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Apostila 8

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - Jornalismo

DISCIPLINA: Fundamentos do Jornalismo


PROFESSOR: José Romildo de Oliveira Lima
SEMESTRE DO CURSO: Primeiro
SEMESTRE LETIVO: fevereiro a julho de 2004

Adaptação do livro Os Elementos do Jornalismo, capítulo 2.

Verdade (continuação)
I. Objetividade é termo que nunca ficou bem explicado, em parte por culpa dos
próprios jornalistas: estes não conseguem definir bem a profissão. O que a
sociedade realmente espera do jornalista é que busque a verdade e não a
objetividade.

II. A busca da verdade é desinteressada e faz parte de um processo que começa


com uma matéria inicial. Esse processo continua com a interação entre o público
leitor e os jornalistas, ao longo do tempo.

III. A ausência de um interesse específico – seja financeiro, seja de outra ordem –,


pela busca da verdade, é o que diferencia o jornalismo de outras formas de
comunicação.

IV. Esse processo seletivo se baseia, em um contexto social, na confiança entre o


jornalista e os cidadãos em relação aos fatos. É dessa relação que surge a
verdade funcional, a mesma verdade que orienta a polícia, quando persegue
criminosos; os juízes, quando presidem julgamentos; os jurados, quando dão
veredictos de culpa ou inocência; a aprovação de lei, a cobrança de impostos e o
funcionamento da indústria. Tudo tem norma e regra.

V. Sem todas as atividades funcionam com regras, por que estabelecer metas
menos ambiciosas para os jornalistas?

VI. A busca da verdade é feita só com anotação correta de nomes, datas e


outros dados? Não. A exatidão não basta: um fato pode ser correto, mas não
verdadeiro.

VII. O certo é apurar corretamente os fatos e dar-lhes sentido. Seguir os dois testes
da filosofia: buscar não só a correspondência, mas também a coerência.

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VIII. Ainda no capítulo da verdade, existe o problema da existência ou não do bom
senso. Matérias de elogios à polícia por prefeitos, em solenidades (almoços
políticos) públicas, são bobagens.

IX. Dito isso, exatidão é importante. É a fundação sobre a qual tudo o mais se
sustenta: contexto, interpretação, debate e comunicação pública. Se a fundação é
frágil, tudo o mais balança.

X. Infelizmente, a verificação deixou de ser importante em muitas atividades


jornalísticas, especialmente em programas de entrevistas e reportagens
interpretativas.

XI. O repórter sozinho não tem como se mexer muito além de um nível superficial
de exatidão numa primeira matéria. Essa leva a uma segunda, na qual as fontes
já responderam aos erros e omissões contidos na primeira. E assim por diante.

XII. O contexto vai sendo acrescentado em cada matéria nova e também pelas
reações públicas e privadas. O jornalismo acaba captando a verdade, por
meio de um processo que pode ser longo e complicado. Para isso, o processo
vai eliminado aos poucos os dados errados, desinformação e informação
promocional.

XIII. Hodding Carter, ex-assessor de imprensa do governo norte-americano, ressaltou


a importância do primeiro momento em que ocorre um fato que possa
constranger um governo. É nesse período que a Administração pode exercer um
maior controle sobre a opinião pública. “Se em três dias não surge na opinião
pública um desafio sério, o governo arma o contexto para um fato e a partir daí
controla a percepção desse mesmo fato”.

XIV. Imparcialidade e equilíbrio são, para alguns jornalistas, substitutos para


veracidade. Mas esses dois conceitos são inadequados. Imparcialidade (com
quem?) é abstrato e equilíbrio é subjetivo (não se pode ser justo para dois lados
e esses dois lados não têm o mesmo peso).

XV. Dado complicador: as notícias se tornaram fragmentadas, as fontes exercem


maior poder, deferentes padrões jornalísticos desmantelam a função de guardiã
da imprensa e argumentos baratos se transformam em reportagens devastadoras.
Isso tudo produz um jornalismo de afirmação, que esmaga o jornalismo de
verificação.

XVI. Para combater isso, seria importante dar contexto e interpretação às notícias. Tal
procedimento daria chances ao leitor de selecionar a informação melhor.

XVII. Mas é erro passar ao estágio interpretativo sem antes apurar o que de fato
aconteceu.

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XVIII. Também é importante que, no lugar do contexto e interpretação, a imprensa
deve se concentrar na síntese e na verificação: que se tire fora o rumor, a
insinuação, o insignificante e o engraçadinho.

XIX. As pessoas precisam de resposta para a seguinte perguntas: No que posse


acreditar?

XX. A imprensa deve responder, então, à pergunta: Onde está o bom material?

XXI. Para construir o sentido, a imprensa precisa buscar verificação e síntese.

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