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marxista
RESENHAS
Marcelo Ridenti
Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV .
Rio de Janeiro /São Paulo, Editora Record, 2000.
José Roberto Zan (Professor do IA, Unicamp)
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detalhes, os vínculos que existiam entre reflete sobre o refluxo da herança cultu-
as organizações político-partidárias e ral romântica dos anos 60, bem como
guerrilheiras e os “meios intelectuais e alguns de seus desdobramentos nas dé-
artísticos de esquerda” no referido perío- cadas seguintes. Ridenti procura anali-
do. Não foram poucos os artistas que sar de que modo artistas e intelectuais
atuaram nessas organizações, especial- envolveram-se em “projetos alternativos
mente após o golpe de 64. De certa for- à ordem estabelecida na sociedade bra-
ma, tais relações explicam a intensa sileira a partir dos anos 70”, momento
politização da produção cultural e artís- de ascensão dos “novos movimentos so-
tica da época, o que levou Walnice ciais”, do novo sindicalismo e da funda-
Galvão a identificar aquele momento ção do Partido dos Trabalhadores, o que
como o ensaio geral de socialização da levou a um “esboço de contra-hegemonia
cultura. política e cultural” que acabou por se
Ao procurar identificar elementos do diluir ao longo dos anos 80. Ao mesmo
romantismo revolucionário nas ações tempo, consolidavam-se no Brasil a
políticas e culturais do período, o autor “indústria cultural e o capitalismo avan-
analisa as práticas de inúmeras organi- çado”. Verifica-se, então, a “integração
zações, grupos culturais e artistas, desde contraditória” à indústria cultural de in-
o PCB, que a partir de meados dos anos telectuais e artistas herdeiros da cultura
50 afastou-se das orientações zdanovistas política dos anos 60 e 70, o que leva o
e aproximou-se do nacional-popular, autor a reconhecer a dificuldade crescen-
passando pelo CPC da UNE, por diver- te de realização da tese benjaminiana de
sas organizações que aderiram à luta ar- que o artista questionador deve se recu-
mada, pelo Cinema Novo, pelos Teatros sar a simplesmente “abastecer o apare-
de Arena e Oficina e pela produção de lho de produção, sem o modificar, na me-
escritores e músicos populares. Até mes- dida do possível, num sentido socialista”.
mo eventos que faziam críticas ao nacio- Por outro lado, sente-se “instigado” pelo
nal-popular, como a montagem de O rei diagnóstico de Jameson de que o capita-
da vela, de Oswald de Andrade, apresen- lismo contemporâneo pulveriza qualquer
tada pelo Oficina, e o Tropicalismo, to- grupo social coeso capaz de se constituir
caram em questões ligadas à identidade em suporte para uma arte política.
nacional, ao subdesenvolvimento e ao Muito mais indagativo que conclusi-
caráter do povo brasileiro, constitutivas vo, o autor chega ao final do livro cha-
do imaginário romântico. mando a atenção do leitor para um certo
Com o Tropicalismo encerrava-se, renascimento, nos dias atuais, de idéias
segundo o autor, o ciclo participante dos como as de povo, Estado-nação e raízes
anos 60 e anunciava-se a expansão da culturais, até mesmo como “reação ao
indústria cultural no Brasil que viria a ímpeto transnacionalizante neoliberal”.
ocorrer nas décadas seguintes, o que Especialmente no momento de emergên-
“transformaria a promessa de socializa- cia do MST, nos anos 90, parecem res-
ção em massificação da cultura”. O ba- surgir práticas românticas de intelectuais
lanço desse novo momento aparece no e artistas procurando “ir aonde o povo
último capítulo do livro em que o autor está”. Provavelmente, esta deve ter sido
Domenico Losurdo
Nietzsche e la critica della modernità. Per una biografia politica. Roma, Manifestolibri, 1997.
Pedro Leão da Costa Neto (Professor de Filosofia da Universidade Tuiuti do Paraná)
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ZAN, José Roberto. Resenha de: RIDENTI, Marcelo. Em Busca do Povo Brasileiro: artistas
da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2000. Crítica Marxista, São
Paulo, Boitempo, v.1, n. 11, 2000, p. 165-168.