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2 OBJETIVOS
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2.2 Objetivos Específicos
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na sociedade atual, o idoso ocupa um espaço cada vez mais restrito dentro da
família. Quando a pessoa idosa começa a requerer atenções e cuidados especiais as chances
de viver com a família diminuem. Enquanto ele se mantêm saudável e pode realizar tarefas
domésticas ou até colaborar na economia familiar, o idoso ainda pode ser incluído dentro
dessa estrutura. Quando ele necessita de atendimentos e cuidados mais intensivos, a
institucionalização começa a ser cogitada, devido à escassez de outras alternativas da
sociedade.
O núcleo familiar é uma instituição criada pelo homem em relação com seus
semelhantes e que assume variadas formas em situações e tempos diferentes, mas sua tarefa
primordial tem sido “o cuidado e a proteção de seus membros” (MIOTO, 1997, p. 120). A
família possui necessidades materiais que garantem sua reprodução biológica assim como a
reprodução social ligada a um projeto social no qual o núcleo familiar encontra-se inserido.
A dinâmica dos núcleos familiares e as relações que se estabelecem internamente entre seus
membros, ou externamente com a sociedade civil e o Estado, sofre influências do contexto
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histórico em que estão inseridas. Dessa forma, a configuração das relações familiares da
atualidade em contraposição às da família tradicional vem sendo forjada.
No Brasil, até a década de sessenta o padrão de núcleo familiar ainda permanecia
próximo ao tipo tradicional burguês – o homem chefe da família, a mulher como suporte de
reprodução e os filhos, em média 6,3 por casal, era a segurança de uma velhice protegida
para os pais. A partir dos anos oitenta, a instituição família tem sofrido alterações,
recebendo influência do modelo econômico, adotado pelo governo brasileiro, que veio
pauperizando gradativamente a população, mas também pelo avanço científico-tecnológico
e médico-sanitário que aumentaram a expectativa de vida das pessoas.
Outros aspectos interessantes em relação à metamorfose familiar nos últimos anos, é
o fato constatado pelo IBGE sobre o aumento substancial das pessoas que moram sós, além
do crescimento da população idosa no país. Em 1950 a média da idade do brasileiro era de
18,8 anos e apenas 4,2% tinham mais de sessenta anos. Em 1991 a população idosa passou
a representar 7,8% dos brasileiros. Atualmente, início do século XXI, nossa população
idosa representa cerca de 8% do total da população brasileira, e o prognóstico para 2025 é
de que teremos 14% de pessoas na terceira idade. As mudanças da estrutura familiar na
última década têm fragilizado os vínculos familiares, expondo as famílias à situações de
crises, como morte, desemprego, conflito intergeracional, doenças e outros.
Segundo Zimerman (2000) uma das etapas mais importantes no acompanhamento
de velhos é a avaliação do comportamento dos membros dessa família. Não existe família
perfeita, mesmo porque são bastante relativos os critérios referentes ao que é sadio ou
patológico. No entanto, algumas características servem para definir certos tipos de família e
as relações entre os seus membros. Um núcleo familiar considerado sadio é aquele em que
a harmonia, a capacidade de empatia (compreender os sentimentos alheios), os sentimentos
amorosos, a solidariedade e a tolerância predominam. Isso não significa que sentimentos
menores ou de agressividade não coexistam no ambiente familiar, apenas que não devem
ser a regra. A experiência com idosos tem demonstrado que “o velho será tratado pelos seus
filhos da mesma forma como estes foram tratados por ele” (ZIMERMAN, 2000, p. 55).
Quando uma família recorre ao suporte institucional para solucionar o problema de
um membro daquele núcleo familiar, significa que “já não dispõe de recursos para lidar
com as suas dificuldades (MIOTO, 1997, p. 124). Torna-se, portanto, relevante o
deslocamento do processo de intervenção individual para o familiar, além de políticas
sociais que privilegiem ações destinadas a melhorar a qualidade de vida dos núcleos
familiares”.
Segundo Moriguchi (1996), o fator social e o ambiente familiar são de suma
relevância para a qualidade de vida do idoso, tanto quanto os aspectos científicos da
medicina. O afastamento do idoso do meio familiar ou a falta de convivência do idoso com
a família poderão trazer implicações sérias na evolução da doença, determinando efeitos e
manifestações adversas e indesejáveis.
A família, tradicionalmente, sempre tomou conta de seus idosos. O ritmo do
cotidiano na cidade, a inclusão da mulher no mercado de trabalho, a redução do tamanho
das residências e outros tantos fatores trazem implicações sérias para a família atual, que
tem uma pessoa idosa dependente, especialmente a portadora de uma doença crônico-
degenerativa. Quem vai cuidar desse idoso? Em que local da casa ele vai ficar acomodado,
quando se tornam necessárias instalações, aparelhagens e utensílios especiais? Como fazer
frente aos gastos com saúde e cuidadores? O paciente não ficaria mais bem cuidado em
uma instituição especializada? O paciente idoso aceitaria ser institucionalizado? A decisão
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se torna difícil. Mas isso não muda, para nenhuma das partes envolvidas, a responsabilidade
na tomada de tal decisão.
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importantes que são enfatizados por García-Riaño (1991) e que se mostram decisivos para
a compreensão deste estudo. A qualidade de vida envolve valorações quantitativas e
qualitativas que definem os níveis que o indivíduo consegue alcançar ao longo da vida.
Naturalmente, esses níveis de qualidade se alteram no decorrer da existência individual,
pois além de serem definidos por questões culturais, que envolvem a política e a economia,
também são percebidos pelo indivíduo e, portanto subjetivos.
O conceito de qualidade de vida, segundo Fernández-Ballesteros e Anton (1993)
deve abordar a especificidade de cada indivíduo. No caso dos idosos, algumas áreas
precisam ser mais enfatizadas, como as habilidades funcionais e o autocuidado. Um outro
aspecto refere-se à multidimensionalidade da qualidade de vida, que aborda dimensões
pessoais (apoio social, condições econômicas, serviços de saúde e sociais, qualidade do
ambiente e fatores culturais) e dimensões socio-ambientais (saúde, atividades/ócio,
satisfação, relações sociais, habilidades funcionais). O terceiro pressuposto, conforme
Fernández-Ballesteros e Anton (1993) é que a qualidade de vida possui aspectos subjetivos
como os valores e sentimentos que o indivíduo apresenta (saúde percebida, satisfação
social, necessidades culturais, avaliação do ambiente, percepção dos serviços de saúde e
sociais) e os aspectos objetivos (qualidade ambiental, disponibilidade de serviços de saúde
e sociais, saúde objetiva, apoio social, fatores culturais).
O estresse psicossocial é um problema que segundo Lipp (1996) está atormentando
a vida das pessoas no mundo atual, a mudança muito rápida das configurações culturais
provoca desestabilização emocional e orgânica, automaticamente prejudica a qualidade de
vida. Da mesma forma, toda mudança que é exigida do organismo consome energia para
que ocorra a adaptação. Essa energia gasta é o que provoca o estresse. “As fontes de
estresse são múltiplas e extremamente diversificadas para cada povo e para cada indivíduo,
pois em muitas situações é a interpretação que se dá a um evento que o qualifica como um
estressor” (LIPP, 1996, p. 300).
A qualidade de vida e o estresse psicossocial dos cuidadores são influenciados e
estão diretamente correlacionados ao modo como as pessoas estruturam suas estratégias de
adaptação. Passar pela experiência de ser um cuidador familiar de pacientes com a Doença
de Alzheimer pode estar associado ao fato de ter boa qualidade de vida, porém os
estressores bio-psico-sociais podem interferir nesse processo de bem-estar. Esses
estressores variam de acordo com as escolhas realizadas pelo indivíduo e as decorrências
histórico-culturais das mesmas. Para compreender com maior profundidade este fenômeno,
foram estabelecidos os problemas de pesquisa e as hipóteses que orientarão este estudo.
4 MÉTODO
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4.2 Instrumentos
4.3 Procedimento
Esta pesquisa possui duas etapas de análise, uma de caráter quantitativo e outra
qualitativo. Na análise qualitativa utilizou-se os dados da entrevista semi-estruturada. Após
a transcrição dos dados realizou-se a análise de conteúdo desenvolvida por Gagneten
(1986). Estas informações ainda não foram interpretadas, ficando para o próximo relatório
para a realização de uma interpretação mais aprofundada e completa. Na avaliação
quantitativa, foi realizada a comparação de alguns resultados das duas etapas.
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Foram realizadas 14 entrevistas das 70 concluídas, sendo 13 das 60 mulheres e 1
dos 10 homens os respondentes desta pesquisa em comparação com a anterior. Dentre as
entrevistas realizadas faz-se as seguintes comparações, entendendo-se I para a pesquisa
anterior e II para esta pesquisa atual, comparativa:
100%
80% 73%
64%
60%
I
40% 36% II
27%
20%
0%
Sim Não
100%
84%
79%
80%
60%
I
40% II
21%
20% 16%
0%
Sim Não
Este gráfico mostra que a maioria das famílias continua não contando com nenhum
recurso governamental que é dado em forma de medicação aqueles que o recebem. Alguns
cuidadores revelam que entraram com o processo, mas ainda não estão recebendo os
medicamentos. Outros ainda, desconhecem esse direito devido à falta de informação e
divulgação dos meios.
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GRÁFICO 3 – PARTICIPAÇÃO EM GRUPOS DE APOIO
100%
80%
56% 58%
60%
I
II
40% 31%
17% 17%
20%
9% 8%
4%
0%
Assídua Eventual Não participa Sem resposta
A participação nos grupos de apoio continua sendo reduzida por parte dos
familiares, pois muitas vezes não participam por não terem com quem deixar o idoso.
Através do gráfico podemos perceber que os familiares não buscam este suporte para
auxiliar no enfrentamento das situações vivenciadas pela DA. Os familiares que participam
dos grupos de apoio revelam que, para eles, a participação traz benefícios como a troca de
experiências que permite a eles desenvolver estratégias para o enfretamento da doença.
Outros mencionam que sua participação no grupo trouxe medo e aflição ao escutarem os
relatos das situações de familiares cuidadores que passam ou passaram por momentos
difíceis que, talvez tenham que enfrentar futuramente.
56%
60%
I
34% II
40%
14%
20% 10% 7%
0%
Sim Não Diarista
Houve uma redução significativa nos núcleos familiares que possuem empregada
doméstica. Isso geralmente ocorre por falta de recursos financeiros e pela baixa qualidade
do serviço, ocasionando uma sobrecarga no cuidador.
80%
61%
60%
47%
40% I
26% 23% II
15% 15%
20%
6% 7%
0%
Cuidadores Cuidadores Internados Não Possui
Qualificados Não em Clínicas
Qualificados
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auxílio diminui a sobrecarga física do trabalho de cuidar, dar banho, vestir, alimentar, etc, e
também possibilita que o familiar possa ter mais liberdade para descansar.
Em relação ao teste Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
foram analisadas as respostas de 11 sujeitos entrevistados, das 14 entrevistas realizadas.
100%
73%
80%
54%
60% 46%
27% I
40%
II
20%
0%
APRESENTAM NÃO APRESENTAM
ESTRESSE ESTRESSE
PSICOSSOCIAL PSICOSSOCIAL
Percebe-se que o tempo de cuidado possui uma forte relação com a presença ou não
de stress. Dos sujeitos que não apresentam stress os familiares estão em clinicas, já
faleceram ou o tempo de cuidado é igual ou maior do que 5 anos, isso pode significar que
com o tempo, o familiar assimila melhor a doença e consegue adaptar-se à situação de
cuidador. Dos 6 sujeitos que revelaram stress atualmente, 4 não possuíam antes e 2 até hoje
não apresentam.
60%
I
31%
40% II
20%
20% 8%
0%
0%
SINTOMAS FÍSICOS SINTOMAS AMBOS SINTOMAS
PSICOLÓGICOS
6 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
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Houve um aumento nos cuidadores que conseguem algum auxílio governamental,
porém a maioria continua não recebendo nenhum tipo de auxílio, muitas vezes por falta de
informação e ou desconhecimento dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Disponível em: http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol-100.html. Acesso em: 07/08/2002.
ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: ARTMED, 2000.
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