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Universidade Federal Rural de Pernambuco

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia

História das Artes Visuais

Volume 1

Madalena Zaccara

Recife, 2014
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Moacyr Cunha Filho
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Maria Ângela Vasconcelos de Almeida
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Maria Madalena Pessoa Guerra
Pró-Reitor de Planejamento: Luiz Flávio Arreguy Maia Filho
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia


Diretora: Juliana Regueira Basto Diniz
Coordenador Geral da UAB: Domingos Sávio Pereira Salazar
Coordenadora Geral de Cursos de Graduação: Sônia Virgínia Alves França
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em
Tecnologia e Gestão em Educação a Distância: Marizete Silva Santos
Coordenador de Produção de Material Didático: Rafael Pereira de Lira

Produção Gráfica e Editorial


Capa: Rafael Lira e Igor Leite
Ilustração de Capa: Hayhallyson Santos
Projeto de Editoração: Rafael Lira e Italo Amorim
Diagramação: Heitor Barbosa
Revisão Textual: Rita Barros

ZACCARA, Madalena.
História das Artes Visuais / Madalena de Fátima Zaccara Pekala – Recife: Unidade Acadêmica de
Educação a Distância e Tecnologia, UFRPE, 2011. 1ª edição.
ISBN
1. História. 2. Artes Visuais. 3. Educação a Distância. I. Título.

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Unidade Acadêmica
de Educação a Distância e Tecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos
102, 104, 106 e 107 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Sumário

Apresentação..................................................................................................................... 5
A arte pré-histórica............................................................................................................ 7
Vamos saber um pouco mais sobre alguns artistas ou locais que
citamos até agora?.................................................................................................... 16
As expressões e modelos ancestrais: o Egito e a Mesopotâmia............................... 19
Sobre a arte na Mesopotâmia................................................................................... 21
Da arquitetura e da escultura.................................................................................... 21
Sobre a arte egípcia.................................................................................................. 23
Da arquitetura........................................................................................................... 25
Da escultura.............................................................................................................. 26
Da pintura e relevos.................................................................................................. 27
Vamos conhecer o único artista citado?................................................................... 28
Grécia e Roma: nossas referências ocidentais............................................................ 31
Sobre a Grécia.......................................................................................................... 31
Sobre períodos e expressões artísticas na Grécia ancestral.................................... 33
O período geométrico e a Grécia arcaica.........................................................................33
O século de ouro: a Grécia clássica......................................................................... 37
A arte do período helenístico: a Polis e as influências externas............................... 38
Sobre Roma.............................................................................................................. 41
A arquitetura romana como forma de registro imperialista....................................... 42
Sobre a escultura: o realismo versus idealismo........................................................ 44
Sobre o legado pictórico de Roma............................................................................ 45
Expressões artísticas medievais: o românico e o gótico........................................... 49
Sobre a arte cristã primitiva...................................................................................... 49
Sobre a escultura...................................................................................................... 53
Sobre a pintura.......................................................................................................... 54
O Gótico: o império das catedrais............................................................................. 56
Considerações sobre a arquitetura gótica................................................................ 58
A escultura gótica e o encontro com o movimento................................................... 59
Sobre a pintura gótica: a revolução italiana.............................................................. 60
Conhecendo alguns artistas...................................................................................... 62
O homem, enquanto medida de todas as coisas: a Renascença............................... 65
Sobre a escultura: o início do processo de citação................................................... 69
E a pintura? Como ela se comportou no quattrocento?............................................ 70
O século XVI: o grande momento da Renascença................................................... 72
A pintura: Leonardo, Michelangelo e Rafael............................................................. 74
Vamos conhecer novos artistas?.............................................................................. 77
Considerações Finais..................................................................................................... 82
Alguns referenciais cronológicos do volume.............................................................. 85
Referências...................................................................................................................... 86
Sobre a Autora................................................................................................................. 87
Apresentação

Artes Visuais: da caverna à cidade


Vamos iniciar nosso curso! Neste primeiro volume, nosso objetivo principal é
compreender as transformações políticas, econômicas e sociais pelas quais passou a
humanidade desde o período chamado de paleolítico, onde o homem, nômade, habitava
temporariamente cavernas até a Renascença e suas cidades planejadas. Essas
mutações estão intimamente associadas à produção artística desses vários momentos.
Assim, nesse recorte do tempo, vamos estudar desde as primeiras manifestações
artísticas do homem às que aconteceram no período denominado de Renascimento.

Para uma melhor compreensão desse contexto inicial, alguns questionamentos se fazem
necessários. Assim, vamos a eles: Como se desenvolveu essa produção artística? O
que ela queria expressar? Sob que condições trabalharam os seus autores? Essas e
muitas outras dúvidas certamente serão esclarecidas ao longo deste nosso estudo.

No nosso primeiro capítulo, objetivaremos tentar compreender o percurso das artes


visuais entre o Paleolítico e o Neolítico, estudando a trajetória da produção artística
(e seus aspectos políticos, sociais e econômicos) do homem ainda em processo
de uma economia extrativista, o conhecido “homem das cavernas”; e do pastor e
agricultor sedentário, já agrupado em aldeamentos, que o sucedeu. Vamos pensar no
porque alguém preocupado, principalmente, com a sobrevivência registra cenas de
seu cotidiano nas paredes do abrigo ou, quando se agrupa em aldeias e descobre a
agricultura e o pastoreio, usa seu tempo em construções monumentais de pedra.

No segundo capítulo, novas perguntas e dúvidas continuam a acontecer. Entretanto,


agora já temos mais dados para respondê-las. Assim, as hipóteses serão analisadas
contando com mais subsídios. Quando estudarmos as duas primeiras civilizações
urbanas, Mesopotâmia e Egito, contaremos com um elemento de grande ajuda: a
escrita.

Inicialmente, vamos nos deter na arte da civilização mesopotâmica. Como se


processou o imaginário desses povos que habitaram o território banhado pelos rios
Tigre e Eufrates? Você sabia que apesar de ser contemporânea da civilização egípcia
a cultura da Mesopotâmia era bem diferente da que se desenvolveu no Egito? Essas
e outras questões nos aguardam quando chegarmos nesse momento da história da
humanidade. Quando o homem se agrupa em sistemas urbanos organizados e com
características próprias.

No terceiro capítulo, estudaremos a rica e esplêndida cultura do mar Egeu cujos


primórdios podem remontar há cerca de 3000 a.C. Também buscaremos compreender
a arte romana que, tendo suas raízes em outras culturas, adaptou-as em uma arte

5
própria e que, juntamente com a grega, marca toda a cultura ocidental. É o momento
chamado de greco-romano que nos serve como referência até a contemporaneidade.

Até este momento, todos nós sentimos uma espécie de “dificuldade” em compreender
o contexto e as expressões artísticas que estudamos. Entretanto, quando chegamos à
Grécia, começamos a nos tornar mais próximos, mais familiares. O que nos faz sentir
como se eles, os gregos, fossem uma espécie de membros mais velhos de nossa
família?

De certa forma, nossa cultura ocidental implica em um “parentesco” com os primitivos


gregos. Aqueles que povoaram as ilhas do Egeu e que inspiraram Homero na sua
Ilíada e Odisséia. Afinal, são as manifestações artístico/culturais que embasaram a arte
romana, a renascentista, a produção do fim do século XVIII e primeira metade do XIX e
que estão presentes no momento em que vivemos: a pós-modernidade.

Assim, vamos estudar esses povos do Egeu e em seguida aqueles que ocuparam
inicialmente a região do Lácio, Itália (e que, depois, se espalharam por quase todo o
mundo conhecido) como se contássemos uma história mais familiar. Lacunas existem,
como em todo período da história, mas o quadro geral se delineia em relação ao povo
grego com mais precisão desde as suas influências miceno/minóicas até a invasão
imperialista de Alexandre da Macedônia, quando a polis e a arte grega se abriram
para o resto do mundo antigo. No que diz respeito a Roma, estudaremos a origem de
sua arte, que se divide entre etruscos e gregos. Conheceremos também o seu caráter
posterior, imperialista, que propagou esse vocabulário artístico através da Europa.

O quarto capítulo envolverá a arte cristã que chegou ao seu pleno desenvolvimento
na Idade Média. Inicialmente nos voltaremos para as expressões artísticas que
se inspiraram na arte romana. Uma produção também chamada de “Arte das
Peregrinações” ou “Arte Românica”. Em seguida buscaremos compreender as
transformações econômicas que consolidaram a burguesia e o seu contexto artístico
chamado, posteriormente, de Gótico.

Finalmente, no último momento desse volume, no quinto capítulo, estudaremos o


florescimento do humanismo, a volta do antropocentrismo na sociedade italiana
mercantil. A esse processo, que se espalhou pelo resto da Europa e que vem
sucessivamente influenciar nossa contemporaneidade, deu-se o nome de Renascença.

A autora.

6
Capítulo 1

A arte pré-histórica

Objetivos do Capítulo
Analisar e compreender as manifestações artísticas existentes entre o momento
paleolítico e o neolítico, observando-se a necessidade de contextualização da arte em
um universo mais explorado pela arqueologia.

Quando damos início às nossas reflexões sobre as primeiras


expressões humanas as quais chamamos de arte, vários
questionamentos se fazem presentes. Entre eles, uns sempre
aparecem em primeiro lugar, tais como: o que é arte? Qual a função
da arte? Qual o seu sentido? Respondê-los é o primeiro passo para
a sua compreensão bem como do seu processo histórico. É o ponto
de partida para o estudo da História das Artes Visuais que iniciamos
agora.

Pensando no sentido etimológico desta palavra, arte, nós podemos


nos remeter à sua origem latina. Nela, arte significa técnica,
habilidade. Mas será que desde as suas primeiras manifestações a
arte teve esse significado? E através da sua trajetória ela o manteve?
Não. As artes visuais têm uma leitura dinâmica. Elas estão associadas
aos contextos em que são produzidas; e eles se transformam ao longo
das mudanças pelas quais passam as diversas sociedades.

Portanto, ao abordarmos a questão do que venha a ser arte – entre


as tantas definições que lhe foram (e são) dadas – escolhemos a que
a coloca como uma das formas de representação de uma sociedade,
das suas ideias e aspirações. A sua história investiga essas
representações dentro de situações particulares que envolvem a ideia
de um espaço geográfico e cronológico. Um universo de múltiplas
situações onde ela, a arte, adquire significados diferenciados.

Na pré-história nós vamos encontrá-la como um registro de


caçadores, segundo algumas concepções, ou como o auxilio mágico
à dominação de um mundo real inexplorado de acordo com outras
teorias. Ela aparece como um processo de alfabetização religiosa na
Idade Média ou como exaltação ao homem como medida de todas as
coisas na Renascença. É vasto, portanto, o seu campo de definição,

7
mesmo tomando-se como parâmetro esse primeiro capítulo do nosso
curso, onde abordaremos a sua trajetória dentro de um recorte que vai
das paredes das cavernas paleolíticas às primeiras aldeias neolíticas.

Sua função, por outro lado, existe a partir das necessidades do


criador e do receptor. Isso faz com que ela transcenda fronteiras
geográficas e étnicas e se coloque para além de quaisquer juízos de
valor. Dessa forma, a Gioconda de Leonardo da Vinci (Figura 1) não
é mais importante (ou diz menos do indivíduo ou do grupo para o qual
essa manifestação foi criada) do que as pinturas rupestres de Altamira
(Figura 2). Uma madona de Rafael (Figura 3) não provoca mais (ou
menos) emoção do que as férteis Venus paleolíticas (Figura 4) ou
Figura 1. Leonardo da Vinci.
as esguias virgens medievais (Figura 5). A arte funciona, portanto,
La Gioconda. 1503-1506.
Museu do Louvre, Paris. como uma necessidade de expressão do homem e assim permanece:
Fonte: http://pt.wikipedia.org/ necessária, presente através do tempo/espaço e de suas mutações.
wiki/Ficheiro:Mona_Lisa,_by_
Leonardo_da_Vinci,_from_
C2RMF_retouched.jpg

Figura 2. Bisão. C 15.000-10.000 a.C. Pintura em Caverna. Altamira. Espanha. Fonte: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:AltamiraBison.jpg

Após essas considerações sobre o que é arte, outra indagação


aparece logo no início deste nosso dialogo: o que é pré-história? É
possível considerarmos um período da existência da humanidade
que simplesmente inexiste? Para compreendermos essa ideia e,
consequentemente, essa terminologia é preciso que nos reportemos
a um conceito histórico de periodização, próprio do século XIX,
quando os historiadores consideravam que só era possível estudar o
passado através das fontes escritas. Essa premissa deixaria de fora
os acontecimentos inerentes à presença do homem no planeta antes
do desenvolvimento dessa forma de comunicação.
Figura 3. Raphael Sanzio.
Madonna del Granduca.
Entretanto, a história atual não exclui outros vestígios humanos
Palazzo Pitti. Florença. Fonte:
http://it.wikipedia.org/wiki/ materiais que, com a ajuda da arqueologia, resgatamos para traçar
Madonna_del_Granduca um descrevo sobre nossos ancestrais. Os arqueólogos modernos

8
nos proporcionam, através de suas contínuas pesquisas, uma visão
cada vez mais ampliada da maneira de viver do homem na dita pré-
história, ou seja, no período em que vulgarmente denominamos de
“Idade da Pedra” quando a escrita (já conhecida ou decodificada)
ainda não existia. Essas descobertas nos introduzem no universo da
vida humana do período e, dessa maneira, no contexto das atividades
desenvolvidas. Entre elas, a produção de imagens e artefatos a que
uns chamam de registros arqueológicos e outros de arte.

Através dos estudos que se iniciaram principalmente no século XIX,


encontramos o homem do paleolítico inserido em um ambiente hostil.
Seu abrigo era uma cavidade natural e ele vivia da coleta do alimento
de forma extrativista. Nômade, a sobrevivência era seu objetivo
principal e suas atividades não interferiam de maneira profunda em
seu meio ambiente. Figura 4. Venus de
Willendorf. 15.000-10.000
a.C. 0.12 m. Museu de História
Deste entorno existia uma parte intensamente utilizada por esse
Natural. Viena. Matthias
homem: a caverna. Ele a utilizava e para ela regressava após suas Kabel Fonte: http://pt.wikipedia.
incursões em busca de alimento. Por todo o mundo há incontáveis org/wiki/Ficheiro:Venus_von_
Willendorf_01.jpg
provas de ocupação ou visitação às cavernas. Entretanto, para
além do papel que a caverna desempenhou como abrigo, para nós,
estudiosos das artes visuais, dizem que sua maior importância se
deve a sua função como local para rituais e suporte para os registros
deles.

Algumas grutas não mostram sinais de ocupação doméstica e


parecem ter sido locais de cerimoniais. Um bom exemplo são as
cavernas de Lascaux e a de Altamira (Figura 6) e (Figura 7). São
nesses espaços, nos recessos desses centros especiais de rituais,
que encontramos imensas câmaras naturais, com suas superfícies
cobertas com pinturas executadas de forma extremamente realista.

Figura 5. Autor desconhecido.


A Virgem de Vladimir.
Sec. XI/XII. Galeria Estatal
Tretyakov, Rússia.
Figura 6. Gruta de Lascaux. França. Jack Versloot. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Fonte: http://pt.wikipedia.org/
Ficheiro:Lascaux_II.jpg wiki/Ficheiro:Vladimirskaya.jpg

9
Figura 7. Gruta de Altamira. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Altamira-1880.jpg

Saiba Mais
Altamira é o nome de uma caverna localizada perto da cidade de Santander, na Espanha.
Ela possui um dos conjuntos de pinturas rupestres mais importantes da Pré-História.
Essas represnetações paleolíticas destacam-se pelo realismo das figuras registradas
na pedra. O animal mais representado é o bisão. Há vários exemplares em diversos
tamanhos e posturas e técnica pictórica. Também encontramos cavalos e cervos.

A sensação de realismo se conseguiu mediante o aproveitamento dos ressaltos naturais


da rocha que criam a ilusão de volume. As cores utilizadas são vermelho, negro e
amarelo. As figuras recebem a técnica de baixo relevo, ou seja, são gravadas na rocha,
em seus contornos.

O Bisão selecionado está realisticamente representado e propositalmente executado


em uma saliência da pedra com o objetivo de lhe dar relevo. Sua coloração vermelha
é contornada de negro e essa cor também é utilizada na parte de baixo de seu ventre
sombreando a representação.

Nesses “santuários paleolíticos” estão os primeiros indícios de vida


cívica. Sua iconografia, para alguns, foi “apenas um subproduto
Saiba Mais acidental da magia1”, para outros, entretanto, eles significam a
1
Lewis Munford. A aplicação de “uma fantasia simbolizada e da arte, com uma visão
cidade na História: suas comum de uma vida melhor e mais significativa ao mesmo tempo que
origens, transformações e
perspectivas. São Paulo: esteticamente atrativa2”. Segundo Fischer (1979, p. 42):
Martins Fontes, p. 19.
Essa magia encontrada na própria raiz da
existência humana, criando simultaneamente um
senso de fraqueza e uma consciência de força, um
medo da natureza e uma habilidade para controlá-
Saiba Mais la, essa magia é a verdadeira essência de toda a
2
Lewis Munford. Op. Cit. arte.
p. 20.

10
Através dela (da magia), encontrada na raiz da existência humana
o homem modificou o mundo que o cercava. Os xamãs entravam
em transe no espaço escuro da caverna e pintavam a diversificada
temática englobando desde animais de presa até pedradores.
Objetos materiais foram transformados em signos e conceitos e o
humano abandona sua condição de animal através da possibilidade
mágica de controlar (ou pensar fazê-lo) a natureza. Nesse contexto,
esses registros ganham o status artístico: a arte seria um instrumento
mágico que servia ao homem na evocação do sobrenatural para o
domínio do natural e no desenvolvimento das relações sociais.

Em outras situações essas representações (essa arte rupestre),


sugerem o registro da possibilidade ou presença da caça para os
grupos em migração ou um diário das ações comunitárias. Ela, a arte,
nesse momento da historia da humanidade, pouco tinha a ver com
beleza ou desfrute estético: era uma arma na luta pela sobrevivência.
Os vestígios materiais dessas ações de evocação ou comunicação
nos oferecem uma maior aproximação com o denominado homem
pré-histórico.

Com o tempo, o antigo acampamento do caçador tornou-se perene.


Um local de abrigo permanente. Enquanto o homem do paleolítico
devia sua subsistência à caça, à coleta de alimentos, ao acaso ou
à sorte; com os vislumbres de uma agricultura e a domesticação
de animais iniciou-se o processo de fixação na terra. Ele tornou-
se sedentário. É o denominado período neolítico. Terras férteis e
ambientes geográficos propícios vão atrair essas comunidades agro-
pastoris.

Nessas novas condições, o homem desenvolveu a técnica de tecer


panos, fabricar cerâmicas e construir as primeiras moradias. Os
assentamentos tornaram-se, gradativamente, estáveis formando-
se as primeiras aldeias onde a vida se processava de forma cada
vez mais associativa. Mortes e nascimentos eram lamentados e
comemorados de forma conjunta. Delineia-se, então, a noção de
comunidade.

Sob a liderança feminina, mais adequada para os serviços agrícolas


e domésticos, a aldeia prospera. O período neolítico é farto em
recipientes: “é uma era de utensílios de pedra e de cerâmica, de Saiba Mais
vasos, jarros, tinas, potes, celeiros, casas e não menos de grandes
3
Ernest Fischer. A
necessidade da arte.
recipientes coletivos3” . Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1979.
Com o tempo, o acampamento transformou-se em abrigo cada vez

11
mais definitivo. As primeiras evidências da existência de estocagem
de alimentos surgem há aproximadamente 15.000 anos. É nesse
período que a arqueologia começa a identificar indícios desse
processo de fixação e da revolução agrícola que o causou.

A arqueologia e a história da arte vão encontrar mudanças nas formas


de registro ou representação neolítica, por exemplo, o abandono
gradativo das formas naturalistas na pintura e a sua substituição
por uma tendência esquemática. As formas realistas inspiradas na
natureza convertem-se em representações estilizadas e por vezes de
caráter (para o nosso olhar) abstratas. O artista sintetiza seu olhar.
Talvez, o emprego maior de tempo dedicado à plantação, colheita
e pastoreio seja responsável pela abstração de seus registros
pictóricos. A arquitetura, por sua vez torna-se o grande diferencial e,
em paralelo à cabana, vamos encontrar as construções megalíticas:
dolmens, menires e alinhamentos compõem a paisagem deste novo
momento da história da humanidade. Prospecções arqueológicas
realizadas nos vários continentes nos revelam que entre os
primitivos caçadores já se encontravam artistas. Habilitado a pensar
e a simbolizar, esse representante da humanidade estava apto para
recriar situações e representar suas emoções. Seus dedos traçaram
sua vida nas paredes das cavernas, utilizando pigmentos disponíveis
na elaboração de seus registros.

Desenhar, gravar e pintar, dar formas a materiais que abrangem


pedra, madeira ou o osso embasa esta ação de elaborar a iconografia
de seu universo. Em suas imagens podemos identificar animais,
caçadas, cenas de sexo ou ritualísticas. No vocabulário arqueológico
são representações de antropomorfos, zoomorfos ou fitomorfos.
Na História da Arte as primeiras atividades humanas miméticas no
sentido de apreensão e expressão de seu entorno.

Esse registro do entorno ou a evocação das forças da natureza


para a sobrevivência da espécie está presente tanto na pintura, na
gravura como na ação de moldar o barro. Nos suportes rochosos
cavalgam manadas, explodem danças, registram-se mãos, cores ou
relata-se ações sexuais. Na cerâmica aparecem as formas femininas
acentuadas (as Venus Esteatopígicas) (Figura 8) simbolizando a
Figura 8. Venus de necessidade maior da fertilidade da mulher e da terra confirmando
Lespugue. França. assim a relação da arte com a vida.
Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Venus_de_ Essas representações rupestres estão presentes em todos os
Lespugue_(replica).jpg
continentes dando a elas um caráter universal. Criando arte o homem

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encontrou para si um modo real de aumentar o seu poder e de
enriquecer a sua vida. As danças tribais que precediam uma caçada
aumentavam a sensação de potência da tribo tanto quanto as pinturas
corporais serviam para atemorizar o inimigo.

A arte existia voltada para o coletivo e, mesmo, como produção


comunitária. As pinturas de animais nas cavernas davam ao caçador
supremacia sobre a presa que alimentaria os demais e o próprio
xamanismo existia em prol do social. Uma sociedade gregária. Um
grupo social onde o individualismo e o isolamento significavam morte.

Embora com características universais em relação à temática e às


motivações, essas representações (reais no período paleolítico
e estilizado no neolítico) adquirem características próprias em
relação ao tempo e ao espaço e contribuem, dessa forma, para o
conhecimento das singularidades específicas de cada região.

As mais antigas representações iconográficas em cavernas, também


chamadas de pintura rupestres, estão localizadas na gruta Chauvet,
na Ardèche (França). Nesses abrigos pré-históricos, além das
representações que já citamos anteriormente, os símbolos mais
constantes são: as mãos, que podem significar além da ideia da
súplica aos poderes invisíveis, o conceito de posse sobre alguém
ou alguma coisa; o círculo que aparece frequentemente e às vezes
como espirais; a representação de atributos sexuais que poderiam
se constituir numa simbologia da fertilidade ou de poder: o ventre
feminino, ligado à procriação, e o falo ereto, presente em algumas
culturas, que representaria a supremacia masculina associada à ideia
de vitória naquela sociedade. Porém, na maioria dos registros, nas
múltiplas culturas, o animal é o símbolo mais frequente. É o ídolo e o
sustento. Objeto de veneração, magia e ambição.

Ao se fixar na terra o homem renova a arquitetura e também o


mobiliário. A função atribuída à maioria dessa arquitetura é de caráter
funerário ou religioso. A necrópole antecede, juntamente com o
santuário, o aldeamento. Essa cultura megalítica não faz parte de um
determinado lugar. Ela se faz presente em quase todos os continentes.
É testemunha do desenvolvimento da organização social neolítica
capaz de criar e construir tais estruturas. No mobiliário, na cerâmica
funcional, aparecem determinados tratamentos que representam uma
vontade de transcender o mero utilitarismo.

Os sítios arqueológicos mais conhecidos e estudados encontram-se


situados na Europa, sobretudo na França e no norte da Espanha,

13
na região denominada Franco-Cantábrica. Encontramos sítios
importantes também em Portugal, Itália, Alemanha, Romênia e
Bálcãs. Na Austrália, África e América do Sul, são conhecidos
milhares de localidades. O estudo sistemático desses sítios em alguns
países não é feito de maneira satisfatória no que diz respeito ao seu
levantamento e preservação. O Brasil se encontra nesse estado de
pouca exploração científica do seu patrimônio arqueológico.

A pesquisa arqueológica, no Brasil, que nasce com os viajantes


(naturalistas, botânicos, geólogos e paleontólogos) estrangeiros
enviados por seus países, no século XIX, comporta-se como ciência
de forma recente. As pesquisas tornam-se, porém, pouco a pouco
mais sistemáticas bem como a sua divulgação. Sítios com pinturas e
gravuras são descobertos todos os anos. Em nosso país eles mostram
determinadas características específicas: a atividade pictórica, por
exemplo, situa-se habitualmente na entrada de grutas, em locais que
serviam de refúgio ou em acampamentos temporários, utilizados para
caça ou para atividades rituais.

Segundo Anne Marie Pessis (203:17), quando os navegantes


europeus chegaram ao território, que depois seria denominado Brasil,
encontraram uma população antiga, culturalmente diversificada e bem
adaptada ao meio ambiente. Foi nesse contexto que se processou
a colonização baseada num choque profundo e devastador. Os
conquistadores cristãos, apoiados na ideia de catequese e na
supremacia da cultura branca hegemônica objetivaram a devastação
de uma cultura local que incluía apagar seus vestígios materiais.
Poucos sítios arqueológicos escaparam ao desmonte ou ao
esquecimento. Ainda segundo Pessis, a região sudeste do Piauí
(Figura 9) foi um destes poucos locais.

Figura 9. Antropomorfo. Sítio da Capivara. Vitor 1234. Fonte: http://commons.wikimedia.org/


wiki/File:Serra_da_Capivara_-_Painting_4.JPG

14
A região sudeste do Piauí, onde hoje está
localizado o Parque Nacional Serra da Capivara,
ficou momentaneamente excluída do processo
de colonização por ter sido área em litígio. Eram
as terras doadas à Companhia de Jesus por
disposições testamenteiras de Domingos Afonso
Sertão, homem de confiança da Casa da Torre e
tristemente famoso genocida de índios4. Saiba Mais
4
Anne Marie Pessis.
Nessa região, como em bem poucos outros locais sobreviventes Imagens da Pré-História.
e conhecidos tais como alguns no Estado de Santa Catarina e em São Paulo: FURDHAM/
PETROBRAS, 2003.
Minas Gerais, é possível recuperar a imagem dos grupos étnicos que
ali habitaram e resgatar seus registros milenares. Sítios com pinturas
e gravuras continuam sendo descobertos todos os anos, poucos,
entretanto recebem a atenção profissional necessária.

Nos sítios situados na região Nordeste, os registros de atividade


pictórica caracterizam-se por uma escolha por “abrigos de morfologia
variada, situados ao ar livre. Apenas raramente observou-se a
presença de pinturas situadas na entrada das grutas, mas sempre
em locais iluminados pelo sol5”. Muitas gerações são responsáveis Saiba Mais
por esses registros que são documentos para a arqueologia e 5
Anne Marie Pessis. Op.
manifestações artísticas para a História da Arte. Elas aparecem em Cit. p.20.

locais que, para aquelas sociedades, se constituíam em pontos de


abrigo temporário, acampamentos, que eram utilizados durante as
caçadas ou em atividades rituais.

Essa capacidade de representar graficamente o mundo sensível se


posicionando em relação a si mesmo e aos outros; essa reflexão
sobre sua própria percepção; a busca de controle da natureza
através da invocação do oculto; a escolha de ornar o que poderia ser
apenas utilitário são características que fazem com que o homem
pré-histórico, onde quer que ele tenha existido em termos territoriais,
transcenda de caçador ou xamã e se transforme em artista.

Você Sabia?
Que xamã na língua siberiana quer dizer na tradução literal “aquele que enxerga no
escuro”? Ou seja, ele, entrando em transe durante os rituais, manifestava poderes
sobrenaturais chamando e incorporando espíritos da natureza.

Que xamanismo é um termo usado para se referir a práticas mágicas ou religiosas


envolvendo cura, transe, supostas metamorfoses e contato direto entre corpos e espíritos
de outros xamãs, de seres míticos, de animais e dos mortos?

15
Que antropomorfo, por definição significa “aquele que tem a aparência humana”?
O termo é muito usado na arqueologia para designar figuras que se assemelham ao
homem desenhadas nas paredes das cavernas.

Que zoomorfo quer dizer “aquele que tem a forma de um animal” e que também aparece
ligado à Arqueologia da mesma forma que o antropomorfo?

E que fitomorfo significa “aquilo que tem uma estrutura semelhante a das plantas”? A
palavra também apararece frequentemente ligada aos estudos arqueológicos.

Que a palavra mimético vem de mimesis, que seria uma representação da natureza
para Platão e para Aristóteles, filósofos gregos? Portanto, mimético estaria ligado à ideia
de registro da realidade, sua apreensão, mesmo que de segunda mão, ou seja, traduzida
por alguém.

Vamos saber um pouco mais sobre


alguns artistas ou locais que citamos
até agora?
●● A Virgem de Vladimir: A Madona de Vladimir é um ícone ortodoxo
do século XII. O seu original foi copiado durante séculos. Produto
de corporação de artesões ele não tem autoria definida. Hoje, a
imagem está no museu Tretvakov, na Rússia.

●● Caverna de Altamira: A caverna de Altamira é relativamente


pequena. Tem apenas 270 metros de longitude e situa-se a
30km da cidade de Santander, na Cantábria, região da Espanha.
O conjunto pictórico ali encontrado foi descoberto em 1879. O
realismo de suas cenas provocou um debate em torno de sua
autenticidade, até ser aceita como uma obra artística realizada por
homens do Paleolítico.

●● Gruta de Lascaux: Trata-se de um complexo de cavernas situado


ao sudoeste da França. Suas paredes servem de suporte para uma
das mais conhecidas séries de pinturas rupestres. Cavalos, bisões,
felinos, entre outras representações realistas são a temática
desenvolvida em seu interior pelos artistas do paleolítico.

●● Leonardo da Vinci: Leonardo da Vinci, um dos principais


representantes da renascença italiana, nasceu em Vinci, próximo
a Florença, na Itália, em 15 de abril de 1452. Filho ilegítimo de
um notário florentino e de uma mulher de origem camponesa. Ele
foi criado por seu pai. Jovem, revelou sua vocação para as artes
plásticas. Foi, então, trabalhar como aprendiz com o escultor e
pintor Andrea del Verrocchio, por volta de 1467, com quem ficou

16
até 1477. Da Vinci foi patrocinado pelos grandes mecenas italianos
nas várias cidades-estado da Renascença. Mais conhecido por
sua pintura entre as quais podemos citar a Virgem dos rochedos
(c. 1483), a Gioconda (1503-1506) e a Última ceia (1495-1497).
Ele dedicou-se também ao estudo da anatomia, física, botânica,
geologia e matemática.

●● Rafael Sanzio: foi um dos mais importantes e conhecidos artistas


do Renascimento. Nasceu na cidade de Urbino, capital do
ducado do mesmo nome, em 6 de abril de 1483 e destacou-se
principalmente na pintura. Contemporâneo de Leonardo da Vinci
e Michelangelo foi influenciado, sobretudo por Da Vinci a quem
deve a técnica do esfumado. Executou diversas encomendas de
madonas para os mecenas italianos de sua época.

●● Sítio arqueológico da Serra da Capivara: A Serra da Capivara,


em São Raimundo Nonato, no Piauí, é a área onde existe a
maior quantidade de sítios arqueológicos de toda a América. Foi
reconhecido, em 1991, como patrimônio cultural da humanidade
pela UNESCO. Pinturas rupestres de várias datações povoam
seus paredões rochosos.

●● Venus de Willendorf: Trata-se de uma pequena escultura com


apenas 11.1 centímetros de altura que foi descoberta em um sítio
arqueológico perto de Willendorf, na Áustria. Ela foi desenterrada
em 8 de agosto de 1908 pelo arqueólogo Josef Szombathy. É
esculpida em calcário e colorida com ocre vermelho.

●● Venus Esteatopígicas: Série de estatuetas pré-históricas


de mulheres com características semelhantes: ventre e seios
proeminentes e grande abertura vaginal. Feitas em pedra mole,
ossos, marfim ou cerâmica, estas pequenas esculturas foram
encontradas em várias partes da Europa. As interpretações sobre
seu significado são variadas. Alguns arqueólogos acreditam que
elas são ícones de fertilidade ou representações de divindades.

Revisão
A arqueologia em sua busca, nos vários continentes, de conhecer o homem e suas
atividades no momento denominado, pelos estudiosos do século XIX, como pré-história
(admitindo como início da construção histórica a escrita) nos revela que entre os
primitivos caçadores já se encontravam artistas. Habilitado a pensar e simbolizar, esse
representante da humanidade estava apto para recriar situações e representar suas
emoções.

17
Seus dedos traçaram sua vida nas paredes das cavernas, utilizando pigmentos
disponíveis na elaboração de seus registros. Suas mãos moldaram o barro criando
deuses e gravaram pedras com símbolos cujo significado ainda se perde em um contexto
ignoto.

Podemos encontrar os vestígios da cultura material desses povos pré-históricos (que


podemos considerar como representações artísticas, sob o prisma da História da Arte)
nos suportes das cavernas utilizadas para fins domésticos ou de culto; em abrigos
temporários de caçadores ou locais utilizados para rituais.

No período paleolítico as representações (pintura, escultura ou gravura) são de caráter


mais naturalista. O realismo impera. No neolítico, quando o homem se sedentariza,
talvez devido ao tempo empregado na lavoura e no pastoreio, as representações se
tornam mais abstratas.

Os sítios arqueológicos mais conhecidos e estudados encontram-se situados na Europa,


sobretudo na França e no norte da Espanha, na região denominada Franco-Cantábrica.
No Brasil, a cultura dos povos pré-colombianos foi esmagada e seus registros, em grande
número, destruídos ou esquecidos. Entretanto, alguns sítios sobreviveram e passam a
ser estudados nas últimas décadas.

Atividades
Neste primeiro exercício, a atividade proposta é uma pesquisa. Vamos consultar o site
da FUMDHAM (http://www.fumdham.org.br/) e vamos pesquisar sobre a arte do homem
pré-histórico no Nordeste do Brasil. Vamos ver o que nossos ancestrais produziram. Em
função do material encontrado, confeccione um pequeno texto sobre o que percebeu.

18
Capítulo 2

As expressões e modelos
ancestrais: o Egito e a
Mesopotâmia

Objetivos do Capítulo
Estudar e compreender as formas artísticas expressas pelo homem urbano, no início da
formação das cidades, utilizando-se como exemplo a produção encontrada no Egito e na
Mesopotâmia.

A presença dos primeiros aglomerados urbanos parece ter acontecido


em terrenos banhados por grandes rios. Entre eles dois nos interessam
por estarem diretamente ligados às civilizações que estudaremos a
seguir. São eles: o Nilo e o Tigre-Eufrates.

Esses rios formaram o sistema vital para a transformação regional


da aldeia em cidade, funcionando como fonte de uma prosperidade
material estabilizadora das populações. Talvez o maior laço entre as
civilizações que ali floresceram, a egípcia e a mesopotâmica, seja a
geografia que gera o clima seco e desértico e os rios que alimentaram
as cidades. Sob outros aspectos elas se desenvolveram com
características diferentes apesar de contemporâneas.

Os grandes rios eram os locais possíveis para a agricultura, meio de


transporte e comunicação. Na Mesopotâmia (atual sul da Turquia,
Síria e Iraque) duas regiões diversas são perceptíveis: ao norte a
Alta Mesopotâmia formada por uma geografia montanhosa onde se
instalaram assírios e acádios e ao sul a Baixa Mesopotâmia, que
abrigou os sumérios e babilônios (Figura 10).

A cultura mesopotâmica pode ser situada, em seus primórdios,


em cerca de 3.200 a.C., a partir da chegada do povo sumério no
local. Posteriormente, na história ininterrupta das lutas humanas
pela hegemonia, vários grupos dominaram e foram dominados.
Os vencedores se alimentavam culturalmente dos vencidos e, por
isso, não devemos falar em uma civilização homogênea. Diferentes
culturas se encontraram naquele espaço geográfico e deixaram sua
herança para a posteridade.

19
Figura 10. Mapa da Mesopotâmia. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mesopotamia.PNG

Entre os povos da região o controle político era exercido por uma elite
que também controlava a religião. O chefe de Estado, porém não
era um deus como acontecia entre os egípcios. Ele era apenas um
representante dos deuses e acompanhado do clero, administrava as
cidades que tinham uma organização social feita de homens livres e
escravos.

Neste território, aconteceram inovações de grande importância: a


moeda, a roda, os rudimentos da astronomia, o sistema sexagesimal,
o correio, a irrigação artificial e, principalmente, o primeiro código de
leis: o de Hamurabi, rei da Babilônia. Entre os principais povos que se
estabeleceram na Mesopotâmia destacam-se os sumérios, acádios,
amoritas, assírios, caldeus, hebreus, hititas, fenícios e arameus entre
outros. Todos eles são responsáveis pelas características culturais
desta civilização.

A civilização egípcia desenvolveu-se no nordeste africano tendo um


início cronológico contemporâneo da Mesopotâmia em 3.200 a.C.
Como o rio Tigre e o Eufrates, o Nilo foi de vital importância para o
Egito. Ele era utilizado como via de transporte de mercadorias e de
pessoas sendo capital para o desenvolvimento econômico da região.

A sociedade egípcia era dividida em várias camadas sob a autoridade


do faraó. No topo da pirâmide estavam os sacerdotes, militares

20
e escribas. Sustentando-a lutavam os camponeses, artesãos,
pequenos comerciantes e escravos. Seus habitantes gostavam
tanto da vida que a fertilidade do Nilo proporcionava que adotaram a
morte. A esperança da eternidade manteve uma atividade constante
no sentido de preservar a vida após a morte com todos os confortos
terrenos. O Egito foi, portanto, a civilização das tumbas e dos templos
governados por um faraó/deus.

Essas duas civilizações vão gerar expressões artísticas específicas


e, analisando-as, vamos encontrar a sua riqueza e a diversidade.
Uma produção artística surgida de um homem urbano que apareceu
em dois lugares diferentes na mesma época e que desenvolveu
características distintas, embora tenha estado em contato desde os
seus primórdios.

Sobre a arte na Mesopotâmia


A arte na Mesopotâmia desenvolveu-se sob a influência dos muitos
povos que formaram sua cultura. É uma arte anônima, feita por
artistas/artesãos cujo nome nos é desconhecido e que se caracteriza
pela obediência a modelos estabelecidos. Esse fato, porém, não
caracteriza um processo artístico estático, sem transformações ao
longo dos séculos. Numerosas mudanças se processaram nos três
milênios de sua história para as quais contribuíram os inúmeros povos
que ocuparam seu território. Nele, não existiu apenas um centro
criador, gerador de modelos a serem seguidos, mas vários núcleos
de influência. Esse fato torna difícil pensar em termos de uma arte
homogênea na região. Estudando-a, vamos encontrar numerosos
traços comuns, mas também, uma grande variedade estilística.

Da arquitetura e da escultura
A arquitetura e a escultura aparecem como os principais meios de
expressão. Poucas manifestações pictóricas sobreviveram até
nossos tempos. Na arquitetura, o templo é a expressão dominante
tendo os palácios como coadjuvantes. Monumentais, eles abrigaram
as principais atividades comunitárias. As casas agrupavam-se ao
redor de uma área considerada sagrada que formava um complexo
arquitetônico que comportava não apenas os santuários, mas também
oficinas, depósitos e alojamentos de escribas.

No centro do complexo dominava uma plataforma elevada onde

21
ficava o templo do deus local: o zigurate. É o edifício mais típico da
civilização mesopotâmica. Este santuário se erguia sobre uma série
de degraus decrescentes e sobrepostos (Figura 11). O mais famoso
deles é a bíblica Torre de Babel, da qual só temos referências literárias
uma vez que foi completamente destruída.

Figura 11. Dur-Untash, construído no século XIII a.C. por Untash Napirisha e localizado
em Suza, no Irã, é um dos mais preservados zigurates do mundo. Zereshk. Fonte: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Choghazanbil2.jpg

Saiba Mais
O zigurate (Figura 12) é uma forma arquitetônica criada para abrigar funções de culto.
Ele foi criado pelos sumérios na Mesopotâmia e utilizado por babilônios e assírios. É
contruído na forma de uma pirâmide na qual cada andar possui uma área a menos que o
outro, inferior. Seu número (de andares) variava de dois a sete.

O centro da edificação era feito de tijolos queimados e o exterior era feito de tijolos cozidos
ao sol. Seus adornos eram envidraçados e em cores variadas. O acesso ao templo, que
se encontrava no topo da construção, era feito por uma série de rampas construídas de
forma a acessá-lo. Os exemplos mais antigos dessa tipologia arquitetônica datam de
cerca de três milênios a.C.

Figura 12. Modelo de zigurate. Fonte: http://commons.wikimedia.org/w/index.


php?title=File:Ziggurat.svg&page=1

22
Essa construção maior da civilização mesopotâmica (o zigurate) foi
planejada de forma que o fiel, partindo da base da escadaria, era
forçado a caminhar, em círculos, até chegar ao salão principal do
templo. A semelhança do zigurate com a pirâmide escalonada egípcia
nos permite observar o contato entre as duas civilizações.

No que diz respeito à escultura, ela é marcada pelos variados


estilos dos muitos povos que ocuparam sucessivamente a região.
As representações sumerianas destacam-se pela simplificação
das formas que remetem ao cone/cilindro (Figura 13). Os relevos
esquemáticos sumérios, com o tempo, ganharam um maior
naturalismo porém, suas características sintéticas sempre voltaram a
se reafirmar em suas representações. Um estilo mais flexível apareceu
na escultura sumeriana quando ela passou a combinar materiais
diversos: madeira, folha de ouro ou lápis-lazúli. Como temática temos
uma associação de animais/divindades que remonta à pré-história.

Os mestres, no campo da escultura, porém, são os assírios com seus


fascinantes murais em relevo que mostram desde batalhas cruéis às
cenas cortesãs (Figura 14). Nelas encontramos uma expressividade Figura 13. Detalhe de uma
e um realismo dignos de nota. A escultura babilônica, por sua vez, é escultura do Templo de
Abu. Tell Asmar. C. 2700-
notória por seus suntuosos relevos em tijolos vidrados.
2500 a. C. Mármore. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Mesopotamia_male_
worshiper_2750-2600_B.C.jpg

Figura 14. Leão ferido. Nínive. Calcário. Museu Britânico. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Assyrian_royal_lion_hunt.jpg

Sobre a arte egípcia


O século XIX e o início da pesquisa arqueológica sistematizada foi
de importância vital para o conhecimento das manifestações artísticas

23
do antigo Egito e suas variações estilísticas, lentas mais existentes,
presentes nos vários períodos pelos quais passou aquela civilização:
Antigo, Médio e Novo Império.

Para o conhecimento das circunstâncias políticas, sociais e


econômicas que possibilitassem o estabelecimento de parâmetros
que tornassem possíveis um aprofundamento mais seguro em relação
ao conhecimento dos aspectos culturais e, portanto artísticos dos
egípcios, foi vital decifrar os hieróglifos, o que foi feito por Champollion
na Pedra de Roseta, também naquele século: o dezenove.

A documentação arqueológica revela a civilização egípcia já


plenamente formada, no final do IV milênio a.C. Documentos
encontrados nas tumbas reais nos informam sobre a conquista
das aldeias situadas na região pelo soberano que já não era o
representante do deus, mas o próprio deus. Seu domínio espiritual,
garantindo a fecundidade do rio Nilo, equivalia ao temporal através
do qual ele recebia o excedente da produção o que possibilitou a
construção de obras públicas, cidades e templos e, principalmente,
sua tumba monumental.

Essa importância do soberano faz com que a história do Egito


fosse dividida em dinastias que marcam a sua cronologia bem
como a presença desse faraó/deus, cuja realeza não era delegada
por nenhum poder divino, mas era absoluta em si mesma. Outra
característica dessa sociedade desenvolvida, em torno do fértil rio
Nilo, é que a morte era apenas a continuação da vida, no sentido de
que cabia ao homem buscar sua felicidade após a morte, equipando
a sua sepultura com uma réplica do seu ambiente cotidiano. O nosso
conhecimento da produção artística desta civilização baseia-se no
conteúdo dessas sepulturas.

Na medida em que a acumulação de riquezas se processou, as


tumbas e os monumentos aumentaram de imponência. Essas
edificações monumentais não se constituem no centro da urbe, mas
formam uma cidade independente com características de divindade
e eternidade, o que a diferencia da cidade dos homens de caráter
transitório e mortal. Essa realidade urbana, de caráter divino, tem na
pedra seu principal material e busca através dele sua imutabilidade.
É a cidade dos mortos, que nela repousam cercados de tudo que é
necessário para uma vida na eternidade. Ela se contrapõe à cidade
dos vivos que é construída de tijolos e é vista como um espaço de uso
temporário.

24
A arte egípcia serve a objetivos políticos e religiosos. O faraó é objeto
de homenagem constante, no universo das representações artísticas,
bem como as divindades de sua mitologia. Essa arte oscila entre uma
postura conservadora e a inovação. Entretanto, apesar de não ser
estático, o objetivo maior dessa produção artística, ao longo de suas
lentas transformações, foi elevar custosas e monumentais tumbas
para proporcionar às suas inúmeras divindades (inclusive seus
faraós) suntuosas moradias. Portanto, é nos templos e tumbas que
iremos encontrar a expressão maior dessa civilização.

Da arquitetura
Essa arquitetura, da qual os exemplos civis não existem mais, uma
vez que foi a construção religiosa que foi concebida e executada
para durar para sempre, é exemplificada através de seus templos e
de suas sepulturas. O templo egípcio não é um local voltado para a
congregação de fiéis, mas a casa do deus. As sepulturas destinam-se
a função de moradia póstuma do Ka, o que poderíamos comparar em
nossa cultura com o espírito do falecido.

No Antigo Império a arquitetura egípcia começou com materiais


perecíveis tais como tijolos de argila, madeira, junco. Imhotep, autor
da pirâmide de Zozer (Figura 15), o primeiro artista que a história
registrou, substituiu esses materiais pela pedra talhada, embora
não tenha mudado o vocabulário formal arquitetônico. Nesse
período, ocorre o desenvolvimento da pirâmide que atinge seu ponto
culminante na Quarta Dinastia com as Pirâmides de Gisé (Figura 16).
Essas construções simbolizam o apogeu do poder dos faraós. Após o
término da Quarta Dinastia essa escala monumental é substituída por
pirâmides mais modestas. Essas características permanecem durante
o Médio Império.

Figura 15. Pirâmide em degraus. Roweromaniak. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/


Ficheiro:Sakkara_C02-32.jpg

25
Figura 16. Pirâmides de Gisé. Ricardo Liberato. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:All_
Gizah_Pyramids.jpg

No Novo Império, observamos o colapso da centralização do poder


faraônico ao término da Sexta Dinastia. A autoridade é de certa forma,
usurpada durante esse período pelos governadores provinciais.
Somente nas últimas dinastias do período os reis reafirmaram seu
poder. Logo depois do encerramento da Décima Segunda Dinastia o
território egípcio foi invadido pelos hicsos, um povo asiático ocidental,
que o dominou por cerca de cento e cinquenta anos. Retomado
Figura 17. Templo de Amon- novamente o poder pelos faraós, o país chega ao apogeu com
Mut-Khonsu. Luxor. Marc
Ryckaert (MJJR). Hajor. Fonte:
Ramsés III. Neste período, a arquitetura se expressou nos imensos
http://en.wikipedia.org/wiki/ templos de Amon, por exemplo, o templo de Luxor (Figura 17).
File:Egypt.LuxorTemple.02.jpg
Foi também durante o Novo Império que apareceu o revolucionário
Akhenaton que subverteu a religião e o poder político instituindo o
culto de Aton em substituição ao de Amon. Ele tentou também diminuir
o poder da casta sacerdotal. No que diz respeito às artes, como em
relação à vida, ele se posicionou de forma inovadora introduzindo um
novo ideal estético. Nele, o realismo marca presença em contraste
com a idealização anterior. Além desse senso de realidade (Figura
18), o estilo desenvolvido durante seu governo buscou fugir da
imobilidade tradicional introduzindo uma relativa noção de movimento.
A tradição do culto a Amon foi restaurada após a morte de Akhenaton,
mas suas inovações artísticas permanecem durante um longo período
de tempo.

Figura 18. Nefertiti. Museu Da escultura


do Estado. Berlim. Arkadiy As esculturas e relevos não buscavam o prazer estético. Elas eram a
Etumyan.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ morada do ka. Portanto, a imagem esculpida era personalizada. Seu
Ficheiro:Nefertiti_30-01-2006.jpg modelo era registrado jovem, vigoroso e com a devida inscrição de

26
seus títulos. Essas esculturas tinham uma função mágica, já que as
imagens deviam proporcionar ao proprietário “retratado” uma forma
de vida semelhante à desfrutada na terra.

A representação do corpo humano também é particular na cultura


egípcia: as partes salientes eram representadas de perfil e as demais
frontalmente. A cabeça, por exemplo, é representada de perfil (com
exceção do olho), enquanto o torso e ombros estão de frente e o
peito e o abdômen de lado. Pernas e braços, nesse contexto, são
plasmados sempre de perfil. O material mais usado era a pedra,
embora outros também fossem utilizados tais como o cobre, o bronze
e o ouro.

A escultura monumental caracterizava o poder faraônico. A partir da


Segunda Dinastia aparecem as esculturas representando o faraó
sentado, só ou acompanhado de sua esposa, com o olhar fixo na
eternidade. Impassível (Figura 19). Essa estatuária obedece a “lei da
frontalidade” o que contribui para ressaltar a sensação de calma e de
poder.

No antigo e médio império a representação escultórica manifesta-


se de forma oficial quando é encarregada de mostrar o rei como um
poderoso governante. É, então, monumental e colocada nos templos
ou nas fronteiras do país expressando força e poder. Outro sentido,
o funerário, também embasa a escultura do período. Através dele, o
faraó aparece como um ser imortal, sem a preocupação do retrato, Figura 19. O príncipe
Rahotep e sua esposa
embora características individuais sejam aplicadas ao rosto. Nofret. Calcário pintado.
H. 1.20 m. Fonte: http://
No Novo Império, com a renovação do poder do rei, observam-se en.wikipedia.org/wiki/File:Prince_
influências chegadas do exterior em virtude da expansão territorial Ra-Hotep_and_Princess_
Nefer-T_(cropped).jpg
do período. Gigantescas esculturas dos reis, de então, nos chegam
de tumbas e templos. São objetos de adoração. Nelas o monarca
aparece como o mediador entre o homem e a divindade. No que diz
respeito à escultura particular (ou seja: a que não tem a chancela
oficial da realeza) as imagens procedem das casas, templos e tumbas.
Geralmente são influenciadas pela iconografia da realeza e mostram
o indivíduo jovem e com os símbolos de sua posição social explícitos.

Da pintura e relevos
O relevo pintado é a expressão maior do processo pictórico egípcio
e era empregado tanto nas tumbas quanto nos templos. Era a forma
ideal a que todos queriam ter acesso. Quando, porém, isso não era

27
possível recorria-se somente à pintura. O alto custo desses relevos
pintados é uma das causas pelas quais a pintura passa a ser mais
utilizada sozinha, principalmente no Novo Império. Entretanto, ela é
mais utilizada no interior enquanto os relevos são reservados para o
exterior das construções.

A pintura egípcia caracteriza-se pelo contraste entre cores fortes


que eram obtidas de substâncias minerais (Figura 20). Utilizava-se a
têmpera como técnica, ou seja: os pigmentos eram diluídos em uma
cola solúvel. A temática abordava cenas de oferenda, vitória sobre
os inimigos, caça ou deuses. A partir da Quinta Dinastia aparecem
os textos associados a ela que expressam os rituais, sortilégios e
receitas necessárias para assegurar um destino favorável no além.

Você Sabia?
Que para a Antiga Civilização Egípcia, o homem era formado por uma série de conceitos
Figura 20. Pintura parietal. presentes no momento do seu nascimento e da sua morte? O que hoje chamamos alma,
Nefertari em seu túmulo. corpo e espírito eram para os antigos egípcios o ka. A morada do Ka era o túmulo onde
Fonte: http://pt.wikipedia. esculturas representavam o morto e deveriam conter seu espírito, o Ka. Por isso a cidade
org/wiki/Ficheiro:Maler_der_
no Egito era mais voltada para os mortos do que para os vivos.
Grabkammer_der_Nefertari_004.
jpg

Vamos conhecer o único artista citado?


●● Imhotep: Conhecido como o primeiro arquiteto citado na história,
o artista foi o autor do projeto da primeira pirâmide do Egito. Ela foi
construída com seis imensos degraus e atinge aproximadamente
62 metros. Ele serviu o faraó Zozer, rei da terceira Dinastia,
inclusive como arquiteto.

Revisão
Neste capítulo estudamos as manifestações artísticas que ocorreram nas civilizações
contemporâneas, que se estabeleceram nas margens dos rios Tigre/Eufrates e do Nilo: a
Mesopotâmia (atual sul da Turquia, Síria e Iraque) onde se instalaram assírios, acádios,
sumérios e babilônios; e a civilização egípcia que se desenvolveu no nordeste africano.

A arte na mesopotâmia desenvolveu-se sob a influência dos muitos povos que


formaram sua cultura. É uma arte anônima, feita por artistas/artesãos cujo nome nos é
desconhecido e que se caracteriza pela obediência a modelos estabelecidos. Esse fato,
porém, não caracteriza um processo artístico estático, aconteceram transformações ao
longo dos séculos.

28
A arquitetura e escultura aparecem como os principais meios de expressão e poucas
manifestações pictóricas sobreviveram até nossos tempos. Na arquitetura, o templo é
a expressão dominante tendo os palácios como coadjuvantes. O zigurate é o edifício
mais típico da civilização mesopotâmica. A escultura é marcada pelos variados estilos
dos muitos povos que ocuparam sucessivamente a região. Os sumérios, porém são os
mestres nessa expressão artística.

A arte egípcia serve a objetivos políticos e religiosos. O faraó é objeto de homenagem


constante, no universo das representações artísticas, bem como as divindades de sua
mitologia. É nos templos e tumbas que encontraremos suas principais manifestações:
arquitetura, escultura, relevos e pinturas. Cronológica e estilisticamente representada
pelas dinastias que se sucedem no governo do território egípcio, a expressão artística
daquela civilização é marcada pela ideia de vida após a morte, característica cultural que
define aquela sociedade.

Atividades
A arte egípcia é antes de tudo simbólica. Suas representações estão repletas de
significados que tem implícito toda uma contextualização que estabelece a descrição das
situações estabelecidas.

Entre esses símbolos, a hierarquia social, religiosa e familiar é extremamente


importante na sociedade egípcia. Ela traduz-se, na representação artística. Na arte
daquela sociedade, o artista atribui diferentes tamanhos às diferentes personagens,
de acordo com a sua importância. Por exemplo: o faraó será sempre a maior figura
numa representação bidimensional e a que possui estátuas e espaços arquitetônicos
monumentais.

A partir dessa premissa analise essa imagem familiar da IV Dinastia, Casal com seu
filho, em um texto sucinto (Figura 21).

Figura 21. Fonte: http://


pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Egypte_louvre_288_
couple.jpg

29
Capítulo 3

Grécia e Roma: nossas


referências ocidentais

Objetivos do Capítulo
Buscar compreender o desenvolvimento das Artes Visuais na Grécia, em seus vários
momentos, e na Roma imperialista que a conquistou em termos bélicos, mas que foi
conquistada no que diz respeito à cultura e expressões artísticas.

Sobre a Grécia
As mais importantes culturas que floresceram no Egeu, em Creta, e
que exerceram influência sobre toda a Grécia continental, mais rude
e tosca nesta época, foram a cretense ou minóica e a micênica. Os
minóicos não falavam grego. Os micenenses, entretanto, descritos por
Homero como os personagens da guerra de Troia, foram as primeiras
tribos, que falavam este idioma naquele espaço territorial.

Ambas as civilizações desapareceram. A cretense, provavelmente


tragada pela micênica, mais belicosa. Um povo guerreiro contra uma
civilização que se dedicava ao luxo, característica que transparece
em seus vestígios arqueológicos: uma civilização urbana na qual a
navegação e o comércio foram fundamentais.

Os minóicos existiram em um espaço sem muralhas com grandes


palácios que eram centos administrativos, políticos, econômicos
e religiosos. Esses palácios imensos marcam sua história. O luxo
e o refinamento são sua característica principal. Com colunas
policromáticas, paredes, tetos e pisos ricamente decorados e contando
com uma infraestrutura que incluía até banheiros, esses palácios,
cujo mais importante é o de Cnossos (Figura 22), caracterizam uma
cultura voltada para o prazer. Segundo Munford (182:139):

Seus refinados hábitos de vida, sua segurança


aparentemente indesafiável, podem, com o tempo, Figura 22. Palácio de Minos.
ter gerado uma decadente classe dominante; e, Cnossos. Aviad Bublil.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
alguns séculos depois de um terremoto devastador, wiki/Ficheiro:KnossosSemune.
todas as suas criações foram varridos pelos jpg
bandos guerreiros micênicos.

31
O fato é que, por volta de 1450 a.C., essa civilização decai. É a hora
dos micênicos, conquistadores hábeis na violência e na pilhagem,
que passaram a controlar a ilha de Creta que perde a sua posição no
Egeu.

Coincidindo com o declínio cretense, a civilização micênica, guerreira,


floresce. Cada cidade é dominada por uma imponente fortaleza
(Figura 23), localizada sempre no ponto mais alto do território. Essas
muralhas, feitas de grandes blocos de pedra, tinham portas imensas
que eram extremamente bem defendidas (Figura 24). No seu interior
encontravam-se as casas dos dignitários e o palácio real. Eram
cidades preparadas para o ataque e a defesa.

Figura 23. Fortaleza de Micenas. Cnossos. Qwqchris. Fonte: http://commons.wikimedia.org/


wiki/File:Mykene.JPG

Figura 24. Porta dos Leões. Micenas. David Monniaux. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Mycenae_lion_gate_dsc06382.jpg

Mais tarde, em torno de 1100 a.C., outras tribos vieram triunfando


e incorporando a cultura das que já estavam na região: os dórios
estabeleceram-se na área continental e os jônios espalharam-se

32
pelas ilhas do Egeu. Foi a junção de todas estas culturas que gerou a
que conhecemos como grega.

E como se uniram essas múltiplas sociedades tribais que se fizeram


presentes sucessivamente na região? Na uniformidade da língua
e das crenças religiosas está a resposta. Foram esses dois fatores
que definiram o povo grego. Entretanto, velhas lealdades tribais
continuaram a dividi-los agrupando-os em cidades-estados rivais.

Talvez, nesta disputa contínua por poder e riqueza, esteja o elemento


catalisador para o seu desenvolvimento cultural. A Grécia inspira os
povos e culturas que a sucederam, até nossa contemporaneidade, por
suas realizações. Principalmente, no que diz respeito às artes. Mas,
no final, essa desunião, essas guerras foram os grandes responsáveis
pelo declínio do poderio grego. Elas abriram a porta para Alexandre
da Macedônia e, posteriormente, para os romanos imperialistas.

Sobre períodos e expressões artísticas


na Grécia ancestral

O período geométrico e a Grécia arcaica


A fase de formação da civilização grega compreende em torno
de quatrocentos anos dos quais, dos primeiros trezentos, pouco
sabemos. Em cerca de 800 anos a.C., os gregos surgem para a
história. Foi um período cuja produção artística é denominada como
geométrica ou arcaica.

No que diz respeito à arquitetura um dos traços mais marcantes do


período é o surgimento de um edifício destinado ao culto. Porém é
necessário compreender que, nessa civilização, esta edificação, o
templo, não estava destinada à congregação de fiéis, mas à residência
do deus, representado por uma escultura.

Ao longo do século VII a.C., ele passou a ser construído em pedra


e obedeceu a um esquema de funcionamento arquitetônico que
permanece com poucas variações. Sua planta baixa (Figura 25) consta
de uma sala central retangular, a cela, que é precedida de um pórtico,
o pronaus. Essa cela, por vezes é seguida de outro compartimento
denominado de opistódomo, uma câmara onde se guardava o tesouro
do templo. A fachada desta edificação é composta por colunas,
situadas na frente e atrás, ou é completamente circundada por elas.
O espaço que circunda a edificação recebe o nome de Peristilo.

33
Figura 25. Planta baixa de templo grego. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Peripteros-
Plan-Naos-bjs.png (Modificado)

O Peristilo assemelha-se a um corredor coberto e circundante, aberto


lateralmente através de uma ou mais fileiras de colunas. Ele circula
a estrutura central da edificação. O Pronaos é uma antecâmara que
antecede o Naos que é o espaço onde é colocada a divindade. É
importante que rememoremos que a função do templo grego é de
servir de casa da divindade e não de espaço de confraternização
de fiéis. O Opistódomos é uma câmara oposta ao Pronaos onde era
guardado o tesouro do templo.

É o elemento que vem acima das colunas, o capitel, que define de


forma mais marcante a que ordem arquitetônica pertence o edifício.
São elementos que amarram a produção arquitetônica grega e a
definem. A trajetória estilística dessas ordens processou-se à medida
que o templo surgiu como uma edificação independente. Nesse
processo desenvolveram-se estilos regionais. Dois aparecem no
século VI a.C.: o dórico e o jônico. O coríntio em torno de 430 a.C.

O estilo dórico, em relação ao capitel, ostenta um elemento curvo


denominado de equino sobre o qual descansa um bloco retangular:
o ábaco (Figura 26). O jônico (Figura 27) apresenta uma coluna mais
esbelta e busca o ornamento. O seu capitel, que foi planejado para ser
visto por frente ou por trás, possui um corpo de volutas enroladas em
espiral. Finalmente, o coríntio (Figura 28) mostra um capitel envolto
por folhas de acanto. O estilo coríntio tornou-se popular na arquitetura
helenística e romana e é o que mais se aproxima dos utilizados,
posteriormente, por influência da cultura grega em outras sociedades.

34
Figura 26. Capitel dórico. Giovanni Dall’Orto. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:0422_-_Siracusa_-_Tempio_di_Apollo_-_Foto_Giovanni_Dall%27Orto_-_21-May-2008.jpg

Figura 29. Kouro. Fonte:


http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Kouros_anavissos.jpg

Figura 27. Capitel jônico. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jonisk1.png

Figura 28. Capiteis coríntios. Ifernyen at fr.wikipedia. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/


Ficheiro:Grece_athenes_olympion_det.jpg

A escultura desenvolvida no período arcaico tem o seu protótipo no


Kouros (Figura 29) e na Kore (Figura 30). Rígidas e frontais, essas Figura 30. Kore. Marsyas.
Fonte: http://en.wikipedia.org/
representações de jovens, respectivamente do sexo masculino e wiki/File:ACMA_679_Kore_1.
feminino, são encontrados em lugares de culto e em tumbas. Os JPG

35
Kouros sempre estão representados nus, com um sorriso vago
semelhante nos lábios, denominado pelos estudiosos de “sorriso
arcaico”. A posição de seus braços, com as mãos cerradas e junto
ao corpo, bem como sua postura com a perna esquerda avançada;
seus cabelos encaracolados e a interpretação enfatizada da rótula do
joelho são outros elementos que caracterizam essa representação
escultórica. A Kore, por sua vez, é sempre representada vestida com
uma roupagem que adere a seu corpo e tambem apresenta a mesma
rigidez postural do Kouros bem como o seu “sorriso arcaico”.

Sobre a pintura desenvolvida nesse momento grego nós pouco


conhecemos. Ela só sobreviveu nas cerâmicas utilitárias. Inicialmente,
aparece geometrizada (daí o outro nome dado ao período): são
triângulos, formas em xadrez ou círculos. Posteriormente, figuras
humanas e de animais começam a aparecer no interior dessa moldura
geométrica. Normalmente a temática ali desenvolvida envolve heróis,
deuses e atletas: cenas tomadas da mitologia ou da vida cotidiana.
Inicialmente encontramos a chamada Pintura Negra (Figura 31), com
pinturas narrativas nessa cor na superfície cerâmica dos vasos. Em
torno dos anos 500 a.C. surge a Pintura Vermelha (Figura 32) que dá
ao artista maiores possibilidades de representar expressões faciais.

Figura 31. Pintura Negra. Saiba Mais


Ricardo André Frantz
(User:Tetraktys). Fonte: Nesse destaque de um vaso grego vemos as figuras negras inseridas em uma moldura
http://pt.wikipedia.org/wiki/ de elementos geométricos. Essa característica dá um dos nomes do período: geométrico.
Ficheiro:Anforagrega-atenas.jpg As cenas pintadas nesse contexto normalmente registram deuses, heróis ou atletas
(Figura 33).

Nesse vaso vemos uma cena da ilíada na qual Enéias, genro de Priamo, carrega no colo
seu velho pai Anquises e foge das ruínas da cidade destruída. O artista detalha bem os
personagens apesar da manutenção da bidimensionalidade característica deste período.

Figura 32. Pintura Vermelha.


Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Dionysos_
kantharos_Louvre_CA2981-
Figura 33. Vaso Grego. Estilo Arcaico. Museu do Louvre, Paris. Fonte: http://fr.wikipedia.org/
2984.jpg
wiki/Fichier:Aineias_Ankhises_Louvre_F118.jpg

36
O século de ouro: a Grécia clássica
O florescimento da cultura grega atinge seu apogeu no século V a.C.,
também chamado século de ouro, onde, sob o comando de Péricles,
ela alcança a sua maior expressão. É o chamado Período Clássico.
Podemos situar esse momento entre a invasão da Grécia pelos
persas (481-480 a.C.) e a dominação de Alexandre Magno (323 a.C.).

A arquitetura é marcada pela restauração de Atenas que teve


seus templos e estatuária destruídos pelos turcos em 480 a.C.
Sob o comando de Fídias, o mais famoso escultor ateniense, essa
recuperação do seu patrimônio urbano envolveu a participação dos
arquitetos Ictinos e Calicrates que projetaram o Partenon (Figura
34), seu templo mais conhecido, exemplo do equilíbrio clássico na
arquitetura.

Figura 34. Partenon. Atenas, Grécia. Onkel Tuca!. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/


Ficheiro:Parthenon.JPG

No que diz respeito à escultura, ela engloba uma temática que


envolve deuses, heróis e homens, neste caso, sobretudo atletas
vencedores, representados não de forma real, mas ideal. Ou seja,
o artista clássico não estava interessado na natureza como ela é,
mas em como ela deveria ser. Assim, se o escultor representasse o
corpo humano ele seria um parâmetro da perfeição, do equilíbrio das
formas, de um naturalismo de proporções harmoniosas. A expressão
deste “belo ideal”, nas representações dos rostos, é séria, meditativa.
Alguns autores a classificam como “olímpica”. Todos os artistas
recorrem a este padrão idealista, mas é com Fídias que a escultura
grega clássica alcança seu apogeu.

37
Outro escultor notório, naquele momento da cultura grega, é Policleto.
Dele conhecemos, através de cópias romanas em mármore, o
Doríforo (Figura 35) feito em bronze. Trata-se de um corpo de jovem,
sereno, pensativo que carrega uma lança cujo peso recai sobre sua
perna. A sensação de movimento, comum neste período, aparece
nesta obra bem como no Discóbolo, atribuído à Míron, outro escultor
clássico conhecido que se notabilizou pelas suas representações de
atletas em ação (Figura 36).

Míron, um dos grandes artistas desse momento representa nesta


escultura (Figura 36), provavelmente cópia do original, o corpo de um
jovem atleta lançador de disco em um momento de esforço da prática do
esporte. Uma das mais notáveis características da escultura é a harmonia
que vem junto com a simetria na execução do artista que se preocupa em
mostrar músculos e ossos em um corpo cheio de vida. A escultura respira
através da execução do artista. O original da obra, provavelmente feito
em bronze, perdeu-se como a maioria das obras do período.

A pintura deste momento da arte grega, de acordo com fontes


literárias, fez avanços notáveis. Infelizmente não restam registros,
Figura 35. Mármore romana
do original de Policleto. murais ou de grandes proporções, materiais dessa atividade artística.
Museu Arqueológico de Os vasos, novamente, são as fontes de referência. Principalmente
Nápoles. Fonte: http://
os denominados lécitos (Figura 37) que serviam para guardar óleos
pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Doryphoros.jpg destinados a unção. Eles eram usados como oferendas funerárias e
recobertos de tinta branca sobre a qual o pintor desenhava. Nesses
vasos registra-se uma grande habilidade do pintor grego. Ele cria
figuras tridimensionais, dominando muito bem essa representação
através de sua técnica.

A arte do período helenístico: a Polis e


as influências externas
Apesar das conquistas artísticas e culturais, o conhecido século de
ouro da Grécia foi marcado por inúmeras guerras. Elas envolveram as
cidades gregas e foram responsáveis pelo enfraquecimento daquele
mundo e pelas posteriores invasões estrangeiras. A conquista do
território grego pelos macedônios, liderados por Alexandre o Grande,
foi resultado desse processo de decadência.

Figura 36. Discóbolo. Míron. Alexandria, no Egito, tornou-se a metrópole da civilização helenística.
Glyptothek Munich Fonte: Entre as particularidades inerentes a essa nova situação política
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Greek_statue_discus_ o desaparecimento da cidade-estado, a polis, que caracterizava
thrower_2_century_aC.jpg a cultura grega, resultou em uma maior abertura para informações

38
exógenas. O mundo grego tornou-se cosmopolita.

Esse processo de múltiplas mudanças (sociais, políticas e econômicas)


vai se refletir na produção artística helenística. A arquitetura modificou
suas premissas tornando-se ampliada, monumental e movimentada.
Aos edifícios característicos da fase anterior acrescentaram-se
os palácios reais, as sedes administrativas das municipalidades
(beleutérios), altares gigantescos, túmulos monumentais, banhos
públicos, museus e bibliotecas. Novos equipamentos para novos
tempos. As próprias habitações tornam-se mais amplas e mais
equipadas para o conforto de seus usuários. Processa-se uma
procura do suntuoso, do monumental que no período anterior não
existia. Um exemplo dessa arquitetura imperial é a torre da ilha de
Figura 37. O pintor de
Faro, em Alexandria (Figura 38). Ela foi concebida pelo arquiteto
Aquiles. Vaso ático com
Sóstrato de Cnido. Apesar de não mais existir, é ainda um referencial fundo branco. Período
preservado através da literatura. Clássico. Fonte: http://
commons.wikimedia.org/
wiki/File:Mousai_Helikon_
Staatliche_Antikensammlungen_
Schoen80_n2.jpg

Figura 38. Representação de como teria sido o Farol de Alexandria. Emad Victor
SHENOUDA (de:User:Xlance original uploader to de:). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:PHAROS2006.jpg

A escultura, por sua vez, perde a serenidade anterior e passa a


mostrar emoções. Ela traz uma carga de sofrimento, sensualidade
e expressionismo (Figura 39) que diverge diametralmente das
esculturas impassíveis do clássico. Outro fator novo que vai aparecer
é a presença do retrato e do nu feminino. Os escultores mais
Figura 40. Praxíteles.
renomados do período são Praxíteles, Scopas e Lisipo. Da produção Afrodite de Cnido. Fonte:
de Praxíteles destaca-se a Afrodite de Cnido (Figura 40), um dos http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Cnidus_Aphrodite_
mais famosos corpos femininos representados em estado de nudez. Altemps_Inv8619.jpg

39
Figura 39. Laocoonte e seus filhos. Cópia romana talvez Baseada Agesandro, Atenodoro
e Polidoro de Rodes. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Laocoon_Pio-Clementino_Inv1059-
1064-1067.jpg

Saiba Mais
Entre as mais famosas esculturas de Venus, a de Milo (assim denominada porque
foi encontrada enterrada na ilha de mesmo nome) talvez seja a mais conhecida.
Provavelmente ela foi representada juntamente com Eros, o seu filho. Própria do
período helenístico grego, onde o nu feminino se faz presente, nela podemos observar a
simplicidade e clareza com que o artista modelou seu corpo.

O artista lhe atribui uma serenidade animada que caracteriza o helenístico, conhecido
por uma maior carga de emoção dada às suas representações. Essa animação das
feições, entretanto, não lhe destrói a beleza olímpica de deusa.

Figura 41. Venus de Milo.


Mármore. Louvre, Paris. Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Venus_de_Milo_Louvre_
Ma399_n4.jpg

Figura 42. Cena da vida de Íxion, Casa dos Vetti, Pompeia. Fonte: http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Pompeii_-_Casa_dei_Vettii_-_Ixion.jpg

Poucos exemplos de pintura mural grega sobreviveram através

40
dos séculos. Foi necessário nos contentarmos com os afrescos
sobreviventes de Herculano e Pompeia (Figura 42), onde a influência
helenística se fazia presente, para tentarmos ter a dimensão da pintura
do período. Certos trabalhos em afresco fornecem uma boa ideia
dessa pintura. Recentemente descoberto, o Mosaico de Alexandre
(Figura 43) pode ser uma reprodução, nesta técnica, do afresco
helenístico descrito pelo historiador Plínio, o Velho. Ele nos dá a
dimensão da magnitude da pintura mural praticamente desaparecida.

Figura 43. O Mosaico de Alexandre. Cópia romana do original Grego de Filoxeno de Erétria.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Alexmosaic.jpg

Sobre Roma
Juntamente com a arte grega, a etrusca exerceu forte influência sobre
a produção romana: um legado cultural decisivo para a formação do
que conhecemos como o mundo ocidental.

Por volta do século VII a.C., Roma era apenas uma modesta cidade
situada no Lácio, uma região situada no centro da Itália. De acordo
com Heródoto, historiador do período clássico grego, os etruscos se
estabeleceram na Toscana, região italiana, vindos da Lídia, na Ásia
Menor. Os séculos VII e VIII a.C. viram os etruscos no auge de seu
poder enquanto Roma apenas engatinhava. Como se processou essa
mudança de poder?

Apesar da fundação de Roma estar normalmente envolta em lendas


ou explicada através da literatura (como é o caso da Eneida de
Virgílio que atribui a sua fundação a Enéias, genro do rei Priamo
de Troia) esse povo, antes nômade, quando se instalou no Lácio foi
inicialmente submetido ao poderio em expansão dos etruscos que
ocupavam vastas áreas da Itália conquistando os povos da região.

41
Em direção ao sul, tomaram Roma que era então apenas um
aglomerado de aldeias. Acredita-se que durante o período monárquico
romano, alguns reis foram estruscos como os Tarquínios, uma dinastia
estrusca. Eles governaram Roma em torno de 616 a 509 a.C.

Os etruscos, como os gregos, nunca formaram uma nação unificada


e também abrigaram o sistema de cidades-estados. Provavelmente,
esse fato contribuiu para que, no final do século III a.C., eles
perdessem sua independência para Roma que incorporou a Etrúria
ao seu território.

Entretanto, dominar belicamente não é vencer culturalmente. Roma


domina, mas adota algumas formas da arte e da técnica etrusca da
mesma forma que a grega. Entretanto, a arte criada sob o patrocínio
romano obedece a determinados padrões que, apesar das influências,
têm um estilo próprio. Ou seja, Roma assimila mas traduz. Sua
sociedade, aberta e cosmopolita, apreende os traços regionais, mas
os adapta a um modelo romano.

Saiba Mais A arquitetura romana como forma de


6
Os etruscos não foram registro imperialista
os inventores do arco de
plena volta, que remonta
O respeito pela arte grega (pela arquitetura em particular) fez com
ao Egito, mas eles foram que os romanos adotassem as ordens dórica, jônica e coríntia em
os primeiros a usá-lo suas edificações. Entretanto, entre todas as manifestações artísticas
como forma arquitetônica
(pela estética do do povo romano, a arquitetura pode ser considerada a mais criativa.
elemento em si) além Embora eles, os romanos, tenham aprendido a arte de construir
de mero instrumento de
sustentação. com os estruscos e encampado sua herança; por exemplo, o arco
de plena volta6 e tenham buscado referências nas criações gregas,
eles a desenvolveram e a aplicaram como marco de sua expansão
colonial.

Além de sobreporem as ordens arquitetônicas gregas em uma


mesma edificação, como é o caso do famoso Coliseu (Figura 44),
eles usaram fartamente o arco e a abóbada estrusca em formas
particularizadas por seus novos processos construtivos. Juntamente
Saiba Mais com a pedra, empregaram o tijolo e criaram o opus caementicium7
7
O opus caementicium que tem como parâmetro o atual concreto. Com esses elementos,
era uma argamassa eles criaram grandes espaços internos e extrenos. O Panteão (Figura
composta de cal, areia e
45) é um exemplo interessante, principalmente se pensarmos que,
partes de pedra e água.
por suas dimensões interiores, ele foi usado depois do cristianismo
tornar-se religião oficial, como templo. Os aquedutos cruzaram (e

42
cruzam) a paisagem imperial proporcionando infraestrutura e servindo
como marco da engenharia e poder daquele povo.

Figura 44. Coliseu. Anfiteatro romano. Diliff. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/


Ficheiro:Colosseum_in_Rome,_Italy_-_April_2007.jpg

Figura 45. O Panteão. Roma. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ac.pantheon1.jpg

No que se refere ao templo romano ele, aparentemente, se


assemelha ao grego. A sua arquitetura, entretanto, dispensa particular
atenção à fachada principal e ao espaço interno. No exterior, ante a
escadaria que dava acesso ao templo, ocorriam os rituais de sacrifício
perpetuando, nesse sentido, a tradição grega que faz do templo uma
morada do deus.

Essas formas arquitetônicas foram reproduzidas nas colônias do


Império, forma de governo que sucede a Monarquia e a República
naquela civilização. “Romanizando” os povos conquistados eles
estabeleciam, em seu imaginário, a marca do dominador.

43
Sobre a escultura: o realismo versus
idealismo
Refletindo sobre a escultura romana, vamos observar que, em
paralelo à importação e a cópia, em massa, dos modelos gregos, ela
desenvolveu aspectos particulares. O senso prático dessa cultura,
provavelmente, foi o maior responsável pelo interesse da escultura
romana pelo realismo e pelos assuntos contemporâneos, deixando
em segundo plano os relatos mitológicos. Seus relevos minuciosos
contam as histórias de suas conquistas em detalhes e o retrato está
enraizado no imaginário da tradição artística da sociedade romana.

Os relevos, outra forma de expressão escultórica, eram executados


em monumentos funerários e comemorativos. Nos populares “arcos
do triunfo” (Figura 46) vamos encontrar representados o relato das
conquistas daquele que o mereceu e que, por baixo dele, passou
afirmando a sua glória.

Figura 46. Arco de septimo Severo. Alexander Z. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ro


meForumRomanumArchofSeptimiusSeverus01.jpg

No que diz respeito à retratística escultórica os bustos, que remontam


à forma ancestral de veneração dos mortos, caracterizam-se pelo
seu realismo: o artista romano não poupa o retratado de sua careca,
suas verrugas ou suas rugas. Eram representações individuais
e reais. Entretanto, quando surge o Império sob Augusto, esses
traços marcantes se atenuam. Talvez o fato se deva ao processo de
deificação dos governantes que então se inicia. A impassibilidade cai
bem aos deuses.

44
Saiba Mais
Uma das principais características da escultura romana é a expressividade. Na retratística
essa postura domina. O retrato tem que representar fielmente o modelo.

O uso do retrato em Roma remonta à sua religião primitiva onde as imagens dos
ancestrais eram transportadas nas cerimônias fúnebres. Mesmo durante o período
imperial o busto de um imperador era reverenciado.

Apesar da solenidade de suas origens a retratística romana era um gênero onde o artista
podia se permitir as maiores aproximações com o retratado. Toda marca, verrugas, falta
de cabelo ou quaisquer imperfeições eram registradas. Eram representações realistas
que, entretanto, nada tiravam da nobreza de seus modelos.

Esse busto do Imperador Vespasiano (Figura 47) nos demonstra perfeitamente a carga
emocional e a fidelidade com que o artista o representou. Não existe a menor sombra
de adulação de tão importante personagem. Para nós, parece um personagem que
podemos encontrar na esquina.

Figura 47. Imperador


Vespasiano c. Museo
Archeologico Nazionale
Sobre o legado pictórico de Roma Nápoles, Itália. shakko. Fonte:
Muito pouco nos chegou da pintura grega ou romana. Nosso maior http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Vespasianus02_
acervo está contido nos restos, ainda parcialmente soterrados, pela pushkin.jpg
erupção do Vesúvio em 79 d.C., das cidades Pompeia e Herculano.
Através destes vestígios é possivel observarmos afrescos8 decorativos
ou cerimoniais que contêm um grau de tridimensionalidade admirável.
As pinturas “de cavalete”, transportáveis, eram pouco comuns, mas
não inexistentes e os retratos figuram entre a temática sobrevivente. Saiba Mais
8
Os afrescos eram
Paisagens, mistérios, rituais, retratos e cenas decorativas são os
pinturas de características
temas que interessaram ao pintor romano. Estas pinturas revelam um murais feitas, em Roma,
perfeito domínio da técnica e uma intenção de enfatizar, nos retratos, sobre superfícies de
gesso endurecido
traços peculiares do retratado dando-lhe características psicológicas. ou argamassa. Na
Renascença elas serão
feitas com pigmentos a
base de água sobre uma
Você Sabia? argamassa ainda fresca
de cal queimada e areia.
Que a Eneida é um poema épico do escritor latino Virgílio? Ele foi escrito no século I e
conta a história de Eneias, genro do rei Priamo, que fugindo das ruínas de Troia viaja
pelo Mediterrâneo até chegar à região que hoje é denominada de Itália. Seu destino era
ser o ancestral de todos os romanos pois, ainda dentro do universo mitológico, ele teria
como descendentes Rômulo e Remo, gêmeos. Um deles, Rômulo foi o responsável pela
fundação de Roma e o seu primeiro rei.

Pintura de cavalete é aquela que é móvel e que pode ser executada em um cavalete,

45
artefato de madeira que suporta a tela ou outro suporte que o artista queira utilizar. A
Mona Lisa, por exemplo, é uma pintura de cavalete.

Para compreender melhor:

Para compreender melhor a sociedade romana assista ao filme Satiricon, do cineasta


Frederico Fellini. Baseado no escritor romano Petrônio, ele narra a história de dois jovens
em busca de um efebo pela Roma contemporânea de Nero.

Vamos conhecer um pouco sobre alguns


artistas citados?
●● Agesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes: São três escultores
helenísticos nascidos na ilha de Rodes, aos quais é atribuída a
autoria do grupo escultórico Laocoonte e seus filhos, a partir de
uma citação do escritor romano Plínio. Atualmente, pensa-se que
se trata de uma cópia romana.

●● Ictinos e Calicrates: Arquitetos gregos do período clássico.


O Partenon foi projetado por eles sob a supervisão de Fídias
(arquiteto e escultor) entre 447 e 432 a.C.

●● Fidias: Escultor grego (490 a.C.-430 a.C.). É considerado o maior


escultor do período clássico. Foi encarregado por Péricles, o
arconte ateniense, de supervisionar a reconstrução da acrópole de
Atenas. Seu ateliê é responsável pelos relevos do Partenon e pela
estátua de Atenas da qual só sobreviveram cópias romanas.

●● Lisipo: O escultor Lisipo, natural de Sicíon, viveu entre -360


e -315. Trabalhou principalmente com o bronze. Suas obras
primavam pelo naturalismo e pelo detalhamento. Especializou-se
em estátuas de atletas e em retratos, que começam a aparecer no
período helenístico.

●● Míron: O escultor Míron, nativo de Eleuteras, Ática, é um dos


maiores artistas conhecidos do período clássico grego. Suas
poucas obras que chegaram até nós, como o Discóbolo (lançador
de disco), mostra sua preocupação com as proporções, simetria
e movimento. Trabalhou principalmente com a representação de
atletas.

●● Praxíteles: Praxíteles, o escultor ateniense viveu entre -400 e -330.


Foi um dos mais renomados escultores de seu tempo. Ele criou
numerosas estátuas masculinas e femininas de homens, mulheres
e divindades. Trabalhou com mármore e usou eventualmente o
bronze. A obra mais famosa a ele atribuída é a Afrodite de Cnido,

46
a primeira escultura grega encontrada representando uma mulher
completamente nua.

●● Policleto: Policleto foi um escultor que nasceu em Argos, Grécia.


Seu trabalho, notório, pode ser comparado, em prestígio, ao seu
contemporâneo Fídias. Esculpiu principalmente figuras de jovens
atletas em bronze, das quais nenhuma chegou à atualidade. Suas
obras-primas foram o Doríforo e o Diadoúmenos, das quais se
conhecem réplicas romanas em mármore.

●● Scopas: Scopas (395 a.C.-350 a.C.) nasceu na ilha de Faro.


Escultor e arquiteto, a ele são atribuídos relevos do Mausoléu de
Halicarnasso. As feições das cabeças de sua autoria, com olhos
profundamente afundados e boca ligeiramente aberta, são a sua
marca.

Revisão
A cultura grega foi influenciada principalmente pela cretense ou minóica e pela micênica.
Podemos estabelecer três períodos principais para o desenvolvimento da arte grega: o
Arcaico ou Geométrico, o Clássico e o Helenístico.

No período arcaico ou geométrico, no que diz respeito à arquitetura, um dos traços


mais marcantes é o surgimento de um edifício destinado ao culto. A escultura nele
desenvolvida tem o seu protótipo no Kouros e na Kore. Com relação à pintura só nos
chegou àquela executada em cerâmica. Por ter inicialmente expressões geométricas
que, posteriormente, envolvem as figuras representadas, a pintura deu nome ao período:
geométrico.

O período Clássico representa o florescimento da cultura grega que atinge seu apogeu
no século V a.C., também chamado século de ouro. A arquitetura do momento é
marcadapela restauração de Atenas que teve seus templos e monumentos destruídos
pelos turcos em 480 a.C. Sob o comando de Fídias, o mais famoso escultor ateniense.
Essa recuperação do patrimônio da cidade envolveu a participação dos arquitetos
Ictinos e Calicrates. A escultura engloba uma temática que envolve deuses, heróis
e homens. Eles são representados não de forma real, mas ideal, com equilíbrio e
movimento. A pintura também só nos chega através das cerâmicas, mas apresenta uma
tridimensionalidade e um detalhamento admiráveis.

No período Helenístico, o mundo grego torna-se cosmopolita após a invasão imperialista


de Alexandre o Grande. Desaparece a cidade-estado, a Polis, que caracterizava a cultura
grega. Isso resultou em uma maior abertura para informações exógenas.

A arquitetura modificou suas premissas tornando-se ampliada, monumental e


movimentada. A escultura, por sua vez, perdeu a serenidade anterior e passou a mostrar
emoções. Ela mostrou, então, uma carga de sofrimento, sensualidade e expressão que
a caracterizaram.

Poucos exemplos de pintura mural grega sobreviveram através dos séculos. Foi

47
necessário nos contentarmos com os afrescos sobreviventes de Herculano e Pompeia,
para termos ideia dessa representação pictórica desenvolvida no helenístico. Descobertas
recentes, entretanto, nos aproximam mais dessa pintura mural tridimensional e
expressiva.

Juntamente com a arte grega, a etrusca exerceu forte influência sobre a produção
romana: um legado cultural decisivo para a formação do que conhecemos como o mundo
ocidental. A arquitetura, entre todas as manifestações artísticas do povo romano, pode
ser considerada a mais criativa. Embora eles tenham aprendido a arte de construir com
os estruscos e encampado sua herança, tais como arco de plena volta, os romanos
a desenvolveram e a aplicaram como marco de sua expansão colonial imprimindo
características próprias.

Refletindo sobre a escultura romana, vamos observar que, em paralelo à importação e à


cópia em massa dos modelos gregos, ela desenvolveu aspectos particulares: interesse
pelo realismo e pelos assuntos contemporâneos, deixando em segundo plano os relatos
mitológicos tão caros aos gregos.

Muito pouco nos chega da pintura grega ou romana. Nosso maior acervo está contido
nos restos ainda parcialmente soterrados das cidades Pompeia e Herculano. Através
destes vestígios é possivel observarmos afrescos decorativos ou cerimoniais que contêm
um grau de tridimensionalidade admirável.

Atividades
Nós estudamos os três períodos da arte grega: arcaico ou geométrico, clássico
e helenístico. Colocamos em seguida (ao lado e a seguir) três esculturas sem
identificação. Procure estabelecer a que período elas pertencem e elabore um pequeno
texto estabelecendo as razões pelas quais você as classificou como pertencentes a
determinado período.

Escultura 1
Escultura 2 Escultura 3

48
Capítulo 4

Expressões artísticas
medievais: o românico e o
gótico

Objetivos do Capítulo
Estudar as manifestações artísticas da arte cristã, no período medieval, nos momento
românico e gótico; e seu processo construtivo através das corporações de artesãos: as
guildas.

Sobre a arte cristã primitiva


A arte cristã instalou-se em Roma no período de clandestinidade
daquela religião. Foi uma arte catacumbária (feita nas catacumbas
onde se escondiam os membros da religião para seu culto),
clandestina, feita por pessoas sem qualquer formação artística.
Inicialmente ela adotou símbolos na construção de seu imaginário
iconográfico: a cruz que representava o sacrifício do Cristo, a palma
que trazia a ideia da paz ou a fênix que simbolizava a ressurreição.
Com o tempo um novo vocabulário temático vai ser lentamente co
nstruído. Com o Edito de Milão, em 313 d.C. Constantino decretou a
saída do cristianismo da clandestinidade. Em 390, Teodósio o tornou
religião oficial. É o início de um aparelhamento icônico específico para
a nova fé.

Em 395 d.C. esse mesmo imperador, Teodósio, dividiu o Império


Romano. Essa divisão contemplou seus dois filhos: Honório e Arcádio.
Um, Honório, ficou com o Império Romano do Ocidente, tendo Roma
como sua capital; o outro, Arcádio, com o Império Romano do Oriente,
cuja capital, Constantinopla, era a antiga cidade de Bizâncio e a atual
Istambul, na Turquia.

O império Romano do Ocidente sofreu várias invasões, logo caindo


em poder das tribos germânicas e celtas invasoras, até que, em
476 d.C., ele foi completamente dominado. Já o Império Romano
do Oriente, apesar das dificuldades, conseguiu sobreviver até 1453,
quando a sua capital Constantinopla foi totalmente ocupada pelos

49
muçulmanos.

Nós estudaremos aqui as manifestações artísticas da religião


herdada pelas tribos celtas e germânicas, que transformaram a arte
cristã primitiva, também chamada de paleocristã na arte própria da
civilização medieval que viria a florescer. Ela se distribui em dois
períodos, dois momentos importantes, definidos pelas transformações
econômicas, políticas e sociais: o Românico e o Gótico.

O período românico: a arte das


peregrinações
Com o triunfo do cristianismo processou-se a necessidade de uma
arquitetura que atendesse às necessidades da nova religião oficial.
Era necessária uma congregação dos fiéis nos cultos e um espaço
próprio para essa atividade. Entretanto, os espaços tradicionais
religiosos romanos não atendiam a esta nova demanda. Assim, as
nascentes igrejas cristãs, tomaram emprestado como modelo a antiga
basílica romana que tinha, anteriormente, função administrativa. Essa
construção destinada ao culto congregacional caracterizou (junto com
a iconografia em processo de expansão) o imaginário artístico cristão
do período românico.

Com a divisão do império, as invasões e a insegurança, a Europa


manteve um período de quase mil anos de instabilidade. Durante os
séculos XI e XII, entretanto, desencadeou-se um otimismo coletivo,
causado pela volta da estabilidade econômica, social e política que
reforçou a renovação de uma arte que servia basicamente à religião
dominante. O Estado, representado pelos senhores feudais, dividiu o
poder com a igreja nessa sociedade que lentamente se consolidava,
porém pouco contribuiu para o desenvolvimento das artes visuais.

O papel das ordens religiosas, entretanto, foi fundamental para o


desenvolvimento urbano após o período de caos. A fé popular derivou
em um culto acentuado às relíquias dos santos e a uma necessidade
social de peregrinações/rituais a locais que guardavam essas
relíquias. Os principais centros de peregrinação foram Jerusalém,
Roma e Santiago de Compostela, para onde acorriam multidões de
peregrinos. Apoiando a necessidade de relíquias e o deslocamento
das peregrinações, construíram-se igrejas e mosteiros.

Esse ir e vir dos fiéis proporcionou um maior desenvolvimento nas


rotas que levavam aos centros sagrados. Elas foram equipadas com
hospitais e hospedarias além de espaços religiosos que também

50
abrigavam os fiéis. Cidades surgiram por toda parte. Os mosteiros
eram o elo entre elas. Esse conjunto de fatores internacionalizou
um tipo de produção artística: o Românico, também chamado de
“arquitetura das peregrinações”, pois ele vai ter na edificação sua
maior expressão.

Esse estilo, baseado em uma memória arquitetônica romana, surgiu


mais ou menos na mesma época em toda a Europa Ocidental. Uma
classe de artesãos e mercadores estabeleceu-se entre os camponeses
e a aristocracia rural. A arte românica atendeu às necessidades da
Igreja, dos senhores feudais e, posteriormente, dessa nova classe, Saiba Mais
que iria se tornar a burguesia. Esses artesãos iniciaram um sistema 9
As guildas, ou
produtivo, inclusive artístico, caracterizado pela união dos artífices corporações de ofício,
eram associações de
em corporações: as guildas9. Vão ser elas que produzirão, sob
artesãos de um mesmo
encomenda, a produção artística da chamada Idade Média. ramo. Seus membros
desenvolviam a mesma
atividade profissional.
Sobre a arquitetura Cada guilda desenvolvia
um produto, por exemplo:
A arquitetura românica não trouxe nenhuma contribuição original. uns desenvolviam
Seus elementos principais (arco, abobada, coluna e pilar) já se perfumes, outros
arquitetura. Ocorreram na
encontravam presentes na arquitetura romana na qual a românica se Europa durante o período
inspirou. medieval.

Sua principal função foi religiosa. A igreja, em tempos inseguros como


aqueles, era o centro da comunidade. Ela era a única construção em
pedra em toda a redondeza e, certamente, a mais importante junto Saiba Mais
com o castelo feudal. Inspirada na basílica romana10 ela foi, porém, 10
Em Roma, a basílica,
mais imponente e grandiosa. que serviu de modelo
para a igreja cristã, tinha
Além do culto, naquele momento instável do medievo, a basílica funções administrativas.
também serviu para abrigar fiéis durante ataques e por isso foi
chamada de “fortaleza da fé”. No que diz respeito ao aspecto
construtivo, uma maior solidez e grandiosidade foram valorizadas em
seu projeto e execução. A cobertura original da basílica romana, em
madeira, foi substituída por abobadas de pedra apoiadas em muros
e pilares grossos, vazados por pequenas aberturas as quais se deve
o seu aspecto sombrio. Essas características lhe davam condições
físicas de defesa de ataques, mas também impunham um clima
especial que se voltava mais para o medo do divino do que para o
recolhimento espiritual.
Figura 48. Abadia de Cluny.
Foi na Borgonha francesa, em Cluny, onde apareceu uma das
França. Marc Tobias Wenzel.
primeiras e mais majestosas igrejas românicas da Europa (Figura Fonte: http://pt.wikipedia.org/
48). Logo, porém, as igrejas e mosteiros românicos espalharam-se wiki/Abadia_de_Cluny

51
por todo o território europeu formando complexos arquitetônicos que
incluíam refeitório, celas, biblioteca, hospital entre outros serviços. Em
cada região, o Românico se adaptou, em tamanho e complexidade,
às condições econômicas e culturais admitindo ligeiras variações que,
entretanto, não tiraram a sua unidade.

A arquitetura civil da Baixa Idade Média11 compreendia basicamente


os castelos dos senhores feudais (Figura 49). Durante os primeiros
Saiba Mais séculos, eles, os castelos, eram erguidos da madeira que era retirada
11
A baixa Idade Média das florestas da região. Seu interior era rústico e não possuía qualquer
tem início no século XIII e conforto. A partir do século XI, entretanto, o processo construtivo
vai até aproximadamente
o século XV d. C. É mudou. Os castelos passaram a ser construídos com blocos de
uma época em que o pedra tornando-se mais resistentes aos ataques inimigos. Estes
sistema feudal estava
castelos medievais eram erguidos em regiões altas, pois assim ficava
entrando em crise. Muitas
mudanças econômicas, mais fácil visualizar a chegada do invasor. Em sua volta era aberto
religiosas, políticas e um fosso preenchido com água, estratégia que dificultava o acesso
culturais ocorrem neste
momento que precede a durante um ataque às suas muralhas onde ficavam posicionados
Renascença. seus defensores. Ele também era o refúgio dos habitantes do feudo
(inclusive camponeses) durante ataques mútuos dos barões rivais,
atividade contínua naqueles tempos intranquilos.

Figura 49. Castelo de Pombal. Leiria. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pombal1.jpg

Saiba Mais
Um castelo é uma estrutura arquitetônica com funções defensiva e residencial. Era
geralmente erguido em posição dominante no terreno, próximo a vias de comunicação
(terrestres, fluviais ou marítimas), o que facilitava a visão das forças inimigas.

O Castelo de Almourol (Figura 50) situa-se no Ribatejo, região de Portugal, e foi erguido
numa elevação natural de granito que se encontra em uma pequena ilha a 18 metros
acima do nível da água do Rio Tejo.

52
O sítio, segundo estudos arqueológicos, ja foi ocupado desde os tempos romanos,
passando por vários domínios e reconstruções. A que configura suas feições atuais data
da reconquista da península ibérica (cerca de 1129) pelos cristãos.

Saiba Mais
12
O Tímpano é um
Figura 50. Castelo de Almourol. Portugal. Lusitana. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ elemento arquitetônico
Ficheiro:Castelo-de-Almourol_vista-geral.jpg em arco, situado em
cima das portas que dão
acesso à igreja românica.
Normalmente, ele vem
esculpido em relevos com
Sobre a escultura temática religiosa.
Não podemos saber exatamente quando e onde teve início o
florescimento do processo escultórico românico, mas possivelmente,
a rota das peregrinações motivou a sua expansão. O caráter didático
desta escultura (ela tinha como objetivo maior ensinar a história cristã
aos fiéis analfabetos) era dirigido principalmente para o fiel leigo,
usuário dessa rota. Os monges pretendiam ensinar suas crenças
cristãs e a escultura do período foi chamada de “bíblia de pedra”,
pois, acoplada à arquitetura, se destinava ao ensino e difusão do
credo católico.

O escultor românico teve que se adaptar ao espaço arquitetônico,


Figura 51. Tímpano do
o que o forçou a alongar ou deformar figuras para adaptá-las ao Monastério de São Pedro,
espaço de um tímpano12 (Figura 51) ou de um capitel. O resultado, Moissac (Languedoc,
em termos plásticos, desse processo escultórico é tosco. São, em França). Fonte: http://
commons.wikimedia.org/
sua maior parte, figuras bíblicas, representadas de forma frontal, sem wiki/File:Moissac_4_detail.
qualquer perspectiva. A obrigação maior do artista era evocar a fé que jpg?uselang=pt
se baseava no medo do inferno após a morte. Portanto, o juízo final,
com seus demônios e um Cristo julgador é a temática mais frequente

53
dessas esculturas. De acordo com Faure (1990: 192):

O monge escultor das igrejas românicas, teólogo


armado de cinzel, não podia evidentemente
descobrir de início, nesse universo fechado há
dez séculos, senão imagens secas, uma esquálida
natureza macilenta, comprimida, sofredora como
ele (...). O povo, esmagado desde igual tempo
entre a invasão material dos bárbaros e a invasão
moral do cristianismo, abandonara-se a uma
esperança prometida de uma vida futura.

Entretanto, a temática laica também pode ser encontrada nessa


representação escultórica. Encontramos esculpidas, no período,
cenas do zodíaco, algumas cenas de caça ou representações das
estações do ano. Os capitéis dos claustros são o suporte onde
encontramos representadas as maiores fantasias gravadas na pedra.
Mas, inegavelmente, vai ser a fé que empunhará o cinzel românico.

Sobre a pintura
A partir do ano 1100 d.C. um estilo pictórico desenvolve-se na
Europa românica. A temática dominante nessas representações é
predominantemente religiosa contemplando principalmente o Novo
Testamento católico.

Como a escultura do período ela, a pintura, aparece ligada à


arquitetura e, portanto, submissa aos seus espaços. Assim, ela não
obedece a uma proporção real, anatômica em relação à natureza
da representação humana ou divina. Além da obrigatoriedade de
sua configuração arquitetônica, os artistas traduziam seus próprios
sentimentos em relação à religião dominante. Eram homens
aterrorizados pelo medo do desconhecido e pelo braço armado
da igreja católica: a inquisição. Esse fato deve ter norteado o seu
vocabulário expressivo.

Nas composições românicas, a figura do Cristo é sempre maior que as


outras (obedecendo, assim, também à tradição romana que colocava
o deus do templo em destaque, no frontão, em relação aos demais
elementos narrativos) que o cercam. Cenas de torturas, terrenas ou
divinas, dividem com o ícone o espaço representativo (Figura 52). É o
medo que movia o pincel românico, como moveu o seu cinzel, pois é
ele que está por trás do olhar do artista.

54
Figura 52. Pintura românica. Museu de Arte da Catalunha, Barcelona. Espanha. Fonte:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:MNAC.Barcelona_-_Rom%C3%A0nic_Fontal_de_Durro.jpg

Outras características dessas representações são as cores


fortes utilizadas e a bidimensionalidade das figuras. As cores são
contrastantes e aplicadas de forma chapada sobre o suporte. Não
existe preocupação com os meios tons ou jogos de luz, nem de imitar
a natureza (Figura 53). Elas, as representações românicas, abdicam
do realismo em função de um poder simbólico sobrenatural.

Saiba Mais
13
A iluminura é um tipo de
pintura em miniatura de
caráter decorativo que é
usado nas letras iniciais
dos capítulos dos livros
medievais.

Hiperlink
Figura 53. Pintura românica. Museu de Arte da Catalunha, Barcelona. Espanha. Fonte: 14
Você pode se
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Katalanischer_Meister_001.jpg aprofundar um pouco
mais sobre a arte das
iluminuras acessando o
Essa pintura aparece em grandes murais ou como ornamento, em link
miniatura, para livros, as iluminuras13/14. Quando se destinavam às http://www2.fcsh.unl.
igrejas e aos mosteiros, geralmente eram escolhidos temas como a pt/iem/medievalista/
MEDIEVALISTA3/PDF3/
criação do mundo e do ser humano, o pecado original, a arca de Noé, bestiario-PDF.pdf
os símbolos dos evangelistas e o Cristo em majestade.

55
Saiba Mais
A iluminura românica foi confeccionada principalmente no interior dos mosteiros.
Destinava-se à ilustração dos livros manuscritos. No contexto da página ela obedece
a hierarquias e tem um lugar próprio. A sua distribuição na composição não é fruto do
acaso, principalmente se ele tem um papel simbólico a cumprir e/ou deve ilustrar fielmente
o texto. O tamanho que ocupa: se colocado de lado ou de frente, o seu tamanho no fólio,
se colocado numa inicial ornada ou historiada. A disposição dos elementos compositivos
ilustra a sua importância hierárquica.

A iluminura não corresponde necessariamente a uma ideia de realidade. Ela se prende


a fatores e influências de ordem místicas. No caso em questão, vemos que a figura
sagrada divide o espaço bidimensional com um bestiário que detém quase as mesmas
proporções.

Figura 54. Iluminura românica portuguesa. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Illuminated.


bible.closeup.arp.jpg

O Gótico: o império das catedrais


Para não definirmos o período gótico apenas em termos cronológicos
é necessário que o possamos compreender a sua essência. Portanto,
vamos inicialmente tentar estabelecer a que se deve seu próprio
nome. O que significa gótico? A palavra originou-se na Renascença
para designar um estilo que se considerava então de gosto duvidoso,
pois remeteria aos godos, “bárbaros”, que invadiram o antigo Império
Romano.

Este estilo, que correspondeu a um período da História da Arte que


se estendeu por cerca de 400 anos pela Europa, é o resultado do que
aconteceu na sociedade medieval que o produziu. Assim, para melhor

56
compreendê-lo, é necessário saber um pouco dela: a sociedade
urbana da Idade Média. E então? Vamos saber um pouco desse
momento da história da humanidade?

Na baixa Idade Média, o ressurgimento do comércio e o excedente


de produtos rurais contribuíram para o dinamismo e fortalecimento
econômico da cidade medieval. Ela passou a atrair mais pessoas,
motivadas por melhores condições de vida. Em paralelo, suas
muralhas e o exército de cidadãos, que ali se organizou, trouxeram
uma segurança que popularizou a vida urbana. A substituição do
escambo pela troca em dinheiro garantiu ainda mais a movimentação
econômica e aumentou os atrativos destes núcleos urbanos em
expansão.

A burguesia urbana (uma nova classe formada pelos usuários da


cidade, que apareceu a partir da sua maior organização social e
da diversificação e aumento da produção de riquezas) foi a maior
beneficiária de todos esses acontecimentos. Ela, a burguesia, cresceu
e se tornou forte. Foi a partir dessa condição que uma luta, ainda
surda, pelo poder se iniciou entre o burguês e seus dominadores: os
senhores feudais e o clero.

Se, no início do desenvolvimento urbano medieval, o senhor feudal


quando desejava equipar um exército ou entregar-se aos novos luxos
que surgiam na Europa, só podia contar com a sua terra como fonte de
renda; agora, com o desenvolvimento dessa classe de comerciantes
e artífices, as rendas urbanas (das quais ele, o dono do feudo, tinha
direito a uma parte) tornam-se cada vez mais importantes. Começou
aí a divisão do poder.

A cidade “gótica” obedeceu a um esquema radial cujo centro era


ocupado pela igreja: a catedral. O mercado se encontrava defronte
a essa edificação ou em suas proximidades. Ele era por vezes
ocasional, mas ela, a igreja, estava lá: perene. Pensar essa catedral
em relação a esta tipologia urbana é imaginar uma espécie de
“centro comunitário” onde a parte profana das festividades religiosas
encontrava lugar no seio da burguesia fortalecida.

A igreja ainda reinava, mas o conhecimento laico se anunciava com


a instalação da universidade. O saber, que também é uma forma de
poder, assim se dividia também. Ele não se restringia mais tão somente
à igreja: ganhava as ruas. Orbitando em torno dessa catedral, dessa
alma gótica urbana, encontra-se a guilda como elemento formador
de uma nova mentalidade. O poder feudal declinava.

57
Nesse espaço “gótico”, como se desenvolveram as artes visuais?
Já deduzimos que a arquitetura era a sua expressão maior e que
foi através dela que se instalaram a escultura e a pintura. Vamos
conhecer um pouco dela?

Considerações sobre a arquitetura


gótica
A arte gótica tem início na Ile-de-France. Seu “nascimento” pode
ser marcado entre 1137 e 1144 e tem como símbolo a construção
supervisionada pelo Abade Suger: a Abadia de Saint-Denis, nos
Figura 55. Abadia de Saint- arredores de Paris (Figura 55). A partir daí ela se alastra pelo resto
Dennis. França. Beckstet.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/ da França e por toda a Europa: é o reinado das catedrais, sua
wiki/Ficheiro:StDenis_Fassade. representação máxima.
JPG
Essa tipologia arquitetônica se caracteriza pela verticalidade de
suas construções e por suas paredes delgadas, interrompidas por
vitrais proporcionam a luminosidade típica destes edifícios. Essa
verticalização foi possível graças a duas inovações arquitetônicas:
o arco em ponta, responsável pela elevação vertical do edifício;
e a abóbada cruzada, que veio permitir a cobertura de espaços
quadrados, curvos ou irregulares.

A trajetória dessa arquitetura gótica obedece a uma cronologia


marcada pelas suas transformações. No século XII, o gótico é
Figura 56. Catedral de chamado de primitivo. As construções ainda são pouco elevadas e
Chartres. França. Fonte: http://
procura-se um verticalismo que tenta romper com o horizontalismo
pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:
20050921CathChartresB.jpg românico. Entre 1200 e 1300, acentua-se a sua verticalidade, introduz-
se o vitral e as fachadas passam a ser mais decoradas e suntuosas.
São desta época a Catedral de Chartres (Figura 56) e a Notre Dame
de Paris (Figura 57).

No século XIV atenua-se ligeiramente seu verticalismo marcante,


mas, suas fachadas continuam a receber rica decoração. O gótico
deste período recebe o nome de “irradiante”. Finalmente, entre 1400
e 1500, aparece o gótico flamejante (Figura 58) que se aproxima
bem mais do plano horizontal. Nas nervuras no interior de seus arcos
surgem labaredas decorativas que inspiram o seu apelido. E, se a
Figura 57. Catedral Notre sua verticalidade continua a diminuir o mesmo não acontece com a
Dame de Paris. Sanchezn. decoração de suas fachadas.
França.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Além das catedrais, a cidade da baixa Idade Média recebeu
Ficheiro:NotreDameDeParis-1.
jpg outros equipamentos tais como, palácios particulares e sedes de

58
corporações de artesãos. De certa forma o estilo é reconhecível por
onde apareceu. A exceção fica por conta da Itália onde só algumas
regiões o acolheram dentro de sua tradição verticalizada. A maior
parte dos casos mal pode ser chamada de gótico. Certamente esse
fato se deve à proximidade territorial da tradição romana. Um exemplo
bastante interessante é a Catedral de Orvieto (Figura 59).

A escultura gótica e o encontro com o


movimento Figura 58. Catedral de
A escultura gótica também teve como suporte, em sua maior parte, Troyes. França. Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/
a arquitetura religiosa e, portanto, vamos encontrá-la nas fachadas File:Cath%C3%A9drale_de_
(Figura 60), tímpanos e portais das catedrais onde ela alcançou seu Troyes_2006.JPG
maior triunfo enquanto relato iconográfico. Nesses espaços, sua
profusão chega a superar a das igrejas românicas.

Entretanto, contrapondo-se à rigidez e austeridade românica as


figuras esculpidas desse período revelam uma maior independência,
expressão e movimento. Elas quebram o rigorismo formal próprio
do estilo anterior e, por vezes, libertam-se do próprio suporte
arquitetônico, ganhando vida própria (Figura 61). Acima de tudo, essa
escultura proporciona uma imagem mais humana do divino em busca
de uma nova aproximação com o fiel.

Figura 59. Catedral de


Orvieto. Itália. Hans
Peter Schaefer. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Orvieto_kathedrale_1.
jpg

Figura 60. Estátuas


colunares do portal oeste da
Catedral de Chartres. Fonte:
Figura 61. Köln, St. Severin, Pieta. Hans Peter Schaefer/Hps-poll. Fonte: http://en.wikipedia. http://pt.wikipedia.org/wiki/
org/wiki/File:K%C3%B6ln_st_severin_pieta.jpg Ficheiro:Chartres2006_077.jpg

59
Esse naturalismo nas representações parece reagir ao aspecto
demoníaco, aterrorizador ou simplesmente didático da arte
românica. O escultor gótico quer compartilhar sua ideia de um divino
humanizado. Assim, por exemplo, a figura da Virgem aparece menos
entronizada e distante e mais como a mãe da criança, o Cristo.

Ela é também uma espécie de intermediária entre ele e os homens.


Apesar de seu vocabulário temático preservar assuntos anteriormente
explorados, tais como a figura do Cristo emoldurada pelos signos do
zodíaco, eles não têm como objetivo o terror, mas a iluminação. A
rejeição à frontalidade e à imobilidade românica é o aspecto inovador
desse vocabulário novo. A quebra do rigor formal, bem como a
introdução do movimento faz com que o artista projete nas figuras
esculpidas uma espécie de diálogo entre o homem e a divindade.

Sobre a pintura gótica: a revolução


italiana
O papel da pintura na arte do período gótico foi de extrema importância
se levarmos em conta o seu desempenho na Itália. Como a escultura,
ela não pretendeu mais apenas transmitir as cenas tradicionais
religiosas mas, conquistar esse espectador mais urbano, menos
aterrorizado e, de certa forma, mais rico que crescia no universo da
baixa Idade Média.

Com um simbolismo acentuado, essa representação pictórica utilizou-


se, principalmente, de uma paleta de cores claras e pré-definidas.
Assim, por exemplo, temos o azul como atributo próprio da Virgem
Maria. Em paralelo, temos também uma maior variedade de suportes.
Ela aparece em afrescos, miniaturas, painéis e no vitral que vai se
tornar um elemento decisivo na composição do espaço interior das
catedrais. Segundo Janson (1988:147):

Criar uma figura verdadeiramente monumental com


essa técnica já é, em si, algo como um milagre:
os primitivos métodos medievais de manufatura
de vidros não permitiam a produção de grandes
vidraças, de modo que essas obras não são
pinturas sobre vidro, mas sim “pintura com vidro”.

Esses vitrais fantásticos tiveram seu período de apogeu. Depois,


sua produção teve um certo arrefecimento, após 1250. O declínio da
atividade arquitetônica gerou a redução de encomendas de vitrais que

60
necessariamente deveriam estar ligados a uma edificação.

É muito importante que analisemos um fato que também acontece


nesse período. Ele diz respeito a outra das formas que assume a
pintura gótica: a miniatura ou iluminura. Elas deixam de ser produzidas
unicamente nos mosteiros como ilustração de cenas religiosas e
passam a ser feitas nas oficinas urbanas. Ali, sua temática torna-se
mais laica e suas figuras mais movimentadas adquirindo até mesmo
uma certa profundidade.

Enquanto os afrescos continuavam a ser usados nas paredes das


igrejas, dando continuidade à fórmula desenvolvida no românico, a
pintura de painéis inicia-se na Itália no século XIII e espalha-se pela
Europa. Vai ser naquele país que a pintura gótica, também chamada
de “gótica tardia”, vai adquirir seu aspecto mais marcante.

Podemos perguntar: que aspecto foi esse? Basicamente, foi um


retorno à tradição cultural latina. Isso quer dizer que a pintura, ali,
voltou às suas raízes-greco-romanas que, de fato, nunca havia
deixado plenamente; daí a pouca penetração do estilo gótico na
arquitetura da maior parte da Itália.

Dessa forma, a pintura italiana convencionada como gótica tardia


volta a dominar a profundidade helenística-romana definindo o espaço
e o tema de forma mais inteligível para o espectador. Com o tempo
ela tornou-se mais narrativa e cada vez mais humanizada. A autoria
dos trabalhos pictóricos, por sua vez, passa a ser mais conhecida e
registrada. O artista destaca-se da guilda.

Naquele momento, Duccio, em Siena, e Cimabue, em Florença (Figura


62) destacaram-se por introduzirem a ideia de tratar as imagens de
forma individual. Mas foi Giotto (Figura 63), discípulo de Cimabue,
que conseguiu com que o espectador fosse dominado pela realidade
do acontecimento relatado. O artista afastou-se do estilo bizantino
de seu mestre, Cimabue, e buscou a natureza como referência. Sua
concepção de volume e a expressividade de suas figuras o tornam o
principal precursor da pintura renascentista italiana. Influenciada por Figura 62. Crucifixo.
esses grandes mestres italianos, a pintura do “gótico tardio” espalhou- Cimabue. Fonte: http://
fr.wikipedia.org/wiki/
se pela Europa tornando-se um estilo internacional. Fichier:Cimabue_027.jpg

61
Figura 63. Giotto de Bondoni. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Giotto-KissofJudas.jpg

Você Sabia?
As guildas, corporações artesanais ou corporações de ofício, eram associações de
artesãos de um mesmo ramo, isto é, pessoas que desenvolviam a mesma atividade
profissional. Essas associações procuravam garantir os interesses de classe. Esse
processo de atividade econômica ocorreu na Europa, durante a Idade Média e, mesmo,
após o medievo. Cada cidade tinha sua própria corporação de ofício. Essas corporações
tinham como finalidade proteger seus integrantes.

Saiba Mais
A leitura do livro O Nome da Rosa de Umberto Eco, nas suas tardes de domingo, o
transportarão para uma paisagem medieval indescritível. Monges, mosteiros, ações da
inquisição, o medo do saber, enfim, toda a trama nos mergulha no universo medieval.

Conhecendo alguns artistas


●● Duccio di Buoninsegna: nasceu em Siena e morreu naquela
cidade da Toscana (1255-1319). Foi, provavelmente, o mais
influente artista da escola sienense e o grande rival de Cimabue,
florentino e mestre de Giotto que se notabilizou por sua
incorporação de elementos bizantinos no conjunto do processo
pictórico do gótico tardio.

62
●● Cinni di Pepo (Giovanni) Cimabue: nasceu em Florença (1240-
1302). Foi seguidor da tradição bizantina mas também apresentou
um naturalismo que foi, posteriormente, aperfeiçoado por seu
famoso discípulo Giotto. Foi biografado por Giorgio Vassari, o pai
da História da Arte.

●● Giotto di Bondone: o artista nasceu em Colle Vespignano em


1266, perto de Florença, na região da Toscana, Itália. Morreu
em Florença em 1337. Ele foi discípulo de Cimabue e um dos
introdutores da pespectiva na pintura na baixa Idade Média. Seu
trabalho é precursor da pintura renascentista. Nele, o artista
identifica os santos católicos com seres humanos comuns,
humanizando-os o que se constiuirá nas bases do novo período
que se inicia: a Renascença.

Revisão
A arte cristã instalou-se em Roma no período de clandestinidade daquela religião. Com o
triunfo do cristianismo processou-se a necessidade de uma arquitetura que atendesse às
necessidades da nova religião oficial.

Por volta dos séculos XI e XII desenvolveu-se um estilo, que é uma evolução da arte
cristã primitiva e que se deve à fé e as peregrinações. Ele é chamado de românico por ter
sua arquitetura inspirada nas antigas construções romanas. Esse estilo surgiu mais ou
menos na mesma época em toda a Europa Ocidental.

A arquitetura românica não trouxe nenhuma contribuição original. Seus elementos


principais (arco, abóbada, coluna e pilar) já se encontravam presentes na arquitetura
romana na qual a românica se inspirou. Sua principal função foi religiosa e sua mais
importante criação foi a basílica.

O escultor românico teve que se adaptar ao espaço arquitetônico o que o forçou a


alongar ou deformar figuras para adaptá-las ao espaço das construções. O resultado em
termos plásticos desse processo escultórico é um pouco tosco, pois a obrigação maiordo
artista era evocar a fé.

Como a escultura, a pintura do período românico aparece ligada à arquitetura e, portanto,


submissa aos seus espaços. Assim, ela não obedece a uma proporção real anatômica
em relação à natureza da representação humana ou divina. Cores fortes utilizadas e
a bidimensionalidade das figuras são características desse momento de expressão
pictórica.

O estilo gótico é o resultado do que aconteceu na sociedade da baixa Idade Média que
o produziu. O ressurgimento do comércio e o excedente de produtos rurais contribuíram
para o dinamismo e fortalecimento econômico da cidade que passou a atrair mais
pessoas motivadas por melhores condições de vida. A burguesia se fortaleceu.

A arquitetura gótica, simbolizada pela Catedral, se iniciou na França, mas se


internacionalizou. Essa tipologia arquitetônica se caracteriza pela verticalidade de

63
suas construções que junto com as suas paredes delgadas, interrompidas por vitrais
proporcionam a luminosidade típica destes edifícios. Ao seu lado, uma arquitetura civil
passa a aparecer mais frequentemente.

A escultura gótica também teve como suporte, em sua maior parte, a arquitetura religiosa
e, portanto, vamos encontrá-la nas fachadas, tímpanos e portais das catedrais onde ela
alcança seu maior triunfo enquanto relato iconográfico. Entretanto, contrapondo-se a
rigidez e austeridade românica, as figuras esculpidas nesse período revelam uma maior
independência, expressão e movimento.

Como a escultura, a pintura do período não pretendeu mais apenas transmitir as


cenas tradicionais religiosas mas, conquistar um espectador mais urbano que crescia
e aprendia no universo da Baixa Idade Média. Nesse momento, a pintura italiana se
destacou recuperando a profundidade helenística-romana e definindo os personagens
de forma narrativa e humanizada. O artista assumiu sua autoria e destacou-se da guilda.

Atividades
A arte românica foi uma das principais manifestações da Idade Média. Ela inspirou-se
nas representações romanas tanto na arquitetura, quanto na escultura. Vamos olhar essa
imagem que se segue de uma arquitetura típica do período e, em um texto, identificar os
elementos recorrentes. Ou seja: quais são os elementos reconhecíveis da arquitetura
romana que perduram nessa basílica românica? Naturalmente, além de identificar, você
deve tentar falar sobre eles estabelecendo assim uma ponte com a arte romana na qual
eles se inspiraram.

O complexo arquitetônico da cidade de Pisa (Figura 64), popular por sua famosa torre
inclinada, é um excelente exemplar da arquitetura românica daquela região. A direção das
obras foi primeiramente entregue ao arquiteto Buscheto e depois teria sido continuada
pelo mestre Rainaldo, que terá sido sucedido por outro arquiteto, Guglielmo. Desatacam-
se na fachada as portas de bronze projetadas por Pisano. O batistério foi construído
sobre uma construção dos séculos VII-VIII. O ano de 1153 marca o início das obras. No
século XIII o projeto foi retomado e concluído na segunda metade do século XIV.

A torre, de forma cilíndrica, foi construída como campanário da catedral e a sua posição
inclinada tem uma origem muito complexa, possivelmente ligada à qualidade do solo.

Figura 64. Conjunto arquitetônico de Pisa, Itália. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:H0012046-P.JPG

64
Capítulo 5

O homem, enquanto
medida de todas as
coisas: a Renascença

Objetivos do Capítulo
Estudar e compreender as manifestações artísticas ocorridas entre o século XV
e XVI, período em que o antropocentrismo se sobrepõe ao teocentrismo medieval: a
Renascença.

Sobre o humanismo como referência para


renascer: o quattrocento italiano
A Renascença foi o primeiro período da história que se autodesignou,
ou seja, que propôs seu próprio nome. Outra característica simbólica
do homem daquela época é que ele começou a não dividir mais o
passado somente entre antes e depois do Cristo, mas tomou por
base de inspiração um período anterior que lhe interessava mais: a
civilização dos romanos quando a espécie haveria atingido o apogeu
de uma criatividade que foi interrompida pelas invasões bárbaras.

É por isso que, quando enfocamos esse tempo denominado de


“renascimento” como um todo, a primeira característica que nos
chama a atenção é a valorização da antiguidade clássica. Essa volta
aos princípios de uma civilização em ruínas próximas com as quais os
italianos conviveram durante toda a Idade Média.

Porém, mais do que se espelhar em outro momento da história, o


pensamento renascentista representou um movimento de glorificação
do próprio homem que passou então a ser o centro de todas as
referências vividas no Ocidente.

A Itália, que havia permanecido consciente de suas raízes culturais


foi o local ideal para o florescimento de uma nova sociedade onde
o individualismo e o humanismo formava a base do pensamento. O
conhecimento era considerado como propriedade do homem, desse
representante do século XV, que se contrapunha ao universo de
informação medieval que limitava o conhecimento aos textos bíblicos,

65
o creditava unicamente ao divino.

Vasari (1511-1574) foi talvez o primeiro estudioso a empregar o


termo Renascimento para descrever esse florescimento artístico-
cultural italiano. Ele foi usado não apenas para identificar as
criações artísticas, mas, para toda uma movimentação que ocorria
em princípios daquele século principalmente em Florença, cidade
controlada pelos Médicis. Este clã de mecenas trouxe um período de
grande prosperidade àquela cidade italiana. Sob o comando Cosme
de Médicis e seu neto Lorenzo, chamado de “o Magnífico”, que foi um
dos mais importantes patrocinadores do renascimento, Florença foi o
núcleo formador dessa nova maneira de pensar.

Lá se produziu, tendo a filosofia humanista como base, uma


renovação que marcou até os dias que correm a cultura ocidental.
Essa renovação se processou em múltiplos campos e afetou a
economia, as relações sociais, a política, a literatura, as ciências e,
naturalmente, as artes visuais.

O renascimento, enquanto movimento, teve início em princípios do


século XV, momento que também é denominado de quattrocento e
se solidificou ao longo desse século adquirindo seu brilho máximo no
seguinte: o cinquecento. Segundo Gombrich (1999:247):

As novas descobertas que os artistas da Itália


e Fandres tinham feito nos começos do século
XV produziram um frêmito de emoção em toda a
Europa. Pintores e mecenas estavam igualmente
fascinados pela ideia de que a arte pudesse ser
usada não só para contar a história sagrada de

Saiba Mais uma forma comovente, mas para refletir também


um fragmento do mundo real (...). Esse espírito de
14
As principais cidades-
aventura que se apoderou da arte no século XV
estado italianas, como
Veneza, Florença, assinalou a verdadeira ruptura com a Idade Média.
Gênova e os estados
papais tiveram grande Para sua eclosão e difusão temos que considerar ainda outros fatores
significado para a que embasaram aquela conjuntura tais como: o aperfeiçoamento
arte do Renascimento
italiano. Seus príncipes, da imprensa, que populariza o conhecimento antes restrito à
enriquecidos por um igreja católica; as grandes navegações que alargando horizontes
mercado fortalecido,
geográficos redimensionaram as perspectivas da época e o
foram os seus grandes
patrocinadores. Entre eles fortalecimento do comércio que gerou um excedente de riqueza que
estão Lourenço e Cosme possibilitou (inclusive) o mecenato artístico pelos principais líderes
de Médicis, príncipes
de Florença e Galeazzo das cidades-estado italianas14.
Maria Sforza, duque de
Milão. No campo específico das artes visuais, processou-se uma mudança

66
radical em sua concepção e função bem como na valorização social
do artista. O mecenas e o colecionador ao lado do ambiente humanista
daquele momento da história infundiram às expressões artísticas um
sentido laico, renovador. A referência, como dissemos anteriormente,
foi o momento greco-romano, mas não como uma cópia, porém como
modelo antropocêntrico inspirador. Se Florença foi o epicentro desse
movimento, ele logo se difundiu pelo resto da Itália e pela Europa,
alcançando, de maneira tangencial, o novo mundo.

A arquitetura: o pioneirismo de Brunelleschi


A arquitetura da Renascença deve muito a um homem, um arquiteto:
Filippo Brunelleschi. Ele estudou os monumentos arquitetônicos
romanos aprendendo o seu vocabulário arquitetônico, tais como
proporções e elementos estruturais e compositivos. Brunelleschi foi
também um exemplo do ideal humano renascentista, pois reuniu
conhecimentos sobre pintura, escultura, arquitetura e dominou a
matemática e a geometria.

Traduzir para um mundo moderno os ideais greco-romanos foi o


objetivo maior da arquitetura da Renascença e de Brunelleschi, em
particular. O artista rompeu com a tradição gótica e muito pesquisou
sobre perspectiva, proporção através do estudo das ruínas antigas.
Seu trabalho mais conhecido, a catedral de Florença, Santa Maria
del Fiori (Figura 65), foi decisivo para a introdução desse vocabulário
novo e transformou-se no emblema da nova cultura. A arquitetura
dessa igreja é uma tradução consciente desse vocabulário aprendido
que Brunelleschi transportou para a Florença do século XV. Outros
trabalhos que se seguiram só confirmaram a nova tendência que,
Florença, ganhou a Itália e o resto da Europa.

Figura 65. Santa Maria del Fiori. Filippo Brunelleschi. Florença. Fonte: http://it.wikipedia.org/
wiki/File:Santa_Maria_del_Fiore.jpg

67
Outro nome florentino se evidenciou na construção da arquitetura
renascentista: Leone Battista Alberti, um humanista que inicialmente
voltou-se para as artes de maneira teórica. Ele escreveu tratados
sobre pintura, escultura e arquitetura que codificaram os princípios da
Atenção arte renascentista.
15
Bruno Zevi. Saber ver
Só depois desta experiência teórica é que Alberti passou à prática
a arquitetura. São Paulo:
Martins Fontes, 1996. criando um vocabulário arquitetônico que recuperava os modelos
das antiguidades sem, entretanto, buscar uma cópia. Ele adaptou
essas referências, tais como o uso de colunas e arcos, às novas
necessidades próprias de seu tempo (Figura 66). Segundo Bruno
Zevi15 discorrendo sobre esse momento da historia da arquitetura:
“já não é o edifício que possui o homem, mas este que, aprendendo
lei simples do espaço possui o segredo do edifício”. A proposta de
Brunelleschi e de Alberti recuperou para o espaço da arquitetura a
escala humana.

Figura 66. Igreja de


Sant’Andrea. Leone Battista
Alberti. Mântua. Itália. Frode
Inge Helland.
Fonte: http://commons.
wikimedia.org/wiki/
File:1984Italia0057Mantova.JPG

Figura 67. Igreja de S. Andrea. Leon Battista Alberti. Mântua C. 1460. Fonte: http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:MantovaBasilicaSantAndrea_cutnpaste_over_intrusions.jpg

Saiba Mais
Alberti fez parte da geração que se seguiu a de Brunelleschi. A ideia de seu antecessor
foi introduzir as formas dos edifícios clássicos: colunas e frontões que se inspirariam
nas ruínas romanas. Alberti segue o seu raciocínio. Nesta igreja, em Mântua, Itália, ele
concebe a fachada principal como um gigantesco arco triunfal, semelhante àqueles sob
os quais desfilavam as tropas romanas vitoriosas (Figura 67).

Olhando seus detalhes vamos perceber elementos que remetem ao momento


greco-romano. A coluna, o arco de plena volta. Então o que tornaria essa construção
renascentista diferente de uma romana?

68
Não vamos considerar a função obviamente diversa, mas o uso que ele faz dos elementos
recorrentes. Ele os cita, mas não os utiliza da mesma forma. Os arcos e colunas não têm
função estrutural. Eles apenas compõem o vocabulário da edificação. O artista adaptou
novo programa à antiga tradição sem, entretanto o copiar.

Sobre a escultura: o início do processo


de citação
Em 1401 aconteceu um concurso de projetos para a confecção das
segundas portas do Batistério de Florença do qual participaram os
maiores artistas daquela cidade italiana. O concurso foi vencido por
Ghiberti que, juntamente com Donatello, foi um dos escultores mais
importantes da Renascença italiana. Neste trabalho vitorioso, o
artista, Ghiberti, inicia o processo de citação dos modelos helenísticos
-romanos e isto se torna evidente quando olhamos os seus relevos
nas ditas portas cuja temática é o bíblico sacrifício de Isaac (Figura
68).

Figura 68. O sacrifício de Isaac. Lorenzo Guiberti. 1401. Bronze. Batistério. Florença. Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Ghiberticompetition.jpg

A sugestão de profundidade espacial, que já vamos encontrar nesse


trabalho, vai evoluir nas terceiras portas onde ele conta a história de
Esaú e Jacó. O artista passou a esculpir suas figuras com uma nova
medida das proporções e uma nova perspectiva fazendo com que
elas se tornem cada vez mais humanizadas e, portanto, próximas do
espectador.

Embora essa perspectiva científica tenha sido descoberta pelo

69
arquiteto Brunelleschi o artifício foi usado e aperfeiçoado por pintores
e escultores da Renascença. O escultor Ghiberti iniciou esse
processo em sua área de expressão. A escultura do quattrocento
italiano, portanto, já mostra corpos organizados, bem proporcionados
e articulados com naturalidade. Ela desprende-se da arquitetura e
ganha vida independente.

Outro artista do período destaca-se seguindo esses padrões. Donatello


foi também um dos principais definidores dessa nova linguagem: ele
tratou o corpo humano como uma estrutura articulada tendo como
modelo a natureza. Uma escultura sua, o São Jorge (Figura 69)
Figura 69. Donatello. mostra bem essa capacidade que o artista dá ao corpo humano de
São Jorge. Fonte: http:// se sobrepor ao próprio vestuário. Perfeitamente modelado, o santo
en.wikipedia.org/wiki/
File:St_George_Donatello_ poderia ser libertado da arquitetura, das roupas e mostrar a perfeita
Orsanmichele_n1.jpg concepção de sua anatomia.

Outro trabalho seu, o Monumento Equestre de Gattamelata (Figura


70) em bronze, não só traduz esse senso de proporções cada vez
mais aperfeiçoado, como também representa uma nova concepção
de arte pública que glorifica a autoridade do príncipe renascentista
através da homenagem feita ao comandante de seus exércitos,
Gattamelata, mostrando assim sua própria autoridade e integrando a
escultura/monumento no contexto da urbe.

E a pintura? Como ela se comportou no


quattrocento?
Figura 70. Monumento Após o gótico tardio que teve em Giotto seu grande expoente,
Equestre de Gattamelata. processou-se uma crescente humanização da pintura. Como nas
Donatello. 1445-50. Piazza
del Santo Pádua. Fonte:
outras expressões artísticas, o homem passou a ser o grande
http://pt.wikipedia.org/wiki/ referencial. Proporção, medidas e perspectiva mereceram a atenção
Ficheiro:Gattamelata.jpg dos artistas a partir do estudo dos modelos da antiguidade. O uso
da tela e da pintura a óleo também marcou a inovação técnica do
período.

Essa pintura teve como, seu primeiro grande representante Masaccio,


o primeiro grande pintor do renascimento italiano a utilizar a pespectiva
científica, Compreendendo o humanismo de Giotto ele aplicou na sua
pintura uma nova maneira de modelar a realidade. Em sua composição
A Trindade (Figura 71), ele cria uma representação tridimensional dos
personagens bíblicos dentro de um cenário arquitetônico elaborado
através das novas e rigorosas regras de representação.

70
Outro artista marcante desse momento foi Piero della Francesca cujas
figuras pintadas se aproximam da estatuária grega clássica. Uma
visão matemática permeia a sua obra e ele via as partes dos corpos
que pintava como figuras geométricas. Seus afrescos (Figura 72) são
verdadeiras homenagens a humanidade reencontrada.

Figura 71. A Santíssima


Trindade. Masaccio. Afresco.
1425. Igreja de Santa Maria
Figura 72. Exaltação na cruz. Piero della Francesca. 1466, São Francisco. Arezzo. Fonte: Novella. Florença. Fonte: http://
http://it.wikipedia.org/wiki/File:Exalt.jpg commons.wikimedia.org/wiki/
File:Masaccio_trinity.jpg
Muitos foram os artistas que contribuíram para a glória da pintura
renascentista do quattrocento italiano. Entre eles, Andrea de
Castagno, Paolo Ucello, Andrea Mantegna. Sandro Botticelli, porém,
menos interessado na monumentalidade clássica voltou-se para
a sua mitologia. A fusão da fé cristã e da mitologia greco-romana
fundamenta suas imagens que, em sua maioria, foram feitas para os
Médicis ou para seus amigos. Sua Venus na composição intitulada O
Nascimento de Vênus (Figura 73) é a primeira imagem monumental
da deusa após suas representações gregas e romanas.

Figura 73. O Nascimento de Vênus. Sandro Botticelli. Galeria dos Ofícios. Florença, Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sandro_Botticelli_-_La_nascita_di_Venere_-_Google_Art_
Project_-_edited.jpg

71
Saiba Mais
Um dos trabalhos mais famosos do artista ele representa um mito grego: o nascimento
da deusa do amor e da beleza, Afrodite ou Vênus (para os romanos). Encomendado
pelos Medicis, mecenas de Botticelli, a composição representa Vênus saindo do mar. Ou
seja: de como a beleza veio ao mundo.

A ação do tema se passa quando a deusa emerge do mar em uma concha (que também
é símbolo do útero feminino) e é impelida para a praia pelos zéfiros (semi-deuses alados
que representam as brisas). Quando ela está prestes a pisar na terra uma ninfa a recebe
com um manto de púrpura. Uma chuva de flores homenageia o nascimento da deusa.

Na concepção de Botticelli as roupas dos personagens são adaptadas para o seu tempo:
a Renascença.

O século XVI: o grande momento da


Renascença
Fazendo um exercício de memória e de percepção poderíamos
comparar esse momento, o cinquecento, da arte na Renascença com o
apogeu do período clássico grego: a época em que Péricles governou
Atenas. Decididamente florescente. O homem foi então cultuado a
partir da ideia do gênio. Criar deixou de ser uma prerrogativa divina e,
através da criação, os homens de gênio se diferenciavam dos mortais
comuns.

Essa ideia de “culto ao gênio” vai se espalhar pela sociedade


renascentista e impactar períodos posteriores. As cidades-estado
italianas e seus ricos príncipes disputaram esses “gênios” e eles
trabalham para os vários mecenas que as governaram tendo como
epicentro Roma.

Eles marcaram o seu mundo e o universo da História da Arte com suas


realizações. Eram os “imortais” que levaram o Renascimento ao seu
ponto culminante, quando as personalidades de Leonardo da Vinci,
Michelangelo e Rafael traduzem essa “alma” renascentista. Esse
período produziu poucos mestres menores e na maior parte dos anos,
mesmo séculos, subsequentes, essas personalidades influenciaram
e marcaram o caminho percorrido pelas artes visuais. Hoje (tantos
séculos depois) ainda falamos com familiaridade e paixão da Mona
Lisa de Leonardo como uma das grandes maravilhas da criação
humana e multidões de turistas se aglomeram nas portas do Louvre
só para vê-la.

72
Sobre a arquitetura: Roma como referência
para a Europa da Renascença
Os arquitetos do século XVI continuaram voltados para as referências
clássicas. O centro da arte italiana, e europeia, entretanto, deslocaram-
se para Roma (que só vai perder esse prestígio para Paris no século
XIX). Foi naquela cidade que o arquiteto Bramante (cujo verdadeiro
nome era Donato D’Agnolo) que havia trabalhado para o duque de
Milão com Leonardo da Vinci, tornou-se o maior criador da arquitetura
do cinquecento.

Seu Tempietto (pequeno templo) (Figura 74), construído no lugar


onde São Pedro teria sido sacrificado, contribuiu para a notoriedade
de uma Roma que queria, sob o papa Julio II, retomar a grandiosidade Figura 74. O Tempietto.
imperial. Nesse processo Bramante concebeu seu projeto mais uma Donato Bramante. San Pietro
in Montorio. Roma, 1502.
construção de uma grandiosidade verdadeiramente monumental. Foi Fonte: http://pt.wikipedia.org/
a partir dos planos iniciais deste arquiteto que Michelangelo lhe deu a wiki/Ficheiro:177TempiettoSPietr
oMontorio.JPG
configuração que conhecemos atualmente.

Sobre a escultura e o domínio da técnica


Em finais do século XV os escultores renascentistas já dominavam
perfeitamente a nova técnica. Michelangelo, o polivalente, exemplifica
o conceito de genialidade e de versatilidade do período. Ele foi o
grande escultor do cinquecento embora tenha, por curiosidade ou
circunstâncias, se dedicado à arquitetura e à pintura.

Sua produção se desenvolveu alternadamente entre Florença e Roma.


Dessa produção destacamos o Davi (Figura 75), que foi realizado em
Florença e a Pietà, em Roma (Figura 76). Seu domínio da técnica,
da anatomia e da perspectiva é magistral. Essas qualidades estão
presentes na maioria de suas obras mais se torna referencial no Davi,
que á a primeira estátua monumental do período. Encomendada em
1501, a escultura foi colocada à esquerda da entrada do Palazzo
Vechio (Palácio Velho), em Florença. Hoje, uma cópia está no local
em função da preservação do original.

Sente-se nesta obra o conhecimento do artista da cultura helenística,


mas sua escala imensa sobrepuja o corpo perfeitamente esculpido
Figura 75. David.
em todos os seus detalhes anatômicos. O escultor transcende sua Michelangelo. 1501-1504
técnica com a força que transpira de sua criação e assim destaca-se Mármore. Academia. Florença.
Rico Heil (User:Silmaril).
como o maior escultor da Renascença. Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:David_von_
Michelangelo.jpg

73
Figura 76. Pietà. Michelangelo. 1499. Basílica de São Pedro. Vaticano. Rico Heil
(User:Silmaril). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Michelangelo%27s_Pieta_5450_
cropncleaned.jpg

Saiba Mais
Nessa representação escultórica o artista escolhe o momento em que a vida se esvai
do corpo plasmado no mármore. Provavelmente, a emoção que perpassa o espectador
ao testemunhar essa agonia era o efeito pretendido por Buonarroti. Os corpos por ele
esculpidos estão cheios de tensão que se contrapõem a uma serenidade aparente.
A precisão do desenho se faz notar no equilíbrio que a figura assume em sua
horizontalidade.

A pintura: Leonardo, Michelangelo e


Rafael
Na pintura renascentista do século XVI, a experiência se sobressai
como a marca principal. Ela baseia-se, sobretudo, na ideia do
exercício. Nunca antes o corpo humano havia sido tão estudado:
cadáveres foram dissecados, músculos copiados, ossos pesquisados.
A representação exata era a meta a ser cumprida. Existe uma lei
que o artista deve obedecer e que deve ser cumprida: não vale só
a satisfação do olhar, mas o resultado aritmético e a obediência
Figura 77. O escravo às convenções para a criação de uma obra monumental e serena.
agonizante. Michelangelo.
Mármore. Louvre, Paris.
Inseridos em uma composição triangular, equilibrada, os personagens
Fonte: http://upload.wikimedia. bíblicos ou mitológicos contam suas histórias.
org/wikipedia/commons/7/74/
Esclave_mourant.jpg Leonardo foi o primeiro dos mestres do cinquecento (também

74
chamado de Alto Renascimento) e um homem do seu tempo: racional,
humanista, músico, engenheiro, pintor e, mesmo, caricaturista.

Embora suas pinturas sejam escassas, talvez por perfeccionismo ou


pela sua grande diversidade de interesses, em suas poucas obras
podemos identificar a busca de um classicismo pleno, baseado
na estabilidade e no equilíbrio. Sua produção comporta muitos
desenhos e apontamentos, mas, em pintura, encontramos poucos
resultados finais. Entre eles, podemos citar a Última Ceia (Figura 78)
e a Gioconda (mais conhecida como Mona Lisa). A primeira ficou
famosa pelos seus significados simbólicos, sua composição triangular
perfeita e, mais recentemente, através do escritor Dan Brown com seu
Código da Vinci. A segunda, a Mona Lisa, é talvez uma das pinturas
mais populares da história da humanidade e o seu famoso sorriso foi
e é discutido através dos tempos.

Figura 78. A Última Ceia. Leonardo da Vinci. C. 1495-1498. Mural. Sabta Maria delle Grazie.
Milão. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Leonardo_da_Vinci_(1452-1519)_-_The_Last_
Supper_(1495-1498).jpg
Saiba Mais
16
Sfumato é uma técnica
Cabe a ele, Leonardo, na pintura, uma grande descoberta ou a
de pintura em que
recuperação de um conhecimento. Trata-se da técnica denominada sucessivas camadas de
sfumato16 que proporciona a leveza dos contornos em suas figuras. cor são misturadas em
diferentes gradações
passando para o olho
Michelangelo foi outro mestre do cinquecento. O artista morou em
humano a sensação de
Roma por muitos anos e, talvez, venha daí sua fascinação pelos profundidade, forma e
corpos da escultura helenística. Ele trabalhou em uma escala heróica volume.

onde fundiu o cristianismo com a antiguidade clássica.

Como pintor o teto da Sistina é sua obra prima (Figura 79). Nele, o
artista passou quatro anos trabalhando. O resultado é um grandioso
panorama que deixa o olhar do espectador entre o encantamento
e o assombro. O trabalho foi realizado a partir de cenas do Antigo

75
Testamento e os seus estudos anatômicos, o uso da cor, a concepção
dos personagens embasa o respeito que a posteridade vai ter por
essa obra grandiosa.

Figura 79. Interior da Capela Sistina. Afresco de Michelangelo no teto. Vaticano. Roma.
Aaron Logan. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lightmatter_Sistine_Chapel_ceiling.jpg

Finalmente, para ficarmos com três dos artistas do período, falemos


um pouco de Rafael, o autor das tantas madonas que nos encantam
os olhos. Se Michelangelo podia ser considerado uma personalidade
solitária, Rafael era popular e simpático: um homem do mundo.
Influenciado por Leonardo, ele criou uma pintura harmoniosa, suave,
graciosa e com um grande senso de composição. Michelangelo
também inspirou seu trabalho e assim, espelhando-se nos dois
grandes artistas de seu tempo, fundindo suas qualidades, ele criou
uma pintura de grande delicadeza onde sua paleta de cores ressalta
uma solidez quase escultórica. Suas Madonnas (Figura 80) constituem
uma amostra de seu poder criador.

Figura 80. Madona e criança.


Rafael Sanzio. 1505. Fonte: Saiba Mais
http://commons.wikimedia.org/
Nessa composição o artista nos mostra por que serviu de referência a tantas gerações
wiki/File:Raphael_-_The_Small_
Cowper_Madonna_-_Google_ posteriores. O modo como a face da virgem é modelada e se sobressai da sombra do
Art_Project.jpg?uselang=pt fundo da pintura, denuncia a mão do mestre que a faz à maneira renascentista, perceber
o volume tanto do corpo de mulher por baixo das vestes, quanto da criança que ela
segura com naturalidade.

Rafael dedicou-se a esse tempo e foi, por isso, chamado de “pintor de madonas”. Ele as
executou com maestria por anos, apoiando-se na técnica do sfumato, utilizada por Da
Vinci.

76
Fique por Dentro
Para saber um pouco mais sobre Michelangelo acesse o seguinte site. Bom proveito!

http://www.revistacontemporaneos.com.br/n2/pdf/michelangelo.pdf

Vamos conhecer novos artistas?


●● Andrea del Castagno: O pintor Andrea del Castagno nasceu em
San Godenzo, em 1421, e morreu em Florença em 1457. Acredita-
se que foi aprendiz de Giorgio Vasari e Paolo Ucello. Certamente foi
influenciado por Giotto e Masaccio. Mostra preocupação especial
com a perspectiva e a monumentalidade de suas figuras. Duas de
suas obras mais famosas são A última ceia e A paixão de Cristo,
afrescos realizados pelo artista para o refeitório do convento de
Santa Apolônia em Florença.

●● Andrea Mantegna: Foi um pintor italiano do século XV. Nasceu


em Vicenza em 1431 e morreu em Mântua em 1506. Seu primeiro
mestre foi um pintor de Padua: Francesco Squarcione. Sua carreira
foi marcada pela influência da denominada “Escola Florentina” que
envolvia os grandes nomes da pintura de sua época.

●● Donatello (Donato di Niccoló di Betto Bardi): Escultor nascido na


Florença do século XV (1386-1466). Ele trabalhou naquela cidade
bem como em suas vizinhas, Padua e Siena. Iniciou sua educação
artística com Roberto Martelli, mas depois partiu para Roma
onde trabalhou com Brunelleschi, principalmente estudando os
clássicos. No período compreendido entre 1404 e 1407, mudou de
mestre e passou a trabalhar com Ghiberti nas portas do Batisterio.
Sua obra mais conhecida (e que, também, marca a escultura
pública renascentista) é a estátua equestre de Erasmo de Narnai,
mais conhecido como Gattamelata, general italiano que serviu aos
príncipes do Renascimento. A escultura foi instalada na cidade de
Pádua em 1437.

●● Donato Bramante (Donato di Angelo del Pasciuccio): Arquiteto


do século XVI italiano, nasceu em Urbino em 1444 e morreu em
Roma em 1514. Estudou em Florença com Andrea Mantegna que
o introduziu no conhecimento das obras de gregpos e romanos.
Tornou-se notório por seu trabalho sobre geometria e desenho
em perspectiva. Sua obra, da qual destaca-se o Tempietto de

77
San Pietro in Montorio, Roma, influenciou o trabalho desenvolvido
posteriormente pelos mestres do cinquecento italiano.

●● Filippo Brunelleschi nasceu em Florença, Itália, em 1377 e lá


faleceu em 1446. Foi o grande arquiteto do século XV italiano.
Descobrou a perspectiva científica e notabilizou-se, principalmente,
pela construção da Catedral de Florença, a Santa Maria del
Fiori, a primeira igreja com características formais e estruturais
renascentistas.

●● Leon Battista Alberti: Alberti nasceu em Gênova, Itália, em 1404 e


faleceu em Roma em 1472. Foi um grande teórico da Renascença
italiana, além de arquiteto, humanista, músico e pintor. Ou seja:
o homem ideal da Renascença, versado em múltiplos campos
do conhecimento. Escreveu um tratado sobre arquitetura De re
aedificatoria onde baseou-se na arte clássica e suas proporções.
Também escreveu tratados sobre escultura e pintura. Como
arquiteto foi responsável por várias construções florentinas como
a Santa Maria Novella, igreja daquela cidade italiana; o Palácio
Rucellai, também em Florença e o Templo Malatesta, em Rimini.

●● Lorenzo Ghiberti: Escultor italiano, nasceu em Florença em 1378


e lá faleceu em 1455. Foi também naquela cidade que se deu sua
formação, na oficina do ourives Bartolo di Michele. Sua façanha
inicial no mundo das artes visuais, em pleno início da Renascença,
foi ganhar o concurso e executar as portas do Batistério daquela
cidade Toscana. O tema foi o bíblico do sacrifício de Isaac que ele
executou com um vocabulário que remetia à escultura dos gregos
e romanos. Em sua obra constam também as estátuas de São
João Batista, São Mateus e Santo Estevão e os relevos da pia
batismal de Sienna.

●● Masaccio: Massacio nasceu em San Giovanni Valdarno, Arezzo,


Toscana, em 1401 e faleceu em 1428, muito precocemente,
deixando porém uma obra marcante daquele início da Renascença.
Foi o primeiro grande pintor italiano a introduzir a perspectiva
científica em suas obras. Não se sabe de onde Masaccio recebeu
suas primeiras lições de pintura, mas seu trabalho contribuiu
para a arte pictórica do século XV através de suas figuras que
introduziram um humanismo novo na temática sacra.

●● Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni: Mais conhecido


por Michelangelo, o artista nasceu em Caprese, em 1475, e
morreu em Roma em 1564. Ele é considerado um dos maiores
criadores da História da Arte ocidental. Foi um homem ao modelo

78
da Renascença: de múltiplos conhecimentos e habilidades. Pintor,
escultor e arquiteto, ele trabalhou entre Florença e Roma. Iniciou
sua trajetória artística como aprendiz de Ghirlandaio, artista
florentino, e logo tornou-se protegido dos Medicis. Suas obras
mais representativas estão em Roma. Na escultura destaca-se
sua Pietà e o David. Na pintura, o Juizo Final da Capela Sistina. O
artista foi também o arquiteto no processo de reforma da Basílica
de São Pedro. Apesar de seguir os planos iniciais de Bramante ele
introduziu grandes reformas neles dando sua marca pessoal.

●● Paolo Uccello: Pintor do quattrocento italiano, Ucello nasceu em


Florença, em 1397, e lá faleceu em 1475. Ele destacou-se por sua
maestria nas pinturas em perspectiva e pelo relevo que deu a elas.
Foi aprendiz de Lorenzo Ghiberti cuja oficina era o ponto central
da arte florentina da época. Seu trabalho influenciou Piero della
Francesca e Leonardo da Vinci.

●● Piero Della Francesca: Nascido na Toscana, região da Itália,


em 1415 (ele faleceu em 1492), o artista pertencia a uma família
de posses. Seu trabalho apresenta técnicas inovadoras tais
como o uso da tela e da pintura à óleo. Matemático, deu ênfase
à perspectiva em suas realizações pictóricas. Essa visão exata
permeia toda a sua obra fazendo com que suas figuras pareçam
ter sido concebidas como elementos geométricos. Uma de suas
obras mais extraordinárias é a série de afrescos na Igreja de São
Francisco, em Arezzo, também na região toscana.

●● Rafael Sanzio: Pintor italiano nascido em Urbino (1483) um centro


cultural artístico e então capital do ducado do mesmo nome.
Mudou-se para Florença, atraído pela fama de Michelangelo e
Leonardo da Vinci, de quem teria grande influência. Bastante
convocado pela aristocracia (inclusive a religiosa) ele notabilizou-
se por suas pinturas que fundiam as qualidades de Michelangelo e
Leonardo da Vinci. O artista morreu em Roma em 1520.

●● Sandro Botticelli (Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi):


Artista florentino (1445-1510), Botticelli foi um membro daquela
escola: a “Escola Florentina” de pintura. Estudou as esculturas da
antiguidade clássica e delas captou uma temática que prioriza a
mitologia greco-romana. Boticcelli foi protegido dos poderosos
Medicis para os quais executou grande parte dessa pintura de
cunho mitológico. Trabalhou também para o Vaticano e foi retratista
conceituado e um dos mais procurados de seu tempo.

79
Revisão
O Renascimento teve início em princípios do século XV, momento que também é
denominado de quattrocento; e se solidificou ao longo desse século adquirindo seu brilho
máximo no seguinte, o cinquecento.

O homem da Renascença não dividiu o passado entre antes e depois do Cristo, mastomou
por inspiração um período anterior: a civilização greco-romana; e o Renascimento foi um
movimento de glorificação do homem que passou então a ser o centro de toda a natureza.

Esse período da história da humanidade também se embasou em outros fatores tais


como: o aperfeiçoamento da imprensa, as grandes navegações e, um comércio
fortalecido. Nessa conjuntura as cidades italianas se rivalizavam, através do mecenato
de seus líderes, para acolher os maiores artistas para embelezá-las.

Traduzir para um mundo moderno os ideais da cultura clássica (greco-romana) foi a


preocupação da arquitetura da Renascença e de Brunelleschi, em particular. Ele rompeu
com a tradição gótica e muito pesquisou sobre perspectiva, proporção e sobre as ruínas
antigas.

O escultor renascentista do quattrocento já mostra corpos organizados, bem


proporcionados e articulados com naturalidade. A escultura desprende-se da arquitetura
e ganha vida independente.

A pintura do século XV tem na perspectiva sua característica principal. Ela especifica a


fronteira entre o que é renascentista e o que não é a fusão da fé cristã com a mitologia
greco-romana.

Podemos comparar o cinquecento renascentista com o apogeu do período clássico


grego: a época em que Péricles governou Atenas. Nunca o homem foi tão cultuado a
partir da ideia do gênio. Criar deixou de ser prerrogativa divina e os homens de gênio se
diferenciavam dos mortais comuns.

Os arquitetos do século XVI continuam voltados para as referências clássicas. O centro


da arte italiana e europeia passou a ser Roma. Foi naquela cidade que o arquiteto
Bramante, tornou-se o maior criador da arquitetura do cinquecento.

Em finais do século XV os escultores renascentistas já dominavam perfeitamente a


nova técnica. Michelangelo exemplifica o conceito de genialidade e de versatilidade
do período. Ele foi o grande escultor do cinquecento embora tenha, por curiosidade ou
circunstâncias, se dedicado à arquitetura e à pintura.

Na pintura renascentista do século XVI a experiência se sobressai como a marca


principal. Essa experiência baseia-se principalmente do exercício. Nunca o corpo humano
foi tão estudado: cadáveres foram dissecados, músculos copiados e ossos pesquisados.

Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti e Rafael Sanzio são os grandes pintores


deste momento. Suas criações marcaram a História da Arte e são referências até nossos
dias.

80
Atividades
A partir de duas imagens pictóricas fornecidas, uma se refere à arte medieval, românica e
outra à arte renascentista do cinquecento, estabeleça semelhanças e diferenças levando
em conta a temática, a técnica e a composição. Fale sobre elas. Sinta-as.

Figura a. Frontal da Diocess de Urgell. Museu de Arte da Caralunha, Barcelona. Fonte:


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9d/Katalanischer_Meister_001.jpg

Figura b. A Última Ceia. Leonardo da Vinci. C. 1495-1498. Mural. Sabta Maria delle Grazie.
Milão. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Leonardo_da_Vinci_(1452-1519)_-_The_Last_
Supper_(1495-1498).jpg

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Considerações Finais
Os registros arqueológicos descobertos, ao longo dos últimos séculos, nos revelam
um homem que representa o seu entorno utilizando materiais e pigmentos que se
encontravam à mão, em seu cotidiano. Nos últimos estágios do período denominado
de Paleolítico, esse artista que viveu em cavernas ou abrigou-se em rochas grandes
e salientes, representou realisticamente seu meio ambiente com imagens de animais,
cenas de dança, sexo, signos ainda não decodificados ou mãos impressas sobre a
pedra.

Para a arqueologia, esses registros revelam dados sobre a cultura desenvolvida no


período. Para a História da Arte, eles mostram a capacidade do homem de interferir ou
e modificar, através de um senso agudo de observação, a natureza hostil e nessa ação
produzir arte.

Oculta nas entranhas da terra, grande parte desse imaginário deve ter se prestado a
um objetivo muito mais sério do que a decoração: a magia. Entretanto, a magia original,
que deve ter inspirado os xamãs, talvez devido a escassez de animais, foi substituída
pelo ato de plasmar com a finalidade de “criar” o objeto de desejo. Dessa forma este
mago-artista passa a “traduzir” a natureza. É nesse momento que ele inicia o processo
de fazer arte e sua produção deixa de interessar só ao estudo arqueológico e servir de
reflexão para aqueles que se interessam pelo processo de criar através da observação
da trajetória da humanidade.

A transformação da aldeia em cidade não foi uma mera mudança de dimensões, mas
uma transformação no que diz respeito à sua forma de organização. Cinco mil anos de
história urbana e talvez outro tanto de história proto-urbana se acham espalhados em
sítios arqueológicos apenas parcialmente explorados.

Duas grandes civilizações apareceram, a egípcia e a mesopotâmica, marcando


este momento urbano das sociedades humanas. Ambas deviam aos rios seu início
e solidificação. Apesar de contemporâneas essas duas culturas se expressaram
de forma diversa, porém ambas usaram o espaço da cidade como suporte para as
representações de suas múltiplas atividades artísticas.

Na Mesopotâmia, um espaço urbano abriga uma arte destinada aos vivos mesmo que
envolva representações místicas. Na civilização egípcia, entretanto, é a necrópole que
funciona como espaço destinado aos artistas que equipam a urbe. As manifestações
artísticas específicas à arte grega e a romana nos chegam com uma fascinante
sensação de familiaridade. O fato é que elas representam uma parte importante de
nossa ancestralidade artística e cultural.

Se pararmos para refletir sobre a importância da herança grega para nossa civilização

82
contemporânea – que está cerca de 3000 anos distante dela – não é difícil imaginar
a influência que os gregos exerceram nas civilizações que lhes eram mais próximas
cronologicamente. Roma é um exemplo dessa influência.

Apesar de o fim do Império Romano no Ocidente ter interrompido essa influência


greco-romana no mundo ocidental e a chegada do cristianismo e suas expressões
artísticas (que estudaremos em outro capítulo) a ter, apenas parcialmente, incorporado
no período designado como românico do medievo, ela vai retornar na Renascença,
no Neoclassicismo de fins do século XVIII e inícios do XIX, e na contemporaneidade
historicista pós-moderna.

Compreender a importância desta herança para nossa civilização contemporânea –


que está cerca de 3000 anos distante dela – que a revitaliza e a ela recorre consolida a
memória de nossa civilização ocidental. Através dela, incorporamos elementos culturais
de outros povos enquanto geradores de nossa civilização. Através dela construímos e
reconstruímos muitas de nossas ideias, concepções e expressões, inclusive aquelas a
que chamamos de arte.

O sistema corporativo no período conhecido como Idade Média foi a base de seu
desenvolvimento. As guildas, ou corporações de artesãos, foram a base econômica de
sustentação do feudalismo em processo adiantado de existência enquanto organização
social e, paradoxalmente, a fonte de sua destruição a partir do fortalecimento da
burguesia como classe social. Ideologicamente, porém, as expressões artísticas foram
marcadas por uma forte influência da Igreja Católica que atuava nos aspectos sociais,
econômicos, políticos, religiosos e culturais daquela sociedade.

Seu vocabulário pode ser definido em duas etapas: o Românico e o Gótico. Durante a
Alta Idade Média, que produziu o Românico, a igreja estava triunfante e a população
de artesões trabalhou para satisfazer o clero e difundir a fé sob uma forma coercitiva e
atemorizadora. É o momento basilical onde as chamadas “fortalezas da fé” congregam
para, didaticamente, estabelecer o poder da igreja aliada ao temporal do senhor feudal.

A arte gótica é filha de uma nova sociedade na qual a cidade passou a desempenhar
o papel principal. A economia se desenvolveu e as bases da falência do feudalismo
se instauraram. Uma nova classe, intermediária entre a aristocracia feudal e os
trabalhadores do campo emergiu: a burguesia. A arte gótica plasmou essa nova
realidade. O homem libertava-se do medo, humanizava-se e a guilda foi seu passaporte
para essa nova liberdade. Essa liberdade, simbolicamente, é representada pela
Catedral que faz, às vezes, daquela sociedade, centro religioso e comunitário. Nasceu,
em grande parte da iniciativa privada, da comuna, e formalmente representa também
uma espécie de necessidade “ascensão” do homem medieval aos céus que no período
anterior existia unicamente como referencial de punição.

O humanismo renascentista, por sua vez, além de se constituir em uma ruptura com

83
o teocentrismo medieval e uma retomada dos valores da antiguidade clássica foi o
resultado dos esforços de toda uma burguesia já consolidada, que pretendia se firmar
como uma classe dominante ou bem próxima do poder e o conseguiu. É também a
expressão desse novo homem que, então, representa o parâmetro do universo. O
homem é a medida de todas as coisas nessa cultura antropocêntrica.

A relação do movimento renascentista com a burguesia é percebida a partir do


comportamento das grandes cidades comerciais italianas e seus dirigentes: Gênova,
Veneza, Milão, Florença e Roma eram grandes centros de comércio onde a intensa
circulação de riquezas e ideias apoiaram a emergência da maneira de perceber o
mundo e de produzir arte.

Nos períodos posteriores, mudanças de ordem econômicas, políticas e sociais


vão provocar maneiras diversas de abordagem da arte e da vida. Entretanto, esse
antropocentrismo é recorrente na história do homem e de sua produção artística.
Dessa maneira, vamos encontrar o Neoclassicismo em fins do século XVIII novamente
apoiado nessa burguesia que definitivamente derrubou o poder da aristocracia com a
Revolução Francesa e enriqueceu cada vez mais com a Revolução Industrial.

A contemporaneidade, apoiada no liberalismo econômico, também retoma o conceito


antropocêntrico. O homem é novamente a medida de todas as coisas e, para ele, volta-
se toda uma produção de imagens e prazeres dos quais ainda não sabemos se ele é
escravo ou senhor.

A autora.

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Alguns referenciais
cronológicos do volume
15.000/10.000 a.C.: Datação das pinturas rupestres da gruta de
Altamira.

4.000 a.C.: Ocupação da Baixa Mesopotâmia pelos sumérios.

3.000 a.C.: Velho Império. Egito.

500 a.C.: Século de Péricles em Atenas.

356 a.C.: Alexandre, o Grande, ocupa o Egito, derrota a Pérsia e


conquista o Oriente Próximo.

200 a.C.: Roma transforma-se em um Império, domina a Ásia


Menor e o Egito e anexa a Macedônia.

300 d.C.: Cisão do Império Romano em Império Romano do


Oriente e Império Romano do Ocidente.

400 d.C.: Queda do Império Romano do Ocidente.

800 d.C.: Coroação de Carlos Magno.

900 d.C.: Derrota, na Itália, das forças comandadas pelo cristão


Otto II pelos mulçumanos.

1000 d.C.: Início da reconquista da Espanha aos mouros.


Propagação do estilo Românico.

1.100 d.C.: Fundação da dinastia dos Plantagenetas por Henrique


II na Inglaterra. Primeiras manifestações góticas.

1200 d.C.: Quarta cruzada, tomada de Constantinopla. O Gótico


se estabelece.

1300 d.C.: Início da Guerra dos cem anos. A Renascença se


avizinha. Giotto de Bondoni.

1400. d.C.: Cosimo de Médici, cidadão de Florença e mecenas: o


Quatrocento.

1450/1500 d.C.: Divisão entre Espanha e Portugal das terras do


Novo Mundo. Plena Renascença: o Cinquecento.

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Referências
CAVALCANTI, CARLOS. História da Arte. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1970.

COLI, JORGE. O que é Arte. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.

DRESDEN, SEM. O iluminismo no Renascimento. Porto, Editorial


Inova, 1968.

FAURE, ELIE. A arte medieval. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

FISCHER, ERNEST. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar


Editores, 1979.

GOMBRICH. E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

JANSON H. W; JANSON ANTHONY. Iniciação à História da Arte.


São Paulo: Martins Fontes, 1988.

LEWIS MUNFORD. A cidade na História: suas origens,


transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

MARTINS, GABRIELA. Pré-História no Nordeste do Brasil. Recife:


Editora Universitária, 1997.

PESSIS, ANNE MARIE. Imagens da Pré-História. São Paulo:


FUNDHAM/PETROBRAS, 2003.

PROENÇA, GRAÇA. História da Arte. São Paulo: Editora Ática,


1994.

REED, HERBERT. O sentido da arte: esboço da história da arte


principalmente da pintura e da escultura e das bases de julgamentos
estéticos. São Paulo: IBRASA, 1972.

TARELLA, ALDA. Como Reconhecer a Arte Romana. São Paulo:


Martins Fontes, 1985.

WOODFORD, SUSAN. Grécia e Roma. Rio de Janeiro: Zahar. 1983.

ZEVI, BRUNO. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins Fontes,


19896.

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Sobre a Autora

Madalena Zaccara
Madalena Zaccara possui graduação em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), bacharelado
em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
mestrado (DEA) em História e Civilizações - Université Toulouse
II, Toulouse, França e doutorado em História da Arte - Université
Toulouse II, também em Toulouse, França, como bolsista Capes.
Tem pós-doutorado pela Escola de Belas Artes da Universidade
de Porto, Portugal, também como bolsista Capes. Atualmente é
professor associado III da Universidade Federal de Pernambuco.
Ensina no Programa Interinstitucional de Pós-graduação em Artes
Visuais UFPE-UFPB. Lidera o grupo de pesquisa cadastrado no
CNPq intitulado “Arte, Cultura e Memória” que se volta para a
pesquisa da História e Teoria das Artes Visuais no Brasil com ênfase
para o Nordeste. Atua principalmente nos seguintes temas: História
da Arte e Crítica de Arte. É membro da Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas (ANPAP), da FAEB (Federação dos
Arte Educadores Brasileiros) e do Instituto de Investigação em Arte,
Design e Sociedade I2ADS (Porto, Portugal). É representante regional
da ANPAP-Pernambuco (Associação Nacional dos Pesquisadores
de Artes Plásticas). Tem vários livros, capítulos de livros e artigos
publicados. Endereço eletrônico: madazaccara@gmail.com

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