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O PATRl/r\ÔNJO EM PROCE~SO
rRAJETÓRIADA POLÍTICA fEOfRAl Df PRHERVACÃO NO 8RA51l
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20 05
Copyrighl © 1997 by Maria Ceci!i1 Londres Fonseca
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3.3 A criação do Sphan 94
3.3.1 As iniciativas precursoras 94
3.3.2 A institucionalização da proteção do patrimônio ~
96
3.3.3 O anteprojeto de Mário de Andrade e o decreto-lei 112 25 98
3.4 O programa de trabalho do Sphan 106
3.4.1 As prioridades e os limites 106
3.4.2 A construção de um saber verdadeiro 110
1:
3.4.3 Um retrato em pedra e cal 112
3.5 Os colaboradores e os adversários 116
3.5.1 O papel da equipe e do Conselho Consultivo 116
3.5.2 As vozes discordantes 118
\
Conclusão 213
Anexo s
llSTh DE SIGLhS
!
Dphan Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
PC Partido C8munista
PD Partidc Democrático
PMDB Partido do Movirnen1o Democrático Brasileiro
PN DA Prog rama Nacional de Desenvolvimento do Artesanato
PP Partido Progressista
PSD Partido Social Democrata
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PT Partido dvs Trabalhadores
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
Sear Secretaria de Assuntos Culturais do MEC
Seac ::.ubsecretaria de Assuntos Culturais do MEC
Senalba Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas. de
Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional, de Brasilia
Seplan Secretaria de Planejamento da Presidência da República
Span Serviço do Património A, ,ístico Nacional
Sphan Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Sphan Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Sphan Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Suden e Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
UDN União Democrática Nacional
UNE União Nacional dos Estudantes
Une se o United Nations Educalional, Scientific and Cultural Organization
(Organização da s Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)
PREf ÁC IO À SfGUNDÂ EDIC ÃO
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No cenário internacional, a Unesco tem desenvolvido uma série de iniciativas
que visam à ampliação da noção de patrimônio cultural e, mais especificamente, ao
reconhecimento, à valorização e à salvaguarda do patrimônio cultural imaterial. Os
),
programas Tesouros Humanos Vivos e Prodamação das Obras-Primas do Patrimô-
nio Oral e Imaterial da Humanidade, e a Convenção para a Salvaguarda do Patri-
mônio Cultural Imaterial, aprovada em 2003, resultam de uma avaliação crítica da
aplicação da Convenção sobre a Salvaguarda do Patrimônio Mundial, Cultural e Na-
tural, de 1972, q~e, devido aos critérios adotados, tem privilegiado as expressões
monumentais e as tradições de origem européia e cristã. Outra tendência recente
é a valorização do patrimônio natural e a elaboração de figuras inovadoras, como a
de "paisagem cultural". No diálogo dos países com a Unesco, o Brasil tem tido par-
ticipação ativa, apresentando candidaturas e contribuindo com suas experiências.
As idéias, propostas e projetos desenvolvidos nos anos 70 e 80, em grande
parte por inspiração de Aloisio Magalhães - e que são objeto de análise nos capí-
tulos 4 e 5 -, foram retomados no final dos anos 90, sobretudo a partir do seminá-
rio internacional realizado pelo lphan em Fortaleza, denominadó Patr.imõnio Imate-
rial: estratégias e formas de proteção. Na Carta de Fortaleza, recomendava-se o
"aprofundamento da discussão sobre o conceito de patrimônio imaterial e o desen-
volvimento de estudos para a criação de instrumento legal instituindo o 'registro'
como seu principal modo de preservação". 1
Depois de mais de dois anos de trabalho, em 4 de agosto de 2000 foi editado
o decreto-lei n2 3.551, que "institui o Registro dos Bens Culturais de Natureza Ima-
terial e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial". E, como ocorreu com o
decreto-lei 11 2 25, de 30 de novembro de 1937, o instrumento legal elaborado pelo
Brasil para a preservação de um campo tão significativo de seu patrimônio a.Jltural -
o dos bens culturais de caráter processual e dinâmico - caracterizou-se pela abran-
gência de seu alcance e por buscar adequar-se à especificidade do patrimônio
em questão, sobretudo no que diz respeito às ações de salvaguarda. Mas, como
também foi o caso com a legislação que regulamenta o tombamento, a legitimidade
desse instrumento legal ainda está por ser conquistada, o que dependerá, fundamen-
talmente, das políticas desenvolvidas a partir de sua aplicação e, principalmente,
de sua apropriação pela sociedade brasileira.
A seu favor, o decreto-lei n2 3.551 tem a experiência de quase setenta anos
de vigência do decreto-lei 11 2 25/1937, e, sobretudo, a consolidação, não apenas
em nível federal, como em estados e municípios, de políticas de patrimônio cultu-
Nom
Patrimônio imaterial: o registro do patrimônio ílnaterial. Dossiê final das atividades da Co-
missão e do Grupo de Trabalho P3trir..6nio lma!enal. 2. ed. Brasília: Ministério da Cultura -
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2003.
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Essa trajetória que acabei de esboçar muito rapidamente, e que será apre-
sentada nos capítulos 3 e 4, indica, a meu ver, que o grande desafio, ainda hoje, (
do e sociedade. Não teriam esse período e essa nova orientação deixado marcas
no sentido de propiciar uma democratização da política federal de patrimônio? Ou
tratou-se apenas da afirmação de uma boa intenção de agentes institucionais,
carente, no entanto, de condições sociais e poiíticas para ser implementada? Pro-
curar elementos para responder a essas indagações é um dos objetivos deste tra-
balho.
O panorama atua!, relativamente às políticas culturais no Brasil, parece indicar
que nada mudou nesse campo periférico das po\i ticas estatais: 2 questão cultural
ra ramente aparece na agenda dos partidos políticos ou nos discursos de eventuais
IH!ROD U( ÂO DIJ
candidatos; os cargos públicos na área da cultura não despertam maior interesse
por parte da classe política; e, da parte da sociedade, raras são as ocasiões em
que ocorrem mobilizações em torno de demandas especificamente voltadas para
a questão da cultura. A facilidade e a profundidade com que foi realizado o "des-
mantelamento da área da cultura" no infcio do governo Collor seriam um indício
dessa situação.
No caso da política federal de preservação, os cerca de mil bens tombados
(incluindo-se aí desde monumentos isolados a conjuntos da extensão do Centro
Histórico de Salvador, com aproximadamente trezentos imóveis, e cidades intei-
ras,· roma Ouro Preto, Tiradentes, Olinda, Antônio Prado) funcionam mais como sím-
bolos abstratos e distantes da nação do que como marcos efetivos de uma identi-
dade nacionc1I com que a maioria da população se identifique, e que integrem a ima-
gem externa do Brasil. Na ve~dade, a identidade brasileira tem sido representada
basicamente pelo samba, pelo futebol, pelo carnaval e, mais recentemente, pelas
telenovelas e pela Fórmula 1. No exterior, o Brasil continua sendp valorizado sobre-
tudo por seus recursos naturais, pela sua natureza tropical - salvo nos meios inte-
lectuais e nos organismos internacionais de cultura, como a Unesco, onde o Brasil
tem vários bens inscritos como Patrimônio Cultural da Humanidade (ver Anexo IX).
Isso não significa, porém, que os bens culturais que se acham sob a proteção
legal do Estado - em função do tombamento - não sejam reconhecidos como de
valor, e que a sua preservação não seja considerada uma causa justa. Objeções
frontais só costumam ocorrer quando a ação do Estado vem contrariar interesses
particulares, como, por exemplo, de empresários da construção civil, proprietários
de imóveis antigos, prefeituras de cidades históricas com projetos de urbanização
modernizadores etc. ;Para a população em geral, os bens tombados costumam ser
valorizados por sua antiguidade, por sua riqueza, por sua beleza, cobrando-se
inclusive da instituição federal maior zelo na tarefa de protegê-los .. Já vão longe
os tempos em que os agentes do Patrimônio corriam o risco de serem apedrejados
por populações enraivecidas, que não hesitavam, inclusíve, em ocupar um imóvel
em vias de ser tombado com leprosos, para forçar sua demolição. 5 As reações
à ação do Estado, representado pela instituição federal encarregada da proteção
do patrimônio, hoje, quando ocorrem, se dão nos tribunais, na imprensa, na luta
política e no tráfico de infiuências.6
Valioso, trata-se, porém, de um patrimônio pesado e mudo. Pesado, não só
por sua monumentalidade, pela solidez dos materiais e pelo lugar qu_e ocupa no
INIRODUCÃO LnJ
(... ) de valor econômico que poJe ser aumentado ou diminuído, dependendo do lrata-
men!o que se dê aos bens preservados; de valor simbólico, constitutivo da memória,
da terrilorialídade e da identidade nacional, além de outras identidades mais específicas
e locais; e de valor politíco, levando ao aspecto da hegemonia e ao dos direitos culturais.
(1988, p. 16)
Nesse sentido, é importante considerar não apenas a atuação dos agentes ins-
titucionais, como também a participação - direta ou indireta - da sociedade nessa
construção, ou seja, a apropriação que é feita dessa prática pc!it::3 pe!::is dife-
rentes grupos sociais.
Em segundo lugar, considero os discursos oficiais produzidos sobre o patrimó·
nio como um aspecto dessa prática, por meio da qual diferentes atores, em diferentes
momentos, tentam resolver nesse campo específico algumas das grandes questões
que têm ocupado tradicional[!lente a refiexiio sociológica: a tensão entre o universal
e o particular, entre o públiro e o privado, entre tradição e modernidade, entre cultura
e política, entre Estado e sociedade. Nesse sentido, parto do pressuposto de que
uma política de preservação é uma prática bem mais amp!a que um conjunto de
atividades visando à proteção material de determinados bens.
Em terceiro lugar, procuro me situar criticamente em relação às análises so-
bre os dois períodos em questão. Considero que os fundamentos tanto de algumas
críticas feitas, nas duas últimas décadas, ao que seria o caráter excludente e eli-
tista da construção do patrimônio realizada pelos intelectuais modernistas nos
anos 30 e 40, quanto de certas objeções feitas ao trabalho desenvolvido pelo CNRC,
reduzindo-o a um recurso legitimador de um regime autoritário em crise, como fru-
tos de um anacronismo, 9 no sentido de que analisam problemas de uma época a
partir de questões e critérios formulados em outra. Por esse motivo, um dos obje-
tivos deste trabalho é tentar a maior aproximação possível do ponto de vista dos
agentes que conduziram, naqueles dois momentos decisivos, a política fede ral de
preservação no Brasil.
Ao analisar a representação do patrimônio histórico e artístico nacional cons-
truída pelo Estado, não a considero como reflexo das classes dominantes ou da
pluralidade cultural brasileira. Procuro, sim, adotar uma posição de critica ao modo
como esse objeto tem sido construído e ideologicamente elaborado por determina-
dos sujeitos sociais, que têm detido, no Brasil, o monopólio dessa construçã o. Em
suma, o objeto desta análise não é um produto - o conjunto de bens culturais que
compõem o patrimônio histórico e artístico nacional no Brasil, ou os discursos que
1mODUCÀO lliJ
quisa às condições atuais do Estado e da sociedade brasileiros, sob um regime
democrático - e tentar vislumbrar possibilidades de participação social ainda não
exploradas. 11
Qual a relação, no Brasil, entre as múltiplas memórias coletivas e urna memó-
ria nacional? E como é conduzida a apropriação da pluralidade cultural, enraizada
em práticas sociais diferenciadas, por uma práijca estatal de produção de um pa-
trimônio nacional e vice-versa? Essas questões, centrais nas políticas de preser-
vação, remetem à investigação do papel exercido pelos agentes dessa medidação,
enquanto intelectuais e enquanto homens públicos. 1i
Neste trabalho, privilegiei um periodo da politica federal de preservação no
Brasil - os anos 70 e 80 - sobre o qual existem pouquíssimos estudos, e vou
limitar-me a abordar um aspecto dessa política: o processo de seleção e ·de valo-
ração de bens para integrarem o patrimônio histórico e artístico nacional. Ficam de
fora, portanto, outras práticas constitutivas dessa política - as atividades, eminen-
tement~ técnicas, de conservação e de restauração, a proteção de bens móveis
nos museus, a questão específica dos. centros históricos, a promoção etc. Fica de
fora também a questão fundamental da apropriação que a sociedade faz desses
bens e da própria política federal de patrimônio, que só poderia ser analisada a
partir de casos particulares. Esse ângulo da questão será abordado apenas suma-
riamente, e, sobretudo, no capítulo 5, onde me concentro na pesquisa dos pro-
cessos de tombamento abertos a partir de 1° de janeiro de 1970, dirigidos ao Insti-
tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (lphan). 13
Resumindo o roteiro deste trabalho, no capítulo 1 procuro explicitar o modo
como, no Brasil, foi tormulada, a parti, de um estatuto jurídico próprio, a noção
de patrimônio, enquanto objeto de uma política pública. No capítulo 2, procuro tra-
çar a história dessa noção, distinguindo invariantes, ou noções de alcance univer-
sal - como as noções de monumento e de coleta - de variantes, noções histori-
camente produzidas - como as de patrimônio e de preseM1ção. Nos capítulos 3,
4 e 5, procedo à análise da trajetória dessa política pública no Brasil, relacio-
nando-a com o contexto cultural mais amplo.
Nor.11
"O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer
crer, de confirmar ou de transformar a visão de mundo e, deste modo, a ação sobre o
mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que
é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só
A teoria do controle cultura l. desenvolvida pelo antropólogo mexicano Guíllermo Bonfil Balalla
(1988), trata dessa questão.
Cf. Edgard Jacintho, em Memória oral n" 4 (MinC/SphanlFNpM, 1988), sobre os trabalhos
de inventário que rea lizou na cidade de São João dei-Rei, na década de 1940.
Exemplos interessantes de mobilização da sociedade ocorreram no tombamenlo do Hotel
Copacabana Palace e do Parque Lage (Rio de Janeiro, RJ), da Serra da Barriga (União dos
Palmares, AL) e do Terreiro da Casa Branca (Salvador, BA). e. mais recentemente. no asfal·
lamento de área tombada em São João dei-Rei (MG) e na construção de um complexo imo-
biliário na encosta tombada do Morro Dois Irmãos (Rio de Janeiro, RJ).
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Ver as emendas que foram encaminhadas pelos senadores Élcio Alvarez (PFL-ES), Jutahy
Magalhães (PSDB-BA) e Pedro Teixeira (PP-OF) e pelo deputado Germano Righotto (PMDB-
RS), que propõem a restrição da proteção, pelo poder público, aos bens de propriedade da
União e a prévia aquiescência a esses tombamentos pelo Serviço de Patrimônio da União.
Ver, a respeito, o trabalho já publicado de Milet (1988), e as teses, ainda inéditas, de Gon-
çalves (1990), Rubino (1991) e Santos (1992).
Sobre o conceito de anacronismo na pesquisa histórica, diz o historiador Luís Felipe de Alen-
castro: 'Ao mover-se do presente para outras épocas, e vice-versa, ao lidar com as conti-
nuidades, as passagens, as rupturas, as derivações, o historiador deve constantemente pre-
munir-se contra o pecado capital de sua disciplina: o anacronismo. Vestir uma determinada
10
sociedade com as roupas talhadas em outras épocas, eis em que consiste o anacronismo."
(1991, p. 63)
Essa distinção (assim como a diferença entre coisa e valor, feita no início do capitulo 1)
1
t
i
é utilizada neste trabalho como recurso ana litico. para esclarecer certos aspectos da ques-
tão do patrimônio. Na bibliografia consultada, os termos política estatal e política pública ::
:. ,
costumam ser tomados como equivalentes. ,
11
•
Alguns textos recentes têm abordado a questão do patrimônio nesse sentido, corno a série
Les Lieux de mémoire, do historiador francês Pierre Nora (1984-1992). No Brasil, os traba-
lhos do antropólogo Antônio Augusto Arantes também exploram essa perspectiva.
12 .4
Como parte da pesquisa, foram realizadas entrevistas com atores dessa política, visando
a colher informações de bastidores, que não constavam dos documentos oficiais, e também
no sentido de apreender a visão que esses atores tinham das instituições em que traba- •·~
lhavam e da atividade por elas desenvolvida. Essas entrevistas se revelaram especialmente
valiosas para a análise do período 1970-1980, e. sobretudo, da atuação do Centro Nacional
de Referência Cultural (CNRC), dada a carência de material documental arquivado sobre
essa instituição e sobre as iniciativas e contatos feitos por Aloisio Magalhães e seus colabo-
radores. Foram realizadas entrevistas com Lúcio Costa, Ligia Martins Costa, Judith Martins,
Dora e Antônio Pedro Alcântara, Embaixador Vladimir Murtinho, Clara de Andrade Alvim, José
Silva Quintas, Luís Felipe Perret Serpa, Paulo Sérgio Pinheiro.
Contribuíram também com informações valiosas Maria Alice Siaines de Castro, Ann-Maj
Beckman Meirelles, Ana Gita de Oliveira e Helena Mussi.
/\- ·,
(1
··
Ição, no final do século XVIII, durante a Revolução Francesa, e foi precedida, na
civ~lização oci~e~tal, pela autonomização das no~es de_a~e e de história. O his-
tónco e o art1st1co assumem, nesse caso, uma d1mensao instrumental, e passam
J ~ ser utilizados na construção de uma representa ção de nação. Já dizia Guizo!,
~ o século XIX, que o solo da França é simbolizado por seus monumentos.2
Enquanto prática social, a cons:Huição e a proteção do patrimônio estão
assentadas em um estatuto jurídico próprio, que torna viável a gestão pelo Estado,
em nome da sociedade, de determinados bens, selecionados com base em certos
critérios, variáveis no tempo e no espaço. A norma jurídica, nesse caso, funciona
como linguagem performativa de um modo bastante peculiar: não apenas define
direitos e deveres para o Estado e para os cidadãos como também inscreve no es-
paço social determinados ícones, figurações concretas e visíveis de valores que se
quer transmitir e preservar.
A seguir, com base na idéia de patrimônio tal como é form ulada em textos jurí·
dicas brasileiros,3 vou procurar especificar o modo como, no Brasil, se constituiu
essa noção enquanto fato jurídico e enquan to fato social.
Ili. proteger as belezas naturais e os monumentos de valor histórico cru artí stico. po-
dendo impedir a evasão de obras de arte.
\. .·--i'.~º:?~'. ~f;'.'0L\OIJ
No caso dos bens patrimoniais, os atributos da coisa são considerados valo-
res culturalmente relevantes, excepcionais. No caso do Brasil, determinados bens
como igrejas dos séculos XVII e XVIII, casas de câmara e cadeia, fortes , palácios,
sedes de fazendas etc. foram erigidos pelos agentes do Sphan em simbolos da
nação por sua vinculação a fatos memoráveis mas, sobretudo, por suas qualidades
construtivas e estéticas. Cabe, portanto, recorrer à noção de simbolo, pois haveria
uma motivação, baseada na cultura, na constituição desses símbolos.
Pode-se concluir que os patrimônios funcionam como repertórios nos termos
da definição de Umberto Eco: "um repertório prevê 1Jma lista de símbolos, e even·
tualmente fixa a equivalência entre eles e determinados significados" (1987, p. 40).
... Neste ponto, quero chamar a atenção para a distinção .,., até o momento não
explicitada - entre bem cultural e bem patrimonial. A intermediação do Estado no
segundo caso, através de a~~tes autorizados e de práticas socialmente definidas
e juridicamente regulamentadas, contribui para fixar sentidos e valores, priorizando
uma determinada leitura: seja a atribuição de valor histórico, erquanto testemunho
de um determinado espaço/tempo vivido por determinados aiores; Seja de valor
artístico, enquanto fonte de fruição estética, o que implica lé:lmbém uma modalidade
específica de conhecimento; seja de valor etnográfico, enquanto documento de
processos e organizações sociais diferenciados.
Ao se considerar um bem como bem cultural, ao lado de seu valor utilitário
e econômico (valor de uso enquanto habitação, local de culto, ornamento etc; e
valor de troca, determinado pelo mercado), enfatiza-se seu valor simbólico, en·
quanto referência a significações da ordem da cultura. Na seleção e no uso dos
materiais, no seu agenciamento, nas técnicas de construção e de elaboração, nos
motivos, são apreendidas referências ao modo e às condições de produção desses
bens, a um tempo, a um espaço, a uma organização social, a sistemas simbó-
licos. No caso dos bens patrimoniais selecionados por uma instituição estatal,
considera-se que esse valor simbólico refere-se fundamentalmente a uma iden-
tidade coletiva, cuja definição tem em vista unidades políticas (a nação, o estado,
o município).
Assim como ocorre na literatura, portanto, e nas artes em geral, para que
determinados bens funcionem enquanto patrimônio é preciso que se aceite uma
convenção: que esses bens conotam determinadas significações - ou seja, que
se entre no jogo, aceitando suas regras. Isso significa que o interlocutor deve ter
condições de participar do jogo não só na medida em que tenha algum domínio
,
,l
A imagem que se tem da politica federal de preservação no Brasil contradiz
essa afirmação. A idéia de uma ação política monolítica, conduzida praticamente
J
·~
sem contestações pelo Estado, em nome do interesse público, foi, inclusive, refor-
çada pela aura que, até hoje, envolve a fase heróica do Sphan. Entretanto, como 1
a trajetória dessa política estatal veio demonstrar, essa foi apenas uma entre dife- .1
rentes orientações possíveis - e que, na época, se impôs sem maiores dificul- í
dades, como a mais apropriada - para se elaborar a questão da identidade na-
cional na constituição de um patrimônio histórico e artístico.
Partindo do pressuposto de que essa imagem é formada com base em uma
situação conjuntural - o modo como essa política vem sendo conduzida no Brasil,
o que uma análise comparativa com outras po\itícas pode comprovar -, propus-
me, neste trabalho, a abordar essa política estatal na sua relação com a sociedade,
procurando apreender, ainda que nos limites de uma prática específica - os tom-
bamentos - a presença de outros atores que não apenas os agentes institucionais.
Pois é evidente que, se essa política foi instaurada e se mantém há mais de
cinqüenta anos, é porque atende a algum tipo de demanda social mais ampla.
Na pesquisa, procurei seguir os passos discriminados tanto por Ozlack e O'Donnel
quanto por Jobert e Muller para a anátise de políticas públicas: a definição da
questão e do modo como ela se tornou politicamente relevante, passando a ser
objeto de uma política pública; a discrimin~ção dos atores envolvidos, estatais e
não-estatais, de sua inserção social e das lideranças que assumem o setor; os
recursos a que esses atores recorrem para legit'imar essa politica, ou seja, a rela-
ção de um projeto setorial com um projeto global para a nação; os instrumentos
utilizados na sua implementação.
No conjunto das políticas implementadas pelo Estado, as políticas culturais se
distinguem pelo tema. Mas, assim como as demandas nessa área são bem mais
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Os principais valores culturais atribuídos aos bens patrimoniais são o valor
artístico e o valor histórico. Embora a legislação possa se referir a outros valores -
o decreto-lei nQ 25, de 30.11.37, por exemplo, menciona também os valores ar-
queológico, etnográfico, paisagístico etc. - esses, na realidade, são tributários das
noções de história e de arte.
A percepção da especificidade da questão do valor na abordagem dos bens
que são considerodos monumentos históricos e/ou artísticos só se tornou possível
a partir de uma postura inovadora, que, segundo Françoise Choay, se iniciou com
o austriaco Alo"is Riegl, ligado, assim como Panofsky, Wólfflin e Gombrich, á ico-
nologia anglo-saxã. Diz ela, na introdução à edição francesa dt: Le Cu/te modeme
des monuments. publicado pela primeira vez em 1903, com o título de Der mo-
deme Denkmalkultus:
Único no seu gênero desde sua aparição, esse pequeno texto continua até hoje inigua-
lável.(... ) Basta indicar que, pela primeira vez na história da noção de monumento histórico
e de suas aplicações, Riegl !orna distância. Sua posição de observador não é nem a dos
arquitetos. que desde Alberti integraram a questão do monumento histórico na teoria de
sua disciplina, nem a dos homens de letras, que fizeram do patrimônio monumental oobje-
to de uma cruzada passional. Graças a essa distância, ele pôde, antes de qualquer outro,
realizar o inventário dos valores não ditos e das significações não explicitadas, subjacentes
ao conceito de monumento histórico. De imediato, este perde sua pseudotransparência
de dado objetivo. Torna-se o suporte opaco de ·,alares históricos transitivos econtraditórios.
de procedimentos complexos e confli1antes. (Riegl, 1984, p. 16-17)
l
capítulo anterior) desenvolveu, além de uma atividade acadêmica, trabalhos em
agências estatais voltadas para a preservação de monumentos. Possivelmente, foi
essa experiência, mais que seus estudos e pesquisas universitárias, que lhes chamou l
a atenção para a diversidade de valores atribuídos a um mesmo bem, enquanto !
i
monumento histórico e artístiço, e para os problemas decorrentes dessa realidade.
Esse estatuto atribuído a certos bens materiais implica, como no caso dos
bens religiosos, uma forma de propriedade coletiva, visando a preservá-los e a
garantir sua transmissão através das gerações. Na Idade Média, a aristocracia
projetava nos seus castelos e em outras representações de suas linhagens um
sentido de símbo'os de sua continuidade, e, por essa razão, esses bens se torna-
vam também objeto de preservação.
i
nacionalismo cultural devia sobretudo a Herder sua fundamentação. Foram predo-
minantemente os artistas, poetas e pensadvres que, nos paises germãnicos e
também na Inglaterra, exploraram essa imagem emotiva da nação. O sentimento
nacional se desenvo!veu com ênfase nos aspectos culturais típicos, difer<1ncia-
dores de cada nação. Já na França. predominava o nacionalismo político, desen-
volvido em torno da idéia de civilização, sobretudo por historiadores e homens
de letras.
No século XIX se consolidaram dois modelos de política de preservação: o
modelo anglo-saxõnico, com o apoio de associações civis, voltado para o culto
ao passado e para a valo(ação ético-estética dos monumentos, e o modelo fran-
cês, estatal e centralizador, que se desenvolveu em tomo da noção de patrimônio,
de forma planificada e regulamentada, visando ao atendime~to de interesses polí-
ticos do Estado. Esse último modelo predominou entre os países europeus, e foi
exportado, na primeira metade do século XX, para países da América Latina, como
o Brasil e a Argentina, e, após a Segunda Guerra Mundial, para as ex-colônias
francesas.
A conservação dos monumentos, na França, assumiu um caráter eminente-
mente museológico: irremediavelmente ligados ao passado, esses bens não teriam
mais lugar no fluxo da vida presente. O ideal de modernização e de progresso
difundido pela ideologia estatal conferia à preservação um compromisso com o 1
saber, um sentido de atividade racionalmente dirigida para interesses presentes.
O projeto urbanístico de Haussmann ilustra bem essa situação. Já nos países anglo-
saxões predominou, entre os principais agentes da preservação, o culto ao passa-
do e a valorização de seus vestígios enquanto reliquias, em decorrência do senti-
do mais agudo da ruptura que. na Inglaterra, decorria do confronto com a dura rea-
lidade da Revolução Industrial. Para os ingleses, o P(esente era representado pela
civilização que começava a se desenvolver na América do Norte e que, na obser-
vação crítica de Ruskin, era "um mundo sem uma lembrança nem uma ruina"
(apud Choay. 1992, p. 107).
Duas teorias distir1tas e conflitantes sobre a consel\'ação de monumentos his-
tóricos foram elaboradas, no século XIX, respectivamente, na França e na Ingla-
terra: a de John Ruskin e a de Viollet-le-Duc.
ACO NS!RU( ÂO DO PATRI.I\Ó M\O : PfRS PECT IVA HIS TÓRIC A.. , ...- - - • Lill
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No final do século XIX, com Camillo Boito,18 a teoria de Viollet-le-Duc foi con-
testada no campo específico da restauração. Boito considerava que "o caráter
acrescentado, adventício. ortopédico do trabalho refeito deve ser ostensivamente
marcado, e não deve, de maneira alguma. passar por original" (Choay, 1992, p.
127). Desse modo, Boito resolveu, pelo menos de um ponto de vista contempo-
râneo. a contradição entre restaurar e conservar.
Para Françoise Choay, a doutrina de Viollet-le-Duc visava a restituir ao monu-
mento o seu valor de documento íntegro, objeto de conhecimento, em detrimento
de seu valor enquanto monumento. sujeito às marcas do tempo. Diz, a propósito,
essa autora: "reconstituindo" um tipo, ele (o restaurador) fornece um instrumento
didático, que restitui ao objeto restaurado um valor histórico, mas não sua histo-
ricidade" (ibid., p. 121-122). Essa intervenção rompia com a corrente do tempo.
Os monumentos-documentos eram selecionados entre as obras notáveis e trata-
dos como modelos que era preciso ressaltar, daí a teoria da mise-en-va/eur: para
valorizar o essencial - o monumento excepcional - tudo que fosse perturbador ou
<
acessório à sua percepção (entendida aqui como visibilidade) devia ser eliminado.
O tecido urbano era rompido em nome da funcionalidade, da higiene e da segu-
rança pelos urbanistas. e em nome de uma estética pelos arquitetos. Esses últi-
mos, ao buscarem uma suposta autenticidade estética, atingiam em cheio a auten-
ticidade histórica.
.-A dissociação entre valores do conhecimento e valores da sensibilidade foi
percebida e explicitada por Alais Riegl, no inicio do século XX. Riegl procurou ana-
lisar a questão dos monumentos históricos não do ponto de vista du Estado, ou
enquanto representações da nacionalidade, mas a partir das diferentes percepções
que o contato com os monumentos suscita nos indivíduos. A análise de sua teoria
dos valores atribuídos aos monumentos históricos, que é apresentada no pequeno
mas denso livro O culto moderno dos monumentos, publicado na Áustria, em 1903,
fornece indicações ricas e surpreendentemente atuais para se refl~tir sobre a ques-
tão da preservação em suas múltiplqs versões, sobretudo se se tem em vista não
a produção do patrimônio - até hoje sob o controle homogeneizador do Estado -
mas a complexa e diversificada recepção dos bens culturais pelos diferentes es-
tratos sociais.
Esse ângulo do problema se apresenta, atualmente, inclusive. sem escapa-
tória, aos agentes da pr1::servação, à medida que a legitimação da proteção de
bens culturais pelo Estado via nacionalismo vem declinando. junto com essa ideo-
1 humanidade e de uma cultura universal, e a noção cada vez mais precisa de uma
cidadania fundada em direitos diversificados. para legitimar a atividade de pre-
servação.
- --
Pafêl Riegl (1984, p. 38}, todo monumento tem, necessariamente, uma dimensão
-- --.. - --·· ... - ·- ----·· ---- . . -·
hi~1ó.dca-e _uma dim.~nsão
· -,
.
estética, pois e_le parte
. ... -· ·· . . ~··
do pressuposto de .que
-·-- · ·· . " .
todo mo-
numento da arte é, simultaneamente, um monumento histórico, na medida em qúé
re'p(~·;enta um e~tágio determinado n~ ~volução das artes plásticas. de que não
é possível, stricto sensu, encontrar um equivalente. Por outro lado, todo monu-
mento histórico é também um monumento artístico, pois mesmo um manuscrito tão
mínimo como uma folha rasgada trazendo uma nota breve e sem importância, com-
pória, além do seu valor histórico, que concerne à evolução da fabricação do pa-
pel. da escritura, dos meios materiais utilizados para escrever etc., toda uma série
de elementos estéticos: a configuração do folheto, a forma dos caracteres e a
maneira de arrumá-los. 19
( A ngção da valor _hi~té>QÇQ.é, porém, Jl]ais extensa, na medida em que "chama-
) mo~;-hisióri~~~-1.~d.o _que foi, e hoje não é mais" (Riegl, 1984, p. 37). Nesse sen-
~tido, tudo que ficou do passado como testemunho pode pretender um valor histó-
]rico. O monumento artístico deve ser compreendido como um monumento da his-
'
ltória da arte, e seu valor, con siderado desse ponto de vista, é menos artístico que
I'
histórico. j:Qr- ~~S! .~ ativo, Riegl considera que, a rigor, não cabe mais falar em
l~_onu:nent9s__históricos e arlíst.icos, mas apenas em monumentos históricos.
No Renascimento. as noções de histórico e de artístico estava m imbricadas
e se fundamentavam em um modo de conhecer e de avaliar a Antiguidade. Pela
primeira vez se estabslec:iu um ser.tido de relação entre temporalidades distantes, '
adquirindo o passado um valor de contemporaneidade. Entretanto, diz Riegl. "esse
ponto de vista permanece normativo. diretivo (logo antigo-medieval), mas não his-
1
tórico no sentido moderno, pois não reconhece ainda nenhuma evolução" (idem,
p. 53). 20 O homem do Renascimento identificava nos grandes vultos da Antigui-
dade clássica os seus legítimos ascendentes.
\ ~f~i;;~ po~é~~- é que, até hoje, poucos têm conseguido traduzir a expressão
\_ ~ !!!!!.~~~ em termos de demandas definidas. A percepção da cultura - e
seria o caso de perguntar, que cultura? - como bem indispensável a todos os
homens não se exprime, nas sociedades modernas, estratificadas e com campos
autônomos, com a mesma contundência que a luta pelos meios materiais de
sobrevivência. Por esse motivo, talvez, as tentativa s de formulações no sentido
de explicitar esses direitos provocam o efeito de utopias válidas mas inexeqüíveis,
o que ocorre sobretudo em sociedades como a brasileira, marcada por tremendas
desigualdades econômicas e sociais. Além disso, é preci so lembrar que o con-
ceito de cidadania no Brasil está historicamente atrelado a uma concessão do
Estado, formalizado no que o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos
(1987, p. 68) denominou "cidadania regulada'', "cujas raízes encontram-se, não em
um código de valores políticos, mas em um sistema de estratificação ocupacional,
definido por norma legal" (1987, p. 68). Faltaria, portanto, na cultura política bra-
sileira, um solo fértil para que se possa concretizar uma prá tica política na base
de uma noção que pressupõe a crença em um conceito de cidadania universal.
Para Alain Touraine, uma das dificuldades para a implantação da democracia
na América Latina é que ela tem como pressuposto "uma consciência propriamente
politica de cidadania, de pertencimento a uma coletividade política" (1988, p. 442).
1 !!_~~~~mo, sua versão atual, enquanto patrimônio cultural, indica sua inserção
em um contexto mais amplo - o dos organismos internacionais - e em coritextos
~~....... -·
: mais restritos - o das comunidades locais. Nesse sentido, nas duas últimas déca-
das essa noção foi resse,r,antizada. extrapolou o seu domínio tradicional, o dos
Estados nacionais, e passou a envolver outros atores que não apenas burocratas
e intelectuais. As modificações na conceituação e no gerenciamento do patrimônio
enquanto objeto de politicas públicas indicam sua progressiva apropriação como
tema político por parte da sociedade, o que trouxe conflitos a uma prática tradicio-
nalmente exercida pelo Estado, com o concurso de intelectuais de perfil definido
e à margem das pressões sociais.
Nos próximos capítulos, vou analisar a prática de preservação do patrimônio
cultural desenvolvida no Brasil, procurando, primeiro, situá-la numa trajetória que
tem inicio no final dos anos 30, para. em seguida, me deter nas mudanças institu-
cionais que ocorrem a partir dos anos 70, com a entrada em cena de novos atores,
a adoção de uma concepção ampla e abrangente de :ultura, o ensaio de novas
formas de proteção e, sobretudo, uma proposta de democratização da política de
Nom
A própria separação entre espaço e tempo é uma característica da modernidade. Diz, a
respeito, Anthony Gíddens: "Nas sociedades pré-modernas, espaço e tempo coincidem
amplamente, na medida ern que as dimensões espaciais da vida social são, para a maioria
da população. e para quase todos os efeitos, dominadas pela 'presença' - por atividades
localizadas. O advento da modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo
fomentando relações entre outros 'ausentes', localmente d"istantes de qualquer situação dada
ou interação face a face.' [1991, p. 27)
Etimologicamente, a palavra monumento vem do latim monumentum, o que traz à memória.
A palavra alemã Denkmal é composta pelo verbo denken (pensar) e pelo substantivo Mal
(coisa).
Nos últimos anos, vem se assistindo a um novo interesse por monumentos intencionais.
Na última década, foram construídos, nos Estados Unidos, o Muro do Vietnã e o Mu seu
do Holocausto. Na França do governo Mitterand, esse foi um dos objetivos dos Grands
Travaux. No Brasil, foram idealizados monumentos em memória de Tancredo Neves, Ulisses
Guimarães e Luís Carlos Prestes, entre outros.
'Tanto a cultura quanto a economia produzidas pela prática preservacionista são resultado
de uma dialética entre o conservar e o destruir.' (Arantes. 1989, p. 16)
Historiador da arte austríaco com formação em direito e filosofia. Trabalhou durante vários
anos no Museu Austríaco de Artes [)1>r.orativas. Foi nomeado, em 1902, presidente da
Comissão Austríaca de Monumentos Históricos. e encarregado de elaborar uma nova legis-
lação para a conservação de monumentos.
Professor honoràrio do College de France; francês, autor de várias obras sobre história da
arte, dirigiu o Inventário Geral dos Monumentos Históricos, iniciado em 1964.
Inspetor Geral dos Arquivos de França; francês, antigo conservador ao Museu de História
da França e antigo conservador-chefe da Seção Antiga dos Arquivos Nacionais. Autor de
varias obras sobre história e monumentos da França.
Historiadora das teorias e das formas urbanas e arquitetônicas; francesa, professora da
Universidade de Paris VIII.
Na atividade de colonização empreendida pelos europeus em outros continentes no inicio
da Idade Moderna, esses proced"imentos foram freqüentemente utilizados também com a
finalidade específica de afirmar sua dominação sobre os povos nativos, como ocorreu na
aluai cidade do Méx"rco e em Cuzco, no Peru.
13 No Brasil, pintores como Pedro Américo e Vítor Meireles se voiia1dm, e1n sua atividade
artística, para a exaltação da nacionalidade.
4
1 />,$ instruções do inventário rle 15 de dezembro de 1790 recomendavam ·a conservação dos
manuscritos, mapas, selos, livros, impressos, monumentos da Antiguidade e da Idade
Média, estátuas, quadros e outros objetos relativos às belas-artes, às artes mecânicas e
à história natural, aos costumes e usos dos povos tanto antigos como modernos,
provenientes do mobiliário das casas eclesiasticas e que integram os bens nacionais".
,; Eric Hobsbawm observa: 'não nos devemos deixar enganar por um paradoxo curioso,
embora compreensível: as nações modernas, com toda essa parafernália, geralmente afir-
mam o oposto do novo, ou seja, estarem enraizadas na mais remota Antiguidade, e o oposto
do construJdc, ou seja, serem comunidades humanas 'naturais' o ba stante para não neces-
sitarem de definições que não a defesa dos próprios interesses" (1984, p. 22-23).
16
Embora qualificassem muitas vezes como "pitorescas" essas viagens, certos viajantes,
como Debret, produziram documentação de inconteste valor cientifico.
17
Essa idéia será concrelizada por William Morris, que, em 1877. fundou a Society for the
Protection oi Ancienl Buildings.
•e Segundo Françoise Choay (1 992 , p. 126-128), o italiano Camillo Bailo (1853-1 914) foi, assim
como AJ0"1 s Riegl, um precursor. Sua ampla formação (engenheiro, arquiteto, historiador da
arte) lhe permitiu aliar o conhecimento de dois mundos que eram então considerados incon-
ciliáveis: o da arte e o da modernidade tecnológica.
Das doutrinas de Ruskin e de Viollet-Je Duc, Boito aproveitou o melhor para elaborar uma
síntese, tendo sido o inspirador das orientações para restauração de monumentos na llália
De Ruskin e Morris reteve a noçã8 de autenticidade, enquanto respeito pelas marcas do
tempo: de Viollet-le-Duc re:e·.,e o senso prático de que a restauração se justifica porqu e
o interesse atual éa consers·;o:;ão deve prevalecer sobre o respeito absoluto pelo passado.
Ao defender a exp,ic:tação cas partes restauradas (através de materiais ou cores diferentes,
legendas indicadoras etc.). Boito pode ser considerado o responsável pela instauração da
restauração como disciplina
19
Para essa visão abranger.te de monumento deve ter contribuído sua experiência. durante
dez. anos, como diretor do departamento de têxteis do Museu Austríaco de Artes Deco-
rativas.
A CO H\IRUCÀ O00 ?AIR l~ÓN IO: PE11FH ll \'A HII IÓIJCA LlLJ
20 Essa problemática já vinha sendo abordada na França. desde o final do século XV!, por
ocasião da Querelle des Anciens et des Modem es.
21 O evrocentrisrno começou a ser questionado pelos europeus no contacto com os teste-
munhos das antigas civilizações ameríndias. asiáticas e africanas.
12 O romantismo incorporou a Idade Média.· como tema e como motivo, a seu repertório
estético.
23 Cf. L'Express, ed. esp. Patrimoine - /e désastre (1988).
2~ 'A noção de bem cultural não se confunde, ou não deveri~ confundir-se, com a de h~m
patrimonial: os objetos de coleção, os testemunhos etnológicos são ou podem ser bens
culturais dignos de atenção; não são por isso, no entanto, senão metaforicamente, elementos
do patrimônio, na medida em que este é sempre definido por um valor diferente do conhe-
cimento científico. Do que resulta o. fato curioso de que ínúmeros países do Terceiro Mundo
foram levados a designar monumentos. conjuntos e sitias que pudessem constituir um "patri-
mônio". O conjunto das tradições e dos costumes, verdadeira espinha dorsal dessas socie-
dades, não implicava uma ordem de símbolos monumentais comparável â das regiões oc'i-
dentais: foi preciso, portanto, improvisar uma ordem. É uma questão de dignidade. Mas o
artifício salta aos olhos." (Chastel, Babelon, 1980, p. 29)
25 Partindo de uma distinção feita pelo padre dominicano Lebre( entre bens "compressiveis'
(de que se pode prescindir) e 'incompressíveis" (indispensáveis à sobrevivência}, Antonio
Candido observa que falar em direitos culturais significa considerar "bens incompressíveis
não apenas os que asseguram a sobrevivência física em níveis decentes, mas os que garan-
tem a íntegridade espiritual" (1989, p. 111).
O PAIRl/1\ÓNI O EM PIOUSIO
[]]]
PARTE 2
O PATRIMÔNIO NO BRA~ll .
fu F? e ~IBUOTECA SETORtAL \
l OE ClÊNClAS SOC\A!S
CAPÍlULO 3
A HH HERÓICA
l
f
i,
Nem me falta na vida honesto estudo,
t com longa experiência misturado (... ).
"- Luís de Camões, Os lusíadas.
1
í
~
ção de monumentos e objetos de valor histórico e artístico - começa a ser consi-
derada politicamente relevante, implicando o envolvimento do Estado, a partir da
década de ~920. Já estavam então em funcionamen!a os grandes museus nacio-
nais, mas não se dispunha de meios para proteger os bens que não integravam
essc1~ coleções, sobretudo os bens imóveis. A partir de denúncias de intelectuais
sobre o abandono das cidades históricas e sobre a dilapidação do que seria um
"tesouro" da Nação, perda irreparável para as gerações futu ras, pela qual as elites
e o Estado seriam chamados a responder, inclusive perante as nações civ::izadas,
o tema passou a ser objeto de debates nas instituições culturais, no Congresso
Nacional, nos governos estaduais e na imprensa.
Segundo Rodrigo Melo Franco de Andrade, essa 'foi uma idéia longamente ama-
-durecida em nosso meio" (Andrade, í987, p. 50). Mas foram alguns intelectuais
modernistas que ela bora ram, a partir de suas con ce pções sobre arte, história,
tradiçã o e nação, essa idéia na forma do conceito de patrimônio que se tornou
hegemônico no Brasil e que foi adotado pelo Estado, através do Sphan. Pois forar-ri
· esses intelectuais que assumiram. a partir de 1936, a implantação de um serv'iço
destinado a proteger obras de arte e de história no país.
Nessa tarefa, exerceram, ao mesmo tempo, a função de intelectuais e de ho-
mens públicos, e marcaram sua presença no serviço iniciado em 1936 - mJis,
talvez, que em qualquer outra instituição estatal de que tenham participado naquele
periodo - de forma tão profunda e duradoura que, até hoje, para alguns, o Sphan
dos anos 30-40, o Sphan "de doutor Rodrigo", é o verdadeiro Sphan, tenrJo se tor-
nado praticamente sinônimo de patrimônio.
Neste capítulo, tenho dois objetivos em mente: primeiro, fazer uma releitura
desse Sphan, mítico para alguns, ultrap~c;sado para outros, visando a situar essa
instituição e a problemáti~ que a justificou, no momento histórico de sua criação
e consolidação. Procurarei rastrear a emergência da questão do patrimônio no
Brasil, os diferentes pontos de vista sob os quais foi considerada, antes e depois
de sua criação, e, sobretudo, apreender os meios a que recorreram os agentes
envolvidos para torn~r socialmente visivel essa questão, através de uma política
pública - embora os funcionários do Sphan preferissem designar sua atividade
como simplesmente "o serviço", ou "a repartição". O segundo objetivo se articula
com o primeiro: reunir elementos para, no capítulo seguinte, situar e analisar a
crítica a esse modelo - que se manteve praticamente inalterado durante quarenta
anos - produzida nos anos 70 e 80, situando esse segundo momento tanto na
trajetória específica dessa atividade quanto no contexto mais amplo da complexa
relação entre atividade intelectual e ação política no Brasil.
l uma clientela para esse tipo de arquitetura. Mas, nessa décadíl, a reação ao ecle-
tismo vinha do movimento neocolonial, de Ricardo Severo e José Mariano (filho).
Esses movimentos da década de 1920 - tanto na esfera política quanto na
intelectual - tinham em comum a crítica aos modelos políticos e culturais da Velha
República. Apesar da heterogeneldade de tendências, provocaram a progressiva
erosão da legifimidade do regime e mobilizaram a opinião pública para a idéia de '
mudança. No campo da cultura sua sedimentação foi mais lenta e apenas a partir
do final dos anos 30, e nos anos 40, alcançou um reconhecimento mais amplo.
1 ,-
também em função de apoio oficial.
j
A. p
.. arti-cipação dos intelectuais modernistas na administração pública federal
í ó teve início efetivamente após a Revolução de 30. Já no inicio do governo, Var-
1 as começou a estruturar o aparelho do Estado, criando o Minlstério da Edu·
'
cação e Saúde (1930), o Ministério do Trabalho (1930), o Departamento Nacional
A FAH 1/ERÓl[.J
LlzJ
3.2 0 /1\0VIMENlO 11,00ERNIIIA E O PA!Rl/1\ÔNIO
Seu primeiro gesto de clara adesão AO ideário modernista no MES foi em rela-
ção à arquitetura, ao apoiá-la e, ao mesmo tempo, utilizá-la para a criação de sím-
bolos de uma nova era. Além de serem os construtores desses símbolos - de que
o novo prédio do MES era o melhor exemplo - foi no Sphan que os arquitetos
modernistas atuaram enquanto integrantes da estrutura institucional montada pelo
Estado Novo, sob a direção do advogado, jornalista e contista Rodrigo Melo Fran-
co de Andrade, de quem Capanema disse em entrevista: "era um dos homens mais
ligados a mim" (Xavier & Físherg, 1968, p. 32}.
A f AH HfNÓIU [lQ_lJ
São, portanto, os instrumentos disciplinares, ao lado de outras instâncias re-
conhecidas de atribuição de valor (concursos, publicações, avaliação por especia-
listas etc.), todas re stritas aos círculos intelectuais, que constituem os canais re-
feridos por Mário para a constituição do patrimônio. A participação popular seria
limitada à organização dos museus municipais, cuja leitura só faria pleno sentido
para os habitantes locais. Deste modo, o anteprojeto de Mário define com clareza
(embora essa não fosse uma questão relevante na época) o alcance e os limites
da participação social na construção dos patrimônios históricos e artísticos, apon-
tando as diferenças e as peculiaridades dos níveis nacional e local e caracteri-
zando a função social do intelectual como _mediador entre os interesses populares
,.,. e o Estado. Chama a atenção, mesmo atualmente, sua sensibilidade para a função
,-;' e a importância dos museus municipais, que são até hoje, com freqüência, objeto
de crítica por não se a~equarem aos padrões rigorosos e modernos de uma "ciên-
cia" museológica. 15
A preocupação maior de Mário de Andrade não se restringia à conceituação
de patrimônio, mas também dizia respeito à caracterização. da função social do
órgão, o que implicava detalhar atividades que facilitassem a comunicação com
o público. Na verdade, para Mário, a atuação do Estado na área da cultura devia
ter como finalidade principal a coletivização do saber, daí sua preocupação e mes-
mo seu envolvimento na questão educacional. Em carta a Paulo Duarte (1977, p.
151 ), Mário disse certa vez que defender o nosso patrimônio histórico e artístico
"é alfabetização." Essa era a concepção que norteava a atuação do Departamento
de Cultura, iniciativa considerada então pioneira na área cultural. Mário acreditava
que, divulgando as produções artísticas, tanto as eruditas como as populares,
criando condições de acesso a essas produções, se estaria contribuindo para
despertar a população para o que costumava ficar reservado para o gozo das eli-
tes - a fruição estética. Desse modo, se estaria, ao mesmo tempo, democratizando
a cultura e despertando na população o sentimento de apego ás coisas nossas.
Em suma, o texto do anteprojeto é amplo e aborda com detalhes a questão
conceituai - que obras, e a partir de que critérios, poderiam ser consideradas pa-
trimônio - detendo-se também na estrutura e no funcionamento do órgão, tendo
sempre em mente os meios de divulgar e coletivizar o patrimônio. Tem-se a im-
pressão de que, com base em sua experiência no Departamento de Cultura, Mãrio
de Andrade procurou imaginar o que considerava, em 1936, (portanto, quando ain-
da estava entusiasmauv com seu trabalho no DC) o serviço ideal de proteção do
l fASE HEIÓ/( A
Oill
:;::m falta, em principio de dezembro de 1937. 0 qu., realmente aconteceu. não no princípio.
mas mais para o fim daquele mês. (Duarte, 1977, p. 154-155)
,.
Esse longo depoimento evidencia a fragiiidade, naquele momento de mudanç.:, ~
;;
do projeto de política cultural modernista em face da instabilidade do quadro pc-lí· r
tico. A posição de Capanema dependia de acenos políticos. Mas o fato é que as t
idéias inspiradas pelo Modernismo sobre patrimônio e atuação do Estado em rela· 1
i
ção à proteção eram amplas (e/ot. ideologicamente ambíguas) o bastante para íns·
pirar dois projetos voltados para objetivos políticos distintos e, naquele momento,
i
até tnesmo concorrentes. Esdarecedora ness9 sentido foi a posição de Mário de
f:
Andrade e de Paulo Duarte, comprometidos com ambos os projetos. Pode-se
supor que o que lhes interessava era, acima de qualquer interesse político ime-
diato, assegurar a criação de instituições culturais, objetivo que a queda de Ar-
mando Sales de Oliveira, após a instauração do Estado Novo, inviabilizou em
nível estadual. A decisão, tanto de Mário de Andrade quanto de Paulo Duarte na-
quele momento, foi emir.entemente pragmática, apesar da situação de Paulo
Duarte junto ao governo getulista. 16
Destituído do Departamento de Cultura, Mário de Andrade passou a participar
ativamente da implantação do Sphan, conforme se pode constatar na correspon-
dência trocada com Rodrigo M. F. de Andrade, tornando-se o assistente técni co
da instituição em São Paulo. A aceitação do posto, o entusiasmo com que sempre
colaborou com Rodrigo, sem nenhum atrito (o que não ocorreu na sua relação com
Capanema), são indicadores de que não via contradição maior entre seu ante·
projeto e o trabalho desenvolvido pelo Spr1an.
~
Já o decreto-lei n2 25, de 30 de novembro de 1937, elaborado por alguém com i
i
larga experiência jurídica, como Rodrigo M. F. de Andrade, estava voltado, basica- r
mente, para garantir ao órgão que surgia os meios legais para sua atuação num 1J
campo extremamente complexo: a questão da propriedade. Era esse, então, o prin-
cipal entrave à institucionalização da proteção do patrimônio histórico e artístico
f
nacional. Pois, como observa Joaquim Falcão, ''antes de 37 os diversos projetos 1
de proteção ao patrimônio artístico são recusados no Congresso Nacional em no-
me do direito de propriedade" (1982a, p. 25). A preocupação, nesse caso, não era
!
com o aspecto conceituai ou com o organizacional, que já teriam sido equacio-
nados no anteprojeto, mas com recursos operacionais que fossem não só legais
como também reconhecidos como \egitimos. A conceituação de patrimônic, propo- i
sitalmente deixada em aberto, tinha, porém, um limite em relação ao anteprojeto: 1
O PATW\ÓNI O E/1, 1ROUIIO
Oill
para viabilizar a proteção legal em necessário referir-se a coisas {"bens móveis (
3. 4. l As prioridades e Of /imiles
Ao se analisar o programa de trabalho e as várias realizações. do Sphan nos
seus primeiros anos, não se pode dizer que o espírito do anteprojeto tenha sido
totalmente esquecido. É significativo que a primeira das publicações do Sphan
seja um ensaio de Gilberto Freire sobre os mocambos do Nordeste. Também em
Lúcio Costa, como lembra o próprio Rodrigo M. F. de Andrade, observa-se o "lílle·
resse não apenas técnico ou histórico, mas também plástico que apresenta o
estudo dos tipos de habitação popular, ainda os mais primitivos, existentes entre
nós" (1987, p. 93). O valor histórico e artístico das produções populares é assim
afirmado na primeira publicação do Sphan. Esse era também o sen!ído que pre-
sidia à concepção dos museus regionais, que deviam informar o visitante sobre
a vida social da comi.1nidade, ou melhor, mais que isso, fazer com que sentissem
a vida que ali havia existido. 17 ,
'
minava sobre as influências negra e indígena , que praticamente não haviam dei-
xado vestígios materiais significativos .
Um bom exemplo desse tipo de leitura é a conferência "Panorama do patri-
mônio artístico e histórico de Minas", proferida por Rodrigo M. F. de Andrade em
Ouro Preto, em 1968. Nesse texto (Andrade, '. 987, p. 73-80), a civilização material
que surge em Minas no século XVIII, em função da descoberta de metais precio-
sos, é analisada a partir do processo de ocupação da região e do papel que os
diferentes grupos étnicos exerceram nesse processo. Rodrigo identifica uma "es·
AfAH HUÓ/[A
L.!QZJ
1
cola mineira" nas obras de feição erudita ou popular que ali foram produzidas.
Sendo praticamente nula nessas produções a marca dos poucos indígenas carijós
que permaneceram no local como cativos, e pouco numerosos os paulístas que
por ali passaram, Rodrigo considera que essa civilização era de "autoria", em pri-
meiro lugar, dos portugueses, vindos do Minho e do Douro. que ali se radicaram,
e, em segundo, dos escravos angolas e banguelas por eles trazidos para a região.
Diz Rodrigo M. ~. de Andrade:
Foi d~sse lastro humano. cujo cruzamento inter-racial se intensificou, na medida
da carência extrema de mu!heres brancas e da soltura de costumes, que emergiram
os artistas e artífices aos quais devemos as obras mais expressivas da cultura mineira,
dentre eles se distinguindo, na segunda metade do século XVIII, os mulatos,
especialmente no domínio das artes plásticas e da música. (1987, p. 74)
. Em suma, a no~o de valor histórico adotada peio Sphan dos anos 40 era bali-
zada pela historiografiá da época - em que a obra de um Caio Prado Júnior era
ainda uma exceção - e pelos imperativos teóricos e práticos da preservação.
Também a prioridade dada aos bens de arquitetura religiosa, que constituem
a grande maioria dos bens tombados, era jusfificada pelo lugar e pelo sentido que
tinham as igrejas nas colônias luso-espanholas. É Lúcio Costa quem melhor sinte-
tiza a leitura que presidiu a esses tombamentos:
Sempre prevaleceu a parte religiosa porque o número de igrejas era enorme. En·
quanto os anglo-saxões tinham aquela preocupação de criar riquezas, o mundo latino,
de herança portuguesa eespanhola, concentrava-se na construção de conventos e igrejas.
Havia uma desproporção enorme em relação à parte residencial e militar. Essa condição
de que a igreja era fundamental na tradição colonial foi considerada pela crítica leiga
uma espécie de desperdício. Aquela riqueza, opulência na arquitetura religiosa, muito
sóbria na fachada e que você entrava nela e era aquele esplendor. Mas havia umsenti·
do social, muito profundo, nessa aparente contradição. A igreja, com aquele esplendor
todo, estava aberta, pertencia a todos, qualquer pessoa do povo, por mais miseravel
que fosse, era só entrar e ficar lá. (IBPC Notícias, ed. esp., 27.2.92, p. 4)
A prioridade dada aos monumentos arquitetônicos, e dentre esses, à arquitetura
religiosa, se justificava assim em função do que Joaquim Falcão vai caracterizar,
décadas mais tarde, como "uma atuação preliminarmente didática e exemplificativa
necessária", que "obtém rapidamente um consenso amplc" (1984, p. 26). A justift·
cativa dada por Rodrigo assentava no que oonsiderava um traço da civilização bra-
sileira - "avultam, porém, os bens arquitetônicos como núcleo primacial de nosso
patrimônio" - e uma exigência da preservação - é "mais facilmente praticável a
investigação a seu respeito" (1987, p. 27). 19
1 pondia com o compromisso de sua atuação com a verdade, e não com a opinião
ou com a aparência. Tinha-se então plena convicção não só do caráter pioneiro !
1 ~. ~ - 1 - 1
da criação do Sphan, como também do fato de que sua importância só era evidente
para um grupo restrito de pessoas, basicamente das camadas mais cultas. Nesse
( sentido, os intelectuais do Sphan consideravam legitimo o exercício dessa auto·
~l ridade, na medida em que cabia ao Estado, naquele momento, o papel de intérprete
e guardião dos valores culturais da nação, uma vez que a sociadade ainda não
tinha alcançado a consciência desses valores. Essa concepção, como se pode
perceber, era compatível com o papel assumido pelo Estado Novo em outras es·
feras da vida social.
Foram, portanto, a noção de civilização material, que fundamentava a leitura
dos monumentos e objetos, e à qual o patrimônio tombado devia se referir, e a
interpretação que os arquitetos modernistas fizeram da arquitetura brasileira, que
justificaram os tombamentos da fase heróica. Entretanto, a análise do conjunto de
bens tombados nes·!ie período indica que outros fatores, de ordem circunstancial
e prática - como os tombamentos in extremis, 21 as preferências e critérios dos
delegados regionais, e, sobretudo, a predominância da versão modernista da his·
tória da arquitetura no Brasil sobre outros critérios de seleção - fizeram com que
o conjunto de bens tombados até o final dos anos 60 guardasse uma distância des·
sa proposta inicial. O fato é que, em função do perfil profissional preponderante
22
no corpo técnico do Sphan, em que predominavam os arquitetos, o critério de
seleção de bens com base em sua representatividade histórica, considerada a
partir de uma história da civilização material brasileira, ficou em segundo plano
em face de critérios formais e a uma leitura ditada por uma determinada versão
da história da arquitetura no Brasil - leitura produzida pelos arquitetos moder·
nistas, que viam afinidades estruturais entre os princípios construtivos do periodo
colonial e os da arquitetura modernista.
6 !A H HWÍl(J [ili]
A verdade é que, em 1936, tanto o trabalho de proteção da integridade material
dos bens quanto o conhecimento sobre esses bens, essencial para fundamentar
sua seleção e restauração, estavam ambos por ser produzidos. Havia a clara
consciência de que era necessária a construção de um conhecimento novo, espe-
cífico, mesmo em áreas já estudadas, sobre os bens que constituíam o patrimônio.
Dai a importância dos trabalhos de inventário, de levantamento de fontes de infor-
mação, de proteção de documentos, da produção de estudos e pesquisas, visando
a elaborar quadros referenciais para orientar a seleção de bens, e dassificações
para ordenar o conhecimento acumulado. A expressão "Academia Sphan", cunha-
da por Marisa V. M. Santos (1992), é, portanto, dns mais apropriadas para carac-
terizar a função que o Sphan. preencheu também no campo da produção de conhe-
cimento sobre história da arte no Brasil.24 Na medida em que, nos anos 30, a uni-
versidade brasileira 'Se limitava a escolas isoladas de direito, medicina e engenha-
ria, e apenas no correr dessa década tenham sido criados cursos superiores em
ciências humanas e sociais no Brasil, a importância desse trabalho fica ainda
mais evidente.
Havia também a preocupação de qualificar essa produção de conhecimento
como objetiva, cientifica, visando a subsidiar o trabalho de proteção e também a
"divulgar o conhecimento de arte e de história que o Brasil possyi" (Andrade,
1987, p. 92). Com essas afirmações, reiteradas nos discursos dos funcionários
do Sphan, se procurava evitar duas possíveis interpretações dos trabalhos de di-
vulgação do órgão: mais explicitamente, a de qualquer intuito de fazer propaganda
da instituição, e, indiretamente, que esses trabalhos visassem a legitimar a ideo-
logia do Estado.
l Belas Artes (LBA) (340}, seguidas pelas duplas inscrições no Livr.o Histórico e
no de Belas Artes (LH/LBA) (217).
i
três imóveis, e mesmo assim exclusivamente por seu valor hlstórico. 28
Essa visão normativa da arquite tura brasileira que predominava no Sphan
acabou influenciando tart,bém uma outra área - a restauração - em que a insti -
tuição era extremamente cuidadosa com o rigor nos procedimentos e com a au-
3. 5 ÜS COLABORADORES E OS AOVERIÁRIOS
~ O PAIW\ÓNIO O\ PROCBI ~
Do ponto de vista de um projeto intelectual - enquanto tomada de posição
relativamente a uma concepção de história e de arte - os integrantes do Sphan,
mais ou menos afinados com o credo modernista, propunham a reelaboração do
que seria a tradição cultural brasileira, recusando tanto a cópia (neo) quanto a mis-
tura (ecletismo) de estilos pretéritos. A afinidade estrutural (e não apenas visual,
de efeito, como no caso da arquitetura neocolonial) da arquitetura moderna com
as técnicas construtivas tradicionais era demonstrada para erigir esses dois esti-
los nas manifestações mais autênticas da arquitetura brasilaíra.29
Nessa linha, a autoridade de Rodrigo M. F. de Andrade e, sobretudo, a de
Lúcio Costa, considerado o teórico do grupo, era aceita sem maiores dificuldades.
Essa impressão de coesão interna do grupo em tomo de princípios e critérios é
ratificada por depoimentos de integrantes da equipe nesse período, e pode ser
resumida em uma frase de Sílvio de Vasconcelos, em 1977, para quem "jamais
um equivoco se pratioou ou uma desarmonia se instalou" (apud Santos, 1992, p.
338). O que não significa que não tenham ocorrido discordâncias, como no caso
do Hotel de Ouro Preto, quando o projeto de Ca~os Leão foi preterido pelo de
Oscar Niemeyer, com o apoio de Lúcio Costa (cf. Cavalcantí, 1993, p. 174-182).
Nos termos da legislação em vigor, o órgão deliberativo do Sphan é o Con-
selho Consultivo. Criado pela lei ng 378, de 13.1.37, o Conselho Consultivo do
Sphan era, então, composto pelo diretor do Sphan, pelos diretores dos museus
nacionais e por dez membros nomeados pelo presidente da República. Os manda-
tos eram vitalícios e a função não-remunerada. Os relatores dos processos eram
escolhidos pelo presidente do conselho e as decisões tomadas por maioria de
votos.
A composição do conselho era, desde a sessão inaugural, em 10.5.38, bas-
tante heterogênea: era integrado por especialistas de diversas áreas (além de his-
toriadores, arquitetos e artista s plásticos, havia escritores, etnógrafos, geólogos.
juristas etc.) e conhecedores dos acervos dos diferentes estados do Brasil. Pre-
dominava, no entanto, um perfil conservador. Vários membros do conselho integra-
vam também os quadros de outras instituiçõe s culturais, como a Academia Brasi-
leira de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico e o Conselho Federa! de Cultura.
No período que vai de 38 a 69, o Conselho Consultivo realizou 52 sessões
(contra 86 sessões, no período de 70 a 90). Pode-se perceber, pela análise das
atas, que, do mesmo modo que o Sphan, o Co:iselho Consultivo sempre procurou
se afirmar como foro imu~e a pressões externas, recusando sistematicai;;ente as
Mas, à diferença de Mário de Andrade, que, em sua atuação como homem pú-
oiico não dissocíava produção e coletivização do saber, o Sphan !imitava-se ao
estrito cumprimento do que considerava de sua competência - a proteção de bens
e a ~,odução e divulgação do saber necessário ao exercício dessa função. através
dos 2,ocedimentos usuais no meio científico: publicações, conferências, cursos
etc. )eixava para outros a tarefa de "educação das massas". Se, para Mário de
Andr::·:1e, a preocupação de socializar o saber era um imperativo ético, com raízes
proh;ndas na sua formação cristã (cf. Lopez, 1972), Rodrigo M. F. de Andrade e
seus colaboradores, embora considerassem essa tarefa imprescind ível ao su-
cesso da proteção, fizeram do Sphan, por razões de estratégia política e também
No161
Pa ra uma apresentação resumida do contexto político das décadas de 1920 e 1930 no Brasil,
ver Rachum (1970).
'Uma coisa dessas seria impossível no Rio. onde não existe aristocracia tradicional mas
apenas alta burguesia riquíssima. E esta não podia encampar um movimento que lhe
Néstor Garcia Canclini considera que esse é um traço comum às ex-colônias óa América
Latina. Diz ele: "A laicização não foi acompanhada, como na Europa, por um forte mercado
cultural. Longe de poder configurar projetos criadores individuais, os artistas foram
empregados para construir a iconografia da s gestas de liberação e dos processos de
constituição das nações." (1984, p. 154)
As idéias de·Antonio Candido apresentadas a seguir estão nos seguintes artigos: ·o escritor
e o público', "Letras e idéias no periodo colonial" e 'literatura e cultura de 1900 a 1945•
(1967), e 'A Revolução de 1930 e a cultura" (1987).
A análise de Antonio Candido temcomo base duaspramissas: 1) a consideração da literatura
como sistema, de que fazem parte autor, obra e público; 2) o entendimento de que a
produção literária não é fruto do gênio criador, da inspiração individual, nemtalJl)Ouco mero
reflexo do "meio. raça ou momento"; é elaboração artística, resultante da relação dialética
entre aqueles três pólos. Con;,ciente ou inconscientemente - esse aspecto é irrelevante para
o raciocínio de Antonio Candido - a produção literária traz as marcas das condições de
sua produção, "não como causa, nem como significado, mas como elemento que desem-
penha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto. inlemo" (1967,
p. 4).
As idéias de Eduardo Jardim de Moraes apresentadas a seguir foram expostas no livro A
brasilidade modernista (1 978) e no artigo 'Modernismo ,evisltado" (1988, p. 220-238).
O escritor Silviano Santiago, no artigo 'Apesar de dependente, !.!niversal" (1982), propõe uma
elaboração desta problemática herdada do modernismo.
D. Judith Martins (MinC/ Sphan /FNpM, 1988, p. 9) cita especificamente o episódio em que,
como reação à maneira autoritária com que o presidente Jânio Quadros encaminhou a
Rodrigo Melo Franco sua decisão favorável ao destombamento da Santa Casa de
Misericórdia de Campos (RJ). o diretor do Sphan lhe encaminhou um pedido de demissão
- que, obviamente, não foi aceito.
A rrn HERÓJ(j
ITill
" Esses aspectos foram muito enfatizados nas entrevistas com Lúcio Costa e com ligia
Martins Costa.
12 Ver as interpretações de Vera Milet (1988, p. 14), Mário Chagas (IBPC. 1991, p. 103) e
Silvana Rubino (1991 ), entre outras.
13 Entretanto, como bem observa Silvana Rubino, essa concepção ampla de arte não foi
assimilada pelos leitores do anteprojeto. A autora se refere a um trecho da exposição de
motivos de Capanema em que o ministro solicita a Mário de Andrade que inclua a expressão
histórico, ao lado de artfstico, para que 'ao invés de se tratar somente de arte histórica,
se cogite de lodo o patrimônio histórico, artístico ou não' 11991, p. 88-89).
14 Os principais museus regionais criados pelo Sphan foram: Museu das Missões (Santo
Ângelo, RS), Museu da lnl:onfidência (Ouro Preto. MG), Museu do Ouro (Sabará, MG),
Museu Regional de São João dei-Rei (MG), Museu do Diamante, (Díamantina, MG), Museu
de Arqueologia e Artes Populares (Paranaguá, PR).
15 Em pesquisa, (\!alizada pelo CNRC, em 1977. sobre os acervos dos museus brasileiros,
verificou-se que os museus municipais ainda costumam ser. criticados nessa perspectiva.
15 Silvana Ru bino atribui à falta de. apoio político o falo de a proposta de Mário de Andrade
não ter prevalecido: 'Com Rodrigo, um representante das elites mineiras. o Sphan pôde se
efetivar. Mário, ligado a membros do governo federal e ao próprio Ministro da Educação por
laços de amizade e simpatias estéticas, elaborou uma proposta politicamente solitária,
carente de forças importantes que pudessem apoiá-la em nível nacional' (1 991, p. 77).
De fato. a correspondência de Mário de Andrade a Capanema. em que o escritor se refere
a solicitações ou sugestões suas não acatadas pelo ministro (cf. Schwartzman el ai., 1984),
apresenta indícios de que ele linha menos prestígio que Rodrigo M. F. de Andrade. Sua
vinculação ao PD e ao projeto de Armando Sales de Oliveira o tornava mais vulnerável às
injunções políticas do momento. assim como as objeções que Heloisa Alberto Torres.
diretora do Museu Nacional, fez ao anteprojeto, o inviabilizaram junto a setores importantes
do meio intelectual. As concepções avançadas de Mário de Andrade sobre cultura e arte,
certamente inf!uendadas por suas leituras de antropólogos estrangeiros como Frazer e Tylor
(cf. Lopez, 1972). não ene<>ntravam respaldo junto aos pesquisadores do Mu seu Nacional,
que consideravam necessário vincular a antropologia e a etnologia às ciências naturais. No
entanto, a restrição ao conceito de patrimônio no decreto-lei nQ 25, de 30.11 .37, deve-se.
ao meu ver. sobretudo a razões de ordem jurídica e prática, o que será comentado a seguir.
" Em sua entrevista, Ligia Martins Costa chama a atenção para o caráter pioneiro da iniciativa
do Sphan.
ª
1 Uma interessante elaboração ficcional dessa problemática foi feita no romance A sucessora,
de Carolina Nabuco, publicado em 1934, que, no entanto, ficou conhecido sobretudo por
ter sido plagiado pela .:scritora norte-americana Daphne du Maurier, em Rebecca.
20 Luís Saia, em 1977, observava: 'a fim de enfrentar tamanha larefa era indispensável
municiar-se de estudos e colocar corajosamente em segundo p!ano tudo o que pudesse ser
. feito mais tarde, com mais experiência e mais gente: controle do comércio de arte,
tombamento paisagístico, inventário de artes menores, aproveitamento e revalorização de
monumentos cuja função se tomara obsoleta, tombamento de conjuntos urbanos. etc."
(Sphan /FNpM, 1980, p. 29).
.21 Em sua entrevisla, Lúcio Cosia lembrou que, nos primeiros anos de atuação do Sphan,
vãrios tombamentos foram feitos em caráter de urgência. visando a evitar a destruição do
bem, sem que houvesse tempo para uma pesquisa sobre seu valor cultural.
2-4 A propriedade dessa expressão pode ser confirmada no seguinte comentário do historiador
e critico de arte Germain Bazin: 'Foram, pois. as publicações do Dphan que insütuiram um
espirita rea lmente científico nas análises morfológicas. assentadas na crítica dos
documentos" (1989, p. 381). Germain Bazin atribui ao Sphan, no Brasil, relativamente aos
estudos de história da arte, o papel que em outros países foi cumprido pela universidade.
Foram funcionários do Sphan que introduziram nos cursos de Arquitetura a cadeira de
Arquitetura do Brasil. Pioneiro foi Paulo Santos. na Escola Nacional de Belas Artes, em 1950,
seguido por Sílvio de Vasconcelos, em Belo Horizonte, Airton Carvalho, em Recife. e
Godofredo Filho, em Salvador. Do mesmo modo, o historiador Francisco lglésias diz que
oSphan 'realizou trabalho histórico - aprópria guarda ou reconstituição já é trabalho histórico
- pelas indagações sobre o munumento, quando e como foi construido. por quem e qual
a tecnologia usada. Tem-se nesse esforço muilo do que há de melhor para a compreensão
da história social e econômica, no esclarecimento de aspeclos pouco conhecidos e em geral
descurados, pela limitação comum aos historiadores voltados mais para os aspectos
externos ou o brilho do que supõem digno de nota." (em Dphan, 1967, p. 134)
25
A pesquisa dos processos arquivados abrangeu o período anterior a 1970.
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ie Essa análise só foi passivei graças ao acesso que tive ao minucioso trabalho que a
pesquisadora do IBPC, Maria Alice Siaines de Castro, vem realizando sobre os dados
contidos nos Livros do Tombo.
27
Esse foi, pelo menos, o motivo alegado para essas duplas inscrições pelos técnicos que
entrevistei.
29
Conforme observação de ltalo Campofiorito (1985, p. 38), os imóveis são os seguintes:
casas de ng 32 (Proc. 742-T) e de rP 55 (Proc. 68-T) da rua das Palmeiras e casa ng 200,
da rua Sorocaba (Proc. 718-T).
Ili A hogemonia da arquitetura modernista a partir de meados dos anos 30 é assim analisada
por Lauro Cavalcanti (1993, p. 75):
"A vitória dos 'modernos' no prédio do MES, na conquista da primazia de criação de um
órgão de patrimônio e na afirmação de um discurso ético elegendo a habitação popular como
objeto privilegiado .~e atuação (... ) toma-os 'dominantes' no campo arq:.iitetônico, havendo
logrado tecer argumentos em todos os planos de um debate colocado, ao qual passam a
recolocar em outros tennos e constituir novos enunciados para esse mesmo campo.'
31 Cabe esclarecer que nas impugnações não é passivei alegar odireito individual à propriedade,
mas apenas discutir o mérito do tombamento (cf. Castro, 1991, p. 59).
31 Possíveis a partir do decreto-lei nº 3.866, de 2 de novembro de 1941. Com a lei ng 6.292,
de 15 de dezembro de 1975, os tombamentos passaram a depender de homologação do
Ministro da Educação e Cultura.
32 No decreto-lei ng 25, de 30.11.37, estão previstos três tipos de tombamento: voluntário (a
pedido do proprietário), compulsório (quando o proprietário, ao não aceitar a indicação para
tombamento, apresenta impugnação) e por anuência (quando a indicação é aceita pelo
proprietário). O tombamento de bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios
é feito ex officio.
33 A autonomia de que gozava o Sphan na administração pública federal pode ser confirmada
na liberdade que teve Rodrigo M. F. de Andrade em escolher seus funcionários - o que,
obviamente. muito se deveu à defesa de sua autoridade junto ao ministro e ao próprio
presidente -, o que não ocorreu com Mário de Andrade (cf. Santiago, 1989, p. 173).
:i, Outros fatores influem, certamente, na orientação assumida pelas políticas de patrimônio
nos diferentes pai ses. No caso do México, por exemplo, o impacto e a presença monumental
da civilização pré-colombiana praticamente impôs seu reconhecimento no património cultural
construído pelo Estado nacional, em que a antropologia e a arqueologia, desde o inicio,
ocuparam um lugar importante.
Neste capítulo, an~líso as novas propostas que, a partir dos anos 70, surgiram
como reforço ou como alternativas ao trabalho do Sphan. No capítulo seguinte,
procuro avaliar o impacto dessas propostas sobre a prática tradicional do Sphan,
a partir de uma pesquisa sobre os processos de tombamento aberíos durante esse
período. Em ambos os casos, é evidente que essas mudanças só adquirem senti-
do à luz de um contexto mais amplo, tanto nacional quanto internacional, que será
apresentado resumidamente a seguir, a partir da queda do Estado Novo.
AíAH MtJOENHA
lJl.U
Oficina e o tropicalismo eram os melhores P.Xemplos. Esses movimentos se pro-
puseram como vanguarda crítica em relação à ideologia do nacional-popular
veiculada pelos grupos vinculados ao Partido Comunista. Uma intensa ebulição,
mas limitada aos circulas intelectualizados, se manifestava, sobretudo nas artes
cênicas - teatro (Arena, Opinião, Oficina), cinema (Cinema Novo), shows musicais
(festivais de música popular brasileira). Na literatura, ao racionalismo do experi-
mentalísmo concretista, sucederam os movimentos práxis e poema-proresso.
Em 19:~, os estudantes assL•rnirarn a liderança das manifestações coletivas
que desencadearam o Ato Institucional nª 5. A repressão que se seguiu atingiu
profundamente a atividade intelectual e artística, desarticulando inclusive as uni-
versidades e a imprensa.
No governo Médk:i, sustentado pela ideologia da "segurança nacional" e do
"milagre brasileiro", a's ,manifestações artísticas, sob censura, enveredaram pela
expressão cifrada. Nas universidades, sobretudo no Rio de Janeiro, dominavam
os estruturalismos exóticos. A televisão se expandia e assumia
.,. seus primeiros
contornos de um eficiente veículo de "cultura de massa". Poucos eram os meios
de resistência, como os jornais O Pasquim e Opinião. No campo da literatura, um
fato novo era a "poesia marginal" dos novos poetas, que recorriam a formas alter-
nativas de produção e de distribuição.
Foi com o inicio da "distensão", no governo Geisel, que o Estado, no regime
militar, passou a atuar na área cultural, não apenas como repressor, mas também
como organizador da cultura. Os cineastas foram os primeiros a aderirem á "aber-
tura", assumindo postos na Embrafi!me, criada em 1969, sendo que Gláuber Ro-
cha apoiou explicitamente o presidente e o general Golberi do Couto e Silva, um
dos artífices da ideologia da "abertura". Nesse periodo, foi produzida a primeira
proposta global de uma política para a área da cultura do regime militar, o docu-
mento Política Nacional de Cultura, em 1975, n;i gestão de Ney Braga no MEC.
Participavam do governo Geisel representantes da burguesia nacional, como o
ministro da Indústria e Comércio, Severo Gomes, que, em São Paulo, apoiava o
Cebrap e era pessoalmente interessado em questões culturais, assim como o
ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Veloso. Entretanto, o fechamento
do Congresso e a edição do "pacote de abril", em 1977, tornou problemáti co o
apoio ao governo Geisel por parte de intelectuais que se queriam democráticos.
Além disso, o processo de rearticulação da sociedade civil levava a um redimen-
sionamento das estratégias de resistência ao regime autoritário.
A FASE MOOENKA
IJill
bém o da relação entre cultura e política nos anos 60-70-80. Não se vai acom-
panhá-lo nesse trabalho, mas apenas introduzi-lo tal como se processou no Brasil
nesse período.
No Brasil, os anos da "distenstío" coincidiram com a crise econômica interna-
cional, em função da questão do petróleo. Nesse período, as contradições do mo-
delo econômico do regime mí\itar começaram a ficar evidentes, e o regime, assim
como a modernização por ele instaurada, começou a enfrentar também uma crise
de legitimidade.
A posição dos intelectuais em face de um governo militar que passava a con-
ceder uma abertura lenta e gradual dissolveu a união até então conseguida diante
de um inimigo comum: o autoritarismo. Os depoimentos colhidos, no calor da hora,
por Heloísa Buarque de Hollanda e Carlos Alberto Messeder Pereira (Pereira; Ho-
llanda, 1980), em tomo 'da polêmica suscitada pela entrevista do cineasta Carlos
Diegues a respeito das "patrulhas ideológicas", atestam uma crise de referências
(cf. Huyssen, 1991, p. 74) - do "nacional-popular" e dos paradigmas marxistas -
e de práUcas políticas - com a denúncia de autoritarismos tanto de direita quanto
de esquerda. Resumindo a situação do momento, José A. Gianotti disse que "a
abertura nos ameaça, como a todos os grupos de oposição, porque nos ancoramos
nas trevas do autoritarismo externo, sem lograr uma articulação própria". (Pereira
e Hollanda, 1980, p. 57). Enquanto Gláuber Rocha apoiava explicitamente o go-
verno em nome do nacionalismo,2 outras vozes, com um discurso político novo,
despontavam nos depoimentos de Fernando Gabeira, recém-chegado do exílio, de
Antônio Calrnon, de Caetano Veloso, e, sobretudo, de Lélia Gonzales, de Movi-
mento Negro Unificado. Questões que tradicionalmente eram tratadas em sua in-
terface cultura! - como raça e sexo - e novos ternas - como a ecologia - pas-
saram a ser politizadas nesses discursos. Foi através da politização de referên-
cias culturais que se constituíram novos atores sociais, como atesta o contundente
depoimento de Lélia Gonzales.
O conceito de e/asse social como. único princípio verdadeiro de representação
social era criticado como sendo um dogma marxista, fruto de uma outra dominação,
que englobava direita e esquerda, a do eurocentrismo. Entretanto, ao deixarem de
lado o conceito de classe social, os novos atores sociais recorriam a uma velha
categoria, ambígua e conceitualmente problemática, sobre a qual se apoiavam os
nacionalismos culturais. Tal cumo as idéias de povo, nação e pátria, a idéia de
comunidade convertia a especificidade cultura\ do grupo numa totalidade fechada,
o PmlMÕN!O PROmSO
Ofil [/1,.
obscurecendo os conflítos internos e também as relações - em termos de pontos
de contato e de confronto - com outros grupos sociais. 3 Para os analistas mais
radicais, apenas quando os projetos desses grupos eram articulados a problemas
estruturais - como a questão da terra e da cidadania para os indígenas, ou da
discriminação social e econômica para os negros - é que suas identidades cultu-
rais se convertiam em identidades políticas.
Em 1979, no governo Figueiredo, a Lei da Anistia e a extinção do bipartida-
rismo tiveram como resultados a volta dos exilados políticos e a reorganização
partidária. Mas foi preciso que ocorresse o confronto entre castelistas e os milita-
res de linha dura, que culminou com o episódio do Riocentro, em 1981, para que
a abertura se acelerasse e se tornasse irreversivel. Entretanto, apesar das elei-
ções diretas para governador, em 1982, e da campanha pelas Diretas Já, em 1984,
o governo militar ma nteve relativo controle do processo que levou à eleição de
Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, e à Nova República, que durou até 14 de
março de 1990.
No governo Figueiredo, durante as gestões de Eduardo Portela e de Rubem
Ludwig no MEC, ocorreu uma reestruturação da área cultural no governo federal,
que culminou com a criação da Secretaria da Cultura, em 1981, onde se agluti-
naram todos os órgãos culturais do ministério, sob a direção de Aloísio Magalhães.
A criação do Ministério da Cultura no governo Sarney foi parte de um arranjo
político, e não uma reivindicação da sociedade ou mesmo de setores ligados à
cultura. A sucessão de quatro ministros da Cultura , de 1985 a 1990 - José Apa-
recido de Oliveira, Aluísio Pimenta, Celso Furtado, e novamente José Aparecido
de Oliveira - não chegou a alterar a posição secundária, para não dizer a indife-
rença da classe política e da sociedade diante desse ministério durante a Nova
República. A Assembléia Nacional Constituinte, realizada em 1987-1988, veio de-
monstrar que essa indiferença se estendia à própria questão da cultura enquanto
questão relevante para a sociedade brasileira.4
A convocação da Assembléia Nacional Constituinte levou à mobilização da
sociedade brasileira em torno das grandes questões que foram objeto de debate:
os direitos civis, em particulaí os trabalhistas, a questão fu ndiária, a ordem políti-
ca e econômica, e novos temas, como o meio ambiente, as comunicações e a
ciéncia e tecnologia. No campo da cultura, assunto que foi inicialmente tratado na
Subcomissão de Educação, Cultura e Esporte, a mobilização de partidos políticos
e de organizações da sociedade foi pouco expressiva. Nas audiências públicas
dessa subcomissão predominaram as vozes oficiais, e os problemas mais can -
A FASE AOOWIJ
D.ill
1•
•
dentes dos novos atores sociais - indígenas. negros e minorias em geral - foram
tratados principalmente em outras subcomissões, onde depuseram representantes
desses grupos sociais. Na Subcomissão de Educação. Cultura e Esporte, os te-
mas de interesse das minorias. mencionadas explicitamente no § 1ª do art. 215
e, especificamente, os dos negros, no § 5D do art. 216, foram trazidos sobretudo
por órgãos de classe, como a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e o
Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assis:ência
Social, de Orientação e Fv,maçâo Profissional de Brasília (Senalba). e foram in-
oorporadas ao texto do relator da (;omissão Temática, deputado Artur da Távola,
do PSDB.
Outro indicador da percepção da questão da cultura por parte do sociedade
foram as emendas populares. Nesse caso, predominou uma preocupação nacio-
nalista, beirando a xenofobia, de defesa de uma identidade brasileira, ameaçada
pela invasão de elementos estrangeiros na língua, na música, na propaganda etc.
Questões como o estímulo à produção cultural, a proteção e revitalização do patri-
mônio histórico e artístico, a crítica aos conteúdos culturais na educação, a defesa
da diversidade cultural e das culturas das minorias, os efeitos da cultura de massa
no imaginário social, apenas para citar alguns dos temas que foram discutidos na
Subcomissão de Educação, Cultura e Esporte, não mobilizaram significativamen-
te, nesse canal de expressão, a sociedade brasileira.
Mas o fato é que, comparados às menções relativas à cultura nos textos cons-
titucionais anteriores (cf. Barduy [org.]. 1989), os artigos 215 e 216 da Constituição
Federal de 1988 constituíram um inegável avanço, no sentido de tratar da questão
cultural de forma mais abrangente e matizada. A noção de patrimônio cultural foi
ampliada, os direitos culturais foram mencionados (embora não explicitados, o que
dificulta a compreensão de uma noção nova) e a sociedade surgiu ao !ado do
Estado como sua parceira na promoção e na proteção da cultura. Outro indicador
do lugar da cultura no texto constitucional foi a inclusão, no artigo relativo às
ações populares (ar\. 5•). da proteção ao "patrimôn io histórico e cultural".
Não se deve esquecer. porém, que os avanços conceituais nessa área não
corresponderam a uma politização da questão cultural junto à sociedade, em ter-
mos de uma mobilização de grupos ou dos canais de representação política espe-
cificamente para a questão. Foram exceção os movimentos negros, que conse-
guiram induir o § ~ do art. 216, e o PT, que teve na subcomissão referida uma
atuação marcante através do senador Florestan Fernandes. Esse era, aliás, o úni-
O PA!Rli\ÓN IO l i\ PROCIIIO
[iill
co partido político que, desde 1984, havia formulado uma proposta específica para
.,... a cultura, no documento Política cultural, de autoria de Mari!ena Chauí. Antonio
Candido, Lélía Abramo e Edélcio Mostaço (1984).
A eleição de Fernando Collor, em 1989, no primeiro pleito direto à Presidência
da República desde 1960, deu-lhe força polílica para, entre outros atos, realizar
·, o "desmantelamento da área da cultura", que ioterrompeu toda a atuação que o
Estado vinha desenvolvendo, através de suas ilstiluições e sem solução de conti-
nuidade, desde o ministério Capanema. Dacta a extensão do intervencionismo do
governo Collor no seu início, fica difícil avaliar a relativamente fraca reação da
sociedade, inclusive dos meios intelectuais, em face da atuação do secretário
lpojuca Pontes. Entretanto, manifestações corno a de Antônio Houaíss e de Her-
bert de Sousa, que moveram uma ação popular em defesa do interesse público
representado na obrigação constitucional de o Estado proteger o pabimônio histó-
rico e artístico nacional, e vários artigos de intelectuais de renome veiculados pela
"'· imprensa, mostraram que havia algum consenso quanto à importância dessa prá·
lica social, independentemente de eventuais divergências quanto à maneira como
era conduzida pelo governo federal.
A rm MOEW illil
sinais de restrição das atividades de pesquisa e de divulgação, que, sob a ale-
f
gação de falta de recursos, foram praticamente abandonadas (ver Anexo li!). Por
outro lado, os adversário do Sphan não eram mais apenas vigários obtusos ou
prefeitos modernosos, mas, principalmente. a poderosa especulação imobiliária.
Esses fatos, agravados pela crônica falta de recursos financeiros e humanos,5 le-
varam o órgão a se concentrar na questão mais premente - porém parcial em ter-
mos de preservação - dos tombamentos e das obra~:..
Profundamente vinculado, quando de sua criação. ao movimento cultural mais
,
importante no Brasil na primeira metade do século XX, o Sphan dos anos 60 era
uma ilha à parte das grandes· questões culturais e políticas. Pode-se dizer que
a maior força da instituição nos anos 60 residia no caráter mítico do trabalho que
realizara e na figura de seu diretor.
Esse desgaste ficou evidente na contundente campanha movida pelo jorna-
lista Franklin de Oliveira, de novembro de 1966 ao final de 1967, no jorna l O
Globo, denunciando a degradação do patrimônio, com o título de "Morte da me-
mória nacional" (Oliveira, 1991). Seus artigos receberam o apoio de parlamen-
tares, governadores, prefeitos, intelectuais, e de inúmeras instituições da socie-
dade civil. O jornalista apontava como responsáveis pelo abandono de mo-
numentos, peças e documentos, já sujeitos ao inevitável desgaste do tempo, a
especulação imobiliária, a oanância pos antiquários, a indiferença e a ignorân-
cia generalizadas, tudo isso agravado pela carência de recursos financei ros nas
instituições culturais encarregadas de preservar o patrimônio histórlco e artís-
tico nacional. Poupava, no entanto, o Sphan e a figura de Rodrigo M. F. de
Andrade.
O que estava implícito nessa e em outras manifestações de crítica e de
denúncia era que, se os trinta anos de atuação do Sphan, além do fato concreto
de preservar e restaurar um número respeitável de bens de valor histórico e
artístico, haviam logrado fixar um rigor ético no trato do bem cultural, a insti-
tuição estaria falhando no objetivo mais amplo de mobilizar governo e sociedade
para a causa da preservação, mobilização essa considerada, no final dos anos
60, indispensável inclusive para o sucesso na conservação material dos monu-
mentos. Pois, como já foi observado, a partir dos anos 70, a relação entre cul-
tura e política passou a ser equacionada de forma diferente da que fora for-
mulada desde os anos 20 a 30.
patíveis.
O objetivo era demonstrar a relação entre valor cultural e valor econômico,
e não apenas procurar convencer autoridades e socied;;de do interesse público
de preservar valores culturais, como ocorrera nas décadas anteriores. Essa arti·
culação foi feita em duas direções: seja considerando os bens culturais enquanto
mercadorias de potencial turistice, seja buscando nesses bens os indicadores
culturais para um desenvolvimento apropriado.
A primeira alternativa, explicitada nas Normas de Quito (1967) e, no Brasil,
nas reuniões de governadores que produziram o Compromisso de Brasília (1970)
e o Compromisso de Salvador (1971), levou à criação, junto à Seplan, do Pro-
grama Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas, em 1973. A segunda
alternativa foi explorada pelo Centro Nacional de Referência Cultural, criado em
1975. Essas iniciativas partiam do pressuposto de que a estrutura e a experiência
de trabalho do lphan, mesmo com a colaboração da Unesco, era insuficiente para
atender às novas necessidades da preservação.
( Os encontros de governadores realizados em 1970 e 1971 foram sugestão do
ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, a quem Renato Soeiro, que
:,. com ele tinha relações pessoais (ambos eram paraenses), fora solicitar apoio às
· atividades do Sphan. O ministro considerava que a responsabilidade pela preser-
vação do patrimônio nacional devia ser partilhada com os governos estaduais, que
poderiam, inclusive , se beneficiar dessa atividade.
Um dos princípios dessa nova orientação da politica de preservação era a
descentralização. Já no artigo 23 do decreto-lei n~ 25, de 30.1t37, havia menção
à colaboração dos estados na proteção do patrimônio neles localizados. Nos do-
cumentos Compromisso de Brasília e Compromisso de Salvador se recomendava
que estado~ e municípios exercessem uma atuação supletiva à federal na proteção
OkJ
dos bens culturais de valor nacional, e assumissem, sob a orientação técnica do
então Dphan, a proteção dos bens de valor regional. Para atender a esse obje-
tivo, estados e municípios deveriam criar, quando fosse o caso, instituições e
legislação próprias.
A participação de outros setores do governo federal e estadual na política de
preservação foi concretizada com a criação; e_m 1973, por solicitação do ministro
da Educação e Cultura, e com a participação dos Ministérios do Planejamento,
\
do Interior (através da Sudene), e da Indústria e Comércio (através da Embrat:,r),
_.,.... do Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas, que passou a
, funcionar com recursos da Seplan. Voltado inicialmente para o atendimento de
nove estados do Norte e Nordeste, em 1977 o programa foi estendido ao Sudeste.
O PCH, como ficou conhecido, tinha como objetivo criar infra-estrutura adequada
ao desenvolvimento e suporte de atividades turisticas e ao uso de bens culturais
como fonte de renda para regiões carentes do Nordeste, revitalizando monumentos
em degradação. A criação do PCH veio suprir basicamente a falta de recursos
financeiros e administrativos do lphan, continuando a cargo dessa instituição a
referência conceituai e técnica. Propiciou, por outro lado, a criação, durante as
décadas de 1970 e 1980, de órgãos locais de patrimônio e elaboração de legisla-
ções estaduais de proteção, abrindo os caminhos efetivos para a descentralização.
No entanto, as críticas dirigidas ao lphan n20 se limitavam a suas carências
operacionais. Também e1n termos conceituais, a ênfase dada aos monumentos da
cultura do colonizador tornava problemática, nos anos 70, uma identificação social
mais abrangente com o patrimônio. Para setores modernos e nacionalistas do gover-
no, era necessário não só modernizar a administração dos bens tombados, como
·, também atualizar a própria composição do patrimônio, considerada limitada a uma
vertente formadora da nacionalidade, a luso-brasileira, a determinados períodos
históricos, e elitista na seleção e no trato dos bens culturais, praticamente excluindo
as manifestações culturais mais recentes, a partir da segunda metade do século
XIX, e também a cultura popular. Essa atualização era a proposta do CNRC.
A f AH A'.OOEW :)dOE! 14 5
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1.., ,1_; , ., ,- . · .1 _ . . -
\
, diam ser formulados no próprio CNRC como encaminhados por agentes externos.
O guichê do CNRC atraía pesquisadores independentes e com projetos culturais
pouco ortodoxos. Foi o caso dos projetos do Museu ao Ar Livre, de Orleans, SC;
da produção de banana-passa, na região fluminense; do uso da marca estampada
em folha-de-flandres, em Juiz de Fora; da fabricação de lixeiras com pneus .·:
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A FAH J'.OOfRNi
illIJ
e pequena indústria ficava, assim, relativizada e, do ponto de vista de uma com-
preensão do processo cultural, não era o aspecto mais importante. O objetivo,
nesse caso, passava a ser o de conhecer, referenciar e compreender essas mani-
festações, visando a preservar sua memória e a fornecer elementos para o apoio
a seu desenvolvimento.
Essa orientação de trabalho, de inspiração nitidamente antropológica (o que
não era, no entanto, explicitado na condução das pesquisas, que buscavam ins-
pirar-se, espontaneisticamente, apenas no contato com a realidade), foi exposta
no documento Bases para um trabalho sobre o artesanato brasileiro hoje, produ-
zido em 1979 em resposta a uma solicitação do Programa Nacional de Desenvolvi-
mento do Artesanato (PNDA), do Ministério do Trabalho. Não é de surpreender
que essa colaboração tenha se revelado, na prática, inviável.
Os Levantamentos socioculturais foram os projetos mais ousados do CNRC,
'
em que havia um envolvimento imediato com empreendimentos em curso e com
poderosos interesses, em geral conflitantes com a visão do CNRC, sobre a rela-
ção entre cultura e desenvolvimento.
Para o CNRC, o objetivo era a busca de um modelo de dêsenvolvimento apro-
priado às condições locais e compatível com os diferentes contextos culturais bra-
sileiros. Essa visão, embora tivesse pontos de contato com as concepções então
elaboradas na Unesco sobre desenvolvimento, entrava em confronto com a ideo-
logia desenvolvimentista qve predominava nos anos 70. Por esse motivo, a parti-
cipação do CNRC nesses projetos exigia, devido a sua complexidade e seu im-
pacto não só sobre as culturas, como também sobre as economias e as organi-
zações sociais locais, um forte respaldo político, tanto por parte da direção do
CNRC quanto externamente.
Ora, não só essa proposta era ainda bastante imprecisa, como não encontrava
eco junto a setores da sociedade que, naquele momento, pudessem se fazer ouvir.
Além disso, a verdade é que outros projetos do CNRC, menos polêmicos, de al-
cance mais limitado e de cunho mais marcadamente cultura\ - como o estudo mul-
tidisciplinar do caju e a reuti1"1zação de pneus' para a fabricação de lixe·1ras -
receberam maior apoio e atenção por parte de Aloisio Magalhães, que , prova-
velmente, via neles maior potencial para ilustrar suas idéias sobre a cultura
brasileira.
Esse, certamente, foi um dos principais motivos por que foi justamente nessa
linha de pesquisa que se alcançaram resultados mais limitados, tanto em termos
dos objetivos a que se visava quanto da elaboração de uma experiência. Esses
O PA!WIÕHI O [ li P!OCU IO
Oill
(
Chegaram a colaborar nesse projeto especialistas das mais diversas á;eas de co-
nhecimento, inclusive Gilberto Freire, mas, em termos de ações, resultou apenas
(
no tombamento da fábrica de vinho de caju Tito Silva, em João Pessoa.
(
Os Levantamentos de documentação sobre o Brasil produziram inúmeros re-
sultados a curto prazo, e foram precedidos da Análise e Classificação Experi-
mental dos Acervos dos Museus Brasileiros, trabalho executado em 1977 para
subsidiar a missão de um perito da Unesco chamado ao Brasil pelo lphan para I
A Wf t'oODfm [illJ
de Curt Nimuendaju e do livro A expedição científica de G. 1. Langsdorff ao Brasil
(1821-1829). A esses projetos se acrescentaram iniciativas rápidas e oportunas
de Aloísio, como a compra, em um leilão em Londres, de cinco lotes de documen-
tos originariamente integrantes dos Autos da Devassa e a devolução a Congonhas
do Campo de um conjunto de ex-votos dos séculos XVIII, XIX e XX.
A análise dos 27 projetos discriminados no quadro sinótico produzido pelo
CNRC em 1979 (Anexo IV) evidencia a diversidade de interesses e o potencial
de trabalho que aquela pequena instituição alcançou em quatro anos de atividade -
interesses que se ampliaram na década seguinte com a introdução das questões
das etnias e da interação da educação com a cultura.
Pode-se dizer que, em um primeiro momento, o ideário do CNRC se propunha
a modernizar a noção de cultura brasileira, sem abrir mão, no entanto, de uma
visão calcada no naç!onal-popular. Esse intuito de modernização - que não che·
gava a ser uma revisão radical das concepções já formuladas de cultura brasileira -
ff,
estava evidente na formulação dos objetivos do centro e nos métodos a que recor·
ria para alcançá-los.
À diferença das instituições já existentes voltadas para o conhecimento e a
proteção da cultura brasileira, o CNRC não se propunha a coletar bens, e sim a
produzir referências - com o recurso às ciências sociais, à documentação e à
informática - que pudessem ser utilizadas no planejamento econômico e social.
A intenção clara era de revitalizar a cultura brasileira, inserindo-a no circuito do
tema que, no discurso governamental, tomava o lugar da "segurança nacional",
embora estivesse articulado com essa preocupação: o desenvolvimento. Não se
tratava mais, entretanto, de uma visão otimista do desenvolvimento, como a for·
mulada na era JK e no período do Brasil Grande, centrada na industrialização e
nos grandes projetos; essa visão começara a ficar desacreditada com a crise pós·
milagre. Havia, portanto, espaço para um novo discurso, que desse um novo sen·
tido ao desenvolvimento econômico.
O problema que serviu de ponto de partida à criação do CNRC - a falta de
um caráter nacional no produto brasileiro - remetia, como ocorrera nos anos 20
com os modernistas em relação à produção cultural brasileira, à questão da tradi·
ção. Em 1975, o grupo inicial do CNRC considerava que o que faltava para conferir
caráter ao produto e à nação brasileiros era uma tradição que estivesse não ape-
nas cristalizada, internalizada, mas, sobretudo, viva, que fosse apreendida em sua
Vasta gama de bens - procedentes sobretudo do fazer popular - que, por estarem
inseridos na dinâmica viva do quotidiano, não são considerados como bens culturais
nem utilizados na formulação das políticas econômica e tecnológica. No entanto, é a
partir deles que se afere o potencial, se reconhece avocação e se descobrem os valores
mais autênticos de uma nacionalidade. (Magalhães, 1985, p. 52-53)
A!AH AOOfW
Llill
A noção de cultura popular foi ampliada de modo a abranger tanto as manifes-
tações populares tradicionais quanto suas intersecções com o mundo industrial
e urbano. Ficava de fora. apenas, a cultura de massa.
A valorização da cultura brasileira, e em particular da cultura popular, atuaria
como vacina contra as poderosas influências externas que descaracterizavam a
nação. Como em 30, considerava-se que pairava no ar uma ameaça à sobre-
vivência da cultura brasileira, agora não tanto sobre os monumentos históricos
que, tombados, estariam, em principio, protegidos, e sim sobre a cultura viva das
camadas populares, pouco conhecida e passivei de ser esmagada pelo progresso
e pelas influências exógenas.
Ao CNRC não interessava, portanto, atuar sobre bens que fossem meros sig-
nos do passado; para proteger esses bens já existiam instituições e museus sufi-
cientes. Seu interesse se voltava para as manifestações culturais vivas, inseridas
em práticas sociais contemporâneas. Não era por acaso q~e imagens vitalistas
povoavam os discursos de Aloísio Magalhães.
Não só o conceito de cultura, mas também o modo corno o CNRC a abordou
já foram identificados com uma perspectiva antropológica. Considerava-se que as
manifestações culturais deviam ser compreendidas em sua trajetória própria e em
sua relação com o contexto cultural onde são produzidas e por o~de circulam.
Desse modo, o CNRC queria marcar sua diferença relativamente às apreciações
tradicionais, via folclore. Posteriormente, vai-se cunhar a expressão "patrimônio
cultural não-consagrado" para explicitar que se tratava de manifestações até então
não reconhecidas pelo patrimônio oficial e nem compreendidas, em sua especifi-
cidade, pelas camadas cultas.
Para o CNRC, o objetivo de sua proposta era instrumentalizar a área da cul-
tura para participar na elaboração dos projetos de desenvolvimento. Nos anos 70,
essa participação significava alcançar um assento junto aos organismos estatais
de p!anejamento, na medida em que o Estado era, então, o protagonista dos gran-
des investimentos e o principal fi~anciador dos empreendimentos privados. Nesse
sentido, os primeiros interlocutores do CNRC eram as autoridades dos órgãos es-
tatais, embora houvesse a preocupação de buscar legitimação para seus tra balhos
junto ao meio intelectual e, sobretudo, junto à área acadêmica, tanto nacional como
internacional.
" Um dos pontos de partida para a ,aflexão de A\oisio Magalhães era a distinção
entre países velhos e novos, e ricos e pobres (Magalhães, 1985, p. 85). No caso
4 fAH !.OOWIJ
Oill
4.5 h UNIFICllc&O O~ POLÍIICA FEOERAt OE
PRElrnVA(ÃO: A FUlhO IPHAN/PCH/CNRC .,
·~
Em 1979, com o apoio do ministro Eduardo Portela e do general Golberl do
Couto e Silva, Aloísio Magalhães foi nomeado diretor do lphan, e ocorreu a fusao
lphan/PCH/CNRC. Reuniam-se assim. numa só instituiçllo, os recursos e o know-
how gerencial do PCH, o prestígio e a competência técnica do lphan e a visão
moderna e renovadora do CNRC. roi c1 ic:1da uma nova estrutura: um órgão nor-
mativo - a Secretaria do Patrimônio Histórico e ArtlsLico Nacional (Sphan) e um
órgão executivo - a Fundação Nacional pró-Memória (FNpM).
Para Aloísio, a fusão vinha revitalizar o lphan e operacionalizar o CNRC,
solução que se justificava na linha da continuidade pregada por ele. Esse era o
conteúdo da exposição de motivos encaminhada ao MEC, em setembro de 1979,
propondo a criação ei'a · Fundação Nacional pró-Memória como órgão executivo da
Secretaría do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. que viria substituir o lphan.
E foi com esse discurso que Aloísio Magalhães conseguiu amplo apoio no Con-
gresso Nacional para aprovar, em regime de urgência e em um momento bastante
desfavorável à criação de novas fundações, a Fundação Nacional pró-Memória.
em novembro de 1979.
Em tenmos conceituais, a idéia era de que o CNRC desenvolvia uma atuação
complementar e critica em relação ao lphan, que privilegiava os bens de pedra e
cal. Tratava-se, nas palavras de Aloísio Magalhães, de suprir uma lacuna do lphan:
' A aproximaçao que o CNRC deu ao conceito de bem cultural atinge uma área de
que o Patrimônio não estava cuidando. Ou seja: o bem cultural móvel, as atividades
do povo, as atividades artesanais, os hábitos culturais da humanidade. O Patrimônio
atuava de cima para baixo, e, de certo modo, com uma concepção elitista. A igreja
e o prédio monumental são bens culturais, mas de um nível muito alto. São o resultado
mais apurado da cultura. OCNRC procurava trabalhar de baixo ;>ara cima. Pela própria
razão de ser uma atividade popular não tem consciência de seu valor. Quem faz uma
igreja sabe o valor do que faz. Mas quem trabalha com couro, por exemplo, nem
sempre. Desse contraponto, pode surgir uma hipótese - a de que o CNRC começava
a tocar nas coisas vivas, enquanto o lphan se preocupava principalmente com as coisas
mortas. Pelo contrário. é através das coisas vivas que se deve verificar que as do
passado não devem ser tombadas como mortas. (1985, p. 217)
A fAl! AODEKIIA
1
~
155 :
e os das autoridades eclesiásticas responsáveis pela grave tarefa de manter e ampliar
o culto na forma peculiar de que se reveste naquela área. (2611 reunião CC - 21.8.58)
~
A partir dos anos 80, a preservação das manifestações culturais dos diferentes
contextos cullurals brasileiros assumiu uma nítida conotação política, na medida
em que, à idéia de diversidade, se sobrepunha a de desigualdade. Ao propor a
introdução de bens do "patrimônio cultural não-consagrado" no patrimônio histórico
e artístico nacional (basicamente. bens das etnias afro-brasileiras e vinculados
à cultura popular), e a participação da sociedade na construção e gestão desse
patrimônio, a política da FNpM visava a se inserir na Juta mais ampla que mobi-
lizava então a sociedade brasileira pela reconquista da cidadan[i Na gestão de
Aloísio Magalhães no lphan, uma primeira expressão dessa participação foi a in-
-: trodução da prática de consultar as populações dos centros históricos, o que ocor-
. [t reu nos seminários de Ouro Preto, Diamantina, Cachoeira, São Luís etc.
Em termos teóricos, o CNRC não lidava com os conceitos de arte e de histó-
ria, sobre que se fundamentava a ação do lphan, mas com categorias apresentadas
como novas, no sentido de reelaboradas, como a de bem cultural, de memória,
de continuidade etc.
t
Quando se fala em memória num sentido figurado, quando se empresta a idéia de
memória a um fato qualquer. em geral há uma tendência a se tomar isso como "juntar" ~
ou •guardar" alguma coisa, 'reler". E isso me parece insatisfatório; eu prefiro o conceito
biológico de memória: guardar, reter, para emseguida mobilizar e devolver. (1985, p. 67)
Para Aloisio, a atividade de proteção não podia esgotar-se nela mesma. Era
necessário pô-la a serviço da sociedade, o que considerava ser também respon-
sabilidade dos organismos culturais.
Na noção de tempo cultural, entendido como continuidade8 - mas não como
imutabilidade, como os procedimentos de proteção levam a entender - Aloísio
Magalhães articulava passado, presente e futuro, tendo sempre em vista elaborar
a ação projetiva.9 "Porque uma cultura é feita de elementos compostos do passado
que são vistos pelos homens transitórios do presente e que desenham o caminhar
projetivo." (1985, p. 71 ).
A concepçã o ampla de cultura, a visão totalizadora e articulada da ação cul-
tural conforme o modelo das duas vertentes, 10 idéias expressas em imagens como
a do disco e a da bateia, habilitavam A!oísio a abarcar todo o universo cultural
do MEC.
A f AH ~ODEm
[illJ
4.6 LJMA PROPOS!A DE DfMOCRA!l1Ac&O DA POl Ílleà
WllURAL: A CRIA(ÀO DA >ECRflARIA OA (Ul!URA DO ME(
Na gestão do processo de reordenamento instituclonal da área cultural do ;f;
MEC, Aloísío Magalhães, visando a administrar inevitáveis conflitos entre inte-
resses de áreas até então autônomas, recorreu a um processo pouco usual no
serviço público: a realização de seminários reunindo técnicos de todas as insti-
tuições envolvidas. Em 1979, es~~ foi o objetivo do seminário realizado na Escola
Superior de Adrni11icilração Fazendária ([.,af), em Brasília, com funcionários do
!phan, do PCH e do CNRC. O mesmo procedimento foi utilizado em 1981, quando
da criação. da Secretaria da Cultura do MEC (SEC), com o objetivo de elaborar
o documento que foi denominado Diretrizes para operacionalização da política
cultura! do MEC.
A proposta de democratização da política cultural contida nesse documento foi
introduzida pelos agentes institucionais que elaboravam e conduziam os projetos
no CNRC e, posteriormente, na FNpM. Esses agentes - em geral atraídos pela
possibilidade de desenvolverem trabalhos voltados para os interesses de grupos
até então não atendidos pelas políticas culturais - se propunham atuar como
mediadores entre o Estado e as comunidades ainda não organizadas, na cena da
política cultural estatal.
A diferença da fase heróica do $phan, nesse documento não se propunha
atingir a sociedade através de uma campanha de educação popular, no sentido
de esclarecer as massas sobre os valores histórico e artístico dos bens culturais.
Para aqueles novos agentes institucionais, no final dos anos 70 e início dos 80,
as ações da política cultural do governo federal deviam se voltar prioritariamente
não só para o atendimento das necessidades culturais, como também levar em
consideração as necessidades econômicas e políticas dos grupos sociais até
então excluídos - simbólica e materialmente - dos beneficias dessa política. Mais
que isso: era preciso que essas comunidades passassem a participar do processo
de construção e de gerenciamento da produção cultural brasileira, inclusive do pa-
trimônio cultural. É pela via da participação social - e não mais pela da seleção
rigorosa de bens de valor excepcional - que se vai buscar legitima r a política de
preservação dos anos 80.
Esse recurso não caracterizava uma mudança apenas no âmbito da política
cultural. Como observa Pécaut, o !ema, no quadro da abertura política iniciada no
governo Geisel, era "reativar a sociedade civil". Entretanto, segundo o mesmo
AHH tHODfRH~
nm
4.7 Ü ALCANCE E OI LIMlfEI DA POlÍflCA FEOERhl
DE PREIERVA(&O NOI ANOl 70-80: UM BALAN(O
A f AH 11, 00ERN4
Oill
do desenvolvimento no Brasil. Sua elaboração, no entanto, passava ao largo de
tensões e conflitos concretos que se manifestavam no âmbito do processo cultural
e, certamente de forma mais aguda e evidente, nos campos econômico e social -
tensões essas que se impunham na execução de projetos como os de Maceió e
de Suape.
No seu discurso, Aloísio Magalhães criticava os sinais da modernização capi-
talista que considerava inadequados em um país subdesenvolvido - transferência
acrítica de tecnologias própri::is p;:ira os países desenvolvidos, acumulação de ri-
quezas sem : ::orrespondente distrib~:ção, investimentos em projetos faraônicos -
para defender um modelo de desenvolvimento endógeno, a busca de soluções
autóctones. Essa postura se alinhava à orientação terceiromundista da Unesco,
então sob a direção do africano Amadou Matar M'Bow.
Segundo essa visão, o que, na perspectiva do desenvo!vimentismo, eram
sinais de carência - o atraso tecnológico, os bolsões de cultura pré-capitalista,
o apego à tradição - converte-se, pode-se dizer que quase magicamente, em fato-
res propiciadores de um desenvolvimento apropriado.. Essa inversão de expec-
tativas é exposta por A!oísio Magalhães em um tom que .beira o messianismo:
Restam os países pobres e novos. A esses. e para esses. devemos voltar nossos
olhos e nossa reflexão porque aí talvez se encontre, excelências, uma série de parâ-
metros e de paradigmas que, nesta altura da vida do Ocidente - pois estamos falando
do Ocidente - adquirem um síg nificado todo especia 1. É que talvez esteja unicamente
nos segmentos de autenticidade dessas nações. nos frágeis e pequenos elementos que
constituem o seu patrimônio, como cultura, justamente a probabilidade da sua salvação
diante do mundo, criado pelo homem ocidental, em que tudo são impasses, em que
nada foi resolvido, em que o dinheiro não compra harmonia, não compra a identificação
do homem com o meio ambiente, diante de um mundo em que tudo está em xeque,
em que nenhuma das formas de valorização econômica, tecnológica e mesmo científica
está verdadeiramente à disposição de todos. (1985, p. 82-83)
Na verdade, a crítica de Aloísio se dirige antes ao imperialismo que ao modelo
capítalista implantado no Brasil. Imperialismo econômico, do capital internacional,
imperialismo cultural, dos padrões europeus e, mais recentemente, dos mass
media americanos. O verdadeiro Brasil, qual um gigante adormecido, estaria co-
berto por um manto estrangeiro:
É como se o Brasil fosse um espaço imenso, muito rico, e um tapete velho, roçado,
um tapete europeu cheio de bolor e poeira tentasse cobrir e abafar esse espaço. É
preciso levantar esse tapete, tentar entender o que se passa por baixo. (Magalhães,
1985, p. 42)
A fAH Ji OOlRNJ,
f ..,...- , .-- . ·-- .
1uFD~c l~l=E;.~;;~c;~~~\~~;---~lliIJ
-6-3
s,io de imprecisão teórica e de ambigüidade ideológica, o que era agravado por
seu lugar de fala, de dentro do Estado. Essa situação ficou mais delicada após
1977, quando o presidente Geisel fechou o Congresso e lançou o "pacote de abril",
o que motivou a saída do ministro Severo Gomes do governo. Se as criticas de
um intelectual de perfil mais tradicional, como o historiador José Honório Rodri·
gues, não criavam maiores embaraços a Aloísio (Magalhães, 1985, p. 122·127),
ficava mais difícil reagir às reservas de intelectuais corno Carlos Guilherme Mota,
-:.~:~
Marilena Chauí, Sérgio Miceli e outros, que se fundamentavam numa reivindicação
de maior rigor cientifico e maior clareza ideológica. 11
Essa ambigüidade se tornou particularmente incômoda a partir dos anos 80,
quando a sociedade se mobilizava para a reconquista dos direitos políticos, e foi
reforçada junto ao meio acadêmico, como observa Sérgio Miceli, devido "à ausên-
cia de um quadro conceituai de referênc·1a nos documentos veiculados pelo Cen·
tro" (1984, p. 80). Por oufro lado, pode·se argumentar em favor de Aloísio e de
seu projeto que, se o mundo acadêmico é o universo da análise e da crítica - cuja
independência é, inclusive, garantida pelo principio da autonomia universitária - Aloí-
sio Magalhães, assim como Mário de Andrade e Rodrigo M. F. de Andrade, transi-
tava no mundo da política, regido pelos principias da ação, da estratégia, da nego·
ciação e dos resultados.
Esse efeito negativo era contrabalançado - e alguns preferirão dizer: mas·
carado - pela originalidade e extrema eficácia persuasiva do discurso de Aloisio.
Seu estilo fugia à impessoalidade e à insipidez da linguagem burocrática, mas não
se identificava tampouco com o rigor do texto acadêmico. Como observou José
Laurênio de Melo na introdução a E Triunfo?, plasticidade e oralidade era,,1 os tra-
ços característicos de sua expressão verba\ (assim como a curiosidade, o otimis·
mo e a afabilidade eram as características mais marcantes de sua personalidade).
E apesar da impressão de simplicidade e de espontaneidade que suas falas pro-
vocavam, certamente, como artista plástico, Aloísio sabia, melhor que ninguém,
como é dificil ficar indiferente à beleza da forma, seja da imagem, seja da palavra.
E em mais um gesto surpreendente em sua carreira de burocrata, não hesitou em
recorrer a seus dotes de gravador para argumentar, na última reunião de que parti-
cipou, na Itália. sobre a pertinência de se inscrever Olinda como Patrimônio Cul-
tural da Humanidade. :2 Simoolicamente, nesse momento unia as duas faces de
sua vida de trabalho, a do criador de imagens e a do formulador de projetos.
Por outro lado, é precisei não esquecer que o discurso foi apenas um dos
recursos de que se valeu Aloísio no exercício de seu papel como protagonista
A rrn ~ODWI~
IJill
como a história da arte, a estética, a história. a arqueologia etc.• essa proposta
de democratização, calcada em um argumento político e em uma concepção antro-
pológica de cultura, encontrou, na prática, dificuldades e limites que, obviamente,
não se apresentavam para a vertente da produção cultural (cinema, teatro, artes
plásticas etc.) - para a qual interessava que a atuação do Estado se \imitasse
a assegurar a liberdade de expressão e a fornecer formas de estímulo à criação,
sobretudo através de apoio financeiro.
Por outro lado, as diferenças (fe perspectiva na ârea da preservação (entre
,.
'. os agentes da Sphan e os do CNRC) não eram incontornáveis. A prática dos agen-
, tes do CNRC e, posteriormente, da FNpM, corno, certamente, também a prática
dos agentes da Sphan junto ás comunidades vinha demonstrando que os valores
culturais atribuidos pelas elites cultas - não só, mas também através dos órgãos
estatais de preservação - aos bens que integravam o patrimônio eram freqüente-
mente estranhos, ou mesmó ' indiferentes, para as populações que conviviam com
esses bens - pelo menos para grande parte dos habitantes das cidades históricas -
seja porque essas populações lhes atribuíam valores de outra ~rdem, seja porque
consideravam que havia necessidades mais prementes a serem atendidas pelo
poder público, por exemplo, na área de infra-estrutura urbana, saúde. educação
etc. Na verdade, portanto, as diferenças de perspectiva entre os dois grupos relati-
vamente à orientação das atividades de preservação decorriam antes de resistên-
cias de ambas as partes que de questões de princípio, pois no próprio campo
tradicional de atuação da Sphan as teses do CNRC poderiam ser comprovadas.
Mas, para que isso ocorresse, era necessário que os dois grupos desenvolvessem
uma atuação conjunta, o que só aconteceu muito raramente.
Também a necessidade de articulação do trabalho de preservação com outras
esferas da administração pública, sobretudo com a de planejamento urbano. já
vinha sendo constatada desde a gestão de Rodrigo M. F. de Andrade no Sphan.
Mas a ampliação da esfera de atuação de uma política de patrimônio se apresen-
tava como um imperativo mais forte para os agent~s do CNRC, e depois para os
da FNpM, em função do sentido social que queriam imprimir a seu trabalho - para
não falar, em alguns casos, de seus compromissos pessoais. em decorrência de
suas vinculações políticas e/ou profissionais. A esses fatos veio se juntar. no final
dos anos 70 e início dos anos 80, a pressão da mobilização social pela reconuista
dos direitos políticos. Era forçoso reconhecer que, na prática de projetos mais
'\ complexos (Maceió, Suape e. posteriormente. Ouro Preto}. as propostas do CNRC
1 •
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4 f AH AOOfRNA [filJ
Se no final dos anos 70, entretanto, Aloisio Magalhães conseguira, com seu
1
discurso e suas articulações políticas, aglutinar os setores culturais recém reu·
nidos na SEC em torno de uma proposta e mobilizar o Executivo e o Congresso
Nacional para aprovar uma ampla reforma institucional, a iniciativa tomada em
meados dos anos 80, em princípio mais legitima, porque apoiada por represen·
lantes da sociedade civil, não encontrou a mesma receptividade. A ampliação da
!;!Sfera de atuação do MinC proposta no documento, a tal ponto que levava a uma
indiferenciação da área da cultura e a uma "intromissão" no domínio de outros
ministérios, causou perplexidade entre os congressistas e mesmo junto a intelec·
tuais comprometidos com a luta pela redemocratização. Esses temas foram consi·
derados estranhos, se não ao universo da cultura, pelo menos ao de uma política
cultural. Resolvia·se, assim, uma ambigüidade - no sentido da definição política -
mas produzia·se outra - na medida em que a prática cultural era nivelada a outras
práticas sociais. '
O fato é que, desde o advento da Nova República, e mesmo durante a gestão
de um intelectual unanimemente respeitado como Celso Furtado, a política cultural
do MinC sem dúvida passou a perder o que chegara a conquistar nos anos anterio-
res em termos de espaço no âmbito do governo federal e de visibilidade junto à
sociedade.
Creio que uma das chaves para se compreender essa situação, e para se
r':lfletir sobre a especificidade da política de preservação nesse período, pode ser
encontrada no trecho abaixo, de 9abriel Cohn. comentando a década de 1970:
Assim, mudanças reais podem ser detectadas ao longo da década. Da suhordinaçâo
do processo cultural a outros (o autor refere-se à "segurança nacional", MCLF) passa·
se para a consideração da sua dimensão sacia!, e chega-se à idéia de que, para fazer
frente à sua dimensão propriamente cultural, cumpre considerar a política cultural naquilo
que na maior parte da década de 70 era inexeqüive!: precisamente a sua dimensão
política. (1984, p. 96)
AfAH MODERNA
Oill
ceiro lugar, o processo de descolonização e a criação de novos Estados-nar;.ões,
sobretudo no continente africano, corno também a luta dos negros pelos direitos
civis nos Estados Unidos, levou a novas equações de poder, que não se resumiam
aos parâmetros do modelo marxista, considerado eurocêntrico. À dominação eco-
nômica se acrescentou a consciência da dominação cultural sobre os pavor colo-
nizados. O conceito de civilização - construído sobre a experiência histórica do
Ocidente - perdeu o seu caráter universal e foi reinterpretado como instrumento
de dominação da etnia européia branca. O marxismo foi considP.rado insuficiente
para a denúncia dessa realidade, e passou a ser objeto de releituras críticas que
se propunham como atualizações, inclusive no sentido de rediscutir o lugar da cul-
tura no jogo político (cf. Nelson & Grossberg [ed.], 1988).
No campo político, a questão dos direitos humanos, formulada inicialmente
pelos iluministas, foi reel~borada, e o grande desafio nesse sentido passou a ser
Q_Q~ articular o universal e o particular. A própria noção de estado nacional, que
psedominara no cenário político mundial até meados deste século (cf. Hobsbawm,
1J90), ficou comprimida entre o poder dos conglomerados multinacionais e o das
organizações políticas locais. A via da cultura passou a constituir, nos anos 70
e 80, l.(m caminho privilegiado para a elaboração de novas identidades coletivas
e um instrumento fundamental para os grupos sociais que as constroem, e que,·
muito freqüentemente, contestam a legitimidade dos patrimônios históricos e artís-
ticos nacionais. Essa nova ori.entação foi buscar apoio em uma ciência até então
yoltada sobretudo para o estudo das sociedades primitivas: a antropologia.
No Brasil, as mudanças no campo da política de preservação adquiriram um
sentido político particular, em função do momento histórico que o país atravessava
e da trajetória específica dessa politica. Aqui não houve propriamente um es-
gota_n1ent9 _dos v,alores da modernidade e da civilização industrial, como nos países
q~s~~volvidos do Norte, e sim uma profu~9a crise política, econômica e social que,
como observa Carlos Alberto Messeder Pereira (1981 ), resultou na crítica ao podu
da tecnologia, aos projetos de desenvolvimento faraônicos, e às metanarrativas que
se propunham de amrlo poder explicativo. Segundo esse autor, os anos 70 são
marcados pelo "antitecnicismo", pela "politização do quotidiano" e pelo "antiinte -
lectualismo". As distinções entre arcaico e moderno, criatividade e técníca, popular
e erudito, são redimensionadas e, em alguns casos, diluídas. Manifestações como
o tropicalismo, a poesia de mimeógrafo, as associações comunitárias e as organi-
zações não-governamentais, voltadas sobretudo para a questão ecológica, são
manifestaç;ões, no Brasil, do questionamento geral dos valores da modernidade.
AHH /IIOOERN4
LillJ
menos estudados e consagrados. Em um momento de crise do modelo econômico
implantado pelo regime autoritário e de desgaste da ideologia da "segurança
nacional", não foi difícil, portanto, para Aloisio Magalhães encontrar no governo
apoio para a continuidade de seu projeto. Esse projeto, contudo, em 1979, j~ se
m_<:>~ifiÇ?ra . .Novos temas haviam sido incluídos ao lado do interesse inicial pelas
técnicas de informação, pelas tecnologias patrimoniais e pelo papel da cultura nos
projetos de desenvolvimento: a esses assuntos, técnicos que ingressaram no CNRC
.a paríir ..c!.e 1W7. e que haviam desenvolvido trabalhos junto a comunidades ca-
rentes e/ou à margem da sociedade nacional 14 acrescentaram os problemas da
.qgequação da educação básica aos conte.xt_os culturais específicos e o do lugar
das etnias indígena e afro-brasileira na sociedade nacional. Temas que vão levar,
no final dos anos 70 e inicio dos 80, a equipe do CNRC a lidar com os grupos
sociais que participavam dos projetos !)ão mais como meros produtores de cultura
e objeto de pesquisa, 'ou apenas como informantes, e sim como atores cuja parti-
cipação era fundamental em termos da legitimidade política de sua atuação. Esse
era o modelo que justificava um projeto que, oriundo do CNRC, reunia diferentes
instituições da SEC: o Projeto Interação da Educação Básica e dos Diferentes
Contextos Culturais do Pais. Em meados dos anos 80, como já vimos, a questão
central não era mais a da relação entre cultura e desenvolvimento, e sim a relação
entre cultura e cidadania.
O inicio dessa mudança de orientação dos trabalhos do CNRC coincidiu com
__um momento de intensa reestruturação institucional na área cultural do MEC, em
que Aloisio Magalhães foi conquistando cada vez mais espaço até se tornar
secretário da Cultura, em abril de 1981. Nesse sentido, a fusão com o lphan, que
rnantiyerél ?té então os mesmos modelos de atuação dos anos 40 - o princípio
da autoridade nas decisões, um trabalho fundamentado em critérios rigorosos de
autenticação, uma visão predominantemente estética do patrimônio - era tarefa
complexa, e não chegou a se concretizar por vários motivos. 1
. f
O problema é que essa critica, até bastante procedente, pecava ao não distin-
guir os bens que haviam sido tombados - e que, enquanto patrimônio, não referiam
apenas os grupos dominantes - da leitura e do tratamento que o lphan havia dado
a esses bens, esses sim, freqüentemente desvinculados dos valores de outros
grupos sociais que não as elites intelectualízadas. Nesse sentido, o interesse da
preservação aparecia como distante e até mesmo como contrário aos interesses
das classes populares. O fato é que o compromisso com a coletivização de uma
cultura culta, objetivo tão caro a Mário de Andrade, não fora assumido pelo Sphan.
Além disso, é inegável que essa crítica era também expressão de uma luta
de poder dentro da instituição recém-criada. E, em vez de se re solver no contato
e no debate, esse conflito se radicalizou, provocando nos funcionários do lphan,
receosos e refratários a mudanças, ressentimentos e, conseqüentemente, um enri-
. jecimento em suas posições e em seus mitos.
A falta de Aloísio Magalhães, primeiro por estar absorvido pelos seus novos
encargos como secretário da Cultura e, depois, devida ao seu falecimento, em
junho de 1982, só fez intensificar essa situação, a que se acrescentaram outros .
...
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A IA!! ,110DfRNJ
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O papel de Aloisio Magalhães havia sido fundamental no período final do regi-
me militar - assim como o de Rodrigo M. F. de Andrade, durante o Estado Novo -
no sentido de conferir à política cultural rlesse período uma marca própria , cujos
efeitos e influência transcenderam a fase do regime autoritário. Não creio que a
análise do projeto implementado sob sua direção dê margem a reduzi-lo a um
mero instrumento de legitimação da fase de abertura - ainda que possa, de alguma
maneira, ter servido também para esse fim.
Já a poliUzação desse projeto, tal como toi conduzida, sobretudo no âmbito
da FNpM {tendência que não ocorreu no grupo de pedra e cal), desvinculada de
uma reflexão critica quanto aos objetivos e instrumentos específicos de uma
política de preservação, e sem ser articulada a um projeto politico da instituição,
permaneceu isolada dentro da instituição e do MinC. Essa situação se mantinha
em 1988, por ocasião. da Assembléia Nacional Constituinte, quando a área de
preservação da Sphan/FNpM encaminhou uma proposta da instituição e funcio-
nários vinculados ao CNRC atuaram via Senalba.
Este balanço pode ser comprovado com a leitura de um documento produzido
pela administração da FNpM, no final dos anos 80, conhecido como Kit parlamentar.
Nesse documento, dirigido aos congressistas com o objetivo de sensibilizá-los para
as necessidades orçamentárias dos órgãos federais de preservação, são arroladas
as principais ações desenvolvidas pela FNpM na proteção do patrimônio cultural
brasileiro e apresentadas as propostas para o exercício seguinte. A análise dessas
ações e dessas propostas - essencialmente de preservação e de restau ração de
monumentos - vem demonstrar que a própria instituição, no final dos anos 80 não
se autocaracterizava de forma muito diferente do Sphan dos anos 60.
Q fato é que, na prática, a síntese pretendida por Aloísio Magalhães não che-
gou a se concretizar realmente, e as inevitáveis diferenças de orientação dos téc-
nicos das três instituições fundidas, sobretudo entre os da referência e os de pe-
. dra e cal, não foram superadas em uma proposta de trabalho comum. A proposta
do CNRC, apropriada e desenvolvida pela FNpM, encampada pela SEC e. em cer-
ta medida, i:;clusive pela Constituição Federal de 1988, ficou conhecida pratica-
mente apenas enquanto discurso. Conceitos como referência, dinâmica cultural,
indicadores culturais, contextos culturais específicos etc., embora tenham se tor-
Qado moeda corrente nos programas e projetos culturais produzidos durante a dé-
. cada de 1980, continuavam obscuros, mesmo dentro da FNpM. faltou elaborá-los,
em termos de seu potencial cognitivo e .de sua utilização, através da discussão
AfAH /t'JOOERHA
lJZIJ
mente provocadas na política federal rle preservação pelas propostas elaboradas
entre 1975 e 1981. Esse é o objetivo do próxímo capitulo, onde será analisado
o aspecto mais central dessa prática: os tombamentos.
Nom
Sobre a nova dinâmica Estado e sociedade diz Sérgio Costa: ' No 'projeto' contemporâneo
de sociedade civil é básica a idéia de que esta (como em Gramsci) se distin,1ue das esferas
dn i=stado e da economia, t1,1scanda-se evitar, a um só tempo, o liberalismo, no qual a
integração social se concentra no mercado, e o estatismo, onde a sociedade cívil aparece
subsumida ao Estado (como nos países socialistas).' (1994, p. 40-41)
·roda nação fraca e pobre só pode existir, só pode gerar algum movimento cultural, a partir
da descoberta de uma identidade nacional. O nacionalismo é o germe, é o fundamento do
fortalecimento, do desabrochar de qualquer sociedade.' íem Pereira e Hollanda, 1980, p. 34)
Por exemplo, no caso dos movimen!os feministas, ficava difícil, no Brasil, utilizar a categoria
mulher para se fazer referência, por exemplo, a problemas comuns a patroas e empregadas
domésticas, de ta! maneira a construção da identidade de cada um desses lugares sociais
era afetada por diferenças econõmicas e culturais.
A análise dos debates sobre a questão da cultura na Assembléia Nacional Constituinte foi
baseada em documentos obtidos junto ao Prodasen: as atas das reuniões das Subcomissões
e das Comissões Temáticas, as emendas populares e a relação de entidade$ convocadas
para as audiências públicas.
Em seu depoimento. Ugia Martins Costa observou que, em 1952, ano de seu ingresso no
Sphan, a instituição contava com apenas 104 funcionários em todo o Brasil, incluindo-se
nesse total agentes administrativas e mestres-de-obras.
Em 1976, Bárbara Freitag foi substiluida pelo antropólogo Georges Zarur, também da UnB,
e ingressou no CNRC a professora Clara de Andrade Alvim, vinda da PUC-Rio.
É cu riasa que a retomada dessa problemática - a discussão da relação entre cullvra e
modelos de desenvolvimento adequados às cor.dições locais-. na segunda metade dos anos
80, pelos grupos ecológicos e pelas politicas voltadas para a questão do meio ambiente,
tenha tido como um de seus princip~is eventos propulsores o Encontro Nacional de Serin-
gueiros, promovico com base em projeto que já vinha sendo desenvolvido na Área de Refe-
rência da Dinâmica Cultural da FNpM.
'Essa relação de tempo é curiosa porque é preciso entender o bem cu ltural num tempo
multidimensional. A relação entre a anterioridade do passado, a vivência do momento e a
projeção que se deve introduzir é uma coisa só. É necessário transitar o tempo todo nessas
três faixas, porque o bem cultural não se mede pelo tempo cronológico." (Magalhães,
1985, p. 66)
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Ci.lPÍTUlO 5
A PRÁTICA Df IOMBA/HNTO: 1970-1990
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O~~nt9_te._r11_sido aprnpr~ado, p_~la s9ciedaçlsi brásilei_rª de Jorma dife-.
!Q_nciª-d_a e, nesse sentido, pode ser considerado de forma positiva ou negativa.
~.!!!Jl..Qe.m d!;l su_cl cultura. tombado pod_e. s)~~i~car, parn _gruRQ.S_ ~fP.JJ<:>mie;a e so-
cialmente
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desfavorecidos,
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benefícios
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de ordem material e·- .simbólica,
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- ···· --·· .
.
além_de de·
~- .. , '
··-----·-
@ refo!!!l§ administra tiva JLQéJ dissolução do _Conselho Consultivo, [econduzido
" ···-·---- ·· ----·-·- ··
em ma)Q__ciE:!...1~9.2.5 Não....é._d.ifí.cil i!TI_aginar as conseqüências de.ssa morosida~e.
sobretudo_.9!13~nçlq se trata de pedido de age~te externo à instituição, e. n.um mç-
~·1_ento~~ que a Sphan/FNpM propºÜnha a participação da comun.idade como pedra
cteJoq:~E?....~~2~~- P?liti_ca. 9e pres~rvação,
NU~.?!!.~-~-- ~~~-_pr_o~ess_os foram levant~dos _os seguintes Qél;dos: solicita~.te:.
--
data do ,..P-edido, j u_~tificativa
- ----.., ... _ .. da. solicitação,
-.-·-·~·. .. ª'!'_alia_ç,?.o
--- ----···
.
técnica'------·
d,9_.2.~~ici.~· A partir da análise desses dados, foram detectados os prinçipat~. p_on-
e jurídica.
. . . ~~-·- r,e§Qll.J.@O
..
tQ~.g~~.. ness~ _p_erí9_d9_. ~ nstituiram objeto dl:l_ Qis.cussão e/ou d.e. r~conceitu?~º·
l
-' ,_,.., ...
.J ' Entretanto, casos _c_QQlC!..Q.~_~_a.s igrejas d_e_ Santana, no Ceará, e a de Pati..do _
Alferes, no Rio de Janeiro, e do conjunto de casas na Praça Coronel Pedro Osó-
rio, em Pelotas, Rio Grande _cl_o_ _~ui, em que _a_p_<>~uJa.çã._o local se mobiliza para
--·------·-··-··---··'···-··-··-.
p~cfü .otombç1mento_, sensibilizaram os técnicos d~ Sphan, que..levaram..esse...fato __
/, E:_~o_n~g_~rª-çã.Q ~ª indicação P?ra tomba_mento. Pedidos como o da _Serrn da
1 J/'/ ·, -~arrig_a, em Alagoas, com mais de mil assinaturas: o d() Terreiro da Ça_s~-ª-~an~. _
'\ ~
r.•.,-~ t"; , em Salvador, apoiado por representantes de instituições culturais e acadêmicas,
.. • ,
t( .:1'. por represer.tantes do movimento negro. e por .grupos locais: o da Estrada de Ferro
r r-' . ....., . •.
v- ,b-v como forma de sustar a venda das peças da ferrovia; e o do Hotel Copacabana
_ Palace, no Rio de Janeiro. apoiado por várias associações de moradores da cida-
z:/ de, dElíli?n_stram uma possibilidade de or.ganização dasocied~d~-- g_ara esse _tj[20
· d--ª.moção_ mas constituem exceções no conjunto de processos abertos no período.
t.) Da mesma forma, mas em sentido contrário, o pedido de tombamento da cidade
de Antônio PL~g.9., ~o fliQ_Grande do Sul. pela ~~}}R da Sphan, eO_QQ_ntrou r~i?_- _
tência tenaz da população local·, que se organizou para impugnar o tombamento.
Nesse casÓ~-fOi o trabâl·h;-d~ esclarecimento quanto às vantagens do tombamento,
· . '(J)
·'
_... -,...;
feito pela Spha-;·j~~to âõs-hàoítâ~t~s--J~- cidade, que conseg~Í~_reverter a situação.
É preciso, porém, qualificar a natureza da mudança indicada por esses dados.
Na verdade, o interesse que move os pedidos varia, caso a caso. A grande inci-
dência de solicitações encaminhadas por assembléias e prefeituras faz supor que.
_J., dadas as características da represent2ç30 política no Brasil, aJL.m--ªados da-déca-
)_')()'"' ! da de 1980. o que ~correu foi um~ _apropriação por .Rarte desses atores políticos_
Q i
--, ,t,. .I, /
....../
_)
illIJ O WRl/1\ÓNIO [/Is PRO[f\ l~
~ ide~_ÚQ da. preserví,l_ção, como meio para conseguir, junto ao govemo fed eral,
r~cursos para a_ solução de problemas urbanos locais, sobretudo em função da
carga simbólica da idéia de patrimônio, no sentido do reforço às identidades lo-
cais.~ E...ssa apropriação possivelmente foi um dos efeitos do novo discurso sobre
o. .patrimônio,
. ••.
produzido
···-·····-----~
.- .. ...
e difundido pela FNpM. Entretanto, em que medida esses
..... .. ... •--··· -·· --~-·-··-- ·- ·· · •• •-······-·· · · -
..
!
( punha nas Diretrizes, só estudos de caso, com dados fornecidos pelas agências
f:.: locais, --q-u-e têm condições de acompanhar as reações dos diferentes setores das
~
~i
;opulações locais a esses pedidos de tombamento, poderiam elucidar.
,!· Do iiiesmo-moeo, apenas esses estudos permitiriam avaliar os resultados da
proposta feita pelí,l__FNpM, nesse período, no sen_tido dª--ºem.9gati?_ciç_ã.q_~ª--Pºlí!i~
de__preservaç_ão~ade, a estratégia da instituição se concentrou na elabo-
ração de um discurso, amplamente difundido, em que a comuni.dadª-J~Ja induída_
não apenas como obieto__q_1,1_e_qpulação-alv:~. OJª§ _ !a..rri~é.fll _ÇQ_mo_J,~Q..f.hamado
a partici~ junto com __os _agentes _institucionais. O lema_ desse_discurso era "a
comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio". 1º ---- ..
---- . . ..____---- - ·-···· ---··· --- ----- .•.
Na prática dos trabalhos de preservação, porém, tanto nc:; mecanismos de se-
leção de bens para tombamento quanto, com mais motivos, nas obras, os p_rqç_EI·
<fü@otas ..adotados continuaram os mesmos elas .décaqas _antEJriCJrEJ~: _a avªliação
técnica.dos p!;ldidos de .tornl:lamentQ sendo feita pelos setore_s técnicos da _Admi-
Qistração Gentralda. Sp.han,_g_l!s),.ÍQçlysive, até 1988, indicavam os processos para..
º
élI(llJÍY.amento __e i!J!@rriento final _f~it_o pel_o Co.0,~elho Consultiyo, que, na quase
totalidade dos casos, acompanhava o parecer dos técnicos da Sphan. Pelo que
foi possível verificar nos processos, ª J~articip_açª_Q das Delegacias Regionais da
Sphan{FNp~- ~ra__r~_stEita aos par~.c~_i:~_s:..
É possível, portanto, qlJ_êli_fj~ -ª- ~ r_fü;ipaçf,í9 _da _sociedade nos tombamentos.
a partir da análise dos processos: Sfl, por um lado, os pe~idos de tombamento
deixaram de ser inidativa quase que exclusiva da_Jn~ÜJJ.Jição, os mecanismos de
decisão continuaram restritos aos órgãos técnicos da administração cen tral e, sal-
vo ~~~~~;;;;pcioriãis', não foi possível detectâr muitos caso~ de mobiliza·ção de
setores da sociedade no seniido de pressionar a Sphan na prática da preservação.
Pode-se argumentar que, em se tratando de tombamentos em n11,1 elfe_q~ral, ou
seja, de definir valores nacionais e não locais, a participação popular nos pro-
cessos decisórios é bem mais complexa: criar mecanismos institucionais em que
ã sociedade-êsteía~~p~e~-~~t~d;poderia con~erter a' seleção de bens para inte-
grarem o·pattimônio numa decisão mais política que técnica. Entretanto, ess2 tem
do Patrimônio
.......
-.-,····--,---.-- -.··
Histórico,
...
Artístico, Arqueológico
. .. --···- - ·~·- ---···· ..,. .
' __
e_ Etnológico
.·-. . ........ · ..
(Corephaae)
.
(Mesnard,-
1990, p. 430); em Portugal, onde, a partir da lei nQ 2.032, de 11 de junho de 1946,
as câmaras municipais podem promover, junto às entidades competentes, a classifi-
cação de bens existentes em seus concelhos como "valores concelhios" (IPPAR,
1993, p. xx); na Esp~Dh.~, em decorrência da situação das comunidades a_utê>no-
rnas, que gozam Ü<i muito mais independência em" rêÍação ao poder central que
os estados brasileiros, o poder local tem participação decisiva na construção do
patrimônio nacional etc.: para não falar em países como a Grã-Bretanha e os Esta-
dos Unidos, onde entidades não-governamentais, como os National Trusts, têm
significativa participação nas atividades de preservação, ou do Canadà onde, des-
de 1951, integram a Comissão dos Lugares e Monumentos Históricos do Canadá
representantes de todas as províncias e territórios. No Brasil, essa questão contí-
nua em aberto, e pouco se avançou na sua discussão (cf. Falcão, 1984; Bosí, 1987).
~ O PAIRl/t.ÓHI O lM fi OCESIO
modernistas, a semelhança de sua arquitetura com a colonial não era de aparência
ou de efeito, como ocorria com as construções neocoloniais, e sim de estrutura.
A ruptura com o passado, com a tradição, que caracterizou a arquitetura mo-
derna desenvolvida na Europa, na primeira metade do século, como já foi dito no
capítulo 3, não se reproduziu no Brasil da mesma maneira. Aqui, os arquitetos
modernistas, doublés de funcioná rios públicos, procuraram estabelecer um sen-
tido de continuidade e construir uma tradíção brasileira com base em determi-
nados preceitos estéticos, os da boa arquitetura. A arquitetura moderna no Brasil
rompia com a das belas-artes, de origem francesa, em dois sentidos, estético e
ideológico. Do ponto de vista estético, os arquitetos modernistas consideravam
que, no estilo eclético, o funcional e o decorativo estavam dissociados, o que fez
com que considerassem esse estilo, assim como o neocolonial, "não-arquitetura".
Do ponto de vista ideológico, as construções em estilo eclético eram consideradas
transposições acríticas de influências européias, modismo das elites que aqui
tentavam reproduzir o Velho Mundo. Já a arquitetura modernista desenvolvida no
Brasil, embora fortemente influenciada pelo suíço Le Corbusier, procurara, desde
o início, afirmar seu caráter de arquitetura nacional, explicitando, de um fado, sua
adequação ao clima e às condições econômicas e sociais locais, e, de outro, de-
monstrando sua vinculação com a tradição construtiva luso-brasileira. 13 Por esses
motivos, o Estado pôde, nos anos 30, encampar sem maiores dificuldades esse
ideário, que se prestava à afirmação da nacionalidade tanto na construção de
símbolos do presente (o prédio do MEC) quanto na preservação dos marcos do
passado (o trabalho do Sphan).
Não foi difícil para os arquitetos do Sphan a inclusão entre os bens tombados
de construções em estilo art-nouveau, por seu valor artístico. Nesse estilo, con·
forme palavras de Giulio Cario Argan, "a decoração também se torna tensão, elas-
ticidade , expressão simbólica de uma funcionalidade cujo dinamismo é uma
característica do mundo moderno" (1992b, p. 90).
Ainda na década de 1960, Lúcio Costa propusera o tombamento do prédio onde
fu ncionava, no Centro do Rio de Janeiro, a tradicional loja de artigos masculinos
A Torre Eiffel, em estilo art-nouveau. O imóvel ia ser demolido em função de sua
venda pelos proprietários: os comerciantes eram locatários, e teriam que deixar o
loca!. O tombamento não foi efetivado devido à argumentação dos advogados dos
proprietários, de que a motivação do pedido era proteger o uso do imóvel. en-
Pauto Santos se alinhava, portanto, aos que reconheciam ::i relatividade dos
juízos de valor, contra qualquer princípio canônico no ato de valoração que discri·
minasse estilos na história da arquitetura - como faziam os arquitetos modernis-
tas. Desse ponto de vista, o valor histórico do conjunto enquanto único testemunho
de alto porte da Bel/e Époque na capital da República adquiria maior importância
em termos da indicação para tombamento. Paulo ~.. . . Santos
.. considerava o ecletismo
como estilo estética e arquítetonicamente válido, na medida em que se propunha
·a· analísâ·lo à luz do momento histórico em que emergiu. Via nesse estilo um do-
cumento da evolução da arquitetura e a expressão de seu tempo, final do século
XIX e início do XX - tempo de confronto entre a sociedade pré-industrial. carre-
_gada de traqições, e a sociedade industrial nascente. que buscava novas formas
de expressão estética, formas essas que só surgiram, no Brasil, a partir dos anos
20, com a arquitetura modernista de Warchavchick e do próprio Lúcio Costa.
Foi em nome da "boa arquitetura" que Lúcio Costa se insurgiu veementemente
!lffi seu parecer. Não considerava o edetismo um período da história da arte e
sim "u,11 hiato nessa história". Ao defender sua posição, que coincidia com a de
Lígia Martins Costa, Lúcio Costa fez as seguintes ponderações:
l 19 2 [ O PAlll~Õ NI O f ~ PROCfllO
Sem dúvida, a linguagem da arquitetura eclética soa-nos quase sempre estranha,
num primeiro momento. Um exame mais detido conduz-nos, no entanto, á identificação
de traços de outras culturas que são comuns à nossa. As propostas clássicas dessa
período, por exemplo, têm, com mai°' razão, elementos que nos são familiares. (Proc.
970-T-78. Faculdade de Direito do Recife, PE)
•
série de acontecimentos sempre dramáticos e breves" (Proc. 1.146-T-85. Prédio
da Light, RJ).
política.
_, _______ _
A PRÁ!ICA D! !0#. SA/o\ENI O: 1970 -1990 -·- ..----· ... . ... _,_·~ .,...,_ .. __.,
197
IJ FP1; l • BiBUOú:CA Z;( >
grande da Fazenda Ladeira de TaepP em Surubim, Pernambuco, foi enfaticamente
defendido pelo solicitante. apesar do parecer contrário de Aírton Carvalho, diretor
da delegacia local da Sphan.
O fato é que, com a criação de órgãos estaduais e municipais de preser,ação,
extingue-se o papel supletivo que a Sphan antes exercia, tornando-se, por outro
lado, a cada dia mais importante discutir o que a instituição entende atualmente
como bem de valor nacional.
Foi essa nova visão da história que motivou a proposta desse mesmo arquiteto
para transcrição dos centros históricos inscritos nos livros Histórico e de Belas
Artes para o Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagísfrco. Essa proposta, apre-
sentada na Informação n~ 135/86, implicava uma leitura mais abrangente desses
~ .ns, em consonância com as idéias da École des Annales, que analisa os fatos
históricos a partir de uma postura multidisciplinar, para que concorrem a história,
a geografia, a arqueologia, a geologia, a ar1tropologia etc. Essa leitura en tende
O PAlWIIÔNIO I MPROCfl l O
~
gem de votos (três votos a favor , um voto contra, duas abstenções e um pedido
de adiamento).
O problema da definição da função dos dois órgãos recém-criados - Sphan
e FNµM - também foi levado ao Conselho a propósito da elaboração do regimento
da Sphan. A apresentação de duas propostas separadas, segundo o secretário
Ângelo Osvaldo, expressava "as indagações e os conflitos conceituais que já es-
tavam latentes desde a cri;ição da FNpM", mantendo-se a divisão entre o "patri-
mônio arquitetônico" (Sphan) e o "patrimônio antropológico" {FNpM), apresentan-
do-se a Sphan como herdeira de Rodrigo e a FNpM como herdeira de Aloísio. A
quesfüo foi retomada na 1284 reunião em termos de uma crise institucional, em
conseqüência da duplicidade de comando. Como solução, o Ministro da Cultura
terminou por optar pela unificação do comando das duas instituições.
A partir de 1988, também os processos indicados para arquivamento come-
çaram a ser encaminhados ao Conselho Consultivo que, a partir de então, passou
a participar de todas as decisões relativas aos tombamentos.
Como espero tenha ficado evidente, os problemas que, nas décadas de 1970
e 1980, se apresentavam ás áreas técnicas e ás instãncias decisórias da Sphan
estavam bastante distantes das questões que então ocupavam os funcionários
ligados ao CNRC, inclusive na medida em que esse grupo contestava os critérios
de valora ção da Sphan. Mas, ao simplesmentP. repudiarem os critérios estabele-
cidos (o que lhes era facilitado pelo tipo de trabalho que desenvolviam) e ao se
limitarem ao que seria uma atuação corretiva, os técnicos do CNRC terminaram
por se furtar a enfrentar uma dimensão sem escapatória <1a atividade de preser-
vação: a definição de critérios para a seleção de bens a integrar o patrimônio his-
tórico e artístico nacional - critérios tanto técnicos como politicos. 27
No entanto, o fato é que vários projetos do CNRC foram parar nas instâncias
técnicas da Sphan, em muitos casos a contragosto dos técnicos mais antigos da
casa, que consideravam os bens propostos para tombamento desprovidos de ex-
cepcional valor histórico ou artístico, ou incompatíveis com as exigências do insti-
tuto do tombamento. Mas hoje é inegável que esse movimento propiciou, em nivel
conr:eitual, pelo menos, algum grau de integração entre as duas orientações. O
afluxo de novos programas, entre eles várias propos tas oriundas da Área de
a Sphan ainda não sabia exatamente como fazer para proteger esses bens.
A análise dos processos de tombamento abertos nas décadas de 1970 e 1980
nos leva a caracterizar esse período como um momento de coexistência e, em
certos momentos, de confronto, entre orientações distintas, o que se expressou
muito mais no nível das práticas que do discurso. Por outro lado, se :::msiderar-
mos essa situação em termos de longo prazo, podemos supor que, na verdade,
se trate de um período de transição. Na medida em que se reconstruam séries
históricas, se proponham leituras maís abrangentes, que não se limitem aos con-
ceitos tradicionais de história e de arte, e sobretudo se abram espaços para a par-
ticipação de outros atores. que poderão propor outras leituras e dar suporte ás
atividades de proteção, os efeitos dessa fase poderão redundar numa efetiva am-
pliação da eficácia simbólica do patrimônio e numa maior representatividade dos
bens tombados relativamente à pluralidade cultural brasileira.
Nom
O arquiteto Carlos Lemos, do Condephaat, de São Paulo, observou que. no caso das
fazendas paulistas antigas hâ, pelo contrário, interesse dos proprietários no tombamento,
o que as valoriza no mercado imobiliârio.
Em 12 dos 135 pedidos que resullaram em tombamenlo, nao foi possível identificar
a origem da solicitação, seja porque os processos não se encontravam no Arquivo
Central do IBPC, seja porque neles não foi possível localizar essa informação.
" O mesmo argumento foi utilizado na França em 1988, a propósito da proteção ao imóvel
onde funciona o tradicional restaurante Fouquet's, na medida em que o objetivo era preservar
não o imóvel, sem maior valor arquile1ônico, e sim a marca. Em 1990, uma decisão da
justiça considerou essa inscrição incompatível com a lei de 1913, que se refere a "bens
móveis e imóveis" (apud Léniaud. 1992, p. 119-120).
Embora concorde com a crítica do ~ rquilelo aos pressupostos que fundamentaram o pedido
23
de tombamento do presépio, considero que, nesse caso, não seria difícil recorrer a outros
argumentos para inscrevê-lo no Livro de Belas Artes.
~ Devo estes esclarecimentos aos arquitetos Antônio Pedro Alcântara e Fernando Madeira.
25
Em 1938, os 'morros do Rio de Janeiro" já haviam sido inscritos, genericamente {sem
especificações), nos,livros Histórico e de Belas Artes. Como se verificou ao longo dos anos,
esse tipo de inscrição não provocou os efeitos de proteção desejados.
m A partir de maio de 1992, quando o Conselho Consultivo foi reconduzido, passaram a integrá-
/o representantes do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (Jbama) e do Icemos. Onúmero de membros nomeados, enquanto personalidades,
aumentou de dez para treze.
27
Uma das raras ocasiões em que ocorreu esse debate foi a propósito do tomba mente
do Terreiro da Casa Branca.
28
Disse a respeito o relator do processo no Conselho Consultivo, José Mindlin: 'Trata-se de
inovação em matéria de tombamento, pois visa à preservação de um processo induslrial,
e não de um monumento histórico ou artístico.'
1
gações do Estado. os subsídios para a análise foram buscados na legislação e
nos procedimentos que foram adotados no contexto brasileiro. A perspectiva com-
parativa, aliás, percorreu todo o trabalho e revelou-se recurso extremamente útil
para a apreensão da especificidade do caso brasileiro.
A reconstituição das condições de emergência de um "sentido do patrimônio"
(capítulo 2) remeteu ao contexto da modernidade, ou seja, a práticas orientadas . ~.
~·
por valores leigos, à autonomização das diferentes esferas da vida social, e à
constituição dos Estados-nações, legitimada sobre noções como cidadania e inte-
resse público. Além de atuar corno mediador entre os interesses individuais - de
.i.
que a propriedade privada é a expressão mais evidente - e o interesse da coletivi- /1
·-
dade, o Estado simboliza a nação e trata de promover seus valores e objeUvos. :::.-.;
A instituição da idéia de patrimônio está, portanto, na confluência desses dois pro- ·J~
cessos: o de demandas da sociedade e o da iniciativa do Estado. ;1,;)i
J~1
>~·~
Qon,o ocorre com outras política~ públicas, também nesse caso a ação do Es-
tado, no sentido de l)roteger bens c:ulturais,j _tanto mais centralizadora e autônoma
,quanto mais limitados sejam os mecanismos de que a sociedade dispõe para se
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COHC l U!ÃO
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luso-brasileira e aos valores da dasse_domin_ante - como geradores de valor eco-
nõmjq?_.e _c;om.o indicadores para a elaboração de modelos de desenvolvimento
__ adequados à realidade brasileira. ~0~1;1bém, no contexto da política .
g11tur.~Cã:-t'emãiicâ- dó lmperiaiismo e da dominação cu1tura1 dos países desenvol-
vidos: mais que nos anos 30 e 40, o apelo a idéias nacionalistas foi explorado
no discurso de Aloísio Magalhães,
A reação a essas propostas foi, naquele momento, diferenciada. Junto aos go-
vernos militares da fase de abertura, elas encontraram amplo apoio e recepti-
vidade, levando a uma reestruturação da área cultural dentro do MEC. Junto à opi-
nião pública, foram. em geral, identificadas a uma nova visão, mais atualizada,
dos problemas culturais no Brasil. Entretanto, junto ao meio intelectual e, sobre-
tudo, junto à comunidade acadêmica, então bem mais organizada e independente
que na primeira metade ~o século, q_p_Qsição !')mbigua dos agentes instituci_ onais•.
que se apresentavam como mediadores entre os grupos identificados com a cul-
tura popular e o Estado, era vista com desconfiança. embora raramente tenha sido
objeto de críticas mais con.tund_e~tes. O que se censurava na atuação do Centro
~_a_qQ!]é!I__Jl~ R.\:l.fe.rêf)c:ia Cultural (CNRC), criado em 1975 e, posterionnenle, incor-
_porado à Fundação Nacional pró-~1?mória, ~ra., além de uma imprecisão concei-
.
tuai, uma indefinição ideológica, na medida em que se postulava o reconhecimento 1
~dustrial; p~ss~ram 1..~er consi.9erados es!ilos artísticos que. antes, eram exclui-
~OS.Jlr:n_fun~Q.Pê _yma vis~o cao.õnica ge ~rquitetura. Entretanto, essa imagem ob-
jetiva ~a nacionalidade ainda está longe de ser representativa da pluralidade
cultural brasileira.
9s instrumentos de proteção continuaram praticamente os mesmos: o tomba-
mento para bens imóveis e os museus para a guarda dos aceryos de be~s móveis.
A pesquisa de outras formas de proteção, apesar de ser reconhecida como im-
prescindível, ainda está por ser feita.
1
CO HClU IAO [I[J
1:~_f!l_~~~---~ rE?\ação entre a instituição estatal e a sociedade pouco mudou. Se
houve um aumento significativo na participação de agentes externos nos pedidos
de_ t?.m~mento_. as instâncias decisórias continuaram restritas ao. Conselho Con-.
sul!iv_o - cuja composição somente em 1992 passou por uma mudança visando
a aumentar sua representatividade -. e ao corpo técnico da administração central
,~--"' ..
da Sphan. que produz os pareceres técnicos com as indicações para tombamento
(ou não). Como na grande maioria dos casos, o Conselho Consultivo se limitou
... ··-· ... ~--
' .. -·
a ratificar essas indicações. e como as delegacias regionais do órgão tinham uma
P,i:l~i~ípação liinltada·· á' produ~Õ -de pareceres, pode-se caracterizar o processo.
de. seleção e· valoração de bens para integrarem .o patrimônio cultural brasileiro,
adotado durante as décadas de 1970 e 1980, <;QíTIO altame~te especializado e cen-
trali~~~-or, Jntretanto, as circunstâncias que, nos anos 30 e 40, justificavam essas
características enquanto estratégias não mais existiam nos anos 70, e, sobretudo, ·
a partir de meadÓs dos anos 80.
O desmantelamento da área da cultura, no iníc[o do governo Collor, produziu
uma quebra na continuidade de uma política estatal" que se caracterizava pela es-
tabilidade. Reorganizada a partir da reestruturação institucional (extinção da Sphan/
FNpM e criação do IBPC), da recondução do Conselho Consultivo em maio de 1992,
e da retomada da prática de tombamentos, essa política estatal se vê, atualmente,
frente a uma nova realidade e a novos problemas.
Nesse meio tempo, a descentralização iniciada nos anos 70 consolidou-se,
com a disseminação das secretarias de cultura e de órgãos estaduais e municipais
de preservação. No nível estadual, tem predominado nos órgãos que trabalham
com patrimônio a tendência para a exploração turística do patrimônio local, como
é patente nos estados do Nordeste; no nlvel municipal, vêm sendo desenvolvidas
experiências inovadoras, a partir do conceito de cidadania cultural, tendo sido pio-
neira, nesse sentido, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, durante a
gestão da prefeita Luisa Erundina.
A instituição federal de preservação do patrimônio deixou, portanto, de consti-
tuir a única alternativa para a proíéção de bens de valor histórico e artístico. No
exercício de sua função, vê-se. inclusive, frente à necessidade de definir com cla-
reza o que entende por valor nacional de um bem, na medida em que, hoje, já exis-
tem alternativas de proteção em nível estadual e municipal.
Além disso, o -~_eclínio dos nacionalismos priva a prática de presei'Vação de
seu principal recurso de legitimação, pois, embora . não se possa dizer que a
COHClUS ÃO [lliJ
se encaminhou, posteriormente, para a vinculação da questão cultural aos direitos
da cidadania. Essa função que alguns intelectuais brasileiros exerceram, como
únicos mediadores. possíveis entre o Estado e a sociedade - referida como "as
massas" na fase heróica e como "os diferentes contextos culturais" na fase mo-
derna - se justificada em períodos autoritários, ou quando ainda predominava uma
cultura política que identificava Estado, nação e sociedade, não encontra mais
argumentos nos tempos atuais. lrrata-se, hoje, de procurar politizar a política
federal de preservação no Brasil, o que não significa reduzi-la a uma prática ideo-
lógica, seja a serviço do Estado ou das classes que o ocupam, seja dos excluídos
até hoje dos benefícios dessa política. Politizar no sentido de ter como objetivo
que esses bens sejam apropriados simbolicamente pelos diferentes grupos sociais
que compõem a sociedade brasileira. Ou seja, tirá-los da situação de "pesados
e mudos" referida na introdução, e íazê-los circular no espaço público, enquanto
referências de identidades coletivas e enquanto conteúdos do imaginário soci.BIJ
A elaboração de uma versão critica da trajetória da política federal de preser-
vação no Brasil, que sirva como base para projetos futuros, é uma tarefa a ser
realizada. A imagem que as instituições envolvidas têm construído de sua própria
história se confunde com os mitos cultivados por seus funcionários. Para os mais
antigos, a fase heróica (que não por acaso recebeu essa denominação) é a Idade
de Ouro do Patrimônio, cristalizada no culto à figura de Rodrigo M. F. de Andrade.
Já para os func:onários mais recentes, que participaram da experiência do CNRN
e/ou conviveram com Aloísio Magalhães. vivia-se nos anos 70 uma invejável si-
tuação de exceção no emperrado universo do serviço público brasileiro, em que
o trabalho tinha o sabor de um ato inaugural, orientado com habilidade e alegria
pela personalidade ímpar de Aloísio.
Essas versões mitificadoras encontram reforço na falta de diálogo, seja inter-
namente entre os agentes institucionais, seja entre eles e a sodedade. É neces-
sário, portanto, elaborar uma reflexão desmitificadora, mas não desiludida, dessa
trajetória, que procure avaliar, com um mínimo de objetividade, resultados e carên-
cias, com a finalidade de vislumbrar perspectivas.
A partir da análise realizada, foi possível extrair algumas orientações tendo
em vista a elaboração de novas diretrizes.
1. E_m primeiro lugar, dificilmente o universo do património se tornará real-
mente represen_ta!ivo da diversidade cultural brasileira enquanto persistirem
os atuais procedimentos para seleção de bens. Desde seus primórdios, a instí-
pectiva, não tem mais sentido que os agentes institucionais se considerem os úni-
cos porta-vozes dos interesses rJa sociedade; esta, por sua vez, vê na sua capaci-
dade de organizar-se e de encaminhar suas demandas - sejam elas na área eco-
nômica, social ou cultural - o caminho para o exercício da cidadania.
Seria ingênuo, no entanto, supor que, no Brasil, essas transformações surjam,
sobretudo na área da cultura, como conseqüência natural do processo de demo-
cratização politica, como ocorreu em países de tradição cultural enraizada, como
a França, ou histoFlcamente construídos sobre valores democráticos, como os
Estados Unidos. Aqui, dada a extrema carência de bens materiais e simbólicos
entre numerosos setores da população, e dados os processos de marginalização
e mesmo exclusão de parcela significativa da sociedade ·nacional, desenvolver
uma política cultural democrática é um imenso desafio para seus mentores, tanto
maior quanto mais distantes estejam das comunidades locais. É inevitável, por-
tanto, que esses agentes assumam um papel mais ativo junto à sociedade, caso
contrário correm o risco de não a!_cançarem mais que aqueles poucos setores já
tradicionalmente sensibilizados para questões culturais, ou, especificamente, para
o interesse na preservação.
No estágio atual da questão do patrimônio no Brasil, a atuação do órgão fede·
ral de preservação deveria ter um caráter eminentemente didático e exemplar. Di-
dá_tico não apenas quanto a desenvolver ações voltadas para a difusão de um sen·
(ido do patrimônio e do interesse social na preservaçãq (interesse que, em se tra-
tando do meio ambiente, já se tornou praticamente um consenso), como também
qu_anto a se instrumentalizar p~ra recorrer aos canais já existentes - mas muito
pouco utilizados com essa finalidade - para se comunicar com a sociedade (edu·
...
cação formal e informal, instrumentos de referenciamento e informação, meios de
comunicação, interface com outras políticas públicas, incentivos etc.). e; exemplar
no sentido de que as ações especificas de proteção - tombamentos, inventários,
registros etc. - ~ão precisam mais ser necessariamente extensivas e abrangentes,
na medida em que já existem órgãos locais para esse fim, mas devem sc~ir para
·-· -~ ·· -· . ·-·· .
explorar ~ovas possibilidades na linha da idéia de cidadania cultural.
COHCLUIÀO [ffi.J
des antigas, é claro. Mas, se considerarmos o espaço físico e o que o homem
nele produz como uma riqueza social, fruto do trabalho coletivo de gerações,
parte, portanto, da história da nação, o interesse na preservação deixa de se limi-
tar apenas à proteção de valores culturais restritos, nos limites das concepções
tradicionais de história e de arte. Abre-se, assim, no patrimônio lugar para as pro-
duções visualmente menos imponentes, para os objetos modestos, para saberes
e fazeres. E, no nível simbólico, tornam-se passiveis leituras menos limitadoras.
Mas, para que essa ampliação (material e simbólica) do patrimônio seja
possível, não se deve vincular a produção dos bens culturais - que é fruto do
trabalho coletivo - à sua posse (em termos de apropriação, seja quanto a pro-
priedade e/ou uso, seja quanto a referência a uma identidade coletiva) por indi-
víduos, grupos ou classes sociais. Pois o sentido mais profundo do tombamento
federal é justamente o de recuperar essa dimensão social de determinados bens
que, exemplar e concretamente, referem a coletividade nacional. Não uma cole-
tividade harmônica e artificialmente representada, mas ~ lugar onde se manifestam
identidades múltiplas, diferenças, de::;iguafdades e conflito§,
Dentro dessa visão, a preservação passa do estatuto de exceção para o de
norma, e o interesse em destruir passa a ser avaliado a partir de uma perspectiva
mais ampla e socialmente mais democrática.
Considero, porém, que as transformações ocorridas nas décadas de 1970 e
1980, se devidamente incorporadas a propostas atuais para uma política federal de
preservação, certamente contribuirão para uma reelaboração dos princípios, dos
critérios e dos procedimentos que têm norteado a produção, a proteção e a promo-
ção do patrimônio cultural no Brasi!. E, quem sabe, contribuirão também para que
a prática já consolidada da preservação de bens culturais seja democratízada, no
sentido de ser efetivamente apropriada, enquanto produção simbólica e enquanto
prática política, pelos diferentes grupos que integram a sociedade brasileira.
j
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[ili] OPAlRII\ÔH IO E~ m rn 10
ANfYO~
'
ANEXO I
CRONOLOGIA DA POLÍIICA DE PRESERVACÃO NO BRA SIL
1936 - Mário de Andrade elabora, por encomenda do ministro Gustavo Capanema, anteprojeto
para criação de um serviço federal de proteção ao patrimônio.
- O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) começa a funcionar
em caráter provisório, sob a direção de Rodrigo Melo Franco de Andrade.
1937 - Em 30 de novembro de 1937 é promulgado o decreto-lei 112 25, que cria o Sphan e
regulamenta o instituto du tombamento.
1941 - É promulgado o decreto-lei nii 3.866, de 29 de novembro de 1941, que dispõe sobre
o cancelamento do tombamento pelo presidente da República.
1973 - Criação, jun1o à Seplan, do Programa de Reconstrução das Cidades Históricas (PCH).
. _ _ _ _.._.,.,.,__ ..~ ...·- ··-.. - -.-h ,,_...... _ __ .,... . ......... . -...-.-~........._..~··,. "!º
1977 - O PCH é estendido aos Estados de Minas Gerais, Espirita Santo e Rio de Janeiro.
Çriação. rio ~ll)bit.o do MEC, ~-9 _Se_çr~Jc1~ia ~9.Patri.mqnjo Históricq e_Artí.~tic:o Nacional
(S_phan) e da Fundação Nac.ional _pr.ó:~.~~?~~ (FNpM).
1981 Criação da Secretaria da Cultura (SEC) ~_EC. ~ .Qi!,Q e a Secretaria ~e A~_i;_u_n!os ~-º
~ ~~:1$~~éfirân~Íormàrii~se" êm's~bsecretarias.
Elaboração. em seminário da SEC, do documento Diretrizes para operacionalização
da política cultural do MEC.
'·
1982 - Aloisio Magalhães morre em Veneza.
- Marcos Vinicios Vilaça assume a qEC.
Extinção da SEC e criação do Ministério da Cultura (MinC), que é assumido por José
Aparecido de Oliveh.i.
José Aparecido de Oliveira deixa o MinC para assumir o governo do Distrito Federal.
1991 -
-~
Sérgio Paulo Rouanet assume a Secretaria da Cultura.
.. -,~.........,.
- Jayme Zette! assume a presidência do IBPC.
1998 - Portaria do Ministro da Culturc cria Comissão e Grupo de Trabalho para elaborar
proposta de acautelamento do patrimônio cultural imaterial brasileiro.
20CO - Edição do decreto presidencial nA 3.551, de 4 de agosto de 2000, que institui o registro
dos bens culturais de natureza imaterial e aia o Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial.
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OE C\ d~C\AS i_;:JC\,;\S
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Amo 1: CRON OLOG I A DA PO LÍ! l( A Df PW WACÃO NO BRAS IL ] 243 l
!\NEXO li
DECRffO-L EI N• 25, DE 30 DE NOVEMBRO OE 1937
ÜPÍIULO ]
(APilULO li
Do lomhomenfo
Art. 4°. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro
Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1° desta
lei, a saber:
1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas per·
tencentes às categorias de arfe arqueológica, etnográfica, ameríndia e
popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º;
2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras
de arte histórica ;
3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou
estrangeira;
4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na cate-
goria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.
§ 1°. Cada um dos Livros do Tombo poderá ter vários volumes.
§ 2°. Os bens que se incluem nas categorias enumeradas nas alíneas 1, 2,
3 e 4 do presente artigo serão definidos e especificados no regulamento
que for expedido para execução da presente lei.
(APÍIULO Ili
(APÍlULO IV
Do direifo de 'preferência
Art. 22. Em face da alienação onerosa de bens tombados, pertencentes a
pessoas naturais ou a pessoas jurídicas de direito privado, a União, os Estados
e os municípios terão, nesta ordem, o direito de preferência.
§ 1°. Tal alienação não será permitida, sem que previamente sejam os bens
oferecidos, pelo mesmo preço, à União, bem como ao Estado e ao municí-
pio em que se encontrarem. O proprietário deverá notificar os titulares do
direito de preferência a usá-lo, dentro de trinta dias, sob pena de perdê-lo.
§ 2°. É nula alienação realizada com violação do disposto no parágrafo ante-
rior, ficando qualquer dos titulares do direito de preferência habilitado a se-
qüestrar a coisa e a impor a multa de vinte por cento do seu valor ao trans-
mitente e ao adquirente, que serão por ela solidariamente responsáveis. A
nulidade será pronunciada, na forma da lei, pelo juiz que conceder o se-
qüestro, o qual só será levantado depois de paga a multa e se qualquer
(APÍIULO V
Oúporicõer 9eroi1
Art. 23. O Poder Executivo providenciará a realização de acordos entre a
União e os Estados, para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades
relativas à proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e para a unifor-
mização da legislação estadual complementar sobre o mesmo assunto.
Art. 24. A União manterá, para a conservação e a exposição de obras his-
tóricas e artísticas de sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do
Museu Nacional de Belas Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tor-
narem necessá rios. devendo outrossim providenciar no sentido de favorecer a ins-
tituição de museus estaduais e municipais, com finalidades similares.
Art. 25. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional procurará en-
tendimentos com as autoridades eclesiásticas, instituições científicas, históricas
Art. 28. Nenhum objeto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta
lei poderá ser posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que
tenha sido previamente autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artís-
tico Nacional, ou por perito em que o mesmo se louvar, sob pena de multa de
cinqüenta por cento sobre o valor atribuído ao objeto.
Parágrafo único. A autenticação do mencionado objeto será feita mediante o
pagamento de uma taxa de peritagem de cinco por cento sobre o valor da
coisa, se este for inferior ou equivalente a um conto de réis, e de mais
cinco mil réis por conto de réis ou fração, que exceder.
Art. 29. O titular do direito de preferência goza de privilégio especial sobre
o valor produzido em praça por bens tombados, quanto ao pagamento de multas
impostas em virtude de infrações da presente lei.
Parágrafo único. Só terão prioridade sobre o privilégio a que se refere este
artigo os créditos inscritos no registro competente, antes do tombamen to
da coisa pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Art. 30. Revogam-se as disposições. em contrário.
Getúlio Vargas
Gustavo Capanema
A
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Cresça!DF
Ordem dos IAúsicos/DF
Grupo de Teatro - Abibiman!PE
Centro Latino-Americano de Altos Estudos/DF
Bloco Carnavalesco /lê Aiyê - Salvador!BA
Grupo Niger-OKAN - Safvador!BA
ACAAN - Associação Cultural de Apoio às Aftes Negrcs/RJ
1971
833-T-71 Conjunto arquitetônico e paisagístico da
Praça Getúlio v~rgas RJ Nova Friburgo
834-T-71 Igreja de N. Sr•. da Conceição MG Couto Magalhãe s
83 5-T-71 Igreja de Santo Antônio PE Tra cunhaém
836-T·71 Jgreja do Bom Jesus dos Martírios PE Recife
837·T·71 Casa à Praça Dr. Jefferson, 13 MG Campa nha 1
838·T-71 I Fazenda do Pocinho RJ Vassoura s/
1
Barra do Pirai
839-T-71 Igreja Matriz de São José MG Serro
840-T-71 Solar do Barão de Vila Flor RJ Sa o Fidélis
841 -T-71 Palácio La uro Sodré PA Be lém
842-T-71 Caverna do Alambari, Fazenda Sã o Luis SP Bananal
843-T.71 Conjunto arquitetônico epaisagístico
de Cachoeira BA Cachoeira
844·T-71 Casa da Fazenda do Pau Grande RJ Va,~our as
845-T-71 Imagem de São Francisco de Paula MG Mariana
• Adotou-se a segu inte convenção por tipologia gráfica: negrito - tombado ; ilàlico - arqu ivado ;
re dondo - em estudos , (N. do E.)
I N° Processo I Nome do Bem I UF j loc~~=~= 1
1972
852-T-72 Igreja Matriz de N. Sr'. da Conceição RJ Pati do Alferesi
·,
Vassou ras
853-T-72 Casa à Rua Mayrink Veiga, 9 RJ Rio de Janeiro
854-T-72 Casa à Rua da Quitanda, 61 RJ Rio de Janeiro
855-T-72 Igreja Matriz de São Sebastião RJ Niterói
856-T-72 Casa Frei Rogério - Fórum se Porto União
857-T-72 Casa onde nasceu o marechal Artur
da Costa e Silva RJ Taquari
858-T-72 Antiga Eslação Ferroviária PB Campina Gr~nde
859-T-72 Igreja Matriz de Santo Antõn:a MG Alvorada de Minas
860-T-72 Conjunto arquitetônico da Av. Rio Branco RJ Rio de Jan eiro
861-T-72 Antiga Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras (Casa à Praça
Terreiro de Jesus) BA Salvador
862-T-72 Liceu de Arles e Oficias
(Casa à Praça da República) PE Recife
863-T-72 Assembléia legislativa (antigo edifício
da Assembléia Provincial) CE Forlaleza
864-T-72 Casa e capela da Fazenda da Luz RJ São Gonça lo
865-T-72 Casa da Fazenda dos Macacos MG Conselheiro
Lafaiete
866-T-72 Igreja do Divino Espírito Sant? PE Rec ife
1 867-T-72 Coleção de Abelardo Rodrigues PE Rec ife
868-T· 72 Pintura s de Benedito Calixto que
1
eslão no Palácio Episcopal SP São Carlos
1973
869-T-73 Morros do Rio de Janeiro (7) RJ Rio de Janeiro
870-T-73 Igreja Malriz de N. Sr•. da Conceição MG Prados
um O W Rl/1\ÕNIO t MPROCfllO
~ · Pcocmo I Nome do Bem 1-Uf I Local Oade ~I
87 1-T-73 Faculd ade de Direito da UFRJ RJ Rio de Ja1,eiro
872-T-73 Enge nho Morenos PE Morenos
873-T-73 Igreja do antigo Convento de
São Fra ncisco ES Vitória
874-T-73 Igreja de N. S~. do Pilar SP Ribeirão Preto
875-T-73 Conjunto arquitetônico e urbaníslico
das áreas da Bahia dt :,uape e do
Cabo Sar.!o Agostinho PE Recife
876-T-73 Capela de São Pedro PE Pajeú
877-T-73 lg reja Matriz de Vila Bela e
Palácio dos Capitães Generais MT Vila Bela
878-T·73 la goa Roórigo de Freitas RJ Rio de Janeiro
879-T-73 Casa de Câmara e Cadeia CE Aracati
880-T-73 Conjunto arquitetônico da Praça da
Matriz e Museu de Arte e História MG Nova Era
88 1-T-73 Casa da Fazenda Santa Mônica RJ Valença
882-T-73 Igreja Matriz do D~sterro e Igreja
do Rosário MG DesemboQue
883-T-73 Mercado de São José PE Recife
884-T-73 Museu do Colono RJ Petrópolis
885-T-73 Capela erigida por Anhanguera MG Uberlândía
886-T-73 Teatro Apolo
(Ca sa Rua do Apolo. 121) PE Recife
887-T-73 Casa de João Niderauer Sobrinho RS Santa Maria
888-T-73 Forte Junqueira MT Coru mbá
889 -T-73 Cemitério da Irmandade N. Sr. Pa ssos SP Guaralinguelá
890-T-73 Solar da baronesa de Mu riaé RJ Campo s
891 -T-73 Conjunto arquitetônico de Rio de Co ntas BA Rio de Contas
892-T-73 Casa da Fa zenda Quebra de Canoa s MG Ponte No.a
893-T-73 Casa onde morou o Ba rão do
Riu Branco (Rua Westphaien , 279) RJ Petrópolis
1974
894 -T- 74 Sobrado e respectivo terreno em que,
em 1845, se hospedou d. Pedro li RS São Gabriel
895-T-74 Lavabo emmármore português
(Convento de San lo Antônio
do Paraguaçu) BA Cachoeira
·-~-~ ~ - - - ·
1975
919-T-75 Reservató:,J de água (Laranjeiras) RJ Rio de Janeiro
920-T-75 Capela N. S: 1 da Piedade RJ Rio de Janeiro
921-T-75 Casa "Es:2ção do Brum·· PE Recife
922-T· 75 Igreja do Terço PE Recife 1
1976
939·T·76 Grutas e lapas MG Lagoa Sa nta
940-T-76 Casa à Rua Oswaldo Cruz, 782 MA São Luis
941-T-76 Casas de três faze ndas (Mantique ír~.
Machadinha e Mato de Pipa) RJ Macaé
942-T-76 Arraial Novo do Bom Jesus PE Recife
943-T-76 Forte N. Sr•. da Conceição se Florianópolis
944-T-76 Prédio da Estação da Luz e
Pina coteca Esla rfual SP São Paulo
945-T-76 Igreja de N. SI'. da Paz RJ Rio de Ja ne iro
946·T-76 Escola Tiraden tes RJ Rio de Jane iro
947-T-76 Ruinas do Forte em Arraial 1
das Tesouras GO Moza rlâ nd ia
1
948-T-76 Casa do Antigo Fórum BA Caetité 1
l
949-T-76 Igreja Positivis la do Brasil RJ Rio de Janeiro
1
950-T-76 Capela de N. Sr•. do Rosá rio da
1
Ermida Santa Efígénia MG Sabará 1
1977 1
951-T-77 Casa do Museu Prof. Zoroastro Artiaga GO Goiânia
1
1978
967-T-78 Solar da Familia Franklin Sampaio
(Casa à Praça Rui Ba rbosa . 55) RJ Petrópolis
968-T- 78 Conjunto arqu itetônico e urbanístico
da cidade de lcó CE lcó
969·T-78 Conjunto arquitetônico e urbanlstico .
da cidade de Aracati CE !' Aracati
970·T·78 Faculdade de Direito PE Recife
971-T·78 Igreja de N. Sr•. da Penha . MG I Passos
972-T-78 Solar do Conde de Subaé • BA i Santo Amaro
973.T-78 Conjunto arquitetônico, urbanístico e .
paisagístico da Ilha de ltaparica BA ltaparica
974-T·78 Conjunto arquitetônico e urbanístico 1
de Mucugê BA ~i ucugê
975-T-78 Hotel Colonial BA Salvador
976-T-78 Prédio da Cia . Docas de Santos RJ Rio de Janeiro
I
1979
996-T-79 Casa Paroquial, anexa à Igreja Matriz
de Santo Antônio
(Casa à Praça Independência, s/n•) PE Recife
997·T·79 Prédio da antiga Casa de Câmara Santa Cruz de
e Cadeia BA Cabrália
998-T-79 Igreja Matriz de N. Sr•.
da Conc eição
BA I Santa Cruz de
Cabrália
~99-T· 79 Capela do Cemitério Público CE Qu ixeramobim
1000-T-79 Acervo do Palácio dos Bandeirantes SP São Paulo
1001-T-79 Casa de Euclides da Cunha
Pinlo Martins (aviador) 1 Camocim
CE
1
1980
l
'
Recife
l
1015-T-BO Duas quadras da Rua da Aurora PE
1016-T-80 Praça Floriano (Cinelând;a) RJ 1 Rio de Janeiro
1017·T·BO Sít\o de Santo Antônio da
~~
Alegria ou do Físico São luís
1018-T-80 Sede da Fazenda Pinheiro Pinheiral
1 1
1019-T-80 Palácio da Justiça AM Manaus
1020-T-80 1 Teatro Municipal José de Ate,.car
(Casa à Rua XV de Novembro} 1
1
RJ Niterói
1021-T-80 Acervo paisagístico de Santa Santa Cruz de
Cruz de Cabrália ! BA 1 Cabrália
1022-T-80 Casa à Rua Rivadàv1a Correia.
262 e 266 (antiga res,dência e:
poeta argentino José Hernande:. ' RS I Santana do
Livramento
autor de Ma11ín Fierrol
1981
1043-T-81 Igreja de N Sr• c:;s Mercê s CE Arapari 1
1
1044·T· B1 Estação feroviárie RJ ltaguaí 1
1
1982
1055-T-82 Museu Rondon RO Vilhena
1056-T-82 Instalações de água potável PR Curitiba
1057-T-82 Antiga sede do ONOCS CE Fortaleza
1058-T-82 Casa à Rua da Aurora, onde nasceu
Manuel Bandeira PE Recife
1059-T-82 Fábrica Bangu , RJ Rio de Janeiro
1060-T-82 Santuário do Monte Santo BA Monte Santo
1061-T-82 Casa em que residiu Carlos Oswald RJ Rio de Janeiro
1062-T-82 Fazenda de Sant'Ana PA li ha de Marajó
1063-T-82 Cadeia Velha CE Lirnoel~o do Norte
1064-T-82 Calxas-d'água RJ Pelotas
1065-T-82 Casa de Plácido de Castro AC Xapuri
1066·T·82 Vila de Porto Acre AC Rio Branco
1067-T-82 Terreiro da Casa Branca BA Salvador
1068-T-82 Sistema de bondes de Santa Teresa RJ Rio de Janeiro
1069-T-82 Serra da Barriga
(Quilombo dos Palmares) Al União
dos Palmares
1070-T-82 Casas da Praça da Convenção,
125, 131, 153 PE Recife
1071-T-82 Conjunto arquitetônico dos bairros
da Cidade Velha e Campina PA Belém
1072-T-82 Farol de Mucurípe CE Fortaleza
1073-T-82 Imprensa Oficial e
Clube Monte Líbano PA Belém
1074-T-82 Caixa-d'água RS Rio Grande
1075-T-82 Palácío das Laranjei,as RJ Rio de Janelro
1983
1076-T-83 Conjunto de 10 imagens missioneiras RS São Luis Gonzaga
1077-T-83 Forte de São Francisco ou do Queijo PE Olinda
1078-T-83 Prédio High life
(Rua Santo Amaro. 28) RJ Rio de Janeiro
1984
1109·T·B4 Hotel do Parque São Clemente RJ Nova Friburgo (
1110·T·84 Conjunto Residencial Parque Guinie RJ Rio de Janeiro
1111·T·84 Vila Operária AL Delmiro Gouveia
1112-T-84
1113·T·84
Embarcações a vapor do Rio
São Francisco
Casa Presser
MG
RS
Pirapora
Nova Hamburgo
l
1114-T-84
11 15-T-84
Casa "A Sotéia•
Presépio do Pipiripau
RS
MG
Santa Maria
Belo Horizonte i
1116·T-84 Museu Paranaense
(antigo Paço Municipal) PR Curitiba
1117·T·84 Conjunto arquitetônico, urbanistico e
paisagístico da cidade de Natividade TO Natividade
1118-T-84 Coleção de Lasar Segall SP São Paulo
1119-T-84 Engenho do Mate (Museu do Mate) PR Campo Largo
1120-T-84 Teatro São João PR Lapa
1121·T·84 Casa à Rua Santa Cruz (Warchavchik) SP São Paulo
1122·T·84 Centro Histórico de Laguna se Laguna
1123-T-84 Casa do Senador Canedo GO Boa Vista
de Goiás
1124·T·84 Casarão do Chã SP Mogi das Cruzes
1125-T-84 Túmulo do 2• barão de Guaratiba RJ Rio de Janeiro
1126·T·84 Museu de Biologia
"Prof. Mello Leilão" ES Santa Teresa
1127-T-84 Caixa-d'água
(Reservatório de Mocó) AM Manaus
1128·T·84 Forte São Diogo BA Salvador
1129-T-84 Coleções arqueológicas
pe. João Alfredo Rohr DF/SC
11 30-T-84 Ace rvo do IHGB RJ Rio de Janeiro
1131-T-84 Sitio Santo António da Bica RJ Rio de Janeiro
1132-T-84 Chafariz da Praça Mahatma Gandhi RJ Rio de Janeiro
1133-T-84 Igreja capela N. Sr<. da Conceição PE Recife
1985
1136-T-85 Casa R~:~: da Costeira da Ribeira se Florianópolis
1137·T·85 Ponte Hercilio Luz se Florianópolis
1133-T-85 Palácio Cruz e Souza
(Palácio Rosado) se Florianópolis
1139-T-85 Mercado Público se Florianópolis
1140·T·85 Casa à Rua Benfica, 251 PE Recite
1141-T-85 Escola Rural e Casa do Professor se Timbó
1142-T-85 Casa de Saúde Carlos Chagas MG Lassance
1143-T-85 Antiga estação ferroviária MG Lassance
1144-T-85 Fábrica Santa Amélia MA São Luís
1145·T·85 Casarão de madeira
(Rua Gustavo Sampaio, 34) RS António Prado
1146·T·85 Prédio da Ligh! RJ Rio de Janeiro
1147-T-85 Casa à Av. dos Imigrantes, 307 RS António Prado
1148-T-85 Lagoa do Abaeté BA Salvador
1149-T-85 Pintura rupestre BA Central e Uiba í
1150-T-85 Painel de gravações rupestres MT Coronel Ponce
1151-T-85 Área de Lobato (subúrbio onde pela
prime ira vez jorrou petróleo no Brasil) BA Salvador
1152-T-85 Terras de ocupação imemorial dos grupos
tribais remanescentes das grandes nações
indigenas do Brasil
1153-T-85 Casa á Rua Bahia, 1.126 (Warchavchik) SP Silo Paulo
1154-T-85 Casa à Rua l!ápolis, 961 (Warchavchik) SP São Paulo
1155-T-85 Conjunto arquitetônico onde funcionou a
Vinicola Luiz Antunes RS I Caxias do Sul
1156·T·85 lagoa da Gra nja do Comari RJ 1 Teresópolis
1157-T-85 Gruta de N. Sr•. da Lapa MG I Ouro Preto
1158-T-85
11 59-T-85
Arquivo documental. folográfico e jornalisti·
co (Correio do ?ovo) da Cia. Caldas Júnior
Engenho Corredor (José Uns do Rego)
RS
PB i
I Porto Alegre
?ilar
1160-T·BS Parque memorial da imigração polonesa PR I Curit:ba
1161-T-85 Igreja Malriz de Paranguaba CE j Fortaleza
i'
'!
J
Lili] O WRIMÓNIO E/li PIO (E\10
·· --
! I
N• Processa Nome do Bem localidade
UF
----
1987
1226-T-87 Casa Velha da SUDECO -
Superintendência de Desenvolvimento
do Centro·Oesle MT Nova Xavanti na
1227-T-87 Museu ao ar livre de Orleans
e seu acervo se Orlea ns
1228-T-87 Sitio arqueológico na Faze nda Lajes GO Niquelândia
1229-T-87 Conjunto paisagístico da
Praça dos Melros.
inclusive seu coreto RJ Cantagalo
1230-T-87 Prédio do Fóru m RJ Ca ntag a:o
1988
1260-T-88 Acervo móvel da Llght RJ Rio de JJneiro
1261-T-88 Conjunto centro hlslórlco do
munlclpio de Paranaguá PR Paranagua
1262-T-88 Palacete Argentina RS Porto Alegre
1263-T-68 Antiga Cadela Pública CE lbiapina
1264-T-68 Igreja de Santa Efigênia GO Niquelandia
1265-T-88 Casa à Rua Ana Jesuíno, 8 RJ Vassoura s
1266-T-88 Sobrado Ozimo Carvalho
(antiga sede do governo cívil
e militar da Província) MA Viana
1
1267-T-86 Mata de Maranguape PE Recife
1268-T-88 Cine-teatro Rio Branco SP Aracaju
1269-T-88 Igreja de N. Sr•. de França GO Corumbá
de Goiá s
1270-T-88 I Acervo de bens móveis que 1
pertenceram à capela de N. Sr•.
da Ajuda da Fazenda
Pombal (Fazenda 0Jro Fino) MG I São João
dei-Rei
1271-T-88 Bairro Jipovura (Katsura) SP lguape
1272-T-88 Cruzeiro BA Itaberaba
1273-T-88 Ense~da do Brito se Palhoça
1274-T-88 Igreja de N. Sr•. de Aparecida GO Goiânia
1275·T·88 Conjunto complexo
hidromíneral do Barreiro MG Araxá
1276·T·88 Capela de São Sebastião MG Paracatu
1277-T-88 1 Presidio do Instituto do
Norle do Estado RJ Cam pos
1278-T-88 I Cine 9 de Abril RJ Volta Redonda
1279-T-88 Estudios da Rádio NacionaJ RJ Rio de Janeiro
1280-T-88 Anl1go Prédio do Supre mo
Tribunal Federal RJ Rio de Janeiro
1281-T-88 Espe lho d'água e contorno da
Baia de Guanabara RJ Rio de Janeiro
1282-T-88 Casa de Anastácio Alves Braga
("O Saranhão") CE ltapipoca
1989
1285-T-89 Ediflcio d. Pedro li e f.:stação
Central ~ v Brasil
1 RJ 1 Rio de Janeiro 1
1286·T·89 Conjunto arquitetônico, urbanistico
e paisaglstico de São Félix RJ São Félix
1287·1· 89 Instituto Nacional de Educação
1
de Surdos
1 RJ 1 Rio de Janeiro
1288-T-89 Conju nto arq uitetôníco e
urbanístico de Laranje iras PE Laranjeiras
1289-T-89 Parqu e e Fonte do Queimado BA Salvador
1290·1· 69 Igreja de N. Sr•. do Rosário
)
MG Pa ins
1291-T-89 Serra de São Domingos MG Poços de Caldas
1292·T·89 Igreja de N. Sr•. do Rosário MG Lagoa Santa
1293-T-89 Igreja de N. Sr•. dos Remédios TO Arraias
1294·1·89 Reserva arqueológica
"Chapada dos Negros' TO Arraias
1295-T-89 Imperial Escola Agrícola da Bahia BA São Francisco
do Conde
1296-T-89 Igreja Ma lriz PE Tomazína
1297·H9 Parque Zoobotânico do Museu
Paraense Emílio Goe ldi PA Belém
1298-T-89 Igreja Matriz do S. Sacramento MG Santa Luzia
1299-T-89 Cemitério de escravos Ca rmo do
(Fazenda da Chamusca) MG Cachoe ira
1300-T-89 Ponte João Lu iz Ferreira PI Teresina
1301 -T-89 Cavernas da Serra Bodoquena MG Bodoquena
1302-T-89 Conjunto arqu itetônico e paisagístico de
Arraia l do Ca bo RJ Arraial do Cabo
1990
1303 -T- 90 Prédio do lnstiluto de Resseguras
ào Brasij RJ Rio de Ja neiro
1304-T-90 Quilombo Vão do Moleque GO Ca valca nte
1 1305-T-90 Plano Piloto DF Brasília
1
1442-T-99
onde funciona o Museu de Fósseis
Asilo Santa Isabel CE
RJ
I Crato
Valença
1443-T-99 Parque municipal da Galheta se Florianópolis
1444-1-99 Casa na Tijuca RJ Rio de Janeiro
1445-T-99 Conjunto de edificações projetadas pelo
!
arquiteto Oscar Niemeyer para o Centro
Tecnológico da Aeronáutica SP São José dos
Campos
1446-T-99 Casarão Sampaio MG Mário Campos
1447-T-99 Prédio da estação ferroviária RS : Alegre te
t448-T-99 Sítio Caldeirão CE ! Crato
1449-T-99 Prédio e acervo da Casa de Memória
Arnaldo Estêvão de Figueiredo MS Campo Grande
1450-T-99 Pavilhão Pramolor Ismael Siriel,
' j
pertencente ao Instituto Penal
Vieira Ferreira Neto RJ Nilerói
1451-T-99 Conjunto arquilelônico do Corredor
da Vitória BA Salvador
1 histórico de propriedade da
Cervejaria BrahmJ ! R." Ri: :;; _:;_- ., .:e
1473-T-01 Canoa de tolda Lvzitânia. de propriedade
da Sociedade Sócío-ambie nlal do
baixo São Francisco S:: A: 2:2 J
~~
1476-T-01 Fazenda Alto dos Bois Angelândia
1477-T-01 Igreja de Nossa Senhora do Desterro 1 1 Rio de Janeiro
1478-T-01 Estítua do Cristo Redentor, no morro
do Corcovado Rio de Janeiro
1479·T·01 I Vila Marzagao 1 :~ 1 Sabará
1480-T-01 Edíficio da antiga Repartição Central
1481-T-01
de policia
I Terreiro de Alaketo 1
RJ
BA
l 'Rio de Janeiro
Salvador
1482-T-01 Igreja matriz de Nosso Senhor
dos Passos SE Maruim
1 1
1483-T-01 I Conjunto arquitet&n(co, urbanístico e
paisagíslíco 1 PE I Goiana
1484-T-01 l 1magem de Nossa Senhora da Piedade.
atribuída a Antônio Francisco lisboa,
o Aleijadinho I MG I Felixlândia
1485-T-01 I Conjunto de
edificações e bens móveis
da Companhia Paulista de Estrada
de Ferro Jundiai
1486-T-01 Terreiro de candomblé do Bate-Folha SP
BA I Salvador
1487-T-02 Casa na Estrada das Canoas RJ Rio de Janeiro
1488-T-02 Museu de Arte Contemporânea RJ Niterôi
1489-T-02 Conjunto histórico e urbanístico PB Areia
1490-T-02 Capela Cristo Operário SP São Paulo
t491-T·02 Residência cardina lícia do
Campo Grande BA Salvador
1492-T-02 I Conlexto arquitetônico.
paisagístico e
entorno da Fazenda Campos Novos RJ Cabo Frio
1493-T-02 Santa Casa de Misericórdia RJ Valença
1494-T-02 Sítio urbano do bairro do Pacaembu SP São Paulo
1495-T-02 Museu de Arte de São Paulo - Masp:
edifício e bens móveis integrados SP São Paulo
1496-T-02 Conjunto histórico e arquitetônico .-· · CE Viçosa do Ceará
1497-T-02 Elevador Lacerda BA Salvador
1498-T-02 Terreiro de cand omblé
1
1499-T-02
llê Axé Oxumaré
Centro histórico
BA
RJ
I Salvador
Rio de Janeiro
1
1500-T-02 Acervo arquitetônico e
urbanislico arl déco 1 GO j Goiãnia
~ oPhlilMÓNIO fM ?!awso
[ N• Processo l Nome do Bem I UF r Localidade I
1501-T-02 Centro histórico PB João Pessoa
1502-T-02 Centro histórico e arquitetõnico SP Santana de Parna iba
1503-T-02 lgrej a de São Sebastião em Planaltina DF Distrito Federal
t504·T·02 Forte São Joaquim do Rio Branco RR Boa Vista
t505-T-02 Terreiro de culto aos ancestrais -
Orno llê Agbôula BA ltaparica
1506-T-03 Sistema de bondes de Sa nta Te resa RJ Rio de Janeiro
1507-T-03 Acervo do Museu de Imagens do
Inconsciente RJ Rio de Janeiro
1508·T·03 Sitio histórico e paisagí stico AL Pira nhas
1509-T-03 Teatro Castro Alves BA Salvador
1510-T-03 Floresta fóssil do Rio Poti PI Teresina
1511-T-03 Casa de Vidro, sede do Instituto
Lina Bo Bardi SP São Paulo
1512-T-03 Centro histórico RS Pelotas
1513-T-03 Acervo histôrico da Discoteca Oneyda
Alvarenga, no Centro Cultural São Paulo,
da Secretaria Municipal de Cultura SP São Paulo
1514-T-03 Edifí cio da Bolsa Oficial do Café SP Santos
1515-T-04 Teatro Oficina SP São Paulo
111 • Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas mani·
festações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;
IV • Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, san-
tuári os, praças e demais espaços oílde se concentram e reproduzem
práti cas culturais ~oletivas.
§ 2°. A inscrição num dos livro s de registro terá sempre como referência a
con tinuidade histórica do bem e sua relevância nacional para a memória,
a identidade e a formação da sociedade brasileira.
§ 3º. Outros livros de registro poderão ser abertos para a mscrição de bens
culturais de natureza imaterial que constituam patrimônio cultural brasileiro
e não se enquadrem nos livros definidos no parágrafo primeiro deste artigo.
Art. 2º. São partes legitimas para provocar a instauração do processo de
registro:
1 - o Ministro de Estado da Cultura;
li - instituições vinculadas ao Ministério da Cultura;
Ili - Secretarias .:le Estado, de Município e do Distrito Federal;
IV - sociedades ou associações civis.
1>,rt. 1º. As propostas para registro, acompanh11dt11 do 1u1 documentaçílo
écnica, ser~J dirigidas ao Presidente do Instituto do P11trlmõnlo Histórico a Ar-
stico Nacional - lphan, que as submeteré ao Contelho Con1u1Uvo do Patrimônio
ultural.
iJ O PWIMÕNIO EM PROCEI 10
. DE CiÊNEl~S SOCIAIS I
Parágrafo único. Caberá ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural deter-
minar a abertura, quando for o caso, de novo livro de Regis tro, em
atendimento ao disposto nos termos do § 3° do Artigo 1° deste decreto.
Art. 6°. Ao Ministério da Cultura cabe assegurar ao bem registrado:
1• documantaçllo por todos os meios técnicos admitidos, cabendo ao lphan
manter banco de dados com o material produzido durante a instrução do
processo.
li - ampla divulgação e promoçao.
Art. 7°. O lphan fará a reavaliação dos bens culturais registrados, pelo menos
a cada dez anos, e a encaminhará ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
para decidir sobre a revalidação do título de Patrimônio Cultural do Brasil.
Parágrafo único. Negada a revalidação, será mantido apenas o registro, como
referência cultural de seu tempo.
Art. 8°. Fica instituído, no âmbito do Ministério da Cultura, o Programa Nacio-
nal do Patrimônio Imaterial, visando à implementação de política especifica de in-
ventário, referenciamenlo e valorização desse patrimônio.
Parágrafo único. O Ministério da Cultura estabelecerá, no prazo de noventa
dias, as bases para o desenvolvimento do Programa de que trata este
artigo.
Art. 9°. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
PRDCfllOI CONCLUÍDO\
Talían (RS)
Enciclopédia ltaú Cultural de Artes Visuais (SP)
• Até dezembro de 2002 . A letra C indica beíls culturais: a letra N inoica os na1urais.