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Elysa Vieira
causado são teorias absolutas; aquelas segundo as quais a finalidade das penas é a
prevenção ou profilaxia criminal, que visam evitar a prática de novas infracções, são
teorias relativas. Dizem-se teorias mistas, aquelas em que entram as ideias de prevenção,
de retribuição e de reeducação. Visam recuperar o infractor.
1Discute-se se esta prorrogação ainda corresponde a uma pena ou se já é uma medida de segurança. Cfr. a
propósito Cavaleiro de Ferreira que a define como uma pena de segurança, Direito Penal Português, Parte
Geral II, Verbo, Lisboa/São Paulo, 1982, pág. 359. Cfr. tb Maia Gonçalves, Código Penal Português, 2.ª
edição, Almedina, Coimbra, 1994, pág. 51, para quem a “prorrogação é pena, aplicada fundamentalmente por
culpa na não formação adequada da personalidade e, por via dela, realiza-se a prevenção quanto ao
delinquente.”
Direito Criminal I ( 2014) Apontamentos não revistos para uso exclusive dos estudantes da FDUEM
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Prevê-se ainda a possibilidade de substituição da prisão por multa (art. 86.° CP): “A pena
de prisão aplicada em medida não superior a seis meses poderá ser sempre substituída
por multa correspondente”. Não obstante a substituição, só em caso de aplicação de penas
curtas de prisão, o juiz dá necessariamente uma advertência solene ao infractor. Preconiza-se o fim da
prevenção especial positiva.
Ainda nesta tendência, veja-se o art. 88.° CP ao estabelecer que “Em caso de
condenação a pena de prisão, ou de multa ou de prisão e multa, o juiz, tendo ponderado o grau de
culpabilidade e comportamento (...) do delinquente e as circunstâncias da infracção, poderá declarar
suspensa a execução da pena, se o réu não tiver ainda sofrido condenação em pena de prisão.” A
suspensão só é admissível em caso de condenação efectiva em pena de prisão
correccional ou de multa e desde que se trate de agente primário.
E aqueles que forem efectivamente “condenados a penas privativas de liberdade de
duração superior a seis meses poderão ser postos em liberdade condicional pelo tempo que restar para o
cumprimento da pena, quando tiverem cumprido metade desta e mostrarem capacidade e vontade de se
adaptar à vida honesta” (art. 120.° CP). Admite-se a interrupção do cumprimento da
pena com base na presunção da readaptação social do agente. Também esta norma se
enquadra nas políticas de prevenção e choca com os princípios retributivos.
Constituem ainda manifestações da consagração do fim da readaptação social
do infractor, a circunstância de se estabelecer um regime de imputabilidade diminuída
no qual aos menores de 18 anos e de 21 anos não podem ser aplicadas penas
superiores às presvistas nos arts. 108.° CP e 107.° CP, respectivamente.
O Direito Penitenciário é actualmente objecto de uma nova política criminal
que exige um tratamento humanista do condenado e a possibilidade de este corrigir a
sua personalidade deficiente através do trabalho (art. 59.° CP). Neste âmbito, são
fixadas regras mais adequadas para recuperar o criminoso tornando-o socialmente útil
(v.g., as cadeias devem ser encaradas como escolas – dando cursos de formação – ao
invés de campos de repressão).
2COSTA, José de Faria. Noções Fundamentais de Direito Penal, 2.ª ediçã, reimpressão, Coimbra Editora, 2010,
pág. 71.
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3 Também é designado por princípio da necessidade – princípio de política legislativa segundo o qual a lei
deve dispor para o que é necessário, enquanto for necessário.
4SILVA, Germano Marques da. ob.cit., pág. 16.
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5BELEZA, Teresa. ob. cit. pág. 33 referindo-se à desnecessidade da pena na incriminação do adultério e de
furtos de valor mínimo e à ineficácia da incriminação do aborto.
6 CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Dicionário Compacto de Direito, Editora Saraiva, 9ª edição, 2010.