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ADOLESCENTES ACOLHIDOS EM
INSTITUIÇÕES
Autor da prática: Sami Storch (TJ-BA) – Juiz Auxiliar da Vara de Infância e Juventude da
Comarca de Lauro de Freitas/BA
JULHO e AGOSTO/2013
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BREVE RESUMO DA PRÁTICA
Utilização de técnicas baseadas na terapia de constelações sistêmicas familiares (uma ciência dos
relacionamentos desenvolvida pelo terapeuta e filósofo alemão Bert Hellinger), como forma de
encontrar a melhor solução para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social,
acolhidos em instituições.
Ao invés de colher os depoimentos dos menores pela forma tradicional, o juiz lhes apresenta um kit
de bonecos do tipo “playmobil” e pede que escolham bonecos para representar os membros de sua
família e das pessoas que pertençam ao seu sistema (mãe social, padrinhos afetivos, parentes ou
amigos com quem tenham vínculo relevante) e que os posicionem sobre a mesa.
Logo se pode verificar quem foi excluído da família, e também quais são as pessoas com quem a
criança sente maior proximidade ou não.
É possível experimentar outras posições, aproximando o boneco que representa a criança daquele
que representa o pai, a mãe, o padrinho afetivo, etc. Em cada posição, pede-se que a criança olhe
para cada pessoa e veja como se sente. Pessoas mortas são representadas por bonecos deitados.
Pode-se também acrescentar bonecos para os avós, outros antepassados dos pais e, por exemplo,
pessoas que mataram ou foram mortas por alguém da família, trazendo à tona as dificuldades que os
pais da criança enfrentaram e facilitando, assim, a compreensão da realidade de sua vida e,
consequentemente, o perdão e a conformação.
Sugere-se também algumas frases “sistêmicas”, pedindo, por exemplo, que a criança/adolescente
imagine seu pai lhe dizendo: “foi muito difícil para mim também”; “eu não consegui olhar para
você, pois estava envolvido com problemas do meu passado”. Ou que se imagine dizendo aos pais
frases como: “obrigado pela vida que recebi através de vocês”; “o que eu não recebi de vocês,
recebi de outras pessoas, e estou aqui”.
Ao olhar para o seu sistema, representado através dos bonecos, a criança/adolescente “mergulha”
em sua própria realidade, se emociona e expressa de forma espontânea e verdadeira seus
sentimentos, sem que precise verbalizá-los. Muitas vezes, as soluções surgem rapidamente, quando
se experimenta um posicionamento dos bonecos que traga alívio e faça com que o rosto da criança
“se ilumine” – por exemplo, com seu pai, junto a uma tia, a uma família substituta ou mesmo a uma
instituição em que possa estar junto com seus irmãos. Às vezes, contudo, qualquer aproximação
com familiares aumenta sua tensão, de modo que o melhor para ela é que fique institucionalizada.
As técnicas são utilizadas também com outras pessoas envolvidas (pais biológicos, familiares ou
possíveis adotantes), permitindo que visualizem e sintam as consequências sistêmicas de cada
movimento de afastamento ou aproximação, e que tenham contato com os sentimentos dos outros
membros do sistema – principalmente os pais biológicos e toda a história familiar que a criança
carrega consigo.
Em geral, cada movimento de amor, gratidão e reconhecimento faz com que todos os envolvidos se
sintam bem e favorece a solução.
O juiz (autor da prática) possui formação específica nessa área e vem aplicando algumas dessas
técnicas nas audiências em geral, obtendo índices bastante expressivos de conciliações nas
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audiências, inclusive em casos tidos como de difícil solução (inventários de mais de 10 anos e
outros envolvendo questões familiares antigas e complexas). Em ações da Vara de Família, os
acordos chegam a 90%.
RESULTADOS
FOTOS
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A participação de profissionais de diversas áreas (assistentes sociais, psicólogas, procurador do
município) viabilizou uma boa produtividade.
Neste caso (foto abaixo), as responsáveis pela instituição informaram, no início, que o adolescente
estava bastante revoltado desde o ano passado, quando a mãe foi chamada e, diante dele, disse não
querer ficar com o filho. Segundo disseram, desde então o rapaz deixou de se interessar pela escola
e passou a frequentar o “morro” (local de tráfico de drogas) e apresentar comportamento agressivo.
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Ao entrar na sala, o rapaz demonstrava desinteresse por tudo e não respondia as perguntas que lhe
eram feitas, ou o fazia de forma monossilábica.
Com o início da constelação, o rapaz começou a se interessar e reagir aos movimentos dos bonecos,
se emocionando ao visualizar-se diante dos pais e ao vê-los envolvidos nos próprios problemas em
suas famílias de origem.
Nos dias seguintes, a instituição fez contato com esse padrinho e este aceitou ficar com a guarda,
que se efetivou depois de poucas semanas.
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As fotos abaixo referem-se a caso em que a menina foi deixada na instituição após abuso sexual
praticado pelo padrasto. Há quatro anos a mãe não ia visitá-la. A constelação foi realizada com a
mãe (sem a presença da criança).
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Ao olhar para a situação, e depois de sugeridas algumas frases, a própria mãe, de forma espontânea
e bastante emocionada, reposicionou os bonecos de modo a afastar-se do companheiro e ficar junto
com seus filhos, incluindo a menina que estava na instituição. Esse simples movimento trouxe
grande alívio, sentido por todos que estavam presentes.
A partir dessa audiência, a mãe passou a visitar regularmente a filha na instituição e está tomando
providências, com o auxílio dos órgãos assistenciais do município e da própria instituição de
acolhimento, visando obter condições adequadas à restituição da guarda.
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