Professional Documents
Culture Documents
1
aposentado, CNH 99685450, CPF 198.557.017-00, residente e
domiciliado Eliseu Visconti, Santa Teresa-RJ, DELVIO JOAQUIM
LOPES DE BRITO, brasileiro, casado, CPF 494037376-20, RG 1291572-
MG, domiciliado à SCN quadra 2 Bloco A Corporate financial center,
12 andar, RONALDO TEDESCO VILARDO, brasileiro, casado,
profissão petroleiro, portador do CPF de nº 745.290.307-25, do Título
de Eleitor nº 58180003/10 Zona 008, Seção 0081, e da Carteira de
Identidade de nº 05.965.171-1 DETRAN/RJ, domiciliado na Avenida
Rodolfo Amoedo 200 ap. 102 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ CEP:
22.620-350, vêm mediante seus procuradores, com instrumentos de
mandato em anexo, com fundamento nos artigos 1º e seguintes da Lei
4717/1965 e 319 e seguintes do Código de Processo Civil, propor
2
do BNDES PARTICIPAÇÕES S.A. - BNDESPAR, situada à AV.
REPÚBLICA DO CHILE, Nº 100 - 10º ANDAR, na Cidade do Rio de
Janeiro, RJ, na pessoa do seu Presidente, Sr. PAULO RABELLO DE
CASTRO, brasileiro, separado judicialmente, economista, com
endereço em Porto Alegre, RS, na Rua Siqueira Campos, 1163, 7º
andar, portador da Cédula de Identidade expedida pelo IFP/RJ e do
CPF de números, respectivamente, 2.188.098 e 202.955.617-34, e da
UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público, a ser notificada
pela Advocacia Geral da União, com sede no Lote 5/6, Ed. Multi
Brasil Corporate - Brasília-DF - CEP 70.070-030 - Fones: (61) 2026-
9202 / 2026-9712, da FUNDAÇÃO DOS ECONOMIÁRIOS FEDERAIS
– FUNCEF, entidade fechada de previdência complementar,
instituída pela Caixa Econômica Federal, com personalidade jurídica
de direito privado sem fins lucrativos, incrita no CNPJ sob o nº
00.436.923/0001-90, com sede no SCN Qd. 2, Bloco - A - Edifício
Corporate Financial Center, 13º andar, COSOC, Brasília - DF, 70712-
900- Fone: 0800-706-9000; FUNDAÇÃO PETROBRÁS DE
SEGURIDADE – PETROS, entidade fechada de previdência
complementar, instituída pela PETROBRÁS S/A, com personalidade
jurídica de direito privado sem fins lucrativos, incrita no CNPJ sob o
nº 34.053.942/0001-50, com sede na Rua do Ouvidor, 98, Rio de
Janeiro- RJ, CEP: 20.040-030 – Fone: 0800 025 35 45 e da PREVI -
3
CAIXA DE PREVIDÊNCIA DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO
BRASIL, entidade fechada de previdência complementar, instituída
pelo Banco do Brasil S/A, com personalidade jurídica de direito
privado sem fins lucrativos, incrita no CNPJ sob o nº 33.754.482/0001-
24, com sede no Centro Empresarial Mourisco (Torre Pão de Açúcar)
Praia de Botafogo, 501/3º e 4º andares – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ,
CEP: 22250-040 – Fone: 0800-729-0505, pelas razões de fato e de
direito a seguir expostas.
- Das Notificações
4
que, pela urgência do caso, não foi possível obtê-las em tempo hábil
ao protocolo, diante da reunião que se anuncia (11.08).
1. Síntese da Demanda
i) A FUNCEF, assim como outros fundos que possuem custeio da
União, são acionistas da VALEPAR S/A;
ii) A VALEPAR S/A possui poder de controle sobre a companhia
VALE S/A;
iii) A VALEPAR S/A decidiu alienar o seu controle no âmbito de
uma operação destinada a adaptar a VALE S/A às regras do
novo mercado;
iv) O valor que a VALEPAR S/A aceitou nesta venda é questionável;
v) A perda de valor decorrente deste baixo preço ameaça o
equilíbrio financeiro destes fundos previdenciários;
vi) A operação de alienação será consolidada em 11 de agosto, com
a conversão de ações preferenciais em ordinárias;
Em razão desses elementos:
vii) Pede-se liminarmente a imediata suspensão da conversão
das ações; e
viii) Pede-se a anulação da assembléia que decidiu acerca da
alienação
5
o Para que nova negociação, que siga os critérios de
publicidade, justiça e correção, possa ocorrer, preservando
os interesses dos fundos, que são entidades
Previdenciárias necessitadas de saúde e estabilidade
financeira para arcar com benefícios.
2. Dos Fatos
2.1 A FUNCEF, a Vale, a Litel e a Valepar
7
Acionista Número Ações % Total
Acionista % Total
Valepar 53,35
Outros 39,25
Total 100%
1
Informação obtida em www.bmfbovespa.com.br, último acesso em 02/08/2017
8
2.2. O Controle da Vale
2
http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/listagem/acoes/segmentos-de-listagem/novo-mercado/
10
Ações ordinárias 3 são aquelas com direito a voto. Ações
preferenciais4, por sua vez, dispensam do direito de voto em troca de
algum outro benefício, como prioridade ou acréscimo nos
dividendos. Apesar de possuírem alguns direitos previstos em lei e
estatutos, os titulares de ações preferenciais a princípio não possuem
ingerência expressiva sobre a conduta da sociedade empresarial.
A Vale, por meio de tratativas realizadas apenas no âmbito
da diretoria da empresa e de seus acionistas, recentemente, decidiu
alterar sua estrutura acionária para adequar-se às regras do novo
mercado. Entre os passos a serem tomados para esta adequação, cabe
destaque para os seguintes:
Conversão de ações preferenciais em ordinárias
Eliminação do bloco de controle e incorporação da Valepar pela
Vale
Pagamento de prêmio de 10% aos titulares de ações da Valepar
o Prêmio pago na forma de novas ações em número
equivalente a 10% do número detido anteriormente
A narrativa anunciada para esta mudança é a modernização
da estrutura de governança da empresa para refletir um modelo
menos sujeito ao comando do acionista controlador.
3
Art. 16 da Lei 6.404/76
4
Art. 17 da Lei 6.404/73
11
A decisão por prosseguir neste rumo foi tomada em
assembleia geral extraordinária da Vale, ocorrida em 27/06/2017.
12
Em outras palavras, a FUNCEF e os demais fundos estão
abrindo mão de valores certos e tangíveis, que inclusive fazem parte
de seus controles contábeis como receita do fundo, para aceitar uma
mera possibilidade (e, portanto, incerta) situação de valorização das
ações.
As perdas decorrem de diversas fontes, como demonstrado
ao longo desta peça, merecendo destaque que:
i) O prêmio oferecido é vastamente inferior ao ágio
razoavelmente esperado;
ii) As perdas por diluição são concentradas nos fundos e
os benefícios difundidos pela companhia;
iii) A capacidade de influência sobre a companhia é
igualmente reduzida. Estas consequências, e outras,
serão apreciadas a seguir.
13
3.1 Lesividade ao Patrimônio da União
5
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio da União (...)
6
Cerca de 6,4% diretamente na Vale e acima de 6% indiretamente, por sua participação na Valepar.
14
A possibilidade de ajuizar ações populares nesse contexto é
imprescindível para que a Justiça Federal possa avaliar dano ao
patrimônio da União. Se não fosse possível, haveria uma imunidade
de fato a atos lesivos ao patrimônio federal: mesmo que uma entidade
completamente controlada pela União malversasse seu patrimônio,
não seria possível trazer a matéria à atenção de um Juiz Federal.
O segundo motivo citado envolve a estabilidade econômica e
financeira das empresas estatais sob seu controle. Os fundos de
pensão que compõem a Litel foram instituídos em benefício dos
funcionários dessas empresas. O aporte realizado pela União a tais
fundos constitui uma parte substancial do pacote de remuneração e
incentivos oferecido a funcionários.
A perda de valor dos investimentos implica potencial crise
no âmbito da empresa. Mesmo que a estatal opte por não auxiliar a
empresa a cobrir eventuais déficits decorrentes de decisões
inadequadas sobre investimentos, ainda ocorrerá o prejuízo
decorrente da perda de incentivos e da maior dificuldade de retenção
de funcionários, que veem seu potencial de benefícios de
aposentadoria reduzido. E, consequentemente, cai o valor da estatal
para a União.
15
3.2 Lesividade ao Patrimônio de Instituição para cuja Criação ou
Custeio o Tesouro tenha Contribuído
7
https://www.funcef.com.br/sobre-a-funcef/historico-da-seguridade-social-na-caixa/
8
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio (...) de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua (...)
16
Ainda no caput do art. 1 º , nota-se mais uma menção
9
“O Tesouro Nacional informou nesta sexta-feira (23) que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social) fez o pagamento de R$ 100 bilhões. (...) O Ministério da Fazenda avaliou, por meio de nota, que ‘a operação é
importante componente do programa de ajuste fiscal do governo federal e resulta em melhora substancial e imediata no nível
de endividamento”. Notícia de 23/12/16, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/12/1844187-bndes-devolve-
r-100-bi-ao-tesouro-e-divida-bruta-tem-queda-de-16-do-pib.shtml
10
“No mês passado, houve emissão de líquida de títulos públicos de 65,06 bilhões de reais, a maior do ano, incluindo os 30
bilhões de reais emitidos pelo Tesouro ao BNDES” Notícia de 24/07/14, disponível em
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,divida-publica-interna-sobe-4-em-junho-com-aporte-ao-bndes,1533518
17
3.4 Prática de Ato Lesivo por Ação ou Omissão
11
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as
autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato
impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
12
ADMINISTRATIVO. AÇÃO POPULAR. CABIMENTO. ILEGALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO. LESIVIDADE AO
PATRIMÔNIO PÚBLICO. COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO. NECESSIDADE.
1. O fato de a Constituição Federal de 1988 ter alargado as hipóteses de cabimento da ação popular não tem o efeito de eximir
o autor de comprovar a lesividade do ato, mesmo em se tratando de lesão à moralidade administrativa, ao meio ambiente ou
ao patrimônio histórico e cultural.
2. Não há por que cogitar de dano à moralidade administrativa que justifique a condenação do administrador público a restituir
os recursos auferidos por meio de crédito aberto irregularmente de forma extraordinária, quando incontroverso nos autos que
os valores em questão foram utilizados em benefício da comunidade.
3. Embargos de divergência providos.
(EREsp 260.821/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/11/2005, DJ 13/02/2006, p. 654)
18
estratégicas da empresa, em nome de uma retribuição de apenas 10%
(dez por cento) de ações de natureza ordinária.
Com esse incremento do número de ações de apenas 10%, o
valor proposto já corresponde, de início, a uma evidente destruição
de pelo menos metade do valor do ativo nos registros contábeis da
FUNCEF.
20
vantagem e cujo valor no mercado é elevadíssimo, por uma mera
percepção de um prêmio de 10% de ações que, ao final, representarão
uma diluição (perda) de apenas 3% para os demais acionistas.
É possível afirmar que as entidades lesadas estão a abrir mão
de sua posição de controle por meros 3% (três por cento) das ações
dos demais acionistas que passarão a assumir uma posição de
manifesta preponderância na Vale.
Se comparado o cenário da aquisição realizada pela Mitsui,
com o atualmente apresentado, todos os prognósticos levam à
conclusão pela completa ausência de razoabilidade e pela manifesta
situação de lesividade aos fundos, ao BNDES e à União.
Configura-se a lesividade por duplo fundamento: De um
lado, a ação dos representantes dos Fundos, BNDES e União, que
indicaram a sua aceitação ao plano de aquisição e de entrada da Vale
no novo mercado sem a devida transparência, publicidade e proteção
aos interesses de seus representados. De outra ponta, afigura-se
presente a omissão dos agentes ao deixarem de atuar diretamente nos
interesses de seus representados, assumindo como possibilidade
factível a absurda situação de alteração da posição dos fundos dentro
do controle acionário da Vale.
Resulta, assim, amplamente demonstrado o cenário de
lesividade e o grave risco de lesão aos Fundos, à União e ao BNDES
21
em razão de atos comissivos e omissivos que geram um cenário de
manifesto risco para referidas entidades que estão na iminência de
ver a sua posição de precedência ser extinta sem a devida
contraprestação, já que, se por um lado a existência de um valor
intrínseco à posição de controle é fato incontestável (vide aquisição
realizada por Mitsui), por outro, a eventual valorização das ações
diante da colocação da Vale no novo mercado, nada mais é do que
mera situação de especulação13.
4. Das Partes
4.1 Autores
13
Não seria absurdo afirmar que o cenário justifica a utilização do dito popular: Trocar o certo pelo duvidoso.
14
Art. 1º (...) § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele
corresponda.
22
Como mencionado no item 3 desta peça, os Fundos de
Pensão, a União e o BNDES sujeitam-se a prejuízo substancial em
decorrência da alteração societária ora discutida. Afiguram-se, assim,
partes relevantes nesta causa dedicada a invalidar juridicamente a
assembleia geral extraordinária que ocasionou essa lesão.
Note-se que os Autores não entraram com esta ação contra a
União Federal, como tende a ser o caso em ações ajuizadas por
particulares. A ação popular é instrumento que permite ao cidadão
que realize o seu ajuizamento em favor da União, como realizado
nesse momento.
Caso deferidos os pedidos de liminar e de mérito, os Fundos
de Pensão, a União e o BNDES podem contar com a possibilidade de
obter ganho no valor de suas ações substancialmente superior ao
decidido pela assembleia ora impugnada. Além disso, do ponto de
vista da União, nota-se um risco consideravelmente inferior de crise
em empresas estatais por eventuais insuficiências de patrimônio de
fundos de pensão.
Por este motivo, roga-se que, uma vez citados a integrar esta
ação, os Fundos de Pensão que integram a LITEL, a União e o BNDES
23
optem pela previsão da lei da ação popular que lhes permite decidir
por15:
Abster-se de contestar o pedido, uma vez que não há interesse
jurídico em oferecer oposição à pretensão ora apresentada nesta
peça; ou
Atuar ao lado do autor, uma vez que útil ao interesse público,
dado o potencial de retorno aos cofres públicos.
15
Art. 6º (...) § 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá
abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo
do respectivo representante legal ou dirigente.
24
controle assumido pelos Fundos de Pensão e BNDES, podendo,
assim, atuar de uma forma que seja, inclusive, contrária aos interesses
de tais entidades que, como comprovado, passarão a deixar de
possuir uma posição de controle clara.
A hipótese, portanto, é de notório enquadramento das partes
acima indicadas como aquelas que realizaram ou se beneficiarão do
ato lesivo ora impugnado.
5. Do Potencial de Dano
25
O fato de integrar um bloco de controle tende a ser
acompanhado de substancial aumento do valor das ações detidas
pelo controlador. Como mencionado anteriormente, a própria Mitsui,
integrante da Valepar, pagou ágio de cerca de 64% para adquirir as
ações do bloco de controle da Vale. Não há como ter um exemplo
mais adequado aos autos do que esse.
É importante ressalvar que este patamar é compatível, e até
baixo, se comparado a outras sociedades empresárias. No passado, a
entrada no grupo de controle da Usiminas envolveu ágio de 89%
sobre o valor cotado da ação no mercado. No caso da inserção no
acordo de acionistas da ALL, este ágio foi de 109%. Já a aquisição de
ações da Portugal Telecom envolveu ágio de cerca de 50%16.
Estes números reforçam uma conclusão simples: os 10% de
ações a mais oferecidas não chegam nem perto de compensar o ágio
razoavelmente esperável pelo poder de controle.
Para dar um caráter mais concreto ao montante de que se
trata, é importante conhecer o impacto financeiro da perda deste
controle. Mais especificamente, no caso da FUNCEF, que detém cerca
16
Dados obtidos em artigo publicado no Valor Economico: “Em novembro último, o grupo ítalo-argentino Ternium informou a
sua entrada no bloco de controle da siderúrgica Usiminas, pagando R$ 36 por ação, enquanto as ações ordinárias (USIM3)
estavam cotadas a R$19. O preço-alvo definido pelos analistas de mercado recolhido pela Bloomberg era ainda menor R$14. A
Cosan, empresa do segmento de energia, anunciou a aquisição de uma participação de 5,67% do capital total e de 49% das
ações do acordo de acionistas da empresa de logística ALL. O preço sugerido de R$ 23 por ação embutia um prêmio de 109%
sobre a cotação de fechamento do pregão anterior ao anúncio e de 54,6% sobre o preço-alvo indicado pelos analistas. No fim
de 2010, a Telefónica adquiriu a participação da Portugal Telecom na empresa de telefonia celular Vivo por € 62,05 por ação.
Considerando o câmbio da época, equivalia a cerca de R$ 150 por ação. A ação ordinária da Vivo era negociada no mercado
na ocasião por cerca de R$ 100”. Disponível em http://www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista/2555846/relacao-entre-o-
premio-de-controle-e-o-preco-justo-da-companhia
26
de R$ 5 bilhões associados a este ativo, um ágio de 64% representaria
mais de R$ 3 bilhões em caixa.
17
No que diz respeito à exclusão do ágio, a avaliação da Valepar, em anexo, indica:”Outro ativo relevante se refere aos
ágios gerados na aquisição de participações na Vale, cujo valor contábil é de R$ 3.073 milhões. O valor original desses
ágios é de R$ 4.783 milhões, tendo sofrido o efeito de amortizações no passado. Para fins de avaliação da Valepar, o
valor dos ágios foi considerado como sendo zero (conforme Instrução CVM 319).” Inteiro teor em aneo
18
Ao contrário do que afirma a Vale, a Inst. CVM 319, em nenhum momento, determina a desconsideração do ágio. (inteiro
teor anexo)
27
Note-se que os autores são dirigentes da FUNCEF e, nesta
condição, seria de se supor que possuiriam informações amplas e
suficientes acerca da operação. Não é o que ocorre.
A única análise mais aprofundada apresentada para
sustentar essa tese decorre de projeto oferecido pelo banco de
investimentos Morgan Stanley. Neste documento, indicou-se que os
10% oferecidos implicariam ganho de R$ 2,1 bilhão para o conjunto
dos acionistas da Litel. Afirmou-se ainda que haveria potencial de
valorização de ações de R$ 4,4 bilhões em razão da adoção das
práticas do novo mercado. A conclusão do banco é que haveria um
percentual de ganho de cerca de 20,1% para os fundos de pensão que
compõem a Litel.
Note-se que essa é uma análise altamente especulativa: não
há como saber se as novas práticas irão efetivamente valorizar a
companhia. Ainda assim, mesmo que se acreditasse integralmente
nas projeções do banco, o fato é que os 20,1% prometidos (não
garantidos) são uma fração irrisória em comparação aos 50% a 100%
que seriam esperados em um eventual leilão para alienação de ações
com poder de controle.
Note-se também que esse estudo altamente especulativo,
29
Esta diluição implica um menor potencial de poder de
controle por parte dos integrantes da Valepar. Quando esta empresa
detinha mais de 50% do capital votante da Vale, não havia outra
opção para controlar a empresa que não adquirir ações de algum dos
acionistas da Valepar.
Com a expansão do capital votante, os acionistas da Valepar
perdem esse monopólio. Há agora outras oportunidades para
potencial interessado no controle. O interessado poderá fazer oferta
pública aos demais agentes, poderá identificar novos grupos
minoritários interessados, e poderá lentamente acumular capital até
obter o controle. A posição da Valepar deixa de ser a de condição
necessária para o controle, e, consequentemente, perde-se o poder de
barganha que sustenta potencial valorização.
Já se indicou que com a efetivação do ato lesivo ora
impugnado, as entidades lesadas deixaram de ter uma posição de
controle, passando a possuir aproximadamente 20% (vinte por cento)
do número de ações da Vale.
Com isso, os controladores da VALEPAR estariam a abrir
mão de uma posição vantajosa, sem qualquer contraprestação que
venha a ser considerada como justa ou adequada aos valores de
mercado, a configurar, a não mais bastar, hipótese de grave lesão.
30
5.3 Redução do Valor de Controle pelo Novo Mercado
31
consequentemente, reduzir sua propensão a pagar mais pelo
controle.
O que estes exemplos ilustram é que os fundos de pensão
estariam perdendo em duas oportunidades. Em primeiro lugar, por
não serem compensados pelo valor do poder de controle. Em
segundo lugar, pelo menor valor atribuído ao controle no âmbito do
novo mercado e, consequentemente, pelo menor valor potencial que
um potencial investidor estratégico observaria em comprar ações
para um dia obter o controle.
32
acionistas da Vale, e que a VALEPAR terá no
momento da incorporação, caixa e equivalentes de
caixa em montante suficiente para quitar
integralmente seus passivos”
(…)
De onde vem esta diluição? Hoje a Valepar detém 33% do capital
da Vale aproximadamente. Então, um acréscimo no número de
ações da Valepar da ordem de 10% representa um acréscimo
global do número de ações da companhia um pouco mais de 3%.
Portanto, esta é a diluição dos demais acionistas.
33
Murilo Ferreira: Luciano, cabe salientar os benefícios fiscais que hoje
pertencentes à Valepar serão transferidos para a Vale, né...
Luciano Siani: ... em benefício de todos os acionistas. É.
Murilo Ferreira: ... e hoje é ao redor... esses benefícios fiscais ao redor
de R$ 3 bilhões.
34
Os valores apresentados são até mesmo de difícil
quantificação, mas plenamente aplicáveis quando se está tratando de
uma das maiores empresas do mundo. No mínimo, para além da
questão da perda do controle, é de se ter como comprovada a
lesividade do ato impugnado, uma vez que as entidades lesadas estão
abrindo mão da incrível quantia acima descrita sem qualquer
contraprestação monetária mínima que faça jus à posição adquirida.
19
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte. Constituição Federal
35
que o mercado de ações pratica, demonstra, por si só, cenário de
vícios e de antijuridicidade que justificam a pretensão ora deduzida.
20
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à
existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato
normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é
materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou
implicitamente, na regra de competência.
36
consubstanciado na aceitação da entrada na Vale no novo mercado
com as condições acima descritas que são, claramente, inaceitáveis.
É bom ressaltar que o estudo de um banco de investimento
(parte interessada na operação) não pode ser tido como fundamento
para a decisão ora impugnada, já que, como indicado, para além da
parcialidade, uma movimentação de tamanha importância deveria
pressupor a apresentação de vários estudos minudentes que
pudessem justificar a realização do ato lesivo impugnado.
Como se nota, a presente ação popular se volta contra a
prática de um ato realizado sem a devida transparência e publicidade,
que foi admitido sem qualquer base concreta que demonstrasse que
as entidades estariam diante de uma situação mais vantajosa.
O que se tem, in casu, é um calhamaço de elementos,
números, fatos e históricos que demonstram que a decisão tomada é
completamente contrária aos interesses das entidades e que em nada
as beneficiará.
É nesse sentido que também se entende presente o desvio de
finalidade, uma vez que, no caso da FUNCEF, por exemplo, a atitude
praticada pelos diretores e nesse ato impugnada vai de encontro à
21
DA FINALIDADE Art. 5º A finalidade da FUNCEF é a administração e execução de planos de benefícios de natureza
previdenciária, nas condições previstas nos Regulamentos próprios.
37
Assim, sendo notória a lesão ao artigo 37, da CF, bem como
ao artigo 2º, “b”, “d” e “e”, da Lei 4.717/65, merecem ser julgados
procedentes os pedidos.
violação ao artigo 37, da CF, bem como ao artigo 2º, “b”, “d” e “e”, da
40
Os fundos de pensão, o BNDES e a União perderão o
controle em benefício da VALE e dos demais acionistas sem qualquer
contraprestação minimamente aceitável ou razoável.
O cenário narrado à exaustão indica, sem maiores questões,
hipótese de enriquecimento sem causa que, por seu turno, enseja
cenário de grande risco de dano às entidades lesadas, as quais estão
abrindo mão de posição concreta de controle em troca de incerta e
futura possibilidade de valorização.
Por tais elementos, é manifesto o cenário de desvio de
finalidade dos poderes atribuídos aos diretores das entidades lesadas
quando se tem em conta que foi tomada decisão que vai de encontro
aos interesses das entidades por ele dirigidas, a justificar, assim, a
nulidade do ato lesivo impugnado, com base no artigo 2º, “e”, da Lei
41
quando configurada a plausibilidade do pedido e o risco de dano
irreparável ou de difícil reparação.
Na presente hipótese, a plausibilidade do pedido está mais
do que demonstrada quando considerados todos os elementos acima
narrados, em especial, o potencial de lesividade às entidades que
compunham a LITEL e que, por seu turno, possuem a União como
sua patrocinadora.
Satisfeitos todos os requisitos formais para cabimento da
ação popular e demonstrada a hipótese clara de lesividade e
antijuridicidade do ato impugnado, resulta satisfeito o requisito da
plausibilidade do direito.
No que diz ao risco de dano, ou ao periculum in mora, esse
resulta materializado por todos os elementos e notícias acostadas aos
autos que comprovam que o ato ora impugnado será efetivado no dia
11.08.2017.
Caso efetivados os atos lesivos aqui indicados, a tutela
jurisdicional requerida perderá a razão de ser, eis que toda a situação
de dano ora demonstrada estará configurada, com reversão
praticamente impossível.
Assim, outra saída não resta aos Autores que não o
requerimento da tutela provisória de natureza cautelar de forma que
as Rés se abstenham de realizar qualquer alteração na sua
42
composição societária, bem como que deixem de efetivar quaisquer
dos atos previstos na assembleia geral extraordinária da VALE S.A. de
27.06.2017, até que seja julgado o mérito da presente demanda, sob
pena de prejuízos incomensuráveis às entidades indicadas, bem como
aos seus associados e à União, direta e indiretamente.
Por todos os elementos acima narrados, em especial, pela
plausibilidade do pedido e demonstração da notória hipótese de
lesividade, e pela constatação de que o curso natural do processo
poderá levar a um provimento jurisdicional inócuo, requer, com
23
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.(...)
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
43
Requer assim, seja mantido o status quo económico e
organizacional até que venha a ser proferida decisão definitiva por
parte do Poder Judiciário.
8. Do Pedido
44
b) A citação das rés para, querendo, apresentar contestação,
observada a possibilidade de atuação ao lado das autoras, na
24
§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de
contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo
representante legal ou dirigente.
25
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência
45
Dá-se à causa o valor de R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de
reais) valor que beneficiaria a VALE S.A na hipótese de manutenção
da incorporação da VALEPAR e eliminação do bloco de controle
societário.
Nestes termos,
Esperam deferimento.
Brasília, 09 de agosto de 2017.
46
DANIEL AUGUSTO TEIXEIRA DE MIRANDA
OAB/DF – 26.905
47