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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL


NÚCLEO DE PESQUISAS EM DEMANDAS E POLÍTICAS SOCIAIS- NEDEPS

O FAMILIAR CUIDADOR DO IDODO COM ALZHEIMER: UMA AVALIAÇÃO


DA QUALIDADE DE VIDA E ESTRESSE PSICOSSOCIAL

Profa. Dra. Leonia Capaverde Bulla (cord.)

Gabriele Borges Valêncio


Ludmilla Valim Inamoratto
Paula Fronza

Porto Alegre, 2006


1. INTRODUÇÃO
A realidade mundial e brasileira tem demonstrado um crescimento acentuado da
população de idosos. Essa situação tem propiciado a preocupação e conseqüente
desenvolvimento de várias áreas da ciência na busca de encontrar o entendimento do
processo de envelhecimento no âmbito biológico, psicológico, espiritual, social, econômico
e cultural.
É necessário que se considere a heterogeneidade da velhice e dos grupos sociais a
que os idosos pertencem. Muitas pessoas continuam saudáveis, ativas e autônomas, após os
60 anos de idade. Outras passam a apresentar limitações físicas, com o decorrer dos anos,
que podem ser decorrentes do próprio processo de envelhecimento humano. Alguns sofrem
de doenças, mais ou menos incapacitantes, limitando sua autonomia. Para que essa situação
seja enfrentada, são necessários estudos voltados para essa faixa etária, com o objetivo de
manutenção e promoção da saúde, da autonomia, do bem estar e das relações sociais das
pessoas, ao longo de sua vida.
Dentre os problemas de saúde encontrados na velhice, a Doença de Alzheimer tem
apresentado um acentuado aumento em sua incidência. Essa patologia prejudica o doente,
que perde gradativamente sua capacidade cognitiva e sua independência, mas também traz
sérias conseqüências para a família e para a sociedade. A família acaba se tornando mais
uma “vítima” da doença, pois a pessoa que se responsabiliza mais diretamente pelo
paciente acaba sofrendo pressões físicas, emocionais, sociais e econômicas. Esta situação,
em longo prazo, pode desestruturar o indivíduo e prejudica diretamente o tratamento do
paciente.
A relevância de estudar este assunto está fundamentada na necessidade de serem
oferecidas melhores condições aos idosos com Alzheimer e a sua família. O cuidador dos
idosos necessita de suporte social, para construir estratégias que facilitem o seu cotidiano.
Ele precisa atender bem ao paciente e ainda cuidar de si próprio. A situação se torna mais
complexa para os setores sociais menos favorecidos. Além dos problemas relativos à saúde
defrontam-se com as dificuldades econômicas, psicológicas e sociais, associadas à
precariedade dos programas e políticas sociais de atenção e promoção da qualidade de vida
dos idosos e de suas famílias.
A sociedade precisa compreender melhor essa situação, pois esse problema não é
apenas privado, mas uma questão pública que demanda um grande investimento financeiro.
A partir de dados mais consistentes sobre as necessidades impostas pela Doença de
Alzheimer, poderão ser melhor organizadas as estratégias de atendimento social e de saúde
aos portadores da doença e aos respectivos núcleos familiares, com conseqüente
diminuição dos gastos públicos na área.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar a qualidade de vida, o nível de estresse psicossocial e as estratégias de


enfrentamento vivenciadas pelos familiares cuidadores principais de idosos com Doença de
Alzheimer. Verificar se houve mudanças no nível de estresse psicossocial, na qualidade de
vida e nos serviços prestados pela da rede de suporte social no período entre a 1a e a 2a
entrevista realizada com o cuidador.

2
2.2 Objetivos Específicos

• Analisar as estratégias de enfrentamento das dificuldades encontradas;


• Investigar as diferenças que se estabelecem entre os cuidadores principais: filhos,
cônjuges ou que apresentam outro grau de parentesco, em relação à qualidade de vida,
ao estresse e às estratégias de enfrentamento;
• Analisar a correlação existente entre o estresse psicossocial, qualidade de vida e
estratégias de enfrentamento dos cuidadores principais;
• Identificar as redes de suporte social existentes e as demandas para o atendimento de
idosos portadores de Alzheimer e seus familiares.
• Verificar as mudanças que ocorreram no nível de estresse psicossocial, na qualidade de
vida, nas estratégias de enfrentamento dos cuidadores e na rede de suporte social
existentes.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Doença de Alzheimer ou demência senil tipo Alzheimer é uma doença cerebral


degenerativa primária (lesão cerebral orgânica), de etiologia desconhecida com aspectos
neuropatológicos e neuroquímicos característicos. Caracteriza-se pela perda progressiva de
funções cognitivas, isto é, o indivíduo vai apresentando alterações na memória, no
raciocínio e na comunicação. O início da doença ocorre, geralmente, em torno dos 60 anos
de idade, por isso é considerada uma doença típica da velhice. Assim configura-se como
um problema social, pois o fato da população de idosos aumentar progressivamente levará
ao crescimento de casos da doença (NOVIS, 2001, p.1). Para tratar da problemática da
doença de Alzheimer e suas repercussões na vida familiar, vão ser destacadas as questões
relativas ao núcleo familiar, ao cuidado prestado ao idoso pelos familiares, à qualidade de
vida e ao estresse dos cuidadores.

3.1 O núcleo familiar como suporte psicossocial na terceira idade

Na sociedade atual, o idoso ocupa um espaço cada vez mais restrito dentro da
família. Quando a pessoa idosa começa a requerer atenções e cuidados especiais as chances
de viver com a família diminuem. Enquanto ele se mantêm saudável e pode realizar tarefas
domésticas ou até colaborar na economia familiar, o idoso ainda pode ser incluído dentro
dessa estrutura. Quando ele necessita de atendimentos e cuidados mais intensivos, a
institucionalização começa a ser cogitada, devido à escassez de outras alternativas da
sociedade.
O núcleo familiar é uma instituição criada pelo homem em relação com seus
semelhantes e que assume variadas formas em situações e tempos diferentes, mas sua tarefa
primordial tem sido “o cuidado e a proteção de seus membros” (MIOTO, 1997, p. 120). A
família possui necessidades materiais que garantem sua reprodução biológica assim como a
reprodução social ligada a um projeto social no qual o núcleo familiar encontra-se inserido.
A dinâmica dos núcleos familiares e as relações que se estabelecem internamente entre seus
membros, ou externamente com a sociedade civil e o Estado, sofre influências do contexto

3
histórico em que estão inseridas. Dessa forma, a configuração das relações familiares da
atualidade em contraposição às da família tradicional vem sendo forjada.
No Brasil, até a década de sessenta o padrão de núcleo familiar ainda permanecia
próximo ao tipo tradicional burguês – o homem chefe da família, a mulher como suporte de
reprodução e os filhos, em média 6,3 por casal, era a segurança de uma velhice protegida
para os pais. A partir dos anos oitenta, a instituição família tem sofrido alterações,
recebendo influência do modelo econômico, adotado pelo governo brasileiro, que veio
pauperizando gradativamente a população, mas também pelo avanço científico-tecnológico
e médico-sanitário que aumentaram a expectativa de vida das pessoas.
Outros aspectos interessantes em relação à metamorfose familiar nos últimos anos, é
o fato constatado pelo IBGE sobre o aumento substancial das pessoas que moram sós, além
do crescimento da população idosa no país. Em 1950 a média da idade do brasileiro era de
18,8 anos e apenas 4,2% tinham mais de sessenta anos. Em 1991 a população idosa passou
a representar 7,8% dos brasileiros. Atualmente, início do século XXI, nossa população
idosa representa cerca de 8% do total da população brasileira, e o prognóstico para 2025 é
de que teremos 14% de pessoas na terceira idade. As mudanças da estrutura familiar na
última década têm fragilizado os vínculos familiares, expondo as famílias à situações de
crises, como morte, desemprego, conflito intergeracional, doenças e outros.
Segundo Zimerman (2000) uma das etapas mais importantes no acompanhamento
de velhos é a avaliação do comportamento dos membros dessa família. Não existe família
perfeita, mesmo porque são bastante relativos os critérios referentes ao que é sadio ou
patológico. No entanto, algumas características servem para definir certos tipos de família e
as relações entre os seus membros. Um núcleo familiar considerado sadio é aquele em que
a harmonia, a capacidade de empatia (compreender os sentimentos alheios), os sentimentos
amorosos, a solidariedade e a tolerância predominam. Isso não significa que sentimentos
menores ou de agressividade não coexistam no ambiente familiar, apenas que não devem
ser a regra. A experiência com idosos tem demonstrado que “o velho será tratado pelos seus
filhos da mesma forma como estes foram tratados por ele” (ZIMERMAN, 2000, p. 55).
Quando uma família recorre ao suporte institucional para solucionar o problema de
um membro daquele núcleo familiar, significa que “já não dispõe de recursos para lidar
com as suas dificuldades (MIOTO, 1997, p. 124). Torna-se, portanto, relevante o
deslocamento do processo de intervenção individual para o familiar, além de políticas
sociais que privilegiem ações destinadas a melhorar a qualidade de vida dos núcleos
familiares”.
Segundo Moriguchi (1996), o fator social e o ambiente familiar são de suma
relevância para a qualidade de vida do idoso, tanto quanto os aspectos científicos da
medicina. O afastamento do idoso do meio familiar ou a falta de convivência do idoso com
a família poderão trazer implicações sérias na evolução da doença, determinando efeitos e
manifestações adversas e indesejáveis.
A família, tradicionalmente, sempre tomou conta de seus idosos. O ritmo do
cotidiano na cidade, a inclusão da mulher no mercado de trabalho, a redução do tamanho
das residências e outros tantos fatores trazem implicações sérias para a família atual, que
tem uma pessoa idosa dependente, especialmente a portadora de uma doença crônico-
degenerativa. Quem vai cuidar desse idoso? Em que local da casa ele vai ficar acomodado,
quando se tornam necessárias instalações, aparelhagens e utensílios especiais? Como fazer
frente aos gastos com saúde e cuidadores? O paciente não ficaria mais bem cuidado em
uma instituição especializada? O paciente idoso aceitaria ser institucionalizado? A decisão

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se torna difícil. Mas isso não muda, para nenhuma das partes envolvidas, a responsabilidade
na tomada de tal decisão.

3.2 Os familiares cuidadores de idosos portadores da Doença de Alzheimer (DA)

Cuidado significa ocupar-se com o outro, preocupar-se, responsabilizar-se. Quando


um idoso necessita de cuidados, a família assume o papel principal, pois ela é culturalmente
levada a assumir tal responsabilidade. É importante ressaltar que a relação de cuidado
estabelecida entre as famílias e seus idosos acontece com base no significado da família e
da velhice. A família tem uma atuação estratégica no desenvolvimento biopsicossocial do
ser humano, principalmente nas fases extremas da vida – primeira e terceira idade – em que
as necessidades de amparo e aconchego são essenciais.
A responsabilidade que os filhos têm para com seus pais é uma forma de
solidariedade entre as gerações. Os adultos cuidam das crianças, seus filhos, e de seus pais
idosos, existindo a perspectiva de serem amparados na velhice pela geração mais nova. A
prestação de cuidados ao idoso com Alzheimer pelos seus familiares “está fundamentada na
perspectiva de uma reciprocidade esperada, que se manifesta na retribuição pelo cuidado
recebido na infância e no amor filial” (CREUTZBERG, 2000, p.108). Quando se trata da
doença de Alzheimer, o familiar cuidador ainda enfrenta a possibilidade e o temor de, num
futuro, também vir a ser portador da enfermidade. A espera de recompensa futura (ser
cuidado) pode ser uma das motivações para enfrentar as dificuldades inerentes ao ato de
cuidar.
O indivíduo torna-se cuidador normalmente por quatro motivos: instinto, vontade,
capacidade ou conjuntura. No primeiro caso, a motivação do cuidado é impulsionada
inconscientemente pelo instinto de sobrevivência, como na relação mãe - filho. É alguém
que presta socorro a um necessitado. Quando motivado pela vontade busca a satisfação das
próprias emoções através da relação com o outro. Assim ocorrem as relações entre
familiares, as quais podem chegar até a superproteção, dependendo da emotividade do
cuidador. O cuidador motivado pela capacidade é o indivíduo preparado tecnicamente, seja
através de sua formação (estudos) ou de longa experiência prática. Finalmente, o motivado
por conjuntura é aquele que, na falta de alternativas, assume uma determinada situação. O
que ocorre, neste caso, é que o sujeito atua por obrigação, comodismo ou benefício próprio,
resultando no desequilíbrio da relação de cuidado e em resultados pouco satisfatórios.
O papel de “ser cuidador” não é previsto, e nenhuma pessoa está suficientemente
preparada para cuidar de alguém que padece desta enfermidade. Esta alteração de papéis é
um aspecto importante a ser focalizado. A cada dia, os familiares enfrentam a realidade que
o paciente está mudando gravemente e que, em vez de melhorar com o cuidado que é
proporcionado, a pessoa fica cada vez mais dependente até chegar a necessitar de cuidados
e supervisão 24 horas por dia (GOMÉZ, 2001). É interessante perceber o efeito dos valores
da sociedade sobre as atitudes relacionadas à prestação de cuidados quando se relaciona às
maneiras como homens e mulheres reagem às obrigações de prestação de cuidados
(FERRARI, 1996).

3.3 Qualidade de Vida e Estresse Psicossocial

O termo qualidade de vida é empregado de maneira variada dependendo da situação


e da área em que está sendo utilizado. Porém, teoricamente ele apresenta alguns pontos

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importantes que são enfatizados por García-Riaño (1991) e que se mostram decisivos para
a compreensão deste estudo. A qualidade de vida envolve valorações quantitativas e
qualitativas que definem os níveis que o indivíduo consegue alcançar ao longo da vida.
Naturalmente, esses níveis de qualidade se alteram no decorrer da existência individual,
pois além de serem definidos por questões culturais, que envolvem a política e a economia,
também são percebidos pelo indivíduo e, portanto subjetivos.
O conceito de qualidade de vida, segundo Fernández-Ballesteros e Anton (1993)
deve abordar a especificidade de cada indivíduo. No caso dos idosos, algumas áreas
precisam ser mais enfatizadas, como as habilidades funcionais e o autocuidado. Um outro
aspecto refere-se à multidimensionalidade da qualidade de vida, que aborda dimensões
pessoais (apoio social, condições econômicas, serviços de saúde e sociais, qualidade do
ambiente e fatores culturais) e dimensões socio-ambientais (saúde, atividades/ócio,
satisfação, relações sociais, habilidades funcionais). O terceiro pressuposto, conforme
Fernández-Ballesteros e Anton (1993) é que a qualidade de vida possui aspectos subjetivos
como os valores e sentimentos que o indivíduo apresenta (saúde percebida, satisfação
social, necessidades culturais, avaliação do ambiente, percepção dos serviços de saúde e
sociais) e os aspectos objetivos (qualidade ambiental, disponibilidade de serviços de saúde
e sociais, saúde objetiva, apoio social, fatores culturais).
O estresse psicossocial é um problema que segundo Lipp (1996) está atormentando
a vida das pessoas no mundo atual, a mudança muito rápida das configurações culturais
provoca desestabilização emocional e orgânica, automaticamente prejudica a qualidade de
vida. Da mesma forma, toda mudança que é exigida do organismo consome energia para
que ocorra a adaptação. Essa energia gasta é o que provoca o estresse. “As fontes de
estresse são múltiplas e extremamente diversificadas para cada povo e para cada indivíduo,
pois em muitas situações é a interpretação que se dá a um evento que o qualifica como um
estressor” (LIPP, 1996, p. 300).
A qualidade de vida e o estresse psicossocial dos cuidadores são influenciados e
estão diretamente correlacionados ao modo como as pessoas estruturam suas estratégias de
adaptação. Passar pela experiência de ser um cuidador familiar de pacientes com a Doença
de Alzheimer pode estar associado ao fato de ter boa qualidade de vida, porém os
estressores bio-psico-sociais podem interferir nesse processo de bem-estar. Esses
estressores variam de acordo com as escolhas realizadas pelo indivíduo e as decorrências
histórico-culturais das mesmas. Para compreender com maior profundidade este fenômeno,
foram estabelecidos os problemas de pesquisa e as hipóteses que orientarão este estudo.

4 MÉTODO

4.1 População e Amostra

A população que compõe a pesquisa constitui-se de 14 pessoas que são cuidadores e


familiares de pacientes com a Doença de Alzheimer, de ambos os sexos e diferentes graus
de parentesco (Cônjuge, Filho(a), Irmãos(ãs), e outros), que residem no município de Porto
Alegre e região metropolitana. Estes sujeitos constam no Banco de Dados do NEDEPS, na
relação de familiares entrevistados no período de 2001 a 2004.

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4.2 Instrumentos

Estão sendo utilizados nesta pesquisa os seguintes instrumentos: Entrevista Semi-


Estruturada baseada no roteiro de entrevista sobre a avaliação dos cuidadores sobre a
situação de cuidar desenvolvida por Neri (1999);
Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida – WHOQOL –100. O pressuposto
de qualidade de vida utilizado na construção deste instrumento é: “a percepção do
indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele
vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (OMS, 1998,
p. 3). Na estruturação do instrumento evidencia-se a preocupação com a
multidimensionalidade que é expressa pela sua divisão em 6 domínios (físico, psicológico,
Nível de Independência, Relações Sociais, Ambiente, Aspectos Espirituais/ Religião/
Crenças pessoais);
Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (ISSL). Este inventário
tem como objetivo identificar de maneira objetiva se o indivíduo apresenta a sintomatologia
de estresse, se os sintomas do estresse são predominantemente físicos ou psicológicos. Este
inventário ainda estabelece a fase de estresse em que o sujeito se encontra: alerta,
resistência, quase exaustão e exaustão.

4.3 Procedimento

Esta pesquisa assume um caráter comparativo. Os sujeitos são os familiares


cuidadores de idosos com a Doença de Alzheimer já entrevistados, numa primeira fase da
pesquisa e cujos nomes e endereços constam do Banco de Dados, existente no NEDEPS.
As entrevistas são marcadas por telefone e são realizadas nas residências dos indivíduos ou
em uma sala especial que permita comodidade e privacidade na Faculdade de Serviço
Social da PUCRS. O local das entrevistas é definido pelos sujeitos de acordo com suas
possibilidades e o contexto das situações de cuidado em que eles estão inseridos.
As entrevistas têm a duração aproximada de duas horas e são iniciadas com a
informação dos objetivos da pesquisa, com a justificativa da realização de uma segunda
entrevista e apresentação/explicação do folder com os resultados anteriores. A seguir,
apresenta-se o Termo de Consentimento Informado, com a devida explicação.
Posteriormente, realiza-se a aplicação do ISSL e do WHOQOL-100. Na última parte
efetua-se a entrevista semi-estruturada, que permite ao sujeito expressar sentimentos em
relação ao ato de cuidar, à qualidade de vida e à rede suporte social existente. Essa parte da
entrevista é gravada.

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta pesquisa possui duas etapas de análise, uma de caráter quantitativo e outra
qualitativo. Na análise qualitativa utilizou-se os dados da entrevista semi-estruturada. Após
a transcrição dos dados realizou-se a análise de conteúdo desenvolvida por Gagneten
(1986). Estas informações ainda não foram interpretadas, ficando para o próximo relatório
para a realização de uma interpretação mais aprofundada e completa. Na avaliação
quantitativa, foi realizada a comparação de alguns resultados das duas etapas.

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Foram realizadas 14 entrevistas das 70 concluídas, sendo 13 das 60 mulheres e 1
dos 10 homens os respondentes desta pesquisa em comparação com a anterior. Dentre as
entrevistas realizadas faz-se as seguintes comparações, entendendo-se I para a pesquisa
anterior e II para esta pesquisa atual, comparativa:

GRÁFICO 1 – PLANO DE SAÚDE

100%

80% 73%
64%

60%
I
40% 36% II
27%

20%

0%
Sim Não

Com relação ao Plano de Saúde, identifica-se uma redução da porcentagem de


idosos que o possuem, sendo uma mudança pouco relevante, mas que procuramos trazer
para mostrar que a maioria ainda conta com este recurso como suporte. Dos 14
entrevistados, metade dentre os que não possuem plano de saúde realizam o tratamento
através do SUS, e a outra metade, divide as despesas (medicamentos, consultas, exames,
entre outros) entre os familiares.

GRÁFICO 2 – RECEBE AUXÍLIO DO GOVERNO

100%
84%
79%
80%

60%
I
40% II

21%
20% 16%

0%
Sim Não

Este gráfico mostra que a maioria das famílias continua não contando com nenhum
recurso governamental que é dado em forma de medicação aqueles que o recebem. Alguns
cuidadores revelam que entraram com o processo, mas ainda não estão recebendo os
medicamentos. Outros ainda, desconhecem esse direito devido à falta de informação e
divulgação dos meios.

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GRÁFICO 3 – PARTICIPAÇÃO EM GRUPOS DE APOIO

100%

80%

56% 58%
60%
I
II
40% 31%

17% 17%
20%
9% 8%
4%

0%
Assídua Eventual Não participa Sem resposta

A participação nos grupos de apoio continua sendo reduzida por parte dos
familiares, pois muitas vezes não participam por não terem com quem deixar o idoso.
Através do gráfico podemos perceber que os familiares não buscam este suporte para
auxiliar no enfrentamento das situações vivenciadas pela DA. Os familiares que participam
dos grupos de apoio revelam que, para eles, a participação traz benefícios como a troca de
experiências que permite a eles desenvolver estratégias para o enfretamento da doença.
Outros mencionam que sua participação no grupo trouxe medo e aflição ao escutarem os
relatos das situações de familiares cuidadores que passam ou passaram por momentos
difíceis que, talvez tenham que enfrentar futuramente.

GRÁFICO 4 – POSSUI EMPREGADA DOMÉSTICA


100%
79%
80%

56%
60%
I
34% II
40%

14%
20% 10% 7%

0%
Sim Não Diarista

Houve uma redução significativa nos núcleos familiares que possuem empregada
doméstica. Isso geralmente ocorre por falta de recursos financeiros e pela baixa qualidade
do serviço, ocasionando uma sobrecarga no cuidador.

GRÁFICO 5 – POSSUI AUXÍLIO NOS CUIDADOS


100%

80%
61%
60%
47%

40% I
26% 23% II
15% 15%
20%
6% 7%

0%
Cuidadores Cuidadores Internados Não Possui
Qualificados Não em Clínicas
Qualificados

Ocorreu um aumento significativo nos auxílios dos cuidados em relação a


cuidadores qualificados, assim como nos familiares internados em clínicas. Com esse

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auxílio diminui a sobrecarga física do trabalho de cuidar, dar banho, vestir, alimentar, etc, e
também possibilita que o familiar possa ter mais liberdade para descansar.
Em relação ao teste Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
foram analisadas as respostas de 11 sujeitos entrevistados, das 14 entrevistas realizadas.

GRÁFICO 6 – PRESENÇA DE STRESS PSICOSSOCIAL NO CUIDADOR

100%
73%
80%
54%
60% 46%

27% I
40%
II
20%

0%
APRESENTAM NÃO APRESENTAM
ESTRESSE ESTRESSE
PSICOSSOCIAL PSICOSSOCIAL

Percebe-se que o tempo de cuidado possui uma forte relação com a presença ou não
de stress. Dos sujeitos que não apresentam stress os familiares estão em clinicas, já
faleceram ou o tempo de cuidado é igual ou maior do que 5 anos, isso pode significar que
com o tempo, o familiar assimila melhor a doença e consegue adaptar-se à situação de
cuidador. Dos 6 sujeitos que revelaram stress atualmente, 4 não possuíam antes e 2 até hoje
não apresentam.

GRÁFICO 7 – RELAÇÃO DOS SINTOMAS DE STRESS PSICOSSOCIAL


100%
80%
80%
61%

60%
I
31%
40% II
20%

20% 8%
0%

0%
SINTOMAS FÍSICOS SINTOMAS AMBOS SINTOMAS
PSICOLÓGICOS

A sintomatologia do estresse pode variar de acordo com a predisposição do sujeito


para a área física ou psicológica. Das pessoas entrevistadas até o momento e que
apresentam stress, quatro pessoas apresentam predomínio de sintomatologia física, ou seja,
o organismo demonstrou maior desgaste físico. Apenas uma pessoa demonstrou sintomas
psicológicos.

6 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A maioria dos entrevistados não apresenta stress psicossocial diferente da primeira


pesquisa, pois alguns idosos estão internados em clínicas, faleceram, ou os cuidadores
contrataram profissionais qualificados para auxiliar no cuidado. Esta foi uma estratégia
encontrada na pesquisa anterior, mas aparece com maior evidência atualmente, diminuindo
a sobrecarga física do familiar cuidador.

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Houve um aumento nos cuidadores que conseguem algum auxílio governamental,
porém a maioria continua não recebendo nenhum tipo de auxílio, muitas vezes por falta de
informação e ou desconhecimento dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CREUTZBERG, Marian, SANTOS, Beatriz Regina Lara dos. "...se a gente não tem
família não tem vida!": concepções de famílias de classe popular cuidadoras de pessoa
idosa fragilizada. Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre: v. 21, nº esp., p.101-112,
2000.
FERRARI, Maria Auxiliadora C. Aspectos da relação, portador de Alzheimer e "seu
familiar cuidador": as repercussões no cotidiano de ambos. Revista Brasileira de
Alzheimer. São Paulo: ano 1, nº 0, p. 18-20, 1996.
GAGNETEN, Maria Mercedes. Hacia una Metodología de Sistematización de la
Práctica. Buenos Aires: Editorial Humanitas, 1986.
GÓMEZ, Celina. Cuidadores de seres queridos con Alzheimer - II. Asociación
Alzheimer de Monterrey – LAZOS, Monterrey, julho 2001. Disponível em:
http://www.geocites.com/Hotsprings/Spa//12/1z12-09.htmt. Acesso em: 15 julho 2001.
LIPP, Marilda Novaes. Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL).
Caderno de Aplicação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
NERI, A. L. Qualidade de Vida e Idade Madura. Campinas: Papirus, 1999.
NOVIS, Prof. Sérgio Pereira. Demências - Doença de Alzheimer. Associação de parentes
e amigos de pessoas com Alzheimer, doenças similares e idosos dependentes. São Paulo:
julho 2001. Disponível em: http://www.apaz.org.br/artigo
1.htm. Acesso em: 14 julho 2001.
OMS – Organização Mundial de Saúde. Versão em Português dos Instrumentos de
Avaliação de Qualidade de Vida (WHOQOL). Porto Alegre: UFRGS/FAMED, 1998.
Disponível em: http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol-100.html. Acesso em: 07/08/2002.
ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: ARTMED, 2000.

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