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GT0310
Resumo: O milenarismo é a crença de que num futuro próximo Deus intervirá de maneira
sobrenatural na história e implantará uma nova ordem mundial de paz e justiça. Há elementos
da referida crença em textos do Antigo e Novo Testamento; em expressões religiosas no
cristianismo primitivo e em escritos dos Pais da Igreja como Irineu, Tertuliano e Santo
Agostinho. Ao longo da história, diversos grupos sócio-religiosos adotaram espiritualidades ou
mentalidades milenaristas. No que diz respeito ao milenarismo no período medieval, Ernst
Bloch em Müntzer, Teólogo da Revolução (1973) discutiu as proximidades entre movimentos
messiânico-milenaristas e utopias. Bloch faz uma análise da revolta dos camponeses durante o
período da Reforma. Em terras brasileiras os ameríndios tupi-guarani também possuíam sua
própria espiritualidade milenarista; profetas destas tribos percorriam aldeias e diziam que eram
a reencarnação de heróis tribais e, que um novo tempo, uma nova era seria implantada em
breve. No final do século XIX, Antônio Conselheiro, líder do movimento sócio-religioso de
Canudos almejava a construção de uma comunidade onde todos seria iguais; uma “Nova
Canaã”, a “Terra Prometida”. Também encontramos espiritualidades milenaristas no movimento
sócio-religioso do Contestado, onde os sertanejos, liderados por monges anunciavam a
chegada da Nova Jerusalém. Na história recente do Brasil temos os grupos pentecostais que
também adotam espiritualidades milenaristas. Para Roger Bastide o milenarismo deve ser
entendido como “estratégia de busca de uma nova identidade e dignidade”. O Objetivo da
comunicação é descrever as espiritualidades milenaristas de grupos sócio-religiosos e suas
relações com dimensões político-sociais no Brasil contemporâneo. Há grupos sócio-religiosos
que adotam espiritualidades milenaristas como forma de protesto social. Enquanto outros
grupos adotam espiritualidades milenaristas como receio da perda de valores identitários.
1
Ernst Bloch (1885-1977) foi um filósofo marxista alemão tendo como a utopia um de seus principais campos de
estudo. Exerceu influência no pensamento de intelectuais como Theodor W. Adorno, Jürgen Moltmann, Johann
Mertz e Gustavo Gutierrez.
2
Müntzer, nascido entre 1485 e 1490, havia encontrado Lutero, na ordem dos agostinianos. Mestre em Teologia, foi
profundamente marcado pela mística medieval, da qual conservou porém mais a linguagem que o espírito. O
enriquecimento rápido dos chefes de empresa e a pobreza dos mineiros criaram fortes tensões socias. Müntzer foi
enfluenciado foi influenciado em Zwickau, na Saxõnia, pelo tecelão Nicolau Storch e seus amigos “profetas de
Zwickau”. Eles rejeitavam todo o clero, desvalorizavam os sacramentos, rebatizavam os adultos, fundamentavam sua
fé não apenas sobre a Escritura mas também sobre a revelação, sempre atual do Espírito entre os membros de sua
comunidade ( DELUMEAU, 1995, p. 119).
3
Slavoj Žižek (1949 - ) filósofo e psicanalista esloveno.
4
O texto de Apocalipse 6 fala de quatro cavaleiros: branco, vermelho, preto e amarelo. Eles surgem na terra e são
incubidos de causar destruição.
5
Mede nasceu em 1586. Era egiptólogo e hebraísta. Foi autor do livro “Chave do Apocalipse”
6
Joseph Priestley nasceu em 1733. Foi teólogo, filósofo naturalista e político britânico.
7
O messias brasileiro mais conhecido e estudado foi Antônio Conselheiro, cuja família se celebrizara em lutas
frequentes no interior do Brasil, a luta entre Maciéis e Araújos, no Ceará. O interior do Nordeste era então percorrido
por missionários itinerantes que iam de lugarejo em lugarejo evangelizando, acompanhados por uma turba de
penitentes e romeiro; Antônio Conselheiro foi a princípio um romeiro, sendo provável que tenha então atravessado o
Ceará, em direção à Bahia. Vivia de esmolas, aceitando somente o necessário para o sustento de cada dia (Queiroz,
1965, p. 203).
8
O conflito armado em Canudos aconteceu de 1896 a 1897.
Nessa mentalidade é mais evidente o dualismo, a luta entre o bem e o mal, Deus
e o diabo. Para os conservadores essas dimensões do mal devem ser combatidas,
sobretudo no espaço público da política.
Conclusão
Referências
BASTIDE, Roger. O sagrado selvagem e outros ensaios. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
MONIZ, Edmundo. Canudos: a guerra social. Rio de Janeiro: Elo Editora, 1987.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O messianismo no Brasil e no mundo. São Paulo:
Dominus Editora, 1965.
ZIZEK, Slajov. Vivendo no fim dos tempos. São Paulo: Boitempo, 2012.