Professional Documents
Culture Documents
13166
RESUMO
O propósito do presente estudo foi verificar os efeitos de diferentes intervalos de recuperação (IRs) entre séries de exercícios
resistidos em crianças nas variáveis de pico de torque (PT) e trabalho total (TT). Participaram do estudo 18 meninos (11,1 ±
0,52 anos, 32,9 ± 3,32 kg e 142,6 ± 4,78 cm, classificados nos estágios de Tanner 1 e 2). Foi utilizado um protocolo de três
séries de dez repetições de exercícios isocinéticos em dois IRs (de um e dois minutos) nas velocidades de 60º/s e 180º/s. Não
foram encontradas diferenças significativas (P> 0,05) no PT, TT entre os IRs de um e dois minutos nas velocidades de 60º/s e
180º/s. Conclui-se que as crianças necessitam de curtos períodos de recuperação (um minuto) para a manutenção da
performance muscular, indicando assim uma alta capacidade de resistência à fadiga em exercícios resistidos de alta
intensidade e com diferentes velocidades de execução.
Palavras-chave: Exercício resistido. Crianças. Fadiga muscular. Intervalo de recuperação. Exercício isocinético.
∗
Doutor. Professor do Departamento de Educação Física Universidade Católica de Brasília, Brasília - DF, Brasil.
**
Mestre. Professor do Departamento de Educação Física Universidade Católica de Brasília, Brasília - DF, Brasil.
***
Discente. Programa de Pós-Graduação em Educação Física Universidade Católica de Brasília, Brasília - DF, Brasil.
****
Doutor. Professor do Departamento de Educação Física da Universidade de Brasília, Brasília - DF, Brasil.
Biodex System III (Biodex Medical, Inc., Shirley, na velocidade de 60°/s, com o intervalo de
NY). A velocidade angular foi ajustada para 60 e recuperação entre as séries de um minuto.
180°/s. Antes do teste cada sujeito realizou um No protocolo experimental os voluntários
aquecimento em uma bicicleta ergométrica por 5 fizeram três séries de dez repetições, nas
min. Os sujeitos foram instruídos a selecionarem velocidades 60 e 180°/s, com IRs de um e dois
uma resistência (25 – 50 W) que lhes fosse minutos. A utilização dos IRs (i.e. IR de um e
confortável e não os levasse à fadiga em uma dois min) foi determinada de forma aleatória e
cadência de 60 rpm (BOTTARO et al., 2005; estes foram aplicados em dias distintos
PINCIVERO et al., 2000). Os sujeitos sentaram na separados por no mínimo 72 horas e no máximo
cadeira do dinamômetro em uma posição sete dias. Os protocolos foram realizados na
confortável e foram fixados pelo cinto de ordem crescente em relação à velocidade
segurança no tronco, pélvis e coxa, a fim de angular, e dez minutos de intervalo separaram os
minimizar movimentos corpóreos extras que testes nas distintas velocidades (BOTTARO et
auxiliassem na produção de um maior pico de al., 2005; PARCELL et al., 2002).
torque (WEIR et al., 1994). O epicôndilo lateral do O membro direito foi utilizado para
fêmur foi usado como um marcador biológico para padronização do teste, uma vez que estudos
alinhar o eixo de rotação do joelho e o do aparelho. anteriores não encontraram diferença nas
Com o posicionamento do sujeito na cadeira, variáveis isocinéticas entre os membros
permitindo-se um movimento livre e confortável de inferiores dominante e não dominante, em
flexão e extensão do joelho de uma posição de 90° indivíduos destreinados (DAVIES et al., 2003).
de flexão até a extensão terminal, foram
averiguadas a altura da cadeira, a regulagem do Análise estatística
encosto, a posição da cadeira e do dinamômetro e a A estatística descritiva foi dada pela média e
regulagem do braço de resistência. Essas medidas desvio padrão. A normalidade dos dados foi
foram gravadas para padronizar a posição de teste avaliada pelo teste Kolmogorov-Smirnov. Para a
de cada sujeito, individualmente. avaliação da influência do tempo de recuperação
A correção da gravidade foi obtida nas variáveis dependentes ao longo das três séries,
medindo-se o torque exercido pelo braço de
foi realizada uma análise de variância (ANOVA)
resistência e pela perna do avaliado (relaxada),
fatorial de medidas repetidas de 2 X 3 [intervalo
na posição de extensão terminal. Os valores das
de recuperação (um e dois min) X séries (1ª, 2ª e 3ª
variáveis isocinéticas foram automaticamente
séries)] para cada velocidade considerada (60 e
ajustados para gravidade pelo programa Biodex
180°/s). Como processo post hoc utilizou-se
Advantage Software. A calibração do
dinamômetro Biodex foi realizada de acordo comparação múltipla com correção do intervalo de
com as especificações contidas no manual do confiança pelo método Bonferroni. Foi
fabricante. estabelecido um nível de significância de P < 0,05
Na realização do teste, solicitou-se aos para todas as avaliações.
voluntários que mantivessem seus braços
cruzados na altura do tórax (STUMBO et al., RESULTADOS
2001). Além disso, foi dado um encorajamento
verbal e um feedback visual pelo monitor do A Figura 1 apresenta os valores do PT na
computador, na tentativa de alcançar o nível de velocidade de 60º/s durante as três séries com
esforço máximo (HALD; SANDER, 1987). um e dois minutos de IR. Com um minuto de IR
as crianças apresentaram uma redução de 2,03%
Protocolo de exercício da 1ª série para a 2ª (P = 0,920), de 4,49% da 1ª
Para familiarização com o exercício, os para 3ª série (P = 0,368) e de 2,51% da 2ª a 3ª
voluntários realizaram uma avaliação do pico de série (P = 0,424); mas quando foram
torque (PT), adotando o seguinte procedimento: comparados estes resultados, não foi
aquecimento com 10 repetições na velocidade de evidenciada nenhuma diferença estatisticamente
120°/s seguido de duas séries de quatro repetições significativa nos valores de PT.
Comportamento do PT (60°/s)
IR 1min
90
Pico de Torque (Nm) 88 IR 2min
86
84
82
80
78
76
74
72
70
1ª 2ª 3ª
Séries
Figura 1 - Pico de torque (PT) em diferentes intervalos de recuperação (IR1min e IR2min) na velocidade
angular 60°/s.
70 IR 1min
68 IR 2min
Pico de Torque (Nm)
66
64
62
60
58
56
54
52
50
1ª 2ª 3ª
Séries
Figura 2 - Pico de torque (PT) em diferentes intervalos de recuperação (IR1min e IR2min) na velocidade angular 180°/s.
1ª para a 3ª série (P = 1,0) e de 3,77% da 2ª para a 3ª série (P = 1,0). Também nas três séries não
3ª série (P = 1,0). Nas três séries não foram foram encontradas diferenças estatisticamente
encontradas diferenças estatisticamente significativas nos valores do TT. Além disso, na
significativas nos valores do TT. comparação entre um minuto e dois minutos de
Em relação ao IR de dois minutos, as IR não foram observadas diferenças
crianças demonstraram uma redução de 0,30% significativas no grupo de crianças (P=0,58) no
da 1ª série para a 2ª (P = 1,0), de 0,75% da 1ª comportamento do TT durante as três séries.
para a 3ª série (P = 0,71) e de 0,45% da 2ª para a
Comportamento do TT (60°/s)
IR 1min
640
IR 2min
620
Trabalho Total (J)
600
580
560
540
520
500
1ª 2ª 3ª
Séries
Figura 3 - Trabalho total (TT) em diferentes intervalos de recuperação (IR1min e IR2min) na velocidade angular 60°/s.
Comportamento do TT (180°/s)
500 IR 1min
480 IR 2min
460
Trabalho Total (J)
440
420
400
380
360
340
320
300
1ª 2ª 3ª
Séries
Figura 4 - Trabalho total (TT) em diferentes intervalos de recuperação (IR1min e IR2min) na velocidade angular 180°/s.
ABSTRACT
The purpose of this study was to compare the effect of two different rest intervals between sets of isokinetic knee extension
exercise on peak torque (PT), and Total Work (TW) in children. 18 boys (11.1 ± 0.52 yrs, 32.9 ± 3.32 kg and 142.6 ± 4.78
cm, Tanner stage 1 and 2) performed 3 sets of 10 unilateral isokinetic knee extension repetitions at 60°/s and 180°/s. The rest
intervals between sets were 1 and 2 minutes. There was no significant decline in PT and TW when 1 and 2 min rest intervals
were used at 60°/s and 180°/s. The present study indicated that children need only 1min to recover muscle performance,
indicating high resistance to muscle fatigue during high intensity resistance exercise and different movement velocities.
Keywords: Resistance exercise. Children. Muscular fatigue. Rest interval. Isokinetic exercise.
FAIGENBAUM, A. D. et al. Effect of rest interval length LAZAAR, N. et al. Performance during intermittent
on bench press performance in boys, teens and men. running exercise: effect of age and recovery duration [in
Pediatric Exercise Science, Champaign, v. 20, p. 457- French]. Biométrie Humaine Kiné-Anthropométrie,
469, 2008. [S.l.], v. 20, p. 29-34, 2002.
FAIGENBAUM, A. D. et al. Youth resistance training: LUBANS, D. R.; AGUIAR, E. J.; CALLISTER, R. The
updated position statement paper from the National effects of free weights and elastic tubing resistance
Strength and Conditioning Association. Journal of training on physical self-perception in adolescents.
Strength Conditioning Reserch, [S.l.], v. 23, p. S60- Psychology Sports Exercise, Amsterdam, v. 11, p. 497-
79, 2009. Supplement 5. 504, 2010.
FALK, B.; DOTAN, R. Child–adult diferences in the MALINA, R. M. Weight training in youth-growth,
recovery from high-intensity exercise. Exercise and maturation, and safety: an evidence-based review.
Sports Sciences Reviews, [S.l.], v. 34, no. 3, p. 107-112, Clinical Journal of Sport Medicine, New York, v. 16, p.
2006. 478-487, 2006.
GILLIAM, T. B. et al. Isokinetic torque in boys and girls McGUIGAN, M. R. et al. Eight weeks of resistance
ages 7 to 13: Effect of age, height and weight. Research training can significantly alter body composition in
Quarterly, Washington, DC, v. 50, p. 599-609, 1979. children who are overweight or obese. Journal of
HALD, N. A. S.; SANDER, E. J. Effect of visual Strength and Conditioning Research, Lincoln, v. 23, n.
feedback on maximal and submaximalisokinetic test 1, p. 80-85, 2009.
measurements of normal quadriceps and hamstrings. NATIONAL STRENGTH AND CONDITIONING
Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therap, ASSOCIATION. Youth resistance training: position
Washington, DC, v. 9, p. 86-93, 1987. statement paper and literature review. Colorado Springs:
HEBESTREIT, H.; MIMURA, K. I.; BAR-OR, O. NSCA, 1996.
Recovery of muscle power changes in after high-intensity OSTERNIG, L. Isokinetic dynamometry: implications for
short-term exercise: comparing boys. Journal of Applied muscle testing and rehabilitation. Exercise and Sport
Physiology, Washington, DC, v. 74, p. 2875-2880, 1993. Science Reviews, [S.l.], v. 144, p. 45-79, 1986.
HILL-HAAS, S. et al. Effects of rest interval during high- PARASCHOS, A. et al. Fatigue differences between
repetition resistance training on strength, aerobic fitness, adults and prepubertal males. International Journal of
and repeated-sprint ability. Journal of Sports Science, Sports and Medicine, Stuttgart, v. 28, p. 958-963, 2007.
London, v. 25, no. 6, p. 619-628, 2007. PARCELL, A. C. et al. Minimum rest period for strength
HOLM, I.; STEEN, H.; OLSTAD, M. Isokinetic muscle recovery during a common Isokinetic testing protocol.
performance in growing boys from pre-teen to maturity. Medicine and Science in Sports and Exercise, Madison,
v. 34, p. 1018-1022, 2002.
An eleven year longitudinal study. Isokinetics and
Exercise Sciense, Lansdale, v. 13, p. 153-158, 2005. PARKER, B. A. et al. Sex differences in leg vasodilation
during graded knee extensor exercise in young adults.
KENT-BRAUN, J. A. et al. Human skeletal muscle
Journal of Applied Physiology, Washington, DC, v.
responses vary with age and gender during fatigue due to
103, p. 1583-1591, 2007.
incremental isometric exercise. Journal of Applied
Physiology, Washington, DC, v. 93, p. 1813-1823, 2002. PINCIVERO, D. M. et al. Gender differences in
relationship between quadriceps work and fatigue during
KOTZAMANIDOU, M. Et al. Differences in recovery high-intensity exercise. Journal of Strength and
between adult and prepubertal males after a máximal Conditioning Research, Lincoln, v. 14, n. 2, p. 202-206,
isokinetic fatigue task. Isokinetics and Exercise Science, 2000.
Lansdale, v. 13, p. 261-266, 2005.
Pincivero, D. M. et al. The effects of rest interval on
KRAEMER, J. B. et al. Effects of single vs. multiple quadriceps torque and perceived exertion in healthy
exercises sets of weight training: Impact of volume, males. Journal of Sports Medicine and Physical
intensity and variations. Journal of Strength and Fitness, Torino, v. 39, n. 4, p. 294-299, 1999.
Conditioning Research, Lincoln, v. 11, p. 139-147, RATEL, S. et al. Effects of age and recovery duration on
1997. performance during multiple treadmill sprints.
KRAEMER, W. J. et al. Effects of different heavy- International Journal of Sports and Medicine,
resistance exercises protocols on plasma B-endorphin Stuttgart, v. 27, p. 1-8, 2006.
concentrations. Journal of Applied Physiology, RATEL, S. et al. High-intensity intermittent activities at
Washington, DC, v. 74, p. 450-459, 1993. school: controversies and facts. Journal of Sports and
KRAEMER, W. J. et al. Changes in hormonal Medicine and Physical Fitness, Torino, v. 44, p. 272-80, 2008.
concentrations following different heavy-resistance RATEL, S. et al. Skeletal muscle oxidative capacity in
exercise protocols in women. Journal of Applied children: a 31P-MRS study. Fundamental & Clinical
Physiology, Washington, DC, v. 75, p. 594-604, 1993. Pharmacology, Paris, v. 23, p. 79-85, 2009.
KUNO, S. et al. Muscle metabolism during exercise using ROBINSON, J. M. et al. Effects of different weight training
phosphorus 31 nuclear magnetic resonancespectroscopy exercise/rest interval on strength, power and high intensity
in adoslescents. European Journal of Applied exercise endurance. Journal of Strength and Conditioning
Physiology, Berlin, v. 62, p. 151-156, 1991. Research, Lincoln, v. 9, no. 4, p. 216-221, 1995.
SADAMOTO, T. et al. Skeletal muscle tension, flow, WILLARDSON, J. M.; BURKET, L. N. A comparison of
pressure, and EMG during sustained isometric three different rest intervals on the exercise volume
contractions in humans. European Journal of Applied completed during a workout. Journal of Strength and
Physiology Occupational Physiology, Berlin, v. 51, p. Conditioning Research, Lincoln, v. 19, p. 23-26, 2005.
395-408, 1983. ZAFEIRIDIS, A. et al. Recovery during high-intensity
STUMBO, T. A. et al. The effect of hand-grip intermittent anaerobic exercise in boys, teens, and men.
stabilization on isokinetic torque at the knee. Journal of Medicine and Science in Sports and Exercise, Madison,
Strength and Conditioning Research, Lincoln, v. 15, v. 37, p. 505-512, 2005.
no. 3, p. 372-377, 2001.
TANNER, J. M. Growth at adolescence. Oxford:
Blackwell Scientific Publications, 1962.
Recebido em 03/09/2010
WEIR, J. P.; WAGNER, L. L.; HOUSH, T. J. The effect
Revisado em 05/01/2011
of rest interval lenght on repeated maximal bench presses.
Journal of Strength and Conditioning Research,
Aceito em 11/06/2011
Lincoln, v. 8, p. 58-60, 1994.
WIGGIN, M. et al. Percentile values of isokinetics peak
torque in children six through thirteen years old.
Pediatric Physical Therapy, Baltimore, p. 3-18, 2006.
Endereço para correspondência: José Carlos de Britto Vidal Filho, Condomínio do Lago Sul conj. C Casa 05, Brasília-
DF, Brasil. E-mail: josec@ucb.br