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Questão 13 Questão 14

Os impérios desenvolveram diferentes estraté- Até o século XII, a mulher era desprezada
gias de inclusão. O império romano permitia a por ser considerada incapaz para o manejo
multiplicidade de crenças, desde que a lealdade de armas; vivendo num ambiente guerreiro,
política estivesse assegurada. Espanha e Por- não se lhe atribuía outra função além de
tugal, entretanto, apesar de terem incorporado procriar. A sua situação não era mais favo-
povos de línguas e culturas diversas sob seus rável do ponto de vista espiritual; a Igreja
governos, impuseram uma uniformidade legal não perdoava Eva por ter levado a humani-
e religiosa, praticando políticas de intolerância dade à perdição e continuava a ver em suas
religiosa como caminho preferencial para asse- descendentes os acólitos lúbricos do demô-
gurar a submissão e a lealdade de seus súditos. nio.
(Adaptado de Stuart B. Schwartz, Impérios intole- (Adaptado de Pierre Bonassie, Amor cortês, em
rantes: unidade religiosa e perigo da tolerância Dicionário de História Medieval. Lisboa:
nos impérios ibéricos da época moderna, em Publicações D. Quixote, 1985, p. 29-30.)
R. Vainfas & Rodrigo B. Monteiro (orgs.),
a) Identifique no texto as razões para a mu-
Império de várias faces. São Paulo:
Alameda, 2009, p. 26.) lher ser considerada inferior na sociedade
medieval.
a) A partir do texto, diferencie o império Ro-
b) Quais características da sociedade medie-
mano dos impérios ibéricos modernos.
val configuraram um “ambiente guerreiro”
b) Quais as políticas praticadas pelas monar-
quias ibéricas na Era Moderna que caracteri- até o século XII?
zam a intolerância religiosa?
Resposta
Resposta a) De acordo com o texto, havia duas razões fun-
a) De acordo com o texto, o Império Romano e os damentais pelas quais a mulher era desprezada
impérios ibéricos modernos desenvolveram nos como um ser inferior. Primeiro porque era “consi-
seus domínios "diferentes estratégias de inclu- derada incapaz para o manejo das armas”, e se-
são". Os romanos preocupavam-se em garantir "a gundo, “do ponto de vista espiritual; a Igreja não
lealdade política", que, quando assegurada, per- perdoava Eva por ter levado a humanidade à per-
mitiria "a multiplicidade de crenças". Espanhóis e dição e continuava a ver em suas descendentes
portugueses buscaram impor "uma uniformidade os acólitos lúbricos do demônio”.
legal e religiosa" aos seus domínios, praticando, b) No período compreendido entre os séculos IX e
assim, "políticas de intolerância religiosa". XI, vai se dar o auge do Sistema Feudal. Nessa
b) Portugal e Espanha foram fortemente influen- época, a Europa Ocidental fora abalada por uma
ciados pelo movimento de Contrarreforma. Prati- série de invasões (vikings, magiares e muçulma-
caram uma política de intolerância religiosa com nos), que provocaram um aumento do poder dos
relação aos não católicos. Entre as políticas prati- membros da nobreza; os nobres combatiam e
cadas pelas monarquias ibéricas, podemos desta- buscavam oferecer um mínimo de proteção em
car as ações do tribunal do Santo Ofício e do
um momento caótico. Nesse período, destaca-se
Index, além das ordens religiosas, como os jesuí-
a Guerra de Reconquista, em que os cristãos lu-
tas, que atuaram na Europa e na América, bus-
cando catequizar os indígenas. Durante os sécu- tam para expulsar os mouros da península Ibéri-
los XIV-XVI, com a consolidação do Poder Real, a ca. A partir do final do século XI, tem início o mo-
Igreja Católica foi submetida ao Estado. O papa vimento das Cruzadas; cavaleiros cristãos lutam
legitimava a expansão marítima ibérica, dando a para conquistar Jerusalém das mãos dos muçul-
ela um sentido de Cruzada, na promoção e avan- manos. As guerras ocorridas no período iriam for-
ço da fé católica. Em todas as partes dos impérios talecer dentro da sociedade feudal, o poder dos
ibéricos, a Igreja Católica desfrutava de enorme nobres num “ambiente guerreiro”. Na chamada
influência, e práticas consideradas "nocivas à fé" “sociedade de ordens”, o primeiro estamento (or-
eram vigiadas e perseguidas. dem) era constituído pelo clero, que rezava; a se-
história 2

gunda ordem era formada pelos nobres, que luta- Tornaram familiares aos seus contemporâneos
vam; e a terceira correspondia aos demais mem- as obras dos grandes autores da Antiguidade.
bros da sociedade, entre os quais se destacavam Daí os humanistas desenvolverem o espírito de
os servos que pagavam com o seu trabalho pelo pesquisa e valorizarem os métodos de observa-
direito de viver nas terras do senhor. Assim, os ção. Entre as características do Renascimento,
membros da Igreja e a nobreza formavam esta- identificadas aos valores da Antiguidade, desta-
mentos privilegiados. ca-se o antropocentrismo, que, literalmente, sig-
nifica “o homem como centro”. A partir do Renas-
cimento, o homem passou a ter, para além da di-
mensão religiosa, novos horizontes, preocupan-
Questão 15 do-se em estudar o mundo à sua volta, em busca
de explicações naturais para os fenômenos, bem
como preocupando-se com sua individualidade.
A partir do século IX, aumentou a circulação Um novo espírito de indagação, com a retomada
da ciência e da filosofia vindas de Bagdá, o da Antiguidade Clássica, vai se desenvolver. Tal
centro da cultura islâmica, em direção ao rei- espírito resultou em duas vertentes: uma que
no muçulmano instalado no Sul da Espanha. provocou o rompimento formal de muitos com a
No século XII, apesar das divisões políticas e Igreja Católica, o que constituiu o movimento da
das guerras entre cristãos e mouros que mar- Reforma; e outra que levou à formação da cate-
goria dos chamados livre-pensadores, ou seja,
cavam a península ibérica, essa corrente de
aqueles que não romperam com a Igreja Católi-
conhecimento virou um rio caudaloso, criando ca, mas passaram a exigir dela um novo compor-
uma base que, mais tarde, constituiria as fun- tamento.
dações do Renascimento no mundo cristão. Foi
dessa maneira que o Ocidente adquiriu o co-
nhecimento dos antigos. No quadro pintado
Questão 16
pelo italiano Rafael, A escola de Atenas (1509),
o pintor daria a Averróis, sábio muçulmano da
Andaluzia, um lugar de honra, logo atrás do Segundo o historiador indiano K. M. Panikkar,
grego Aristóteles, cuja obra Averróis havia co- a viagem pioneira dos portugueses à Índia
mentado e divulgado. inaugurou aquilo que ele denominou como a
(Adaptado de David Levering Lewis, God’s Crucible: época de Vasco da Gama da história asiática.
Islam and the Making of Europe, 570-1215. Esse período pode ser definido como uma era
New York: W. W. Norton, 2008, de poder marítimo, de autoridade baseada no
p. 368-69, 376-77.) controle dos mares, poder detido apenas pe-
a) Identifique no texto dois aspectos da rela- las nações europeias.
ção entre cristãos e muçulmanos na Europa (Adaptado de C. R. Boxer, O Império Marítimo
medieval. Português, 1415-1835. Lisboa: Edições 70,
b) Relacione as características do Renasci- 1972, p 55.)
mento cultural europeu à redescoberta dos a) Quais fatores levaram à expansão maríti-
valores da Antiguidade clássica. ma europeia dos séculos XV e XVI?
b) Qual a diferença entre o domínio dos por-
Resposta tugueses no Oriente e na América?
a) De acordo com o texto, os cristãos e os muçul-
Resposta
manos estiveram na Idade Média envolvidos em
conflitos. Mas, também, a cultura islâmica influen- a) Entre os fatores que levaram à expansão marí-
ciou fortemente a Europa Medieval com o "conhe- tima europeia destacamos o gosto pela aventura
cimento dos antigos". Assim, "apesar das divisões e o projeto de cristianização dos infiéis. Encon-
políticas e das guerras entre cristãos e mouros tra-se também o resultado das práticas da política
que marcaram a península Ibérica, essa corrente econômica característica dos Estados Modernos,
de conhecimento virou um rio caudaloso, criando o mercantilismo.
uma base que, mais tarde, constituiria as funda- Podemos acrescentar a política dos Estados Na-
ções do Renascimento no mundo cristão". cionais, que mobilizavam recursos públicos e pri-
b) A Revolução Intelectual operada pelo Renasci- vados para buscar, diretamente nas fontes de
mento deve-se aos humanistas. Eles dedicaram-se produção, produtos que eram valorizados no mer-
aos estudos dos autores antigos, gregos e romanos. cado europeu.
história 3

Outra contribuição para a expansão marítima foi o Os primeiros plantios de cana-de-açúcar e os pri-
desenvolvimento das técnicas náuticas, da carto- meiros engenhos foram instalados em São Vicen-
grafia e inventos como a bússola e o astrolábio. te. Entretanto, o litoral pouco extenso, devido à
b) De maneira geral, os domínios portugueses na barreira natural da serra do Mar, não possibilitou
Ásia eram apoiados em feitorias, visando à explo- condições de expansão, quando comparado ao li-
ração de especiarias altamente valorizadas na toral nordestino, mais extenso e com solo propício
Europa. Nesse caso não havia fixação de colo- (o chamado massapê) para o plantio da
nos. No caso da América portuguesa, estabele- cana-de-açúcar. Com isso, o Nordeste veio a su-
ceu-se uma colonização com a implantação de perar economicamente São Vicente, que involuiu
uma economia que visava à produção de merca- para uma economia de subsistência. Os seus ha-
dorias para complementar a economia da metró- bitantes subiram a serra e vieram se instalar no
pole. Nesse caso há o estabelecimento de uma planalto de Piratininga em meados do século XVI.
sociedade que tem como modelo a sociedade Nesse local, o principal curso d’água, o Anhambi
portuguesa. ou Anhembi, que viria a se chamar rio Tietê, cor-
ria para o interior, e este também foi um fator de
caráter geográfico que teria propiciado à população
do planalto aventurar-se pelo interior do território na
Questão 17 busca de indígenas para serem escravizados, gado
e metais preciosos.
Os ventos e as marés constituíam um entrave A existência de um extenso litoral no Nordeste
considerável ao tráfico de escravos índios quando comparado ao do Sudeste também propi-
ciou a expansão e ocupação daquela região, por
pela costa do Atlântico Sul. Nos anos 1620,
intermédio da expansão das fazendas de gado
houve transporte de cativos “tapuias” do Ma- que abasteciam os engenhos de açúcar concen-
ranhão para Pernambuco, mas parte do per- trados no litoral. O rio São Francisco ficou conhe-
curso foi feita por terra, até atingir portos cido como "rio dos currais". A existência de miné-
mais acessíveis no litoral do Ceará. Ao con- rios no Centro-Oeste foi também outro fator geo-
trário, nas travessias entre Brasil e Angola, gráfico que propiciou a ocupação de Minas, Goiás
zarpava-se com facilidade de Pernambuco, da e Mato Grosso. Por sua vez, a densa floresta Ama-
Bahia e do Rio de Janeiro até Luanda ou a zônica fez com que a ocupação do Norte se limi-
Costa da Mina. tasse à proximidade do curso dos rios da bacia
Amazônica e na região prevalecesse uma ativida-
(Adaptado de Luiz Felipe de Alencastro, O trato
de econômica predominantemente extrativista.
dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul
Pode-se destacar ainda que no Brasil a presença
(séculos XVI e XVII). São Paulo: Companhia das
do clima tropical irá favorecer a produção de gê-
Letras, 2000, p. 61-63.)
neros, como açúcar, tabaco e algodão, com base
a) A partir do texto e de seus conhecimentos, no latifúndio, na monocultura, no trabalho escravo
explique de que maneiras o sistema de explo- e na produção para o mercado externo.
ração colonial da América portuguesa foi in- Eis algumas das "condições geográficas" que
fluenciado pelas condições geográficas. influenciaram a exploração colonial na América
b) Relacione essas condições geográficas às portuguesa.
atividades dos bandeirantes. b) É sobretudo a partir da segunda metade do sé-
culo XVII que se intensifica a ação dos chamados
bandeirantes. Originalmente, eram habitantes do
Resposta planalto de Piratininga que viviam em um relativo
a) Segundo o texto, os ventos e as marés consti- isolamento quando comparado às populações lito-
tuíam em um entrave ao tráfico costeiro entre o râneas do Nordeste, mais integradas com a eco-
Norte (Maranhão) e o Nordeste (Pernambuco). nomia da Metrópole.
Por outro lado, as ligações marítimas entre o lito- Isolados, vivendo de uma economia de subsistên-
ral atlântico-africano e a América portuguesa não cia, alguns habitantes do planalto aventuraram-se
possuíam maiores obstáculos. Esse pode ter sido a se deslocar em direção ao interior. Seguindo o
um fator importante para a utilização da mão de curso do rio Tietê, que seguia para o interior, os
obra escrava africana no lugar da indígena, bem primeiros desses exploradores iam em busca de
como o fato de os lucros do tráfico de escravos indígenas para serem tomados como escravos,
africanos serem apropriados pela Metrópole. uma vez que a economia local não oferecia condi-
Para além desse aspecto, é possível destacar ções para que pudessem comprar escravos afri-
também as diferenças de ocupação entre o lito- canos. Assim, na busca de indígenas, começa a
ral vicentino no Sudeste e o litoral nordestino. saga destes aventureiros em direção ao interior.
história 4

Essa atividade ganhou um impulso com a ocupa- a) Segundo o texto, o que caracterizava a vi-
ção holandesa, simultaneamente no Nordeste e talidade e a adaptabilidade da “segunda es-
na costa africana. Escassearam-se escravos afri- cravidão”, desenvolvida no século XIX?
canos nas regiões não ocupadas pelos holande-
b) Identifique duas características da Revolu-
ses e intensificou-se, dessa forma, como alternati-
va, a busca de indígenas pelo interior para serem ção de Saint Domingue (Haiti).
escravizados.
No final do século XVII, são descobertas as primei- Resposta
ras jazidas de ouro economicamente rentáveis no a) De acordo com o texto, a "segunda escravidão"
território que corresponde a Minas Gerais. A ativi- estava "mais próxima de um sistema industrial na
dade bandeirante esteve diretamente associada à disciplina do trabalho e na inovação técnica na
economia mineradora, e a busca por metais e pe- produção", caracterizando assim sua adaptabili-
dras preciosas levou à exploração de vastos terri- dade e vitalidade.
tórios, que correspondem a Minas Gerais, Goiás e b) A Revolução Haitiana foi influenciada pela Re-
Mato Grosso. volução Francesa. Num levante negro em 1791,
Por ocasião da valorização da mão de obra indí- liderado por Vicent Ogé, a maior parte da popula-
gena como escrava, os bandeirantes dirigem-se ção branca foi massacrada, tendo o restante emi-
ao sul, tomando de assalto as missões jesuíticas, grado. As represálias da França foram imediatas,
bem como apresando rebanhos livres de gado e em 1793 o Exército francês foi derrotado pelo lí-
nas regiões que correspondem aos atuais esta- der negro Toussaint Louverture, que, no entanto,
dos do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e não conseguiu promover a reconstrução do país,
Paraná). arrasado durante o conflito.
Conhecedores do território, habituados às condi- Napoleão tentou recolonizar o Haiti e restabele-
ções adversas, os bandeirantes prestaram-se ceu a escravatura, provocando nova revolta na
também a capitães do mato, ou seja, eram pagos ex-colônia francesa. As lutas contra o colonialis-
pelos proprietários de escravos e por autoridades mo tiveram prosseguimento com Jean-Jacques
para caçar escravos fugitivos. Notabilizou-se, por Dessalines. Em 1804, o Haiti tornou-se a primeira
exemplo, nesse contexto, Domingos Jorge Velho, colônia da América Latina a proclamar sua inde-
que destruiu e derrotou as resistências do Qui- pendência, por meio da luta de ex-escravos. Des-
lombo dos Palmares, em território que correspon- sa forma, as características importantes da revo-
de ao atual Estado de Alagoas. lução foram:
• o Haiti foi a primeira colônia que se tornou inde-
pendente na América Latina;
• foi produto de uma rebelião de escravos;
Questão 18 • foi influenciada pela Revolução Francesa.

A Revolução de Saint Domingue (Haiti), en- Questão 19


tre 1791 e 1803, destruiu a economia de
plantation na colônia europeia mais rica da No tempo da independência, não havia ideias
época. Como resultado disso e da abolição do precisas sobre o federalismo. Empregava-se
tráfico de escravos para as colônias britâni- “federação” como sinônimo de “república” e
cas, em 1807, a exportação de açúcar, café e de “democracia”, muitas vezes com o objetivo
outros produtos tropicais cresceu em Cuba e de confundi-la com o governo popular, embo-
no Brasil, que experimentaram um enorme ra se tratasse de concepções distintas. Por
aumento no afluxo de escravos. Essas regiões outro lado, Silvestre Pinheiro Ferreira ob-
são caracterizadas no século XIX por uma servava ser geral a aspiração das províncias
“segunda escravidão”, mais próxima de um à autonomia, sem que isso significasse a
sistema industrial na disciplina do trabalho e abolição do governo central da monarquia.
na inovação técnica na produção. Longe de Mas a historiografia da independência ten-
ser uma instituição moribunda durante o sé- deu a escamotear a existência do projeto fe-
culo XIX, esta “segunda escravidão” demons- deralista, encarando-o apenas como produto
trou sua adaptabilidade e vitalidade. de impulsos anárquicos e de ambições perso-
(Adaptado de Dale W. Tomich, Through the Prism nalistas e antipatrióticas.
of Slavery: Labor, Capital, and World Economy. (Adaptado de Evaldo Cabral de Melo, A Outra
Lanham: Rowman & Littlefield Publishers, Independência. O federalismo pernambucano de
2004, p. 69, 80.) 1817 a 1824. São Paulo: Ed. 34, 2004, p. 12-14.)
história 5

a) Identifique no texto dois significados dis- A parceria permitia que o proprietário se be-
tintos para o federalismo. neficiasse do trabalho da família dos parcei-
b) Quais os interesses econômicos envolvidos ros. Os fazendeiros sempre se opuseram ao
no processo de independência do Brasil? recrutamento de homens solteiros, argumen-
tando que os imigrantes com família mostra-
Resposta vam-se menos propensos a abandonar as fa-
a) De acordo com o texto, é possível extrair três zendas. Isso pode ser verdade, mas certamen-
significados distintos para o federalismo. O pri- te era de igual importância o fato de que as
meiro o associa à República e democracia; o se- famílias dos imigrantes constituíam uma re-
gundo trata o federalismo como aspiração das serva de trabalho barato na época da colhei-
províncias à autonomia, sem a extinção do gover- ta, que exigia mais braços.
no central da monarquia; e o terceiro encara o fe- (Adaptado de Verena Stolcke e Michael Hall,
deralismo como produto de impulsos anárquicos e A introdução do trabalho livre nas fazendas de
de ambições personalistas e antipatrióticas. café de São Paulo, em Revista Brasileira de
b) As relações Metrópole-Colônia, desde os desco- História. São Paulo, v. 3, nº 6, p. 88-89, 1983.)
brimentos, estavam fundadas na política do mono-
pólio (o Pacto Colonial). As colônias cumpriam um a) Identifique no texto dois argumentos a fa-
duplo papel: mercados consumidores forçados de vor da imigração de famílias para as fazen-
produtos da Metrópole e mercados fornecedores das paulistas.
forçados de produtos para a Metrópole. b) Que fatores levaram o governo paulista
Em meados do século XVIII, desenvolveu-se a
a subvencionar a imigração no final do sé-
Revolução Industrial na Inglaterra. As regras do
monopólio impediam o livre acesso da Inglaterra culo XIX?
às matérias-primas e aos mercados consumido-
res. Por essa razão, o sistema de monopólios não Resposta
mais interessava. A partir de então, as regras do
Pacto Colonial passam a ser contestadas e sur- a) O texto argumenta favoravelmente à imigração
gem propostas de livre-cambismo, ou seja, a li- de famílias para as fazendas paulistas, pois os
berdade de comércio. "imigrantes com família mostravam-se menos pro-
Era o início da crise do Antigo Sistema Colonial pensos a abandonar as fazendas" e também por-
da época mercantilista. que "as famílias dos imigrantes constituíam uma
No caso do Brasil, a chegada da família real criou reserva de trabalho barato na época da colheita,
uma nova situação. É liquidado o monopólio com que exigia mais braços".
a Abertura dos Portos (1808) e são feitos vantajo- b) Com o final do tráfico negreiro – Lei Eusébio de
sos tratados com a Inglaterra (1810). A partir de Queirós (1850) – e o consequente encarecimento
então, tornava-se praticamente impossível para do preço dos escravos e o aumento da procura do
os comerciantes portugueses voltar a ter antigos café no mercado internacional, houve a necessi-
privilégios. dade da utilização alternativa da mão de obra li-
Para os ingleses, a independência significaria o vre, proveniente da imigração europeia.
coroamento de seus interesses, pois sem laços Em 1852 tem início a imigração patrocinada por
de dependência com Portugal não haveria qual- particulares. Foi estabelecido o regime de parce-
quer entrave ao livre-comércio inglês na antiga ria, pelo qual o imigrante usava a terra do proprie-
Colônia. E, finalmente, a aristocracia rural brasilei- tário e pagava, com seu trabalho, por esse direito.
ra também era beneficiada com a nova situação, Repartia também, com o proprietário, uma parte
livre que ficava dos entraves do monopólio. do que produzia. Tal regime levou a uma servidão
Quando Portugal tenta, através de decretos reco- disfarçada.
lonizadores, fazer voltar o sistema de monopólios, Frente a isso, em 1859 proibe-se, na Europa, a
é declarada a Independência do Brasil. emigração para o Brasil, alegando-se a escravi-
dão do europeu.
Solucionado o problema, o governo passa a sub-
Questão 20 vencionar a imigração (1870). Estabelece um sa-
lário fixo e o proprietário é obrigado a fornecer um
pedaço de terra para que o imigrante produza sua
Muitos historiadores argumentaram que a subsistência e a pagar uma bonificação ao final
parceria era menos eficiente que o trabalho de cada colheita.
assalariado. Por que, então, os fazendeiros de Inicia-se, então, o grande fluxo migratório para as
São Paulo adotaram o sistema de parceria? fazendas de café.
história 6

Para alguns teóricos e críticos do capitalismo, o


Questão 21 imperialismo constituiu-se como uma fase da his-
tória do capitalismo caracterizada, entre outros
aspectos, pela disputa entre as grandes potências
No século XIX, surgiu um novo modo de ex- por áreas onde pudessem investir capitais exce-
plicar as diferenças entre os povos: o racismo. dentes, por fontes de matérias-primas, por merca-
No entanto, os argumentos raciais encontra- dos de consumo e por áreas consideradas estra-
vam muitas dificuldades: se os arianos origi- tégicas para o controle de rotas marítimas e posi-
naram tanto os povos da Índia quanto os da ções de importância militar.
Europa, o que poderia justificar o domínio
dos ingleses sobre a Índia, ou a sua superiori-
dade em relação aos indianos? A única res- Questão 22
posta possível parecia ser a miscigenação.
Em algum momento de sua história, os aria- No ocidente, as relações de Mao Tsé-Tung
nos da Índia teriam se enfraquecido ao se com o marxismo foram objeto de discussão.
misturarem às raças aborígenes consideradas
Alguns estudiosos questionaram se Mao era
inferiores. Mas ninguém podia explicar real-
realmente um marxista, enquanto outros ar-
mente por que essa ideia não foi aplicada nos
gumentaram que seu pensamento estava ba-
dois sentidos, ou seja, por que os arianos da
seado no stalinismo e não acrescentava
Índia não aperfeiçoaram aquelas raças em
nada de original ao marxismo-leninismo. As
vez de se enfraquecerem.
(Adaptado de Anthony Pagden, Povos e Impérios.
ideias de Mao só foram reconhecidas inter-
Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 188-194.) nacionalmente pelo termo “maoísmo” depois
da Revolução Cultural.
a) Segundo o texto, quais as incoerências pre-
(Adaptado de Alan Lawrence, China under
sentes no pensamento racista do século XIX? communism. Londres e Nova York:
b) O que foi o imperialismo? Routledge, 2000, p. 6.)
a) Identifique no texto duas visões diferentes
Resposta sobre o pensamento de Mao Tsé-Tung.
a) Segundo o texto, se os arianos deram origem b) O que foi a Revolução Cultural na China?
tanto aos povos europeus quanto aos povos da
Índia, por que razão então os ingleses (europeus)
dominaram a Índia? Afinal, segundo a teoria racis- Resposta
ta, ambos seriam arianos. Essa seria a primeira a) Segundo o texto, alguns colocam em dúvida se
incoerência. Mao Tsé-tung era realmente um marxista. Outra
Para contra-argumentar essa incoerência, afir- visão classifica seu pensamento como stalinista,
ma-se que os racistas diziam que os arianos da
assim nada contribuindo com algo original para o
Índia se enfraqueceram por meio da miscigena-
marxismo-leninismo. Acrescente-se também o
ção com povos locais considerados inferiores.
fato de que alguns consideram a contribuição de
Entretanto, se os arianos da Índia eram “povos
Mao suficiente para caracterizar o chamado maoís-
superiores”, por que teriam então se “enfraqueci-
do” no lugar de “aperfeiçoar” os povos considera- mo, somando assim ao marxismo-leninismo.
dos “inferiores”? Essa seria a segunda incoerên- b) A Revolução Cultural foi um processo político
cia. desencadeado na China em meados da década
b) No contexto da História do século XIX, conside- de 1960 e visava reduzir o poder político da bu-
ra-se que o imperialismo constituiu-se como uma rocracia no aparelho do Estado. Ao mesmo tem-
ideologia, segundo a qual algumas potências con- po, pretendia estabelecer um papel fiscalizador
sideravam-se com uma “missão” e com “direitos” constante por parte das massas sobre o apare-
para exercer o domínio político, econômico, cultu- lho estatal, para evitar a cristalização de privilé-
ral e militar sobre povos que consideravam “infe- gios e interesses, propondo isso como parte da
riores”. Essa ideologia se expressou em ações transformação do homem chinês, mesmo às cus-
políticas coerentes com esse ideário, que resul- tas da estabilidade política, consequentemente
taram, por exemplo, na partilha da África, no do- pressupondo a predominância do desenvolvi-
mínio sobre vastas áreas do continente asiático, mento social sobre o político. A Revolução Cultu-
bem como pela submissão aos seus interesses, dos ral provocou consequências funestas para o
países latino-americanos de uma maneira geral. país.
história 7

Questão 23 Questão 24

Após o Ato Institucional nº 5, a ditadura fir- Em 1997, manifestações dos cidadãos por se-
mou-se. A tortura foi o seu instrumento ex- guridade social foram organizadas em todos
tremo de coerção, o último recurso de repres- os países membros da União Europeia. Mui-
são política desencadeada pelo AI 5. Ela se tos dos participantes eram contra o processo
tornou prática rotineira por conta da associa- de integração. Os pobres, que eram aqueles
ção de dois conceitos. O primeiro relaciona-se que viviam da seguridade social, sentiam-se
com a segurança da sociedade: o país está marginalizados pela União Europeia. Além
acima de tudo, portanto vale tudo contra disso, alguns partidos políticos usaram slogans
aqueles que o ameaçam. O segundo asso- nacionalistas e racistas, esperando pescar
cia-se à funcionalidade do suplício: havendo nas águas agitadas pela miséria, pelo desem-
terroristas, os militares entram em cena, o prego e pela desconfiança no governo.
pau canta, os presos falam e o terrorismo (Adaptado de Harry Coenen, Social Security
Claimants and Europe, em Rik van Berkel, Harry
acaba.
Coenen e Ruud Vlek, Beyond marginality? Social
(Adaptado de Elio Gaspari, A ditadura escancarada.
movements of social security claimants in the
São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 13, 17.)
European Union. Aldershot: Ashgate Publishing,
a) Segundo o texto, de que maneiras o regime 1998, p. 1-2.)
ditatorial implantado no Brasil após 1964
a) De acordo com o texto, quais os diferentes
justificava a tortura aos opositores? interesses que se opunham à União Europeia?
b) Por que o AI 5 representou uma ruptura b) Quais as mudanças que a criação da União
com a legalidade? Europeia ocasionou para os países membros?

Resposta Resposta
a) De acordo com o texto, o regime militar justifi- a) De acordo com o texto, os diferentes interesses
cava a tortura aos opositores de duas maneiras. A que se opunham à União Europeia eram grupos
primeira está ligada à "segurança da sociedade"; contrários ao processo de integração da segurida-
e a segunda, "à funcionalidade do suplício: ha- de social, bem como alguns partidos políticos com
vendo terroristas, os militares entram em cena, o slogans nacionalistas e racistas.
pau canta, os presos falam e o terrorismo acaba." b) Entre as principais mudanças provocadas pela
b) Considera-se que, com a imposição do Ato União Europeia para os países-membros, pode-
Institucional nº 5 (13.12.1968), tem início, efeti- mos citar: fim das barreiras alfandegárias, permi-
vamente, o período da ditadura militar. tindo maior circulação de mercadorias e mão de
O AI-5 dá poderes excepcionais ao presidente da obra; estabelecimento de políticas comuns nos
República. setores de transporte, agricultura, assistência so-
No uso dos poderes que lhe era conferido, o pre- cial, educação e cultura; maior cooperação em
sidente poderia, entre outras coisas, fechar o Po- assuntos jurídicos e policiais, como regras de imi-
der Legislativo temporariamente; legislar durante gração, asilo político e combate ao crime organi-
o recesso parlamentar; suspender e cassar man- zado e ao narcotráfico; normatização de uma polí-
datos parlamentares sem apreciação judicial; res- tica externa comum; implementação de uma moe-
tringir o direito de habeas corpus nos casos de deli- da (euro) e banco central únicos, embora Suécia,
tos considerados atentórios à segurança nacional; Dinamarca e Reino Unido não façam parte da
realizar a intervenção federal em estados e muni- zona do euro; diminuição das tensões políticas
cípios com maior facilidade; e ainda pelo AI-5, evitando conflitos no continente entre os países
afirmava-se que as punições decorrentes desse que constituem o bloco; maior integração econô-
ato não seriam passíveis de apreciação jurídica. mica de alguns países-membros como Portugal,
Diante disso, pode-se afirmar que o AI-5 rompe Espanha e Grécia nos anos 1980, e os países do
com a legalidade. Leste Europeu no início do século XXI.

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