You are on page 1of 16

2Artigo

A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto


da EaD
Mariana Fernandes dos Santos1

Resumo
autonomy in the context of distance education
Este artigo apresenta os resultados de es- and what are the obstacles and opportunities
tudos realizados com o objetivo de investigar for the construction of autonomy in this
como se dá a construção da autonomia do context. Questionnaires, interviews and
sujeito aprendiz no contexto da EaD e quais direct observation with students from four
são os entraves e as possibilidades para a cons- existing distance education degree courses in
trução da autonomia nesse contexto. Foram the classroom polo UAB, in Ipiaú, Bahia were
aplicados/realizados questionários, entrevis- applied / carried out. We conclude that the
tas e observação direta com alunos dos qua- process of construction of student autonomy
tro cursos de licenciatura EaD existentes no is given from a proper mediation and when
polo presencial UAB, da cidade de Ipiaú, BA. students seek to develop skills that enable
Concluímos que o processo de construção da them to manage their own learning. Adequate
autonomia discente se dá a partir de uma me- knowledge on how distance education works
diação adequada, bem como quando os dis- by students and tutors is a necessary chance
centes buscam desenvolver habilidades que os for student autonomy to happen. Students’
possibilitem gerir sua própria aprendizagem. reliance on tutor’s role constitutes an obstacle
O conhecimento adequado do funcionamento that must be overcome so that autonomous
da EaD por parte dos alunos e tutoria é uma learning happens.
necessária possibilidade para que a autonomia
discente aconteça. A dependência dos alunos Keywords: Autonomy development.
à função tutorial constitui-se num entrave que Distance education. Learner.
precisa ser superado para a efetivação de uma
aprendizagem autônoma.
RESUMEN
Palavras-chave: Construção da autono- Este artículo presenta los resultados de los
mia. Educação a distância. Sujeito aprendiz. estudios llevados a cabo con el fin de investigar
la forma en la construcción de la autonomía
del alumno en el contexto de la educación
ABSTRACT
a distancia y cuáles son los obstáculos y
This article presents the results of studies oportunidades para la construcción de la
which investigate how learners develop their autonomía en este contexto. Los cuestionarios

1
Instituto Federal da Bahia. E-mail: marianafernandes.ifba@gmail.com

Volume 14 − 2015
se aplicaron / llevaron a cabo entrevistas (1993), que difere bastante do ensino presen-
y observación directa con estudiantes de cial, especialmente por valorizar a questão da
cuatro cursos existentes grado de educación autonomia dos estudantes, isto é, por prescin-
a distancia en la UAB polo aula, Ciudad dir a presença constante de um professor.
22 Ipiaú, Ba. Llegamos a la conclusión de que el
proceso de construcción de la autonomía del A ênfase na questão da autonomia exi-
estudiante se da de una mediación adecuada ge dos estudantes habilidades muitas vezes
Associação Brasileira de Educação a Distância

y cuando los estudiantes buscan desarrollar inexistentes na maioria desses educandos,


habilidades que permiten gestionar su mas que podem ser adquiridas com dedica-
propio aprendizaje. Conocimiento adecuado ção, interesse e compromisso nos estudos.
del funcionamiento de la educación a Elementos como motivação, a autoconfiança
distancia por los alumnos y la tutoría es una e a participação do aprendiz são condições
oportunidad necesaria para la autonomía del necessárias para o sucesso nos estudos na
estudiante suceder. La dependencia de los EaD. Segundo Belloni (1999) e Preti (2000), o
estudiantes a la función tutorial constituye educando precisa realmente envolver-se com
un obstáculo que hay que superar para la o curso para que esses elementos possam ser
realización de un aprendizaje autónomo. alcançados por meio da mediação docente,
caracterizada principalmente pela ação tuto-
Palabras clave: La construcción de la rial presencial e a distância.
autonomía. Educación a distancia. El alumno.
Para Belloni (1999), no processo de
aprendizagem autônoma, o estudante não
INTRODUÇÃO
é objeto ou produto, mas sujeito ativo que
Na educação a distância, o espaço e o realiza sua própria aprendizagem e abstrai
tempo passam a ser transformados, adqui- o conhecimento aplicando-o em situações
rindo uma nova forma de processar a apren- novas. A autora discute que o conceito de
dizagem, onde a relação professor – tutor– aprendizagem autônoma implica uma dimen-
aluno–material didático e mídias interativas são de autodireção e autodeterminação que
transpõe o conceito de espaço e tempo tradi- não é facilmente realizada por muitos estu-
cionalmente difundido no ensino presencial. dantes de EaD, uma vez que, sem o auxílio
Na EaD, ocorre a transposição de barreiras direto do professor, o aluno precisa estudar
de espaços físicos e sociais, democratizando, sozinho e ser o responsável por seu processo
assim, o acesso ao conhecimento acadêmico. de aprendizagem.

A educação a distância (EaD) é uma mo- A imagem de uma aprendizagem pas-


dalidade de ensino que prevê a construção da siva e individualizada ao ponto de se tornar
autonomia do aluno no processo de ensino e solitária desafia a criatividade dos concepto-
de aprendizagem. Essa modalidade encontra- res de cursos e de educadores em EaD, pois,
-se em expansão no Brasil e insere em seu con- enquanto alguns alunos veem nesses cursos
texto a ideia de flexibilidade na forma de estu- uma oportunidade de conciliar sua rotina di-
dar. Os aprendizes que buscam a educação a ária com o estudo, outros ficam perturbados
distância, em grande parte, são caracterizados pelo conflito que se cria com a visão do estu-
por adultos que, por diversos motivos, têm di- do como sinônimo de isolamento (BELLONI,
ficuldade de frequentar cursos presenciais. 1999). A autonomia implica ainda, a questão
da criatividade, já que os próprios alunos po-
Os sujeitos aprendizes da EaD estão diante dem montar grupos de estudo para evitar o
de uma contemporânea realidade educacional, isolamento no momento de estudar.
da era da Cibercultura, nos termos de Lévy

RBAAD – A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto da EaD


Sobre autonomia na EaD, algumas pes- metodológicos aplicados, onde são descritas
quisas já foram realizadas, mas ainda configu- as etapas, técnicas e instrumentos de pes-
ra-se um desafio conhecer como os aprendi- quisa, além da tabulação, análise e discussão
zes conduzem esse processo individualizado dos resultados.
de aprendizagem. E ainda, muitos espaços 23
onde a EaD emerge, o trato com a autonomia Por fim, apresentam-se as considerações
ocorre de maneira equivocada ou até mesmo finais a partir de todo o planejamento, execu-

Associação Brasileira de Educação a Distância


não acontece. Como afirmam Lima e Riccio: ção e análise do objeto de estudo.

Nesses tempos de cursos on-line e fo-


1.  CONCEPÇÕES DE
mento à educação a distância, é muito
APRENDIZAGEM E
comum encontrarmos abordagens edu-
APRENDIZAGEM ON-LINE
cacionais que falam em autonomia. No
entanto, o termo autonomia está muitas As teorias psicológicas que fundamen-
vezes esvaziado de profundidade, já que tam o processo de aprendizagem no meio
parece refletir apenas uma atuação auto- educacional, seja ele presencial ou a distância,
didata que, em última instância, esvazia sofreram fortes influências das teorias filosó-
o próprio papel da docência que passa ficas desenvolvidas nos séculos XVI e XVII.
a se resumir à preparação de conteúdos Nesse sentido, as epistemologias racionalista,
(LIMA; RICCIO, 2008, p. 49). empirista e interacionista influenciaram di-
retamente os estudos das teorias psicológicas
O estudo realizado utilizou-se de proce- da aprendizagem.
dimentos metodológicos como observação
direta, entrevista, aplicação de questionário A influência dessas bases filosóficas sem-
e pesquisa bibliográfica. Todo processo me- pre dependeu do desenvolvimento de estudo
todológico ocorreu entre os anos de 2009 e e do momento de produção do conhecimen-
2010, envolvendo os discentes dos quatro cur- to. Isso se deve ao fato de haver diversas for-
sos de graduação existentes no polo de apoio mas de conceber o fenômeno educativo, pois
presencial da Universidade Aberta do Brasil este não se concebe numa realidade acabada;
– UAB, da cidade de Ipiaú-BA. ao contrário, depende de múltiplos aspectos.
Sobre isso, nos reportamos às ideias a seguir,
O artigo está organizado em sete seções, que se referem ao processo educativo:
iniciando-se pela introdução, onde fazemos
a contextualização do tema, justificativa do É um fenômeno humano, histórico e mul-
estudo e metodologia de trabalho. Na sequ- tidimensional. Nele estão presentes tanto
ência, vem a seção sobre algumas concepções a dimensão humana quanto a técnica, a
de aprendizagem e aprendizagem on-line. Por cognitiva, a emocional, a sócio-política e
conseguinte, temos a seção que discuti a auto- cultural. Não se trata de mera justaposi-
nomia na EaD e reflexões sobre andragogia e ção das referidas dimensões, mas sim, da
heutagogia na aprendizagem da modalidade a aceitação de suas múltiplas implicações e
distância. Em seguida, a seção “a construção relações (MIZUKAMI, 1986, p. 1).
da autonomia do sujeito aprendiz no contexto
da EaD”, foco do nosso artigo, traz discussões Nas concepções de ensino-aprendiza-
sobre o conceito de autonomia, autonomia na gem, percebemos que sempre há um aspec-
aprendizagem educacional em geral e na EaD. to privilegiado em detrimento de outro, se-
Na seção “metodologia”, fazemos uma apre- gundo uma determinada teoria. As teorias
sentação sobre o universo da pesquisa, o polo do conhecimento que embasam as correntes
UAB de Ipiaú, BA e sobre os procedimentos psicológicas de aprendizagem, apesar de suas

Volume 14 − 2015
diversidades, possuem como pontos-chave dinâmicas. Essa aprendizagem, que tem sua
em suas discussões a função de sujeito e de gênese há alguns anos, mas constrói sua con-
objeto, assim como a relação entre ambos. solidação na contemporaneidade, é influencia-
da pelas teorias tradicionais. Fato que muitas
24 Os empiristas, por exemplo, focam no vezes implica concepções equivocadas do uso
objeto, entendem que o aprendente sofre in- e da compreensão da educação on-line.
fluência determinante do meio; por isso, o
Associação Brasileira de Educação a Distância

conhecimento é a cópia do mundo exterior. É o que discute Zaina (2002, p.37), quan-
Assim, o indivíduo é uma ‘tábula rasa’, sem do afirma:
maturação cognitiva.
(...) todavia, romper os paradigmas da
(...) essa pedagogia, legitimada pela epis- educação tradicional e implementar ca-
temologia empirista, configura o próprio minhos seguros para a nova realidade
quadro da reprodução da ideologia; re- educacional tem sido tema de estudo
produção do autoritarismo, da coação, da para muitos pesquisadores na área edu-
heteronomia, da subserviência, do silên- cacional e tecnológica.
cio, da morte da crítica, da criatividade,
da curiosidade (BECKER, 2001, p. 18). Em sua essência, a educação on-line
configura-se no contexto da epistemologia
Já os inatistas, que concentram os olhares interacionista, porém é entendida muitas
para o sujeito, postulam, ao contrário dos em- vezes como reflexo das teorias reducionistas
piristas, que o conhecimento está predetermi- tradicionais. Isso se deve ao fato de ela signi-
nado pelo sujeito e que o ambiente externo ficar, para alguns, a volta da educação tecni-
não influencia e, sim, os estímulos sensoriais cista dos anos de outrora, apesar de que, em
do aprendente. É o que, de acordo com as alguns casos, devido a certas práticas, isso se
teorias piagetianas, chamamos de “exercício configura uma verdade. Essa confusão é par-
de uma razão já pré-fabricada”. Enquanto no cialmente explicada pela falta de equidade no
empirismo há uma ênfase no que é predeter- acesso às informações e aos recursos necessá-
minado e exógeno, para os inatistas, há uma rios para o estudo e compreensão das trans-
centralização no que é endógeno. formações sociais. Por isso, a sociedade sente
essas transformações, porém tem dificuldade
Na ótica do interacionismo, vemos uma de adequar-se, por estar acostumada com ou-
relação entre sujeito/objeto, em que o conhe- tros referenciais. Fato que dificulta a recons-
cimento é entendido como uma complexa trução de novos paradigmas.
construção que implica a interação entre edu-
cando e educador. Configura-se uma relação Nesse sentido, as teorias psicológicas da
dinâmica entre o biológico, o físico e o social. aprendizagem desenvolvidas no contexto his-
Essas distintas teorias fundamentam diferen- tórico e social do século passado não são su-
tes concepções de ensino e de aprendizagem ficientes para fundamentar essa modalidade
numa prática pedagógica, e são influenciadas de educação que subjaz uma aprendizagem
pelos contextos histórico, social e cultural vi- dinâmica, colaborativa e cooperativa, em que
gentes na sociedade. a mediação ocorre numa relação dialógica en-
tre o binômio homem e tecnologia.
A aprendizagem no mundo digital surge
como uma modalidade de educação adequa- Surge então, nesse cenário, a necessi-
da às novas demandas socioeducacionais que dade de uma epistemologia que explique as
caracterizam o mundo globalizado e a socieda- peculiaridades da aprendizagem nos espa-
de contemporânea alicerçada em informações ços virtuais. Para isso, os autores Pierre Lévy

RBAAD – A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto da EaD


(1993) e Félix Guattari (1999) nos apresen- colaboração e a construção do conhecimento,
tam a teoria da ecologia cognitiva, no intuito ou seja, o discente passa a ser indivíduo gestor
de levar a adequada compreensão das poten- e autônomo na edificação do seu saber e do
cialidades e possibilidades de aprendizagem grupo ao qual pertence.
efetivas pelas tecnologias intelectuais. Visto 25
que ecologia refere-se às relações, interações A educação a distância vem passando por
e diálogos entre organismos, e cognitiva, à um processo de transformação constante ao

Associação Brasileira de Educação a Distância


relação com um novo conhecimento, essa longo da sua história. Nos dias atuais, a neces-
teoria propõe o estudo de uma nova dinâ- sidade de qualificação de recursos humanos
mica entre homem, tecnologia e ambiente e o desenvolvimento das tecnologias virtuais,
de aprendizagem, no intuito de estabelecer particularmente a internet, vêm contribuindo
e compreender outras formas de aprender e para alavancar este processo de ensino-apren-
construir conhecimento. dizagem. Contudo, o caminho em busca da
excelência é complexo e repleto de paradig-
O termo Ecologia Cognitiva surge a par- mas que colocam em suspeição a eficácia
tir das discussões de Félix Guattari sobre a da educação a distância. Porém, iniciativas
Ecologia da Mente a partir do ano de 1995. implementadas em vários países, como nos
“A ecologia cognitiva consiste num espaço Estados Unidos e alguns casos de instituições
interativo de cognição individual em que são no Brasil, ratificam o sucesso da educação a
construídas e reconstruídas as competências distância on-line como uma maneira de de-
cognitivas” (GUATTARI, 1999, p. 38). Um es- mocratizar o saber.
paço onde se configuram as diferentes formas
de conhecer, pensar e aprender.
2.  AUTONOMIA NA EaD E
REFLEXÕES SOBRE ANDRAGOGIA
Nessa perspectiva, surgem as teorias
E HEUTAGOGIA
psicologia ecológica e ecologia cognitiva
para fundamentar o processo de aprendi- De acordo com Chotguis (2002), a EaD
zagem mediada pelas Novas Tecnologias da voltada para o aprendiz adulto necessita con-
Informação e Comunicação-NTIC, que por siderar o paradigma andragógico para ser
ser tão mais dinâmico e complexo em alguns bem-sucedida. Pois, nesse contexto, é im-
aspectos, é mister uma teoria específica para prescindível considerar as especificidades da
a sua compreensão. Complementando essa aprendizagem adulta. O termo andragogia
discussão, os autores Palloff e Pratt (2002, p. não é muito difundido nas literaturas exis-
72) afirmam que: tentes, mas muito importante, especialmente
no que concerne à EaD. A andragogia é uma
(...) o uso da tecnologia abre novos ho- espécie de arte e ciência da aprendizagem
rizontes para que os alunos construam do adulto.
novos conhecimentos, aprendam sobre si
próprios, sobre seus estilos de aprendiza- Por mais de cinco décadas, tem-se busca-
gem e sobre como trabalhar em conjunto do formular uma teoria que considere aquilo
em equipes distribuídas geograficamen- que já sabemos às características únicas do
te. Todas essas habilidades são transfe- aprendiz adulto, no intuito de discutir que
ríveis ao mundo do trabalho e adquiri- este sujeito, assim como a criança, aprende
das da participação em comunidades de em condições específicas.
aprendizagem virtuais.
A partir de leituras diversas sobre o as-
Nessa vertente, a aprendizagem on- sunto, constatamos que só em 1950 alguns
-line deve enfatizar a interação, cooperação, educadores começaram a organizar ideias

Volume 14 − 2015
em torno da noção de que adultos aprendem alinhada com as novas tecnologias de
melhor em ambientes informais, confortáveis, educação, como a internet, as aplicações
flexíveis e ‘não ameaçadores’. Nesse sentido, multimídias e os ambientes virtuais que
vimos a importância de se considerar um es- estimulam um desenvolvimento indivi-
26 tudo mais específico no que tange ao desen- dualizado de competências.
volvimento da aprendizagem adulta, a fim de
analisar e investigar o porquê de determina- Entre os anos de 1913-1997, um educa-
Associação Brasileira de Educação a Distância

dos adultos demonstrarem maior habilidade dor de adultos, chamado Malcolm Knowles
em vivenciar os espaços formativos on-line e expôs o termo ‘andragogia’ de maneira mais
outros não, ao ponto de chegarem à desmoti- sistematizada em um seminário em Boston
vação e desistência do curso. University, nos Estados Unidos. Na década de
60 do século passado, a andragogia foi apre-
Segundo Aquino (2007, p. 10), sentada como a arte e a ciência de ajudar o
adulto a aprender e era ostensivamente a antí-
Durante muitos anos o ensino e a apren- tese do modelo pedagógico que significa, lite-
dizagem foram intimamente ligados, ou ralmente, a arte e ciência de ensinar crianças.
seja, para acontecer aprendizagem era
necessário que houvesse ensino e vice- A concepção andragógica busca romper
-versa. Isso caracterizava a chamada pe- essa unilateralidade, baseando-se em vários
dagogia, cujo significado, para muitas pressupostos postulados por Knowles (1997),
pessoas, confundia-se com o de ensinar. que são diferentes daqueles do modelo peda-
Mais recentemente, percebeu-se que as gógico tradicional. Esses pressupostos são:
pessoas com o aumento da sua maturida-
de e consequente acúmulo de experiên- A Necessidade de Saber - Os adultos têm
cias e desenvolvimento de uma postura necessidade de saber porque eles precisam
crítica, têm necessidade de participar de aprender algo antes de se disporem a apren-
modo mais ativo do processo de aprendi- der. Quando os adultos comprometem-se a
zagem, o que acabou criando motivação aprender algo por conta própria, eles inves-
para o estudo do problema do aprendi- tem considerável energia investigando os be-
zado de adultos e para o surgimento de nefícios que ganharão pela aprendizagem e as
novas abordagens para a aprendizagem, consequências negativas de não aprendê-lo.
como andragogia e a heutagogia.
Autoconceito do Aprendiz - Os adultos
Aquino (2007, p. 12), explica que heuta- tendem ao autoconceito de serem responsá-
gogia é um termo recente e que veis por suas decisões, por suas próprias vidas.
Uma vez que assumem esse conceito de si, eles
foi criado para representar uma aborda- desenvolvem uma profunda necessidade psi-
gem de aprendizagem na qual o aprendiz cológica de serem vistos e tratados pelos ou-
está sozinho no processo, ou seja, não tros como sendo capazes de autodirecionar-se,
existe a figura do professor ou do faci- de escolher seu próprio caminho. Eles se res-
litador. Segundo Hase e Kenyon2, que sentem e resistem a situações nas quais sentem
cunharam o termo em 2000, a heutago- que outros estão impondo seus desejos a eles.
gia seria a abordagem ideal para as ne-
cessidades de aprendizagem das pessoas O Papel das Experiências dos
do século XXI, pois estaria plenamente Aprendizes - Os adultos se envolvem em uma
atividade educacional com grande número de
 Fonte: adaptado de JARVIS, P. The sociology of
2
experiências, mas diferentes em qualidade
adult and continuing education. Beckenham: daquelas da juventude. Por terem vivido mais
Croom Helm, 1985.

RBAAD – A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto da EaD


tempo, eles acumulam mais experiência do está relacionado a significados como autodi-
que na juventude. Mas também acumularam datismo, resolução de problemas, individua-
diferentes tipos de experiências. Essa dife- lismo e liberdade, todos vinculados à ideia de
rença em quantidade e qualidade da experi- personalidade ou mesmo autodeterminação
ência tem várias consequências na educação humana, sempre centrado no indivíduo. 27
do adulto.
O conceito de autonomia na EaD remete

Associação Brasileira de Educação a Distância


Prontos para Aprender – Geralmente, os a uma abordagem de colaboração e coopera-
adultos estão prontos para aprender aquelas ção, como discute Edgar Morin (2002), quan-
coisas que precisam saber e capacitar-se para do afirma que a autonomia só pode ser conce-
fazer, com o objetivo de resolver efetivamente bida a partir da relação com o meio.
as situações da vida real.
Castoriadis (2000) concebe autonomia
Orientação para Aprendizagem - Em numa perspectiva social e coletiva, de manei-
contraste com a orientação centrada no con- ra tal que a autonomia do indivíduo não pode
teúdo próprio da aprendizagem das crianças e se dar sem a autonomia coletiva.
jovens (pelo menos, na escola), os adultos são
centrados na vida, nos problemas, nas tarefas, Etimologicamente, autonomia vem do
na sua orientação para aprendizagem. grego autós (próprio, a si mesmo) enomos
(lei, norma, regra). Para os gregos, esse termo
Motivação - Enquanto os adultos aten- significava a capacidade de cada cidade em se
dem alguns motivadores externos (melhor autogovernar, de elaborar seus preceitos, suas
emprego, promoção, maior salário etc.), o leis, e de os cidadãos decidirem o que fazer
motivador mais potente são pressões internas (PRETI, 2000).
(o desejo de crescente satisfação no trabalho,
autoestima, qualidade de vida etc.). Na relação pedagógica, a autonomia
configura-se em reconhecer no outro a capa-
Esses pressupostos são pontos essenciais cidade de participar, ter o que oferecer e po-
a serem considerados no processo de cons- der decidir aliado ao potencial do sujeito em
trução da autonomia adulta. E para a sua efe- “tomar para si” sua própria formação. Preti
tivação, a mediação e afetividade são fatores (2000) afirma que a autonomia está relaciona-
importantíssimos, se não, principais. da ao próprio indivíduo, à sua capacidade de
buscar por si mesmo, sem uma dependência
explícita de outrem. Nesse aspecto, reconhe-
3.  A CONSTRUÇÃO DA
cer a “autonomia” no processo de ensino e de
AUTONOMIA DO SUJEITO
aprendizagem significa entender que o outro
APRENDIZ NO CONTEXTO DA EaD
é independente, capaz de construir sozinho e
Na contemporaneidade, onde é exigido que o professor formador e/ou tutor é o me-
dos indivíduos aprender a responsabilidade diador do processo de aprendizagem.
do seu crescimento e sucesso, o termo auto-
nomia tem sido bastante utilizado e, muitas A “autonomia do ser é um princípio
vezes, de maneira banalizada, ao ponto de que se constitui como fundamental à prá-
achar que toda e qualquer ação social que não tica educativa” Freire (2000, p. 25). Na EaD,
seja bem concebida é culpa exclusivamente de é talvez a mais importante categoria para
atitudes individuais. a aprendizagem.

O termo autonomia foi introduzido nas No entanto, a questão da autonomia no


discussões educacionais por Kant e Freud e processo de ensino e de aprendizagem dos

Volume 14 − 2015
estudantes de EaD parece não ser tão simples, conhecimento por meio da comunicação en-
pois, essa modalidade exige mudanças na roti- tre diversos instrumentos, uma vez que estes
na dos alunos. A independência no momento propiciem o aprendizado de maneira colabo-
de estudar é o fator principal; somente terão rativa, onde todos podem e devem codificar
28 bom aproveitamento aqueles que conseguirem e decodificar informações, visualizar novos
ser gestores do seu tempo e praticarem hábitos caminhos e sugerir novos questionamentos,
adequados de estudo, o que envolve disciplina, exercitando assim a autonomia.
Associação Brasileira de Educação a Distância

interesse, motivação, observância e cumpri-


mento de prazos, entre outras questões. Porém, para que essa autonomia aconte-
ça, o aluno tem de sentir-se motivado e visua-
Para Belloni (1999), é possível perceber lizar significado no que está fazendo. É neces-
que a autoaprendizagem é uma tarefa pesso- sário criar possibilidades para a construção
al que exige disciplina, isto é, o aluno precisa do conhecimento.
ser extremamente responsável com seu ho-
rário de estudos e pressupõe-se também que A atitude, o comportamento do pro-
o aprendiz deva participar coletivamente na fessor que se coloca como facilitador,
interaprendizagem e compartilhar saberes incentivador da aprendizagem, que se
e experiências. No entendimento de Preti apresenta com a disposição de ser uma
(2000), a autoaprendizagem está diretamente ponte entre o aprendiz e sua aprendiza-
relacionada à autonomia do estudante de EaD gem – não ponte estática , mas uma pon-
no seu processo de aprendizagem e deve ser te “rolante”, que ativamente colabora para
buscada, exercitada e integrada no cotidiano que o aprendiz chegue aos seus objetivos
das atividades profissionais e pessoais para (MASSETO, 2000, p. 145).
que se torne algo próprio do sujeito.
Segundo Vygotsky (1989), a construção do
Dessa forma, compreendemos que para conhecimento acontece por meio da interação
o aluno ser considerado autônomo, ele deve mediada por várias relações. Assim, no proces-
possuir o máximo de habilidades que facili- so de aprendizagem on-line, um lugar que deve
tam a autoaprendizagem. Ao contrário, a au- ser exemplo de espaço colaborativo, a constru-
tonomia será parcial ou nula, o que dificultará ção do conhecimento acontece por meio da
a atuação do aluno nessa modalidade de en- interação/mediação síncrona e assíncrona dos
sino ou causará sua desistência pelo fato de aprendizes e mediadores. Isso pode ocorrer
o aprendiz não ter perfil e dedicação suficien- por meio das ferramentas da web e dos sujeitos
tes para se adequar a essa forma diferenciada da função docente na qual são apresentadas di-
de aprendizado. ferentes posições em torno dos temas e ações
didáticas abordadas por seus usuários, geran-
Em meio a isso, é necessário que a media- do assim a aprendizagem colaborativa nos am-
ção pedagógica ocorra de maneira favorável bientes virtuais de aprendizagem – AVAs.
ao processo de construção de autonomia dis-
cente, de forma que a aprendizagem na EaD
4.  METODOLOGIA DA PESQUISA
seja baseada na interação, cooperação, cola-
boração, e a construção do conhecimento, ou A metodologia utilizada baseou-se nas
seja, o discente passa a ser indivíduo gestor abordagens qualitativa e quantitativa, por en-
e autônomo na edificação do seu saber e do tendermos que ambas seriam pertinentes à
grupo ao qual pertence. pesquisa realizada.

Um ambiente colaborativo de apren- De acordo com Preti (2010), fazer pes-


dizagem visa possibilitar a construção de quisa não é acumular dados e quantificá-los,

RBAAD – A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto da EaD


mas analisar causas e efeitos de maneira con- dessas é a questão de que, em alguns cursos,
textualizada no tempo e no espaço, dentro de a substituição de tutores acontece periodica-
uma concepção sistêmica. O mesmo autor mente, como no caso dos tutores a distância,
afirma, quando se refere ao uso simultâneo que ocorre por disciplina. No que concerne
da abordagem qualitativa e quantitativa, que às trocas de tutores presenciais, no curso de 29
“(...) esses dados são considerados mais ri- História, aconteceu por 2 vezes no mesmo
cos, globais e reais” (PRETI, 2010, p. 590). ano, e 3 vezes no curso de Pedagogia. Isso traz

Associação Brasileira de Educação a Distância


conflitos interpessoais, afetivos e pedagógicos
Para estudo e coleta de dados, foram apli- no processo de mediação.
cados os seguintes métodos e instrumentos:
pesquisa bibliográfica, aplicação de questio- Nos cursos das duas universidades exis-
nário, entrevista e observação direta. Toda te interação on-line e presencial por meio de
a metodologia de pesquisa visou alcançar o tutores e, em alguns casos, por professores
objetivo desta pesquisa, que é como se dá a formadores. Existem encontros semanais dos
construção a autonomia do sujeito aprendiz alunos com seus respectivos tutores presen-
no contexto da EaD e quais são os entraves e ciais e, no caso da UESC, também há momen-
as possibilidades para a construção da auto- tos em que os tutores a distância vão ao polo
nomia nesse contexto. para atividades presenciais de mediação com
os alunos.
4.1.  Sobre o polo UAB em Ipiaú-BA
Os cursos citados são os primeiros do
Na cidade de Ipiaú, a EaD já acontecia polo. Os sujeitos investigados no período
com a inserção de cursos por faculdades pri- da pesquisa estavam no primeiro semes-
vadas. Mas no que se refere a ofertas de cursos tre (Letras e Pedagogia) e terceiro semestre
a partir de universidades públicas, iniciou-se (História e Matemática). No período do estu-
no ano de 2008, com a chegada do polo UAB- do, só existia uma turma de cada curso.
Universidade Aberta do Brasil, resultado das
políticas públicas do governo federal para for-
4.2.  Análise e discussão
mação de professores.
dos resultados
O polo UAB de Ipiaú funciona no cam- Considerando o objetivo desta pesqui-
pus universitário da Universidade do Estado sa, disponibilizamos, por e-mail, 10 ques-
da Bahia, da cidade. Atualmente, são ofere- tionários aos alunos dos quatros cursos em
cidos no polo cursos de graduação em licen- funcionamento no polo. Os resultados aqui
ciatura-EaD pela UNEB e pela Universidade apresentados foram obtidos a partir de quinze
Estadual de Santa Cruz-UESC. No caso da questões fechadas e cinco abertas, obtidas de
UNEB, as licenciaturas em Matemática e 8 questionários respondidos.
História, e da UESC, em Letras e Pedagogia.
No Quadro 1, temos a identificação dos
O primeiro processo seletivo-vestibular alunos que responderam ao questionário, a
aconteceu em 2008, quando iniciaram as tur- partir de letras iniciais dos nomes dos cursos.
mas de Matemática e História e, no mesmo No Quadro 2, descrevemos os resultados das
ano, as turmas da UESC. As aulas da UNEB respostas das questões objetivas, identificadas
começaram em 2008, as da UESC, só em 2009. nos questionários respondidos por dois alu-
nos de cada curso pesquisado.
Algumas implicações ocorrem para o
adequado funcionamento dos cursos; uma

Volume 14 − 2015
As perguntas objetivas configuraram- deveria assinalar o conceito dado às pergun-
-se da seguinte maneira: numa escala de 1 tas relacionadas a diferentes assuntos, consi-
a 5, sendo que 1= insuficiente, 2= regular, derando a vivência/experiência da realidade
3= bom, 4 = ótimo e 5 = excelente, o aluno do curso de que fazia parte.
30
Quadro 1: Identificação dos alunos que responderam ao questionário
Associação Brasileira de Educação a Distância

CURSO SUJEITO 1 SUJEITO 2

MATEMÁTICA M1 M2

HISTÓRIA H1 H2

LETRAS L1 L2

PEDAGOGIA P1 P2

Quadro 2: Identificação dos alunos que responderam ao questionário

QUESTÕES OBJETIVAS M1 M2 H1 H2 L1 L2 P1 P2

As ferramentas tecnológicas usadas favorecem a


A 2 3 1 3 5 5 3 2
aprendizagem colaborativa

B Nível de interação dos tutores on-line 3 2 1 4 3 3 3 2

C Sua participação nas atividades on-line 5 4 1 5 5 4 3 4

D Nível de apoio da tutoria presencial 4 3 2 5 3 4 4 4

Nível de segurança em concluir uma tarefa sem a


E 4 3 3 4 3 3 4 3
mediação do tutor

F Motivação com o curso 5 4 1 3 4 3 3 4

Estímulo para acessar o ambiente e participar de


G 3 4 1 4 5 3 3 3
forma efetiva

H Nível de interação nos trabalhos em grupo on-line 4 4 1 4 2 3 3 3

I Recursos utilizados para avaliação 3 4 3 3 1 3 3 3

Como acontece a relação interpessoal entre


J 3 4 3 3 3 3 3 2
tutores e alunos

K Como é tratado nos seus momentos de dúvidas 3 2 1 4 3 4 3 3

L Você tem retorno de suas conquistas 4 4 1 2 3 4 3 3

M São promovidos estudos em grupo no polo 2 3 1 3 3 3 4 4

N Ocorre muita evasão 2 2 1 3 4 2 2 3

O nível de aprendizagem dos alunos é considerado


O 2 3 1 3 3 3 3 3
pelos tutores

RBAAD – A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto da EaD


De acordo com os resultados apresenta- perguntas concernentes à motivação (F, G, e
dos no Quadro 2, percebemos que há evidên- N), afetividade (J) e aos instrumentos de ava-
cias de que o conceito 3 (bom) esteve presen- liação (I). Isso demonstra certa insatisfação
te na maioria das respostas do alunos, como por parte dos alunos em relação à mediação
podemos observar no gráfico 1, mais a frente. docente e tecnológica, bem como dependên- 31
Nas perguntas (A, B, D, K, L, M e O) relacio- cia à função do tutor para realização de suas
nadas à mediação, as respostas oscilaram en- atividades e estudos. Além disso, esses alunos

Associação Brasileira de Educação a Distância


tre o conceito 3 e 4, tendo maioria no conceito demostram dificuldades em relação ao pro-
3; nas questões (C, E e H) que se referem às cesso de construção da autonomia. O gráfico
habilidades de autonomia discente, a média a seguir ilustra melhor os resultados das ques-
também ficou entre 3 e 4; o mesmo ocorre nas tões objetivas do questionário.

Gráfico 1

No que concerne às questões abertas, o que você considera terem sido insuficientes
Quadro 3 sistematiza as respostas. na interatividade e na mediação pedagógica.
Justifique a resposta.
1 – O que você compreende por autono-
mia discente na educação on-line? 4 – Relate experiências positivas e/ou ne-
gativas de mediação pedagógica vivenciadas
2 – Você já pensou em desistir deste cur- no curso.
so? Cite o principal motivo.
5 – Cite aspectos que você considera
3 – Considerando o ambiente virtual, a importantes para uma mediação adequada
atuação dos professores formadores e profes- que contribuam para o desenvolvimento da
sores-tutores presenciais e a distância e a sua sua autonomia.
própria participação, destaque os aspectos

Volume 14 − 2015
Quadro 3: Tabulação das respostas das questões subjetivas do questionário
RESPOSTAS M1 M2 H1 H2 L1 L2 P1 P2
Aprender a estudar sozinho X X
1 Ser pesquisador e estudar sozinho X X X
32
Gerir sua própria aprendizagem X X X
Dificuldade de adaptar-se à EaD em relação a
Associação Brasileira de Educação a Distância

X 3
gerir a própria aprendizagem
2
Dificuldade com as tecnologias X
A não-identificação com o curso X
Respostas em tempo hábil dos TD X X X X
3
Trocas de TD por disciplina X X X X
Seminários presenciais X X X X
Positivas:
Grupos de estudo no polo X X X X
4
Wiki - Muito confusa X X X X
Negativas:
Demora no retorno dos TDs X X X X
Disponibilidade maior dos TDs X X X X
5
Mais videoaulas com professores formadores X X X X

Diante do exposto no Quadro 3, podemos da autonomia está diretamente relacionado à


afirmar que os alunos compreendem o con- mediação docente e tecnológica.
ceito de autonomia discente no contexto on-
-line, mas ainda apresentam dificuldades em O Quadro 4 apresenta a tabulação das
relação ao processo de construção dessa cate- respostas das entrevistas que foram reali-
goria. Essas dificuldades estão relacionadas à zadas com oito alunos dos quatro cursos.
falta de conhecimento dos referenciais on-line Ressaltamos que não entrevistamos os mes-
da EaD, como interfaces textuais no AVA e mos alunos que responderam ao questio-
certa dependência em relação à tutoria. Fica nário e que as respostas foram escritas, e
bem evidente que o processo de construção não gravadas.

Quadro 4: Tabulação das respostas da entrevista de todos os cursos

PERGUNTAS SIM NÃO ÀS VEZES


Você costuma postar/entregar as atividades no prazo
1 3 2 3
predefinido pelo professor-formador/tutor?
2 Realiza as atividades por conta própria? 4 2 2
Precisa sempre de tutor ou colegas para realizar as
3 1 2 5
atividades?
Busca realizar as leituras recomendadas sem mediação
4 1 4 3
do tutor?
Procura leitura complementar, estudos e pesquisas
5 2 4 1
extras ao material didático disponibilizado no curso?

RBAAD – A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto da EaD


É possível interpretar, diante das repostas contexto da EaD se dá a partir de uma me-
do Quadro 4, que os alunos apresentam ha- diação docente e tecnológica adequada, bem
bilidades de autonomia, porém, ainda depen- como quando os discentes buscam desenvol-
dem muito da orientação da tutoria e estão ver habilidades que os possibilitem gerir sua
muito limitados ao estudo e leitura do mate- própria aprendizagem, como responsabili- 33
rial didático disponibilizado no curso, e não dade, pesquisa, reflexão, comprometimento
buscam leituras complementares. para com a instituição e sua formação, per-

Associação Brasileira de Educação a Distância


sistência e determinação para a realização das
Na observação direta, que ocorreu duran- atividades e estudos propostos. Todos esses
te uma semana em cada curso, percebemos referenciais representam as possibilidades
que os alunos sentiam dificuldade em acessar para a construção da autonomia do sujeito
o AVA, bem como os tutores presenciais dos aprendiz no contexto da EaD.
cursos de História e Pedagogia apresentavam
dificuldade no direcionamento da mediação, Os entraves que identificamos para efeti-
muito provavelmente por não saberem ainda vação do processo de construção da autono-
direito qual seria a função do tutor presencial. mia do sujeito aprendiz na EaD são: medição
Observando o AVA, constatamos que os tu- inadequada por parte dos tutores, quando
tores a distância dos cursos de Matemática e não conhecem a função da tutoria na EaD;
História não davam retorno aos alunos dia- falta de conhecimento por parte do alunos e
riamente; alguns levavam até dois dias para tutores, dos recursos tecnológicos e do AVA;
darem um retorno. Notamos também que dependência dos alunos à função tutorial e,
havia um acompanhamento diário da co- ainda, as dificuldades dos atores envolvidos
ordenação de tutoria aos tutores dos cursos na EaD em compreender como funciona essa
de Letras e Pedagogia; os tutores a distância modalidade de ensino e aprendizagem.
desses cursos acessavam o AVA diariamente e
interagiam bem com os alunos. Na pesquisa realizada, percebemos que
alguns alunos apresentam habilidades que
Alguns alunos sentiam dificuldade na os identificam como estudantes autônomos;
postagem das atividades por falta de manuseio apesar disso, nenhum dos alunos pesquisados
adequado do AVA e muitos não cumpriam os é totalmente autônomo em seus estudos, pois
prazos de postagem, solicitando um tempo parece faltar aos referidos assumirem com-
maior; às vezes, as coordenações dos cursos promissos e mudar atitudes para que possam
prorrogavam o tempo da postagem por enten- acompanhar e aderir à rotina do estudante de
der que os discentes ainda estavam em proces- EaD. Esses alunos compreendem o conceito
so de adaptação à educação a distância. de autonomia no contexto da EaD, mas têm
dificuldades na construção desse processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A necessidade do educando, quando in-
Neste artigo, realizamos um estudo sobre gressa em um curso de graduação a distância,
como se dá a construção da autonomia do su- em conhecer e compreender as características
jeito aprendiz no contexto da EaD e quais são dessa modalidade, bem como o que se espera
os entraves e as possibilidades para a cons- desse estudante, deve ser prioritária, especial-
trução da autonomia nesse contexto. O estu- mente em relação às habilidades de autonomia.
do foi realizado entre os anos de 2009 e 2010, Assim, orientados no início do curso e conti-
no polo UAB da cidade de Ipiaú, BA. nuadamente, os estudantes poderão apresentar
um perfil de maior autonomia no desenvolvi-
Cumprimos o nosso objetivo, ao consta- mento de seus estudos; além disso, descons-
tar que a autonomia do sujeito aprendiz no truir os mitos e preconceitos sobre a EaD.

Volume 14 − 2015
A questão que envolve as habilidades de BELLONI, M. L. Educação a distância.
autonomia discente no processo ensino-apren- Campinas: Autores Associados, 1999.
dizagem ainda é um ideal difícil de se efetivar,
apesar de percebermos avanços significativos CASTORIADIS, C. A instituição imagi-
34 na vivência com aqueles alunos pesquisados. nária da sociedade. 5. ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2000.
Pelo dito, afirmamos que os alunos na
Associação Brasileira de Educação a Distância

EaD inserem-se no processo de construção CHOTGUIS, J. Andragogia: arte e ciência


de autonomia quando a mediação docente ou na aprendizagem do adulto. 2002. Paraná:
tecnológica ocorre de maneira adequada e de Universidade Federal do Paraná/Coordenação
concepção interacionista e reflexiva. Quando de Políticas de Integração de Educação a
isso não acontece, mesmo que os alunos apre- Distância. Disponível em: <http://www.logis-
sentem habilidades que os mostrem autôno- ticareversa.net.br/uploads/1/6/3/0/1630201/
mos, o processo ficará prejudicado por não andragogia.pdf>. Acesso em: 21 set. 2015.
haver direcionamento.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes
Nesse sentido, é de extrema importância necessários à prática educativa. 24. ed. São
a formação inicial e continuada dos atores da Paulo: Paz e Terra, 2000.
função docente no que tange a ser professor
na contemporaneidade e ser docente no con- GUATTARI, F. As três ecologias. Tradução
texto da educação a distância. Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas:
Papirus, 1999.
O estudo realizado no Polo UAB-Ipiaú/
BA foi inicial, e sabemos que é de grande LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o
importância que novos estudos ocorram, futuro do pensamento na era da informáti-
abrangendo um número maior de alunos, ca. Tradução Carlos Irineu da Costa. Rio de
e também pontuar as diferenças e contextos Janeiro: Editora 34, 1993.
do estudo de agora com as futuras pesquisas,
para que assim tenhamos uma dimensão mais LIMA, G. A.; RICCIO, N. C. R. Ambiente vir-
ampla e mais atual do objeto estudado. tual e desenho didático: a autonomia como
possibilidade. In: SILVA, P. R. da et al. (Org.)
Sobretudo, a pesquisa realizada é de gran- Reflexões sobre educação online. Salvador:
de importância para os estudos acadêmicos e ISP/Pradem/UFBA, 2008.
por sua relevância social, em busca de melho-
res resultados para a qualidade da educação MASSETO, M. T. Mediação pedagógica
brasileira, levando em conta a importância do e o uso da tecnologia. In: MORAN, J. M.;
fortalecimento da EaD para uma práxis ade- MASSETO, M.; BEHRENS, M. A. Novas tec-
quada com menores equívocos e aprendizes nologias e mediação pedagógica. Campinas:
mais autônomos e pesquisadores. Papirus, 2000.

MIZUKAMI, M. da G. Ensino: as abordagens


REFERÊNCIAS
do processo. São Paulo: EPU, 1986.
AQUINO, C. T. E. de. Como aprender: an-
dragogia e as habilidades de aprendizagem. MORIN, E.; ALMEIDA, M. da C. de;
São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CARVALHO, E. de A. Educação e comple-
xidade: os sete saberes e outros ensaios. São
BECKER, F. A epistemologia do professor: o co- Paulo: Cortez, 2002.
tidiano da escola. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

RBAAD – A construção da autonomia do sujeito aprendiz no contexto da EaD


PALLOFF, R. M.; PRATT, K. Construindo VYGOTSKY, L. S. A formação social da
comunidades de aprendizagem no ciberes- mente: o desenvolvimento dos processos
paço: estratégias eficientes para a sala de aula psicológicos superiores. 3. ed. São Paulo:
on-line. Tradução Vinícius Figueira. Porto Martins Fontes, 1989. (Coleção Psicologia e
Alegre: Artmed, 2002. Pedagogia. Nova Série). 35

PRETI, O. Autonomia do aprendiz na educa- ZAINA, L. A. M. Acompanhamento do

Associação Brasileira de Educação a Distância


ção a distância. In: ______ (Org). Educação aprendizado do aluno em cursos a distân-
a distância: construindo significados. Cuiabá: cia através da Web: metodologias e ferra-
Nead/IE-UFMT, 2000. mentas. 2002. 169 f. Dissertação (Mestrado
em Engenharia) – Escola Politécnica da
______. Produção de material didático im- Universidade de São Paulo, São Paulo,
presso: orientações técnicas e pedagógicas. 2002. Disponível em: <http://www.teses.
Cuiabá: UAB/UFMT, 2010. usp. br / te s e s / d isp on ive is / 3 / 3 1 4 1 / td e -
13012003095336/>. Acesso em: 21 set. 2015.

Volume 14 − 2015

You might also like