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José Alberto Tostes

José Alberto Tostes

PENSAR A CIDADE

Macapá – AP

SAL DA TERRA

2014
José Alberto Tostes

Copyright©José Alberto Tostes

Arte da Capa:
José Alberto Tostes

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica:


Nathália França Cordeiro

Revisão:
José Alberto Tostes
Fotografias:
Todas as imagens são de autoria de José Alberto Tostes.

Tostes, José Alberto


Pensar a cidade/ José Alberto Tostes
– João Pessoa: Sal da Terra Editora – 2014.
ISBN 978-85-8043-158-2
142p.

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta


publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui
violação da lei nº 9.610/98.

Endereço para contatos:


Av dos Tupiniquins,756 - Buritizal CEP: 68902-866 Telefone:
(96)3217-1559 E-mail: tostes.j@unifap.br
José Alberto Tostes

APRESENTAÇÃO

O livro Pensar a cidade surgiu de uma série de reflexões


importantes, muitas delas motivadas pelos inúmeros
trabalhos desenvolvidos como arquiteto e urbanista e como
pesquisador da Universidade Federal do Amapá e do
Mestrado em Desenvolvimento Regional. O debate reflexivo
foi ampliado com a minha participação no Conselho de
Arquitetura e Urbanismo na condição de presidente a partir
de janeiro de 2012.

Os artigos selecionados enfatizam um conjunto de temas


que colocam em tela assuntos importantes como a discussão
sobre a realidade das cidades na Amazônia, principalmente da
questão da ocupação das áreas úmidas e do modo de viver
ribeirinho que vem sendo descaracterizado de forma continua
pela maneira como as políticas governamentais uniformizam
os planos, programas e projetos como se o país fosse
completamente igual.

Outros textos estão relacionados ao contexto na prática


da arquitetura e do urbanismo, nos condicionantes éticos, no
exercício da vida profissional, como a formação deste
profissional tem contribuído ou não para um conjunto de
distorções em relação a boa qualidade do produto tanto no
setor público como privado. Tais reflexões nos ajudam a
compreender mais sistematicamente questões estruturais em
relação as debilidades na formação do arquiteto e urbanista.
José Alberto Tostes

“Nossa relação com a cidade é uma intima relação de


trocas simbólicas”. O que dizer daquilo que tem
provocado a revolução digital? Possibilita armazenar
dados, informações, imagens, de recriar, de reinventar.
Cada um, individualmente ou coletivamente possa ser
sujeito de sua própria transformação. Todo este contexto
nos permita efetivamente construir novos cenários e
buscar a felicidade individual e coletiva.
José Alberto Tostes

SUMÁRIO

IDENTIDADE E O MODO DE VIVER NA ESPACIALIDADE


AMAZÔNICA ..................................................................................................8

THE URBAN CONNECTION .................................................................. 12

OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS ....................................... 14

URBANIZAR AS CIDADES REDUZ ELEVADOS ÍNDICES DE


ENFERMIDADES URBANAS ................................................................. 18

A CIDADE COMO HISTÓRIA ................................................................. 24

É PRECISO PENSAR O LUGAR ............................................................. 28

O RIO, A CIDADE E O TERRITÓRIO INFORMAL ........................... 32

A LÓGICA DE UM CRIME URBANÍSTICO ......................................... 37

O PROJETO DE ARQUITETURA ........................................................... 42

PENSAR A CIDADE CONCEITUAL: ENTRE O RIO E O LUGAR 46

PALAFITA AMAZÔNICA ......................................................................... 50

DESENHO NO AMBIENTE URBANO ................................................. 54

ARQUITETURA DO MEDO: TUDO O QUE OLHAMOS NO


ENTORNO NOS APAVORA .................................................................... 58

A HISTÓRIA NO ENREDO DAS HISTÓRIAS DAS CIDADES E DA


ARQUITETURA .......................................................................................... 62
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A RELAÇÃO DO ARQUITETO E URBANISTA COM A CIDADE,


NÃO SE LIMITA AO PROJETO .............................................................. 68

ÉTICA COMO FUNDAMENTO NA ATIVIDADE PROFISSIONAL


.......................................................................................................................... 72

A QUALIFICAÇÃO NO PROCESSO DE MUDANÇA SOCIAL? ...... 76

AS CARTAS NÃO MENTEM ................................................................... 80

O ARGUMENTO DO PROJETO NA ARQUITETURA: BRASÍLIA


VERSUS SERRA DO NAVIO ................................................................... 84

A METODOLOGIA E OS ARGUMENTOS SOBRE A RESOLUÇÃO


51 .................................................................................................................... 89

RIBEIRINHOS NA AMAZÔNIA: O PROJETO DE ARQUITETURA


ADEQUADO AO MODO DE VIDA......................................................... 94

A ESCALA NA ARQUITETURA ............................................................. 98

O MODO DE VIVER RIBEIRINHO NA AMAZÔNIA E OS EFEITOS


PARA CULTURA DO LUGAR .............................................................. 101

QUANTO VALE UMA CIDADE? ......................................................... 105

GAUDÍ, ARQUITETO SANTO.............................................................. 109

REVOLUÇÃO AMARELA ...................................................................... 113

O PLANEJAMENTO TERRITORIAL E O DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL ........................................................................................ 117

ARQUITETURA VERSUS URBANISMO .......................................... 123


José Alberto Tostes

AMAZÔNIA RIBEIRINHA .................................................................... 128

“ESTE RIO É MINHA RUA, MINHA E TUA MURURÉ, PISO NO


PEITO DA LUA, DEITO NO CHÃO DA MARÉ” ............................. 131

O FUTURO DAS CIDADES ................................................................... 135

REFERÊNCIAS ......................................................................................... 140


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IDENTIDADE E O MODO DE VIVER NA


ESPACIALIDADE AMAZÔNICA

Sempre que posso, faço um recorrido sobre os


escritos acadêmicos, científico e literário sobre a região
amazônica. Nos últimos vinte anos,
as instituições regionais vinculadas ao
desenvolvimento da pesquisa, as universidades através
dos inúmeros programas de pós-graduação
desenvolveram uma diversidade de trabalhos. Tais
trabalhos têm sido publicados e colocados na rede
mundial de computadores, facilitando o acesso, o
entendimento, e acima de tudo permitindo avançar em
áreas importantes como na arquitetura e urbanismo,
desenvolvimento social e antropológico, etnografia,
cultura, entre tantas áreas.
A multidisciplinaridade adotada no âmbito do
contexto contemporâneo tem possibilitando conhecer
mais intimamente a transversalidade no entendimento
sobre as questões de identidade, e o modo de vida na
Amazônia. Na área de arquitetura e urbanismo, os
estudos são ainda mais recentes, tendo em vista que os
cursos de graduação na área de pós graduação são
recentes. A construção de uma concepção sobre a
realidade amazônica mais estrutural ocorreu muito mais
a partir de áreas da sociologia, da antropologia de
questões econômicas do que propriamente da área de
arquitetura e urbanismo. Tal cenário evidencia um
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José Alberto Tostes

conjuntos de temas que possibilitam explicar que um


quadro para ser avaliado não pode se deter
exclusivamente a um caráter técnico e puramente
morfológico.
Entre tantos recorridos e discussões sobre o
tema, encontrei um artigo publicado pela
revista Ciência Cultural. Vol. no. 3 São Paulo 2009 com
uma abordagem interessante sobre a
identidade amazônica. Uma das primeiras passagens e
reflexões do artigo diz o seguinte: “a Amazônia é (re)
conhecida internacionalmente por suas paisagens
exuberantes e continentais, nas quais o homem
configura como parte indissociável, quase imobilizado
no âmago da natureza, como se fosse possível a
existência no mundo contemporâneo de uma natureza
intocada. Neste processo, a história do homem na
Amazônia é marcada por silêncios e ausências que
acentuam a sua relativa invisibilidade e velam os traços
configurativos da sua identidade. Desse modo, adentrar
o universo identitário dos povos amazônicos implica
considerar um mundo de ambiguidades, trata-se de
percorrer caminhos que se cruzam e se contrapõem,
mascaram diferenciações sociais que têm entravado
processos de emancipação social e política”.
(FRAXE;WITKOSKI; MIGUEZ,2009)
Para os autores citados, “entender o modo de vida
dos grupos que habitam a Amazônia não significa apenas
conhecer e descrever a riqueza dos seus recursos
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naturais, mas, sobretudo, compreender a natureza dos


territórios. É preciso perceber que, para ir além da
paisagem natural, harmônica e romântica, há paisagens
socialmente construídas repletas de contrastes e
contradições. Na Amazônia, como de resto na Terra, as
condições naturais são imperativas, mas não sem as
mediações da cultura objetivada em práticas sociais e
modos de vida que as superam. Ambas as possibilidades
fazem parte das escolhas e dos interesses que, para
quem se atreve em entender, logo abandona a ideia
romântica do que é ser da Amazônia. Em meio a
inúmeras tentativas de progresso econômico à custa dos
ricos potenciais existentes na região amazônica, paira a
incerteza do ser da Amazônia. Entre tantos projetos
implantados em diferentes localidades da região, sempre
esteve a presença do homem amazônico, apoiando
projetos políticos enganosos e fantasiosos, motivados
pela eterna cobiça de acumular fortunas e riquezas
inatingíveis. O homem da Amazônia não pode mais ficar
abandonado à beira dos caminhos, à beira das estradas,
às margens dos rios, à espera das novas rotas dos
projetos de desenvolvimento que não os consideram
como sujeitos portadores de história”.
(FRAXE;WITKOSKI; MIGUEZ,2009).
A Reflexão de Fraxe; Witkoski; Miguez traz a luz
do debate a relação deste modo de vida, da identidade
com a questão da formação das cidades amazônicas, da
concepção de ocupação da espacialidade amazônica,
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José Alberto Tostes

muitas vezes confundida no âmbito de uma


interpretação puramente romântica de um contexto
retratado sobre uma visualidade distante do propósito
que emerge nas grandes cidades brasileiras. A
vinculação de um passado de exploração e de abandono,
forçosamente nos remete a pensar que nas últimas
décadas, foi exatamente à beira do caminho, da estrada,
dos rios, ficaram as rotas de problemas intermináveis
sem ter a médio prazo a perspectiva de que o futuro
seria algo mais promissor.

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THE URBAN CONNECTION

O tema deste artigo denominado The Urban


Connection (A conexão urbana) é o titulo do livro do
autor alemão Luuk Boelens. Este livro foi lançado em
2009 na Europa e somente agora chega no Brasil. A
conexão urbana é uma importante obra sobre a
perspectiva do planejamento urbano regional, entre os
temas tratados pelo autor destaca-se aspectos
importantes que configuram a nova ordem de discussão
sobre a aplicabilidade de um planejamento institucional
democrático.
Além de ser uma boa referência para estudos
mais aprofundados para os cursos de graduação e pós-
graduação a conexão urbana apresenta algo que é
paradoxal na visão do autor, como estabelecer um maior
índice de desenvolvimento com uma participação social
e democrática mais efetiva. Tem sido cada vez mais
comum as interações entre os diferentes espaços que
envolvem a preocupação com a infraestrutura e a
economia urbana. O autor questiona a necessidade de
maiores discussões sobre as relações entre o urbano e o
espaço econômico geográfico.
As cidades citadas no livro apresentam um
conjunto de situações distintas e apresentam um
diversificado cenário quanto a participação das
instituições, principalmente na discussão efetiva sobre a

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José Alberto Tostes

eficácia dos resultados da participação democrática, o


relato das inúmeras experiências evidenciam a forma
acelerada das decisões sobre o planejamento do futuro
das cidades que não podem ser resumida as esferas de
gestão de governo. Por outro lado, o autor enfatiza a
imensa responsabilidade do envolvimento dos diversos
atores que formam o cenário de planejamento, tanto os
construtores, quanto os mecanismos que exercem o
controle de fiscalização das ações executadas.
Os exemplos mais bem sucedidos citados no livro
evidenciam que os melhores resultados tem sido aqueles
em que a população tem o maior envolvimento não só na
decisão de fazer algo, mas também de exercer o controle
através das instâncias democráticas.

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OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS

Este tema sugere certo saudosismo em relação ao


passado, porém, é uma visão mais ampliada sobre como
o futuro ficou mais perto do passado. Até alguns anos
atrás a janela do passado era vista apenas por materiais
impressos (fotos tipo Kodak; disquetes com pouca
capacidade de armazenamento, não chegava a 2mb). Nas
circunstâncias atuais as possibilidades são infinitas em
função dos múltiplos dispositivos eletrônicos (scanners,
impressoras de última geração, discos com alta
capacidade de armazenamento; tablets, ipad, ipod, etc.)
todos estes meios estão permitindo mudar a rota de
nossa própria história, seria inimaginável pensar em
verificar com precisão a nossa trajetória de vida em um
período de décadas.
Então, a nova realidade digital permite viajar ao
passado e redimensionar nosso futuro, nossa cultura
atual é imagética. As imagens dialogam com outras
imagens, na internet, redes sociais interativas, redes
locais e sistemas de comunicação, tipo skype e outros
mecanismos móveis, como celulares sofisticados, todo
este universo de revolução informacional vem mudando,
transformando atos e atitudes em nossa relação com o
mundo real e imaginário.
Uma foto impressa no passado era parte apenas
do acervo pessoal de cada um, ou do álbum de família,

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José Alberto Tostes

hoje, uma foto cria “vida” própria na internet em alta


velocidade, permite interagir em diversos cantos do
planeta. Estudos sobre o nosso cérebro escritos em
diversos artigos e livros, evidenciam que com o passar
dos anos, temos a tendência de eliminar ou esquecer
parte de nossas lembranças. A vida digital está
permitindo reescrevermos os melhores anos de nossas
vidas, talvez, seja algo maior ainda, o fato poder vir a
contribuir de forma decisiva para auxiliar no
desenvolvimento de nossa história coletiva.
Existe uma frase popular muito dita: “quem vive
de passado é Museu”, na realidade esta afirmação
também perdeu o sentido, quando visitei o Museu do
Louvre em Paris em 2011, tive a convicção, naquele
lugar estava a fronteira da cultura digital que está
possibilitando agregar a inter-relação entre o que é
material e que o é digital, é o resultado concreto deste
intenso processo motivado pela revolução das imagens.
Desde 2010, mais precisamente no final de
outubro, criei um blogspot, a primeira ideia era divulgar
um conjunto de imagens de diversos lugares por onde
tive a oportunidade de passar, era incrível, a repercussão
que isso teve com o público, é como se ao mesmo tempo,
muitos se agregassem ao mesmo sentimento de ter
“vivido, ou passado naquele lugar”.As imagens tinham
mais que um efeito estético, era pura sinergia de
transmissão sobre impacto sensorial, de quem postou, e
de quem recebeu esta sensação.
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José Alberto Tostes

A revolução digital é isso! É algo que transcende


o nosso imaginário, cria um campo sensorial estético
fantástico, sem sombra de dúvida, redimensiona o
sentimento de “felicidade”, condição extrema de todo
este processo. Como dizer concretamente que os
melhores anos de nossas vidas tem um registro de
interação mais profundizado, permite refletir e dialogar
com o presente tentando alcançar o futuro.
Paul Virilio um dos grandes pensadores de nosso
tempo define com clareza: “estamos contaminados pelas
múltiplas imagens que percebemos todos os dias, há
imagens que não precisam de palavras para expressar o
contexto cultural, filosófico, artístico e científico”. As
palavras de Virilio mostram o contexto em que estamos
atualmente.
Existe um limite extremamente sensível na busca
pelo sucesso e felicidade, teóricos afirmam que o ser
humano dificilmente registra em seu álbum de imagens
pessoais, imagens de momentos difíceis pelos quais
tenha passado em algum momento da vida. Para tais
especialistas neste assunto, as imagens são registros
efetivos de nosso estado emocional, daí a imensa
dificuldade de registrar momentos menos felizes. O uso
de imagens sensacionalistas, ou de caráter coletivo é
usado por mecanismos comunicacionais para fins
diversos.
Os melhores anos de nossas vidas estão
relacionados não somente as experiências individuais,
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José Alberto Tostes

mas também coletivas. A cidade é um dos principais elos


de todo este processo, o arquiteto italiano Argan coloca:
“nossa relação com a cidade é uma intima relação de
trocas simbólicas”. O que dizer daquilo que tem
provocado a revolução digital? Permitem armazenar
dados, informações, imagens, de recriar, de reinventar.
Cada um, individualmente ou coletivamente possa ser
sujeito de sua própria transformação. Todo este contexto
nos permita efetivamente construir novos cenários e
buscar a felicidade individual e coletiva.
Os melhores anos de nossas vidas, não é um
slogan, também não é uma metáfora, é algo que trafega
entre o real, o imaginário e o perceptivo. E o que você
está fazendo por isso? O certo é que estamos
caminhando para um cenário que oferece uma infinidade
de possibilidades, de unir fronteira entre o passado,
presente e o futuro. Os nossos registros nunca mudaram
tanto, isso serve de reflexão sobre todos estes
mecanismos que estão a nossa disposição. Pense bem
sobre isso!

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José Alberto Tostes

URBANIZAR AS CIDADES REDUZ ELEVADOS ÍNDICES


DE ENFERMIDADES URBANAS

Segundo a pesquisadora Lustosa da Universidade


do Ceará o tema da saúde e o urbano sempre foram
tratados na literatura médica como algo diretamente
relacionado à concepção geográfica de doença, o
discurso médico higienista, dominante no século XIX,
contribuiu para um novo pensamento sobre a cidade e a
sociedade urbana. A Medicina Social urbana centrou sua
análise sobre as coisas, as condições de vida e de meio de
existência da população, relacionando homem doente,
natureza e sociedade. O meio (natural e social) foi
considerado como fator fundamental para explicar a
grande mortalidade urbana.
A autora cita que: “o discurso médico, com base
em teorias neo-hipocráticas, contribuiu para grandes
reflexões sobre a cidade doentia e favoreceu a
elaboração de projetos de reforma urbana e de leis que
disciplinaram a expansão urbana. Códigos de postura e
códigos sanitários, marcados por uma nova concepção
de cidade salubre, higiênica, ordenaram as construções e
o traçado urbano, disciplinaram a vida da população e
contribuíram para urbanização da sociedade. As práticas
urbanas foram marcadas pelas novas concepções de
saúde/doença dominante no século XIX”.
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José Alberto Tostes

A autora conclui o trabalho intitulado: A ciência e


o pensamento médico e a leitura do espaço urbano
afirmando: “os problemas sociais oriundos das
transformações econômicas produzidas pelo modo de
produção capitalista ainda estavam no começo, mas já
demonstravam fortes indícios do que viria pela frente.
Fenômeno urbano novo, categorias oriundas de outro
campo de saber, mas autorizado, permitiam operar
sobre uma realidade emergente. Em nome deste
discurso médico e da defesa da vida, corpos individuais
foram controlados e submetidos a uma rígida
racionalidade médica, e isto era apenas um prenúncio do
que se viria realizar nas monumentais intervenções
urbanas da segunda metade do século XIX. Já não eram
mais os médicos que orientavam os urbanistas e
remodeladores urbanos, mas seus sucessores, os
engenheiros sanitaristas”.
Esta reflexão permeou boa parte do século XIX
principalmente as duas últimas décadas deste século, o
forte processo industrial provocou a ocupação de
grandes aglomerados urbanos, o que dizer então, de
enfermidades que retornaram de forma avassaladora
formando um verdadeiro esquadrão da morte (Diarreia,
Dengue, Doenças intestinais, Febre tifoide, Gripe crônica,
Leptospirose, Leishmaniose, Hanseníase, Malária e
Tuberculose). Até alguns anos ocorreram em várias
cidades do Brasil, casos de Cólera.

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José Alberto Tostes

O relato da pesquisadora Lustosa, define que a


evolução do processo capitalista e a organização urbana
se deram em função de um elevado índice de ocupação
de áreas urbanas que ainda estavam em processo de
formação, motivados pelo impulso das relações de
comércio e da indústria, as doenças que surgiram neste
período principalmente no século XIX tiveram, portanto
origem nas questões sanitárias, na falta de higiene,
provocadas principalmente pela precária infraestrutura
urbana para época, tudo isso possibilitou uma mudança
radical na organização dos costumes a partir do
estabelecimento de regras rígidas e planos urbanos
capazes de dar conta de todos os efeitos gerados por
inúmeras doenças.
No século XIX, as doenças surgiram como
consequência do fenômeno da industrialização, as
doenças do novo milênio retornaram na inércia de toda a
sociedade. Na década 70, estudiosos norte-americanos
profetizaram que em pouco tempo o mundo estaria
urbanizado, implicações desta afirmação, tem sido
observar a crescente ocupação de áreas úmidas,
encostas, lagos, rios, igarapés, que provocam acumulo de
lixo, resíduos nos oceanos, canais urbanos assoreados.
Cotidianamente presenciamos todos os dias diversas
cenas pela televisão de múltiplos exemplos de danos ao
meio ambiente.
Enquanto no século XIX, o problema era resolver
de que forma iriam ser sanados os problemas sanitários
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José Alberto Tostes

relacionados à organização das edificações, o acesso a


distribuição dos serviços de água e esgotos, a discussão
no século XXI é a saturação de áreas que teoricamente
deveriam estar exercendo a função que a natureza lhe
incumbiu, entretanto pela ação antrópica do homem, tais
áreas estão cada vez mais castigadas.
Se a grande meta no século XIX era estabelecer
um plano de ocupação, no século XXI esses planos
existem, porém não são executados. As similaridades dos
problemas ocorrem diante do fato de que doenças
oportunistas regressaram no vácuo da falta de
preservação, controle e ordenamento urbano territorial,
são cada vez maiores as áreas que são desmatadas sem
nenhum critério ou a completa ausência de plano de
ordenamento. As tipologias habitacionais são
construídas sem as condições mínimas adequadas para
atender as necessidades físicas e sociais.
Os estudiosos americanos afirmam: “os
fenômenos urbanos hoje são mais facilmente detectados
em função da mídia globalizada, os problemas sempre
existiram”. O que ocorre em qualquer lugar do planeta
em frações de segundos, rapidamente é socializado
através da rede planetária de computadores. O que fazer
diante do dilema que tomou conta da sociedade em
relação às enfermidades urbanas do século XXI?
É preciso urgentemente que todas as instituições
possam cumprir o seu papel social, trabalhar
amplamente no esclarecimento da informação e
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José Alberto Tostes

divulgação sobre todos os tipos de enfermidades e como


elas são adquiridas. Os governantes despertem para o
fato de que o planejamento não é algo utópico, mas real e
necessário; que a população faça a sua parte não jogue
lixo em áreas inadequadas. É preciso aplicar programas
e politicas públicas para destinação do grande volume de
resíduos sólidos e efetivar programas habitacionais para
se transformarem em realidade.
Investir na preparação de recursos humanos com
treinamento e qualificação de setores da saúde para se
especializarem em temas urbanos. E por último, fazer
um levantamento minucioso sobre os níveis de
enfermidades durante todo o ano para comparar os
custos de investimentos no processo curativo, para isso
será necessário hierarquizar todo o sistema de saúde
visando trabalhar estatísticas do controle da saúde
urbana. É preciso como sugere a pesquisadora da
Universidade Federal do Ceará entender a ciência do
pensamento médico através da leitura do espaço urbano.
O “Esquadrão da Morte” (doenças) não pode
prevalecer, pois isso significará a falência total de todos
os segmentos da sociedade. Em que pese todos os
avanços tecnológicos e a comunicação interplanetária,
estamos regressando ao ponto do século XIX, com
enfermidades que na prática deveriam estar
completamente erradicadas, com uma pequena
diferença, no século anterior havia um motivo para isso,
a aglomeração das cidades em função de um suposto
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José Alberto Tostes

desenvolvimento, agora existe o desenvolvimento,


porém com a concentração absurda de riqueza e
completa ineficácia do aparato estatal.
E a realidade na Amazônia? A situação não é
diferente, são inúmeras áreas em todos os municípios
atingidas por um grande número de enfermidades,
resulta na imensa necessidade da realização de mais
investimentos para urbanizar as cidades, melhorar
serviços de infraestrutura, caso isso não ocorra,
fatalmente serão criados milhares de postos de saúde,
clinicas, hospitais e áreas de pronto atendimento,
sempre irão ficar sobrecarregadas de pacientes que
apresentam problemas crônicos vinculados ao processo
de desestruturação urbana. Na prática, significa mais
dinheiro para tratar das cidades do que para aumentar o
ciclo interminável de recursos para a área da saúde, vale
mais prevenir do que remediar.

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José Alberto Tostes

A CIDADE COMO HISTÓRIA

Falar da cidade é inevitavelmente falar da


história, do lugar e principalmente de seus usuários
como participes do enredo que forma a identidade e as
características de uma região. Tem sido através da
história que os arquitetos tiveram a oportunidade de
conhecer mais atentamente o conjunto de lições
herdadas do passado, portanto a prática no
desenvolvimento da arquitetura e do urbanismo uniu a
prática e a teoria do trabalho do arquiteto.
A preocupação com a história da cidade atravessa,
assim, a própria história do urbanismo. No bojo da
transformação radical do papel das cidades no século
XIX e como contraponto à história de destruições e de
transtornos traumáticos do meio tradicional, a cidade
emerge como um novo objeto do saber histórico, como
objeto de preservação e, sobretudo, como inarredável
questão que os novos profissionais da cidade terão de
enfrentar diante dos problemas sociais que a
caracterizam e da necessidade de adequarem suas
estruturas às novas exigências do desenvolvimento
industrial (Gomes e Pinheiro, 2005, p.09)
Tais reflexões são cruciais para compreendermos
o papel desempenhado pelos arquitetos e urbanistas em
uma fase extremamente difícil da vida em comunidade, a
forma de organização social, não há dúvida de que o

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José Alberto Tostes

entendimento sobre o significado posterior durante toda


a trajetória do século XX colocou na tela do debate uma
série de questões, autores como Gueddes, Munford e
Poete, definem a preocupação com o debate sobre como
de fato relacionar a história como um grande exercício
crítico, visando compreender a dinâmica das
transformações urbanas e das possíveis intervenções
nas cidades.
Ainda na discussão de autores como Gomes e
Pinheiro (2005, p.27): “discutem que com relação ao
urbanismo contemporâneo, os pressupostos e
características do urbanismo recaem sobre “urbanismo
de resultados” ou urbanismo de negócio, e as novas
alternativas de intervenção em áreas centrais e
portuárias degradadas em função das novas exigências
dos espaços de produção”. Este é um claro tema
relacionado sobre a questão da maior relação em
décadas do desenvolvimento urbano com a questão
econômica”.
O tema sobre a cidade sempre tem sido
fascinante, e um dos motivos é a exatamente como
entender os fenômenos sociais e suas implicações a
partir do contexto que transformou o mundo, a
Revolução Industrial, os conflitos mundiais com as duas
grandes guerras mundiais, bem como, as
impressionantes técnicas e tecnologias que foram
constituídas a partir de então, mesmo as cidades
planejadas construídas sob a visão muitas vezes
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José Alberto Tostes

exacerbadas dos modernistas continham suas restrições


pelo excessivo uso do caráter racional, destacado até de
forma pragmática soluções que pareciam perder o
encanto em pouco tempo.
“A construção de cidades novas planejadas, tem
marcado, desde o período colonial, o processo de
urbanização do território no Brasil. Embora o urbanismo
adotado no planejamento das cidades coloniais venha
sendo estudado desde os anos de 1930, com inúmeros
trabalhos mais recentes, renovam as interpretações
sobre o tema, o urbanismo das cidades novas,
construídas durante o Império e ao longo da República”
(Andrade, 2005, p73)
“A história da cidade é um objeto de estudo de
muitas disciplinas, cada uma delas com o seu corpo
teórico e as sua metodologia: a história, a economia, a
sociologia, a geografia, a arquitetura e o urbanismo são
algumas disciplinas que se debruçam sobre a cidade”. A
afirmação deste autor mostra como o caráter da
abordagem sobre a cidade se tornou ampla em décadas,
saímos exclusivamente de uma visão pura da
historiografia baseada em cortes muitos descritivos e
narrativos dos fatos, para ir além, compreender mais
amplamente os fenômenos sociais, políticos, econômicos
e culturais que hoje influenciam a história das cidades.
(Teixeira, 2005, p95)
A história da cidade é algo fascinante como diz
Giulio Carlo Argan, arquiteto italiano, as nossas
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José Alberto Tostes

impressões sobre o lugar é a primeira marca que fica, da


simbologia, da cultura, da identidade e principalmente
da formação da memória, a preservação na atualidade
vai muito mais do que somente manter a edificação e a
cidade, visa criar mecanismos de interação entre a
relação do passado, presente e futuro. Por isso pensar
sobre a história da cidade, requer constituir novos
referenciais sobre como propor alternativas que não
fiquem somente como legado nos livros, registros
oficiais e documentos acadêmicos. Os usuários devem
ser protagonistas de sua própria história, a arquitetura e
urbanismo têm grandes responsabilidades através dos
arquitetos legitimarem este compromisso.

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José Alberto Tostes

É PRECISO PENSAR O LUGAR

Quais os projetos que podem redimensionar as


cidades de Macapá e Santana? Entre tais perspectivas,
deve-se vislumbrar algo que não tem acontecido desde
que Santana foi transformada em município, não tem
existido uma relação de cooperação integradora com
Macapá, não cabe aqui colocar os motivos de tais
entraves, mas, a partir de agora é preciso que estes dois
municípios praticamente conurbados possam realizar
diversas operações consorciadas.
Um destes consórcios é a cooperação para um
sistema de coleta de lixo e um único lugar para destinar
os resíduos, não tem sentido, cada município ter uma
lixeira exclusiva, isso só contamina o lençol freático.
Outra operação consorciada entre os municípios são as
metas de áreas integradas através da fronteira pelo
Distrito de Fazendinha e pela Rodovia Duca Serra. No
quesito Planejamento, é preciso que o Plano Diretor de
ambos os municípios sejam atualizados, mas levando em
conta o processo de interação entre ambos.
Um projeto importante para ambos os
municípios seria o redimensionamento da área da expô-
feira como um grande centro de negócios, isso iria
oportunizar a geração de emprego e renda, dar sentido a
esta área, em que pese o maior uso nos últimos anos
através de alguns serviços nesta área, é muito pouco,

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José Alberto Tostes

abriria mais um polo de atividades comerciais e de


serviços, tal área, possui boas condições de acesso e
estacionamento, cairia bem em função dos novos
investimentos na Rodovia Juscelino Kubitschek como o
Shopping Amapá Garden.
Macapá e Santana têm enormes carências de
investirem em projetos de urbanização e arborização
melhorando as condições climáticas das cidades, isso
está diretamente relacionado ao uso excessivo de
pavimentações asfálticas, reduzindo a dependência do
asfalto e investindo em pavimentos mais baratos e
sustentáveis, oportunizaria a formação das cooperativas
para produzirem o material, gerando inúmeros postos
de trabalho. É importante pensar em curto prazo
mudanças radicais neste setor, durante o período
invernoso estas cidades são muito castigadas pelas
chuvas.
Os projetos para a área do turismo em ambas as
cidades estão limitados, torna-se necessário definir
metas claras e objetivas, por exemplo: definir áreas onde
serão concentrados os investimentos e a preparação de
mão de obra, melhorar as condições de estrutura urbana
de ambas as cidades. Uma boa porção da área urbana de
Macapá e Santana não tem o meio fio e todos os
requisitos de estrutura das vias.
Investir em sistemas de geoprocessamento será
indispensável para o desenvolvimento, para tal, será
necessário conseguir recursos para programar o
29
José Alberto Tostes

cadastro técnico multifinalitário, permitirá a integração


dos sistemas em todas as áreas de atuação dos
municípios, associado a esta medida a modernização do
sistema de engenharia de tráfego visando adequar novos
usos e hierarquias de vias e avenidas.
Em Macapá, é preciso repensar a orla, em outras
épocas foi mais bem utilizada, inclusive daqueles que
chegavam de barco e avistavam a cidade de longe. Na
década de 1990, o Trapiche foi reformado, de uma
estrutura de madeira passou para concreto, todavia,
alterou-se o projeto original, inclusive a distância total,
passou a ter outra função, muito mais de contemplação,
há algo neste lugar que não combina e nem funciona
(bondinho), isso reduziu inclusive a área de acesso.
O isolamento da cidade de Macapá em relação ao
seu principal patrimônio, o rio Amazonas é extremo.
Para mudar este cenário, é vital maior participação da
população como agente de transformação. A imagem de
um lugar começa pela frente da cidade, nossa orla não
está somente maltratada, está fragmentada. Os
fenômenos sociais, culturais, ambientais e políticos que
foram alterando o espaço urbano e a arquitetura das
cidades de Macapá e Santana deixaram marcas
simbólicas que vem sendo perdidas ao longo de décadas.
Os vínculos desta identidade cultural ficaram
reduzidos com o nosso patrimônio, quase imaterial na
sua totalidade. Para os gestores públicos, fica a convicção
de que tem muito trabalho pela frente, mas é preciso
30
José Alberto Tostes

ousar, ter a coragem de resgatar a imaterialidade da


maior parte de nosso patrimônio, seja urbano ou
arquitetônico. Será preciso muito anos para legitimar
novamente a nossa memória e identidade.
A importância da orla e a sua integração com a
cidade é fundamental, no caso do Perpetuo Socorro,
houve uma ruptura na continuidade da orla, seria
preciso pensar naquele local uma intervenção com a
participação da comunidade no sentido de dar
continuidade a faixa litorânea, valorizando o rio
Amazonas.
Os planos diretores anteriores destacaram boas
propostas para as áreas de orla das cidades de Macapá e
Santana, porém, governos anteriores sempre insistiram
em investir na frente das cidades em proposições alheias
a realidade do lugar. Investir em áreas de orla é dar ao
local a real possibilidade de reintegrar a estrutura
urbana da cidade. Macapá e Santana precisam evoluir,
acima de tudo pensar o lugar.

31
José Alberto Tostes

O RIO, A CIDADE E O TERRITÓRIO INFORMAL

A região amazônica tem sido amplamente


discutida quando se trata de avaliar as questões
ambientais, o desmatamento e o descontrole sobre as
questões da biodiversidade, além de inúmeros
problemas relacionados às questões fundiárias, projetos
minerais e agroflorestais, sempre deram o tom sobre as
múltiplas implicações sobre o espaço territorial
geográfico, um bom número de cidades foram formando-
se a partir deste cenário, muito embora, boa parte de
projetos alcançassem as áreas rurais, um bom número
de implicações foram aparecer como consequência na
maior parte das áreas urbanas nas capitais das cidades
amazônicas.
As inúmeras explicações de documentos oficiais
produzidos em décadas afirmam a preocupação com a
realidade vivenciada, porém, os problemas e conflitos só
elevaram algo que cresceu de forma avassaladora nas
três últimas décadas, a formação de um território urbano
na completa informalidade, por mais paradoxal que
possa se pensar, este processo de ocupação informal em
muitos casos se contrasta com o próprio modo de viver
amazônico, pois parte do ambiente informal está
exatamente nas cabeceiras e orlas de rio, em áreas
úmidas, em ressacas, sobre lagos, igarapés e outros
recortes de vida sobre as águas.

32
José Alberto Tostes

Um dos pontos mais importantes para entender a


realidade de um lugar começa por compreender o que
significa o espaço natural e cultural deste lugar. Na
região amazônica é contrastante que muitas vezes a
paisagem natural se choca com a paisagem de ocupação
provocada pelas intensas dinâmicas, causadas por
múltiplos fatores que na região acabam ganhando um
peso importância bem maiores historicamente.
Existem fatores como contrapor a direta relação
entre o Estado legal e ilegal, pois para manter a condição
supostamente “legal” é preciso atender um conjunto de
regras descritas em todos os documentos institucionais,
não são poucos os instrumentos de controle sobre o solo
urbano e o meio ambiente. Discutir a questão desta
realidade está implícita na paisagem natural, não tem
sido fácil, envolve muitos agentes públicos, privados e
principalmente aqueles a favor somente do capital
especulativo.
O rio, na região amazônica em que pese um bom
número de estudos sobre a questão social e
antropológica, ainda é pouco difundido quando
relacionado com as funções mais vitais da cidade. No
caso amazônico, é preciso compreender mais
profundamente o que significa a relação da cidade, o rio
e o território informal, o eixo desta discussão acabou
ficando em segundo plano, quando na prática precisa ser
retomado o tema, não mais somente através de debates
intermináveis, mas compreender o que representa a
33
José Alberto Tostes

paisagem cultural e natural nas cidades amazônicas.


Algo é certo, é preciso quebrar os paradigmas sobre a
confrontação sobre o que é legal e ilegal sobre o solo
urbano, vive-se em uma região que provavelmente um
terço da população esteja vivendo sobre áreas úmidas ou
informais.
Quais as respostas para este tipo de contexto?
Será somente a uniformização das políticas públicas,
quase sempre de ocasião e completamente em processo
de fragmentação. Aqui no Amapá, a situação não é
diferente, uma das áreas com maior inter-relação de
todos estes fatores é denominada de Pedrinhas. Neste
lugar, nem sempre ocorre a lógica formal, de explicar
tudo, tão pouco políticas sem participação social e
inclusiva funcionam de fato.
O bairro das Pedrinhas tem um caráter que não
pode ser avaliado somente por conta da configuração
espacial e apenas pelo seu sentido morfológico, é preciso
avaliar o ambiente cultural e natural que envolve o rio, a
cidade e o território informal que foi se aglutinando em
décadas. Pensar planos, programas e projetos não é
apenas colocar as pessoas setorizadas e hierarquizadas
em cada lugar como se fosse um quebra cabeça, é muito
mais, é crucial considerar o que significa o ambiente em
todas as suas dimensões sociais, políticas, econômicas e
culturais.
O território informal verificado em áreas úmidas
e mais próximas dos rios em cidades amazônicas se
34
José Alberto Tostes

contrasta com a inércia da própria sociedade e do


próprio poder público que não consegue estabelecer
níveis de diálogos adequados que atendam
minimamente a dinâmica do lugar, além de todo este
contexto, é preciso avaliar e entender a cidade e suas
relações através de conceitos começa com reflexões
sobre como pensar o lugar a partir de suas intersecções
e com a visão de mundo onde este lugar está inserido.
Muitos autores na Amazônia tem se dedicado a
explicar diversos preceitos para as cidades, cidade de
beira-rio; cidades ribeirinha; cidade rodovia; cidade
floresta. É importante a formatação teórica e
metodológica, entretanto, quando se avalia o conjunto
das políticas nacionais, regionais ou locais, não há uma
única referência mais estrutural sobre o significado do
que representa o esforço de interpretar este espaço na
região.
O rio, a cidade e o território informal na região é
algo ainda no campo abstrato, pouco concreto. Os
estudos sobre como confrontar a discussão da cidade
legal versus o contexto ilegal sempre fica para um
segundo plano, com isso aumenta de forma intensa um
conjunto de áreas que vão ficando sem definição quanto
a caráter natural e cultural. Tendo em vista tal situação, é
fundamental conhecer mais atentamente questões
conceituais que vem sendo aplicadas e como contribuir
para agregar aos temas nacionais a importância de
respeitar os aspectos peculiares que compõem
35
José Alberto Tostes

naturalmente o meio ambiente urbano com vínculos e


identidades muito próximas com a dinâmica dos rios.

36
José Alberto Tostes

A LÓGICA DE UM CRIME URBANÍSTICO

Este texto são reflexões sobre a obra de Luís


Rodrigues, urbanista português que publicou o livro:
Manual dos Crimes Urbanísticos, este autor define, com
muita propriedade, que os graves problemas que têm
afetado a prática do planejamento urbanístico,
geralmente com base na especulação imobiliária. O teor
deste livro é perfeitamente aplicado à realidade
brasileira e principalmente ao contexto das cidades do
estado do Amapá. Os crimes urbanísticos, além de
resultarem de erros de concepção própria de estrutura
inerte (a construir ou a reformar), atingem e ofendem a
estrutura viva preexistente, indispensável, sem isso não
há cidade. Os crimes urbanísticos são consequência da
especulação imobiliária e da ausência de uma visão
integrada do território, tanto se fazem sentir nos espaços
urbanos consistentes, como também nos espaços
considerados urbanizáveis e com vocação para a
produção de biomassa.
O que é um crime urbanístico? De acordo com o
autor, um crime urbanístico, se configura como a forma
jurídica, assim, como todas as opções urbanísticas que
contrariam as indicações contidas nos instrumentos de
gestão urbana e territorial (entre os quais se inserem os
planos e demais regulamentos urbanísticos) e
principalmente a regulação dos mecanismos de

37
José Alberto Tostes

controle e uso do solo, tudo isso que se contrapõem a


regra estabelecida, é considerado um crime urbanístico.
Segundo Rodrigues pode-se classificar de duas
formas a criminalidade urbanística: “uma criminalidade
pode ser aferida na sua dimensão jurídica e uma
criminalidade que pode ser aferida na sua dimensão
técnica e ética. Na dimensão jurídica a análise de uma
intervenção se resume á verificação do cumprimento ou
incumprimento da mesma em revelação a uma
prescrição legal (ou seja, é possível verificar se essa
intervenção cumpre ou não regras preestabelecidas num
plano ou regulamento), na dimensão técnica e ética a
situação é distinta: a eventual inadequação dessa
intervenção não contraria qualquer quadro de referência
normativo, podendo ainda ser normativo, podendo ainda
ser nociva ( ou seja, como existe enquadramento
regulamentar só pode ser medida em relação a um
conjunto subjetivo ou sugestivo de regras, que não têm,
no entanto, qualquer força legal ou impositiva).”
Para constituir um crime urbanístico, é preciso
que se construa uma clara hierarquia de valores. Caso
contrário, uma ação urbanística será sempre justificada
por outra, sem que se encontre qualquer infração em
algumas delas. Espera-se que os planos e regulamentos
forneçam o critério decisivo para enumerar essa
hierarquia de valores. No urbanismo, quase todo tipo de
obra tem sido conotada com “desenvolvimento”. Assim,
os apologistas da obra assumem-se perante a população
38
José Alberto Tostes

como dinamizadores e progressistas que estão


associados à “política do fazer”.
O autor revela que para muita gente, o urbanismo
é um constante ato de fazer. Contudo, isso é uma imagem
errada; aquilo que de mais urgente existe para fazer no
urbanismo é exatamente o não fazer ou demolir o que foi
feito. Tudo isso seria fato se as cidades fossem realmente
feitas para pensar o futuro em longo prazo e não a
especulação imobiliária em curto prazo; isto seria muito
bom se esses visionários fossem realmente agentes do
progresso e não meros oportunistas aparentando
cavalgar a onda da inovação quando o propósito último
consiste apenas em espoliar o erário público com
projetos milionários e onerosos.
A ocorrência de crimes urbanísticos com
impactos consideráveis tem a ver com a infração
primária dos agentes construtores que resolve ludibriar
o poder público e a fiscalização urbana. A criminalidade
urbanística verdadeiramente sofisticada atinge até o
setor do planejamento, da legislação, abarcando ainda os
mecanismos de engenharia financeira e empresarial que
permitem levar a cabo empreendimentos onerosos e
insustentáveis sob a capa inexpugnável de legitimidade.
Presenciamos todos os dias uma série de
impunidades desconcertantes. Se as questões
urbanísticas forem tomadas como aspectos puramente
secundários passaram a estar incluídas nas
preocupações, então o objetivo da qual foi proposto à
39
José Alberto Tostes

obra deste autor tem como fundamento a imensa


reflexão sobre o contexto que envolve a organização
espacial das cidades. Se percebermos a nossa cidade na
sua totalidade vamos verificar que há múltiplos crimes
urbanísticos sendo cometidos todos os dias.
Este artigo permite pensar a real concepção sobre
o que significa a cidade, porém, é fundamental entender
a gravidade da situação urbana de nossas cidades, como
sugere a obra sobre os Crimes Urbanísticos, existem
responsabilidades de todos os segmentos da sociedade
sobre a qualidade que deve existir sobre o espaço
urbano, não se admite mais que neste espaço, tudo possa
ocorrer de forma ilegal, é fato, a situação é grave e cada
vez mais preocupante.
Como alterar algo enraizado na cultura de quem
comanda as cidades brasileiras? Serve de alerta para
todos os gestores, da ampla necessidade de repensar as
atitudes políticas que prejudicam a qualidade e a
infraestrutura urbana de nossas cidades, não é atoa que
cidades brasileiras vêm absorvendo os impactos urbanos
das duas últimas décadas. Todos os dias, há um novo
crime urbanístico sendo cometido. As cidades
amazônicas estão entre as piores do Brasil com
baixíssimos índices de acessibilidade e mobilidade
urbana. Um crime urbanístico não é somente burlar a lei
como sugere o autor da obra: O Manual dos Crimes
Urbanísticos, mas também a clara intenção de tirar
proveito de forma intencional. Portanto, há uma lógica
40
José Alberto Tostes

em cometer um crime urbanístico sob olhar de quem


produz a ação.

41
José Alberto Tostes

O PROJETO DE ARQUITETURA

Outro dia fui questionado a respeito dos projetos


de arquitetura produzidos no Amapá e do nível das
construções. Tal pergunta me fez refletir sobre a
trajetória dos últimos vinte anos sobre o espaço
edificado principalmente na cidade de Macapá. A
participação do arquiteto no cenário local é algo recente.
Até a década de 1990 quando um cliente contratava um
arquiteto, o prédio estava pronto, o trabalho do
arquiteto se resumia a fazer uma maquiagem do prédio,
havia a tentativa de se criar uma imagética para o prédio,
é como se você fosse a uma loja para escolher qual a
melhor vestimenta para o seu figurino. Assim era a
relação do cliente com o arquiteto na grande maioria das
vezes.
O produto arquitetônico deste período é o
resultado também da imposição dos governos. Quando o
arquiteto era chamado para intervir através de projetos
para o setor público, já havia uma série de atenuantes
que estavam condicionando a elaboração do projeto,
assim era dito: “não pode isso, evite aquilo, custa caro,
enfim...” A prioridade na realidade era construir, e não
atender de forma adequada os condicionantes que
movem a criação do produto arquitetônico.
Arquitetura é algo mais que simplesmente a casa
que você vai viver a maior parte de sua vida. Tem sido

42
José Alberto Tostes

arquitetura o vestígio da cultura de um povo, trabalhar a


beleza plástica e os atenuantes que movem a criação
como funcionalidade e a beleza estética parece algo
imprescindível.
Em passagens recentes pela Europa,
principalmente na cidade de Barcelona, visitando e
conhecendo as obras de um dos gênios da arquitetura,
Antônio Gaudi. Há uma passagem sobre a trajetória
profissional deste arquiteto, quando ele afirma que o
diferente na arquitetura, custa caro, ele não estava se
referindo somente ao custo do projeto, mas se o cliente
estava disposto a romper a lógica natural, parece que na
concepção do arquiteto Gaudi, isso não tem preço.
Nos dias atuais, o arquiteto tem vivido a ditadura
do cliente, na prática tem condicionado a boa
arquitetura. Os condicionantes econômicos, a
subjetividade do próprio cliente, a avalanche de
materiais e diversidades de opções tem gerado certa
“mutilação do objeto que é a criação e a razão de ser do
trabalho do arquiteto“.
Presenciei como acadêmico de arquitetura e
depois como profissional de arquitetura, verdadeiras
transgressões do processo criativo, do direito de gerar
uma ideia e depois de ter que abandoná-la exatamente
pelos motivos já citados, de como o cliente se posiciona
impondo aos arquitetos atenuantes que descaracterizam
o projeto. Em parte os arquitetos devem assumir a culpa
por não terem exercido com maior ênfase os direitos
43
José Alberto Tostes

autorais de sua criação, isso não significa impor ao


cliente o seu pensamento, mas possibilitar, sobre como
todas as variáveis de mercado podem influenciar ou
alterar um bom projeto de arquitetura.
O que seria então uma arquitetura feia? O
questionamento é que este tipo de arquitetura é
desprovida do sentimento de beleza plástica que move
os nossos olhos, de profunda e imensa diversidade de
cores. Até os anos 80, a diversidade de cores estava
limitada ao que oferecia a indústria de tintas. Com a
evolução tecnológica e os imensos recursos que hoje
estão a disposição, só de catálogo você tem a sua
disposição mais de 10 mil cores.
Como dialogar com a fantasia do cliente, e acima
de tudo manter a sobriedade da criação. Não há dúvida
de que estamos superando anos anteriores. Na paisagem
da cidade de Macapá, percebe-se a intervenção do
arquiteto. Não se muda um cenário de uma cidade em 10
anos, isso leva uma vida. Cabe aos arquitetos estarem
em permanente sintonia de que a criação é hoje a soma
de muitos fatores.
Há muitos elementos que hoje permeiam o
processo de criação, tudo isso associado ao fato de estar
antenado com a revolução das informações e das ideias,
principalmente da questão tecnológica, são os materiais,
os dispositivos de estrutura; de iluminação de cores, etc.
Tudo virou motivo para que a edificação possa se
transformar na materialização do sonho, do irreal, do
44
José Alberto Tostes

subjetivo, da fantasia. Cabe ao arquiteto, uma pitada de


racionalidade. Assim caminha a humanidade para
compreender que cada vez mais é preciso pensar, o
primeiro ato de materialidade criativa, é a intuição.

45
José Alberto Tostes

PENSAR A CIDADE CONCEITUAL: ENTRE O RIO E O


LUGAR

Nos últimos dez anos desenvolvi algumas análises


para a cidade de Macapá, no ano de 2013 tivemos uma
experiência importante realizada na cidade de Macapá
que foi a realização do evento SOS Cidades. As propostas
apresentadas representaram um expressivo
entendimento sobre a cidade. É sempre complexo pensar
a cidade através somente da técnica. A cidade do futuro
representa muito mais do que somente atender as
necessidades cotidianas. Idealizar os projetos para a
cidade tem haver com isso, a visualização conceitual.
Durante o SOS Cidades, vislumbrou-se pensar a
tríplice relação entre a cidade, o rio e o lugar, ficou
constatado pelos grupos de trabalho neste evento que a
cidade de Macapá está de costas para o rio Amazonas,
algo privilegiado e único. O que fazer diante de tal
situação que coloca a nossa capital em diversos dilemas,
como atentar para que esta relação seja melhor
oportunizada? Está claro que melhorar o
desenvolvimento urbano de uma cidade, não é somente
elaborar projetos alheios ao lugar, é preciso construir a
ideia de cidade, nesta direção, aparece o que muitos
autores estão denominando nos últimos anos de cidade
conceitual.

46
José Alberto Tostes

A cidade conceitual é algo que leva em conta não


somente as necessidades cotidianas, mas inclui todo o
processo de relação de trocas simbólicas, respeita-se a
vocação do lugar, a cultura estabelecida e as novas
perspectivas para o futuro. Aponta-se que a cidade
conceitual tem direta relação com a forma sobre a
ocupação do espaço, cada vez mais envolvido por um
forte processo de especulação imobiliária, visa atender
as classes média alta e a própria classe alta, por outro
lado, espaços mais empobrecidos e carentes de
infraestrutura são ocupados pela classe de menor renda,
teoricamente deveria ocorrer o equilíbrio entre um
processo e outro.
Na prática, o que ocorre é um desequilíbrio
insustentável, decorre o desdobramento dos fatores
sociais como a segregação e a violência urbana, o
problema da violência está diretamente relacionada a
desestrutura do espaço urbano, não há presença do
estado, cria-se um sistema clandestino que concorre com
qualquer sistema oficial posto. Portanto, a cidade
conceitual tem princípios que agregam os valores, neste
caso, a cidade de Macapá apesar de ter o rio Amazonas
como referência, este símbolo é muito pouco
oportunizado.
O que falta para que os projetos urbanísticos
sejam idealizados sob a ótica da cidade conceitual,
primeiramente passa pela ideia de cidade do futuro, nos
acostumamos a pensar que a cidade do futuro é
47
José Alberto Tostes

impregnada de tecnologias, aspectos robóticos, sistemas


integrados e redes a cabo, ou seja, toda e qualquer
tecnologia de ponta que possa oferecer maior agilidade
das ações, tais tecnologias estão presentes em várias
cidades do mundo, são utilizadas em diversas
edificações, as chamadas edificações inteligentes.
A cidade do futuro provavelmente tem isso,
porém, nenhuma tecnologia resolve os problemas
crônicos das cidades, a forma como se concebe o ato de
planejar, organizar, construir e implementar os serviços
na cidade, ainda são dissociados de um conceito. A
cidade conceitual passa por mudanças estruturais,
principalmente a maneira como ocorre a distribuição
dos recursos e a aplicação. Há décadas, os projetos
idealizados estão voltados para a edificação, mas não
para as cidades, concretamente o espaço urbano ficou
estático diante do crescimento horizontal e vertical das
cidades.
Apesar do amplo avanço jurídico das questões
que tratam da cidade, caso do Estatuto da Cidade, os
problemas das cidades pioraram muito induzido pela
maneira como se busca os recursos para investir no
espaço urbano. O volume de recursos para a área da
habitação são expressivos em programas como o PAC,
entretanto, quando se associa tais programas, são
investimentos em edificações, coloca-se o entorno como
algo secundário, aí reside a grande adversidade para a

48
José Alberto Tostes

qualificação do espaço urbano. Cria-se uma avalanche de


edifícios que não dialogam com a cidade.
A cidade conceitual, tem como fundamento a
valorização da paisagem cultural e natural, de vocação
do lugar, coisa que sempre fica a parte. É importante
salientar que para colocar em prática a cidade
conceitual, é preciso investir no capital social, capital
humano, e definir medidas que alcancem os problemas
cotidianos, leve em conta os projetos urbanísticos que
irão dar novas dimensões para cidade e para o lugar. Por
ocasião do SOS Cidades em 2013, as ideias pensadas
estavam no campo estrutural sobre a percepção e a
vocação do lugar, porém, é preciso agregar o conceito: a
cidade ribeirinha, a cidade forte, a cidade do meio do
mundo, a cidade floresta, a cidade do Marabaixo e outros
aspectos que caracterizam a nossa cultura.
O rio, a cidade e o lugar formam uma única parte,
todo e qualquer movimento conceitual de pensar um
modo diferente, passa pela essência do que representa
Macapá para os amapaenses, para a região amazônica,
para o Brasil, para o Platô das Guianas. Discutir a cidade
conceitualmente, não é impor um conjunto de teorias
urbanas, mas compreender como podemos interligar
todas as estruturas de natureza econômica, social,
ambiental, cultural, artística e simbólica, construir o
nosso sentimento de pertencimento ao lugar. Um projeto
não é qualquer coisa, é algo que possibilita, criar e
recriar o espaço habitado.
49
José Alberto Tostes

PALAFITA AMAZÔNICA

As palafitas são sistemas construtivos usados em


edificações localizadas em regiões alagadiças cuja função
é evitar que as casas sejam arrastadas pela correnteza
dos rios. As palafitas são comuns em todos os
continentes sendo que em áreas tropicais e equatoriais
de alto índice pluviométrico é maior. São construções
sobre estacas de madeira muito utilizadas nas margens
dos rios, na Amazônia, também é comum em países
da África e Ásia. As palafitas da pré-história foram
descobertas somente no século XIX no lago de
Zurique, Suíça e em lagos e
regiões pantanosas da Itália, Alemanha e França.
Dependendo das regiões, as construções de
palafitas podem empregar o uso de barro e ser
confeccionadas em palha, madeira e ramos trançados no
piso de modo aderir um revestimento de Argila,
possibilitando desta forma o uso do fogo em seu interior.
A base é montada através de caibros e estacas evitando
assim as inundações. Com as escavações
arqueológicas, surgiu um longo debate sobre as
construções palafitas, já que para uns elas eram postas
diretamente no solo, e para outros elevada (sobre
estacas).
No Brasil, as palafitas estão presentes no cenário
de várias regiões, porém, é na Amazônia que este tipo de

50
José Alberto Tostes

habitação é mais comum. Para Pereira; Barros; Silva no


trabalho apresentado na edição de número 61 da SBPC
em (2009): “as palafitas erguidas no entorno dos
igarapés, lagos e rios da região, palafitas são moradias
populares que dialogam com o movimento das águas da
Amazônia, permanecendo com suas estacas de madeira
submersas durante a enchente e vindas à tona na
vazante. Historicamente foram construídas em áreas
invadidas no entorno dos igarapés. Apesar de deste tipo
de habitação gerar muitos problemas ambientais, não há
como negar que esta tipologia tem sido uma solução
arquitetônica do homem amazônico para adequar-se ao
ambiente em que vive”.
Para os autores citados: Arquitetura tradicional
ribeirinha constitui-se de aglomerados urbanos
relaciona-se com os ciclos econômicos e migratórios da
cidade: sem encontrar lugar no espaço planejado, os
trabalhadores estabeleceram suas moradias no entorno
dos igarapés. O espaço geográfico no qual as palafitas
incidem, isto é, o espaço do igarapé. Sem o igarapé, esse
texto cultural identificado com a cultura ribeirinha tende
a desaparecer da cidade. A possível mudança de curso
retira da cidade, ou altera drasticamente, a condição
necessária para a incidência dessa arquitetura
tradicional ribeirinha no interior da cidade.
Para Pereira; Barros; Silva (2009): “a remoção
das palafitas do espaço urbano sem uma estratégia de
preservação de sua memória representa a perda na
51
José Alberto Tostes

heterogeneidade da cultura, pois, juntamente com os


problemas ambientais, sociais e de saúde pública
derivados da ocupação desordenada do leito dos
igarapés, retira-se da cidade um texto da cultura
ribeirinha amazônica. Trata-se de um problema
assentado numa contradição, mas que não pode ser
negligenciado, sob pena de perdemos a memória mais
remota de uma cidade cuja urbanidade surge do
encontro, nenhum pouco harmonioso, com a cultura
cabocla ribeirinha”.
A questão das palafitas precisa ser mais bem
estudada e analisada, principalmente na região
amazônica, este modo de viver do homem amazônico,
como foi dito é peculiar e característico de diversos
estados da região, entretanto, é importante dizer que
este modo de vida encontra-se completamente
ameaçado de desaparecer, um dos motivos é a
uniformização das políticas habitacionais para todo o
país. As políticas são iguais de norte a sul sem levar em
conta o ambiente cultural. Sempre houve resistência em
aceitar a madeira como alternativa para a materialização
de casas populares no Brasil e fundamentalmente na
região amazônica.
Para isso é preciso investir em tecnologias, novas
pesquisas, envolver as universidades da região para
pensar alternativas que sejam compatíveis com a
realidade. Por outro lado, é crucial que os estudos
possam considerar a redução dos impactos sobre o meio
52
José Alberto Tostes

ambiente, já que o rio é o lugar mais atingido pelo


volume de lançamento de esgoto e águas servidas, em
vários lugares do mundo isso foi equacionado. Portanto,
as palafitas surgiram bem lá atrás no período neolítico
como uma forma de sobrevivência, porém, ao longo de
séculos foi ganhando em cada lugar do Planeta, um modo
especial, no caso da Amazônia, tornou-se a identidade do
homem ribeirinho que se acostumou a morar, pescar e
traduzir a sua identidade através de gerações.
As palafitas são traços da cultura ribeirinha e da
cultura urbana, vão além da morfologia da cidade e da
região de fronteira entre as duas culturas, situam-se no
encontro com os igarapés. As palafitas estão no espaço
urbano conduzido pelo rio, avançando para o interior
através dos igarapés, quanto mais próximas ao corpo
d’água, mais tradicional torna-se a arquitetura das
palafitas; quanto mais distante da água e próxima das
áreas urbanizadas, mais as palafitas incorporam as
codificações da cidade (PEREIRA; BARROS; SILVA,
2009).

53
José Alberto Tostes

DESENHO NO AMBIENTE URBANO

Uma das ricas experiências da minha vida pessoal


e profissional foi ter vivido em Havana Cuba durante um
período de 1999 a 2003, período em tive a oportunidade
de realizar um estudo de doutorado. Nesta época creio
que vivenciei duas experiências: a primeira relacionada
a cultura de Cuba e a outra os intercambio realizados
com inúmeros pesquisadores cubanos. Conheci o
arquiteto, professor, doutor Raul Navarro.
Raul participou da minha banca de doutorado na
condição de oponente, nas inúmeras trocas idéias e
discussões sobre arquitetura e o urbano, falávamos das
questões intrínsecas que envolviam o ambiente urbano.
O professor Raul Navarro teceu comentários sobre sua
tese de doutorado: A arte de desenhar o ambiente
urbano. O tema me chamou a atenção pelo caráter e
peculiaridade de pensar os paradigmas do espaço
urbano através das questões ambientais. Muitas das
idéias apresentadas neste artigo são resultados de
conclusões da tese de doutorado de Raul.
De acordo com Raul Navarro a arte de desenhar o
ambiente antes perceber o espaço representacional,
observar as diversas proposições relativas ao
procedimento de como detectar os valores espaço-
formais de um determinado lugar prévio e de como

54
José Alberto Tostes

desenhar o ambiente ainda considerando todos os


valores e não somente os valores espaciais e formais.
Dentro desta idéia se estabelece indagações com
os usuários do lugar que constituem a base de trabalho
necessária para estabelecer novas funções e morfologias
sobre os espaços a desenhar. Isso pode se expressar em
muitos princípios do urbanismo, da investigação
etnográfica e da conservação das cidades e sítios que são
aplicáveis ao estudo do ambiente a desenhar. Com isso
define a necessidade de obter uma diversidade
ambiental nos conjuntos urbanos a serem construidos
“corrigir” os já existentes mediante o trabalho em
conjunto com equipes interdisciplinares.
Raul Navarro afirma que a expressa relação da
arquitetura, como atividade autônoma e autosuficiente é
um fator primordial e determinante para a conformação
do ambiente, em conjunto com outras manifestações
plásticas deve estar constituida mediante o
aparecimento de três categorias definitivas de diferentes
graus de interação: Integrabilidade, Aplicabilidade e
Individualidade. Definindo a maneira de intervir do
homem em sua relação com o meio através de quatro
possíveis formas: Transformação e Inserção com dois
aspectos: Fusão e Diferenciação; Conservação e
Restauração. Diferencia o espaço arquitetônico ou
urbano de outros espaços artísticos é onde se verifica o
pleno desenvolvimento de sua vida racional em suas

55
José Alberto Tostes

relações utilitárias e emocionais com o meio e outros


sujeitos.
Outro fator é a fundamentação e a necessidade
de um embasamento teórico para um modelo prático a
ser estabelecido, a escala arquitetônica e urbana, a
validação e a autenticidade do Desenho Ambiental como
modalidade artístico-espacial com respeito a outras
expressões plásticas-espaciais que fundamenta os
elementos históricos-culturais, étnicos, vernáculos,
fisioformais que estruturam um sistema de inter-
relações que definem tanto o caráter do funcionamento
como das regularidades do desenvolvimento da
arquitetura, em seu nível estético-cultural.
Raul Navarro concluiu que ao observar o conceito
de “ambiental em um meio artificial”, relacionou
problemas e objetivos que devem ser abordados para a
formação dos ambientalistas, assim como o objeto deste
profissional, criando a base para a elaboração de um
trabalho tendo em conta o equilíbrio entre os aspectos
artísticos, estéticos, técnicos e tecnológicos assim como
as particularidades profissionais de cada especialista.
Finalizou afirmando da importância do tema e da
necessidade de uma crítica especializada que permita
assinalar os erros, confrontar critérios divergentes e
evidenciar os êxitos de maneira que seja facultado aos
dirigentes políticos, técnicos, inversionistas, criadores e
usuários dos ambientes públicos, armar-se de critérios
sobre a importância (estética, política, cultural,
56
José Alberto Tostes

econômica, etc) que tenha na criação de um bom modelo


de desenho ambiental.
As idéias de Raul Navarro e a perspectiva de
pensar o ambiente urbano a partir da arte de desenhar é
algo raro hoje em dia nas escolas de arquitetura, o
trabalho nos permite idealizar mais claramente a
necessidade de compreender mais detalhamente as
diferentes inter-relações que contribuem para a melhor
formação do urbano, e como a atividade multidisciplinar
é imprescindivel para a evolução da paisagem e cenário
das cidades.

57
José Alberto Tostes

ARQUITETURA DO MEDO: TUDO O QUE OLHAMOS


NO ENTORNO NOS APAVORA

De acordo com estudos realizados pelas Nações


Unidas e OMS (Organização Mundial de Saúde) nas
últimas décadas o comportamento do ser humano em
todo o Planeta vem mudando substancialmente em
relação a forma de organização social e a maneira de
viver coletivamente. É cada vez mais comum os
investimentos em sistemas de segurança para garantir a
chamada “paz em família”. Somente a indústria da área
de segurança alcança índices inacreditáveis em relação
ao movimento de pessoas e equipamentos, são bilhões e
bilhões de dólares, equipamentos cada vez mais
sofisticados para proporcionar algum tipo de segurança.
O certo é que o contexto contemporâneo também
alcançou a área de arquitetura.
Hoje em dia é muito comum de acordo com
relatos do setor da indústria da construção civil, os
clientes desejarem casas ou apartamentos que estejam
cercados de uma parafernália eletrônica e de outros
dispositivos como câmeras, cercas elétricas, portas
automáticas, entre tantos outros. No caso da arquitetura
tem contribuído para que os muros sejam cada vez mais
altos, isolando a paisagem interior da casa da parte
externa, contribuindo para a perda de integração com a
paisagem na sua totalidade. A mudança de
comportamento vem acrescida de outros fatores de igual
58
José Alberto Tostes

importância: o crescimento das populações urbanas; o


aumento do desemprego; aumento do consumo de
drogas; aumento gradual dos elevados índices de
violência.
A sociedade contemporânea se refugiou na
arquitetura do medo, de acordo com a associação das
empresas imobiliárias nunca se construiu tantos
condomínios fechados, isolados e completamente
apartados da vida social externa, se formando
verdadeiras cidades com características Big Brothers,
com câmeras em tudo e qualquer lugar. De acordo com a
Associação das empresas imobiliárias, quando um
cliente procura um imóvel para comprar ou um
apartamento, um dos primeiros pontos que ele averigua
está relacionado a segurança interna e externa, assim
como o entorno urbano, algo vinculado a psicose dos
tempos atuais.
Portanto, a arquitetura do medo também
provocou nos últimos vinte anos a mudança na
concepção do espaço interno da casa. Em períodos
anteriores era muito comum o cliente solicitar ao
arquiteto a preferência pela cozinha na parte de trás da
casa, passados alguns anos, a preferência nos dias atuais
está para a localização da cozinha na parte lateral e ou
na frente da casa, pois este espaço ganhou uma atenção
bem maior que o espaço da sala de estar ou jantar. O que
se percebe é uma mudança de comportamento que

59
José Alberto Tostes

também foi motivada por questões de segurança em


relação ao meio externo.
A arquitetura do medo apresenta outra faceta
para ser avaliada com algum cuidado, com o aumento
dos dispositivos de isolamento, ocorre na mesma
proporção a perda dos valores de troca externa: o
isolamento da vizinhança; a perda de identidade entre as
pessoas, e por fim, a baixa interação social entre os
diferentes grupos. Tão grave quanto o sentimento pela
insegurança foi aos poucos perder as relações que
sempre existiu quando se vive em comunidade. Diante
de tal cenário, é importante refletir o que vem
produzindo a arquitetura do medo em toda a sociedade?
É evidente que assim como espaço interno por
trás dos muros tem gerado insegurança, o espaço
externo público também vem mudando a sua
configuração social, pode-se dizer que neste caso, é o
espaço público do medo. As praças, lugares públicos
abertos, paradas de ônibus e feiras também vem se
tornando escasso. Outros estudos mostram que a
preocupação com a segurança reflete na mudança de
atitude nas escolhas dos locais frequentados, troca-se a
feira pelo supermercado, as lojas de ruas pelo Shopping
Center, e assim por diante.
Estaria a sociedade contemporânea assumindo
um risco ainda maior de se refugiar em um tipo de
sociedade cada vez mais elitista, pois para investir na
arquitetura do medo é fundamental ter recursos para
60
José Alberto Tostes

gastar em dispositivos cada vez mais caros. As cidades


sempre foram marcadas pela relação das trocas
simbólicas entre os grupos e pessoas. Para corroborar
com este quadro, deve-se salientar que a internet vem
contribuindo para que a sociedade venha se tornando
um paralelo entre a vida real e o mundo virtual. É
comum, por todos os lugares, você vê as pessoas
almoçando, jantando e ao mesmo tempo estarem
digitando, é como se fosse uma necessidade plena das
funções orgânicas do corpo, algo preocupante quando se
trata de avaliar o que estamos nos tornando.
Então, a arquitetura do medo vem produzindo
outras mudanças de acordo com especialistas, seria a
redução gradual das dimensões da casa, fato que estaria
relacionado a forma mais adequada do controle espacial
de toda a área. Verdadeiramente, vive-se um momento
paradoxal, de pensar sobre o que é viver em comunidade
no novo milênio. Contraditoriamente o antídoto contra a
violência é a própria organização dos grupos sociais,
melhorando os níveis de qualidade de vida, reduzindo
índices de pobreza, dando condições de acesso à
educação e saúde. Em nada irá resolver a arquitetura do
medo, se tudo o que olhamos no entorno nos apavora.

61
José Alberto Tostes

A HISTÓRIA NO ENREDO DAS HISTÓRIAS DAS


CIDADES E DA ARQUITETURA

Certo dia um acadêmico indagou: “como seria


contar a História da cidade”? Respondi que existem
vários meios para se contar uma História, entre elas,
creio que destaco três: a História descritiva; a História
narrada e a História prognosticada. Metodologicamente
a História descritiva se prende a ordem cronológica dos
fatos e acontecimentos; a História narrada existe o fato,
porém é carregada de outros aspectos importantes como
a emoção e o sentimento; a História prognosticada está
baseada na construção dos fatos e acontecimentos a
partir de uma análise mais estrutural e sistêmica sobre o
futuro.
Muitos livros e textos são escritos sob a visão das
duas primeiras opções; já a terceira opção é preciso
muita compreensão de outras variáveis para ser
colocada em prática como: o conhecimento da cultura,
da Filosofia, da Ciência, do Lugar, do encadeamento dos
aspectos políticos, econômicos, ambientais e sociais,
portanto, a História prognosticada na área de
Arquitetura e Urbanismo é um grande exercício
dialético, não é uma tarefa fácil realizar algo assim.
Entretanto, no atual contexto contemporâneo é
cada vez mais presente a busca pela visão holística e
sistêmica, ponto que é corroborado pelo auxilio das

62
José Alberto Tostes

novas tecnologias que dão suporte para o


desenvolvimento de novos conhecimentos. É evidente
que falamos de História não estamos apenas nos
referindo as Ciências Históricas, mas também a um
modo de vida em sociedade. Todo individuo tem uma
História e um enredo da qual se vincula a sua
característica: a família, o lugar onde nasceu a cultura, os
símbolos.
Porém, é preciso analisar a Luz de outras
interpretações de autores clássicos como Ortega y Gasset
(2005), se a História é uma ciência (cujo objeto é o
homem no tempo), tem que submeter-se, como toda a
ciência, ao método científico. Ainda que este não possa
ser integralmente aplicado a todos os campos
das ciências experimentais, pode-se fazê-lo a um nível
equiparável ao das chamadas Ciências Sociais. É
importante conhecer: Método
histórico, Metodologia e Metodologia nas ciências
sociais. Um terceiro conceito confluente no momento de
definir-se a História como fonte de conhecimento é a
chamada Teoria da História, também denominada como
"historiologia" (termo cunhado por José Ortega y Gasset
(2005), cujo papel é o de estudar a estrutura, leis e
condições da realidade histórica; enquanto que o da
"historiografia" é o de relato em si mesmo da História,
da arte de escrevê-la.
Para os autores é impossível acabar com
a polissemia e com a superposição destas três acepções,
63
José Alberto Tostes

mas de maneira simplificada, pode-se admitir: a História


é o estudo dos homens no tempo e seus feitos; a
historiografia é a ciência da História e a historiologia a
sua epistemologia. A Filosofia da História é o ramo
da filosofia que concerne ao significado da História
humana, se é que o tem. Especula acerca de um possível
fim teleológico de seu desenvolvimento, ou seja,
pergunta-se se há um esboço, um propósito, princípio
diretor ou finalidade no processo da História humana.
Para Ortega y Gasset (2005), não deve confundir-
se com os três conceitos anteriores, dos quais se separa
claramente. Se o seu objeto é a verdade ou o dever ser, se
a História é cíclica ou linear, ou se nela existe a ideia
de progresso, são matérias das quais trata esta
disciplina, alheias à História e à historiografia
propriamente ditas. Um enfoque intelectual, que
tampouco contribui muito para entender a ciência
histórica como tal, é a subordinação do ponto de vista
filosófico à historicidade, considerando toda a realidade
como produto de um devir histórico: esse seria o lugar
do historicismo, corrente filosófica que pode se estender
a outras ciências, como a Geografia.
Em todo este contexto de análise sobre o
histórico, como ficaria a abordagem sobre a História das
cidades? Objeto de análise e reflexão deste artigo.
Segundo Munford (1969) a História das cidades, em
geral, remete a períodos da Antiguidade, sendo que as
primeiras cidades teriam surgido entre quinze a cinco
64
José Alberto Tostes

mil anos, dependendo das diversas interpretações sobre


o que delimita exatamente um antigo assentamento
permanente e uma cidade. As primeiras
verdadeiras cidades são por vezes consideradas grandes
assentamentos permanentes nos quais os
seus habitantes não são mais simplesmente fazendeiros
da área que cerca o assentamento, mas passaram a
trabalhar em ocupações mais especializadas na cidade,
onde o comércio, o estoque da produção agrícola e o
poder foram centralizados. Sociedades que vivem em
cidades são frequentemente chamadas de civilizações.
O ramo da História direcionada ao estudo da
natureza histórica das cidades e do processo
de urbanização é a História urbana. Esta História urbana
foi avançando através dos séculos, envolvendo outras
variáveis importantes para a formação de novas cidades,
agora, dentro de um aparato ampliado por novas teorias,
postulados que passaram a incluir um conjunto de
princípios e ideias a partir da forma de organização e
função social.
Tão importante como à História da cidade é a
História da arquitetura, até então, arquitetura era
sempre vinculada ao contexto das artes, o explica a
reflexão de Leonardo Benévolo sobre o assunto. Segundo
Benévolo (2001), a História da arquitetura é uma
subdivisão da História da Arte responsável pelo estudo
da evolução histórica da arquitetura, seus princípios,
ideias e realizações. Esta disciplina, assim como
65
José Alberto Tostes

qualquer outra forma de conhecimento histórico, está


sujeita às limitações e potencialidades da História
enquanto ciência: existem diversas perspectivas em
relação ao estudo da arquitetura, a maior parte das quais
ocidentais.
Para Argan (1992) na maioria dos casos (mas
nem sempre), os períodos estudados pela História da
Arquitetura correm paralelos aos da História da Arte,
embora existam momentos em que as estéticas se
sobreponham ou se confundam. Não raro, uma estética
que é considerada vanguarda nas artes plásticas ainda
não ter encontrado sua representação na arquitetura, e
vice-versa. Tanto a História das cidades, quanto a
História da arquitetura passaram a ter profundas
transformações a partir da Revolução Industrial que
transformou e modificou sensivelmente a forma de ver a
cidade e o espaço construído.
O efeito maior sobre as preocupações com a
qualidade de vida nas cidades ocorreu com a divulgação
em 1933 da Carta de Atenas. É praticamente impossível
nos dias atuais separar a História das cidades da História
da arquitetura. Quanto ao que foi colocado no começo
deste artigo sobre a História prognosticada, é cada vez
mais comum textos escritos abordarem uma visão
mais holística visando compreender o que será o
contexto no futuro. Portanto, a História não é
simplesmente a narração de um fato ou acontecimentos
sobre o olhar contemporâneo, é algo importante para
66
José Alberto Tostes

compreendermos as multiplicidades dos fenômenos


decorrentes do processo de interação social. Quanto a
história narrada e descritiva são importantes para
garantirem o trajeto sobre a ordem cronológica dos
acontecimentos.

67
José Alberto Tostes

A RELAÇÃO DO ARQUITETO E URBANISTA COM A


CIDADE, NÃO SE LIMITA AO PROJETO

Um dos principais temas discutidos na I


Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo
realizada em abril de 2014 na cidade de Fortaleza foi que
a participação do arquiteto e urbanista com a cidade não
se limita ao projeto, esta afirmação foi dita por um bom
número de arquitetos e urbanistas, entidades da área de
arquitetura e urbanismo, Presidentes de conselhos e
Conselheiros federais do CAU. O espaço político junto a
sociedade precisa ser mais bem aproveitado pelos
profissionais desta área.
A ausência política do arquiteto e urbanista tem
proporcionado a formação de um quadro onde os
políticos sem nenhum tipo de informação e
conhecimento propõem ações e alternativas
completamente alheias a realidade das cidades
brasileiras, contribuindo para elevar os níveis de
segregação social e espacial, porém, o que é preciso para
que os profissionais da área de arquitetura participem
mais deste processo. Um dos passos importantes para
alcançar este objetivo, tem sido o trabalho do Conselho
de Arquitetura e Urbanismo em todo o Brasil, após a
criação do CAU, tem sido inegável o amplo crescimento e
maior conhecimento sobre a profissão, fato que tem
aberto inúmeras oportunidades para gerar novos postos
de trabalhos e maior e melhor conhecimento da
68
José Alberto Tostes

população em geral sobre o que faz o arquiteto e


urbanista.
E a participação política efetiva? Para isso é
necessário perceber que a participação eficaz não se
reduz a elaborar bons projetos de arquitetura e
urbanismo, é fundamental compreender a lógica do que
está proposto no país, planos, programas e projetos são
condutores para alinhar a perspectiva de
desenvolvimento. Os programas elaborados nos últimos
pelo governo em parceria com os estados e municípios
tem condicionado a participação dos arquitetos e
urbanistas a um contexto secundário, limitando o
processo criativo e inventivo. Os programas Minha Casa
Minha Vida e o PAC retratam bem isso são concepções
completamente apartadas de uma visão de cidade
sistêmica e holística.
Está claro que a partir do teor discutido na I
Conferência Nacional de Fortaleza, que os caminhos
estão abertos para começar um processo gradual de
participação mais efetiva. As universidades terão um
papel importante com o eixo condutor na formação de
novos arquitetos e urbanistas que tenham a
possibilidade de compreender melhor as discussões de
temas políticos e sociais relacionados a forma de
governança em todo o território nacional.
Não é mais possível que as cidades brasileiras de
norte a sul do Brasil venham sendo submetida a uma
formatação insuportável. As soluções para amenizarem
69
José Alberto Tostes

os problemas crônicos custam bilhões de reais, quando


poderiam perfeitamente ser evitados sendo trabalhadas
soluções compatíveis com a realidade regional e do
lugar. Os efeitos esperados para os próximos quinze a
vinte anos acenam para uma situação melhor da
participação dos profissionais da área de arquitetura e
urbanismo. É importante esclarecer que o problema não
é somente a geração de emprego e renda para este setor,
mas primar pela qualidade integrada entre arquitetura e
urbanismo, não isolando o edifício da cidade como tem
ocorrido em décadas.
Por outro lado, é preciso também entender que
participar politicamente não significa apenas se situar
com questões puramente pontuais, mas sim estruturais
que envolvem temas da mais alta relevância para o
desenvolvimento do país. O papel do CAU em todo o
Brasil será fundamental para assegurar a construção de
políticas nacionais consistentes e duradouras. A
bandeira sobre a necessidade de ter no mínimo 01
arquiteto por município só terá sentido, se todos os
segmentos da sociedade compreenderem amplamente o
trabalho do arquiteto e urbanista.
O próprio arquiteto e urbanista irá participar
mais efetivamente de um cenário que não se limita ao
projeto, este projeto será a consequência da boa
elaboração de políticas que contenham planos e
programas que visem de fato dar ao Brasil a formação de

70
José Alberto Tostes

um outro cenário bem melhor e com mais qualidade de


vida.
A participação política efetiva também exige
maior compromisso dos profissionais no entendimento
da legislação, de temas cruciais para fazer valer a
integração entre as esferas de governo. O futuro dirá o
quanto precisamos caminhar em direção ao
aprofundamento sobre as causas que hoje
comprometem profundamente a qualidade de vida
urbana. Quanto mais cidades e espaços segregados
aumentarem por todo o Brasil, maior serão os índices de
violência, criminalização e perda dos valores simbólicos
das cidades.
No caso da Amazônia, existem aspectos graves,
pois gradualmente o modo de viver peculiar dos
ribeirinhos vem sendo alterado por esta forma de
pensar, que casa é somente "moradia" e não um jeito
cultural de viver. A questão da participação política não
pode se restringir as questões individuais e pessoais, é
preciso debater, divergir e discordar, é parte do processo
natural de amadurecimento em uma determinada área,
portanto, é imprescindível que os arquitetos e urbanistas
comecem a participar mais intensamente da discussão
dos temas locais, regionais e nacionais.

71
José Alberto Tostes

ÉTICA COMO FUNDAMENTO NA ATIVIDADE


PROFISSIONAL

O objeto deste título visa acima de tudo


possibilitar um amplo debate sobre a questão ética: as
questões estruturais relacionadas a forma de pensar a
construção de políticas públicas, os megaprojetos, a
formatação de planos, programas e projetos, e por fim,
atuação profissional na área de arquitetura e urbanismo.
É importante discutir sobre que parâmetros a questão
ética permeia as ações individuais e coletivas nas
questões estratégicas da cidade, são inúmeros os
problemas graves que afetam a qualidade de vida
urbana, existem enormes dificuldades para fazer valer o
cumprimento das leis existentes e que acarretam
múltiplos transtornos para toda a sociedade.
Na prática, discutir a ética enquanto principio
moral, é algo distante dos segmentos públicos, privados
e institucionais. Este problema é generalizado, atinge de
diversas formas: o descumprimento de regras básicas de
mobilidade; acessibilidade; obstrução do passeio
público; construção de fossas nas calçadas; alteração de
projetos; construções clandestinas; invasões;
irregularidades no sistema de coletiva de lixo são alguns
temas mais frequentes que afetam à cidade na
totalidade.

72
José Alberto Tostes

Existem questões macros que afetam a qualidade


de vida não somente urbana, mas institucional como:
desvio de verbas públicas; mau uso dos recursos
públicos; obras com má qualidade de execução; capital
humano sem formação adequada; formação de grupos
com interesses coloquiais; formação de cartéis;
sucateamento das instituições públicas e a completa falta
de recursos tecnológicos. Tais problemas estão
diretamente vinculados aos preceitos éticos, isso tem um
preço impagável por toda a sociedade, a desestruturação
da estrutura urbana da cidade.
Este cenário vem provocando uma “avalanche” de
outros entraves: a burocratização pragmática das esferas
públicas, que somente se manifesta de acordo com os
interesses momentâneos e ocasionais, tal fato, evidencia
que nos últimos 30 anos, diversos gestores municipais
mal conseguiram administrar os problemas puramente
cotidianos. Os projetos arrojados, audaciosos, geradores
de emprego e renda, ficaram em segundo plano.
A ética tem sido deixada de lado, existe quem
afirme inclusive um velho chavão popular: “rouba, mas
faz”, como se roubar realizando alguma coisa, fosse algo
digno. Estamos vivendo uma crise de valores éticos e
morais, não importa quais os meios que são utilizados
para se chegar a algum resultado, com tanto que se
chegue aos resultados pretendidos, mesmo que seja de
forma maliciosa ou tendenciosa.

73
José Alberto Tostes

Muitos teóricos da Sociologia, Filosofia, Ciência


Política, e até mesmo de setores mais tecnicistas vem
destacando as diferentes interações sociais motivadas
pelo advento da globalização e pelos mecanismos
tecnológicos, boa parte destaca a velocidade com que as
informações são tratadas e manipuladas a favor, ou
contra alguém, vive-se um tempo de sensacionalismo
extremo, o que importa é o resultado. A cidade é o lugar
para se viver em comum, em comunidade, mas
contraditoriamente o que se percebe, são múltiplas
contradições, organizações sociais servientes, conselhos
municipais e estaduais comprometidos e representações
políticas viciadas.
No começo dos anos 70 do século XX, outros
teóricos conhecidos como Castells, Harvey e Levrebve
defendiam o direito à cidade como algo fundamental e
pertinente em função dos valores defendidos pelo capital
especulativo e pelas grandes multinacionais. E
importante pensar que isso tem contaminado a
sociedade, nossas representações também estão
comprometidas, como um gestor eleito com recursos do
capital privado de uma grande empresa, será capaz de
tomar decisões no futuro que irá prejudicar esta mesma
empresa. O modelo de financiamento de campanhas
políticas só acelera para jogar a ética no lixo.
Este sentimento que afeta a cidade na sua
totalidade precisa ser debatido, porque é tão complicado
cumprir a lei? Recolher o lixo adequadamente? Respeitar
74
José Alberto Tostes

o trânsito? Não dirigir embriagado? São diversos fatores


que afetam a vida na cidade. Como pedir para a
população não denunciar o criminoso, se não há nenhum
tipo de proteção preventiva. A população foi acostumada
e se acostumou a achar que o dever é só cobrar e pedir,
setores organizados da sociedade não conseguem
apresentar propostas para pensar a cidade. Isso é uma
crise ética? Na realidade, são valores que precisam ser
resgatados em diferentes lugares: nas escolas, no
trabalho, nas universidades, nos órgãos públicos e por
toda a sociedade.
A ética na cidade precisa ser idealizada a partir da
família, da rua, do bairro, da cidade, do município, do
estado, da ideia de nação. Pensar em algo deste tipo
redimensiona a ideia de viver em comunidade. Somos
transgressores de nosso próprio espaço, estamos
vivendo sob a síndrome da desconfiança e do medo.
Vive-se um território de grupos, não importa a natureza
destes grupos, os objetivos propostos serão alcançados,
independente de quais meios utilizados. É preciso
discutir a urgentemente a ética na cidade.

75
José Alberto Tostes

A QUALIFICAÇÃO NO PROCESSO DE MUDANÇA


SOCIAL?

Este artigo tem como reflexão algo importante e


que vem sendo discutido amplamente nas duas últimas
décadas. Tem sido quase recorrente a frase: “sem a
qualificação necessária não há como viabilizar o
desenvolvimento estratégico”, de fato, estamos vivendo
uma revolução tecnológica impressionante. Há cerca de
6 anos a IBM produziu um vídeo que conjuga uma série
de reflexões que começa dizendo: - “Você sabia?” São
diversas perguntas e respostas mostradas neste vídeo
que evidenciam a imensa revolução tecnológica que o
Planeta vem vivenciando ano após ano.
A pergunta final deste vídeo mostra qual o limite
para tudo isso? Também destaca que ainda há muito
para ser descoberto, muitos limites a serem superados
por todo este processo revolucional, o que é mais
impressionante, é que este vídeo tem apenas 06 anos,
quando, se quer, havia sido criado o Facebook, rede
social fantástica que vem transformando ideias,
concepções e atitudes pelo mundo afora. Então? Qual a
influência da qualificação no processo de mudança social
e urbana? Tudo está mais exigente, mais acelerado para
entender com clareza a necessidade das empresas, dos
setores governamentais e das organizações não
governamentais que necessitam cada vez mais de
profissionais antenados com este novo tempo.
76
José Alberto Tostes

Na contramão de todo este processo está à


formação dos profissionais nas mais diversas áreas. É
fato, no Brasil das duas últimas décadas, o acesso ao
ensino de terceiro grau foi facilitado em função da
ampliação de vagas nas universidades públicas e
privadas, porém, é consenso que a qualidade ficou em
um plano secundário, diferente de épocas passadas,
onde o profissional recebia uma boa formação técnica e
quase nada de aprendizado político, nos dias de hoje,
existem múltiplas ferramentas a disposição de todos,
entretanto, o que gera facilidade acaba trazendo
dificuldade.
Conforme dados de instituições que trabalham
diretamente com o cadastro de profissionais de todas as
áreas, existem inúmeras reclamações quanto aos
candidatos de nível médio ou superior para suprir vagas
existentes no mercado de trabalho, entre as principais
reclamações mais comuns, estão deficiências de
formação do aspirante a uma vaga: redação fraca, níveis
de interpretação baixa e pouca capacidade de vislumbrar
a concepção sistêmica para a função que irá ocupar. Este
problema não se resume somente aos recém-formados,
também os profissionais com mais de 04 ou mais anos
apresentam vícios que comprometem o desempenho
profissional.
Na prática, os níveis do ensino médio e da própria
universidade em geral não estão dando conta do
processo de revolução que vem ocorrendo, as diferentes
77
José Alberto Tostes

interfaces que hoje estão à disposição ainda são pouco


utilizadas nas diferentes esferas de governo. A academia
que tem a responsabilidade de preparar a mão de obra
para o mercado de trabalho, independente da área de
atuação do sujeito, não tem obtido êxito, no contexto
atual exige um conjunto de qualidades: conhecimento de
línguas estrangeiras, técnicas de informática, boas
condições de relacionamento coletivo, participação ativa,
dinâmica e boa capacidade de adaptação as mais
diferentes adversidades.
Outro questionamento importante está
relacionado à postura, não basta ter bons conhecimentos
técnicos, é indispensável conhecer as próprias limitações
e ter a oportunidade de realizar trabalhos de
aperfeiçoamento. As oportunidades de qualificação não
se limitam somente nas questões técnicas, mas no
pensamento sistêmico, torna-se necessário investir em
outros níveis de aprendizado, realizar cursos na área de
relações humanas, processos interativos e questões de
natureza psicológicas.
Na pressa de encontrar logo um posto de
trabalho, poucos dão conta de que o contexto atual
tornou-se exigente e dinâmico. O setor público é o que
mais padece, os motivos são óbvios os gestores não
investem nos setores de planejamento da área meio, tal
condição, implica na desmotivação e na falta de estimulo,
outro ponto importante são os reduzidos salários, o
trabalhador acaba acreditando não ser possível investir
78
José Alberto Tostes

na sua própria qualificação, se não tiver melhores


condições de remuneração.
A pergunta deste artigo permite pensar de forma
responsável, não se realiza na atualidade trabalhos com
bom nível de qualidade, se a equipe formada não possuir
habilidades e competências necessárias para produzir
resultados expressivos. Por mais incrível que possa
parecer, estamos diante de um cenário paradigmático:
vive-se a sociedade da revolução informacional, porém,
do outro lado está à letargia em relação ao uso deste
aparato a favor do desenvolvimento individual e
coletivo.
É urgente pensar estratégias de qualificação que
possibilitem aos milhares de profissionais a visão
sistêmica dos problemas. A qualificação é importante,
por mais simples que seja, agrega novos conhecimentos,
informações e dados que auxiliam na prática cotidiana e
na elaboração de outras estratégias. Deve-se ressaltar
que a qualificação também melhora os níveis de
representação política e social, assim como a efetividade
para alcançar o êxito quanto à questão da governança
local.

79
José Alberto Tostes

AS CARTAS NÃO MENTEM

Os aspectos que movem a discussão em uma


sociedade estão impregnados por ideias e reflexões que
alcançam os mais diversos temas: locais, regionais,
nacionais e globais. No passado, a Carta de Atenas
alcançou grande repercussão por fazer valer princípios
que naquela época eram considerados fundamentais
para o desenvolvimento das cidades de acordo com
os modernistas. O urbanismo com quatro funções
principais: primeiramente, assegurar aos homens
moradias saudáveis; em segundo lugar, organizar os
locais de trabalho; em terceiro lugar, prever as
instalações necessárias à boa utilização das horas livres;
em quarto lugar, estabelecer o contato entre as diversas
organizações mediante uma rede circulatória.
Durante muito tempo a Carta de Atenas serviu
como ponto de reflexão para se pensar conceitualmente
a questão da cidade. De 1933 para cá, muita coisa
mudou, novas ideias permearam a discussão das cidades,
teorias, e postulados entre múltiplas reflexões, há uma
infinidade de documentos produzidos em eventos que
atestam a busca permanente do ser humano por dias
melhores para viver em comunidade, não importa qual é
o instrumento que irá ser utilizado para proporcionar a
reflexão, se é uma Carta, um Manifesto, ou outra e
qualquer forma de Ação política e social.

80
José Alberto Tostes

Nestes tempos de tecnologia e formação de redes


sociais vivemos as múltiplas frações sobre a forma de
pensar, fato que tem ocasionado diversas distorções
quanto ao propósito sobre o lado positivo da rede global
provocada pela internet, em frações de segundos, algo
pode ser construído ou destruído. Por outro lado, a
internet tem possibilitado que o fluxo de informações se
propague de forma avassaladora sobre este mundo
digital, que ainda terá alcances inimagináveis nas
próximas décadas.
O exercício da Filosofia é algo benéfico e eficaz
para aguçar a nossa capacidade de exercer o lado
criativo e inventivo de uma sociedade que vive neste
momento em "alta velocidade" tudo é "novo” e "velho"
ao mesmo tempo. Exercitar o pensamento é algo ainda
pouco difundido nas instituições, é como se tudo fosse
determinado apenas pela obrigatoriedade da forma
sistemática de que alguém avalia e é avaliado.
O que significa então produzir coletivamente
cartas reflexivas neste novo milênio? Momento em que a
sociedade se volta exclusivamente para um consumo
cada vez mais acelerado com o esgotamento das
reservas naturais do Planeta, sem pensar as
consequências de forma mais profunda. Escrever uma
carta atende a uma necessidade de fazer valer um
registro sobre as possíveis implicações em um cenário
tão multifacetado, a carta é impregnada pelo contexto do
momento e do lugar onde está sendo realizada uma
81
José Alberto Tostes

reunião, um congresso ou outro qualquer tipo de


agregação coletiva.
As cartas tem certo poder "mágico", de expressar
coletivamente um sentimento que pode estar contido de
diversas maneiras, muitos questionam: qual o poder de
uma carta? A carta é uma forma de comunicação para
expressar os desdobramentos da relação entre causa e
efeito, não são apenas princípios físicos, mas, trata-se de
perceber a transformação de fenômenos que decorrem
na própria sociedade. Uma carta não muda atitude de
imediato, não altera posições ou ideias que estão
impregnadas de um excessivo racionalismo, uma carta
contribui para permitir ao outro, refletir, meditar,
discutir e propor outros cenários distintos daqueles em
que a ordem está posta, assim podemos dizer que
ocorreu com a Carta de Atenas, ali residia tudo isso.
As cartas auxiliam a interpretar um trajeto
histórico, é como legitimar um desejo, uma inquietação,
reunindo as forças necessárias para agregar a
diversidade de um lugar e de um território. As cartas
nascem de um amplo desejo de buscar um Estado
melhor, de políticas públicas que sejam construídas de
maneira que se aplique os recursos com maiores
responsabilidades, onde a sociedade de forma coletiva
seja mais protagonista de seus interesses. As cidades são
construídas por seus usuários, sejam eles onde
estiverem, de um Gari ao Presidente da República. É
certo e evidente, as cartas não mentem, são ideias
82
José Alberto Tostes

autênticas, tendo um mínimo de organização se alcança


algo eficaz.
As cartas expressam o momento único,
representa a diversidade, seja no norte ou no sul deste
território. Para entender o que é Arquitetura e
Urbanismo neste país, é preciso conhecer aquilo que nos
une e nos separa, compreender a importância sobre o
conceito de cada lugar. Do ponto de vista do tempo, um
documento é algo que transcende a sua época, mas
também é fundamental construir o pensamento
filosófico e sistêmico sobre que cidades queremos para
as futuras gerações, e de que forma podemos construir
arquiteturas mais próximas das peculiaridades de um
território tão diverso.

83
José Alberto Tostes

O ARGUMENTO DO PROJETO NA ARQUITETURA:


BRASÍLIA VERSUS SERRA DO NAVIO

As cidades de Serra do Navio e Brasília foram


idealizadas e construídas com algumas peculiaridades,
comparar as duas cidades, vai além da diferença de
escala, outras estão guardadas na própria concepção do
espaço moderno, onde uma é tida como cidade moderna
formalista e a outra como cidade moderna naturalista ou
cidade jardim moderna. O motivo de tal empenho se
configura na necessidade de entender como o
modernismo se instalou no Brasil em duas realidades
distintas no que se refere ao perfil da população, ao
clima e aos motivos que impulsionaram esses projetos.
Brasília é a legitimação da arquitetura brasileira
tem em Lúcio Costa, o responsável pelo que ele
denominou de “Plano Piloto”, as obras arquitetônicas
ficaram a cargo de Oscar Niemeyer. O ambiente onde
está situado Brasília é o cerrado brasileiro com clima
ameno e poucas oscilações de chuva e com um inverno
pouco rigoroso. Serra do Navio foi à primeira
experiência de uma cidade modernista na Amazônia
fruto da primeira experiência de mineração industrial na
Amazônia.
As cidades também tiveram diferenças. Brasília
atenderia a um interesse público (ser a nova capital
brasileira) e Serra do Navio a um interesse privado

84
José Alberto Tostes

(extensão da mineradora ICOMI), isso imprime


diferenças nos projetos. A linha do modernismo em que
cada cidade foi concebida é distinta. Brasília, pensada
sob uma ótica do modernismo formalista e Serra do
Navio, por sua vez, tem o modernismo naturalista como
fonte de inspiração. Um dos argumentos importantes
concebidos em ambos os projetos está no traçado das
cidades, o caráter peculiar, com formatos singulares e
diferenciados o que traduz a concepção de cada
arquiteto. Independente da escala que cada uma possui,
ambas tem como princípio a logicidade e o rigor do
traçado urbano e a conjunção das formas arquitetônicas
monumentais ou não.
No caso de Brasília, a monumentalidade de seus
edifícios dialoga com seu traçado em forma de avião em
que no seu eixo encontram-se boa parte de seus espaços
públicos e nas azas as áreas residenciais e comerciais.
Em Serra do Navio, ao contrario de Brasília não se
encontram edifícios monumentais, no entanto o
arquiteto a concebe com “um traçado em forma de
colher” valorizando a configuração do terreno. Este
traçado é estruturado seguindo um núcleo linear e
distendido que reúne e ordena todas as edificações e
atividades de interesse coletivo, além de associar, com
áreas verdes urbanizadas, dois afastados setores
habitacionais.
A arquitetura das cidades se destaca pelo uso de
parâmetros modernos salvaguardados as suas distinções
85
José Alberto Tostes

referente adaptação climática. As diferenças nas


concepções arquitetônicas estão principalmente
relacionadas à escala e o tipo de material utilizado.
Brasília chama atenção para sua arquitetura
monumental, localizada principalmente no seu eixo
central, que ultrapassa em muito a escala humana, a
beleza e a plasticidade concebidas por Oscar Niemeyer
dão a Brasília importância mundial como laboratório da
arquitetura moderna, os materiais utilizados para gerar
esta plasticidade foi o concreto armado que na época
ainda era uma novidade em boa parte das cidades
brasileiras.
Para diversos estudiosos o que caracterizou
ambos os projetos foi à seleção dos materiais e sistemas
construtivos que derivou de uma racional e criteriosa
análise de variáveis empíricas e econômicas. Embora
reconhecendo as deficiências dos blocos de concreto e
do fibrocimento enquanto isolantes térmicos eram as
únicas alternativas viáveis. Mesmo o concreto armado
era um sistema fora do alcance. As estruturas foram
todas desenhadas explorando o potencial da madeira.
No plano piloto de Brasília as áreas de expansão
foram denominadas de cidades satélites, e foram locadas
distante do centro. Essas distâncias ajudaram de
sobremaneira a preservar a estrutura do centro não
permitindo sua descaracterização. Desde o princípio,
forma-se uma estrutura dicotômica entre o núcleo

86
José Alberto Tostes

central e uma constelação de núcleos periféricos em


todas as direções.
No projeto de Serra do Navio, há uma grande
área de expansão a ser incorporada no planejamento, de
acordo com pedido da ICOMI, as quadras adicionais
previstas dentro do traçado viário, no setor de bairro
residencial destinado aos funcionários de permanência
temporária, a expansão foi prevista dentro dos lotes,
omitindo a construção de edificações para sua posterior
ocupação. Embora tal área tenha sito planejada, vem
ocorrendo uma ocupação desordenada nas
proximidades da cidade, semelhante a um processo de
favelização.
Tanto em Brasília como em Serra do Navio,
observa-se o predomínio de amplas áreas verdes e uma
distância considerável entre as residências e entre os
elementos do espaço público. Essa decisão contribui
para o conforto térmico, aumenta a distância de
possíveis barreiras. No entanto em alguns casos, a baixa
densidade causa fragmentação espacial, como é o caso
de Brasília. A fragmentação de Brasília se justifica pelo
seu tecido urbano descontínuo na qual, a diversidade das
partes soma-se os vazios a separá-los. Em Serra do
Navio, também ocorre uma fragmentação. Porém
diferente de Brasília, esta é advinda do planejamento
hierárquico do projeto. Nesta direção Brasília é maior
referência internacional da arquitetura brasileira e Serra

87
José Alberto Tostes

do Navio a maior referência de um projeto modernista


adaptado à realidade amazônica.

88
José Alberto Tostes

A METODOLOGIA E OS ARGUMENTOS SOBRE A


RESOLUÇÃO 51

Quando a Resolução 51 foi aprovada e publicada


houve inicialmente uma grande euforia em relação as
perspectivas, pela primeira vez, os arquitetos e
Urbanista tinham a salvaguarda de um documento que
normalizava atribuições especificas, porém, passado
algum tempo após a aprovação, caímos em uma dura a
realidade, os procedimentos seguintes tem deixado mais
dúvidas do que certezas. Um dos pontos mais nebulosos
de todo este processo tem sido a judicialização da
discussão entre arquitetos e engenheiros.
Para muitos profissionais, a Resolução 51 tem a
essência do trabalho na formação do Arquiteto e
Urbanista construída ao longo de mais de cinco décadas,
é fato, grande parte dos novos arquitetos e Urbanista
brasileiros não possui na sua formação básica a maior
parte do teor contido na Resolução. Para estudiosos da
área jurídica, o teor da Resolução fere alguns princípios,
pois, apesar de uma significativa parcela da Resolução dá
direitos aos arquitetos e Urbanista, por outro, muito das
especificações abrangem outras áreas do conhecimento.
Um dos motivos que provocaram ações
acaloradas por parte do CONFEA e dos CREAS em todo o
Brasil, foi o fato de que os engenheiros
estariam proibidos de fazer projetos de Arquitetura. Em

89
José Alberto Tostes

um rápido recorrido pelas matrizes curriculares dos


cursos de Engenharia Civil em todo o Brasil, as horas
dedicadas aos projetos de Arquitetura, é quase a mesma
proporção existente para a área de sistemas estruturais
nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, ou seja, isso
equivale no máximo a três disciplinas, ou em um
intervalo entre 120 a 200 horas.
Diante desta discussão, então, cabe a pergunta:
Engenheiro Civil pode ou não fazer projetos de
Arquitetura, assim como arquitetos e Urbanista podem
fazer ou não os projetos de cálculos estruturais? A
questão é que para se produzir um projeto de
Arquitetura especializado, existe a necessidade de um
conjunto de outros atributos como a questão do conforto
ambiental, aspectos históricos, teóricos e conceituais da
Arquitetura e do Urbanismo, questões que envolvem a
relação da cidade com o edifício. Sendo assim, os
projetos de Arquitetura trabalhados nos cursos de
Engenharia estariam limitados a base para elaboração de
projetos estruturais e de instalações.
Então, quais as dificuldades para fazer valer o
teor da Resolução 51 em todo o Brasil? A questão passa
pelos níveis de compreensão sobre o que representa o
significado da própria Resolução. É fato, o que dá
legitimidade aos engenheiros de elaborarem projetos de
Arquitetura é o que está contido nas matrizes
curriculares dos Cursos de Engenharia, mas, quais os
limites para um Engenheiro Civil produzir um projeto de
90
José Alberto Tostes

Arquitetura? Quais seriam os limites para um Arquiteto


elaborar um projeto de cálculo estrutural? A sensação
puramente empírica, é que há muito mais engenheiros
elaborando projetos de Arquitetura, do que arquitetos
fazendo projetos de cálculos estruturais, ou outros
serviços de abrangência da área de Engenharia.
Sobre este assunto, lidando há vários anos na
profissão, somente após a criação do CAU, a sociedade
vem tomando real conhecimento do papel do Arquiteto e
Urbanista, graças as ações do CAU/BR e dos CAUS/UFs
através de diversos eventos vem sendo possível debater
o que significa o trabalho do Arquiteto e Urbanista.
Portanto, a questão chave: seria um ato arrogante
produzir uma Resolução especifica sobre as atribuições
especificas do trabalho do Arquiteto e Urbanista? Creio
que não, todos os profissionais aprendem na
universidade, para produzir um bom projeto de
Arquitetura e Urbanismo, é preciso um argumento, além
de todos os preceitos técnicos, existem aspectos teóricos
e conceituais aliados a um rigor proveniente da
legislação aplicada.
É preciso ampliar os argumentos sobre a
Resolução 51, é fundamental que as especificidades na
área de Arquitetura e Urbanismo fiquem mais nítidas, os
aspectos relacionados ao atributo da profissão começa
na valorização do trabalho do Arquiteto e Urbanista,
muito embora, seja importante um instrumento
normativo para disciplinar a legalidade das ações de
91
José Alberto Tostes

cada área profissional. Estamos diante de um impasse,


pois em várias cidades brasileiras, diversas prefeituras
alegam não aceitar a aplicabilidade da Resolução 51, por
conta de ações judiciais dos CREAS e do próprio CONFEA
sobre a suposta ilegalidade do teor contido nesta
Resolução.
Do ponto de vista prático, precisamos vislumbrar
novas estratégias para aferir o cumprimento dos atos
normativos aprovados no plenário federal do CAU/BR. É
preciso, porém, pensar nos argumentos e na
metodologia, não somente aqueles de natureza jurídica e
institucional, é preciso construir: quanto é o valor sobre
a formação do Arquiteto e Urbanista? Quantos estão
preparados para cumprir o teor da Resolução 51? É
preciso avançar didaticamente na construção do
processo metodológico do teor contido na Resolução? Os
critérios, análises e outros fatores peculiares como o
pareamento com outras profissões, tais aspectos, visam
dar aos Presidentes de CAUS UFs maior segurança para
defender os princípios estabelecidos na própria
Resolução.
Em vários estados tem ocorrido muitas
dificuldades para fazer valer o cumprimento da
Resolução, tal fato, se deve exatamente aos aspectos
citados no parágrafo anterior. É preciso avaliar que os
engenheiros não são "inimigos" dos arquitetos, são
colegas que fazem parte do processo de construção,
todavia, devemos ter a clareza de que é preciso pensar
92
José Alberto Tostes

com muita lucidez o desdobramento de atos normativos


que serão aplicados em todo o território nacional.
A judicialização não ajuda a ninguém, só confunde
a todos, descredibiliza atos importantes. Neste
momento, é preciso ações conjuntas e estruturais para
resgatar o que é mais importante para os arquitetos e
urbanistas no Brasil. Os conflitos intermináveis com os
colegas engenheiros e com os CREAS, ou buscar as
soluções compatíveis entre as partes? O Brasil é um país
que tem leis que pegam e outras que não pegam, criam
anomalias danosas para a sociedade, é imprescindível
pensar o que queremos para o futuro, estabelecer um
diálogo institucional com os demais, inclusive com a
sociedade brasileira, isso inclui os engenheiros.
Portanto, é preciso ampliar os argumentos contidos na
Resolução 51, inclusive os de natureza puramente
filosófica.

93
José Alberto Tostes

RIBEIRINHOS NA AMAZÔNIA: O PROJETO DE


ARQUITETURA ADEQUADO AO MODO DE VIDA

Discutimos no artigo sobre o modo de vida


ribeirinho na Amazônia que um dos maiores problemas
nas cidades amazônicas tem sido a descaracterização
gradual da cultural do lugar, ocasionado principalmente
pela forma avassaladora como o ribeirinho vem sendo
tratado desconsiderando todo o processo em relação aos
condicionantes culturais. Sobre este assunto é neste
segundo artigo vamos enfatizar uma experiência bem
peculiar que motivou e estimulou um grande arquiteto
brasileiro a produzir um projeto bem alternativo na
região amazônica.
Este projeto era a concepção da Vila de Serra do
Navio, o processo de inspiração do arquiteto Oswaldo
Bratke na década de 1950 foi desenvolvido pela maneira
como este profissional observou a ocupação dos
ribeirinhos às margens dos rios. Um dos pontos cruciais
percebidos pelo arquiteto era a maneira como o povo
local construía a sua casa em forma de palafita (uma casa
elevada do piso à beira do rio ou sobre o rio). Bratke
buscou compreender qual o significado daquela tipologia
vernácular e como aplicaria tais princípios na concepção
do projeto da Vila de Serra do Navio.
O arquiteto estudou boa parte da região central
do então Território Federal do Amapá, mas buscou

94
José Alberto Tostes

outras formas de ocupação similar em outras partes da


América do Sul. As observações de Bratke contribuíram
para avaliar a forma mais pertinente do partido a ser
adotado sobre o solo como também a característica das
casas que seriam construídas. A casa do ribeirinho era
construída basicamente de palha, madeira, o piso era
elevado do piso e havia uma generosidade na abertura
dos vãos de portas e janelas. De forma empírica, a casa
dos ribeirinhos tinha a proteção no piso com a elevação
das águas, diminuir os efeitos da forte umidade e manter
a ventilação natural e os níveis de insolação satisfatória
no interior e exterior da casa.
Na adaptação do arquiteto Bratke, buscou
substituir a madeira na sua essência nas estruturas da
casa, a madeira foi utilizada nas portas, janelas, forro e
telhado e nas paredes foi utilizada alvenaria, o piso foi
elevado do chão em forma de pequenos pilotis. A
proposta de Bratke estava completamente inspirada nos
moldes de uma residência ribeirinha, portanto, estava
preservado o conceito do projeto devidamente integrado
ao lugar, soma-se ao fato de que o arquiteto produziu
outros efeitos internos na casa para manter o conforto
natural, a janelas tipo veneziana e as paredes menores
na parte interna, o forro era praticamente colado na
estrutura do telhado.
Esta experiência evidencia bem, qual é a diferença
quando se respeita na concepção do projeto o modo de
viver ribeirinho na Amazônia, talvez este projeto seja um
95
José Alberto Tostes

dos poucos exemplares presentes na região que vincula


uma técnica apurada vinculada ao conceito cultural do
lugar. Por outro lado, os ribeirinhos na Amazônia vêm
sendo condenados a mudar os costumes e hábitos. O
discurso utilizado é de que é preciso sanear e melhorar
as condições de infraestrutura para oferecer melhores
condições de qualidade de vida.
No Brasil, há resultados sistemáticos para tudo,
indicadores do IBGE, PNUD, PNAD, e tantos outros,
porém, ainda falta um trabalho mais sistematizado para
afirmar, quanto é a população ribeirinha na Amazônia?
Tal estudo iria possibilitar a elaboração de políticas
públicas mais consistentes para esta população, também
criar grupos de trabalhos para pensar projetos mais
audaciosos e criativos, aliando com os mecanismos
tecnológicos a disposição na indústria da construção
civil, não dá aceitar que tudo seja “enlatado”
principalmente em relação à moradia.
A Universidade, as escolas de arquitetura e a
sociedade civil tem que exercer esse direito de pensar
estratégias mais condizentes com a realidade do lugar.
O modo de viver ribeirinho merece ser
preservado, mesclando a técnica popular com os novos
requisitos tecnológicos. Assim como o arquiteto Bratke
idealizou soluções criativas para a Vila de Serra do
Navio, é importante pensar este compromisso. O país
está “recheado” de projetos feitos formulas de bolo,
gaiolas, caixas sem nenhum tipo de identidade. A nossa
96
José Alberto Tostes

paisagem está carreada de construções sem nenhuma


criatividade, mostram apenas que não é só a falência do
modelo capitalista, mas a inoperância completa dos
mecanismos oficiais em propor algo inovador e
inteligente.
O projeto não é apenas um detalhe, é fundamental
para melhorar a qualidade de vida da população, de aliar
um conceito de morar que respeite a cultura do lugar,
como fez Bratke na concepção da Vila de Serra do Navio,
muito embora, as casas não fossem ocupadas por
ribeirinhos, os princípios foram baseados neste modo de
vida. Creio que não é só falta de criatividade, é a inércia
de toma conta de uma lógica besta, arrogante que em
nada contribui para respeitar as diversidades culturais
deste país.

97
José Alberto Tostes

A ESCALA NA ARQUITETURA

A escala é um conceito histórico varia de acordo


com o tempo, os conceitos culturais, sociais, econômicos,
técnicos etc. Em cada época e lugar é a relação que o
homem estabelece entre ele e o espaço na qual se move
ou observa é determinada na relação de escala, ao fazer-
se através do sujeito, estará em dependência da
sensibilidade do individuo que valoriza a dita relação,
uma das razões pelo qual damos importância vital a
participação dos usuários na formação dos ambientes
antes e durante sua realização com a finalidade de
contribuir para o desenvolvimento de sua educação
estética.
Se o elemento que serve de padrão varia, a
relação de escala variará com ele; em uma relação de
escala edifício-paisagem natural, o padrão pode ser uma
árvore, uma colina, etc.; em uma relação objeto artístico-
paisagem cultural, o padrão pode estar dado
pelos edifícios circundante, a amplitude de uma rua, as
dimensões de uma praça, outros objetos artísticos ou
técnicos (mobiliário urbano). Na relação homem-
entorno natural, estará sempre dado pela comparação
estabelecida ao entorno artificial que pode ser alterada
positiva ou negativamente por determinados usos ou
ações por parte dos objetos circundantes. Nesta última
relação devem ser considerados quatro casos (Tedeschi
somente considera os três primeiros):
98
José Alberto Tostes

A escala física. Os passos (marcas) e alturas


(contramarcas) em uma escada que devem estar dados
pelos traços de comodidade definidos pelo passo de um
individuo mediano; alturas das janelas; as dimensões das
portas dependendo do uso que receberam e do número
de pessoas que vão circular por elas em um determinado
momento.
Na escala psicológica as dimensões dos objetos e
pessoas estão avaliadas pelo aspecto subjetivo de quem
valora; a altura de uma pessoa pode parecer alta,
mediana ou baixa com relação a outra que possui maior
ou menor altura. O saguão de um aeroporto pode ser
adequado apesar de suas dimensões esse mesmo espaço
não será absoluto se constituísse em uma área de estar
de uma casa na qual os espaços devem ser íntimos e
pertinentes ao número de pessoas que conformam a
família para qual foi criada.
A escala artística tem uma relação muito estreita
e direta com a proporção. Uma obra ambiental deve ser
estudada, decidida sua colocação em dependência com
as dimensões e características do espaço onde será
indicada. Um mural deve ser pensado em função dos
espectadores em movimento, não pode ser tratado como
um quadro de grande formato, cada um tem seu próprio
caráter; uma peça tridimensional composta para um
pequeno ou mediano formato não basta com que se
aumentem suas dimensões proporcionalmente para
obter-se sa escala.
99
José Alberto Tostes

A escala coletiva vai unir-se apropriadamente


naqueles espaços considerados para alojar um elevado
número de pessoas como nos grandes teatros, estádios e
praças maiores aonde “irá variando” de acordo com o
número de pessoas até sua ocupação total, para o qual
estão previstos. Pode-se chegar à conclusão que o espaço
a ser analisado ou criado, deve ou não somente manter a
escala com respeito ao homem, mas deve manter uma
relação de escala consigo mesmo. Esta relação pode ser
intima ou monumental, tudo dependerá dos objetivos
traçados, em concordância com o programa e objetivos
delineados para a obra.

100
José Alberto Tostes

O MODO DE VIVER RIBEIRINHO NA AMAZÔNIA E OS


EFEITOS PARA CULTURA DO LUGAR

O ambiente amazônico tem sido discutido em


diversos níveis na literatura, no cinema, na poesia, nas
artes em geral, mas também na discussão da arquitetura
e do urbanismo. Lembro-me do tempo de estudante de
arquitetura na Universidade Federal do Pará no Curso de
Arquitetura e Urbanismo, por ocasião da discussão de
disciplinas de projetos e temáticas, sempre havia a
pergunta chave: há um modo de vida essencialmente
ribeirinho na Amazônia? Tal pergunta, estava balizada
pela necessidade de compreender as múltiplas
ocupações na região de palafitas sobre as águas.
Este tema tem permeado inúmeros trabalhos em
diversas universidades na região amazônica, muitos
deles, com um enfoque sobre a realidade social e
ambientes urbanos desestruturados. Um ponto
importante desta discussão é o fato de que os
mecanismos institucionais no Brasil não levam em conta
a realidade amazônica quando se trata de definir
políticas públicas para a área de habitação e a cidade. Os
agentes financiadores não admitem em hipótese alguma
financiar imóveis constituídos com estruturas de
madeira ou de composição mista entre madeira e
alvenaria, este ponto, contribui para que o ambiente
amazônico vinculado às áreas úmidas, rios, lagos e

101
José Alberto Tostes

igarapés venham sendo descaracterizados gradualmente


ao longo das últimas décadas.
As casas de palafitas vêm sendo substituídas
proporcionalmente pela oferta de habitação dentro dos
moldes dos programas do PAC e do Minha Casa e Minha
Vida, propostas com baixíssima qualidade e de caráter
duvidoso, onde o maior interesse é construir em grande
quantidade para atender as grandes empreiteiras do
Brasil. Projetos deste tipo unifica a paisagem das cidades
de uma maneira única, descaracteriza o ambiente
cultural e a composição da paisagem, transformando o
cenário em grandes caixas verticais com pessoas do lado
de dentro.
No caso da Amazônia, tem sido fortemente
violentado por conta da imposição do modelo que vem
sendo implantado, neste conceito, casa é somente
moradia, não existe um vinculo sistêmico com a cidade e
o seu entorno. Então, a pergunta que cabe refletir é a
seguinte: Existirá um modo de vida amazônico em um
futuro próximo? As chances são grandes de desaparecer
gradualmente este modo de vida. É fato, é necessário
pensar, como aliar os mecanismos de saneamento básico
de áreas e estruturas postas sobre as águas, canalizando
adequadamente as condições de abastecimento de água,
esgoto e resíduos sólidos.
Neste campo, é importante pensar o exercício
criativo e inventivo dos arquitetos e urbanistas no Brasil,
pois, neste momento, a produção nacional está
102
José Alberto Tostes

“amarrada” aos interesses de programas


governamentais, e o setor construtivo está
completamente atrelado ao capital especulativo. Há uma
limitação de ideias, fato que está impondo outro modo
de vida nas cidades, descaracterizando culturas e formas
simbólicas que se formaram nas raízes do povo
brasileiro.
Sobre o modo de vida ribeirinho na Amazônia se
conflita com a questão legal e jurídica, supostamente
está limitado pela legislação em geral, que vai da
Constituição Brasileira as leis complementares
municipais e as inúmeras restrições sobre construir,
reformar, adaptar sobre as águas, aspecto que determina
que este modo de vida esteja com dias contados, se
depender exclusivamente de investimentos formais para
sobreviver. O que na prática ocorre, é a pressão sobre o
Estado para colocar passarelas de acesso, água e energia,
sendo um confronto entre a cidade legal e ilegal.
Então? Como ficaria a questão do modo de vida
amazônico? Se tudo o que estamos percebendo é uma
imensa contradição. Existem na Amazônia diversos
municípios que são cortados por lagos, igarapés e rios,
como não levar em conta este cenário?
Lamentavelmente o que se percebe é a desconsideração
deste ambiente e suas características ao longo de
décadas. Precisamos pensar a produção de uma
arquitetura popular que possa agregar outros materiais
sem alterar os efeitos culturais da paisagem amazônica.
103
José Alberto Tostes

Este tema sobre o modo de vida ribeirinho na Amazônia


se soma a outra questão bastante discutida, há uma
questão urbana na Amazônia? Para os muito estudiosos,
não há uma questão, mas múltiplas questões. A cidade
urbana se contrasta com a floresta, e os danos são
irreparáveis, gerando múltiplos prejuízos para o
desenvolvimento do território.
Este debate nos permite avaliar o que somos, e o
que estamos fazendo com a nossa realidade cultural no
Brasil. O que será necessário para alterar, mudar, propor
e transformar as políticas públicas, os projetos, planos e
programas não sejam engessados, lineares e alheios ao
ambiente cultural. Estamos em uma época onde existem
todos os tipos de tecnologias para suportar os efeitos de
ter cada vez mais edifícios inteligentes e sistemas de
automação, por outro lado, a sociedade tem sido incapaz
de propor ações e estratégias que possam preservar e
aperfeiçoar hábitos e características do modo de viver
ribeirinho na Amazônia.

104
José Alberto Tostes

QUANTO VALE UMA CIDADE?

A pergunta do título deste artigo tem como


finalidade contribuir para um debate importante. O que
será das cidades em um futuro próximo? Percebo de
forma generalizada um conjunto de questões estruturais
que cada vez mais vem crescendo e ganhando força. Os
poderes constituídos cada vez mais não conseguem fazer
frente a uma demanda avassaladora de problemas
crônicos. De alguma forma, todos estão envolvidos em
uma ciranda que gira, dá inúmeras voltas, mas volta
sempre no mesmo ponto, a completa incapacidade de
mitigarmos problemas e ao mesmo tempo aplicar
soluções compatíveis de acordo com as demandas e as
dinâmicas provocadas pelos múltiplos fenômenos
sociais.
Quanto vale a cidade? É algo que ficou sem
resposta se considerar que cidade contemporânea é uma
cidade que está retornando na sua forma
comportamental aos tempos medievais, são muros
elevados, cercas enormes, grades em áreas públicas,
condomínios com cara de mini cidade, então quanto vale
uma cidade? As relações simbólicas e culturais no
âmbito da cidade estão perdendo os vestígios, estamos
cada vez mais engessados por um modelo de pensar a
cidade cada vez mais caótica. Como não refletir sobre a
concepção de políticas públicas que transformam a

105
José Alberto Tostes

cidade em um grande depósito de prédios alheios a


paisagem e seus componentes.
Quanto vale a cidade para os gestores? Para os
representantes políticos? Para os empresários? Quanto
vale a cidade para os arquitetos e urbanistas que
teoricamente formados para pensar e conceber a cidade,
mas que aos poucos foram se moldando as correntes de
um Estado cada vez mais opressor em relação a
respeitar os valores contidos nos espaços das cidades. As
cidades estão ficando insuportáveis, não são somente as
grandes cidades, as metrópoles, mas também as médias
e pequenas cidades que vão reproduzindo concepções de
acordo com os interesses do capital e do poder. Quanto
vale a cidade para os pensadores que discutem a cidade?
Os personagens que deveriam também analisar de forma
critica e construtiva o desenvolvimento das cidades.
A cidade parece cada vez menos poética, a
paisagem que vem sendo reproduzida em todos os
cantos é muito parecida, são os rótulos da indústria, são
os moldes de projetos pré-definidos como minha casa
minha vida, do PAC ou outro qualquer nome sempre
escolhido como logomarca de um partido ou de um
governo. Quanto vale a cidade para os seus próprios
usuários? Quanto vale a cidade para todos nós? O
aumento sempre crescente da população urbana tem
apresentado como diz o sociólogo norte americano Mike
Davis, a mudança radical da paisagem no mundo, aos
poucos as cidades vão ficando mais conhecidas pelos
106
José Alberto Tostes

problemas relacionados aos danos pela ocupação


informal do meio ambiente do que pela beleza dos
arranhas céus que no passado outrora causavam tanta
admiração.
Quanto vale a cidade não é somente uma reflexão
acadêmica, mas algo que começa a tocar a todos de
forma mais profunda, de que alguma coisa precisa
mudar, talvez, as atitudes individuais, mas
principalmente a forma de organização coletiva.
Portanto, a cidade medievalizada que estamos vendo em
pleno século XXI é consequência da falência das relações
estabelecidas, quanto mais aumenta os níveis de
deterioração destas relações maior é a perda dos valores
contidos nas cidades. A reflexão, trás a tona os temas
cruciais para que possamos rever nossas atitudes,
crenças e estímulos para recomeçar a pensar o valor da
cidade.
Nestes tempos de perda de valores em relação às
trocas simbólicas no espaço das cidades é sempre bom
relembrar a obra de Ítalo Calvino: Cidades Invisíveis um
clássico sobre as aventuras de Marco Polo. A história
basicamente passa quando Marco Polo descreve com
muita precisão o caráter peculiar e bucólico das cidades
por onde havia passado verdadeiramente o enredo
descreve um trajeto que no passado era muito comum, o
olhar mais atento sobre a cidade.
Sobre o contexto contemporâneo é evidente que
estamos vivendo um estágio “medieval” de conceber a
107
José Alberto Tostes

cidade, tal fato, é acirrado pelo conjunto de obras


muralhadas que estão espalhadas por todo o território
nacional. Portanto, estamos diante de algumas
encruzilhadas, talvez, custe muito caro para a sociedade,
é cada vez mais acentuado as diferenças sociais e
econômicas. Se na cidade média, um dos objetivos da
cidade muralhada era de proteção e defesa contra os
adversários, na cidade contemporânea representa o
sentimento de proteção invisível e pouco eficaz, pois as
relações na cidade contemporânea não se restringem
somente as questões intramuros, é aí que mora o perigo.

108
José Alberto Tostes

GAUDÍ, ARQUITETO SANTO

No ano de 2010, tive a oportunidade de realizar


um trabalho de 15 dias na cidade de Barcelona na
Espanha, desde os tempos de acadêmico do curso de
Arquitetura, a curiosidade era grande para conhecer a
trabalho do arquiteto Gaudí, perceber a diversidade de
sua criação. As impressões sobre Gaudí não são poucas,
Barcelona, muito conhecida pelo time de futebol
fantástico, tem como uma das maiores atrações à figura
de Gaudí.
É amplo no interior e no espaço de exposição da
Sagrada Família todo o processo que hoje tramita no
Vaticano de beatificação de Gaudí, depois do
encerramento da fase diocesana em 2003, todos os
documentos da sua biografia passaram por Roma para
serem submetidos à Congregação para as Causas dos
Santos. Para o Arcebispo de Barcelona e Presidente da
Comissão do Padroado da Sagrada Família,
Cardeal Martínez Sistach, "Gaudí era um grande cristão.
Tinha uma espiritualidade franciscana, de amor e
contemplação das belezas da natureza, imagens da
beleza do Criador."
A obra Sagrada Família tem algo mais do que
simplesmente a essência que marcaram os grandes
templos religiosos em diferentes períodos históricos,
parece uma obra de outro planeta. A primeira visita em

109
José Alberto Tostes

Barcelona foi conhecer a obra-prima de Gaudí. O Templo


Expiatório da Sagrada Família, conhecida simplesmente
como Sagrada Família, grande templo católico, obra
considerada por muitos críticos como a obra-prima da
Arquitetura modernista catalã.
Durante décadas a obra é foi financiada
unicamente por contribuições privadas, o projeto foi
iniciado em 1882 e assumido por Gaudí em 1883,
quando tinha 31 anos de idade, dedicando-lhe os seus
últimos 40 anos de vida, os últimos quinze de forma
exclusiva. A construção foi suspensa em 1936 devido
à Guerra Civil Espanhola e não se estima a conclusão
para antes de 2026, centenário da morte de Gaudí. Em
setembro de 2010 ocorreu à conclusão do interior,
abertura ao culto, as visitas e a consagração.
A construção começou em estilo neogótico, mas o
projeto foi reformulado completamente por Gaudí ao
assumi-lo. O templo foi projetado para ter três grandes
fachadas: a Fachada da Natividade, quase terminada com
Gaudí ainda em vida, a Fachada da Paixão, iniciada
em 1952, e a Fachada da Glória, ainda por completar. Foi
a partir de esboços gerais do edifício que Gaudí
improvisou a construção à medida que esta avançava.
O templo, quando estiver finalizado, terá 18
torres: quatro em cada uma das três entradas-portais,
jeito de cúpulas; terá um sistema de seis torres, com a
torre do zimbório central dedicada a Jesus Cristo, de 170
metros de altura, outras quatro ao redor, dedicadas aos
110
José Alberto Tostes

evangelistas, um segundo zimbório dedicado à Virgem. O


interior estará formado por inovadoras colunas
arborescentes inclinadas e abóbadas baseadas
em hiperboloides e paraboloides buscando a forma
ótima da catenária.
De acordo com especialistas poderá levar no
seu coro cerca de 1500 cantores, 700 crianças e
cinco órgãos. Em1926, ano em que Gaudí faleceu, estava
construída apenas uma torre. Do projeto do edifício só
ficaram planos e um modelo em gesso que ficou muito
danificado durante a Guerra Civil Espanhola. Desde
então prosseguiram as obras: em fase conclusão os
portais da Natividade e da Paixão, e foi iniciado o da
Glória, estando em construção às abóbadas interiores.
A Sagrada Família impressiona a quem chega
somente no entorno onde está localizada, é muito mais
que um Templo, alí reside o fruto do inimaginável
localizado na mente do arquiteto, que ficou conhecido
por fazer uso do arco parabólico, uma das formas mais
comuns na natureza. Para tanto, possuía um método de
trabalho incomum para a época, utilizando-se de
modelos tridimensionais em escala moldados
pela gravidade.
Gaudí usava correntes metálicas presas pelas
extremidades: quando elas ficavam estáveis, copiava a
forma e reproduzia-as ao contrário, formando suas
conhecidas cúpulas catenárias. Também utilizou da
técnica catalã tradicional do trencadis, que consiste de
111
José Alberto Tostes

usar peças cerâmicas quebradas para compor


superfícies. Gaudí deixou-se influenciar por inúmeras
tendências, não tendo nunca dedicado a sua arquitetura
à tentativa de cópia de um estilo determinado.
O certo é que a Arquitetura que sempre
reproduziu a história da humanidade, definindo os
traços da cultura de um povo, demarcando às vezes o
exagero, luxuria e a riqueza, também se diversifica a
dimensão simbólica, de ter na Sagrada Família, o
mistério, a divindade, o êxtase de permitir que o
inimaginável possa ser construído. Se Gaudí, merece ser
santo? Não há julgamentos sem nenhum juízo de valor,
mas, não há dúvida de que a sua obra, a Sagrada Família
é uma obra de outro mundo.

112
José Alberto Tostes

REVOLUÇÃO AMARELA

Quando comecei a viajar por vários países ainda


na década de 1990, tive a oportunidade de ter contato
mais proximamente com a cultura chinesa, em quase
todos os países em que passei, sempre existe forte
presença desta cultura oriental. Na década de 1990, a
China ainda não havia alcançado a dimensão dos dias
atuais, porém, em função de uma população que
corresponde a quase 25% do total do Planeta, a
migração chinesa existe em quase todos os recantos do
Planeta.
Um dos aspectos mais comuns em relação a
cultura chinesa quando se agrega em algum país ou
cidade, é a organização de uma sociedade fechada, existe
uma rede cooperada entre empresas e trabalhadores. No
período dos anos 90, conheci em Havana-Cuba, a área de
Chinatowns, um bairro chinês com todos os caracteres
oriundos da China. Este bairro forma um grande
comércio local, e bastante diversificado pela variedade
de produtos naturais. Outra experiência foi na cidade de
Caiena na Guiana Francesa, neste lugar, os chineses são
responsáveis por quase toda a rede de comércio em toda
a região.
Chama atenção o fato que na maioria das vezes,
os chineses só conseguem expressar a linguagem local,
duas ou três frases, tudo é determinado pelo rigor e pela

113
José Alberto Tostes

disciplina nas relações de trabalho. Em Caiena, estive em


uma loja para comprar um determinado produto, a
vendedora era brasileira, trocamos algumas palavras
sobre o produto oferecido, passado alguns minutos, o
gerente chamou a vendedora e disse: "você tem três
minutos para fechar a venda", percebendo tal situação
de dificuldade para vendedora, logo optei em realizar a
compra.
Em algumas cidades europeias durante a década
do novo milênio, sempre que chegava em função do
horário dos aviões ou trens na madrugada, buscava
algum comércio em uma área histórica ou mais afastada,
logo dávamos conta que havia uma tenda ou comercio
chinês aberto. Em diversos países, os chineses não tem
horário para trabalhar, sabem que no país de origem, a
concorrência em função da superpopulação é muito
intensa, por isso, se dedicam, muitas vezes até viver em
situação de escravidão.
Quando cheguei em Coimbra para realizar um
estágio de pós-doutorado o meu orientador disse que
sua esposa, sempre comprava utensílios da China, ao
mesmo tempo reclamava da qualidade dos produtos,
ressaltou, porém que a China vinha melhorando
sensivelmente a qualidade dos produtos com o
desenvolvimento tecnológico gradual, um dos
fundamentos para tal, era a aplicação dos trabalhadores
chineses. O professor Lusitano, meu tutor, comentou que
quando garoto, recebeu de seu pai, um presente, um
114
José Alberto Tostes

livro, se chamava: "A revolução amarela". Em rápidas


palavras comentou: "a China irá dominar o mundo sem
dar um tiro". Esta frase referia-se a forma como os
chineses estavam canalizando tudo.
A presença chinesa tem sido intensa na atual
sociedade midiática e global, um episódio curioso
ocorreu em Roma na Itália, próximo ao Vaticano, entrei
em uma loja para comprar um souvenir, uma réplica do
Vaticano, na loja oficial custava cerca de 7 euros,
entretanto, na esquina havia uma banca de um camelô
indiano, o vendedor era da Coreia. Na banca de vendas
estava exposto uma infinidade de miniaturas do
Vaticano, custava apenas 1 euro, a diferença de preço era
muito expressiva, como todo bom negociador, comprei
este souvenir, quando olhei na parte de baixo estava
escrito: Made in China, era um claro exemplo, de como a
presença chinesa se tornou marcante em vários lugares
do mundo.
Segundo Mitter, a China, é um país de proporções
continentais, vem registrando taxas anuais de
crescimento próximas a 10% e que da década de 70 para
cá passou de uma nação fechada a um dos principais
parceiros econômicos de todo mundo onde o Google não
consegue entrar? Para responder a essas perguntas, o
prestigioso sinólogo e historiador Rana Mitter parte de
duas investigações: o que significa ser chinês, e o que
significa ser moderno. O resultado é esta rica introdução
sobre a história recente da China e os desafios à
115
José Alberto Tostes

espreita. Mitter contextualiza, corrige distorções, aborda


com lucidez aspectos polêmicos, oferece uma nova e
fresca visão sobre este instigante e múltiplo país, o livro
deste autor sem dúvida coloca a China na tela do debate
em contexto antes inimaginável.
Em 2003, conheci em Caiena na Guiana Francesa,
uma chinesa alta e negra, fato raro, a sua mãe era
guianense e seu pai um chinês, por conta deste episódio,
conta esta aluna, que seu pai foi expulso da sociedade
chinesa, certamente por quebrar as regras de conduta
fora da comunidade oriental estabelecida. A chamada
Revolução amarela citada pelo meu orientador em
Coimbra era uma Revolução silenciosa, entretanto, no
presente tornou-se algo real e concreto.
É inegável a presença chinesa em diversos países
pelo mundo afora, porém, Mitter em um livro recente,
descreve que é preciso desvendar as polêmicas que
cercam este país, e que deu tantas contribuições e
invenções para a humanidade. A China da atualidade
passou a conduzir o mundo além das fronteiras
culturais. A influência na atualidade ocorre através dos
produtos industrializados, cada vez mais diversificados.
A Revolução amarela é real, e é cada vez mais presente
no nosso cotidiano.

116
José Alberto Tostes

O PLANEJAMENTO TERRITORIAL E O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O tema de planejamento é sempre algo


pertinente, principalmente quando se trata de elaborar
análises mais depuradas sobre o desenvolvimento do
território. É importante salientar que têm decorrido
diversos postulados sobre o planejamento como um todo
dentro de uma esfera técnica, passado algumas décadas,
agregou-se várias variáveis a forma de pensar o
planejamento fundamentalmente a partir da década de
1990 a 2000. O viés socioambiental ganhou força face às
necessidades resultantes das preocupações com a
evolução quantitativa da população no mundo todo e
também sobre o alcance de políticas territoriais mais
próximas de um desenvolvimento sustentado.
Não são poucos autores, teorias publicadas em
artigos, livros, resenhas, paginas na internet, blogs e
todos os instrumentos de comunicação contemporânea.
Este artigo enfatiza a necessidade de quanto este debate
é importante para o desenvolvimento das cidades,
independente da escala. Vários autores são destacados
como: Amado, Blowers, Carlos, Jacobs, Nogueira e Pinho,
Silva, Winters e Thomas. O que há de comum entre tais
autores, a discussão sobre os aspectos conceituais sobre
a questão metodológica e processual de pensar
planejamento e o território, entre tais pontos, a
vinculação com o desenvolvimento sustentável.
117
José Alberto Tostes

Para Nogueira e Pinho (1996), é possível


considerar três análises distintas do processo de
planejamento territorial com vista à operacionalidade do
desenvolvimento sustentável a perspectiva conceitual, a
processual e metodológica e a política e institucional. Em
conformidade com tais perspectivas, Amado (2009, p.
39) destaca que: primeira, perspectiva conceitual é
dedicada ao estudo do papel do planejamento enquanto
instrumento de política de ambiente e desenvolvimento
sustentável, a segunda, processual e metodológica,
abrange a integração de novos objetivos nas fases
fundamentais de processo de planejamento, e a última,
política e institucional, relativa à articulação de
interesses entre diversos agentes sociais e econômicos
envolvidos no processo.
Winters afirma que o planejamento territorial
sempre integrou princípios de sustentabilidade através
da definição de objetivos, de programas de longo prazo,
e a inter-relação entre dimensões sociais, econômicas e
de proteção ambiental. Contudo, Amado (2009, p. 40)
ressalta que os princípios do planejamento territorial,
“[...] não obstante poder aferir-se pontualmente esta
posição, é possível constatar que os resultados práticos
visíveis não refletem esta contribuição para a
operacionalização do processo de desenvolvimento”.
Redclift refere-se ao planejamento territorial e se
limita a procurar melhores localizações para as
atividades admitindo mais crescimento, situação que
118
José Alberto Tostes

dificilmente é suportada por consenso social, quando


comparado com os objetivos de equidade ambiental,
social e econômica. Marshall define que o principal
papel do planejamento territorial com vista ao
desenvolvimento sustentável assenta na ação de evitar
ou reduzir impactos negativos, e em ter um papel
proativo através de respostas adotáveis à alteração
ambiental. Acresce ainda a este quadro de diferentes
contributos ao processo de planejamento face ao
desenvolvimento sustentável, a posição de Thomas,
(1994), quando refere que a crescente politização da
sociedade e o consequente envolvimento da população
no processo de formação social irão contribuir para a
criação de um novo tipo de política redistributiva dos
custos e benefícios, associados a uma adequada
implementação do desenvolvimento sustentável.
As experiências bem-sucedidas de planejamento
territorial decorrem, quase sempre, de um ambiente
político e social favorável, expresso por uma
mobilização, e, principalmente, de convergência
importante dos atores sociais do município ou
comunidade em torno de determinadas prioridades e
orientações básicas de desenvolvimento. Representa,
neste sentido, o resultado de uma vontade conjunta da
sociedade que dá sustentação e viabilidade política a
iniciativas e ações capazes de organizar as energias e
promover a dinamização e transformação da realidade.
Por outro lado, Blowers atesta que o desenvolvimento
119
José Alberto Tostes

sustentável nunca será operacionalizado se não existir


uma articulação entre ambiente e desenvolvimento,
proporcionado pela integração no planejamento
tradicional das preocupações sociais e ambientais.
O planejamento como veículo preponderante das
ações de transformação do uso do solo e de promoção da
qualidade de vida das populações deve, segundo Jacobs,
integrar medidas de sustentabilidade de intensidades
diferenciadas de acordo com os objetivos. Assim sendo, a
metodologia de planejamento tendo como foco a
qualidade de vida e o desenvolvimento local e municipal
é apenas a aplicação de unidades territoriais de pequeno
porte das metodologias de planejamento governamental
ou espacial. Em princípio, a metodologia pode ser
utilizada com as adaptações e simplificações devidas,
para municípios, comunidades ou assentamentos, com
diferentes escalas e níveis de complexidade. Por isso,
deve ser está formulada de forma genérica e ampla,
permitindo o aproveitamento e utilização de todas as
etapas, atividades e técnicas disponíveis.
Ao focar a metodologia do planejamento urbano,
Carlos (1994) atesta que são diversos modos de
apropriação do espaço que vão pressupor as
diferenciações de uso do solo e a competição que será
criada pelos usos, e no interior do mesmo uso. Como os
interesses e as necessidades dos indivíduos são
contraditórios, a ocupação do espaço não se fará sem
contradições, e, portanto sem luta. Assim sendo, para
120
José Alberto Tostes

este autor a reprodução do espaço urbano traz em si a


ideia de que a cidade cresce e o ser humano desaparece,
como ser que tem vontades, desejos, ideias enfim, que se
sente e que se encontra impotente diante da cidade que
ele próprio produziu.
Segundo Silva e Tostes (2011) o estudo do urbano
pressupõe que as cidades estão inseridas dinâmicas
territoriais, sociais e ambientais. A adoção de políticas
públicas buscando a sustentabilidade urbana implica em
repensar o modelo de desenvolvimento, repensar o
desenvolvimento das relações sociais e econômicas na
cidade e o papel do direito como propulsor do direito à
cidade sustentável. Complementado esta colocação. Para
Tostes (2007) evidencia em seus estudos que o
planejamento é um importante instrumento de
organização para uma sociedade, mas ao longo das
últimas décadas, têm sido notório que o processo de
gestão assumiu outra face, principalmente, em virtude
das pressões sociais e os interesses políticos.
A condição do território na contemporaneidade
não é somente vinculada à questão geográfica, mas a
inserção sobre distintos lugares que formam as
estruturas urbanas e rurais. O desenvolvimento
sustentável é algo pelo menos na teoria, para muitos,
condição puramente subjetiva, as ações desencadeadas
por vários cantos do Planeta, ainda são experiências
isoladas, distantes de um sentido coletivo que visa
alcançar de forma plena o equilíbrio necessário entre o
121
José Alberto Tostes

uso dos recursos naturais de acordo com as novas


demandas sociais, econômicas e ambientais.

122
José Alberto Tostes

ARQUITETURA VERSUS URBANISMO

Tais reflexões foram realizadas no calor do


encerramento da I Conferência Nacional de Arquitetura
e Urbanismo e do XX Congresso Brasileiro de Arquitetos,
ambos eventos realizados em Fortaleza em abril de
2014. Quais as lições que podemos tirar destes eventos?
É inegável que a realização da I Conferência mostrou
grande preocupação dos arquitetos e urbanistas,
principalmente aqueles que exercem alguma função,
seja, como Presidente de CAU, Conselheiro Federal,
Estadual, ou representantes de entidades em geral. As
reflexões realizadas durante a I Conferência denotam a
preocupação quanto ao futuro que envolve os três temas
propostos para este primeiro evento.
Entre as reflexões, está claro, a formação do
arquiteto e urbanista inspira cuidados maiores, ficou
evidente que boa parte dos participantes da I
Conferência quer a participação do CAU junto às
universidades e faculdades, atuar mais próximo ao MEC
com a finalidade de buscar a melhoria da qualidade dos
cursos atuais, e fundamentalmente, só abrir novos
cursos de acordo com critérios mais sólidos e menos
mercantilistas que atendam somente os interesses
empresariais da área da educação. O CAU em breve,
poderá atuar como faz a OAB que tem força política para
orientar e propor discussões cruciais para a melhoria na
formação do profissional na área do Direito.
123
José Alberto Tostes

Outro fator importante, os participantes da I


Conferência enfatizaram com muita clareza, a
necessidade da participação na construção de políticas
públicas, principalmente dos arquitetos e urbanistas,
não é mais possível que um conjunto dessas políticas
seja idealizado sem a participação dos profissionais de
arquitetura e urbanismo, este cenário, explica diversas
ações governamentais que contribuem cada vez mais
para desestruturação das cidades brasileiras, políticas
que não dialogam entre si, e só aceleram o estado de
caos que se encontram os municípios e cidades
brasileiras.
Porém, além deste contexto tratado neste
importante evento, convém ressaltar algo para ser
pensado e analisado. O evento da I Conferência ocorreu
paralelo ao XX Congresso Brasileiro de Arquitetos,
apesar da tentativa da programação de colocar a
Conferência em um horário que supostamente evitava a
superposição, o fato, é que houve certo prejuízo da
participação dos integrantes da I Conferência no XX
Congresso de Arquitetos. A minha experiência pessoal
no XX Congresso de Arquitetos ocorreu como
observador em alguns debates com temas importantes e
diversos como: habitação, projetos sustentáveis, desafios
de cidades contemporâneas, entre outros. O que percebi
na discussão dos diversos temas é muito preocupante.
Em várias destas discussões temáticas, partes dos

124
José Alberto Tostes

participantes deixaram nítida a questão paradigmática


entre arquitetura e urbanismo.
É importante lembrar que a formação do
arquiteto, agregou com mais ênfase o urbanismo a partir
das modificações de 1994 nos currículos de Arquitetura
em todo o Brasil, até então, havia uma tendência voltada
exclusivamente para o desenvolvimento da arquitetura.
Tal preocupação é pertinente, pois, tive como perceber
em várias mesas do XX Congresso Brasileiro de
Arquitetos um sentimento de isolamento em relação ao
urbanismo, Em determinado momento, pensei que havia
um paradoxo entre os eventos da I Conferência Nacional
de Arquitetura e Urbanismo e o XX Congresso Brasileiro
de Arquitetos.
Na I Conferência, houve um grande apelo pela
mobilização social e maior inclusão dos profissionais de
arquitetura e urbanismo em todo o território nacional,
porém, no evento do XX Congresso Brasileiro de
Arquitetos, havia um sentimento em algumas mesas, de
consolidar a arquitetura apartada do urbanismo, mais
uma vez, legitimando a concepção da consagração do
edifício em detrimento do seu entorno e vinculação das
relações de trocas com o ambiente urbano.
Os arquitetos e urbanistas e as entidades
vinculadas devem pensar o novo momento em que
estamos vivendo após a criação do CAU. Então, vamos à
pergunta importante: Se o CAU se chama Conselho de
Arquitetura e Urbanismo, porque que o Congresso é
125
José Alberto Tostes

denominado somente de Arquitetos brasileiros? Seria


somente tradição? Creio que este aspecto deve ser
pensado para o XXI Congresso, pois em minha opinião,
deve se chamar: XXI Congresso Brasileiro de Arquitetos
e Urbanistas.
Esta opinião visa legitimar aquilo que o CAU vem
realizando desde janeiro de 2012, a integração efetiva
entre a Arquitetura e Urbanismo, ou, o nosso importante
slogan não vai vingar: arquitetura e urbanismo para
todos. As opiniões manifestadas no XX Congresso
Brasileiros de Arquitetos devem ser respeitadas,
entretanto, traduzem o sentimento de milhares de
arquitetos brasileiros que jamais se sentiram urbanistas,
por outro lado, jamais podem desconhecer não se
produz a boa arquitetura apartada de seu entorno. Esta
situação paradoxal precisa ser equacionada por todas as
entidades de arquitetura e urbanismo, não podemos
legitimar oficialmente que arquitetura é mais importante
que o urbanismo, mesmo que para alguns profissionais,
alguns se sintam mais arquitetos ou menos urbanistas
ou vice-versa.
O que está em jogo é o fortalecimento da
profissão de arquiteto e urbanista, após a realização
destes dois eventos, fiquei com a sensação do imenso
crescimento e responsabilidade do CAU em todo o Brasil,
ainda terá pela frente em conjunto com as demais
entidades, ações importantes para serem desenvolvidas
em todo o território nacional. O bom arquiteto é aquele
126
José Alberto Tostes

que concebe a perfeita integração com o urbanismo, a


divisão só contribui para confundir um grande número
de acadêmicos que estão em processo de formação,
muitos deles, estiveram presentes no XX Congresso
Brasileiro de Arquitetos, porém, poucos participaram na
I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo. A
diferença está exatamente aí, a I Conferência é de
Arquitetura e Urbanismo, porém, o XX Congresso, é
somente de arquitetos.
Para corroborar esta situação paradoxal, a Carta
final publicada pelo Congresso Brasileiro de Arquitetos,
legitima a preocupação com a cidade e a construção das
políticas públicas para o setor, muito embora, vários dos
convidados para compor as mesas de debate não tenham
a mesma visão. O nome do Congresso ficou pequeno
para o alcance que todos nós desejamos, ou seja,
Arquitetura e Urbanismo no mesmo valor.

127
José Alberto Tostes

AMAZÔNIA RIBEIRINHA

O tema sobre urbano é cada vez mais instigante


quando se trata de avaliar a forma como a gestão pública
irá tratar a questão da ocupação das áreas úmidas. Em
quase todas as cidades da região amazônica existe um
grande número de áreas destinadas a cumprir uma
função importante em relação determinadas funções
vinculadas as águas pluviais, microclima e outros
sistemas importantes. Diversos documentos oficiais
foram produzidos nas últimas décadas.
As áreas úmidas brasileiras cobrem cerca de 20%
do território do Brasil, sendo fundamentais, entre
outros, na regulagem do ciclo das águas e na absorção da
água das chuvas. Entretanto, em boa parte dos rios das
regiões centro-oeste, sul e sudeste do país as Aus já
foram retiradas da paisagem, sendo substituídas por
edificações, lixões e outros que suprimiu do ambiente
seu serviço ambiental de tampão na paisagem. Como
consequência, nessas regiões mais populosas do país, a
cada ano as enchentes, deslizamentos e perdas materiais
e humanas aumentam, ressalta Junk.
Segundo Santos e Lucena (2013), áreas úmidas,
segundo conceito elaborado pelo Grupo e divulgado no
documento, consistem em ecossistemas na interface
entre ambientes terrestres e aquáticos, continentais ou
costeiros, naturais ou artificiais, permanentemente ou

128
José Alberto Tostes

periodicamente inundados por águas rasas ou com solos


encharcados, doces, salobras ou salgadas, com
comunidades de plantas e animais adaptados à sua
dinâmica hídrica. No Amazonas, as áreas de várzea e
igapós são exemplos de importantes áreas úmidas. Entre
os benefícios das áreas úmidas ligados diretamente ao
meio ambiente e à qualidade de vida da sociedade, está
ao fato de que elas proporcionam a recarga de aquíferos,
a purificação e fornecimento da água, a regulagem do
microclima, o ecoturismo, além da estocagem periódica
de água e sua lenta devolução para os igarapés, córregos
e rios conectados (efeito esponja), reduzindo os perigos
de enchentes e secas, problemas comuns no Brasil,
inclusive na região amazônica.
Para pesquisadores do IEPA que publicaram um
artigo no evento da ANPPAS em 2006, pode-se destacar
assim a ocupação de áreas úmidas na cidade de Macapá:
"A extensão de áreas úmidas urbanas ocupada por
palafitas, alcançam cerca de 8.32% da população urbana
nessas áreas, o aumento ocupacional se deu através de
fluxos migratórios provenientes das ilhas do Pará (em
busca de equipamentos sociais, como escola e hospital) e
do nordeste, principalmente, o estado do Maranhão
(busca de terras e oportunidades de emprego).
As condições ambientais de habitabilidade e
infraestrutura urbana são mínimas, todos os serviços
urbanos como água e energia elétrica são clandestinos,
sem esgoto e coleta de lixo, e também a inexistência de
129
José Alberto Tostes

instalações prediais de posto de saúde, escola e posto


policial. Este fato caracteriza a forma e dinâmica com
que a divisão de classe social marca o espaço da moradia
humana. As áreas úmidas urbanas não estão incluídas na
delimitação oficial dos bairros, pois a legislação é
anterior a algumas dessas ocupações. Essas áreas foram
denominadas pelo IBGE, no censo 2000, como “áreas
diversas”. Consolidando a exclusão social dessa
população de seres humanos “anfíbios” de viver a
margem da cidade e sociedade." (SOUZA;
DRUMMOND;SILVA;SILVEIRA,2006, p.5)

130
José Alberto Tostes

“ESTE RIO É MINHA RUA, MINHA E TUA MURURÉ,


PISO NO PEITO DA LUA, DEITO NO CHÃO DA MARÉ”

Parafraseando ao compositor Paulo André Barata


quando escreveu a música: “Este rio é minha Rua”,
escrevo este artigo sobre o rio Amazonas. O imponente
rio Amazonas, está presente na frente de nossa cidade de
Macapá, porém, tenho ouvido tem muitas pessoas que
passam por nossa cidade, seja a trabalho, de férias ou de
visita aos familiares, que a população pouco oportuniza a
relação com o rio. Em vários lugares do mundo, o rio é
algo especial, como não pensar no rio Sena em Paris, e
muitos outros considerados especiais para alguns países
e culturas. O rio tem algo de mágico, carrega a energia
das águas.
O nosso rio Amazonas serviu de inspiração para
que os portugueses construíssem a Fortaleza de São José
de Macapá. Este monumento associado ao rio agrega
uma paisagem urbana belíssima, todavia, há uma
enorme dificuldade para que este rio, que não é qualquer
rio, é o rio Amazonas, seja como diz Paulo André Barata,
a “Minha Rua”. Esta rua carinhosamente é a passagem
que nos une, é o elo entre as gerações, é como se o rio
fosse “testemunha” ocular da trajetória da cidade. Sobre
o rio, surgem lendas, histórias, mitos, contos, e o nosso
rio imponente? O que é preciso para mirarmos a sua
beleza cênica? Os portugueses estrategicamente
elegeram o rio Amazonas a nossa principal referência. O
131
José Alberto Tostes

primeiro governador do Amapá, Janari Nunes, definiu


que o rio seria um dos pontos cardeais para se traçar um
paralelo com a cidade. Nossas principais simbologias
amazônicas estão vinculadas a cultura dos povos
ribeirinhos, tem no rio, a expressão máxima desta
crença.
Na música de Paulo André, refere-se ao rio com a
intimidade do cotidiano, aquela que cerca exatamente o
dia-a-dia, cita a figura do “Boto Preto”, marcante em
qualquer história que envolve o rio na região, do
“Puraque”, da “Cobra Grande”, dos contos inimagináveis
que aprendemos desde a infância. A nossa cidade de
Macapá tem o privilégio de ter o rio Amazonas em sua
orla, a relação com o rio se intensificou e se perdeu
quando os barcos atracavam no Trapiche Eliezer Levi
vindo das ilhas, ou da cidade de Belém do Pará. O
Trapiche era o braço que faltava para a cidade de
associar ao rio Amazonas.
Paulo André cita em um determinado trecho da
música: “Rio abaixo rio acima, minha sina cana é, só de
falar na mardita me lembrei de Abaeté”. O autor refere-
se com certo saudosismo da cidade de Abaeté no estado
do Pará, assim é o rio para milhares de pessoas que
todos os dias passam por ele. Certa vez um amigo
visitando a cidade de Macapá, ao chegar, antes de ir para
o hotel, primeiro queria ver o rio Amazonas, desde
garoto havia estudado e ouvido falar da imponência do
rio Amazonas, levei este amigo na frente da cidade de
132
José Alberto Tostes

Macapá, durante mais de 02 horas ficou contemplando


aquele cenário, ficou bastante emocionado, chorou, logo
pensei, a relação com o rio é algo intenso.
Ao perguntar para um visitante de passagem na
cidade de Macapá sobre o rio Amazonas, o mesmo
respondeu: - “a cidade está de costas para o rio
Amazonas”, fiquei intrigado com tal informação. Nesta
afirmação estava à constatação de alguém de fora, de
outro lugar, conseguia perceber uma separação
momentânea entre rio e a cidade. Muitas coisas podem
ser ditas sobre o rio Amazonas, todas iriam parecer
apenas dados quantitativos, disso ou daquilo, mas
nenhuma afirmação sobre o rio é mais forte do que o
sentimento de pertencimento ao lugar, quando se fala na
cidade de Macapá, pensa-se logo no rio Amazonas, muito
embora, esta relação ainda não seja considerada ideal.
Como diz o Paulo André na canção: “Este rio é
minha rua, minha e tua mururé, piso no peito da lua,
deito no chão da maré”. A música retrata as nuanças e
devaneios onde estão às características do rio, quando
Paulo André escreveu esta música, talvez estivesse
inspirado na cultura ribeirinha e nos múltiplos rios da
Amazônia, e o que dizer do rio Amazonas? Presenciamos
todos os dias, e alguns mais privilegiados que tem a
oportunidade de acordarem e contemplarem o
majestoso.

133
José Alberto Tostes

A nossa orla é rica e diversa, apresenta


características bem peculiares, com um pouco de boa
vontade poderíamos unir o rio Amazonas ao sentimento
de urbanidade na cidade de Macapá. É preciso ver o rio,
mais do que ele é, e parece ser, é algo, mais que o
cotidiano, transcende suas águas, está no mito, rito, na
cultural local e na formação do ser ribeirinho. Tudo
parece ter um potencial fantástico. “Este rio é Minha
Rua...” como sugere a música, talvez não, mas com
certeza, este rio é a nossa vida, a essência de nossa gente.
Quantas vezes você já contemplou o rio? Não estamos
falando de qualquer rio, este rio, chama-se rio
Amazonas.

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José Alberto Tostes

O FUTURO DAS CIDADES

O futuro das cidades é a obra de autoria do autor


português da Universidade do Minho, José Mendes. O
livro possibilita uma ampla reflexão sobre o futuro das
cidades no mundo, porém, após fazer esta leitura, pensei
sobre o estágio atual das cidades. O que vamos fazer?
Esperar que aconteça o pior, depois tomar as
providências, longe de uma visão apocalíptica sobre o
que será uma cidade daqui a 20 ou 30 anos, há coisas
que precisam de tomadas de decisão urgente, isso é para
ontem.
O livro sobre o futuro das cidades abre uma
perspectiva segundo autor sobre a discussão das
megatendências globais, os desafios que se colocam às
cidades e, a partir daí, trabalhar o conceito inovador: a
cidade incubadora. Esta afirmação dita pelo autor atiçou-
me a curiosidade a respeito do tema, o que seria a cidade
incubadora? Na prática, Mendes coloca cinco dimensões
importantes para efetivar a ideia de cidade incubadora: a
cidade intelectual, a cidade inovadora, a cidade
sustentável, a cidade autêntica e cidade conectada.
Efetivamente pensar a cidade sob este prisma,
resulta em verificar a capacidade de aguçar o nosso
olhar sobre as transformações globais e locais que vem
ocorrendo pelo mundo afora. O próprio autor deixa claro
que a obra não é um tratado urbanístico e nem um

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José Alberto Tostes

exercício de desenho futurista. Dedica-se, simplesmente,


à tarefa de propor um conceito de futuro para as cidades
do presente.
Segundo Mendes (2011, p. 66 e 67), “a cidade
intelectual é a geração, atração e retenção daquele que é
provavelmente o mais indispensável e crítico dos seus
ativos: o talento. Este desígnio é tanto mais conseguido
quanto melhor for o sistema de educação que lhe é
infraestrutural e, na perspectiva dos resultados, quanto
mais relevante e criativo for o conhecimento gerado na
cidade. Na cidade intelectual é um dado adquirido que
todos cumprem a escolaridade secundária, quase todos
completam graduação superior e muitos avançam para a
pós-graduação. Os requisitos de qualidade centram-se
nos atributos do ensino”.
A cidade inovadora, à primeira vista, existe a
concentração de talento, conhecimento e mercado, faz da
cidade um espaço de inovação único. Todavia, a
transformação deste potencial em valor não é um
processo simples, nem de sucesso garantido. Mesmo à
escala das megaconcentrações de talento, é possível
encontrar cidades onde a organização para a inovação
teima em não alcançar os níveis de eficácia que se
esperaria. (MENDES, 2011, p.72)
A cidade conectada é uma cidade-ilha, fechada na
sua identidade, nos seus valores e no seu mercado, não
sobrevive às exigências decorrentes das tendências
globais. Não é competitiva, nem mesmo viável. Pelo
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José Alberto Tostes

contrário, a cidade do futuro, aquela que incuba o


sucesso, é, por definição, conectada e permeável. A
facilidade, qualidade e intensidade da interação dentro
da cidade e desta com o mundo exterior são fatores
críticos de sucesso incontornáveis. A dimensão da
conectividade se expressa de maneira local e
globalmente, sendo que ambas as escalas se
complementam. (MENDES, 2011, p.80).
A cidade sustentável, o conceito é aplicado
praticamente em todos os contextos, o que significa que
o seu emprego carece de alguma precisão. Na sua versão
mais popular, se refere à sustentabilidade humana no
planeta Terra, deu origem a mais citada das definições
de desenvolvimento sustentável, expressa pela Comissão
Brundtland em 1987: “desenvolvimento que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir as suas
próprias necessidades”. Sendo um pouco mais especifico
e tomando três esferas de relevância – econômica social
e ambiental- podem-se definir determinados
cruzamentos que configuram diferentes opções de
desenvolvimento.
Na cidade autêntica as características são únicas
de um lugar, a mais segura origem da sua vantagem
competitiva. A cidade que assume e explora as suas
particularidades, sobretudo as que são irrepetíveis,
adquire o estatuto de autêntica e posiciona-se no grupo
das candidatas a atrair pessoas criativas e talentosas.
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José Alberto Tostes

Não é fácil estabelecer um quadro comparativo, quando


se fala da autenticidade. (MENDES, 2011, p. 93).
A cidade hipotética é reconhecida como uma
referência internacional na criação do conhecimento e
inovação em setores de base tecnológica adota e pratica
uma cultura de portas abertas para aqueles que veem o
empreendedorismo como uma opção de vida. A cidade
promove a prosperidade de seus cidadãos e é tributária
do desenvolvimento global do País, proporcionando
simultaneamente um ambiente onde é bom viver,
aprender, trabalhar e fazer negócios. (MENDES, 2011,
p.105).
Como o próprio autor sugere, o livro cidades do
futuro é uma proposta de discussão conceitual e,
portanto não pretende ilustrar o desenho urbano ou
uma caracterização ideológica ou política do que seja
cidade, mas pensar as diferentes interfaces que
envolvem o desenvolvimento do presente com
implicações escalonadas no futuro, sendo assim, a ideia
de futuro é algo relacionado a uma visão sistêmica,
construída a partir da nossa formação individual e
coletiva, quanto maior o grau de conhecimento e
esclarecimento sobre as nossas potencialidades, maior
será a possibilidade de êxito no futuro.
Não há formulas para dizer o que vai acontecer no
futuro, porém, é certo que a forma de pensar e idealizar
a organização e o planejamento de uma cidade passa
necessariamente pela provocação de Mendes. Os
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José Alberto Tostes

preceitos sobre as dimensões descritas no livro vão


desde a base da importância da formação educacional
até os princípios da inserção de criatividade e inovação
será de fato algo a ser aplicado, não no futuro, mas
certamente com muita convicção no presente. É muito
comum termos expectativas de que as teorias, ideias e
outros postulados possam explicar e orientar os
fenômenos que ocorrem com as cidades, entretanto,
pouco se vislumbra a possibilidade de interagir com as
múltiplas interfaces que estão à disposição para o
desenvolvimento das cidades a partir das questões
globais e locais, vale a pena ler o livro.

139
José Alberto Tostes

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