da área. Junto a isso a psicologia social não
pôde ser simplesmente uma especialização da psicologia, uma vez que a partir disso
houve um grande paradoxo sobre a definição do que é a psicologia social, dividindo-
a em psicologia social e a sociologia psicológica.

CRÍTICA:

Primeiramente, há um grande desentendimento sobre o tema mais básico, que


deveria ser o mais simples a ser entendido: O que é a psicologia social? E o que
tentaram dizer na resolução? Fica a dúvida se a psicologia social trata-se do estudo
dos fenômenos subjetivos na dimensão da sociedade, ou o estudo dos fenômenos
da sociedade na dimensão subjetiva? Ou da investigação da psicologia numa
perspectiva social (uma linha teórica)? Qual seria então, o objeto de estudo desse
especialista?

Há uma grande distinção implícita na resolução, entre o social e o psicológico, uma


vez que: todo psicólogo (independente de abordagem, especialização, área de
atuação) preocupa-se com a questão social. Afirmando isso, qual a necessidade de
uma área específica para isso?

Para o presidente da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), essa


especificação diz a respeito da junção da sociologia com a psicologia. Entretanto,
afirma que, a prática da psicologia social não condiz com a prática da psicologia e,
portanto não deve ser regulamentada pelo CFP. Para ele, a regulamentação da
psicologia social não passa de uma tentativa do CFP de aumentar as áreas de
atuação da psicologia, uma vez que essa área encontra-se saturada de profissionais
e escassa em mercado de trabalho. Outro ponto defendido, é que a resolução
praticamente boicota a psicologia social, porque não contribui para a formação em
psicólogo social e deslegitima outras profissões voltadas a isso. Portanto, a
psicologia social não pode ser somente uma área de especialização, pois se refere
ao compromisso que todo psicólogo deve ter com a sociedade. Em si, a resolução
desvaloriza tal ato, enxergando a preocupação social como uma obrigação dos
especialistas apenas.

Outro fato importante que devemos considerar é que, mais uma vez, com a
resolução implantada há uma desvalorização na área da psicologia social, porque
segundo ela, somente psicólogos podem produzir estudos e exercer essa profissão.
Tal polêmica vai muito além de uma simples crítica ao CFP, atualmente no estado
que se encontra os fenômenos sociais, é imprescritível a produção de estudo nesse
campo. Com o direcionamento da psicologia social apenas para psicólogos, há uma
exclusão de profissionais de outras áreas que se interessam por esse campo. Como
um efeito dominó, a consequência disso tudo é a escassez de produção científica
sobre a sociedade e a falta de profissionais para preocuparem-se com o fenômeno
social psicológico.

Todos os fenômenos psicológicos são construídos socialmente. A psicologia


preocupa-se com a desnaturalização de tais fenômenos, indo além de pensamentos
positivistas. Por exemplo: gênero e sexo; A psicologia nada mais é que
simplesmente investigar os fenômenos psicológicos que são fundados em diferentes
contextos. Todo psicólogo é social! A separação de uma especialidade para lidar
justamente com essas questões, é insulto aos psicólogos e diz implicitamente que
não estão realizando seu trabalho de forma correta. É como dizer ao profissional que
não precisa mais se preocupar com tais questões sociais, pois isso agora é trabalho
do especialista. Toda psicologia deve desnaturalizar os fenômenos sociais, por isso
a psicologia social não pôde ser uma área de especialização, mais sim, uma
preocupação de todos profissionais que promovem saúde psíquica. Não existiria
psicologia com eficiência se não houvesse a compreensão dos fenômenos psíquicos
a partir da dimensão social em qualquer que fosse área de atuação. A resolução
imposta é um equívoco, acima de tudo, uma contradição a toda psicologia.

E apesar de todo paradoxo, as questões que afetam nitidamente o agir do psicólogo,


a escassez em produção científica social, a diminuição de profissionais de
psicólogos sociais e a desconsideração com o trabalho do psicólogo; há quem diga
que o CFP agiu correto em impor tal resolução. O argumento usado por estes é que,
com a especialização da psicologia social sendo uma área que pode exercida
somente por psicólogos, há uma maior reserva de trabalho para eles. Ou seja, a
confirmação do argumento citado: a resolução foi implantada como tentativa de
solução para aumentar as opções em áreas de atuação da psicologia, por
considerarem a grande quantidade de profissionais na área. Seria um problema
haver grande número de profissionais formados em psicologia, levando em conta o
aumento das taxas de depressão em suicídio? Chegamos aqui há um ponto bem
discutido: mercado e capital. Realmente, a quantidade de psicólogos é maior do às
vagas oferecidas pelo mercado de trabalho, mas seria essa a principal
preocupação? Pensar nisso, como um problema, seria mais uma desconsideração
com o social implícita da CFP? Há mais a se pensar sobre, por trás de um tema
como este em questão existe muito mais do que o popularmente discutido.

Numa realidade contextual de neoliberalismo, questões como estas tendem a


crescer, como por exemplo, o Ato Médico que felizmente foi vedado pela ex-
presidente Dilma. A distorção das prioridades das grandes instituições tem atingido
cada vez toda população. É necessário que o Conselho Estadual de Psicologia tome
nota da insatisfação dos profissionais da área e atue mediatamente sobre a
resolução (5/03). Baseado em como caminha nossa sociedade, é com urgência que
tal medida de ser tomada. É por descaso que esta se faz tão escassa em estruturas
inclusivas. O órgão responsável pela psicologia não pode vendar-se e vender-se,
como os demais, uma vez que a sociedade depende principalmente disso.

REFERÊNCIAS
ABRAPSO. Estatuto da Associação Brasileira de Psicologia Social.

ABRAPSO. Ofício do presidente da ABRAPSO para o CFP, 5/06/2002.

ABRAPSO. Ofício da presidenta da ABRAPSO para o CFP, 5/06/2002.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Resolução nº 5/200, de 14 de junho de 2003.

REDAÇÃO RBA. Publicado em Rede Brasil Atual, em 19/06/2013.

Guia do Estudante, publicado pela redação, em 15/06/2010.

Heliana de Barros Conde Rodrigues. A psicologia social como especialidade: paradoxos do mundo
da Psi.

Cornelis Van Stralen. Psicólogo Social; Cordenador do programa de pós-graduação de psicologia da


UFMG; Presidente da ABRAPSO.
Adolfo Pizzinato – Professor da Faculdade de Psicologia da PUCRS, Programa de Pós-Graduação
em Psicologia, Área de Concentração em Psicologia Social. Helena Beatriz Kochenborger Scarparo
– Professor da Faculdade de Psicologia da PUCRS, Programa de Pós-Graduação em Psicologia,
Área de Concentração em Psicologia Social. Marlene Neves Strey – Professor da Faculdade de
Psicologia da PUCRS, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Área de Concentração em
Psicologia Social. Mary Sandra Carlotto – Professor da Faculdade de Psicologia da PUCRS,
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Área de Concentração em Psicologia Social. Nédio
Seminotti – Professor da Faculdade de Psicologia da PUCRS, Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, Área de Concentração em Psicologia Social. A Psicologia Social do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da PUCRS e suas conexões com a revista Psico.

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