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Para a construção de currículos multiculturalmente orientados, os autores sugerem alguns

princípios e propósitos:

4.1. Adoção de uma nova postura frente o daltonismo cultural presente nas escolas: que leva o
professor a limitar a diversidade e ver todos os estudantes como idênticos, não valorizando as
origens culturais e as vivências de cada um. A fim de sensibilizar os professores sobre essa
realidade, são propostas algumas estratégias:

4.1.1 Aprofundamento teórico com vivências de experiências, onde os profissionais da


educação são colocados em situações vividas pelos alunos, como
preconceito, exclusão social, etc. e analisam suas próprias reações

4.1.2. Resgatar histórias de vida e estudar casos reais, de forma a estimular a discussão
de situações em que alguém ou eles próprios foram depreciadas ou desrespeitadas.

Tais estratégias levam os professores a adotarem uma nova postura que estimula a
desconstrução de estereótipos e verdades que se instalam na cultura escolar.

4.2. O currículo deve reescrever o conhecimento escolar usual, considerando as diferentes


origens e pontos de vista envolvidos em sua produção para que os interesses ocultados sejam
evidenciados, sendo possível reescrever os conhecimentos. O objetivo é não se contentar em
apresentar aos estudantes apenas a visão do vencedor e instigá-los a pensar por outros
ângulos. Pode-se fazer isso levantando discussões como: o Brasil foi descoberto ou invadido
pelos portugueses? A Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, pretendeu de fato beneficiar os
escravos?

Tais análises levam ao confronto de pontos de vista, que possibilita explorar os diversos
motivos implicados nos fatos históricos, trazendo à tona outras perspectivas, enfoques,
intenções, propósitos, escolhas, relações de poder, etc. fazendo com que o aluno possa
reescrever o conhecimento, criando novas abordagens e influências que as diferentes culturas
exercem sobre as novas gerações.

O que é sugerido pelos autores não é a substituição de um conhecimento por outro e sim a
exploração e o confronto de diferentes saberes, manifestações culturais, obras literárias, etc.

4.3. Deve-se explicitar a ancoragem social dos conteúdos, evidenciando a construção social e
os rumos decorrentes dos conhecimentos e proporcionando uma maior compreensão sobre
como e que contexto social um dado conhecimento surgiu e se difundiu. A exploração dessas
questões ajuda a desafiar perspectivas e permite aos estudantes analisar quem ganha e quem
perde com as formas de emprego desses conhecimentos e abre espaço para a diversidade.

4.4. O currículo deve trazer o reconhecimento de nossas identidades culturais, relacionando-as


ao contexto em que vivemos e à história do nosso país. É fundamental que cada um tenha
consciência de seus enraizamentos culturais para tenha a capacidade de reconhece-los,
nomeá-los e trabalha-los. Tal conhecimento favorece uma visão dinâmica e contextualizada de
suas origens, o que pode ser utilizado como estímulo para que o profissional da educação fale
sobre como percebe a construção da sua identidade.
4.5. Deve-se ressaltar no currículo as nossas representações sobre os “outros”, aqueles que
consideramos diferentes. Tendemos a construir nossa perspectiva sobre os outros de forma
etnocêntricas, isto é, normalmente incluímos na categoria “nós” aqueles que têm referências
semelhantes às nossas. Os outros geralmente são aqueles que entram em choque com a nossa
maneira de se situar no mundo.

Segundo os autores, podemos entender o “outro” de três formas:

4.5.1. O outro como fonte de todo mal: na escola, essa primeira perspectiva mostra-se
presente quando, por exemplo, atribuímos o fracasso escolar dos alunos às suas características
sociais ou étnicas ou diferenciamos os tipos de escolas segundo a origem social dos
estudantes;

4.5.2. O outro como sujeito pleno de um grupo cultural: ocorre quando nos limitamos a
abordar o outro de forma genérica e “folclórica”, apenas em dias especiais, tais como o Dia do
Índio ou Dia da Consciência Negra.

4.5.3. O outro como alguém a tolerar: nesse caso, podemos tanto admitir a existência de
diferenças quanto a aceitá-las. No entanto, quando admitidos as diferenças, há um paradoxo.
Se aceitamos, por exemplo, todo e qualquer diferente, deveríamos aceitar os grupos cujas
marcas são comportamentos antissociais ou opressivos, como os racistas. Sendo assim, a
adoção dessa perspectiva para a prática pedagógica pode impedir que tomemos posição em
relação aos valores que dominam a cultura contemporânea.

o modo como concebemos a condição humana pode bloquear nossa compreensão dos outros,
por isso, é importante promover processos educacionais que promovam a identificação de
suposições que carregamos de forma implícita e que nos impedem de nos aproximar da
realidade dos outros.

4.6. Os autores sugerem que o currículo deve se tornar um espaço de crítica cultural, onde
pode-se incluir alguns artefatos culturais que circundam o aluno, de modo que a cultura dos
estudantes e da comunidade possa interagir com outras manifestações e outros espaços
culturais. Pode ser útil que os profissionais de educação da escola verifiquem se podem contar
com alguns recursos da comunidade e elaborem alguma forma de atrair outros recursos que
se tornem familiares aos alunos, tornando a escola um espaço cultural.

Cabe à escola instigar o aluno a questionar os acontecimentos, pois, segundo os autores, os


questionamentos podem não mudar o mundo, mas podem permitir que o aluno o
compreenda melhor. Cabe à escola também, levá-lo a compreender que a ordem social em
que está inserido define-se por ações sociais cujo poder não é absoluto.

4.7. O currículo, em cada escola, deve ser um espaço de pesquisa. Todo profissional da
educação precisa se comprometer com o estudo e com a pesquisa, bem como posicionar-se
politicamente, pois, assim, poderão aperfeiçoar seu desempenho profissional, poderão se
situar melhor no mundo e se engajar na luta por melhorá-lo. Poderão, ainda, despertar nos
alunos o espírito de pesquisa, de busca, de ter prazer no aprender, no conhecer coisas novas.
Sem esse esforço, será impossível propiciar ao aluno uma compreensão maior do mundo em
que vive.

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