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De Intérpretes e Interpretações
Estudos Hislóriros, Rio de Janeiro, voL 14, nlJ 26, 2000, p. 293-299.
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na proa das comemorações parecem ter indicado ser mais prudente a escolha de
um terlÍus para imprimir o selo do governo nessa iniciativa edilOrial. O que pode
ser tanto mais expressivo quanlO mais nos lembrarmos da surpreendente ausên
cia de um pronunciamento significativo do Ministério da Cultura durante as
comemorações oficiais.
Por fim, uma terceira pista se oferece através de um silêncio tão elegante
quanto eloqüente: no Prefácio, Silviano Santiago, a quem devemos o árduo
trabalho de organização e a pilotagem do projeto, oferece aos leitores um texto
acadêmico que, com a qualidade de forma e conteúdo característica de seus
escritos, situa o foco e o alcance da publicação, apresenta a equipe de especialistas
encarregada dos Estudos Introdutórios, bem como a dos que elaboraram os
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pretes e sobre esses autores, que permiLirão aos leitores traçar seus próprios
roteiros para viagens mais longas, e dos preciosos índices remissivos, preparados
por Marília Rothier Cardoso, Ana Claudia Viegas e Ana Cristina Coutinbo
Viegas, à exceção dos relativos a Casa grallde e seuzala e Sobrados e mocambos, a
cargo de Edson Néri da Fonseca, instrumentos que o organizador reconhece
como sendo "trabalho de inteligência, paciência e minúcia" (p. XLIII) e que os
leitores saberão agradecer como ato de generosidade intelectual.
Entre essas ferramentas de trabalho destacam-se, sem dúvida, os Estudos
Introdutórios qne precedem cada um dos textos selecionados. Escritos por
historiadores e cientistas sociais (Francisco Iglésias, Laura Melo e Souza,
Ronaldo Vainfas, Maria Odila Leite da Silva Dias, Fernando Novais,José Murilo
de Carvalho e Fernando Henrique Cardoso) ou por críticos literários (Flora
Sussekind, Wander Melo Miranda, Roberto Ventura e Eduardo PoneUa), essas
Introduções, de ênfase biográfica, ou mais analíticas e críticas, se constituem em
cartas de marear para os que empreendem suas primeiras viagens por esses
oceanos do pensamento brasileiro, assim como para viajantes mais experimen
tados. São textos de illlérpretes de IlIIérpretes, sempre qualificados para a tarefa, por
vezes iniciados no mundo dos letrados pelos autores analisados, como é o caso
de Maria Odila Leite da Silva Dias, discípula de Sérgio Buarque e autora do
estudo introdutório ao livro Raízes do Brasil, e de Fernando Henrique Cardoso,
comentador de Florestan Fernandes. Uma discreta e emocionada nota do coor
denador lembra que um dos autores desses ensaios, Francisco Iglésias, vive agora
apenas em seus escritos, ou na memória e no carinho de todos os que tivemos o
privilégio de conhecê-lo.
Por fim, cabe assinalar que a seleção dos IlIIérpretes do Brasil realiza um
interessante e raro movimento de auto-relativizaçao de seu caráter canônico. Em
primeiro lugar, vários dos Estudos Introdutórios apontam outros autores e livros
como essenciais para interpretações do Brasil. Roberro Velllura (p. 171) cita Sil vio
Romero e Darcy Ribeiro como também pertencentes ao grupo de autores que
"traçaram amplos panoramas da sociedade e da cultura brasileiras". José Murilo
de Carvalho (p. 899) acrescenta os nomes de Vitor Nunes Leal, Nestor Duarte e
Nelson Werneck Sodré, e Fernando Novais (p. l. l 15) lembra o nome de Celso
Furtado como clássicos do pensamento social brasileiro.
Por sua vez, no Prefácio da coletânea, Silviano Santiago pontua sua
análise com referências a autores não incluídos na seleção, como José de Alencar,
Machado de Assis e Mario de Andrade, para cirar apenas alguns, e reconhece
que outras seleções podem e devem ser feiras, de modo a possibilitar coletâneas
de cronistas coloniais ou de interpretações não brasileiras sobre o Brasil, ou
ainda que elejam a clave estética no lugar da analítica para sua organização (p.
XLVIII).
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