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Resumo:
A gestão de projetos tem se apresentado como uma importante teoria no ambiente
empresarial, auxiliando os gestores na forma de como atingir os objetivos organizacionais.
Estudar o desenvolvimento da gestão de projetos proporciona um maior conhecimento das
ferramentas e práticas, assim como permite o entendimento e acompanhamento das novas
tendências. Desta forma, o presente artigo relata o desenvolvimento da gestão de projetos ao
longo do tempo e comenta, também, duas tendências em crescimento, os métodos ágeis e a
ênfase na gestão de portfolio de projetos. O trabalho se desenvolveu a partir de uma pesquisa
exploratória-descritiva, ao levantar e relatar informações históricas e marcos na gestão de
projetos. Conclui-se que as tendências do novo século trarão grandes contribuições e
alternativas às formas de gestão de projetos tradicionais.
1. Introdução
O tema gestão de projetos não é um assunto novo, visto que desde a construção das pirâmides
no Egito e das muralhas na China encontram-se vestígios do gerenciamento empírico de
projetos.
A gestão de projetos pode ser aplicada aos mais diversos tipos de organização, desde
organizações individuais e microempresas, passando por organizações sem fins lucrativos,
chegando até grandes grupos multinacionais. Praticamente tudo no ambiente organizacional
pode ser tratado através da gestão de projetos como, por exemplo, a elaboração de um
documento para compra de um insumo, a implantação de um novo processo de produção ou a
obtenção da certificação ISO 9001. A gestão de projetos permite, ainda, que a organização
alcance objetivos e busque novos patamares de indicadores e melhores resultados em seus
processos e produtos.
Soderlund e Lenfle (2013) colocam que estudar as práticas de projetos do passado e seu
desenvolvimento, poderia apoiar no enfrentamento dos desafios encontrados atualmente,
permitindo, assim, uma visão mais ampla das práticas da gestão de projetos. Kerzner (2009)
comenta que é interessante traçar a evolução e o crescimento do gerenciamento de projetos
desde os primeiros dias da gestão de sistemas até o que algumas pessoas chamam de
"gerenciamento de projetos moderno".
Este artigo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa, pois considera que há uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo
objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. (TURRIONI E
MELLO, 2012) Quanto aos objetivos, a pesquisa se apresentou como exploratória e descritiva
à medida que visou levantar informações históricas para a compreensão de como se
desenvolveu a gestão de projetos do passado até os tempos atuais.
A partir da definição do que é projeto, o gerenciamento de projetos pode ser definido como a
aplicação de conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto a fim
de atender aos seus requisitos (PMI 2008). A OGC (2009) define gestão de projetos como o
planejamento, delegação, monitoramento e controle de todos os aspectos do projeto, bem
como a motivação dos envolvidos para atingir os objetivos do projeto dentro das metas de
desempenho esperadas de tempo, custo, qualidade, escopo, riscos e benefícios.
A gestão de projetos não é uma ciência nova. Desde o inicio da existência humana verifica-se
indícios de planejamento e organização de recursos para o alcance de algum objetivo. Deve-se
reconhecer a história dos projetos e a sua incorporação aos aspectos organizacionais
permitindo, por exemplo, comparar o histórico de projetos consecutivos, ou a comparação
transversal de projetos simultâneos. Estudantes de gerenciamento de projetos devem ter em
mente que cada projeto isoladamente estudado constitui apenas um caso em muitos diferentes
projetos, atividades, empreendimentos, empresas, problemas, decisões e soluções que passam
progressivamente através da sua história e seu contexto organizacional. (ENGWALL, 2003)
Voltando à antiguidade, relatos demonstram vestígios do gerenciamento de projetos arcaico e
princípios de engenharia básica. Exemplos clássicos estão nas pirâmides do Egito (2500 a.c),
Muralha da China (220 a.c) e o Coliseu de Roma (70 a.c). Diversas técnicas sofisticadas de
engenharia e gestão eram aplicadas como, por exemplo, para a construção de sistemas de
esgoto e irrigação, embarcações, canais, palácios e templos. (CLELAND e IRELAND, 2007;
DINSMORE et al, 2009; VALLE et al., 2010).
Os vestígios de gerenciamento de projetos encontrados no império romano há mais de dois
mil anos apresentam muitas características da atualidade. De lá pra cá pouca coisa mudou. No
entanto, em termos de como esses processos eram executados, as mudanças foram radicais e
significativas. Muitas das mudanças relativas à forma como os processos de gerenciamento
de projetos estão evoluindo ao longo do tempo são causadas, principalmente, pelas mudanças
tecnológicas e culturais, com o maior uso de ferramentas para a otimização, planejamento,
monitoramento e controle. As técnicas de gestão de projetos reconhecidas atualmente
apareceram a partir do século XX. Dentre elas, cita-se a gestão de aquisições e contratações,
liderança e resolução de conflitos, que trouxeram melhorias nas entregas dos projetos.
(WALKER e DART, 2011)
Foi a partir da revolução industrial, no século XVIII, que o uso de técnicas gerenciais, de
forma empírica, passou a ser conhecido por um seleto grupo de profissionais, tais como os
construtores de estradas de ferro e navios. (PRADO, 2011). Soderlund e Lenfle (2013)
comentam que a história da gestão de projetos é uma mistura entre a história dos negócios e
história da gestão. Garel (2013) afirma que por volta de 1765 a França utilizava técnicas
associadas à gestão de projetos para racionalizar ferramentas e máquinas na construção de
prédios e navios.
O gerenciamento de projetos se desenvolveu em conjunto com as técnicas de gestão
organizacional apresentadas por Taylor, que em 1895 apresentou à sociedade o que é
considerado o primeiro trabalho da administração cientifica e se tratava de um método para
administrar o tempo das tarefas, controlando, assim, seu tempo e seu custo. Maximiano
(2007)
A Program Evaluation and Review Technique (PERT) visa estimar prazos a partir de três
durações em diferentes cenários. A técnica dispõe de uma fórmula onde é possível obter uma
duração mais próxima do que será realizado. Já o Critical Path Method ou Método do
Caminho Crítico (CPM) é uma forma de representar o projeto em uma rede com atividades
associadas através de flechas, objetivando determinar caminhos com menor folga e que
tomará maior tempo para sair do início até chegar ao fim do cronograma (NOVAIS et al.,
2011).
A PERT ou seja, Técnica de Programa, Revisão e Avaliação foi desenvolvida pela Marinha
americana, com cooperação das consultorias Booz-Allen Hamilton e da Lockheed
Corporation para o projeto do míssil/submarino Polaris, em 1958. (MEREDITH e MANTEL
2003; KERZNER 2009; GAREL 2013).
O Projeto Polaris da Marinha dos EUA é um dos projetos mais lendários do século XX. Em
1957, foi dada a ele a mais alta prioridade nacional possível, a fim de fechar a suposta "lacuna
de mísseis" entre os EUA e a União Soviética. Sua gestão enfrentou uma tarefa extraordinária.
O escopo foi desenvolver e implantar os submarinos da frota transportando mísseis nucleares
intercontinentais o mais rápido possível.
Kerzner (2009) coloca que mais ou menos ao mesmo tempo em que a PERT se desenvolvia, a
DuPont Company iniciou uma técnica semelhante conhecida como o método do caminho
crítico (CPM - critical path Method), que também se espalhou, e está particularmente
concentrado nas indústrias de construção e processos industriais. Valle et al. (2010) coloca
que os métodos PERT (program evaluation and review technique) e CPM (critical path
Method) com o passar do tempo se fundiram passando a se chamar PERT/CPM.
Figura 2 – Exemplo de aplicação do método PERT/CPM
Cleland e Ireland (2007) afirmam que o gerenciamento de projetos, durante sua evolução,
trouxe mudanças como:
− Constitui um meio de delegar autoridade e responsabilidade para o gerenciamento dos
recursos dos projetos;
− Provê uma alternativa estratégica para o atendimento de problemas emergenciais
visando o uso de equipes alternativas na administração operacional e estratégica da
organização.
− Testou e instituiu a legitimidade da dimensão horizontal nas organizações
contemporâneas.
− Definiu o conceito de influencia dos interessados no projeto, e a importância de
gerenciá-los ao longo do projeto.
− Criou e definiu uma nova carreira para gerentes e profissionais.
De acordo com Highsmith e Cockburn (2001) a estratégia dos métodos ágeis é reduzir o custo
de mudança ao longo de um projeto. Algumas características dessa metodologia são:
− Produzir a primeira entrega em semanas, para conseguir uma ganho antecipado e obter
um feedback rápido;
− Inventar soluções simples, para que haja menos mudanças e fazer com que essas
mudanças sejam mais fáceis;
− Melhorar a qualidade do projeto continuamente, fazendo com que os próximos passos
sejam menos dispendiosos de implementar; e
− Testar constantemente, pois quanto mais cedo ocorrer à detecção do defeito menos
dispendioso será para possíveis ações corretivas.
Stare (2014) ressalta que é importante reconhecer que a metodologia ágil, antes de tudo, se
concentra na fase de execução de um projeto e não define todo o ciclo de vida do projeto, que
em princípio permanece o mesmo (iniciação, planejamento, execução e fechamento), com
exceção da última parte da iniciação, a definição de especificações, e a parte do planejamento
que são transferidas para a fase de execução. A metodologia afeta principalmente a precisão
do planejamento, sendo necessária a definição de uma programação intensa para todo o início
do projeto, enquanto as iterações individuais são planejadas com mais detalhes na fase de
execução (por exemplo, táticas, tarefas, horas de trabalho, operadores etc.).
Outro fator importante a ser considerado é que equipes de desenvolvimento ágeis concentram
na competência individual como fator crítico em projetos de sucesso. Se as pessoas
envolvidas no projeto são boas o suficiente, elas podem aproveitar quase todo o processo e
realizar sua missão. Se elas não são boas o suficiente, nenhum processo irá reparar sua
inadequação. Sendo assim, o desenvolvimento ágil foca nos talentos e habilidades dos
indivíduos, e molda o processo para especificar pessoas e equipes, não o contrário.
Pode-se concluir que a metodologia ágil é sobre como criar e responder à mudança. O que há
de novo sobre métodos ágeis não são as práticas que eles usam, mas o seu reconhecimento das
pessoas como os principais impulsionadores do sucesso do projeto, juntamente com um
intenso foco na eficácia e capacidade de mudanças. Isso gera uma nova combinação de
valores e princípios que definem uma "ágil" visão de mundo. (COKBURN e HIGHSMITH,
2001).
4.2 Gestão de portfólio de projetos
É importante considerar que um fator chave na gestão de portfólio é o gerente. De acordo com
Beringer et al. (2013) os gerentes de projeto são a parte interessada mais evidente e são, sem
dúvida, vistos como cruciais para portfólios de projetos. Eles são responsáveis pelo sucesso
individual do projeto. Além disso, eles representam sua equipe e clientes internos ou externos
de projetos em um portfólio.
Portanto, a gestão de portfólios garante muitos benefícios às empresas, pois potencializa,
através da priorização de projetos e alocação de recursos, àqueles que irão contribuir de forma
significativa para o alcance do seu planejamento e metas.
5. Conclusão
Percebe-se que a gestão de portfolio constitui um importante aliado para que a empresa
maximize seus investimentos, coordenando um grupo de projetos que trarão benefícios devido
à sinergia e aproveitamento dos recursos compartilhados. Da mesma forma, os métodos ágeis
que inicialmente foram aplicados para TI, tem seu uso ampliado para outros tipos de projetos,
como em empreendimentos de engenharia mecânica e civil. Estes métodos auxiliam os
gestores de projeto a tratarem as mudanças como rotinas, levando ao desenvolvimento de
respostas efetivas, em tempo reduzido e com menor custo.
Além das tendências citadas neste artigo, acredita-se que a ênfase na gestão de riscos e a
teoria dos projetos complexos se apresentam como abordagens alterativas às visões
tradicionais, tendo muito a contribuir no desenvolvimento futuro da gestão de projetos. Estes
temas se apresentam, inclusive, como oportunidades em trabalhos e estudos futuros sobre o
tema.
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