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ISSN 2238-1023
em REVISTA
Esta é uma publicação da Embrapa Agroenergia Ano IV, nº 10, dezembro de 2016
Microalgas
AGROENERGIA EM REVISTA
EXPEDIENTE
www.embrapa.br/agroenergia www.embrapa.br/fale-conosco/sac
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Microscopia de algas
Foto: Bruno Brasil
Panorama
4 Aposta na pesquisa com microlgas
6 Microalgas:
Alternativas promissoras para a indústria
Pesquisa
12 Desenvolvendo supermicroalgas
16 Integração com a indústria petrolífera
18 Ganhando escala
24 óleos valiosos
26 Tratamento de dejetos suínos
com microalgas
32 microalgas em efluentes das
cadeias de biocombustíveis
36 Microalgas contra a gripe
Mercado
40 Negócio inovador
42 Microalgas nos cremes da Natura
44 Uma startup no mercado
brasileiro de microalgas
48 Captura de carbono
50 Nordeste já produz cianobactérias
Foto: Bruno Brasil
APOSTA NA PESQUISA
COM MICROLGAS
Governo Federal investe em pesquisas com
microalgas para biocombustíveis e bioprodutos
C
om os resultados promissores De acordo com ele, foram poucas as
da pesquisa e com o forte apelo estudadas dentro de um contexto muito
na diversificação das matérias- grande de possibilidades. Ele reforça a
-primas utilizadas na produção de bio- importância do incentivo de pesquisa em
combustíveis e, atualmente, também para desenvolvimento na identificação desse
bioprodutos e químicos renováveis, as potencial real, tanto das microalgas de água
microalgas entram no rol da aposta do doce e quanto daquelas de águas salgadas.
Governo Federal. Uma das ações específicas do Ministério é
O País tem as condições edafoclimáti- para identificar o potencial das microalgas
cas favoráveis para que as microalgas se para produção de biodiesel.
tornem umas das principais fontes para os Já foram investidos mais de 26 milhões de
biocombustíveis. “O Brasil tem área, sol e reais em pesquisas com microalgas, vários
água e uma grande diversidade de algas projetos estão em andamento e, certamente,
que podem atender a diversas deman- ressalta Menezes, o Ministério vai aumentar
das”, diz Rafael Menezes, Coordenador os investimentos nessas pesquisas, não só
de Inovações em Tecnologias Setoriais do na parte de microalgas, como a produção de
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação biodiesel como um todo.
e Comunicações (MCTIC). “Eu vejo isso Com o aumento gradativo da mistura de
como uma vantagem competitiva do País, biodiesel ao diesel, é importante o incen-
ser tão rico em diversidade de espécies, tivo à pesquisa para encontrar novas fon-
onde você tem toda uma biodiversidade a tes de matérias-primas na produção do
nosso favor”, destaca Menezes. “Ainda se biocombustível. “Um dos grandes garga-
tem uma diversidade e o potencial enorme los na produção do biodiesel é a diversi-
de microalgas para se conhecer“. ficação de matérias-primas graxas, hoje
Panorama
MICROALGAS:
ALTERNATIVAS
PROMISSORAS
PARA A INDÚSTRIA
Por: Bruno dos Santos Alves Figueiredo Brasil e Lorena Costa Garcia
Foto: Goreti Braga
A
indústria de base biológica deve agregado que são produzidos em pequena
desempenhar papel de destaque e média escala, principalmente na China, no
no século 21. Os desafios relacio- Japão e nos Estados Unidos. O ramo mais tra-
nados às mudanças climáticas globais e à dicional do cultivo de algas utiliza espécies de
dependência excessiva de fontes energéticas macroalgas vermelhas (Rodophyta) e pardas
fósseis tradicionais fomentam, cada vez mais, (Phaeophyta) para produção de espessantes
investimentos em tecnologias inovadoras com (ficocoloides), como alginato, carrageninas e
maior sustentabilidade ambiental. Além disso, ágar-ágar, ou de nori, utilizado na culinária orien-
as projeções para o crescimento populacional tal. Esses mercados movimentam mais de US$
mundial indicam que haverá um forte aumento 10 bilhões por ano.
na demanda por energia e alimentos ao longo Já a produção de microalgas constitui ver-
das próximas décadas. tente mais recente e crescente do cultivo de
Frente a esse cenário, a utilização de maté- algas. A produção anual mundial de biomassa
rias-primas renováveis e a integração de proces- de microalgas triplicou no período de 2004 a
sos industriais em um conceito de biorrefinaria 2013, quando atingiu a marca de 15 mil tone-
são vistas como soluções potenciais susten- ladas/ano (peso seco). As principais espécies
táveis para suprir parte da demanda por ener- cultivadas pertencem aos gêneros Arthrospira
gia, alimentos, químicos e materiais. Em uma (Spirulina) e Chlorella, sendo utilizadas como
biorrefinaria, processos convertem a biomassa fontes de pigmentos para a indústria de cos-
em vários produtos comercializáveis e energia, méticos ou como suplementos proteicos para a
otimizando o uso dos recursos e minimizando a alimentação humana e aquicultura. As espécies
geração de resíduos. Assim, existe uma neces- Dunaliella salina e Haematococcus pluvialis são
sidade de ampliar o leque de produtos de base usadas como fonte de pigmentos e antioxidan-
biológica, de modo a substituir os derivados de tes, como os carotenoides astaxantina, canta-
petróleo, tais como as commodities químicas e xantina e betacaroteno, cujo valor de mercado
materiais. A consciência desses desafios tem pode atingir US$ 8 mil por quilo. Ácidos graxos
direcionado investimentos para a pesquisa e a poli-insaturados ômega-3 e ômega-6, tais como
produção comercial de matérias-primas alterna- EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido
tivas, como as microalgas. docosahexaenoico), também são produzidos
a partir de microalgas e compõem formulações
O mercado de produtos nutricionais infantis, bebidas e suplementos die-
derivados de algas téticos. O mercado atual para esses produtos é
Atualmente, os produtos produzidos a partir avaliado em cerca de US$ 6,25 bilhões.
de algas abastecem principalmente os merca- Todavia, a viabilidade econômica do cultivo
dos de cosméticos, higiene pessoal, nutrição em larga escala de microalgas para produção
humana e animal. Trata-se de produtos de valor de produtos de baixo valor agregado (como
Panorama
Exemplo
Exemplos Exemplos - Porphyra
- Astaxantina / Cataxantina - EPA
- Ficocianina - DHA
Tamanho de mercado
Ficocoloides Esteróis Aminoácidos e
proteínas
Panorama
:
atores abertos (tanques tipo raceway), de 25
to
mil litros cada, que rendem em média 20 kg de Fo
DESENVOLVENDO SUPERMICROALGAS
Os passos da engenharia genética de
microrganismos fotossintéticos no Brasil
T
oda a produção agropecuária comercial gasto energético e um processo de conversão
está baseada em espécies domestica- baseado em liquefação hidrotérmica. Ao lado
das que passaram por anos ou déca- dessa última, a obtenção de novas linhagens
das de melhoramento genético. Mais recente- por modificação genética foi a que alcançou
mente, o desenvolvimento de novas cultivares melhor resultado: 85% de redução de custo.
e estirpes ganhou celeridade e ampliou possi- As outras duas estratégias não conseguiram
bilidades com as ferramentas de engenharia diminuir mais do que 16%.
genética, que permitem a expressão ou o silen- Qualquer programa de engenharia genética,
ciamento de genes para obter características contudo, precisa primeiramente de conheci-
de interesse. É de se esperar que o mesmo mento sobre a espécie com que se pretende
trabalho tenha de ser feito com as microalgas trabalhar. No caso das microalgas, essa base
para que se atinja a viabilidade comercial dos ainda está em construção. Basta comparar:
cultivos, seja para o mercado de commodities, o primeiro genoma completo de bactéria foi
seja para produtos de alto valor agregado. apresentado em 1995, o humano foi concluído
Mais do que uma expectativa baseada na em 2003, mas só em 2007 foi sequenciado o
observação do que já funciona, a necessidade DNA de uma microalga.
de investimentos na modificação genética foi Com o aumento do interesse por esses
comprovada por um grande estudo sobre organismos, mais genomas estão sendo
microalgas para produção de biocombustíveis divulgados e vários programas de sequen-
e bioprodutos financiado pelo governo dos ciamento estão em andamento. Na Embrapa
Estados Unidos. Esse trabalho analisou a efe- Agroenergia, quando começaram a ser estru-
tividade de quatro estratégias de inovação para turadas as ações de pesquisa com micro-
redução do custo de produção de microalgas: algas, logo se colocou a genética e a bio-
desenvolvimento de novas estirpes, melhorias tecnologia como um dos pontos centrais.
no cultivo, tecnologias de colheita de baixo O pesquisador Bruno Brasil explica que a
decisão visava aproveitar uma das grandes desenvolver esse pacote tecnológico”, conta o
vantagens competitivas do País: a rica biodi- pesquisador da Embrapa Agroenergia.
versidade. A estimativa é que ¼ das espécies
de microalgas de água doce do planeta ocor-
Cianobactérias
ram em águas brasileiras. Paralelamente a esse trabalho de buscar solu-
Como resultado de um trabalho de três ções na biodiversidade brasileira, a equipe
anos, a equipe da Embrapa Agroenergia também começou a construir ferramentas
sequenciou o genoma de duas espécies de para modificação genética de uma espécie
microalgas nativas do Brasil, selecionadas por não nativa, mas que já tinha o genoma sequen-
crescerem de modo eficiente utilizando como ciado. Nesse caso, o objetivo era fazer com
meio de cultura a vinhaça — resíduo abundante que o organismo produzisse e secretasse
nas indústrias de açúcar e etanol. Uma dessas betaglicosidases, um dos grupos de enzimas
espécies não está sequer descrita ainda na lite- necessários para a produção de etanol celu-
ratura. A equipe, agora, vai se empenhar em lósico, por exemplo. Outra diferença é que o
construir ferramentas moleculares que permi- grupo trabalhou não com microalgas, mas com
tam a modificação genética dessas espécies cianobactérias.
para potencializar o rendimento. “Nós sabía- Conhecidas como algas azuis, as ciano-
mos que, trabalhando com espécies nativas, bactérias também são seres unicelulares e
havia a chance de encontrarmos coisas novas microscópicos capazes de realizar fotossíntese.
e mais produtivas do que materiais de outras Porém, são organismos mais simples. O pro-
partes do mundo. Mas, ao mesmo tempo, fessor Luis Fernando Marins, da Universidade
por ser novo, sabíamos que seria necessário Federal do Rio Grande (FURG), compara o
genoma delas. Enquanto o genoma de uma
das cianobactérias com que ele
Foto Bruno Brasil
está trabalhando tem 2,6 milhões
de pares de bases, o de uma
microalga chega a 120 milhões,
ou seja, é 60 vezes maior. Além
disso, os meios de cultivo para
as cianobactérias são geral-
mente mais baratos.
aqui
Outra vantagem é justamente o fato chegar aos resultados esperados não é
de muitas delas não acumularem com- tarefa fácil. As microalgas e cianobacté-
postos dentro de suas células, mas rias estão na Terra há milhões de anos,
secretarem no meio em que estão cres- evoluindo e construindo mecanismos
cendo. Num sistema que utilize as micro- para proteger seu próprio DNA. “Temos
algas ou cianobactérias para obtenção maneiras de controlar isso, mas não é
de óleos ou compostos químicos, rom- fácil”, diz Marins.
per as células para extrair de dentro dela Em parceria com a Universidade
esses compostos é um dos desafios. Se, Federal de Minas Gerais, a FURG tem
contudo, elas secretarem esses compos- investido nas ferramentas de informática
tos no meio de cultivo, pode-se conse- para ganhar eficiência e agilidade. Com
guir reduzir o custo e o gasto energético. a modelagem computacional, estão con-
Este último, se muito elevado, pode até seguindo identificar mais rápida e asserti-
inviabilizar a produção de biocombustí- vamente regiões do DNA que podem ser
veis, do ponto de vista ambiental. modificadas para chegar aos resultados
A equipe de Marins trabalha em parce- esperados. “A gente já está sendo alimen-
ria com a Embrapa Agroenergia na pes- tado por essas predições para a enge-
quisa para obter cianobactérias capazes nharia genética. Problemas complexos
de produzir betaglicosidases e secretá-las não podem ser resolvidos com um único
no meio de cultivo. A engenharia genética ponto de vista”, comenta.
também permite à equipe modificar as Algumas cepas produtoras de
características das enzimas produzidas. betaglicosidases já foram obtidas e
Podem, assim, resolver problemas como estão, agora, em testes na Embrapa
a instabilidade em altas temperaturas, por Agroenergia. A equipe do professor
exemplo. “Além de manipular o organismo Marins também atua com a Petrobras,
para ele produzir uma molécula exógena, buscando o desenvolvimento de cepas
a gente também pode fazer com que ele capazes de fazer o mesmo com ácidos
produza uma molécula ‘engenheirada’ do graxos, com vistas à produção de biodie-
ponto de vista molecular para que ela seja sel. “A nossa pesquisa está indo nesse
um produto melhor nesse nosso pacote sentido: desenvolver um pacote tecnoló-
tecnológico”, conta o professor. gico que viabilize a produção de biocom-
Se, por um lado, a engenharia gené- bustíveis e faça com que eles possam
tica amplia as possibilidades, por outro, ser competitivos no mercado”, explica.
INTEGRAÇÃO
COM A INDÚSTRIA
PETROLÍFERA
Resíduo abundante, água de
produção de petróleo pode ser meio
de cultivo para microalgas
C
om financiamento da Petrobras Biocombustíveis, universi-
dades brasileiras estão desenvolvendo uma solução base-
ada em microalgas para tratar um efluente da extração do
petróleo e, ao mesmo tempo, gerar matéria-prima para o biodiesel
— combustível de origem renovável alternativo ao diesel fóssil. O
resíduo em questão é a chamada água de produção de petróleo.
Esse efluente é constituído de duas fontes: a água que fica
represada nos poços junto com o petróleo e a água injetada pelas
petrolíferas como parte do processo de extração. É um material
carregado de minerais, óleo, produtos químicos e gases. Por isso,
é um poluente e precisa ser tratado antes de ser descartado, o que
pode ser um processo bastante dispendioso para as empresas.
Em alguns casos, o volume de água chega a ser maior do que o
de petróleo obtido.
Em 2007, o problema foi apresentado à Universidade Federal
do Rio Grande (FURG), já com uma possível solução a ser inves-
tigada: o cultivo de microalgas para reduzir a carga de poluentes
do efluente. À primeira vista, o professor Paulo Abreu achou que
aquela era uma “missão impossível”, dadas as características do
meio em que elas teriam que crescer. Ainda assim, a equipe gaúcha
aceitou o desafio e começou a busca por espécies adaptadas em
regiões que já tivessem algum contato com esse material, no Rio
Grande do Norte. “Pra nossa surpresa, de quase 20 microalgas que
a gente isolou, 13 conseguiram crescer em água de produção e,
dessas, seis espécies conseguiam crescer em Novos investimentos já foram feitos na planta-
água de produção pura, sem precisar diluir. E, -piloto experimental da UFRN que, de acordo
além de crescer, conseguiam retirar uma série com Viana, foi considerada uma das melhores
de elementos ruins da água e ainda produzir do mundo. Foram construídos mais dois tan-
biomassa e lipídeos”, relata Abreu. ques, com 20 mil litros de capacidade cada um,
O trabalho na FURG terminou em 2010 e que serão utilizados em novos experimentos.
teve como resultado a seleção de seis cepas As áreas de Engenharia Sanitária, Biociências
que podem ser cultivadas diretamente na e Química da universidade devem ser integra-
água de produção de petróleo. “Elas crescem, das aos estudos, para atuar no melhoramento
produzem biomassa e ainda limpam a água, genético de linhagens, na avaliação do efeito do
fazendo o que a gente chama de biodepura- cultivo sobre a água de produção de petróleo e
ção”, diz Abreu. O trabalho continua agora, na na aplicação das microalgas.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Tanto Juliana quanto Viana acreditam que
(UFRN), onde se estabeleceu o “primeiro cul- o semiárido nordestino possa se tornar uma
tivo do Brasil em larga escala para extração de região produtora de microalgas. “O Rio Grande
óleo e conversão a biodiesel”, conta a profes- do Norte tem uma das melhores condições do
sora Juliana Lichston, que coordenou a inicia- Brasil em termos de cultivo porque nós temos
tiva potiguar até 2012. uma grande incidência solar, constante o ano
Estão instalados na UFRN seis tanques aber- todo”, lembra Juliana. Outro ponto favorável no
tos com 4 mil litros de capacidade, em condi- estado é a disponibilidade de água salobra. Por
ções de temperatura e pressão ambientes, nos isso, a equipe da professora está empenhada
quais é estudado o cultivo de duas espécies de em identificar espécies capazes de crescer
microalgas em água de produção de petróleo. nesse meio.
A água utilizada nos tanques vem do campo Desenvolver tecnologia que permita o apro-
de Guamaré, onde está instalada uma refinaria veitamento de áreas improdutivas do semiárido
que faz do Rio Grande do Norte o único estado para produção de microalgas é o objetivo dos
brasileiro autossuficiente na produção de todos cientistas da UFRN. “A água salobra é um grande
os tipos de derivados do petróleo. problema para a agricultura, mas não necessa-
O professor Graco Aurélio Viana, da UFRN, riamente para o cultivo de microalgas”, justifica
conta que, em 2015, o grupo de pesquisa Juliana. O trabalho envolve tanto a prospecção
obteve 1,2 tonelada de biomassa seca de de microalgas quanto o levantamento de áreas
microalgas. O rendimento com o cultivo em improdutivas aptas à produção. A expectativa
água de produção de petróleo chegou a supe- da professora é começar a implantar os tanques
rar o de água salobra. para os experimentos em dois anos.
GANHANDO ESCALA
Universidades brasileiras testam a produção de microalgas fora dos laboratórios
E
m 2007, o neozelandês Yusuf Chisti publicou
um artigo em que afirmava que as microalgas
pareciam ser a única fonte capaz de atender à
demanda global do setor de transportes por biodiesel.
Ele comparava a extensão de terras necessária para
gerar matéria-prima que suprisse com biodiesel 50%
do consumo de combustíveis do setor de transportes
norte-americano. Se a fonte dos óleos fosse a soja, seria
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necessário cultivar com essa planta 326% a área agrícola
________________
dos Estados Unidos. Em contrapartida, se fossem utiliza-
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das as microalgas, não se ocupariam mais do que 2,5%.
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Contudo, fazer a produtividade surpreendente obser-
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vada em microalgas nas bancadas de laboratórios repe-
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tir-se em escalas maiores não é tarefa fácil – às vezes,
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nem possível. E, quando se fala em matéria-prima para
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biocombustíveis, a escala é de milhões de litros. Na vidra-
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ria dos laboratórios, as microalgas estão protegidas de
desafio___________________________________________
grandes variações de temperatura, pH e concentração
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de nutrientes, bem como da concorrência com outros
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microrganismos. Nos tanques a céu aberto, e mesmo nos
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sistemas fechados de cultivos, não há controle absoluto
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dessas condições e as algas gastam energia defendendo-
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-se, adaptando-se. Resultado: crescem menos.
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___
Nas universidades brasileiras, grupos estão tirando as
microalgas dos laboratórios e testando o comportamento
delas em condições mais próximas do que seria a produ-
ção em larga escala. Na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), a equipe do Laboratório de Cultivo de
Algas avalia o potencial das espécies em quatro etapas.
As três primeiras vão de 1 a 200 litros de cultivo e são
feitas em sistemas fechados com iluminação artificial,
água filtrada e injeção de CO2. São tratadas “a pão de
ló”, resume o professor __________________
Roberto Bianchini Derner.
___
Quando passam para a próxima etapa, em tanques
de até 10 mil litros, tudo muda. Um ponto crucial para
dar melhores condições de desenvolvimento aos cultivos
__________
é a inoculação – a colocação das primeiras determinada espécie pode acumular pouco
___________
cepas de microalgas no tanque para que se volume de óleo; no entanto, ao ser limitado
multipliquem e cresçam. “Se as trouxermos o fornecimento de um nutriente ou alterado o
de um cultivo fechado a 25 °C de temperatura pH, por exemplo, a situação muda. “O que dá
e passarmos para o exterior, com 35 °C, mui- certo em quase 100% das vezes é uma ques-
tas células já não resistirão a essa mudança”, tão nutricional. Ela precisa ter nitrogênio para
exemplifica Derner. É preciso, então, o cuidado
_____________ a produção de proteína. Quando a microalga
de escolher até o horário de inoculação. “Se o percebe que não vai mais crescer porque está
estresse começa no momento zero do cultivo, faltando nitrogênio, as células algais come-
a cultura não vai crescer.” çam a acumular compostos de reserva – pri-
Mas o estresse nem sempre é ruim para
_________________________ meiro carboidratos e, depois, lipídios”, conta
a produção de microalgas. Situações de o professor.
estresse, embora indesejadas no momento da
inoculação, podem ser a chave para fazê-las
Contaminação
produzir óleo com a qualidade e o perfil deseja- Como estratégia para evitar contaminação nos
dos. Derner conta que, em cultivos nos quais as tanques, a equipe da UFSC tem adotado um
condições estão plenamente favoráveis, uma sistema de cultivo semicontínuo, em que uma
parte da população de microalgas é retirada
em intervalos regulares de tempo, mas sempre
mantendo uma alta concentração delas, evi-
tando deixar espaço para que outros organis-
mos se proliferem demais. “De vez em quando
acontece (a contaminação com outros organis-
mos), mas é menos frequente quando a gente
toma esse cuidado”, diz Derner.
Na opinião do cientista, em produções de
larga escala, será muito difícil zerar a conta-
minação. “Eu acredito que, quando a gente
partir para a escala de centenas de milhares de
litros ou milhões de litros, vai ser quase impos-
sível ter uma espécie só num tanque”, antevê.
Foto: Roberto Bianchini Derner
avaliado.
Derner compartilha da visão de que a produ-
ção de biocombustíveis a partir de microalgas
só será viável junto com os coprodutos, além
dos coprocessos – tratamento de efluentes por
exemplo. Mas continua firme no propósito de
chegar à viabilidade econômica do biodiesel.
NAS ALTURAS
Fotobiorreator tubular da UFPR
alcança oito metros de altura
a ideia era que o prédio ganhasse autossufici- cultivo de microalgas. “A única forma de cres-
ência em energia, gerando biogás a partir dos cer microalgas em um pátio muito pequeno
resíduos do centro politécnico da Universidade. era com essa configuração”, afirma Mariano.
Logo se percebeu, contudo, que não haveria O projeto foi feito pelo professor José
volume de material para gerar biogás suficiente Vargas, engenheiro mecânico, usando a expe-
para manter toda a estrutura. riência que tinha com trocadores de calor. O
Nessa época, em 2007, as microalgas des- equipamento, que está patenteado no Brasil
pontaram como promessa de fonte abundante e nos Estados Unidos, já foi remodelado para
de biomassa para várias formas de energia — e uma estrutura modular. “A gente pegou um
o NPDEAS decidiu investir. O problema é que equipamento de pesquisa e transformou num
o único espaço disponível para uma eventual equipamento que a gente pode construir, colo-
instalação de tanques era apenas um pátio de car dentro de um container e mandar para qual-
400 m2. Foi então que o grupo, constituído por quer lugar do mundo. A pessoa abre o contai-
muitos engenheiros, concebeu essa estrutura, ner e monta o reator”, explica.
que ocupa apenas 10 m2, mas abriga 3,5 km Mariano afirma que o NPDEAS conseguiu
de tubos formando um sistema fechado de resolver alguns problemas e desconstruir
alguns mitos sobre o cultivo em sistemas obliquus. “É uma alga que está em Curitiba há
fechados. A alta concentração de microalgas muitos anos, adaptada”, relata Mariano.
e a tendência de elas “grudarem” nas paredes O grupo do NPDEAS começou a trabalhar
impede a passagem de luz – esse é um pro- com microalgas na ordem inversa à costu-
blema que o professor garante ter conseguido meira, iniciando pela produção em grande
resolver com a equipe. O grupo também está volume. Hoje, contudo, conta também com
trabalhando em processos para a retirada das um laboratório de microalgas e parcerias com
microalgas da água, utilizando operações uni- outros departamentos da Universidade, como
tárias acopladas, como floculação e centrifuga- os de Química e Biologia. Os estudos envolvem
ção. A automação do funcionamento é outro sequenciamento de DNA e estudo do metabo-
desafio que ocupa, agora, os professores e alu- lismo de microalgas, bem como a produção de
nos, todos trabalhando na evolução do reator. biocombustíveis a partir do óleo e da biomassa
A escolha da principal espécie de microalga delas. Para os trabalhos com biocombustíveis,
utilizada nas pesquisas do Núcleo também foi há parceria com a Peugeot.
quase casual. Durante um trabalho de acompa-
nhamento da variação da temperatura em um
Churrasco e microalgas
dos reatores, notou-se o aparecimento e o cres- Em 2010, o NPDEAS fez um projeto de foto-
cimento de uma microalga que não havia sido biorreator para atender uma churrascaria em
inserida ali intencionalmente — a Acutodesmus Curitiba. O restaurante procurava uma solu-
ção para acabar com o cheiro de churrasco,
que incomodava os vizinhos do restaurante.
Da saída da chaminé, tubos levavam a fumaça
Foto: www.npdeas.ufpr.br
ÓLEOS
VALIOSOS
Microalgas produzem lipídios em
abundância e ricos em Ômegas;
extraí-los, contudo, ainda é desafio
E
m 2024, o consumo mundial de óleos vege-
tais deve chegar a 210,4 milhões de toneladas.
Essa estimativa, feita pela Organização para o
Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE) e
a Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO/ONU), indica que a demanda será
17,6% maior do que foi em 2015. Microalgas podem
compor o pool de matérias-primas que vão suprir essa
demanda.
O primeiro ponto a favor delas é a produtividade,
maior do que a de qualquer espécie vegetal conhecida.
As estimativas mais modestas apontam que o rendimento
anual delas chegará a 20 mil litros de óleo por hectare. O
dendê, que abastece 50% do mercado mundial de óleos
e é considerado muito produtivo, atinge cerca de 6 mil
litros na mesma área. Para indústrias que exigem forneci-
mento em grandes volumes, como a de biocombustíveis,
essa característica das microalgas é uma grande vanta-
gem. Soma-se a isso a possibilidade de fornecimento
contínuo, independente de safra, outro benefício para
as processadoras.
Contudo, extrair o óleo das microalgas não é um
processo simples, carece ainda de tecnologia con-
Foto: pixabay.com/pt
organismos unicelulares e, portanto, todo o vêm sendo feitas mostram que o teor de áci-
óleo que armazenam está dentro dessa célula, dos graxos saturados e insaturados varia de
junto aos metabólitos que ela produz. “Com acordo com a espécie, conta a pesquisadora
certeza, para qualquer microalga, a purificação Itânia Pinheiro Soares. Nas linhagens analisa-
do óleo vai ser bem complexa, porque a gente das nesse centro de pesquisa, os insaturados
encontra nele muito mais ácidos orgânicos do têm correspondido a carotenoides precurso-
que em qualquer outro óleo”. res de Vitamina A e antioxidantes, produtos
De acordo com o professor da UFRJ, uma também muito valorizados.
alternativa que tem avançado para a extração As análises para determinação de perfil
_________________________________
do óleo é o uso de um equipamento comum de ácidos graxos para a produção de bio-
_________________________________
nos laticínios: o homogeneizador de leite. Ele diesel mostram que o biocombustível pode
aplica pulsos de pressão sobre a biomassa, o
_________________
ser obtido do óleo de microalgas. Contudo,
que gera o rompimento das células das micro- o alto valor agregado dos compostos encon-
algas. “A gente tem acompanhado por micros- trados no produto torna — pelo menos neste
copia e comprovado realmente o rompimento momento — ___________________________
o seu uso como matéria-prima
e o acesso ao interior célula”, conta. para biodiesel____________________
um "desperdício".
Os testes têm sido feitos em parceria com Na opinião do diretor-superintendente da
a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Associação dos Produtores de Biodiesel do
mostram-se promissores. A principal vanta- Brasil (Aprobio), Júlio César Minelli, esse é jus-
gem, de acordo com Aranda, é o baixo custo tamente um fator que pode dificultar a adoção
do processo, que já conta com equipamentos de óleo de microalgas como matéria-prima na
bem desenvolvidos e disponíveis no mercado. indústria de biodiesel. O executivo teme que
“Mas precisamos avançar um pouco mais, tal- aconteça algo semelhante ao que ocorreu com
vez adaptar um pouco esse homogeneizador, a mamona: depositou-se muita expectativa de
já que foi projetado para o leite”, comenta. que as usinas utilizassem o óleo da cultura
Não é só o volume de produção que chama na produção do biocombustível, o que pouco
a atenção nas microalgas. Elas são capazes de ocorreu por causa da alta valorização desse
gerar ácidos poli-insaturados do tipo Ômega 3 produto em outros mercados.
e Ômega 6, que chegam a custar 400 dólares Minelli pondera, contudo, que o segmento
o grama. Isso faz delas matérias-primas para está aberto a novas matérias-primas. Ter no
produtos com alto valor agregado, especial- óleo de soja mais de 70% de sua matéria-prima
mente suplementos alimentares. não é uma situação confortável para as indús-
Na Embrapa Agroenergia, a equipe da trias, que perdem poder de negociação de
área química tem trabalhado na adaptação e preço. “Se a microalga for viável, sustentável,
desenvolvimento de métodos para caracteri- tiver preço competitivo, com certeza, o setor
zação da biomassa de algas. As análises que vai utilizar”, adianta.
Pesquisa
TRATAMENTO
DE DEJETOS
SUÍNOS COM
MICROALGAS
Por: Lucas Scherer Cardoso, jornalista da Embrapa
Suínos e Aves
Alexandre Matthiensen
Pesquisa
uso animal, ou mesmo como fonte de biodie- no início. Pesquisas indicam que a produção
sel, nas espécies que produzem uma quanti- de biodiesel a partir de microalgas poderá, no
dade razoável de óleo. As microalgas são uma futuro, mudar o mercado de combustíveis. As
aposta para a oferta de biocombustíveis no microalgas possuem potencial de produção
futuro, pois apresentam algumas vantagens em de óleo muito superior, por área de cultivo, que
relação aos vegetais utilizados para a produção as culturas terrestres tradicionalmente utiliza-
de combustíveis, como o milho e a soja: cres- das na produção do biodiesel. Por exemplo,
cem mais rápido, não necessitam de grandes _________________________________
a soja produz de 0,2 a 0,4 toneladas de óleo
espaços para cultivo, não necessitam de terra por hectare; o óleo de palma produz de 3 a
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agricultável, ou seja, o seu cultivo não compete
____________________________ 6 toneladas de óleo por hectare. No mesmo
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com a área de produção de alimentos. hectare, estimativas sugerem uma produção de
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Ainda, algumas microalgas podem produ- 55 a 100 toneladas de óleo por uma microalga,
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zir moléculas que possuem função biologi- dependendo do percentual de óleo produzido.
camente ativa dentro das células, possuindo O crescimento das microalgas não é um
interesse da indústria farmacêutica, nutracêu- impeditivo à produção do biodiesel. Hoje em
tica e/ou cosmética para o desenvolvimento dia já existe o conhecimento de espécies de
de compostos bioativos de alto valor, que pos- microalgas capazes de produzir até 70% de
sam ser utilizados nos mais diversos campos seu peso em óleo; e o tipo de óleo produzido
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da indústria, como a extração de pigmentos também varia muito de espécie para espécie.
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antioxidantes. Porém ainda existem alguns entraves tecnoló-
Assim, após ser realizado o isolamento das gicos que precisam ser trabalhados para que a
microalgas e a manutenção de suas culturas produção de biodiesel por microalgas saia da
em laboratório, essas culturas são testadas fase experimental em que se encontra e atinja
em experimentos com modelos animais para o mercado em escala satisfatória. Basicamente,
avaliação de toxicidade e busca de indícios o óleo produzido pelas microalgas funciona
que possam levar ao desenvolvimento de com- como uma “substância de reserva” da célula.
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postos que poderão vir a ser, por exemplo, um
Assim, a célula de microalga produz mais óleo
novo antibiótico. _________________________________
quando as condições para seu crescimento
começam a ficar desfavoráveis. Ou seja,
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___________________________ quando a microalga produz mais óleo, ela dimi-
Elas crescem de forma uniforme e/ou
satisfatória para produzir biodiesel? _________________________________
___________________________ nui sua taxa de crescimento e reprodução. Há
Há grandes iniciativas de pesquisa e desenvol- iniciativas metodológicas para se disparar um
vimento de instituições brasileiras e do exterior “gatilho ambiental” que aumente a produção
que atuam na produção de biodiesel a partir de óleo nas células, mas nem todas as micro-
de microalgas, mas os resultados estão apenas algas respondem do mesmo jeito.
O que impede o uso das microalgas em maior risco de contaminação e perda de todo
larga escala? o trabalho. O escalonamento da produção de
As microalgas podem ser produzidas em dois microalgas se mostra um problema a ser resol-
tipos de reatores: fechados ou abertos. Os vido. Quando em pequena escala, em nível de
reatores fechados fornecem condições mais bancada laboratorial, onde as condições de
precisas de controle ambiental e menor risco cultura (como temperatura, concentração de
de contaminação por bactérias ou microalgas nutrientes do meio, luminosidade, etc.) são as
de outras espécies, porém possuem custos ideais para aquela determinada espécie, as
muito elevados. Os reatores abertos são mais microalgas crescem muito bem e a produção
viáveis financeiramente, mas reduzem muito as é muito promissora. À medida que se aumenta
condições de controle das culturas, além de ter a escala do cultivo, e o volume de produção
Pesquisa
Quais as possíveis soluções para esses Quais empresas e países estão mais
problemas? avançados com relação a essa tecnologia
___________________________
A seleção de espécies mais robustas e resis- e o que podemos fazer para alavancar as
tentes à contaminação é uma possível solução.
___________________________ microalgas aqui no Brasil?
Hoje em dia há trabalhos com manipulação
genética de microalgas para selecionar genes _________________________________
As tecnologias envolvendo tanto a seleção
de resistência que resultem em diminuição dos _________________________________
das espécies de microalgas, quanto os sis-
riscos de contaminação. Ao mesmo tempo, temas de cultivo, colheita e processamento
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sistemas de cultivos semifechados, com con- das microalgas ainda são tratadas como
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trole parcial das variáveis ambientais, podem segredo pela grande maioria das empresas
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conferir situações de menor risco nas etapas envolvidas no setor. Essas empresas envol-
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de escalonamento. A busca por meios de cul- vem grandes nomes como: TerraVia, A2BE
tura alternativos e mais baratos para produção Carbon Capture, Sapphire Energy, Aurora
em larga escala deve ser considerada. Depois Algae e Algenol. Mesmo a Petrobras, por
que o sistema de produção foi definido e meio do programa de Redes Temáticas, tem
apoiado projetos de pesquisa com microal- biodiesel, e na busca por compostos bioa-
gas desde 2006. Assim, é consenso o cres- tivos, etc.
cente interesse desse segmento de mer- Outro esforço da Embrapa volta-se para
cado, tendo em vista a grande diversidade a formação de um banco de germoplasma
de opções de direcionamento dos produtos com as espécies de microalgas existen-
derivados da biomassa produzida. tes no Brasil. A Embrapa Agroenergia, de
Em relação à produção conjunta com a Brasília, DF, em colaboração com as demais
suinocultura, a Embrapa segue realizando unidades da Embrapa, mantém um banco
pesquisas para avaliação de arranjos tec- de culturas de microalgas coletadas nos
nológicos com maior eficiência na remoção mais diversos biomas brasileiros, desde
de nutrientes dos efluentes da suinocultura, a Amazônia até os pampas, funcionando
bem como direcionando a biomassa pro- como uma coleção de microalgas disponí-
duzida para diferentes usos, como nutrição vel para a realização de novas pesquisas
animal, biofertilizantes, geração de biogás, nessas áreas.
MICROALGAS EM
EFLUENTES DAS CADEIAS
DE BIOCOMBUSTÍVEIS
Projetos de pesquisa da Embrapa utilizam
vinhaça e Pome como meio de cultivo
I
ntegrar as microalgas às cadeias de pro- ________________________
cultivo, as microalgas o utilizam na fotossín-
dução de biocombustíveis está no hori- tese, promovendo a biofixação e reduzindo a
zonte das ações da Embrapa Agroenergia. quantidade lançada na atmosfera. Vale lembrar
A integração está no cerne das ações de _________________________
que o CO2 é um dos principais causadores do
pesquisa, primeiramente, porque um dos obje- efeito estufa e, por isso, organizações e polí-
tivos é desenvolver tecnologias de cultivo que ticas internacionais têm cobrado a redução
gerem biomassa para a produção de biodie- de suas emissões. As indústrias ganhariam,
sel, bioquerosene de aviação ou etanol. Além com isso, mais uma possibilidade de utiliza-
__________________________
disso, os estudos buscam espécies e siste- ção da vinhaça, gerando um produto com alto
mas de produção eficientes na utilização de valor agregado potencial, já que as microalgas
efluentes de indústrias agroenergéticas como
__________________________ podem ser destinadas não só ao mercado de
_________________________
meio cultivo. É o caso da vinhaça, resíduo das combustíveis, mas também aos de nutrição
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usinas sucroalcooleiras, e do Pome (palm oil humana e animal, cosméticos e higiene pes-
mill efluente), resultante do processamento da soal. Ao mesmo tempo, é uma ferramenta para
palma-de-óleo (dendê). melhorar os indicadores ambientais, graças
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A vinhaça é rica em Nitrogênio, Fósforo ao aproveitamento de resíduos e à biofixação
e Potássio (NPK) – nutrientes tão essenciais de CO2.
para as microalgas quanto para as plantas. Utilizar a vinhaça como meio de cultivo
Atualmente, é utilizada na fertirrigação dos para microalgas, contudo, tem seus desafios,
canaviais, mas o volume disponível é muito explica o pesquisador Bruno Brasil, da Embrapa
grande: a cada litro de etanol produzido, são Agroenergia. Se, por um lado, a concentração
gerados 10 a 12 litros do efluente. Outro resí- de nutrientes favorece o crescimento dos orga-
duo das usinas sucroalcooleiras que pode ser nismos, por outro, a coloração escura dificulta
aproveitado é o gás carbônico (CO2) elimi- a passagem de luz, sem a qual não há fotossín-
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nado na fermentação. Injetado nos tanques de tese. Para minimizar esse problema, a equipe
Biomas brasileiros
O trabalho começou com a prospec-
ção. Equipes coletaram amostras
em corpos d’água de três biomas
brasileiros — Amazônia, Cerrado
e Pantanal —, além de efluentes e
esgoto rural. Isso gerou uma cole-
ção com mais de 100 cepas, entre
as quais foram detectadas pelos
menos três novas espécies.
Buscando microalgas capazes
de crescer em vinhaça, o grupo de
pesquisadores identificou duas com
maior potencial, realizando testes
em fotobiorreatores. As espécies
A coloração escura da vinhaça é um dos
são mixotróficas, ou seja, realizam
desafios para o cultivo de microalgas
fotossíntese, mas também utilizam
a carga de material orgânico do
efluente para crescer, principal- para a produção de etanol do que de biodiesel,
mente o glicerol. quando o assunto é biocombustíveis. Podem
A análise dos componentes da biomassa ser adequadas, ainda, para ração animal.
delas indica maior concentração de carboidra- Mesmo utilizando a vinhaça como fonte
tos (amidos) e proteínas do que de lipídeos e de nutrientes, essas duas espécies pouco
carotenoides, o que as torna mais adequadas reduzem a carga de matéria orgânica que ela
MICROALGAS
CONTRA A GRIPE
Cientistas investigam compostos que possam
combater doenças por novas vias
Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia
Foto: pixabay.com/pt
A
Fiocruz está buscando, nas interessante para ter uma gama maior de
microalgas, novos agentes con- medicamentos que atuem contra um vírus
tra o vírus da influenza A, cau- que tem potencial pandêmico”, completa.
sador da gripe. No Laboratório de Vírus Embora a literatura científica ainda não
Respiratório e Sarampo da instituição, registre atividade de microalgas especifica-
no Rio de Janeiro, RJ, foram testados, mente contra o vírus da influenza, já foram
até o momento, extratos de 40 espécies identificadas cepas com atuação sobre
de microalgas. Desses, três mostraram outros, como o da herpes. Compostos
ação sobre o vírus e, mais do que isso, com aplicações diferentes na área da
dois parecem deter o ciclo reprodutivo saúde, como antitumorais e anti-hiperten-
do agente patológico por caminhos dife- sivos, também já foram encontrados nesse
rentes do que faz o principal fármaco uti- organismo. Na verdade, lembra Milene, as
lizado hoje para combater a doença. atividades biológicas das microalgas ainda
A bióloga Milene Dias Miranda, que foram pouco exploradas. Mesmo assim, já
está à frente desse trabalho na Fiocruz, há cerca de 15 mil moléculas identificadas
explica que esse fármaco, o oseltamivir, no metabolismo desses organismos. Com
tem origem sintética e atua sobre uma a imensidão de espécies ainda não carac-
enzima do vírus chamada neuraminidase. terizadas, o potencial de descobrir nelas
Ela tem papel vital na dispersão do vírus, muitos outros compostos com aplicações
tanto pelas vias respiratórias do paciente diversas é também gigante.
quanto pelo ar, modo como contamina O trabalho na Fiocruz começa com a
outras pessoas. coleta de amostras de vários ambientes,
Há duas principais motivações para a separação das microalgas e preparo de
busca por novos compostos capazes de extratos a partir delas, o que está sendo
combater a gripe. A primeira é a resistência feito pela Universidade Federal do Rio de
ao oseltamivir que algumas linhagens do Janeiro, em duas unidades parceiras do
NEGÓCIO INOVADOR
Empresa com origem norte-americana forma joint venture para
operar no Brasil, acoplada à indústria da cana-de-açúcar
D
o Vale do Silício, região da Califórnia, dentro de castanheiras na Alemanha e alimentam-
Estados Unidos, que virou símbolo de -se dos açúcares contidos na seiva dessa árvore.
inovação em informática e eletrônica, Não têm o verde característico da maior parte das
surgiu uma empresa também inovadora, que microalgas; são naturalmente brancas.
tem nas microalgas a base de todo o seu negó- Nas unidades de produção da TerraVia,
cio. Com um modelo de cultivo que necessita são cultivadas em tanques fechados de fer-
de açúcar como insumo, a TerraVia — que se mentação. “A fermentação ajuda a acelerar
chamava Solazyme até março de 2016 — ins- os processos biológicos naturais das micro-
talou sua unidade de produção no Brasil, junto algas, permitindo que se produzam grandes
a uma usina sucroalcooleira, numa joint venture quantidades de um determinado produto em
com a Bunge. uma questão de dias”, afirma o presidente da
O açúcar é a principal fonte de carbono para joint venture formada com a Bunge, Walfredo
as espécies de microalgas utilizadas pela compa- Linhares. De acordo com o executivo, a efici-
nhia, que não realizam fotossíntese e, portanto, ência do ambiente de produção compensa o
não necessitam de luz. Na natureza, elas vivem custo do açúcar.
Óleos com diferentes aplicações constituem peixes. Em março de 2016, a TerraVia anunciou
o produto que a empresa oferece ao mercado. a assinatura de um acordo de cinco anos com
A TerraVia afirma que a emissão de gases de a Unilever para fornecimento de óleos para pro-
efeito estufa de seus óleos “é menor do que dutos de cuidados pessoais. A multinacional,
quase todos os outros principais óleos vegetais contudo, já vem utilizando os insumos deriva-
comercialmente disponíveis”, mesmo conside- dos de algas desde 2014. Tanto o Ômega-3
rando o uso da terra para o cultivo da cana que para ração animal quanto os óleos para a
vai gerar o açúcar utilizado no cultivo. Uma das Unilever estão saindo da unidade de produção
razões apontadas para justificar esse resultado conjunta com a Bunge, em Orindiúva, SP. Em
é a relação óleo/hectare utilizado, semelhante à agosto, quem anunciou parceria com a Terravia
do óleo de palma (dendê) e muito acima dos de foi a Nestlé, para incluir ingredientes ricos em
soja, girassol e canola. Outros motivos seriam Ômega-3 em produtos para o mercado pet.
a baixa pegada de carbono da cana-de-açúcar Mesmo tendo se desvinculado do mer-
e a autossuficiência em energia tanto da usina cado de biocombustíveis, a TerraVia continua
quanto da unidade de produção dos óleos a par- atrelando seus negócios à sustentabilidade.
tir de microalgas, graças à queima do bagaço. Walfredo Linhares acredita que os compromis-
O diesel e o combustível de aviação obtidos sos assumidos no Acordo de Paris vão fomen-
a partir do óleo de microalgas, o Soladiesel tar os negócios da companhia. “Já estamos
e o Solajet, eram destaque entre os produtos observando uma crescente consciência por
oferecidos pela tecnologia da empresa até o parte da indústria e consumidores da importân-
início deste ano. A mudança de nome da com- cia de se investir em soluções inovadoras para
panhia marcou a colocação em segundo plano ajudar a enfrentar os desafios globais. Hoje,
do mercado de biocombustíveis e o foco em o mundo depende de óleos. Com uma popu-
alimentos, rações e cosméticos. “Esses mer- lação global prevista para chegar a 9 bilhões
cados podem se tornar maiores e rentáveis em 2050, precisamos encontrar soluções para
no futuro e ainda são ativos valiosos para nós. produzir comida, combustíveis, roupas e outros
Porém, com os níveis de preços atuais do barril produtos em quantidade suficiente para aten-
de petróleo, combustíveis nesse momento não der a essa demanda”, comenta.
são o principal driver econômico para nós. A
Solazyme fez recentemente uma transição e
tornou-se TerraVia para focar exclusivamente
em alimentos, nutrição animal e ingredientes
Foto: Divulgação TerraVia
MICROALGAS NOS
CREMES DA NATURA
Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia
Quais os principais óleos que devem ser os pequenos ajustes necessários para conse-
substituídos e em quais tipos de produtos? guir melhoria de performance e eficácia nos
A gama de aplicação dos óleos de microalgas produtos sem comprometer ganhos ambien-
hoje na Natura está focada em produtos de tais e financeiros. Outro desafio é comunicar
cuidados pessoais como emolientes (cremes e ao consumidor final, de forma clara, toda tec-
loções). Os critérios escolhidos para substitui- nologia e inovação que está por trás dessas
ção baseiam-se nos quesitos que direcionam matérias-primas.
a inovação na Natura: sustentabilidade (óleos
Além do óleo, a empresa tem projetos para
que apresentem menor impacto ambiental,
utilização de outros insumos derivados de
como menor emissão de CO2 e menor con-
microalgas?
sumo de água na produção), viabilidade eco-
Não. Atualmente temos projetos para estudo
nômica e melhor performance.
apenas de óleos que apresentam cadeias gra-
Os óleos de microalgas também apresentam
xas diferenciadas que possam trazer benefícios
benefícios em relação à sazonalidade e repro-
reais aos consumidores finais.
dutibilidade de composição e rastreabilidade
de cadeia. Utilizando a microalga como uma
Que avanços nas pesquisas com produção
biofábrica, podemos ter sempre óleos com
de microalgas entende serem necessários
baixo desvio de qualidade e especificação e
para o mercado de cosméticos e higiene
com origem comprovada.
pessoal?
Seria interessante ouvir as necessidades dos
Já há produtos da empresa no mercado
consumidores finais e procurar entender como
com óleos de microalgas na composição?
entregar cada vez mais tecnologias sustentá-
Sim. No portfólio atual da Natura, óleos de
veis acessíveis a todos. Utilizando-se uma bio-
microalgas estão inseridos em produtos das
fábrica (microalga), é possível produzir uma
linhas TodoDia e Chronos.
gama variada de matérias-primas que mime-
Do ponto de vista das características tizam óleos encontrados na natureza. Utilizar
dos óleos, quais acredita que são a natureza como inspiração para criação de
vantajosas à produção de cosméticos? óleos de oleaginosas de difícil cultivo e que
E quais constituem desafio para o possam trazer benefícios reais aos consumi-
desenvolvimento de produtos? dores seria um desafio para essa área.
Além de promover melhorias das caracterís-
ticas sensoriais dos produtos, alguns deles
apresentam outros benefícios atualmente em
estudo na Natura. Para a área de desenvolvi-
mento de produtos, os maiores desafios são
UMA STARTUP NO
MERCADO BRASILEIRO
DE MICROALGAS
Algae Biotecnologia investe principalmente no tratamento de efluentes
Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia, e Elvis Costa, estagiário de jornalismo
E
m 2009, quando o engenheiro agrô- efluente muito abundante no Brasil: a vinhaça
nomo Sergio Goldemberg batia à porta gerada nas usinas de açúcar e álcool. O fator
das empresas e começava a apresen- motivador desse projeto e da própria criação
tar seus projetos com microalgas, a reação dos da startup era a geração de óleo de microalgas
interlocutores era a de quem estava ouvindo para servir de matéria-prima na produção de
falar de ETs. Sete anos depois, o cenário biodiesel. “Em 2008, estava muito animado
mudou. Quando chega às empresas, quem o para iniciar alguma atividade relacionada à
recebe já leu um artigo, viu uma reportagem, cadeia de produção do biodiesel, embora
tem algum conhecimento sobre o assunto. não soubesse exatamente o quê”, conta o
Melhor do que isso, a startup fundada por empresário.
ele no Parque Tecnológico de Piracicaba, SP, O uso da vinhaça como meio de cultivo
a Algae Biotecnologia, já começa a ser pro- para microalgas obteve bons resultados em
curada por empresários, principalmente em laboratório e continua no portfólio da empresa,
busca de soluções para tratamento de efluen- que busca agora a parceria de uma indústria
tes baseada em microalgas. do setor sucroenergético para iniciar o esca-
O primeiro projeto da Algae consistia justa- lonamento. Em contrapartida, a produção de
mente no cultivo de microalgas utilizando um óleo de microalgas como matéria-prima para
biodiesel deixou de ser foco da Algae. Na visão principais projetos. Um deles, com uma indús-
de Goldemberg, a inserção de microalgas no tria de bebidas de Piracicaba, SP, deve entrar
mercado de biocombustíveis exige projetos em testes de escala piloto.
de médio e longo prazo e investimentos finan- O que está mais avançado é a iniciativa
ceiros muito altos. “Se a gente fosse apostar com a fabricante de cimentos Intercement. A
somente em biocombustíveis, precisaria de um estratégia aqui é utilizar as microalgas para
dinheiro que não tinha”, explica. biofixar o grande volume de CO2 gerado
Não só a Algae, mas outras empresas ao nesse segmento industrial. Nos laboratórios
redor do mundo redirecionaram seus negó- da Universidade Federal de São Carlos e da
cios com microalgas para outras aplicações. Universidade Federal de Santa Maria já foram
No caso da startup brasileira, o tratamento de selecionadas cepas capazes de consumir o
efluentes e emissões hoje está no centro dos gás de combustão dos fornos da cimenteira.
conhecimento”.
CAPTURA DE CARBONO
Indústria de cimento busca nas microalgas
solução para reduzir emissões
A
alta capacidade das microalgas de combustão dos fornos em tanques com micro-
fixar CO2 pode ser uma alternativa algas, de forma que elas absorvam o Carbono,
de redução de emissões para seg- evitando as emissões. A iniciativa é feita em
mentos da economia nos quais a formação conjunto com a empresa Algae, além de contar
do gás é parte do sistema produtivo. É no com a parceria das universidades federais do
que está apostando a Intercement, indústria Ceará, de Santa Maria e de São Carlos.
brasileira que ocupa a segunda posição no Um dos desafios é fazer as microalgas cres-
mercado nacional de cimento e detém a lide- cerem utilizando, em vez do CO2 puro, o gás de
rança em Portugal, Argentina, Cabo Verde e combustão, que contém também vapor d’água
Moçambique. e outros elementos químicos. Para tanto, um
Muitos segmentos têm conseguido reduzir dos trabalhos foi a busca de espécies capazes
as emissões de CO2 tornando mais eficiente o de utilizar esse insumo no crescimento que já
processo de produção ou substituindo fontes habitassem as regiões em que as fábricas da
fósseis de energia por renováveis. Contudo, empresa estão instaladas. A preocupação é
nas cimenteiras, apenas 1/3 das emissões vêm evitar um problema ambiental, caso aconteça
do gasto energético. O gás associado ao efeito um vazamento de tanque contendo linhagens
estufa vem principalmente da reação química de microalgas exóticas.
que gera o clinquer, matéria-prima que dá ori- A equipe do projeto também está avaliando
gem ao cimento. “Na indústria de cimento, o a melhor configuração dos tanques, bem como
CO2 não é um problema de ineficiência, é um o arranjo de mais de um tipo deles nas plan-
problema de química”, explica o diretor de tas industriais em que forem colocados. Já há
inovação e sustentabilidade da Intercement, uma instalação piloto no Parque Tecnológico
Adriano Nunes. de Piracicaba, SP, onde está a Algae, e a previ-
Uma vez que a possibilidade de reduzir são é que uma unidade acoplada a um parque
a formação do CO2 é limitada, a solução é fabril da Intercement entre em operação até o
investir em formas de evitar que ele chegue à início de 2017. “Hoje nós estamos seguros de
atmosfera. É aí que entram as microalgas. O que temos uma tecnologia bem diferente da
projeto da indústria prevê a injeção do gás de que está por aí”, diz Nunes.
NORDESTE JÁ PRODUZ
CIANOBACTÉRIAS
Spirulina cultivada na Paraíba e no Ceará atende
mercados de alimentação humana e animal
Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia, e Elvis Costa, estagiário de jornalismo
C
ianobactérias já são produzidas e necessitam de tempo para se adaptarem.
comercializadas no Brasil, inclusive “Muitos projetos não vão pra frente porque
como alimento ou suplemento ali- as microalgas precisam de um tempo para
mentar humano. Só que os usuários a conhe- se adaptar. Nós trabalhamos com os reatores
cem como spirulina, que é também o nome abertos. Elas se adaptaram ao nosso cultivo,
do gênero das espécies mais cultivadas. A mas ao longo desse processo, a gente foi
Fazenda Tamanduá, no sertão da Paraíba, vendo as necessidades e o que poderíamos
começou a atuar nesse segmento há 13 anos fazer para que elas adquirissem uma resistên-
e foi a primeira a obter registro da Agência cia maior e, com isso, nós aprendemos a tra-
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para balhar com ela”, lembra.
oferecer o produto como alimento. Para que esses microrganismos produzam
A produção começou de olho no mercado bem é necessário cuidado diário por pessoas
de rações para animais, mas logo migrou para capacitadas para observar os tanques, identi-
a alimentação humana. Acostumada a atuar ficar problemas e tomar decisões. “Não dá pra
em nichos de mercado, a empresa foi além e você medir o pH seis vezes por dia em todos os
investiu no cultivo orgânico da spirulina, que é tanques, mas tem que passar ali, bater o olho e
comercializada em cápsulas ou em pó, princi- ver se está com algum problema. Só quando é
palmente em lojas especializadas em produtos um problema que você não sabe o que aconte-
com apelo de benefícios nutricionais. “Eu tomo ceu é que vamos para a parte bioquímica e, na
spirulina e acho um produto maravilhoso: há bancada de pesquisa, analisamos o que está
oito anos, não sei o que é uma gripe. Não é acontecendo”, explica.
um milagre, mas se você toma todos os dias
vai sentir uma melhora na sua saúde, pele,
Orgânico
cabelo”, testemunha o biotecnólogo José Além da adaptação, também foram necessá-
Franciraldo de Lima, responsável técnico pela rios anos para desenvolver um hidrolisado à
produção. base de soja, para tornar o cultivo orgânico e
No município de Santa Terezinha, PB, onde certificado. Essa ração tem que passar por um
está a Fazenda Tamanduá, as cianobactérias tratamento, por dias, até que se chegue aos
encontram condições favoráveis: dias longos, nutrientes ideais. A Fazenda Tamanduá possui
alta insolação e poucas chuvas. Isso permite 19 tanques, sendo 7 com capacidade de 25 mil
que os tanques utilizados sejam 50% mais pro- litros, 12 de 10 mil e 3 de 500 mil. Estes últimos
fundos do que em outras localidades. foram instalados recentemente e ainda estão
Relatando a experiência da empresa, Lima em fase de adaptação.
mostra que paciência e observação são essen- A colheita é feita por filtragem, processo em
ciais para cultivos comerciais de microalgas e que uma tela é usada para separar a spiru-
cianobactérias. No início, os microrganismos lina da água. Essa etapa também precisa de
U
ma das dez maiores empresas do proporciona à saúde humana. “O pet é um
mundo em nutrição animal, a All membro da família”, lembra o gerente-técnico
Tech, está produzindo rações à base da empresa, Fernando Rutz.
de microalgas em sua maior unidade fabril, O produto também já está sendo inserido
em Kentucky, nos Estados Unidos. No site na criação comercial de animais, começando
da companhia, o conteúdo sobre essa plata- pela piscicultura. Rutz diz que a ração à base
forma de trabalho está sob a aba “Futuro da de microalgas pode compor a alimentação de
Agricultura”. O produto, contudo, já está pre- qualquer espécie, com impactos na saúde dos
sente nos Estados Unidos, na Europa, na China animais e na composição dos produtos deles
e na América do Sul. obtidos. É das algas que os peixes obtêm o
No Brasil, o produto foi introduzido há quase Ômega 3, que os torna alimentos tão associa-
dois anos pela All Tech, primeiramente no dos à boa alimentação.
mercado pet. Rica em Ômega 3, a ração atrai De acordo com o gerente-técnico da
pessoas que buscam para animais de estima- empresa, estudos mostram que introduzir
ção os mesmos benefícios que o composto rações à base de microalgas na dieta dos